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LIBRAS

Daniel Neves Pinto


Literatura surda
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar literatura surda.


 Reconhecer as características da literatura surda.
 Diferenciar literatura surda da literatura tradicional.

Introdução
Comunicar e interagir são necessidades de todos e vão além da busca
por compreensão. Nesse sentido, a literatura surda ou a literatura por
meio dos recursos da língua de sinais facilita o processo de construção
cognitiva e a ampliação de vocabulário, fazendo com que o silêncio dos
surdos não seja manifestado por preconceitos culturais e exclusão social,
permitindo que seja reconhecida a existência de possibilidades, para essa
comunidade, de recursos de conhecimento semelhantes aos dos ouvintes.
Neste capítulo, portanto, você vai entender do que se trata a literatura
surda, reconhecendo as suas características e diferenciando-a da literatura
tradicional, voltada aos ouvintes.

O que é literatura surda?


A palavra literatura, em sentido amplo, aplica-se a todas as produções literárias
de um país ou de uma época, sendo, portanto, um dos ramos essenciais do
conhecimento humano. Literatura abrange os textos, orais ou escritos, sejam
eles poesia, história, textos de gramática, eloquência, textos filosóficos ou
teológicos, textos das ciências, dramas, etc. Entretanto, a literatura não pode
ser reduzida à sua etimologia — litterae, litteratura —, que se refere à “coisa
escrita”, ainda mais quando nos referimos à literatura surda.
Distinguir os meios ou os recursos de literatura surda envolve um mundo
totalmente diverso do habitual e preestabelecido em uma nação ouvintista que
não conhece as culturas e as especificidades da comunidade surda.
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Enquanto define-se surdo por sua perda auditiva, dividimos o mundo


em duas categorias que dependem do modo de comunicação: aqueles que
se comunicam usando a verbalização e aqueles que se comunicam usando
a língua de sinais. Diante desse ponto de vista, temos, portanto, uma dife-
rença cultural, e não uma deficiência no sistema sensorial. De fato, algumas
pessoas com surdez têm ou necessitam de uma reeducação oral, caso não
tenham aprendido ou desenvolvido a comunicação por meio da Libras e
tenham vivido, quase que exclusivamente, em meio a pessoas ouvintes. Ao
contrário, um ouvinte com pais surdos pode ter aprendido a língua de sinais
como língua materna e ter vivido principalmente em um ambiente social
de cultura surda. É a partir desses fatos que podemos identificar e definir
a literatura surda.
A literatura da qual estamos falando deveria constituir um meio de acesso
não só à cultura surda, mas à cultura dos países e comunidades de modo geral.
Para crianças surdas, muitas vezes, é mais difícil adquirir referências culturais
comuns; por isso, elas devem ser movidas pelo desejo e pela curiosidade que
a própria literatura traz, como o de transmitir e receber informações e conhe-
cimentos a fim de aprender outras culturas, outras ideias, distinguindo uma
literatura realista de uma fantasiada e desfrutando do prazer que desenvolve
a expressão de sentimentos e emoções.

A expressão cultura surda refere-se a um conjunto de regras sociais, representações,


práticas, conhecimentos, atitudes e valores do grupo social composto pelas pessoas
surdas e suas famílias, que se comunicam com a língua de sinais e compartilham um
mesmo sistema de referência, os mesmos lugares associativos e os mesmos hábitos.

As principais características dessa literatura são o enriquecimento de


vocabulário, a aquisição de conceitos e a decifração do acesso aos significados.
Ser surdo é pertencer a uma cultura na qual os sinais, sejam escritos ou
sinalizados, têm uma importância primordial na literatura voltada a ela.

Quando a literatura retrata a questão dos surdos e da surdez, muitas das


vezes, é concebida pelo viés patológico, e não no sentido socioantropológico
que estabelece uma temática da diferença e não da falta dela (SANTOS;
LIMA, 2016, p. 3).
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As pessoas com surdez não deveriam limitar-se às literaturas ouvintistas, o que


poderia torná-las socialmente incapacitadas ao acesso à cultura. A literatura surda
no Brasil ainda se encontra em criação e caminha a passos lentos, o que a torna
uma definição em construção. Apesar disso, é importante destacar que a literatura
surda não se dá apenas por meio do silêncio, mas por uma literatura não auditiva.
A literatura é uma parte importante e valiosa de qualquer cultura e, para
os surdos, não é diferente. Essa parte da cultura ajuda a explicar a identidade,
as crenças e os modos de vida das pessoas com surdez, sendo apreciada e
compartilhada não somente por essa comunidade.
Não é possível articular os conceitos da literatura surda sem ao menos
passar por suas exterioridades culturais e pela própria prática da linguagem
não verbal, ou seja, sem o conhecimento mínimo da língua de sinais.

Em relação ao conceito de literatura surda, vale apenas trazer a importância


de que esta literatura se constitui na perspectiva de quem vive na comunidade
surda e é usuário da língua de sinais como sua L1 (SANTOS; LIMA, 2016, p. 3).

Cada comunidade de surdos se caracteriza por uma difusa biografia em


meio a batalhas e conquistas. Por isso, também é importante o conhecimento
histórico dos surdos para realizar uma análise mais profunda sobre o assunto. A
ancestral história dos surdos até a contemporaneidade é fascinante e, ao mesmo
tempo, desumana e cruel, pois, unifica estudos sobre deficiências e a afirmação
da diferença física, caracterizando os surdos como pessoas impossibilitadas.
Essa história e essa cultura não podem ser confundidas simplesmente com
o que realmente é a literatura surda. Não se pretende, com isto, ignorar que
esses fatos fazem parte desta literatura, mas sim deixar claro que a história e
a cultura apresentadas em escrita de língua de sinais ou pela própria Libras
não são o único repertório da literatura surda — precisa-se muito mais do que
isso. É necessário que poemas, poesias, textos, ciência, etc. também estejam
presentes na literatura de forma viável, em meios utilizados pelos surdos.

As características da literatura surda


A língua brasileira de sinais (Libras) não é uma linguagem escrita, cuja co-
municação altera a legitimidade de uma interação cordial quando aplicamos
uma entonação, mas leva a uma literatura com ocorrência incomum, afinal,
não conta com uma forma escrita alfabética que possa produzir uma literatura
manuscrita ou oral.
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Suas narrativas são preservadas e sobrevindas de geração a geração pelo ato


de arrolar histórias, piadas, trocadilhos, humor, canção, poesia, contos, entre
outros por meio das mãos, do corpo e da face, em vez de oralizadas ou escritas —
como acontece na literatura portuguesa —, refletindo sua experiência, tradição
e seus valores. A língua, a história e a cultura surda estão entrelaçadas e não
existem uma sem a outra para que sua literatura seja desenvolvida.
A maioria dos países têm a literatura surda como uma língua natural de
comunicação e educação das pessoas com surdez. No entanto, nem sempre foi
assim, e, para isso, é necessário entender melhor a história e a cultura da língua
de sinais para compreender como foi originalmente constituída uma literatura.
A literatura do silêncio é a literatura visual, é um corpo de materiais
literários que podem ser desde criativos até trabalhos técnicos ou científicos.
Para Karnopp (2008, p. 14-15):

[...] a literatura surda está relacionada com a cultura, contada na língua de


sinais de determinada comunidade linguística, constituída pelas histórias
produzidas em língua de sinais pelas pessoas surdas, pelas histórias de vida
que são frequentemente relatadas.

Com toda essa base, a literatura surda, por meio da língua de sinais, auxilia
na compreensão, no aprimoramento e na construção de vocabulário nos mais
variados contextos, que viabilizam uma ampliação de conhecimento da própria
língua de sinais, propondo embasamento para auxiliar nos encaixes dos dife-
rentes contextos e parâmetros e lembrando, sempre, das devidas expressões.
A partir dos elementos supracitados, as características próprias de cada
estrutura literária voltada às pessoas com surdez nos presenteiam com inú-
meras possibilidades de recriação, permitindo, assim, que aprofundemos a
compreensão da língua de sinais, investigando e expandindo o conhecimento
por meio das literaturas surdas.
Porém, os surdos, de certa forma, constituem um grupo acanhado de cultura
linguística e precisam adaptar-se, em sua maioria, à literatura ouvintista.
A literatura voltada aos surdos necessita de muito mais do que a simples
oralização ou das palavras descritas no papel; ela carece de movimentos em
classificadores, construção espacial, marcadores manuais e expressões faciais
e corporais para que a significância se torne ainda mais viva e verdadeira. Sem
esses elementos, não se produz uma literatura surda de qualidade e compreen-
sível a esses usuários.
Quando falamos em literatura surda ou por meio da língua de sinais, também
entramos no campo da tradução, já que não trata apenas de obras nacionais: elas
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também podem ser traduzidas ou adaptadas, mas não necessariamente são literatura
surda. O clássico filme “Mr. Holland – Adorável Professor” de 1995) é um bom
exemplo, afinal, trata-se de um filme em que há um personagem surdo, mas isso
não significa que o filme tenha sido feito especificamente para essa comunidade.
Os surdos formam um grupo de fator particular, que necessita de uma
combinação entre língua de sinais e cultura própria para atribuir aquilo que
é visto, e não aquilo que é escrito. Sabe-se que não é impossível unir ambas
as coisas, mas a construção literal descrita pelos próprios surdos é particular
e para um público restrito nos interesses editoriais.
No Brasil, por exemplo, o conto “Cinderela Surda”, escrito por Lodenir Becker
Karnopp, Caroline Hessel e Fabiano Rosa, foi a primeira obra escrita em língua de
sinais (no sistema SignWriting) voltada exclusivamente ao público surdo e, nesse
fruto, estão inseridos elementos da identidade e cultura própria dessa comunidade.
É difícil conhecer um escritor surdo que escreva voltado exclusivamente
ao público de sua cultura. Alguns dos mais conhecidos no Brasil são, sem
dúvida, além dos já citados acima, os instrutores do Instituto Nacional de
Educação de Surdos (INES). Internacionalmente, a mais conhecida é Marlee
Matlin, surda, atriz vencedora do Oscar de 1987 e que publicou três livros.
Certamente, esses escritores estão classificados na categoria de “literatura
surda”, um subgênero literário, já que o tema de que tratam não é apenas
surdez, mas algo maior.
Independentemente do autor surdo, é comum que a maioria escreva curiosi-
dades e experiências do mundo do silêncio, não porque sua cognição descritiva
seja restrita, mas pela necessidade de expor sua cultura, de lutar em favor dos
seus direitos e de fazer com que suas mãos sejam ouvidas.
Todas as obras literárias oralizadas e utilizadas por uma comunidade de
forma verbalizada ou escrita são originadas e destinadas às pessoas ouvintes,
o que exclui o aproveitamento da literatura surda, afinal, essas obras não são
propostas para a comunidade que vive no silêncio.
Como nenhum método amplamente aceito foi desenvolvido para o registro
da língua de sinais por escrito, ele prossegue como uma linguagem puramente
“visual-espacial”. Após a chegada da tecnologia e do mundo cibernético, as
línguas de sinais puderam ser gravadas, preservadas e distribuídas, porém,
em pequenas e amadoras demandas.
Hoje, no mundo virtual, por meios dos sites de acesso a vídeos, é possível
encontrar inúmeros trabalhos que podemos classificar como literatura surda.
Mas quais trabalhos seriam esses?
É possível encontrar documentários, histórias, músicas, principalmente,
poemas e outras obras em línguas de sinais para todo tipo de gosto, idade e
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sexo. Mas você por acaso já ouviu falar em algum filme de longa-metragem
com tradução em Libras? Muitos dizem: “mas os filmes têm o closed caption”!
Sim, mas, embora o tenham, isso não configura um filme como dirigido à
comunidade surda especificamente, já que a legenda não transpõe o mínimo
realismo sonoro aos surdos.
A Universidade Gallaudet, nos Estados Unidos, desenvolve, todos os anos,
produções extraordinárias, belíssimas e destinadas exclusivamente à população
que tem tem a língua de sinais como sua L1 — nesse caso, sim, obras literárias
surdas. No Brasil, o INES, fundado e situado no Rio de janeiro, propõe ideias
com essa mesma conveniência.

A Universidade Gallaudet, fundada em 1864, nos Estados Unidos, é a única universi-


dade do mundo especializada e desenvolvida para atender pessoas surdas desde o
seu nascimento até a entrada na universidade, sendo uma verdadeira referência em
educação de surdos.

A chegada e a prevalência da tecnologia de vídeo digital permitiram que


mais pessoas e instituições gravassem suas próprias produções em língua
de sinais, com mais facilidade e com compartilhamentos jamais previstos.
Plataformas como YouTube, Facebook, Instagram, WhatsApp contribuíram
para uma maior exposição das criações literárias originais.
Como a Libras não é universal e cada país possui sua própria língua de
sinais, as influências históricas, culturais locais e regionais ultrapassam fron-
teiras por esses meios virtuais e precisaram desenvolver a sua própria literatura
— para o que se levou um bom tempo.
Atualmente, existem, em média, 130 línguas de sinais, como a Língua
Gestual Portuguesa (LGP), a Língua de Sinais Catalã (LSC), a Língua Ame-
ricana de Sinais (ASL), a Língua de Sinais Sul-africana (SASL), a Língua de
Sinais Japonesa (JSL) e a Língua de Sinais Francês (LSF), da qual se originou
a Língua de Sinais Brasileira (Libras), entre outras.
Com a evolução das línguas de sinais, criou-se um sistema de escrita de
sinais voltado às pessoas com surdez, o chamado SignWriting, que potencializa
a literatura surda, afinal, permite que os textos sejam transmitidos manual-
mente. Porém, no Brasil, esse sistema ainda está em fase de desenvolvimento
e há poucos profissionais que estudam a sua aplicação na literatura.
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Uma grande confusão acontece quando se ouve falar em “escrita de sinais”. Muitos
entendem que essa escrita é o alfabeto manual desenhado no papel ou descrições dos
próprios sinais de como ficaria a mão ao realizar uma palavra, mas não é assim que funciona.
O SignWriting é um sistema de escrita de sinais que expressa os cinco parâmetros da
língua de sinais por meio das configurações de mãos, pontos de articulação, orientação,
movimento e expressões faciocorporais. A partir desse sistema, pode-se escrever
qualquer palavra em qualquer língua de sinais do mundo.
No Brasil, a escrita de sinais ainda está em fase de desenvolvimento, mas veja algumas
palavras, o alfabeto e os números escritos em SignWriting.

Alfabeto em SignWriting:

Números em SignWriting:

Palavras em SignWriting:

A literatura surda, geralmente, apresenta usos criativos de sinais, expressões


faciais e corporais, classificadores, empréstimos semânticos, entre outros
elementos para facilitar o entendimento e propor uma comunicação eficaz. Um
tipo mais comum de literatura surda no Brasil são as historinhas infantis por
meio de narrativas desenvolvidas por diversas pessoas e instituições voltadas
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à educação. Esse tipo de trabalho é caracterizado pelo uso de uma série de


classificadores que asseguram a realidade idealizada pelas mãos.

Diferenças entre literatura surda


e literatura tradicional
Temos o costume de comparar a língua de sinais com a língua portuguesa,
e isso é um grande erro. Da mesma forma, a literatura surda ou a literatura
por meio da língua de sinais não se convenciona com a língua portuguesa,
mesmo que os próprios surdos precisem adaptar-se à literatura dos ouvintes
por carência de materiais literários específicos.
As línguas de sinais, por sua vez, tampouco têm a mesma estrutura linguística
que as línguas orais. Podemos diferenciar inicialmente que uma se fala “com
as mãos” e a outra “com a boca”, e essa diferença se faz no modo de apresentar
uma literatura. Outro erro comum ao ver uma pessoa sinalizando é pensar que
para cada palavra feita em uma frase em português será destinada um sinal.
A seguir, vamos entender a diferença entre a literatura tradicional e a
literatura surda.

Literatura tradicional
Historicamente, o que é chamado de literatura tradicional é a literatura oral
que se desenvolve antes de qualquer literatura escrita. Podem ser considerados
precisamente como textos pertencentes aos gêneros orais tradicionais contos,
poesias, poemas, provérbios, textos, canções, rimas, entre outros.
Assim, a literatura oral torna-se escrita ou pelo menos é transcrita, o que
pode parecer contraditório. Na verdade, os textos em folha de papel de um
livro perdem algumas de suas características naturais ou improvisadas.
A literatura fornece várias definições da tradição oral de acordo com as
mais variáveis opiniões e a origem do autor (história, sociologia, linguística,
antropologia, filosofia, etc.). No geral, essas definições destacam a transmissão
oral da memória coletiva e específica das sociedades tradicionais em oposição
à transmissão escrita e específica para o mundo moderno.
Dentre as transmissões orais voltadas a literatura, encontramos:

 a tradição oral, transmitida verbalmente por um povo sobre o seu pas-


sado, em histórias passadas de geração em geração;
 a literatura oral, a partir de histórias transmitidas anonimamente.
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Diante do descrito, isso significa que qualquer sociedade tradicional é oral e


que qualquer sociedade moderna é escrita? Não, a oralidade e a escrita não são
sistematicamente opostas, as duas formas coexistem em todas as sociedades.
A oralidade não é uma literatura secundária, mas é importante distinguir a
literatura “verbalizada” da “oralizada”. Do mesmo jeito, a oralidade não é
uma cultura padrão. Não é por falta de escrita que existe a literatura oral,
mas porque essa corresponde às mais diversas necessidades e a preferências
de busca por conhecimento.
Vamos entender melhor quais seriam as literaturas tradicionais? Para
isso, é importante que você entenda suas classificações. As literaturas
tradicionais são classificadas por gênero, subgêneros, mídias, técnicas,
entre outros.
Em relação aos gêneros e subgêneros, encontramos, por exemplo:

 Épico-narrativo, na forma de contos, novelas, romances, fábulas,


crônicas, etc.
 Fábulas, como “Chapeuzinho vermelho”.
 Lírico, em cantigas, versos, prosas e poesias.
 Dramático, em peças de teatro e filmes dos mais variados subtipos
(comédia, pantomima, marionete, terror, etc.).

Muitos confundem expressões corporais e faciais, sinais, gestos e pantomima,


entendendo que tudo isso faz parte da língua de sinais. No entanto, a pantomima
é um teatro gestual que utiliza o mínimo possível de palavras oralizadas e faz um
maior uso de gestos, que não têm como base os sinais das línguas de sinais, como
a Libras.
Esse artifício de narrar com o corpo em modalidade cênica é excelente para come-
diantes, cômicos, atores, etc. É uma representação praticamente universal, entendida
facilmente por todos. Temos ótimos exemplos de “pantomima” representados por
dois atores britânicos: Charlie Chaplin e Mr. Bean.
A pantomima não está ligada às língua de sinais, costuma ser exagerada e chama
muito a atenção de quem vê, mas pode ser um bom suporte para ajudar o ouvinte
e até mesmo o surdo a se desprender da timidez e começar a fazer expressões de
forma mais natural, uma vez que as expressões faciais e corporais são recursos mais
difíceis na comunicação da língua de sinais.
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Em relação às mídias da literatura tradicional, temos livros (escrita), rotei-


ros, meio oral, digital, etc. As mídias digitais também estão cada vez mais na
vida das pessoas com surdez e, por meio delas, não apenas se interage, mas
se pode procurar o que há de melhor na literatura.
Na literatura tradicional brasileira, destacam-se vários grandes nomes,
como, por exemplo:

 Aluísio de Azevedo (“O Cortiço”);


 Carlos Drummond de Andrade (“Contos de aprendiz”);
 Castro Alves (“O navio negreiro”);
 Cecília Meireles (“O menino azul”);
 José de Alencar (“O Guarani”);
 Machado de Assis (“Dom Casmurro”);
 Mario de Andrade (“Macunaíma”);
 Mario Quintana (“Eu passarinho”);
 Monteiro Lobato (“Sítio do Pica-pau Amarelo”).

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Atualmente, ainda não contamos com variados livros próprios à literatura
surda no Brasil, mas podemos encontrar versões adaptadas ou transcritas
por meio digital (em vídeo) pelos mais variantes meios eletrônicos, como
o YouTube e em blogs, nos quais é possível buscar, como em qualquer lite-
ratura, materiais de ótima qualidade, mas, infelizmente, também materiais
que degradam a imagem cultural surda ou que não oferecem o mínimo de
culturalidade pessoal.
Apesar da escassez de obras escritas em língua de sinais disponíveis no
Brasil para as pessoas com cultura e necessidade de uma literatura surda,
podemos mencionar os seguintes autores e obras:

 Carolina Hessel, Fabiana Rosa e Lodenir Karnopp: autores que se


dedicam exclusivamente à escrita ou à transcrição literal por meio da
escrita da língua de sinais e escreveram os primeiros livros de literatura
infantil em SignWriting no Brasil, “Rapunzel Surda” e “Cinderela
Surda” (Figura 1).
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Figura 1. Exemplos de literatura infantil surda.


Fonte: Adaptada de Escrita de sinais (2010).

 Sérgio Ribeiro: autor de “Textos em Libras” (Figura 2), em que reúne


alguns textos de sua autoria na categoria didáticos, infantil, infanto-
-juvenil e juvenil escritos em SignWriting.

Figura 2. “Textos em Libras”, de Sérgio Ribeiro.


Fonte: Adaptada de Ribeiro (2016).
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No YouTube, os surdos são “ouvidos” e têm a oportunidade de ouvir por meio das
mãos. Por outro lado, para eles, o vídeo é uma forma de expressão em um mundo sem
ruído, afinal, eles utilizam a tecnologia de reconhecimento de voz para criar legendas
automaticamente e, mesmo assim, muitas vezes, é inútil, porque gostariam de ler em
uma literatura surda.
Acesse o link a seguir e assista a um vídeo sobre literatura surda no YouTube.

https://goo.gl/rRGHjf

ESCRITA DE SINAIS. Cinderela Surda e Rapunzel Surda. 30 ago. 2010. Disponível em:
<https://escritadesinais.wordpress.com/2010/08/30/cinderela%C2%A0surda-e-rapun-
zel-surda/>. Acesso em: 12 jan. 2019.
KARNOPP, L. B. Literatura Surda. Florianópolis: UFSC, 2008. Disponível em: <http://www.
libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/assets/369/
Literatura_Surda_Texto-Base.pdf >. Acesso em: 12 jan. 2019.
RIBEIRO, S. S. Textos em Libras. 2016. Disponível em: <https://www.clubedeautores.com.
br/book/206557--Textos_em_Libras?topic=financascorporativas#.XDnmcDBKjDd>.
Acesso Em: 12 jan. 2019.
SANTOS, A. B.; LIMA, S. A. A. Literatura Surda: algumas considerações. In: ENCONTRO
INTERNACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES, 10., 2016, Aracaju. Anais... Aracaju:
UNIT, 2016. Disponível em: <https://eventos.set.edu.br/index.php/enfope/article/
viewFile/5309/1793>. Acesso em: 12 jan. 2019.

Leituras recomendadas
KARNOPP, L. B.; HESSEL, C.; ROSA, F. Cinderela Surda. Canoas: Ed. Ulbra, 2003.
KARNOPP, L. B.; HESSEL, C.; ROSA, F. Rapunzel surda. Canoas: Ed. Ulbra, 2005.
PINTO, D. N. Língua Brasileira de Sinais. Aracaju: UNIT, 2012.
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