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Introdução
Comunicar e interagir são necessidades de todos e vão além da busca
por compreensão. Nesse sentido, a literatura surda ou a literatura por
meio dos recursos da língua de sinais facilita o processo de construção
cognitiva e a ampliação de vocabulário, fazendo com que o silêncio dos
surdos não seja manifestado por preconceitos culturais e exclusão social,
permitindo que seja reconhecida a existência de possibilidades, para essa
comunidade, de recursos de conhecimento semelhantes aos dos ouvintes.
Neste capítulo, portanto, você vai entender do que se trata a literatura
surda, reconhecendo as suas características e diferenciando-a da literatura
tradicional, voltada aos ouvintes.
Com toda essa base, a literatura surda, por meio da língua de sinais, auxilia
na compreensão, no aprimoramento e na construção de vocabulário nos mais
variados contextos, que viabilizam uma ampliação de conhecimento da própria
língua de sinais, propondo embasamento para auxiliar nos encaixes dos dife-
rentes contextos e parâmetros e lembrando, sempre, das devidas expressões.
A partir dos elementos supracitados, as características próprias de cada
estrutura literária voltada às pessoas com surdez nos presenteiam com inú-
meras possibilidades de recriação, permitindo, assim, que aprofundemos a
compreensão da língua de sinais, investigando e expandindo o conhecimento
por meio das literaturas surdas.
Porém, os surdos, de certa forma, constituem um grupo acanhado de cultura
linguística e precisam adaptar-se, em sua maioria, à literatura ouvintista.
A literatura voltada aos surdos necessita de muito mais do que a simples
oralização ou das palavras descritas no papel; ela carece de movimentos em
classificadores, construção espacial, marcadores manuais e expressões faciais
e corporais para que a significância se torne ainda mais viva e verdadeira. Sem
esses elementos, não se produz uma literatura surda de qualidade e compreen-
sível a esses usuários.
Quando falamos em literatura surda ou por meio da língua de sinais, também
entramos no campo da tradução, já que não trata apenas de obras nacionais: elas
Literatura surda 5
também podem ser traduzidas ou adaptadas, mas não necessariamente são literatura
surda. O clássico filme “Mr. Holland – Adorável Professor” de 1995) é um bom
exemplo, afinal, trata-se de um filme em que há um personagem surdo, mas isso
não significa que o filme tenha sido feito especificamente para essa comunidade.
Os surdos formam um grupo de fator particular, que necessita de uma
combinação entre língua de sinais e cultura própria para atribuir aquilo que
é visto, e não aquilo que é escrito. Sabe-se que não é impossível unir ambas
as coisas, mas a construção literal descrita pelos próprios surdos é particular
e para um público restrito nos interesses editoriais.
No Brasil, por exemplo, o conto “Cinderela Surda”, escrito por Lodenir Becker
Karnopp, Caroline Hessel e Fabiano Rosa, foi a primeira obra escrita em língua de
sinais (no sistema SignWriting) voltada exclusivamente ao público surdo e, nesse
fruto, estão inseridos elementos da identidade e cultura própria dessa comunidade.
É difícil conhecer um escritor surdo que escreva voltado exclusivamente
ao público de sua cultura. Alguns dos mais conhecidos no Brasil são, sem
dúvida, além dos já citados acima, os instrutores do Instituto Nacional de
Educação de Surdos (INES). Internacionalmente, a mais conhecida é Marlee
Matlin, surda, atriz vencedora do Oscar de 1987 e que publicou três livros.
Certamente, esses escritores estão classificados na categoria de “literatura
surda”, um subgênero literário, já que o tema de que tratam não é apenas
surdez, mas algo maior.
Independentemente do autor surdo, é comum que a maioria escreva curiosi-
dades e experiências do mundo do silêncio, não porque sua cognição descritiva
seja restrita, mas pela necessidade de expor sua cultura, de lutar em favor dos
seus direitos e de fazer com que suas mãos sejam ouvidas.
Todas as obras literárias oralizadas e utilizadas por uma comunidade de
forma verbalizada ou escrita são originadas e destinadas às pessoas ouvintes,
o que exclui o aproveitamento da literatura surda, afinal, essas obras não são
propostas para a comunidade que vive no silêncio.
Como nenhum método amplamente aceito foi desenvolvido para o registro
da língua de sinais por escrito, ele prossegue como uma linguagem puramente
“visual-espacial”. Após a chegada da tecnologia e do mundo cibernético, as
línguas de sinais puderam ser gravadas, preservadas e distribuídas, porém,
em pequenas e amadoras demandas.
Hoje, no mundo virtual, por meios dos sites de acesso a vídeos, é possível
encontrar inúmeros trabalhos que podemos classificar como literatura surda.
Mas quais trabalhos seriam esses?
É possível encontrar documentários, histórias, músicas, principalmente,
poemas e outras obras em línguas de sinais para todo tipo de gosto, idade e
6 Literatura surda
sexo. Mas você por acaso já ouviu falar em algum filme de longa-metragem
com tradução em Libras? Muitos dizem: “mas os filmes têm o closed caption”!
Sim, mas, embora o tenham, isso não configura um filme como dirigido à
comunidade surda especificamente, já que a legenda não transpõe o mínimo
realismo sonoro aos surdos.
A Universidade Gallaudet, nos Estados Unidos, desenvolve, todos os anos,
produções extraordinárias, belíssimas e destinadas exclusivamente à população
que tem tem a língua de sinais como sua L1 — nesse caso, sim, obras literárias
surdas. No Brasil, o INES, fundado e situado no Rio de janeiro, propõe ideias
com essa mesma conveniência.
Uma grande confusão acontece quando se ouve falar em “escrita de sinais”. Muitos
entendem que essa escrita é o alfabeto manual desenhado no papel ou descrições dos
próprios sinais de como ficaria a mão ao realizar uma palavra, mas não é assim que funciona.
O SignWriting é um sistema de escrita de sinais que expressa os cinco parâmetros da
língua de sinais por meio das configurações de mãos, pontos de articulação, orientação,
movimento e expressões faciocorporais. A partir desse sistema, pode-se escrever
qualquer palavra em qualquer língua de sinais do mundo.
No Brasil, a escrita de sinais ainda está em fase de desenvolvimento, mas veja algumas
palavras, o alfabeto e os números escritos em SignWriting.
Alfabeto em SignWriting:
Números em SignWriting:
Palavras em SignWriting:
Literatura tradicional
Historicamente, o que é chamado de literatura tradicional é a literatura oral
que se desenvolve antes de qualquer literatura escrita. Podem ser considerados
precisamente como textos pertencentes aos gêneros orais tradicionais contos,
poesias, poemas, provérbios, textos, canções, rimas, entre outros.
Assim, a literatura oral torna-se escrita ou pelo menos é transcrita, o que
pode parecer contraditório. Na verdade, os textos em folha de papel de um
livro perdem algumas de suas características naturais ou improvisadas.
A literatura fornece várias definições da tradição oral de acordo com as
mais variáveis opiniões e a origem do autor (história, sociologia, linguística,
antropologia, filosofia, etc.). No geral, essas definições destacam a transmissão
oral da memória coletiva e específica das sociedades tradicionais em oposição
à transmissão escrita e específica para o mundo moderno.
Dentre as transmissões orais voltadas a literatura, encontramos:
Literatura surda
Atualmente, ainda não contamos com variados livros próprios à literatura
surda no Brasil, mas podemos encontrar versões adaptadas ou transcritas
por meio digital (em vídeo) pelos mais variantes meios eletrônicos, como
o YouTube e em blogs, nos quais é possível buscar, como em qualquer lite-
ratura, materiais de ótima qualidade, mas, infelizmente, também materiais
que degradam a imagem cultural surda ou que não oferecem o mínimo de
culturalidade pessoal.
Apesar da escassez de obras escritas em língua de sinais disponíveis no
Brasil para as pessoas com cultura e necessidade de uma literatura surda,
podemos mencionar os seguintes autores e obras:
No YouTube, os surdos são “ouvidos” e têm a oportunidade de ouvir por meio das
mãos. Por outro lado, para eles, o vídeo é uma forma de expressão em um mundo sem
ruído, afinal, eles utilizam a tecnologia de reconhecimento de voz para criar legendas
automaticamente e, mesmo assim, muitas vezes, é inútil, porque gostariam de ler em
uma literatura surda.
Acesse o link a seguir e assista a um vídeo sobre literatura surda no YouTube.
https://goo.gl/rRGHjf
ESCRITA DE SINAIS. Cinderela Surda e Rapunzel Surda. 30 ago. 2010. Disponível em:
<https://escritadesinais.wordpress.com/2010/08/30/cinderela%C2%A0surda-e-rapun-
zel-surda/>. Acesso em: 12 jan. 2019.
KARNOPP, L. B. Literatura Surda. Florianópolis: UFSC, 2008. Disponível em: <http://www.
libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/assets/369/
Literatura_Surda_Texto-Base.pdf >. Acesso em: 12 jan. 2019.
RIBEIRO, S. S. Textos em Libras. 2016. Disponível em: <https://www.clubedeautores.com.
br/book/206557--Textos_em_Libras?topic=financascorporativas#.XDnmcDBKjDd>.
Acesso Em: 12 jan. 2019.
SANTOS, A. B.; LIMA, S. A. A. Literatura Surda: algumas considerações. In: ENCONTRO
INTERNACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES, 10., 2016, Aracaju. Anais... Aracaju:
UNIT, 2016. Disponível em: <https://eventos.set.edu.br/index.php/enfope/article/
viewFile/5309/1793>. Acesso em: 12 jan. 2019.
Leituras recomendadas
KARNOPP, L. B.; HESSEL, C.; ROSA, F. Cinderela Surda. Canoas: Ed. Ulbra, 2003.
KARNOPP, L. B.; HESSEL, C.; ROSA, F. Rapunzel surda. Canoas: Ed. Ulbra, 2005.
PINTO, D. N. Língua Brasileira de Sinais. Aracaju: UNIT, 2012.
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