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A FORMAÇÃO EM LETRAS-LIBRAS, A PRÁTICA DE ENSINO NO

PIBID E A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA DE PAULO FREIRE

Cícera Patrine Cunha Flôr;


Jakeline Gonçalves dos Santos;
Maria Tereza Escariolano Santos; Tainara Reis Gonçalves1
Bruna Ataíde de Lima Lopes2
Lucas Romário da Silva3

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), Universidade Federal do Cariri, campus
Juazeiro do Norte

RESUMO

O presente artigo objetiva relacionar os saberes propostos por Paulo Freire em “A Pedagogia da
Autonomia” com a experiência formativa no Curso de Licenciatura em Letras Libras e no Núcleo de
Letras Libras do Pibid da Universidade Federal do Cariri (UFCA), bem como com as suas experiências
das professoras em formação, enquanto docentes, no Curso de Introdução à Libras, ofertado a uma
escola estadual de Ensino Médio do Estado do Ceará, sediada no município de Juazeiro do Norte. No
decorrer do texto, debatemos os saberes apresentados na obra de Paulo Freire, como por exemplo, o
respeito aos conhecimentos do educando, a crença na mudança, o comprometimento com cada educando
e o estímulo à curiosidade e à autonomia, dentre outros. Durante as discussões, citamos autores e autoras
da área da Libras para embasar as análises e vivências descritas por Freire em seu texto, que nos leva a
refletir sobre o exercício de se tornar professor/a cada dia, acompanhando o desempenho dos alunos/as
e buscando sempre resultados satisfatórios.

Palavras-chave: Autonomia. Pibid. Formação. Letras-Libras.

INTRODUÇÃO

O presente artigo faz uma relação entre a formação no curso de licenciatura em Letras-
Libras e o livro “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire, o qual aborda questões essenciais
para formação de bons/as professores/as, além de apresentar tópicos da relação ensino-
aprendizagem entre aluno/as com o/a educador/a, como também, trata da ética, de uma postura
progressista e do respeito aos/às educandos/as para o ensino em sala de aula e na sociedade.
Ademais, contextualiza a experiência prática de um curso de Introdução à Língua
Brasileira de Sinais (Libras), vinculado à Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra,
em Juazeiro do Norte-CE, ministrado pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de

1
Graduandas do curso de Letras-Libras da UFCA. (Autora, e-mail:patrine.cunha@aluno.ufca.edu.br);
(Autora, e-mail: jakeline.goncalves@aluno.ufca.edu.br); (Autora,e-
mail:tereza.escariolano@aluno.ufca.edu.br); (Autora, e-mail: tainara.reis@aluno.ufca.edu.br).
2
Professora Supervisora de área do Pibid Letras-Libras. (Co-autor, e-mail:brunataide@gmail.com).
3
Coordenador de área do Subprojeto Pibid Letras-Libras. (Co-autor, e-mail:
lucas.romario@ufca.edu.br).

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Iniciação à Docência (Pibid), do curso de Letras-Libras, da Universidade Federal do Cariri
(UFCA), na modalidade de ensino remoto.
Segundo o Projeto Pedagógico de Curso (PPC) da Universidade Federal do Cariri
(UFCA), o curso de Letras-Libras tem como objetivos habilitar o/a profissional a ensinar Libras
aos estudantes do Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Ensino Superior. O campo de atuação
do/a licenciado/a refere-se ao ensino de Libras como L1 e L2. L1 significa a primeira língua de
alunos/as surdos/as, e o português, a primeira língua para ouvintes. No caso dos/as surdos/as, a
L2 é o português, na modalidade escrita, e a Libras assim o é para os/as alunos/as ouvintes.
Além disso, o curso de Letras-Libras deve também deve “[...] formar licenciados em
Letras, que tenham o trabalho pedagógico como norte da sua formação, numa perspectiva de
ensino e aprendizagem dialético e dialógico.” (UFCA, 2018, p. 23) Desse modo, os
profissionais capacitados a trabalhar dialogicamente com os/as educandos/as poderão construir
um melhor processo educacional, com base na maior valorização dos educadores em formação
no contexto da Língua de Sinais.
Dessa forma, este artigo possui dois objetivos, a saber: relacionar os saberes propostos
por Paulo Freire em “A Pedagogia da Autonomia” com a experiência formativa no Curso de
Licenciatura em Letras Libras e no Núcleo de Letras Libras do Pibid da Universidade Federal
do Cariri (UFCA), bem como com as suas experiências enquanto docentes no Curso de
Introdução à Libras, ofertado a uma escola estadual de Ensino Médio do Estado do Ceará,
sediada no município de Juazeiro do Norte.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O curso de Licenciatura em Letras-Libras da UFCA pretende formar cidadãos/ãs


aptos/as a ensinar a Língua Brasileira de Sinais com objetivos específicos, dentre eles: “j)
colaborar com o desenvolvimento de autonomia e competência no processo auto formativo
enquanto docente; k) garantir uma aprendizagem cooperativa” (UFCA, 2018, p. 23). Esses dois
objetivos são indispensáveis, pois trabalhar de forma conjunta com os alunos e alunas do curso
de Letras-Libras composto por surdos/as e ouvintes, desenvolvendo a autonomia durante a
formação, fará com que o conhecimento da Libras e da cultura surda em escolas e na sociedade
possa crescer.

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Assim como Paulo Freire aborda em sua obra, é preciso ser um educador ou educadora
que trabalhe com generosidade, ética, humildade, que dialogue com os discentes e seja
comprometido ou comprometida com a tarefa de educar, para que assim torne a educação mais
justa e democrática a todos os indivíduos.

2.1 Ensinar exige curiosidade

Consideramos que o papel dos professores também é de desconstrução para que possam
construir novos saberes sobre os sujeitos que educam. No curso de Letras-Libras, os professores
em formação adquirem novas perspectivas acerca da comunidade surda, tendo em vista que é
comum o/a graduando/as em Letras-Libras ingressar no curso sem saber sobre a cultura surda,
trazendo consigo a crença de uma sociedade ouvintista. No decorrer do curso, o/ a professor/a
em formação vai desmistificando seu saber anterior e conhecendo o sujeito surdo, as
características da língua de sinais, de sua cultura e as singularidades da comunidade surda, não
obstante esse conhecimento vai se aprofundando com a prática em sala de aula, ao ter contato
com cada aluno/a, ou seja, a formação inicial aproxima os/as professores/as em formação dos
sujeitos com quem irão trabalhar, mas não substitui o contato diário e o olhar atento a seus
alunos e suas alunas. Para tanto, é necessário uma transição da curiosidade ingênua para a
curiosidade epistemológica (FREIRE, 1996),, ou seja, quando o/a professor/a em formação
transita de um lugar no qual as respostas estão postas, sem questionamentos, baseadas apenas
no senso comum, avançando para novos conhecimentos, de forma crítica, com bases em
conhecimentos empíricos e teóricos. O curso de Letras-Libras tem gerado em nós,
professores/as em formação, uma curiosidade que se move de conhecimentos do senso comum
sobre as pessoas surdas e gerando uma necessidade de aprender cada vez mais, desconstruindo
uma perspectiva clínica sobre a surdez, que percebe os surdos como sujeitos deficientes,
incapazes, e passa a vê-los como sujeitos culturais, que possuem uma cultura, uma língua
gestual-visual (GESSER, 2009).Segundo Paulo Freire (1996), “sem a curiosidade que me
move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”, assim essa é uma
prática fundamental da pedagogia da autonomia, pois ela é capaz de estimular o/a estudante e
o/a professor/a, no entanto, quando o educador é autoritário e usa de tradicionalismo, priva a
curiosidade do educando e, por fim, a sua própria curiosidade. Como defende esse educador, a
curiosidade é um direito de cada ser, ela propicia um ambiente pedagógico-democrático, porém

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ela deve ser exercida com limites: “minha curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade
do outro e expô-la aos demais” (FREIRE, 1996).
Historicamente falando, as pessoas surdas não tinham o seu direito exercido da
curiosidade, como já citado anteriormente elas eram impostas a práticas ouvintistas que não
feriam somente o seu interior, mas o seu aprendizado também. Conforme afirma Karin Strobel
(2008)
Era muito comum na época a prática escolar de uma aprendizagem de tipo passivo e
receptivo, o controle, o disciplinamento – chamando os surdos de macacos por usarem
língua de sinais - a correção e a punição aos sujeitos surdos que não correspondiam
às práticas tradicionais ouvintistas, este tipo de aprendizagem, a língua de sinais e a
compreensão desempenhava um papel muito reduzido, pois o mais importante era
saber ‘falar’, fazendo com que os surdos sejam próximos de modelo ouvinte: de serem
‘normais’, segundo eles, mesmo que seja de forma mecânica (STROBEL, 2008, p.
48).

Logo, a educação dos surdos, constantemente, vem sendo realizada de forma


antipedagógica, pois os/as professores/as só falam e não fazem a escuta, não dialogam com as
pessoas surdas, não estimulam a curiosidade delas. Aprender a ensinar estimulando a
curiosidade é um saber imprescindível para os/as professores/as em formação do curso de
Letras-Libras, para que não seja reproduzida a exclusão do direito a dialogar, a expressar, a
buscar, aos seus futuros/as alunos/as, sejam surdos/as ou ouvintes.
A experiência discente que se tem, dentro da licenciatura, é fundamental para a prática
docente que se terá no futuro (FREIRE, 1996). Então o que o aluno aprende e ensina dentro da
sala de aula posteriormente, será a base da sua prática de educador, que implica diretamente na
reprodução que esse(a) professor(a) em formação fará, por isso a importância de instigar a
curiosidade.
É preciso então não somente questionar o que está sendo trabalhado nos cursos, mas
como está sendo feito: as metodologias e práticas. Sobre isso Paulo Freire (1996) afirma que

Não devo pensar apenas sobre os conteúdos programáticos que vêm sendo expostos
ou discutidos pelos professores das diferentes disciplinas, mas, ao mesmo tempo, a
maneira mais aberta, dialógica, ou mais fechada, autoritária, com que este ou aquele
professor ensina (FREIRE, 1996, p.35).

Ou seja, além de se ter a preocupação do que se ensina, é necessário observar também


como se ensina, se é de uma forma fechada que priva a curiosidade do aluno, ou de uma forma
dialógica, que a motiva.

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2.2 Ensinar exige consciência do inacabamento

Freire (1996) considerava que “como professor crítico, sou um ‘aventureiro’


responsável, predisposto à mudança, à aceitação do diferente” (FREIRE, 1996, p. 21).
Analisando o texto, é perceptível que, para o autor, o ser docente se constitui por, entre muitos
outros aspectos, o de ser capaz de reconhecer em si a imperfeição. Como seres imperfeitos e
incompletos, os/as docentes possuem a liberdade de errar e o dever de aprender com seus erros;
afinal, a prática docente é repleta de experimentos.
O Curso de Letras Libras é um curso recente no Brasil. O primeiro foi criado pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2006. Nesse sentido, o campo de estudo
em relação a essa língua no Brasil é relativamente novo. Por isso, ainda é uma área em que vem
construindo saberes. Considerando ainda que o conhecimento é situado, que avança, apesar de
estarmos tendo acesso a diferentes conhecimentos no curso de Letras Libras, temos a
consciência de que esse é um período inicial de nossa formação e que ao longo de nossas
práticas docentes, iremos aprendendo constantemente novos saberes e refletindo sobre os que
já acumulamos. Dessa forma, o/a professor/a precisa estar atento/a e vigilante para que não se
acomode sob a falsa sensação de que já sabe e não há mais o que aprender.

2.3 Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível

Paulo Freire relata em seu livro que a sociedade está em constante evolução, afirmando
que “o mundo não é. O mundo está sendo” (FREIRE, 1996), e como seres racionais não
devemos nos abster das decisões. Como mencionado, os estudos sobre a Libras ainda são
recentes e suas metodologias ainda estão em constante teste. Sobre a história da educação de
surdos, por exemplo, de acordo com Strobel (2009, p. 30 apud SÁ, 2004, p. 3):

Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não-surdos, é mais ou menos assim:
primeiramente os surdos foram “descobertos” pelos ouvintes, depois eles foram
isolados da sociedade para serem “educados” e afinal conseguirem ser como os
ouvintes; quando não mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos
que se fortaleciam, tentou-se dispersa-los, para que não criassem guetos.

Assim, é notável o quanto a exclusão sofrida pelas pessoas surdas por parte da população
ouvinte acarretou no atraso linguístico desses indivíduos. Os estudos ainda passam por diversos
testes sobre quais as metodologias adequadas para ensinar uma pessoa surda. A própria escrita

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de sinais ainda é algo recente e não tão difundida quanto deveria, devido à exclusão que os
surdos sofreram.
Desse modo, a Libras não era considerada língua, até que passou a ser considerada por
meio dos estudos linguísticos e por força da lei 10.436 de 24 de abril de 2002. E com a esperança
que esta evolução traz, faz-se necessário o incentivo da língua e sua cultura; mas, mais que isso,
é preciso acreditar de fato na mudança, pois ela deriva da luta de pessoas que idealizaram uma
realidade melhor. A busca da difusão da língua de sinais se torna ainda mais urgente quando
analisamos a opressão que surdos e surdas sofreram e sofrem.
De igual modo, é preciso compreender que a mudança da situação de opressão que as
pessoas surdas passam também perpassa pelo trabalho pedagógico. Nós, professores/as em
formação, devemos crer que é possível contribuirmos para a mudança nessa situação de
exclusão que assola as pessoas surdas ao longo da história.

2.4 Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado

A partir da ideia de inacabamento, de que a nossa presença no mundo não é mera


coincidência, Freire (1996) discorre sobre sermos e nos percebermos condicionados. Saber-se
também inacabado, com influências sociais, históricas e culturais que fazem o pertencimento
de cada indivíduo nesse mundo, assim professores/as progressistas devem pensar na
individualidade do seu aluno, ou seja, a bagagem que o mesmo carrega (FREIRE, 1996).

Sabendo que o aluno surdo ou a aluna surda, por exemplo, possui formas diferentes de
experienciar o mundo, portanto, há a necessidade de que, na formação e na prática, os/as
educadores estejam abertos para acompanhar e respeitar a forma como aquele sujeito pensa,
expõe e reproduz o que foi apreendido com o decorrer do tempo, corroborando com Freire
(1996, p. 23) quando assevera que “afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se
adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas
sujeito também da História”.

De acordo com Freire (1996), “histórico-sócio-culturais, mulheres e homens nos


tornamos seres em que a curiosidade, ultrapassando os limites que lhe são peculiares no
domínio vital, se torna fundante da produção do conhecimento”. A curiosidade ingênua, citada
pelo autor, é importante para que se possa chegar à curiosidade epistemológica, de pesquisa, de
compreensão daquele aluno com diferenças linguísticas e culturais. As práticas abusivas
utilizadas para alfabetizar e educar pessoas surdas, desrespeitando sua língua materna e os

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privando de apropriar-se de sua cultura, por muito tempo foi uma forma de condicionamento,
pensando desta forma, Freire nos questiona se esta condição que foi posta, é realmente a que se
deve aceitar.

Segundo alguns pesquisadores da área de Língua de sinais, a língua era fragmentada, e


a escrita era ensinada com base na língua oral. Quando os surdos e surdas aprenderam a língua
de sinais, isso se deu em espaços informais. Considerar que a educação de surdos foi por
bastante tempo negligenciada, volta-se a discussão de ainda se reconhecer condicionado, estar
nessa condição que se foi imposta causa revolta e pode paralisar ou revolucionar a forma como
se dá a educação de pessoas surdas, desta forma é necessário pensar progressivamente, pois
isso permite que essa revolução aconteça. De tal modo, a condição de ser determinado não é
suficiente para barrar ideais e movimentos construídos ao longo da existência (GÓES,1999;
LODI,2004a; LODI; MOURA,2000; PEREIRA,2005; SANCHEZ,2002; SOUZA,1998).

2.5 Ensinar exige comprometimento

A forma como o docente se mostra para o discente reflete no que ele compreenderá por
ensino e aprendizagem, sendo assim, Freire (1996, p. 37) reforça que “daí, então, que uma das
minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que
digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo”. De acordo com esse
trecho, pode-se dizer que o educador, como qualquer outra pessoa, não é totalmente sábio e
deve estar aberto a novas opiniões, quando se fala de educação bilíngue principalmente, porque
é a apreensão de uma nova língua e um novo mundo com o qual estará lhe sendo apresentado.
Educadores são responsáveis por passar conhecimentos, estimular, respeitar cada ser educando
em formação, por isso é imprescindível que se esteja comprometido com a realidade de cada
um.

Professores bilíngues, em sua maioria ouvintes, devem sempre estar abertos ao novo, ao
que o seu aluno surdo ou aluna surda tem a oferecer para a construção de um novo entendimento
da língua viso-gestual. No entanto, no caso dos professores citados, em que os ensinamentos
foram destinados a alunos e alunas ouvintes, com uma cultura e língua já estabelecida, a
curiosidade ingênua prevaleceu, precedendo a epistemológica, a experiência que esses alunos
tiveram é considerada rica, pois a curiosidade dos mesmos, os fez prosseguir e aprender sempre
mais sobre uma língua que, por muitos anos, foi alvo de preconceitos e proibida dentro da nossa
sociedade.

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METODOLOGIA

Este artigo apresenta reflexões sobre a relação entre teoria e prática, considerando a
leitura da obra “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire, a formação no Curso de
Licenciatura em Letras Libras e a experiência do Pibid na regência do Curso de Introdução à
Libras, ministrado pelas bolsistas. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica no livro de
Paulo Freire, com apresentações de seminários por todas as bolsistas, relacionando às leituras
dos livros: “Ensino de Libras”, de Neiva de Aquino (2016) , “O ouvinte e a Surdez”, de Audrei
Gesser (2012) como também os artigos: “Surdos: Vestígios Culturais não Registrados na
História” (2008) e “História da educação de surdos” (2009), da autora Karin Strobel. Além
disso, foi avaliado, enquanto eram ministradas as aulas do curso, em que medida esses saberes
estavam presentes na prática e que resultados se obtinha dessa presença ou ausência.
O trabalho só foi possível pelo companheirismo da equipe de quatro pibidianas, as quais
se reuniam semanalmente, além da troca de experiências com a outra turma, sob orientação
constante da supervisora e do coordenador de área, como também da participação em
minicursos para o ensino de Libras. A reflexão sobre a prática foi feita de forma individual, já
que tais percepções são pessoais, essas mesmas compreensões foram partilhadas pelas
integrantes do grupo. Ademais, para chegar a essas conclusões foram usadas comparações entre
a prática e a teoria freiriana.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os/as professores e professoras em formação, observam a prática dos/das


professores/as, para compreender sua metodologia e também se o seu caráter pedagógico, em
sala de aula. Essas práticas podem ser variadas: progressistas democráticas, tradicionais
reacionárias, arrogantes ou amorosas. Assim, pode-se refletir a melhor postura pedagógica que
irá praticar no momento em que for docente. Essa reflexão foi possível a partir do momento em
que as bolsistas do Pibid puderam utilizar seus conhecimentos para o ensino básico da Língua
Brasileira de Sinais para alunos de uma estadual de Ensino Médio do Estado do Ceará, em
Juazeiro do Norte.

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No tocante ao que prevê Freire (1996), em relação ao respeito aos saberes do aluno
observa-se que, aprendemos no curso de formação em Letras- Libras, que a educação deve ser
inclusiva, no entanto, essa realidade nem sempre é assim, uma vez que os alunos e as alunas
ouvintes são tratados/as como “normais” pelos professores, e os surdos são deixados de lado.
Os professores, por exemplo, não se interessam pelo aprendizado de sua língua e se dirigem
apenas ao intérprete para falar, tendo em vista que não conseguem sinalizar, deixando o aluno
surdo excluído pela falta de interação docente-discente. O Decreto 5.626/2005, dispõe de
escolas bilíngues ou classes bilíngues para alunos surdos ou alunas surdas, com professores/as
bilíngues, utilizando a Libras como língua de instrução e a língua portuguesa na modalidade
escrita. Entretanto, a realidade é muito diferente do que se tem escrito por lei, como foi citado
anteriormente, as escolas inclusivas inserem os surdos juntamente com ouvintes, não fazem uso
da língua de sinais como L1, mas sim o português como língua de instrução e há presença de
intérprete em sala de aula.
Como pôde ser visto na prática, alunos ouvintes de escola pública não tem essas
informações sobre as pessoas surdas, sobre a educação ideal para elas, não sabem sobre a
cultura surda e somente com o tempo do curso de Libras em que aprenderam sinais e sobre a
comunidade surda, foi perceptível a mudança que eles começaram a ter acerca do assunto.
Dessa maneira, a educação dos alunos surdos ou surdas se torna precária em relação a
educação de alunos ouvintes, pois estes aprendem em sua língua materna, ao contrário dos
outros que por não serem respeitados no ensino da língua de sinais, que é sua língua materna
não obtém o mesmo desempenho acadêmico. Isso gera atraso na idade escolar, a falta de
interação com os colegas faz com que alguns desistam de estudar, por conta disso, os surdos e
surdas acabam por não prosseguirem no ambiente educacional, sendo poucos frequentando a
universidade.
Por esse viés, cabe aos professores/as em formação trabalhar essa realidade, colocando
em prática todos os aprendizados durante a graduação e suas experiências acadêmicas e
pessoais, no caso de professores surdos e surdas, tendo compartilhado das mesmas dificuldades
quando estudavam, podem moldar a metodologia de ensino dentro da cultura surda, em prol de
suprir as necessidades educacionais de crianças e jovens surdos e surdas, com a falta de
professores bilíngues em escolas brasileiras. Para Albres (2016), os professores surdos de
Libras podem trazer um olhar diferente do ensino de Libras que nem sempre o ouvinte tem.
Nesse caso, os surdos têm prioridade nos cursos de licenciatura em Letras-Libras, pois:

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[...]fomentam o uso da Libras em todos os espaços da escola e por se constituírem
como surdos, por sua trajetória de vida têm condições experienciais e linguísticas de
contribuir de forma ímpar com a construção de uma didática bilíngue. (ALBRES,
2016, apud SARUTA, 2012, p. 45).

Ademais, durante as aulas do curso de Libras, a autonomia docente foi valorizada e


estabelecida durante todo período de atuação, mesmo com as diferenças metodológicas e
identitárias das bolsistas, enquanto docentes do curso, a busca por ser acessível a todos os
participantes, incluindo e dialogando com cada aluno e aluna, além do auxílio mútuo com as
colegas bolsistas, a supervisora e o coordenador, a experiência enquanto docente serviu para o
crescimento profissional, ético e, principalmente, humano.
Com as aulas remotas foi possível notar que, ao ministrar um curso básico de Libras
para alunos do ensino médio da escola estadual em Juazeiro do Norte, os pibidianos tiveram
que pesquisar e criar metodologias que atendessem a esse formato. Para isso, foi necessário se
reinventar ao longo do caminho: testando diferentes formas de instigar o aluno sem a
comodidade do ensino presencial.
Levando em consideração que a maioria dos alunos não possuem computador e/ou
internet de qualidade, tais estratégias deveriam se ater a esse ponto. Para tal, foi necessário além
das aulas, gravar vídeos de revisão, com os quais os estudantes poderiam treinar posteriormente.
As aulas também demandam beleza estética, para instigar os/as alunos/as, dessa forma, foi
preciso desenvolver slides interativos recheados de jogos e dinâmicas que despertam a vontade
de sinalizar. Além de tudo, foi essencial trazer elementos do cotidiano dos discentes, como por
exemplo, filmes que os interessam ligando os mesmos ao conteúdo.
Considerando que, segundo Freire (1996), “ensinar exige a convicção de que a mudança
é possível”, observamos que a língua de sinais brasileira nem sempre possuiu a visibilidade que
tem hoje, ainda que esteja longe do ideal. Por muito tempo não foi reconhecida ou praticada e
não possuía um curso próprio para formar profissionais capacitados. Atualmente, no entanto,
ela é difundida. E esses avanços se deram a partir do empenho e da luta da comunidade surda,
acreditando sempre na mudança e se empenhando para conquistá-la.
Trazendo a perspectiva cultural das pessoas surdas, as pibidianas se empenharam em
gravar vídeos que possibilitasse aos alunos entender mais sobre a história dos surdos. Além
disso, durante as aulas eram sanadas todas as dúvidas sobre tal assunto. A princípio, os discentes
possuíam uma visão clínica sobre o ser surdo, o que foi mudando no decorrer das aulas.
De tal modo, ao se saber inacabado, professores bilíngues em formação compreendem
o fato de estar em processo de incompletude, buscando aprender cada vez mais. Esse

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inacabamento foi observado durante o curso de Introdução a Libras na escola, no qual a cada
aula, os professores precisam se desdobrar e se renovar para ensinar da forma contextualizada,
respeitando os saberes dos alunos, buscando novas respostas para os anseios de seus alunos,
valorizando sempre a sua cultura, suas identidades e seu contexto social.

Assim, observa-se, mais uma vez, o encontro entre a teoria de Freire e a experienciação
em sala de aula, com as dificuldades que a pandemia trouxe, a adesão do curso foi razoável,
desta forma vemos um comprometimento dos professores em formação e dos alunos do curso
de Introdução à Libras. Em se tratando do comprometimento, esse é visto quando o educador é
questionado por um aluno sobre o significado e origem de determinado sinal, deve ser sincero
ao dizer se sabe ou não, para que este aluno não siga sua vida acadêmica pautada em se restringir
a essa curiosidade. Freire (1996) simplifica: “[...] isso não me dá autoridade e quem conhece,
me dá a alegria de, assumindo minha ignorância, não ter mentido[...]”. Desta forma, na
experiência em sala de aula, houve muitos questionamentos de como eram os sinais, de como
se formavam, de como se criava, o professor na sua transparência conseguiu mostrar que era
um ser inacabado, inconcluso, podendo saber ou não determinado sinal e sua origem, mas,
sempre demonstrando que iria em busca dessa informação; assim, fazendo com que o aluno e
a aluna sentisse mais curiosidade para um próximo momento.

Durante todo o Curso de Introdução à Libras ofertado pelo Pibid núcleo Letras- Libras,
houve empenho dos pibidianos que atuaram como professores para fazer da sala de aula um
ambiente dialógico, que fosse colocada na prática a escuta, isso foi realizado por intermédio de
debates na sala e de perguntas que induziram os alunos a refletir. Proporcionar momentos assim
levou os alunos e alunas a tentar saciar sua curiosidade mais profundamente, não somente na
sala de aula, mas por fazerem pesquisas, mostrando assim que a curiosidade os levou a ter um
bom aprendizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÃO

Compreendendo que a prática docente juntamente com os saberes advindos da leitura


de “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire, foi de grande importância para formação
desses professores de Libras, embora nessa primeira prática, esses/as alunos/as sejam ouvintes,
o percurso ainda é imenso para buscar outras formas de ensinar e avaliar, pois cada saber aliado

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aos conhecimentos da língua de sinais, cultura, educação, experiências pessoais e
compartilhadas com a comunidade surda e pesquisadores da área. Considerando essas
diferenças no processo de ensino e aprendizagem que cada educador/a e educando/a possui,
podemos perceber que se torna fundamental o respeito aos conhecimentos prévios e a
humildade de se reconhecer como “ser inacabado.”
Ademais, se faz necessário o respeito às diferenças e identidades dos formandos, como
também a curiosidade, que sem essa não os levaria ou as levaria a indagar, sugerir e observar a
maneira de ser de cada docente, para assim ir se transformando como professor ou professora.
Reconhecemos também a inviabilidade da perfeição, pois todos os cursos possuem falhas, mas
aqui ressaltamos a importância de permanecer aperfeiçoando-se constantemente em favor de
um melhor aprendizado para os alunos e alunas.

REFERÊNCIAS

ALBRES, Neiva de Aquino. Ensino de libras (Direitos Humanos e Inclusão - Diversidade


Étnico-Racial) . Editora Appris. Edição do Kindle. 2016.
ALBRES, Neiva de Aquino. Ensino de libras: aspectos históricos e sociais para a formação
didática de professores. 1. ed. Curitiba. Appris, 2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. Rio
de Janeiro/ São Paulo. Paz e Terra, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 65. ed. Rio
de Janeiro/ São Paulo. Paz e Terra, 2020.
UFCA. Projeto Pedagógico do Curso De Licenciatura Plena Em Letras: Língua Brasileira De
Sinais (LIBRAS), 2018. Disponível em: https://documentos.ufca.edu.br/wp-folder/wp-
content/uploads/2019/08/LibrasUFCA-Projeto-Pol%C3%ADtico-Pedag%C3%B3gico-
2018.pdf . Acesso em 14 de janeiro de 2021.
STROBEL, Karin. História da educação de surdos. Disponível em: Apresentação (UFSC).
2009. Acesso em 23 de janeiro de 2021. p. 30.
STROBEL, Karin Lilian. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. Florianópolis,
2008. Tese de Doutorado em Educação – UFSC - Universidade Federal de Santa
Catarina. 2008.

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