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Fichamento “PENSAMENTO MÍTICO”

Se quisermos dar conta das características específicas do pensamento mítico,


devemos, portanto, estabelecer que o mito está ao mesmo tempo na linguagem e
além dela. Essa nova dificuldade tampouco é desconhecida pelos linguistas, já que
a própria linguagem engloba níveis diferentes.

Claude Levi-Strauss _ Antroplogia Estrutural

Mas o principal perigo está em tomarmos os mitos literalmente, mesmo que nosso
objetivo seja encarar as síndromes miticamente. Pois se nos lançamos na reversão
como um simples ato de encaixe, colocando o intelecto prático do terapeuta a
equacionar mitemas com síndromes, reduzimos arquétipos a alegorias de doenças;
meramente cunhamos uma nova linguagem de signos, um noVO nominalismo. Os
deuses tornam-se apenas uma nova (ou velha) grade de termos classificatórios. Ao
invés de imaginar a psicopatologia como uma encenação mítica, teremos perdido,
horribile dictu, o sentido do mito por usá-lo para rotular síndromes. Esta é a
perspectiva diagnóstica, ao contrário da mítica, e estamos em busca não de uma
nova forma de classificar a psicopatologia, mas por uma nova forma de a
experimentarmos. Aqui os próprios gregos clássicos e homéricos dão uma dica:
seus diagnósticos médicos não eram feitos em termos literais de mitos e deuses,
ainda que seu pensamento e seu sentimento sobre a aflição e a loucura estivessem
permeados de mitos e deuses6o • Portanto, precisamos ter cuidado, lembrando-nos
que o pensamento mítico não é um pensamento prático, direto. As metáforas míticas
não são etiologias, explicações causais, ou crachás. Elas são perspectivas sobre os
eventos que deslocam a experiência dos eventos; mas não são, em si mesmas,
eventos. Elas são semelhanças de acontecimentos, tornando-os inteligíveis; mas
elas mesmas não acontecem. Elas relatam a 60. Muito já foi escrito sobre o
pensamento dos antigos gregos a respeito de psicopatologia; p. ex., DODDS, E.R.
The Greeks and the lrrational. Boston: Beacon, 1957 (Os gregos e o irracional. São
Paulo: Escuta, 2002) .• ROSEN, G. j\fadness in Society. Londres: Routledge, 1968,
p. 71-136 .• SIMON, B. & WEINER, H. "Models of Mind and Mental Illness in Ancient
Greece". J. Hist. Behav., 2, 1966, p. 303-314. 214 Coleção Reflexões
JUDs;;1"uianas história arquetípica na história de caso, o mito na confusão. A
reversão também fornece um novo acesso aos mitos: se estão diretamente
conectados aos nossos complexos, podem ser percebidos através de nossas
aflições. Não são mais histórias num livro ilustrado. Nós somos aquelas histórias, e
nós as ilustramos com nossas vidas.

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