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Práticas Inclusivas na Libras

Guilherme Rodrigues de Souza¹

RESUMO
A inclusão de estudantes surdos em escolas comuns é uma garantia de acesso prevista em lei,
entretanto nota-se que os profissionais da educação em sua maioria professores não são
capacitados para este atendimento educacional especializado. Os cursos de licenciatura não
comtemplam a real necessidade de estratégias de didáticas para o ensino de estudantes surdos.
Este estudo reúne elementos teóricos sobre a importância da Libras – Língua Brasileira de
Sinais e sua importância para “Quem escuta com os olhos”. Após entrevista com professores
de uma escola da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais, pioneira na inclusão de estudantes
surdos no ensino médio, concluímos que a realidade de se ter um espaço inclusivo não é tão
distante assim.

Palavras-chaves: Inclusão de Libras, Ações Educativas, Surdo.

1. INTRODUÇÃO

O ensino de Libras e a inclusão escolar de estudantes surdos são temas que demandam uma
compreensão histórica, socioantropológica e reflexões teóricas e políticas. A formação dos
professores e a preparação para lidar com a diversidade são aspectos cruciais nesse processo. A
presença de tradutores e intérpretes de Libras nas salas de aula é um importante meio de estabelecer
a comunicação entre os alunos surdos e os demais, porém é essencial distinguir esse papel do de
facilitador da aprendizagem. A participação da comunidade escolar e o diálogo constante são
fundamentais para uma verdadeira inclusão, em que os surdos sejam protagonistas de sua própria
história. O uso adequado de recursos visuais e a criação de vínculos afetivos entre professores e
alunos são fatores determinantes para o sucesso da aprendizagem.

Nesse contexto, a Escola Estadual Maurício Murgel se destaca como a primeira instituição de
Ensino Médio inclusiva e referência pedagógica no processo de ensino-aprendizagem de estudantes
surdos. Como Paulo Freire afirmou, ensinar não é apenas transferir conhecimento, mas criar
condições para sua própria produção e construção.

1 Graduado em Comunicação Assistiva – Tradução e Interpretação em Libras – Pós Graduando em LIBRAS


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Curso de Especialização em Língua Brasileira de Sinais
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Assim sendo, o presente estudo se justifica uma vez que, reconhecendo a percepção do estudante de
letras frente a necessidade da formação em LIBRAS e o impacto dessa deficiência na abordagem do
aluno com deficiência auditiva, de modo que esperamos que os resultados possam subsidiar
reflexões acerca das estratégias para sensibilizar os alunos dos cursos direcionados a educação para
cada vez mais buscar recursos para atender a população deficiente auditiva no ambiente escolar e
nos demais ambientes sociais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A educação inclusiva é um modelo educacional que busca garantir a participação e aprendizado


de todos os estudantes, independentemente de suas características, habilidades ou necessidades.
Essa abordagem reconhece e valoriza a diversidade dos alunos, visando superar barreiras físicas,
sociais, emocionais e cognitivas que possam dificultar sua inclusão na escola e na sociedade.

O ensino de estudantes surdos tem enfrentado desafios ao longo do tempo devido à barreira na
comunicação e às limitações dos métodos de ensino convencionais. Essas dificuldades são
evidentes ao longo de sua trajetória escolar. Por isso, é fundamental buscar novas abordagens e
estratégias para promover o desenvolvimento e a aquisição de conhecimento desses alunos,
levando em consideração suas particularidades. É importante reconhecer a relevância da Língua
Brasileira de Sinais (Libras) como elemento linguístico essencial no ambiente escolar.

“A língua de sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo surdo”


(STROBEL, 2018). Entende-se então que trabalhar com aspectos da visualidade para os surdos
é uma possibilidade para ampliar a aprendizagem destes, porém, exige das instituições de ensino
um esforço que ultrapassa as metodologias didáticas planejadas pelo professor, é uma junção de
metodologias adequadas, acessibilidade linguística (presença de intérprete) e acessibilidade
curricular.
Essa centralidade da visualidade precisa, na educação de
surdos, perpassar pela elaboração do currículo, pelas
estratégias didáticas, pela organização das disciplinas, com
envolvimento de elementos da cultura artística, da cultura
visual, do desenvolvimento da criatividade plástica e visual
pertinentes as áreas visuais, além do aproveitamento dos
recursos de informática, fortemente visuais, favorecendo,
assim, uma valorização da concepção de mundo constituída
por meio da subjetividade e da objetividade com as
“experiências visuais” dos alunos (LACERTA et.al. 2018).
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É conhecido que os estudantes surdos enfrentam desafios na comunicação com professores e


colegas ouvintes. Portanto, é essencial introduzir a Língua Brasileira de Sinais nas escolas para
promover o desenvolvimento da linguagem entre os surdos e os ouvintes (SALLES, 2004).

A Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, juntamente com o Decreto nº 5.626, de 22 de


dezembro de 2005, reconheceu a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como uma língua e
estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de LIBRAS desde a educação infantil. Essa lei também
considera a língua portuguesa como a segunda língua (L2) para estudantes surdos.
Art. 3 A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos
cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível
médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino,
públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 2005).

O uso de Libras nos diversos espaços da sociedade e sua oficialização garantiu ao surdo o direito de
se expressar. Esta ideia pode parecer absurda, entretanto, o que acontecia é que esses sujeitos não
eram ouvidos nem percebidos na sociedade; sua língua era menosprezada e isso refletia no seu ser
enquanto sujeito, enquanto cidadão. (BARROS, 2019).

Compreender o ensino de Libras requer ter um entendimento histórico e socioantropológico para


uma análise válida da situação atual. Ao considerar as batalhas enfrentadas pela comunidade surda e
a importância da inclusão social, reconhecemos que o ensino de Libras e suas abordagens
educacionais necessitam de debates, discussões e confrontos teóricos e políticos em várias áreas de
formação (BRITO, 1993).

A abordagem da educação inclusiva ainda é recente para os professores, o que pode gerar angústia,
dúvidas e sentimentos de inadequação ao lidar com essas situações. Portanto, é crucial discutir a
formação dos professores, a fim de prepará-los e fornecer uma visão abrangente de como abordar a
educação diante da diversidade. Isso implica adquirir e transmitir um conhecimento crítico e
construtivo (BRIANT; OLIVER, 2012).

Atualmente, a maior dificuldade relacionada à inclusão escolar consiste em assegurar que os alunos
surdos tenham acesso e permaneçam nas salas de aula do ensino regular. Isso ocorre porque o
ambiente que acolherá esses alunos precisa estar adequadamente preparado para atender às suas
necessidades específicas, proporcionando atenção especial ao seu desenvolvimento global. Não é
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suficiente apenas considerar o aspecto físico; é necessário também analisar os aspectos sociais do
indivíduo (PIMENTA, 1995).

Conforme Paulo Freire, o professor deve compreender que ensinar não consiste em simplesmente
transferir conhecimento, mas sim em criar as condições para sua própria produção ou construção
(FREIRE, 1996, p. 52). Essa afirmação de Paulo Freire nos leva a refletir que, além de realizar
práticas pedagógicas com os alunos, é essencial considerar o papel do professor na
contemporaneidade, visto que é sua responsabilidade criar e viabilizar ações eficazes para a
aprendizagem dos alunos.
Segundo Barros (2019) Na inclusão de alunos surdos em classes comuns um mediador entre as línguas é
a figura do TILS – Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais, por sua vez o intérprete realiza o
importante trabalho de estabelecer uma ponte entre professor e alunos surdos e/ou entre alunos ouvintes
e alunos surdos; considerando o processo de comunicação entre a língua portuguesa (modalidade oral da
língua) e Libras (modalidade visual da língua). Esse profissional realiza a tradução de ambas as línguas
no espaço da sala de aula com o objetivo de dar condições de acessibilidade comunicacional para
estudantes surdos presentes.

É absolutamente necessário entender que o tradutor intérprete é apenas um mediador da


comunicação e não um facilitador da aprendizagem e que esses papéis são, absolutamente,
diferentes e precisam ser devidamente distinguidos e respeitados nas escolas de nível básico e
superior (DAMÁZIO, 2007).

Para garantir uma verdadeira inclusão, onde os surdos sejam protagonistas de sua história, se faz
necessário a participação de toda comunidade escolar. Conforme diz Oliveira.

Desse modo, uma escola com pressupostos inclusivos necessariamente deve


estar pautada em uma ação coletiva e se propor à reflexão permanente. Vivendo
no “princípio da incerteza” como tudo na sociedade contemporânea, necessita de
instrumentos que viabilizem este vir-a-ser contínuo. Entre esses instrumentos
que possibilitam a efetivação de uma proposta educacional inclusiva, levando em
consideração o que se argumentou até o momento, particularmente em relação à
formação continuada do educador nesse processo, apontamos o diálogo no
ambiente escolar como um recurso mais provável para a efetivação da formação
profissional permanente, construída coletivamente (OLIVEIRA, 2009, apud
Barros, p. 34).

Podemos por fim, entender que o desafio para o uso da Libras no ambiente escolar não se da pela
dificuldade do seu uso, mas uma formação adequada dos docentes para que faça seu uso.
(GROVE:WOLL,2017).
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É necessário que o professor esteja comprometido para que o processo de inclusão dos alunos
surdos seja eficaz. Isso requer uma postura centrada na vontade de mudança, permitindo que os
professores, juntamente com a escola, possam alterar o contexto da educação, com foco na inclusão
dos surdos (SALLES, 2004).

Trabalhar com os surdos utilizando recursos visuais adequados aos seus sentidos e capacidade de
interação com os outros, ampliando a sua percepção do mundo e as possibilidades, é um direito que
deve ser garantido. A escola, ao pensar em novas propostas de práticas pedagógicas, deve incluir
em seu currículo atividades que utilizem e valorizem esse fato (TARDELLI, 2008, p. 29).

Portanto, cabe ao professor analisar e selecionar adequadamente os recursos tecnológicos e


metodológicos que atendam melhor às necessidades educacionais de seus alunos. É importante
lembrar que os recursos tecnológicos e metodológicos por si só não são suficientes para garantir a
aprendizagem dos alunos (SALLES, 2004). É essencial que o professor estabeleça vínculos afetivos
com os alunos, conforme destacado por Piaget (1971), sendo fundamental uma relação de amizade
nesse processo de troca de atitudes e valores entre aluno e professor, buscando conhecer suas
histórias de vida, experiências, interesses e aspirações. Além disso, é importante que os próprios
professores se familiarizem com o uso desses recursos, o que pode facilitar significativamente esse
processo.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho teve foi idealizado a partir da fala dos professores regentes de aulas de uma escola
da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais na capital mineira, a primeira instituição em
inclusão de alunos surdos no Ensino Médio com a presença de Professores/Tradutores Intérpretes
de LIBRAS. A partir dos relatos buscamos embasamento teórico para a construção deste. Esta
pesquisa é classificada como pesquisa descritiva, onde buscou-se observar, analisar e estudar
fatos sem manipulá-los. A abordagem do tratamento da coleta de dados do levantamento foi
qualitativa, e a população pesquisada foram dois professores regentes de aulas, na presença de
um intérprete de Libras.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Figura 1.0 – Visão superior do prédio da Figura 1.1 – Professor Surdo ministrando aula em LIBRAS
Escola Estadual Maurício Murgel

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A inclusão escolar é considerada um processo dinâmico e progressivo, que pode assumir diferentes
formas de acordo com as necessidades dos alunos. É pressuposto que essa integração/inclusão
possibilite a construção de processos linguísticos adequados, a aprendizagem de conteúdos
acadêmicos e o uso social da leitura e da escrita. Nesse contexto, cabe ao professor mediar e
incentivar a construção do conhecimento por meio da interação com os alunos e com os colegas
(LACERDA, 2006, p. 167).

Um dos desafios enfrentados na formação dos educadores, ao estudar os fundamentos teóricos para
o trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, é a ampla variedade de realidades
socioculturais existentes em nosso país. Para atender a essa diversidade, os materiais direcionados à
formação têm se proposto a fornecer uma linguagem abrangente o suficiente para ser acessível a
todos. No entanto, em alguns casos, observa-se uma simplificação excessiva dos conteúdos
propostos, aliada a uma superficialidade que se afasta das situações problemáticas concretas de cada
realidade (PAULON, 2005, p. 24).

A instituição de ensino Escola Estadual Maurício Murgel é compromissada com a inclusão de


surdos e promove reuniões e capacitações sobre a inclusão de surdos e adaptações curriculares. Pelo
seu pioneirismo possui uma equipe pedagógica atenta e engajada no processo de ensino-
aprendizagem de seus estudantes surdos.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas inclusivas da Língua Brasileira de Sinais (Libras) tanto na teoria quanto na prática
desempenham um papel fundamental na promoção da inclusão e na garantia do acesso à educação
de qualidade para estudantes surdos. É essencial reconhecer e enaltecer a Escola Estadual Maurício
Murgel por ser pioneira ao se tornar a primeira instituição de Ensino Médio inclusiva, destacando-
se como referência pedagógica no processo de ensino-aprendizagem de estudantes surdos.

A Escola Estadual Maurício Murgel demonstra o comprometimento e a visão vanguardista ao


adotar práticas inclusivas que valorizam a Libras como uma língua legítima e proporcionam um
ambiente educacional acolhedor e acessível para os estudantes surdos. Ao reconhecer e respeitar a
diversidade linguística e cultural, essa instituição inspira outras escolas a seguirem o mesmo
caminho, fortalecendo a inclusão e a igualdade de oportunidades na educação.
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REFERÊNCIAS

BARROS, Maria Patrícia Lourenço. Desafios na formação docente para a inclusão de surdos no
IF Sertão – PE Campus Salgueiro. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia,
2018.

DAMÁZIO, Milene Ferreira Macedo. Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com


Surdez. Brasília: MEC, 2007.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:


Paz e Terra, 1996.

GROVE, N., & WOLL, B. Assessing language skills in adult key word signers with intellectual
disabilities: Insights from sign linguistics. Journal of Research in Developmental Disabilities,
2017, 62, 174-183

. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de


Sinais - Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 abr. 2002.

LACERDA, Cad. Cedes, Campinas, vol 26, n. 69, p. 163-184, maio/ago. 2006.

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa, Caderno Cedes, Campinas, vol. 26, n. 69, p. 163 184,
maio/ago.2006.

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; SANTOS, Lara Ferreira dos (orgs). Tenho uma aluno
surdo e agora? Introdução à Libras e educação de surdo. São Carlos: EdUFScar, 2018.
PEROVANO, Dalton Gean. Manual de metodologia da pesquisa científica. Curitiba: Ed.
Intersaberes, 2016.

PAULON, Simone Mainieri. Documento subsidiário da política de inclusão\\ Simone Mainieri


Paulon Lia Beatriz de Lucca. Freitas, Gerson Smiech Pinho – Brasília: Ministério da Educação,
Secetaria de Educação Especial, 2005. 48p

PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: Unidade entre teoria e prática.

SALLES, Heloisa Maria Moreira Lima. et al. Ensino de língua portuguesa para surdos:
caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESP, 2004. 2v: il. (Programa Nacional
de Apoio à Educação dos Surdos).

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. 4. Ed. 1 reimp. Florianópolis: Ed.
Da UFSC, 2018.

TARDELLI, R. A televisão, o surdo e a escola: relações possíveis. Ribeirão Preto: Centro


Universitário Moura Lacerda, 2008. In: PEDROSO, C.C.A. ROCHA, J. C. de M. Fundamentos
da Educação Inclusiva. Batatais: Ação Educacional Claretiana, 2014.

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