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Unidade 2
Cultura surda no Brasil
Descritores de desempenho
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Apresentação da unidade
A compreensão do uso da Língua de Sinais pela comunidade surda passa pela
igual compreensão sobre alguns fatores que envolvem essa comunidade. Portanto,
nesta unidade, você tomará conhecimento sobre a importância da cultura surda e
o seu desenvolvimento cognitivo. O estudo e a reflexão sobre a diferença entre as
terminologias “surdo” e “deficiente auditivo” também farão parte de nossos estudos, já
que são situações indispensáveis para se pensar a educação desse indivíduo.
Dando seguimento, iremos entrar no conhecimento sobre o que é a Língua Brasileira
de Sinais Brasileira, a Libras, e quais suas principais características, além de traçar um
parâmetro com a Língua Portuguesa.
Com esse conteúdo, esperamos contribuir com sua habilidade de compreensão do
indivíduo surdo para que possa atuar em momentos de contato direto com o surdo em
contexto de sala de aula.
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já que não ouve e, portanto, não compreende os sons das palavras. Mesmo assim,
recebeu apoio de pais e professores que imaginavam estar fazendo a coisa certa.
Sendo assim, o fracasso dessa educação foi iminente, pois a aprendizagem da fala
somente é possível a partir da audição das palavras produzidas por outra pessoa. Os
alunos surdos, desse modo, eram tidos como tendo um retardo mental, visto que não
conseguiam aprender do mesmo modo que os alunos ouvintes. Tantos equívocos só
vieram a prejudicar cada vez mais a educação do indivíduo surdo.
Em 1855, no Brasil Império, D. Pedro II convidou Eduardo Huet, professor-mestre surdo,
para abrir uma escola para surdos. Assim, em 1857 foi fundada, no Rio de Janeiro, a
primeira escola para surdos, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. Pela Lei nº 3.198,
de de 6 de julho de 1957, passou a ser denominado Instituto Nacional de Educação de
Surdos (Ines) e a então Diretora, Alpia Couto, proibiu a Língua de Sinais nas salas de aula.
Porém, sua prática continuava nos corredores da instituição (PERLIN; STROBEL, 2009).
Em 1987, foi fundada a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
(Feneis), no Rio de Janeiro (reestruturação da Feneida, fundada dez anos antes),
composta por ouvintes interessados na Cultura Surda. Atualmente, contudo, os surdos
compõem a maioria da Federação.
Curiosidade
Quer saber um pouco mais sobre a Feneis? Acesse o
link <www.feneis.org.br> e tenha acesso a todas as
informações pertinentes a essa entidade, bem como
à sua biblioteca, com inúmeros artigos sobre a edu-
cação do indivíduo surdo.
Uma das situações que causa dúvidas ao lidar ou tratar com um surdo é a terminologia
que deve ser usada: surdo ou deficiente auditivo. Vamos ver, no próximo tópico, como
se dá essa diferenciação.
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Visto dessa forma, o surdo é o indivíduo que pertence à comunidade surda e que usa
a Língua de Sinais para se comunicar com outras pessoas, sejam elas surdas, sejam
ouvintes.
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Figura 2.1: Imagem de encenação de mímica
O que temos é uma cena em que uma pessoa está expressando uma situação. Nela,
percebemos as mãos espalmadas, como que a empurrar algo com força, expressando
dor de esforço. Isso é mímica, a qual é, ainda, tomada como arte. Os mímicos comandam
verdadeiros espetáculos que podem tanto ser dramas quanto humorísticos.
Mas a Língua de Sinais não é mímica. Vejamos um exemplo:
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Analisando os sinais apresentados nas figuras, e traçando um comparativo com a
definição de mímica, podemos dizer que o primeiro sinal expressa o sentido de saber
algo? Sem ter o conhecimento da Libras, podemos compreender o que a pessoa está
encenando? E, na segunda figura, entendemos que se trata da expressão não saber? Se
as respostas a esses questionamentos simples são negativas, então não se pode, em
hipótese alguma, dizer que a Língua de Sinais é mímica.
A Libras poderá apresentar alguns sinais imitativos, como o caso de algumas frutas, por
exemplo, ou a sinalização de tomar um café. É como pensarmos nas línguas orais. A
sequência de letras C-A-D-E-R-N-O não representa em nada a materialização do objeto
“caderno”. Excetuando-se as onomatopeias, como a palavra “ronronar”, som emitido
pelo gato, as demais palavras não lembram em nada aquilo que o conjunto de letras
representa em uma sequência oralizada.
Portanto, mesmo havendo situações imitativas, não há por que conceber a Língua de
Sinais como sendo mímica.
Mas, se não é mímica, será um gesto?
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A figura mostra dois gestos de mão: o da esquerda pode significar que está tudo bem,
positivo; o da direita, que as coisas não estão nada bem, negativo.
A figura mostra uma pessoa sorrindo. Se pensarmos em uma situação em que alguém
pergunta a essa mulher se ela é feliz com sua profissão, poderá esboçar um sorriso,
demonstrando que sim, ou seja, o gesto do sorriso será a resposta positiva. Se, por
outro lado, para a mesma pergunta, ela demonstrasse tristeza em seu rosto, o gesto
seria de descontentamento.
Portanto, o gesto também não poderá ser considerado como a Língua de Sinais,
embora acompanhe alguns sinais para demonstrar o que o surdo está sentindo ou qual
sentimento que irá acompanhar a informação.
Curiosidade
Os gestos são comumente usados pelas crianças
surdas quando estas iniciam sua comunicação, an-
tes dos 14 meses, diferentemente dos sinais que
irão produzir logo em seguida. Seria o mesmo que
pensar na fase dos balbucios das crianças ouvintes
antes de produzirem as palavras. (BRITO, 1993).
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De acordo com Brito (1993, p. 37), “[...] a Libras, como toda língua de sinais, é uma língua
de modalidade gestual-visual porque utiliza, como canal ou meio de comunicação,
movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão”. Ou seja, os
gestos fazem parte da Libras, embora esta não seja somente isso, pois se trata de uma
Língua de Sinais.
Então, o que é um sinal em Libras?
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Na cultura surda, o sinal também será usado para identificar uma pessoa pelo nome, a
qual irá receber uma marca que a identifica, geralmente de acordo com sua personalidade
ou momento de vida. Qualquer pessoa, seja ela surda, seja uvinte, pode ter seu próprio
sinal que irá a identificar assim como seu nome. Ou seja, a partir do momento em que é
“batizada” por um surdo, a pessoa passa a ser identificada pelo seu sinal e não pelo seu
nome. Além disso, assim como o nome, o sinal nunca será substituído por outro.
A intenção é facilitar o contato com a pessoa, além de pessoalizar esse contato, já que
não será necessário, a cada vez que tiver que chamar alguém, usar a datilologia para isso.
Vistos o que é mímica, o que é gesto e o que é sinal, veremos do que se trata a pantomima
a seguir.
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O bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar
acessível à criança surda duas línguas no contexto escolar. Os estudos têm apontado
para essa proposta como sendo mais adequada para o ensino de crianças surdas, tendo
em vista que considera a Língua de Sinais como língua natural e parte desse pressuposto
para o ensino da língua escrita.
Entendemos que o bilinguismo seja a forma mais adequada para a educação dos
sujeitos surdos. Porém, para que essa modalidade tenha êxito, torna-se necessário o
entendimento da surdez pelo enfoque cultural e não pelo enfoque clínico/terapêutico.
Para que isso aconteça de forma satisfatória na escola, é importante que o currículo
escolar seja revisto e que as práticas pedagógicas sejam pensadas para os sujeitos
surdos.
Por muito tempo, as comunidades surdas vêm lutando por uma educação bilíngue
em uma escola bilíngue. Pesquisadores da área da surdez têm demonstrado, através
das suas pesquisas, que a criança surda aprende melhor em escolas bilíngues ou
especializadas para surdos. Diferentemente do que determina a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que entende
que o surdo deve frequentar o ensino regular, fazendo com que os surdos distanciem-se
do discurso da Educação Especial e entendam que a escola regular não tem condições
de atender as suas especificidades linguísticas. Isso não significa que eles não sejam
favoráveis à inclusão, mas, sim, que apenas advogam por uma educação adequada às
suas especificidades linguísticas, o que não vem acontecendo nas escolas regulares.
Nossa vivência está constituída em um mundo letrado, em que as pessoas se
comunicam, sobretudo, por intermédio de textos escritos. Com isso, o uso da Língua
Portuguesa de forma clara, coesa e objetiva torna-se um aliado quando se refere a
essas formas comunicativas.
No que diz respeito ao aluno surdo, é importante o reconhecimento de que sua língua
materna é a Libras e que ela carrega várias especificidades distintas do Português, o
que irá dificultar sobremaneira a compreensão de textos escritos nessa língua. Mesmo
nos casos de pessoas que perderam a audição após a aquisição desse idioma, a Libras
prevalece como sua língua de comunicação.
Nesse cenário, o ambiente escolar deverá cumprir seu papel de meio de aprendizagem
e de aquisição da Língua Portuguesa, vista como segunda língua do aluno surdo, a fim
de oportunizar sua socialização de maneira plena.
De acordo com o artigo 13 da Constituição Federal do Brasil, “[...] a língua portuguesa é
o idioma oficial da República Federativa do Brasil”. (BRASIL, 1988). Mais recentemente,
a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, traz o seguinte texto:
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Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de co-
municação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias
e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).
Desse modo, é imperativo que a escola se organize para fornecer ao público surdo
o acesso à aprendizagem e à apropriação da Língua Portuguesa de forma efetiva e
eficaz.
Reflita
Após a leitura atenta do texto, reflita sobre a história
da Língua de Sinais e a sua importância para as co-
munidades surdas. Além disso, reflita sobre o porquê
de as comunidades surdas advogarem por uma edu-
cação bilíngue.
A Libras é considerada a língua materna de muitos surdos que têm contato com ela
desde sua mais tenra idade. Ou seja, é a língua natural do surdo. Da mesma forma
como as línguas orais, a Libras possui gramática, semântica, pragmática, sintaxe e
outros elementos classificatórios identificáveis de uma língua. Ou seja, é uma língua
reconhecida pela linguística e poderá ser adquirida por qualquer pessoa, seja ela surda,
seja ouvinte.
Partindo desse entendimento, as comunidades surdas advogam por uma educação
bilíngue e uma escola bilíngue, em que a Libras seja a sua primeira língua (L1) e o
Português escrito, sua segunda língua (L2).
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É importante esclarecer que cada país terá a sua Língua de Sinais. Vejamos alguns
exemplos no quadro a seguir:
Como podemos verificar no quadro, a Língua de Sinais não é universal. Além disso, a
língua de sinais irá apresentar uma variação linguística da mesma forma que as línguas
orais, sendo que fatores culturais e geográficos estão relacionados a essas variações.
Isso significa que os sinais de algumas palavras podem ser diferentes em determinadas
regiões do país. Assim como na Língua Portuguesa, por exemplo, a palavra “mandioca”,
como é conhecida no sul do Brasil, no nordeste é conhecida como “macaxeira”, um
sinal em determinada região que pode ser realizado de outra forma em outra região,
sendo as duas formas consideradas corretas.
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3. Haveria uma falha na organização gramatical da Língua de Sinais que
seria derivada das Línguas de Sinais, sendo um pidgin: sem estrutura
própria, subordinado e inferior às línguas orais.
Podemos dizer que as pesquisas em relação ao estudo da Libras ainda são muito
recentes. Por isso, alguns desses mitos ainda persistem nos dias atuais e torna-se
fundamental que saibamos o que é mito e o que não é mito.
Entende-se por Libras:
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Curiosidade
O Gestuno (ou Língua Gestual Internacional, Língua In-
ternacional de Sinais, no Brasil) é uma linguagem auxi-
liar internacional, muitas vezes usada pelos surdos em
conferências internacionais, ou informalmente, quan-
do viajam. Não é considerada uma língua, já que não
possui uma gramática. Utilizam-se os sinais com a gra-
mática de qualquer uma das Línguas de Sinais existen-
tes. O nome vem do italiano e significa: união das Lín-
guas de Sinais. Alguns surdos utilizaram essa língua
nos Jogos Mundiais para surdos, na Conferência de
surdos e no Festival de Washington DC. Fonte: <http://
www.icepbrasil.com.br/site/index.php/noticias/todas-
-as-noticias/635-a-oficina-de-gestuno-lingua-interna-
ciomal-de-sinais>.
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Síntese
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Saiba mais
Para o aluno surdo, a Língua Portuguesa será sua
segunda língua, aquela que o levará ao mundo da
escrita e de sua compreensão. Desse modo, é im-
portante a compreensão de que se deve buscar ma-
neiras diferenciadas, reflexivas e interativas de levar
o conhecimento sobre a Língua Portuguesa para o
aluno surdo. Um dos caminhos poderá ser o conta-
to com a publicação Ensino de Língua Portuguesa
para Surdos - Caminhos para a prática pedagógica,
lançado pelo MEC. Acesse o link <http://portal.mec.
gov.br/pec-g/192-secretarias-112877938/seesp-es-
ducacao-especial-2091755988/12675-ensino-de-lin-
gua-portuguesa-para-surdos-caminhos-para-a-pra-
tica-pedagogica> e tenha acesso aos dois volumes
disponibilizados em PDF.
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Referências
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PERLIN, G.; STROBEL, K. Teorias da Educação e Estudos Surdos.
Florianópolis: Editora da UFSC, 2009. Disponível em: <http://www.
Libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/
teoriasDaEducacaoEEstudosSurdos/assets/257/TEXTOBaseTeoria_da_
Educacao_e_Estudos_Surdos_pronta.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2018.
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