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Prof. Fórum: Professor (a) FABIANO GUIMARAES DA ROCHA

Prof: FABIANO GUIMARAES fabianoils@hotmail.com

Tópicos em Libras: Surdez e Inclusão

Esta disciplina, seu enfoque e conteúdo inserem-se no contexto das discussões acerca da sociedade inclusiva,
destacando em especial as adequações de instituições e suas propostas às políticas públicas de inclusão vigentes e o
conjunto de documentos que lhe dão substrato. Dentre estas, privilegia-se, aqui, o Decreto 5626/2005.

Aula 1: Diferença, Inclusão e Identidade na sociedade contemporânea


Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1. Reconhecer algumas mudanças na sociedade contemporânea em relação às formas de comportamento do sujeito na vida
social.
2. Identificar aspectos relacionados à identidade do sujeito contemporâneo em termos de inclusão social.
3- Identificar aspectos culturais e sociolinguísticos da surdez;
4 - Aprender noções básicas de libras.
Adquirir noções instrumentais da língua de sinais não é o único objetivo deste curso. A língua de sinais é utilizada por sujeitos
sinalizantes (surdos ou ouvintes que dominam a língua de sinais brasileira) em contextos específicos de interação cujo histórico
aponta para preconceitos e mal-entendidos acerca das diferenças como um todo e da identidade do surdo na sociedade.

Começando a trabalhar

Que tal começarmos esta disciplina já com uma parte prática? Muitas vezes os ouvintes acreditam que as palavras em LIBRAS são
construídas letra a letra, mas isso não é bem verdade. Entretanto, para muitas palavras, especialmente nomes de pessoas e
lugares, as letras do alfabeto compõem uma palavra da mesma maneira como ocorre em qualquer língua.

Datilologia (alfanumérico)

No vídeo ao lado, você assiste a um surdo sinalizando as letras do alfabeto manual da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Ao
final, ele também irá sinalizar os números de 0 a 9.
Aproveite para rever quantas vezes quiser, pois esse é o seu primeiro contato para pessoas ouvintes compreenderem o “bê-a-
bá” da realidade sinalizante.

Li Bras (Linguagem Brasileira de Sinais)

Neste vídeo, você viu uma série de sinais (nome, sinal, idade, casa/morar, onde) aplicados fora de contexto, somente para você
conhecer as palavras usadas na apresentação pessoal. Informação Cultural (IC): Nas comunidades sinalizantes é hábito
apresentar-se não somente informando o nome, mas também com um SINAL. Esse SINAL pode ser entendido como uma espécie
de “batismo” dentro dessas comunidades. Cada pessoa tem um SINAL próprio que faz referência a alguma característica
particular dela (somente referência física; física com a primeira letra do nome; um evento marcante etc.).

Neste vídeo, você viu os sinais aplicados dentro de frases, em contextos de uso efetivo da língua. No primeiro vídeo, as palavras
estavam isoladas; neste, elas são empregadas em situações práticas de comunicação em LIBRAS. Informação Linguística (IL): as
frases em Libras, muitas vezes, omitem algumas palavras que são usadas; em outras palavras, são construções sintéticas,
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econômicas. Lembre-se: Libras não é a tradução de língua portuguesa. Quer um exemplo? Em português, dizemos “qual é o seu
nome?”. Em Libras, basta usar as palavras “seu” + “nome”, e a interrogação é marcada pela expressão facial.

Entendendo o cenário

Faremos, nesta primeira aula, algumas considerações sobre inclusão, identidade e diferença, principalmente no âmbito dos
estudos sobre surdez e língua de sinais.

A crise de identidade

Vamos começar, então, refletindo um pouco sobre a sociedade contemporânea e suas “novas” formas de relacionamento,
construção de identidade e preservação da cultura; em especial, as influenciadas pela chamada globalização. Para tal, é
necessário que se investiguem as relações entre língua, cultura e sociedade.
A sociedade contemporânea reivindica uma revisão das próprias formas de se pensar a linguagem e o papel e lugar da(s)
ciência(s) e política(s) que a tomam como objeto. Nesse sentido, a sociedade é convocada a enfrentar as constantes
incompletudes, provocadas por um mundo globalizado, onde o global e o local se interpenetram, e as diferenças não se
encaixam na “completude” (Bauman, 2005).

Mundo moderno, comunicação e identidade

As novas formas de relacionamento (através da internet, chat, etc.) e o intercâmbio cultural são significativamente mais velozes
e dinâmicos que no passado. Além da internet, o celular é hoje um aparelho quase que indispensável à sobrevivência na
sociedade urbana. Este aspecto atinge inclusive as pessoas surdas, cujo uso do celular é bastante freqüente, tendo tornado-se
um excelente meio de comunicação para esse grupo social.

Além disso, a própria disciplina que você está fazendo neste exato momento faz parte da evolução tecnológica que permite a
comunicação a qualquer hora e em qualquer lugar, como você pode observar no vídeo ao lado.

Através dessas novas relações, o local e o global passaram a se interpenetrar constantemente, dificultando sua identificação e
tornando incoerente um conceito de identidade (lingüística e cultural) que seja o mesmo para qualquer indivíduo; em outras
palavras, uma identidade que não seja fluida, que seja comum a todos.

Mas será que somos iguais?

Atualmente, a sociedade experimenta certa insatisfação em relação às promessas da modernidade, entre elas, a de igualdade,
de liberdade, de paz, etc. Tais promessas não foram cumpridas, o que tem colocado em evidência a fragilidade do mundo
moderno e da contemporaneidade.
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Língua e identidade para os surdos

Esse fenômeno da crise de identidade pode ser observado em vários setores da sociedade. Em relação aos surdos e às comunidades
sinalizantes não é diferente. Após vários anos de total exclusão, e subjugamento a padrões culturais inerentes a uma vida tipicamente
ouvinte, os surdos – conduzidos pelas pesquisas na área da lingüística, da educação e outras – puderam reconhecer-se como seres
dotados de uma língua. Suas comunidades lingüísticas apresentam peculiaridades culturais a elas inerentes.
Os surdos passam então a afirmar suas identidades com base, principalmente, em características lingüísticas e culturais. Devido
aos longos anos de uma experiência não favorável ao seu reconhecimento, foi necessária a criação de associações diversas, a
produção de discurso de defesa e luta, entre outros, que garantissem esse espaço na sociedade.
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Surdez e identidade

A identidade do surdo deve ser construída com base em suas capacidades, em suas peculiaridades lingüístico-culturais. Por isso, alguns
estudiosos referem-se aos surdos como sujeitos sinalizantes, usuários de Libras. A questão das identidades se faz, portanto, presente e
não pode ser dissociada das experiências da sociedade contemporânea que vive o conflito inerente à fluidez dessas identidades.

Não podemos esquecer que cada surdo tem uma história de vida, que nem todos os surdos dominam a língua de sinais; alguns
são oralizados e têm orgulho disso. Isso nos faz refletir sobre o que é ser diferente, e se há alguma coisa chamada “diferença”.

Selecionamos alguns links interessantes para que você, caso queira, possa aprofundar seus conhecimentos:

1) Instituto Nacional de Educação de Surdos


No site do INES, você encontra informações relevantes sobre os surdos e a língua de sinais.
2) A Vez da Voz
Saiba mais sobre "diferença" e "inclusão", visitando o site dessa Organização Não-Governamental.
3) Lei 10436
Trata-se da chamada Lei de Libras, de 24 de abril de 2002.
4) Decreto 5626
Decreto que regulamenta a Língua Brasileira de Sinais, de 22 de dezembro de 2005.

5) FENEIS - Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

6) APADA – Associação de Pais e Amigos dos Deficientes de Audição

Referências Bibliográficas:

BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.


FERNANDES, Eulália (org). Surdez e Bilingüismo. Porto Alegre: Mediação, 2005.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós – modernidade. Rio de Janeiro: DP&A,1998.
LAPLANCHE, J & PONTALIS. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
RAJAGOPALAN, K. & SILVA, Fábio L. A lingüística que nos faz falhar: investigação crítica. São Paulo: Parábola, 2004.
RIBEIRO, Alexandre do Amaral. Quando negar é legitimar: reflexões sobre preconceito e políticas lingüísticas. Tese de
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Doutorado. Unicamp/IEL, 2006.


SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de surdos. São Paulo: Paulinas, 2006.

Acredita-se ser de grande relevância tomar a atitude política de referir-se aos surdos, pelos menos àqueles que declaram ter a
LIBRAS como L1, com maior freqüência, como “sujeitos sinalizantes”. Este termo não precisaria ser restrito a pessoa surda em
si, mas aqueles que por sua história de vida percebem sua identidade construída em um contexto de uso de língua de sinais. Se
for um surdo sinalizante, esse sujeito não precisará ter medo de usar a sua própria língua, nem se sentirá incapaz de dominar a
língua de outros grupos, mesmo que sejam essas de outra modalidade e que, por isso mesmo, apresentem desafios
aparentemente instransponíveis. Esse sujeito não é um surdo deficiente; é um sujeito dotado de capacidade lingüística...

Aula 2: Especificidades da língua de sinais e os parâmetros que regem a formação de


sinais e o uso da LIBRAS
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Reconhecer as características básicas da língua de sinais;
2. Identificar aspectos relacionados à gramática no que se refere à LIBRAS;
3. Descrever os parâmetros básicos de combinação para a língua de sinais.

O que você entende por gramática?

Quando relembramos nossos tempos de colégio, nos vêm à mente as aulas de língua portuguesa e as “chatices” (pelo menos para
a maioria) das regras gramaticais. Colocação pronominal, predicativo do sujeito, oração subordinada substantiva objetiva direta
etc. Isso porque entendemos (ou nos foi assim ensinado) que a gramática reduz-se à idéia de “um livro em que se expõem as
normas de uso de uma determinada língua”. Mas não é bem assim...
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Sem maiores aprofundamentos, podemos entender gramática no contexto da capacidade lingüística: todo ser humano é dotado
de capacidade lingüística. Em segundo lugar, há que se pensar em gramática como um sistema, mentalmente compartilhado
entre os usuários de uma língua, cujo funcionamento e estrutura não dependem de uma educação formal para serem
aprendidos. Isto equivale a dizer, por exemplo, que qualquer falante, mesmo alguém considerado analfabeto, possui uma
gramática (um conjunto de regras em sua mente), a qual aprendeu no convívio com a sua comunidade lingüística.

Acompanhe a história de uma criança de 3 anos que ainda não foi alfabetizada, e só teve contato com a língua portuguesa
através da interação com os pais e com outros parentes. Ao final, iremos fazer uma pergunta para você responder. Vamos
começar?

E a língua de sinais?

A língua de sinais, a exemplo de qualquer língua oral, tem uma gramática própria, constituída por um conjunto de regras
presente na mente dos seus usuários. Poderemos ter a tendência a acreditar que a língua de sinais seja uma espécie de “língua
oral sinalizada”. Em conseqüência disso, acabaremos acreditando que o léxico (dicionário mental), os
aspectos sintáticos, semânticos, pragmáticos e quirológicos da LIBRAS constituem um emaranhado de sinais, aleatoriamente
utilizados, que mais pareceriam uma língua oral mal falada.
Por isso, podemos afirmar que os surdos, como qualquer ouvinte, possuem uma língua, na medida em que, dotados desta
capacidade lingüística, decodificam logicamente o mundo, organizando-o em suas mentes, através dos recursos físicos e
mentais dos quais dispõem. Assim, sua capacidade lingüística exterioriza-se, formando uma língua específicaque, ao invés de
sinais orais e auditivos, usa sinais espaciais e visuais, valendo-se do pleno funcionamento de sua visão, de suas mãos e do
restante do corpo como um todo.

Basta aprender os sinais que já estamos nos comunicando?

Na LIBRAS, os níveis de descrição da língua são os já conhecidos sintático, semântico, pragmático. Em função da língua de sinais
usar as mãos como principal canal de manifestação, temos ainda o nível quirológico que diz respeito justamente ao aspecto
manual em si.

Desfazendo mitos...
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A língua de sinais não é uma língua universal, conforme muitos pensam. Cada país tem a sua própria língua de sinais. Além disso,
há variações regionais dentro de cada país. Assim, podemos citar: a ASL (American Sign Language), a LSF (língua de sinais
francesa), a Língua de Sinais Urubu Kaapor (Maranhão, Brasil) etc.

Começando a começar...

Uma boa descrição da língua de sinais não pode ser feita, naturalmente, a partir da mesma lógica utilizada para a descrição
de línguas orais. Afinal, a modalidade lingüística é totalmente diferente. No entanto, existem parâmetros que regem o uso da
língua de sinais. Costuma-se apresentar cinco parâmetros que possibilitam entender a formação dos sinais e as bases para os
seus usos durante a produção discursiva. Vamos conhecer esses parâmetros?

Assim, percebeu-se que um sinal é produzido a partir da combinação de elementos espaciais, visuais e motores que
determinam o lugar onde as mãos devem estar na hora da produção do sinal, como as mãos devem estar configuradas, para que
direção elas devem estar apontando, se devem ou não estar se movimentando e como deve ser feito este movimento. Além
disso, é preciso considerar a posição do corpo e a expressão facial que acompanham a produção desse sinal para que ele seja
plenamente entendido em seu contexto de produção.
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Selecionamos dois links para você:

Selecionamos dois links para você:

1) Site sobre acessibilidade , com diversas informações importantes sobre Libras e outros assuntos relacionados.

2) Projeto de registro das línguas de sinais e suas culturas , organizado por Valerie Sutton. Nesse site, a autora
busca compensar a ausência de uma tradição escrita consolidada através de um portal cooperativo para registro de
literatura (entre outros) em língua de sinais.

Veja as referências bibliográficas desta aula:

BERNARDINO, E. L. Absurdo ou Lógica?: a produção lingüística dos surdos. Belo Horizonte: Editora Profetizando
Vida, 2000.

Nesta aula você viu um pouco mais sobre:

a) A relação entre língua, gramática e Libras;


b) Os parâmetros que regem a comunicação em língua de sinais.

Na próxima aula você irá ter contato com as políticas lingüísticas e educacionais, bem como o caráter ético e prático de tais
políticas na relação com a identidade do sujeito sinalizante e da comunidade a qual ele está inserido.
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Não deixe de participar do fórum de discussão e de realizar os exercícios de autocorreção antes de iniciar a aula 3.

Aula 3: Políticas linguísticas e educacionais


Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1. Reconhecer a necessidade de políticas inclusivas relacionadas à surdez;

2. Identificar aspectos relacionados ao preconceito na implementação de políticas linguísticas e educacionais;

3. Perceber como a palavra deficiente não se adequa à identidade do surdo.

Nesta aula, convidamos você a conhecer e a refletir sobre a existência e sobre a necessidade de constante formulação e
reformulação de políticas lingüísticas e educacionais. Discriminar, excluir indivíduos ou grupos em função de determinados usos
da linguagem ou em nome da preservação de certas identidades: essas são questões que vêm emergindo em polêmicas geradas
na atualidade. Tais questões trazem para o centro das discussões a vida política da linguagem e o caráter ético inerente aos
estudos científicos da linguagem, suas aplicações políticas e educacionais.

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