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“ANNA O.

” E “LORELEY”: ANÁLISE DE LITERATURA E SOCIEDADE


Rafaelli Barros Avila1, Diego Cauê de Almeida2
1 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Letras, Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil;
2 – Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), Programa de Pós-
Graduação em Educação Profissional em Saúde, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil;

RESUMO
O trabalho apresenta aspectos da psicanálise e da psicologia analítica em Loreley, personagem de
Clarice Lispector e em Anna O., pseudônimo para a ativista Bertha Pappeheim, famoso caso clínico
narrado por Josef Breuer em Casos Clínicos I. A abordagem apresenta os conceitos teóricos
psicanalíticos articulados à exemplificação em narrativa dos fenômenos descritos nos textos,
enquanto busca refletir a sociedade onde ocorrem.

Palavras-chave: Gênero; Literatura; Psicanálise

ABSTRACT
The work presents aspects of psychoanalysis and analytical psychology in Loreley, a character by
Clarice Lispector, and in Anna O., pseudonym for activist Bertha, a famous clinical case narrated
by Josef Breuer in Clinical Cases I. The approach presents the psychoanalytic theoretical concepts
articulated to the exemplification in narrative of the phenomena described in the texts, while
seeking to reflect the society where the cases occur.
Keywords: Gender; Literature; Psychoanalysis

1. INTRODUÇÃO
1
Pós-graduada em Psicologia e Sexualidade – FAVENI 2021, Pós-graduada em Psicanálise-FAVENI 2020, Graduada
em Pedagogia pela UNIRIO-2020, Graduada em Letras pela UNIFAA-2009
2
Pós graduado em Neuropsicopedagogia – FCE - 2018, Pós-graduado em Gestão Educacional – FCE -2019, Graduado
em Pedagogia – FAVENI-2020, Graduado em Psicologia – FAMATH -2013
Breuer, em Casos Clínicos I (1997), faz postulações sobre a condição psicológica de Bertha
Pappeheim. Por contribuição à ciência, publica seus escritos, entretanto, por sigilo médico, cria o
pseudônimo Anna O. para preservar a identidade da paciente. O capítulo de Breuer, intitulado
"Srta Anna O", organiza-se textualmente a partir de sequências narrativas. Para o conhecimento da
situação mais ampla da enfermidade, a narrativa médica é quase tão importante quanto as
discussões teóricas promovidas no capítulo; uma vez que a narrativa exemplifica a teoria, é parte
importante dela.
Freud foi constante parceiro de Breuer nas análises sobre o caso em questão e é quem
insiste na divulgação dos registros (RABELO, 2011). Teixeira (2005) destaca a correlação criativa
feita por Freud entre suas reflexões de médico clínico e a incitação que lhe vinha através da arte,
especialmente da Literatura. Dessa associação, de acordo com a autora, surge na psicanálise
freudiana uma acomodação entre o modelo científico da época e a construção de uma escrita
poética.
De acordo com Teixeira (2005), a sentença “Teoria é bom; mas não impede as coisas de
existirem” é usada por Freud para apresentar a metapsicologia como superestrutura, esclarecendo,
entretanto, que não é ela sozinha que funda a Psicanálise; sobre a contribuição da Literatura para a
teoria psicanalítica, diz que “ é nesse sentido que a literatura, por seus meios particulares de
apreensão do que escapa à lógica da razão, surge como laboratório juntamente com a clínica no
qual Freud se exercita na investigação da psique."
A relação do livro de Clarice com as teorias de estudos da mente é profícua. Uma
aprendizagem ou o livro dos prazeres pertence ao momento da produção literária que ficou
conhecido como o de “prosa intimista”, sendo essa “intimidade” traduzida na forma como as
personagens passam a ser retratadas. Nesse tipo de narrativa, as consciências das personagens vão
sendo reveladas ao leitor pelo fluxo de consciência –um tipo de transcrição direta dos pensamentos
- que ajudam a conduzir o desenrolar da história. Essa prosa foi, inclusive, influenciada pelas
ideias de Freud e outras tendências que surgiam da psicologia no século XX.
Oliveira (2009) esclarece que, historicamente, William James é o responsável pela
expressão "fluxo de pensamentos", abordado em seu livro, “Princípios da Psicologia”, em 1890, e
desse termo teria derivado a expressão fluxo de consciência, posteriormente usada na literatura.
A teoria da literatura se apropriou das palavras de James e as utilizou para definir um tipo
de ficção que considera a psique humana como tema central. Esta proposta ficcional da
literatura psicológica concilia a teoria de James aos pressupostos freudianos na criação do
que poderia ser a linguagem das camadas mais profundas da mente quando transformadas
em matéria discursiva. O fluxo de consciência torna-se, então, algo que amplia a noção de
consciência e insere muito mais do que a atividade consciente, numa
modificação substancial no entendimento do fluxo e do que seja a própria consciência,
que se conforma a novos pressupostos (OLIVEIRA, 2009, p. 2)
A Psicanálise é um método de investigação de significados que tem por objetivo chegar ao
que está oculto no inconsciente. A prática profissional da psicanálise é a organização e associação
de informações produzidas por ações, palavras, sonhos, delírios e atos falhos cujos significados
possíveis não são claros, já que estão ocultos até da mente consciente de quem os produz. É um
pouco semelhante, portanto, às análises produzidas pelas Ciências da Literatura. A prática
profissional dos estudos literários também consiste em organizar e associar informações para chegar
ao oculto que, nesse caso, é o sentido produzido na recepção da obra em uma determinada cultura.
É importante destacar o ponto que as distingue: a primeira tem objetivo clínico e a segunda tem
objetivo catalográfico, cultural.
A Psicologia dialogou constantemente com a Literatura ao exemplificar com as narrativas
literárias seus conceitos teóricos, como as tragédias gregas de Édipo e Electra representando
complexos na teoria de Freud, a simbologia usada por Goethe em Fausto destacadas por Jung e
também a neurose de Hamlet e a dissociação de Die Andere explorados por Freud em
“Personagens psicopáticos no palco” e Ricardo III e a recusa narcísica em “As exceções”.
2 RELATOS DE CASOS
2.1 O GÊNERO FEMININO EM SOCIEDADE
Breuer relata que Anna O. assim se manifestou durante o tratamento: “... queixava-se da
profunda escuridão na cabeça, de não conseguir pensar, de ficar cega e surda, de ter dois eus, um
real e um mau, que a forçava a comportar-se mal...” (FREUD, 1997, p.13). O trecho exemplifica a
percepção de Anna em relação a uma parte de si que ela secundou. A paciente relata reconhecer um
‘eu’ que é real e outro que é mau e a faz comportar-se mal. É como se o “eu mau” não a
compusesse
A análise dos sintomas psicossomáticos apresentados por Anna (braço paralisado,
impossibilidade de beber água no copo, sua tosse, perda da fala, dentre outros) remeteram, quando
ela já estaria “curada”, às situações que, em 1880, ao ter que lidar com uma parte de si que julgara
de comportamento egoísta ou rude (vedado a “boas” moças), a paciente reprimiu suas ações.
Tais fatos são resgatados em sua talking cure3, somente em 1882. A talking cure, de acordo
com Freud, se relaciona com o processo de ab-reação e funciona como a descarga emocional para a
liberação do afeto negativo provocado pela situação traumática.
a linguagem serve de substituta para a ação; com sua ajuda, um afeto pode ser “ab-reagido”
quase com a mesma eficácia. Em outros casos, o próprio falar é o reflexo adequado:
quando, por exemplo, essa fala corresponde a um lamento ou é a enunciação de um segredo
torturante, por exemplo, uma confissão. Quando não há uma reação desse tipo, seja em

3
“talking cure” - cura através da fala.
ações ou palavras, (...) qualquer lembrança do fato preserva sua tonalidade afetiva do início.
(FREUD, 1988, vol II, p. 46)
Para mulheres que buscavam ter voz em contextos como o de Anna, essa pulsão seria
continuamente reprimida (inicialmente pelo meio social, depois pela própria mulher, através de seu
superego, estruturado em um ambiente extremamente repressor). Para conhecer um pouco mais de
Anna O., recorremos às anotações de seu médico particular, Josef Breuer:
Havia nessa moça (...) duas características psíquicas que atuaram como causas de
predisposição para sua subsequente doença histérica: (1) Sua vida familiar e monótona e
ausência de ocupação intelectual adequada deixavam-na com um excedente não utilizado
de vivacidade e energia mentais (FREUD, 1997, p. 35)

Era dotada de grande inteligência e aprendia as coisas com impressionante rapidez e


intuição aguçada. Possuía um intelecto poderoso, que teria sido capaz de assimilar um
sólido acervo mental e que dele necessitava – embora não o recebesse desde que saíra da
escola. (FREUD, 1997, p. 9)

Bertha Pappenheim, agora com 23 anos, de inteligência elevada; memória excelente, bom
gosto surpreendentemente aguçado e intuição perspicaz, por isso as tentativas de enganá-la
sempre falham. Intelecto forte, que também poderia ser alimentado, mas que não o foi
desde que saiu da escola. (BREUER apud MAGALHAES, 2020, p. 282)
Imersa num campo de impossibilidade de ajuste entre sua pulsão e a restrição do papel
social feminino, Anna primeiramente se vai reprimindo e produzindo sintomas psicossomáticos,
chegando a perder a fala. O processo terapêutico com Breuer resgata essa fala, que inicialmente
surge em inglês. Coracini (2007) esclarece que a língua materna seria a do prazer e repouso, mas
também a de censura e a língua estrangeira, por trazer novas formas de ver e se posicionar no
mundo, provocaria rearranjos subjetivos. Nesse sentido, Pardini (2011) destaca o fato da expressão
de Anna surgir numa língua não-materna como possível estratégia para driblar a censura que seu
ambiente cultural - e ela própria- impunham a si.
Restaurada a expressão, Anna segue organizando as ideias e sugere-as a Breuer naquilo que
chama de limpeza de chaminé4, também através de narrativas que o médico destacou como
semelhantes às histórias de Hans Andersen. Através de uma metáfora, entretanto, na qual afirma
estar o “bebê do Dr B.” nascendo, dá-se o rompimento do processo terapêutico (RABELO, 2011).
Freud relata em carta ao escritor Stefan Zweig que Breuer teria ficado intrigado com a possibilidade
de a metáfora referir-se a aspectos da sexualidade e encaminha sua paciente a outro médico
(PERELBERG, 2012). É possível, entretanto, que a metáfora aludisse mais ao termo maiêutica e
parto de ideias que a elementos da ordem da sexualidade propriamente dita. O fato é que o vínculo
terapêutico se finda e Anna ainda é internada em hospícios antes de chegar às publicações
feministas que estavam em processo de “gestação” durante seu tratamento com Josef Breuer.
4
como “chimney sweeping” [limpeza de chaminé], o ato de falar sobre o que a afligia. Breuer diz “ela se havia
esgotado de tanto falar (...), ficava com a mente clara, calma e alegre.
Sabemos, porém, em parte por meio das cartas do próprio Breuer, que Bertha Pappenheim
foi repetidamente tratada em clínicas dos nervos e só muitos anos depois pôde viver
como uma pessoa razoavelmente sadia e capaz de trabalhar. (...) que o tratamento por
Breuer acarretou mudança decisiva em seu histórico doentio, o que acabou possibilitando
uma cura (…) que Bertha Pappenheim depois se curou principalmente devido à sua
própria força de caráter, o que está inseparavelmente ao seu papel posterior como
autora, feminista e lutadora pela dignidade e direitos de todas as pessoas; (…) que o
exercício intenso de suas forças intelectuais e morais em atividades literárias e
beneficentes desempenharam um papel decisivo em sua cura. (MAGALHÃES,2020,
p.288-289)

Jung (1964-2017) aponta que não se pode reprimir a sombra. Ainda que o indivíduo não tenha
conhecimento consciente dela, sua manifestação dar-se-á em algum aspecto da vida do sujeito.
Loreley, de Clarice, durante uma de suas muitas autoanálises, quando não sabia ou não
conseguia identificar o que a afligia, faz uma analogia bastante interessante que pode ilustrar bem o
poder que um aspecto da personalidade - a sombra- ou outro elemento reprimido exerce:
Lóri lembrou-se de que lera que os movimentos histéricos de um animal preso tinham como
intenção libertar, por meio de um desses movimentos, a coisa ignorada que o estava
prendendo — a ignorância do movimento único, exato e libertador era o que tornava um
animal histérico: ele apelava para o descontrole. (LISPECTOR, 2016, p.11)
A representação da sombra aparece, em Jung, como parte do processo de individuação. De
fato, para chegar à totalidade do self, a percepção de si em sua completude, é preciso que o
indivíduo “faça as pazes” com aspectos de sua personalidade que foram endereçados ao
inconsciente por não satisfazerem, no momento do endereçamento, a percepção que o indivíduo
tinha de si; incômodo ao consciente, esse aspecto da personalidade é endereçado ao inconsciente.
Essa parte incômoda é a sombra. Sobre o fenômeno de "deixar em sombra", Jung diz:
O ato de esquecer, por exemplo, é um processo normal, em que certos pensamentos
conscientes perdem a sua energia específica devido a um desvio da nossa atenção. Quando
o interesse se desloca deixa em sombra (grifo nosso) as coisas de que anteriormente nos
ocupávamos, exatamente como um holofote ao iluminar uma nova área deixa uma outra
mergulhada em escuridão. (JUNG, 2017, p.36-37)
A sombra como arquétipo seria, então, parte da personalidade do indivíduo que foi mantida
“em sombra” e reprimida enquanto outra parte que o agradava mais foi mantida em holofote. É
importante destacar que a mente consciente encaminha diversas percepções ao inconsciente. Jung
trata como sombra (elemento arquetípico componente da personalidade) somente aquelas
percepções que são parte componente das particularidades comportamentais do sujeito. Ocorre que
a sombra não pode ser suprimida e, como exemplificado pelas conquistas subsequentes da vida de
Anna, possui impulsos normais, inclusive qualidades do indivíduo. Disse Jung:
Estas tendências formam uma "sombra", sempre presente e potencialmente destruidora.
Mesmo as tendências que poderiam, em certas circunstâncias, exercer uma influência
benéfica, são transformadas em demônios quando reprimidas. (...) Jung mostrou que a
sombra projetada pela mente consciente do indivíduo contém os aspectos ocultos,
reprimidos e desfavoráveis (ou nefandos) da sua personalidade. Mas esta sombra não é
apenas o simples inverso do ego consciente. Assim como o ego contém atitudes
desfavoráveis e destrutivas, a sombra possui algumas boas qualidades — instintos normais
e impulsos criadores. (JUNG, 2017, p. 93)
Para Jung (1964-2017) a “realização da sombra” ou individuação está além do simples
reconhecimento dessa parte que o indivíduo mantém escondida de si e das demais pessoas. Sobre o
primeiro momento de percepção dessa parte escondida, o psiquiatra suíço apontou a surpresa (e
vergonha) que o paciente experimenta ao retransferir esses aspectos inconscientes para o
consciente.
Quando uma pessoa tenta ver a sua sombra ela fica consciente (e muitas vezes
envergonhada) das tendências e impulsos que nega existirem em si mesma, mas que
consegue perfeitamente ver nos outros — coisas como o egoísmo, a preguiça mental, a
negligência, as fantasias irreais, as intrigas e as tramas, a indiferença e a covardia, o amor
excessivo ao dinheiro e aos bens. (JUNG, 2017, p. 222-223)
A realização da sombra é a adaptação do consciente às novas informações acerca de si
resgatadas do inconsciente. Trata-se, portanto, na recepção dessa crítica (que o indivíduo antes
desse momento conseguia perceber nos outros, mas não em si) de forma positiva para uma nova
“formatação” do self. Jung, em O homem e seus símbolos, define a individuação a partir dessa união
das características do self da seguinte forma: “A individuação trata das pazes produzidas entre as
características que compõem o self.”
Quando o inconsciente a princípio se manifesta de forma negativa ou positiva, depois de
algum tempo surge a necessidade de readaptar de uma melhor forma a atitude consciente
aos fatores inconscientes — aceitando o que parece ser uma "crítica" do inconsciente.
(JUNG, 2017, p. 222)
Voltando à Anna, associada aos devaneios que experimentou para preencher uma vivência
extremamente monótona, é possível que a percepção de somente características que julgara
positivas (e a repressão daquelas que a sociedade onde estava inserida e ela própria julgara
reprováveis) tenha contribuído para o rompimento com a realidade que escancarou os sintomas de
seu adoecimento.
Para não ter que lidar com parte de si julgada inadequada, o ego empurra a percepção
incômoda (de ser “mau”) ao inconsciente. O trecho a seguir retrata que Anna (e outros pacientes)
percebem-se como indivíduos de personalidade una e indivisível após o processo terapêutico, em
oposição ao que apresentaram no início do tratamento (o relato de Anna transcrito no início desta
seção).
Depois que um distúrbio dessa natureza desapareceu e os dois estados de consciência
voltaram a se fundir num só, os pacientes, lançando um olhar retrospectivo para o passado,
se vêem como a personalidade única e indivisa que se dava conta de todo aquele absurdo;
acham que poderiam tê-lo impedido se assim tivessem desejado e se sentem como se
tivessem praticado todo o mal de forma deliberada. (FREUD, 1997, p. 41)
A personagem de Clarice (1969-2016), Loreley, aparece-nos diretamente em fluxo de
consciência. Sua aprendizagem, seu livro de prazeres, é jornada de autoconhecimento dessa mulher,
ambientada no Rio de Janeiro, em período posterior à revolução sexual promovida pela difusão da
contracepção. A jornada em busca de si é evidenciada por trechos como “aproveitar que estava em
carne viva para se conhecer melhor” (p. 22), “ela surgia dentro de si quase com esplendor” (p. 48),
dentre outros. A menção à percepção de uma sombra, um componente nefando de personalidade,
aparece em “ela continuava a não saber quem era ela, mas sabia o número indefinido de coisas que
podia fazer. E sabia que era uma feroz entre ferozes seres humanos, nós, os macacos de nós
mesmos”.
2.2 MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
No início de Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres há uma passagem significativa que
nos ambienta no momento em que se vai descortinar a narrativa clariciana: uma personagem em
busca de si apresenta-se a nós, na trama, em uma narrativa subjetivada pelos seus fluxos de
consciência:
Por ter de relance se visto de corpo inteiro ao espelho, pensou que a proteção também seria
não ser mais um corpo único: ser um único corpo dava-lhe, como agora, a impressão de que
fora cortada de si própria. Ter um corpo único circundado pelo isolamento, tornava tão
delimitado esse corpo, sentiu ela, que então se amedrontava de ser uma só. (LISPECTOR,
2016, p.14)
Lóri está frente a si e percebe-se um ser único. Esse trecho delimita, no texto narrativo, o
início da busca de Lóri por si, neste momento em novo processo disruptivo e adaptativo, da
articulação do Eu ao Outro. Viecili (2006) destaca que, ao longo do romance, o discurso de Lóri
parte de unidades monologais, mais frequentes no começo, para unidades dialogais, mais frequentes
no final. Esse movimento discursivo exemplifica bem o processo de conexão de Lóri com o mundo,
com a cultura.
Há uma frase de Loreley que emoldura a interconexão em desenvolvimento pela
personagem: “será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema
individualidade de pessoa, mas seremos um só” (p. 63).
É interessante perceber que é na relação com o outro que o indivíduo vai se sustentar,
buscando o reconhecimento (no outro) da imagem que tem de si. E vai proteger essa imagem.
Durante a passagem do Eu especular para o Eu social (e devido à necessidade de encontrar eco da
imagem que se faz de si na imagem que o outro vê) é que vão surgir as situações de ansiedade e
angústia que fazem entrar em “jogo” os “mecanismos de defesa” do ego. Seguem algumas
definições para o termo:
Os mecanismos de defesa servem ao propósito de manter afastados os perigos. Não se pode
discutir que são bem-sucedidos nisso, e é de duvidar que o ego pudesse passar inteiramente
sem esses mecanismos durante seu desenvolvimento. (FREUD, 1975, VOL. XXIII, p. 270)
De forma simplificada, é possível definir mecanismos de defesa como funções do ego, que
os utiliza em oposição aos processos que podem levar ao descontrole da mente. O ego promove a
mediação entre os desejos e as regras socialmente estabelecidas no meio onde o sujeito, inserido,
promove sua relação com o Outro. A partir desses correlacionamentos complexos é que surgirão os
processos de ansiedade e angústia que o ego, para defender seu equilíbrio psíquico, recorre aos
mencionados mecanismos.
2.2.1 Devaneio e Fantasia em Anna O e Loreley
Segundo Jung (1964-2017), duas razões fazem o homem perder o contato com o seu
equilíbrio interior: uma delas é um impulso instintivo ou imagem emocional que o leva à
unilateralidade e a outra ameaça vem do devaneio exagerado que secretamente rodeia certos
complexos.
Conforme já debatido anteriormente em relação ao arquétipo da sombra, não se pode
encaminhar percepções à inconsciência e esperar que essa repressão não atue no consciente de
alguma forma. Nessa parte da análise, porém, abordar-se-ão as repressões ao inconsciente que
culminam em fantasias que, de acordo com Freud, estão mais ligadas aos desejos (anelos) do
indivíduo. Freud, em 1908, assim disserta sobre fantasias e devaneios:
Essas fantasias são satisfações de desejos originários de privações e anelos. São com justiça
denominadas de ‘devaneios’, já que nos dão a chave para uma compreensão dos sonhos
noturnos - nos quais o núcleo da formação onírica não consiste em nada mais do que em
fantasias diurnas complicadas, que foram distorcidas e que são mal compreendidas pela
instância psíquica consciente. (FREUD, 1976, vol. IX, p. 163-164)
Freud aponta que há possibilidade de o indivíduo (em circunstâncias favoráveis, é preciso
destacar) poder, através de seu devaneio, resgatar uma fantasia da inconsciência e torná-la
consciente - é preciso associá-lo a outros fatores para compreender a totalidade da mensagem
(Freud, 1988, v. IX, p. 164). Os anelos (desejos excessivos) que culminam nos devaneios foram
inicialmente conscientes, mas deliberadamente esquecidos, tornando-se inconscientes através da
‘repressão’.
É o que acontece com Loreley, quando resiste à vontade de pegar na mão de Ulisses mas,
para satisfazer esse desejo, pega-a através de um devaneio, ao que conceitua como “imaginação
vivida”:
Porque nela a busca do prazer, nas vezes que tentara, lhe tinha sido água ruim: colava a
boca e sentia a bica enferrujada, de onde escorriam dois ou três pingos de água amornada:
era a água seca (...) O que sentia nunca durava, acabava e podia nunca mais voltar.
Encarniçou-se então sobre o momento, comia-lhe o fogo interno, e o fogo externo ardia
doce, ardia, flamejava. Então, como tudo ia acabar, em imaginação vivida, pegou a mão
livre do homem, e em imaginação ainda, ao prender essa mão entre as suas, ela toda doce
ardia, ardia, flamejava. E Ulisses, sem mesmo saber da imaginação vivida, responde: —
Lóri, a dor não é motivo de preocupação. Faz parte da vida animal. (LISPECTOR, 2016, p.
94-95)
Diversos trechos do livro “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” esclarecem que
Loreley tem uma relação patológica com a dor. A fantasia em Loreley alimenta sua vontade em
direção ao prazer. Só que o prazer, conforme disse, “lhe tinha sido água ruim”, doera, em uma
experiência passada da qual sequer se recorda. Esse devaneio (ainda do tipo favorável) permite que
o inconsciente transmita uma mensagem ao consciente: Lóri parece reprimir situações de busca ao
prazer porque essa busca já lhe tinha sido dolorosa. No trecho, Ulisses, sem mesmo saber da
“imaginação vivida” na mente consciente de Lóri, fala da impossibilidade de reprimir a dor.
Freud associa essa satisfação pela fantasia ao ato masturbatório (não no sentido imediato do
termo masturbação, ele esclarece, mas como um comportamento ativo para, na fantasia, obter
autogratificação). (FREUD, 1976, vol. IX, p. 165) O ato -o do devaneio- incorpora-se a uma ideia
do desejo e serve como realização parcial da situação que culminou a fantasia. (FREUD, 1976, vol.
IX, p. 165)
Sobre o prejuízo advindo do hábito de fantasiar, Jung (1964-2017) aponta o perigo do
excesso em encobrir a realidade com os momentos imaginativos e Freud destaca como patológica a
ruptura dessas representações com a consciência.
Outra ameaça ao equilíbrio interior vem do devaneio excessivo que, em geral, volteia
secretamente em redor de certos complexos. De fato, os devaneios surgem exatamente
porque relacionam o homem com os seus complexos; ao mesmo tempo ameaçam a
concentração e a continuidade da sua consciência. (JUNG, 2017, p.285)
Freud comenta que “o que determina a qualidade patológica é a amnésia, (...) o que a
determina é a inadmissibilidade das representações à consciência”. (FREUD, 1988, vol. IX, p. 165)
Em Lóri há a percepção consciente do devaneio, sendo um hábito que a personagem reconhece em
si e sobre o qual diz: “lutara toda a sua vida contra a tendência ao devaneio, nunca deixando que ele
a levasse até as últimas águas. Mas o esforço de nadar contra a corrente doce havia tirado parte de
sua força vital” (p. 136).
Anna, ao contrário de Lóri, tinha uma relação mais desordenada com seus devaneios. Uma
vida extremamente monótona a levou ao hábito dos devaneios, que ela chamou de “seu teatro
particular”. Levando em conta o que sabemos hoje, levantado por seu médico particular quando
ainda em tratamento, Anna necessitava de acervo mental e seu ambiente não o fornecia desde que
saíra da escola.
tinha o hábito, enquanto gozava de perfeita saúde, de permitir que seqüências de
representações imaginativas lhe passassem pela mente durante suas ocupações corriqueiras.
Enquanto se encontrava numa situação que favorecia a auto hipnose, o afeto de angústia
penetrou em seu devaneio e criou um estado hipnóide em relação ao qual ela teve amnésia
(...) Após quatro meses, o estado hipnoide assumiu pleno controle da paciente. Os ataques
isolados esbarraram uns nos outros e assim surgiu um état de mal, uma histeria5 aguda do
tipo mais grave. (FREUD, 1987, vol. II, p. 237)

5
Derivada da palavra grega hystera (matriz, útero), a histeria serviu para nomear uma neurose
caracterizada por quadros clínicos variados. Atualmente o termo foi suprimido da literatura médica: a partir do DSM-
IV, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais IV, a condição foi diluída em transtornos mais específicos
e não mais relacionados a particularidades biológicas ou de gênero.
A canalização da pulsão direciona à criação desse acervo, seu teatro particular. Só que o
hábito de criar narrativas particulares para canalizar seu talento “poético-fantástico” atrelado ao fato
de não existir, em sua vivência, algo que a satisfizesse nesse âmbito foi o que garantiu a base para
uma dissociação de sua personalidade mental (Breuer).
Para melhor compreender Anna, é preciso lembrar o contexto multicultural de
desenvolvimento de seus anos iniciais da vida (GUTTMANN, 2001), seu intelecto e memória
poderosos e o contraste com o ambiente monótono onde adoece como combustível para que ela
recorresse constantemente aos devaneios que chamou de Teatro Particular. Há uma dupla
possibilidade para o devaneio em Anna: era sintoma de sua condição, mas era também defesa do
ego para garantir uma possibilidade para a pulsão.
Vida muito monótona, inteiramente restrita à família; procura compensação no amor
apaixonado pelo pai, que a mima, e no gozo do talento poético-fantástico muito
desenvolvido. Enquanto todos pensavam que estava participando, vivia em fantasias, mas
se tornava imediatamente presente se solicitada, de forma que ninguém soubesse disso. Isso
fica com o nome institucional de teatro particular de sua vida mental; era tão mais
importante e perigoso, já que a direção tutelada de sua atividade nada oferecia, e não havia
nenhuma vivência de sua vida se movendo para dar conteúdo à sua atividade mental.
(BREUER apud MAGALHÃES, 2020, p.282)
Loreley lida com o devaneio que aparece de forma menos constante do que Anna. O
devaneio de Lóri funciona como realização parcial de sua vontade. Relacionado a aspectos de sua
realidade consciente, é meio de vivenciar a vontade sem arriscar-se à dor (que reprime). Anna lida
com o devaneio numa tentativa de escape à realidade; essa diferença é fundamental para entender
como os devaneios de Anna - e a repressão social a que estava submetida - a endereçaram à doença,
enquanto na trajetória de Lóri não há espaço significativo para eles.
Breuer esclarece ser muito comum essa divisão da mente (segundo ele, acontece durante
ocupações mecânicas, ou em situações sociais quando trechos de um livro, uma peça ou mesmo
uma lembrança invadem o consciente). O que ocorre é que quando esses devaneios se tornam
inconscientes, podem tornar-se também patogênicos.
uma dissociação desse grau ainda se acha nos limites da normalidade. Os devaneios e as
reflexões durante ocupações mais ou menos mecânicas não implicam, em si mesmos, uma
divisão patológica da consciência visto que, ao serem interrompidos - quando, por exemplo,
alguém dirige a palavra à pessoa - a unidade normal da consciência é restaurada; não
implicam tampouco a existência de amnésia. No caso de Anna O., porém, esse hábito
preparou o terreno em que o afeto de angústia e pavor pôde estabelecer-se na forma que
descrevi, tão logo esse afeto transformou os devaneios habituais da paciente numa absence
alucinatória. (FREUD, 1997, p. 35)
2.2.2 Repressão em Loreley
O mecanismo de defesa pode se transformar em um aspecto que se incorpora à vida do
indivíduo. Freud diz que eles “tornam-se modalidades regulares de reação de seu caráter, as quais
são repetidas durante toda a vida, sempre que ocorre uma situação semelhante à original”. Como já
foi explicitado anteriormente, é consciente em Loreley o fato de ela ter reprimido a dor em sua vida.
Isso pode ser observado em trechos como:
O que acontecia na verdade com Lóri é que, por alguma decisão tão profunda que os
motivos lhe escapavam — ela havia por medo cortado a dor. (...) (p. 37)
Queria ela a salvação? A dor fora anquilosada e paralisada dentro de seu peito, como se ela
não quisesse mais usá-la como forma de viver. Mas essa precaução — vinda depois de
Ulisses — não era ainda a que a salvaria: pois em lugar da dor, nada viera senão a parada
da vida dos sentimentos. (...) (p. 38)
Porque nela a busca do prazer, nas vezes que tentara, lhe tinha sido água ruim: colava a
boca e sentia a bica enferrujada, de onde escorriam dois ou três pingos de água amornada:
era a água seca. (LISPECTOR, 2016, p. 94-95)
Os excertos permitem conjecturar que a repressão de Lóri à dor dá-se a partir de uma
tentativa de Lóri de busca pelo prazer, que é apresentada a partir de uma metáfora. Em um
momento de busca ao prazer, o desdobramento da ação termina no que Lóri chamou de “água
ruim”, “bica enferrujada”, com “água amornada” e “água seca”. Ao buscar o prazer, ao sucumbir à
sua pulsão, Lóri experimentara um sofrimento e o reprimiu. A personagem segue, então,
constantemente reprimindo a dor e essa percepção da repressão à dor é consciente. Só que na
verdade, o que Freud chamou de “representante psíquico (ideacional) do instinto” está reprimido na
consciência. Essa seria a parte que Freud chama de repressão primeva.
Temos motivos suficientes para supor que existe uma repressão primeva, uma primeira fase
de repressão, que consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico
(ideacional) do instinto. Com isso, estabelece-se uma fixação; a partir de então, o
representante em questão continua inalterado, e o instinto permanece ligado a ele. (FREUD,
1974, vol. XIV, p. 171)
Ao evitar as situações que de alguma maneira se relacionavam à situação originalmente
reprimida, a busca pelo prazer, Lóri vivencia a repressão que Freud chama de repressão
propriamente dita, a segunda fase da repressão. O mecanismo da repressão funcionaria da seguinte
forma: Lóri busca o prazer e tem uma resposta ruim a essa pulsão; para o consciente, o que
aparentemente está reprimido é a emoção, a dor, porque o que gerou a dor é direcionado ao
inconsciente, inacessível ao indivíduo. Essa seria a primeira repressão, que Freud chamou de
repressão primeva. Na repressão primeva não entra no consciente o “representante psíquico do
instinto”, apenas o desdobramento dessa primeira repressão. A dor é um “derivado mental do
representante reprimido”, no caso, possivelmente, a busca ao prazer.
A segunda fase da repressão, a repressão propriamente dita , afeta os derivados mentais
do representante reprimido, ou sucessões de pensamento que, originando-se em outra parte,
tenham entrado em ligação associativa com ele. Por causa dessa associação, essas idéias
sofrem o mesmo destino daquilo que foi primevamente reprimido. (FREUD, 1974, vol.
XIV, p. 171)
Em fase de resgate de percepções endereçadas ao inconsciente, a personagem assim se
identifica: “Nunca me sei como agora” e faz possível menção ao inconsciente, com expressões
como pensamentos profundos e pensamentos que encobririam outros, mais profundos e mais
compreensíveis.
veio-lhe outra revelação que durou pois era o resultado intuitivo de coisas que ela pensara
antes racionalmente. O que lhe veio foi a levemente assustadora certeza de que os nossos
sentimentos e pensamentos são tão sobrenaturais como uma história passada depois da
morte. E ela não compreendeu o que queria dizer com isso. Ela o deixou ficar, ao
pensamento, porque sabia que ele encobria outro, mais profundo e mais compreensível.
(LISPECTOR, 2016, p. 130)
2.2.3 Regressão em Anna O
Breuer indica uma particularidade em Anna ao esboçar as narrativas de sua talking cure: “as
circunstâncias conjuntas em que surgiu, foram narradas numa sequência invertida (…) de trás
para diante até sua primeira manifestação”. Sobre as sessões que se desenvolveram em 1882 –
identificadas cronologicamente como parte 2 do inverno de 1881 em Casos Clínicos, o médico
esclarece que:
Sua hipnose da noite ficava assim intensamente sobrecarregada, pois tínhamos que escoar
pela fala não só seus produtos imaginários contemporâneos, como também os eventos e
vexations de 1881 (…) Tratava-se dos eventos psíquicos em jogo no período de incubação
da moléstia, entre julho e dezembro de 1880; eles é que haviam produzido todos os
fenômenos histéricos e, quando receberam expressão verbal, os sintomas desapareceram.
(FREUD, 1997, p. 26)
O relato científico sobre a doença divulgado em Casos Clínicos demonstra que Breuer via na
evolução do quadro de Anna fases nitidamente separáveis. A primeira foi delimitada como a fase de
Incubação latente, assim descrita: “de meados de julho até cerca de 10 de dezembro de 1880. Essa
fase da doença costuma ficar omissa para nós; mas nesse caso, graças a seu caráter peculiar, foi-nos
completamente acessível”. O “caráter peculiar”, no caso, foi o mecanismo de defesa da regressão.
De acordo com Freud,
Assim, cabe distinguir três tipos de regressão: a) regressão tópica, no sentido do quadro
esquemático dos sistemas que explicamos atrás; b) regressão temporal, na medida em que
se trata de um retorno a estruturas psíquicas mais antigas; e c) regressão formal, onde os
métodos primitivos de expressão e representação tomam o lugar dos métodos habituais. No
fundo, porém, todos esses três tipos de regressão constituem um só e, em geral, ocorrem
juntos, pois o que é mais antigo no tempo é mais primitivo na forma e, na tópica psíquica,
fica mais perto da extremidade perceptiva. (FREUD, 1987, Vol V p. 501)

FIGURA 1. CRONOLOGIA DO TRATAMENTO DE ANNA O. POR JOSEF BREUER


Linha do tempo produzida pelos autores

Parece muito plausível que Anna novamente se valesse de uma estratégia de fuga para lidar
com uma realidade com a qual não conseguia ainda modificar -o primeiro mecanismo de defesa
exemplificado em Anna, a fantasia de seu “teatro particular”, já era fuga de uma realidade não
suportável. A regressão em Anna se mostra como um retorno a estruturas psíquicas mais antigas, no
caso, uma regressão temporal.
Ao longo da narrativa do médico, nos esclarecimentos sobre a condition seconde de sua
paciente, algumas pequenas pistas sobre o mecanismo regressivo se vão delineando. Os estados
sonolentos que a paciente apresentava durante as tardes pós-junho de 1881, quando Anna se muda
para uma casa de campo por temerem seu suicídio, são relacionadas, pelo médico, à rotina que tinha
quando cuidou do pai, de julho a dezembro de 1880, o período de incubação de sua própria doença.
Parece plausível atribuir essa sequência regular dos acontecimentos apenas à experiência
dela enquanto cuidava do pai (…) Esse padrão de ficar acordada à noite e dormir à tarde
parece ter sido transposto para sua própria doença e persistido muito tempo depois de o
sono ter sido substituído por um estado hipnótico. (FREUD, 1997, p. 18-19)

FIGURA 2 - A REGRESSÃO EM ANNA O.

Lin
ha do tempo produzida pelos autores
A compreensão de Breuer sobre a condition seconde da paciente vai prosseguindo a ponto
de ele articulá-la, enfim, ao processo regressivo e conseguir confirmar junto aos documentos da
família a sua suspeita. No estado regressivo, a paciente comportava-se como se vivenciasse o
período do inverno de 1880, esquecendo-se dos eventos ocorridos após essa data. O período em que
de fato se situavam era o inverno de 1881. Curiosamente, a morte do pai permanece consciente nos
dois estados de consciência, mesmo seu acontecimento sendo posterior ao inverno de 1880. Há
indício de que o mecanismo da regressão tenha funcionado de modo a Anna poder, durante algum
tempo, através da fuga, evitar a situação até ficar suficientemente forte, mais tarde, para lidar com a
morte do pai.
(...)esses estados alternados tinham diferido um do outro, no passado, pelo fato de o
primeiro ser normal, e o segundo, alienado; agora, porém, eles diferiam ainda mais pelo
fato de que, no primeiro, ela estava vivendo, como o restante de nós, no inverno de 1881-2,
ao passo que, no segundo, vivia no inverno de 1880-1 e se esquecera de todos os eventos
subsequentes. A única coisa que, não obstante, parecia permanecer consciente a maior parte
do tempo era o fato de que o pai morrera (…) eu só teria podido suspeitar de que isso estava
acontecendo, não fosse pelo fato de todas as noites, durante a hipnose, ela falava sobre o
que a havia excitado no mesmo dia em 1881, e não fosse pelo fato de um diário particular
mantido pela mãe dela ter confirmado, sem sombra de dúvida, a ocorrência dos fatos
subjacentes. Essa revivência do ano anterior continuou até que a doença chegasse a seu
final, em junho de 1882. (FREUD, 1997, p. 24-25)
2.2.4 Sublimação em Anna O
Birman (1998) destrincha nas obras de Freud a evolução do conceito de sublimação. De
possível origem científica na química de Lavoisier, a passagem direta de uma substância do estado
sólido para o estado gasoso foi migrada para a psicanálise como processo de sublimação segundo o
qual a pulsão sexual passaria de sua solidez e consistência para uma produção vaporosa e espiritual,
que é a maneira pela qual o abjeto se transforma em algo sublime. Castiel (2022) fala sobre
sublimação:
A metáfora de Freud sobre o Zuider Zee 6 fala de uma conquista cultural que indica uma
ampliação dos limites e a criação de algo novo. O que se pode tomar desse processo é a
questão da transformação presente. O que era uma força passou a ser uma criação. Nesse
sentido, pode-se falar de uma sublimação. De acordo com esse entendimento do texto, o
propósito da análise seria justamente a criação desses novos destinos ao pulsional que
possibilitam transformar o irrefreável das pulsões em criações, o que sem dúvida nos
remete à sublimação. (CASTIEL, 2022, p.8)
Em Anna, a sublimação ocorre quando ela faz um caminho alternativo ao da repressão - os
tolhimentos a que a paciente se submeteu já foram apresentados como exemplificadores do
desajuste que culminaram nas “reminiscências de que sofrem os histéricos” (FREUD, 1988, p.45).
Nesse sentido, Freud, em em Análise terminável e interminável esclarece que o ego se molda nessa
atitude de reconhecer os conflitos das exigências do instinto com o meio de inserção social do
indivíduo.
(...)o ego aprende a adotar uma atitude defensiva também para com seu próprio id, e a tratar
as exigências instintuais como perigos externos; isso acontece, pelo menos em parte,
porque ele compreende que uma satisfação do instinto conduziria a conflitos com o mundo
externo. (FREUD, 1975, VOL. XXIII, p. 268)
Pensando o ambiente de Anna e a condição de inércia a que foi submetida pela cultura - o
6
A secagem do Zuider Zee, refere-se a secagem de uma parte do mar para ser destinada à agricultura, um processo
elaborado e muito longo.
mundo externo, sua sublimação se configura pelo direcionamento da pulsão para a modificação
dessa cultura a fim de que outras mulheres pudessem assumir a postura independente que almejava
– e conseguiu – para si. Para isso, articula suas contribuições através da publicação de obras
literárias destinadas à formulação de novas possibilidades de subjetivação feminina (os contos de
fada feministas publicados sob o pseudônimo de Paul Berthold) e reivindicações explícitas a
direitos femininos em revistas e jornais na segunda década do século XX (Pavan, 2020):
No sentido da questão a ser discutida aqui chamamos de “moral” o fazer ou não fazer algo
que pode custar ao indivíduo um esforço ou um sacrifício, mas que beneficia a comunidade
como um todo. Chamamos imoral aquilo que pode trazer prazer ou alegria para o indivíduo,
mas que é prejudicial para a comunidade em geral. Como o senso do bem comum é
inseparável e indissolúvel dos interesses comunitários de ambos os sexos, uma visão
unilateral de moralidade com base no gênero sexual nunca pode ser lógica ou justa. E
assim, de fato, a dupla concepção de moralidade [...] é uma das maiores injustiças, da qual a
civilização deveria se envergonhar. (PAPPENHEIM apud PAVAN, 2020, p.122)
3. CONCLUSÃO
Birman (2019) aponta que a partir de 1915 Freud se distancia do cientificismo estritamente
médico dos primórdios dos escritos psicanalíticos e é quando pode somar às suas teorias as
reflexões acerca da sociedade e civilização onde o Eu psicanalítico é também um Eu social. O
pensamento freudiano, entretanto, mesmo em seus escritos mais maduros, permanece delimitando à
mulher o papel que Simone de Beauvoir (2019) denuncia como o de segundo sexo, de segunda
categoria.
Apesar dos amplos estudos sobre feminilidade e histeria, estar inserido em uma cultura
eurocêntrica que delimitava um padrão de ser humano superior àquele que fosse homem, branco e
europeu (CARDOSO, 2016) ofereceu pouca percepção para o pai da psicanálise sobre o que
queriam, afinal, as mulheres7. Beauvoir (1949-2019, p. 203) sintetizou essa constatação em "A
representação do mundo é operação dos homens; eles o descrevem do ponto de vista que lhes é
peculiar”.
Em Mal-estar na civilização, Freud (2013) aponta o trabalho da cultura como assunto dos
homens, o que os abrigaria a sublimações instintuais de que, segundo o psicanalista, as mulheres
não seriam muito capazes. Em mesmo trecho, ao identificar uma atitude hostil das mulheres em
relação à cultura, atribui a hostilidade não ao bloqueio da participação feminina, mas ao fato de a
mulher ser preterida e relegada à segundo plano na preferência do marido ou pai: “Então a mulher
se vê relegada a segundo plano pelas solicitações da cultura e adota uma atitude hostil frente a ela”
(FREUD, 2013, p. 49).
Espanta que Freud não tenha associado o sofrimento psíquico experimentado pelas
7
Afinal, o que querem as mulheres? Esta pergunta de Freud originou-se, segundo Kramer (2006), das reflexões sobre
uma de suas pacientes: Ida Bauer.
histéricas ao ambiente regulador no qual elas precisavam desenvolver-se. Entretanto, possivelmente
a situação que salta aos olhos na contemporaneidade só é tão clara devido ao distanciamento
temporal, ao conhecimento dos elementos comuns às mulheres que adoeceram no período e a toda
publicação posterior de denúncia sobre a sociedade repressora das mulheres, algumas delas
inclusive produzidas por Bertha Pappenheim.
Ainda em Mal-estar na Civilização, Freud (1930-2013) conjectura sobre os elementos
centrais para a regulação das ações dos homens numa sociedade pautada pelos ideais da civilização:
as noções de direito – o poder da comunidade unida - e de justiça - uma exigência primeira de
civilização.
A vida humana em comum se torna possível apenas quando há uma maioria que é mais
forte do que qualquer indivíduo e se conserva diante de qualquer indivíduo. Então o poder
dessa comunidade se estabelece como ‘Direito’, em oposição ao poder do indivíduo,
condenado como ‘força bruta’. Tal substituição do poder do indivíduo pelo poder de uma
comunidade constitui o passo cultural decisivo. Sua essência reside no fato de os membros
da comunidade se restringirem em suas possibilidades de satisfação, ao passo que o
indivíduo desconhece tais restrições. Portanto, a exigência cultural seguinte é a da justiça.
(FREUD, 2013, p. 40)
Freud reconhece que movimentos produzidos por um setor da sociedade por desejo de
“maior liberdade” podem denunciar a injustiça e tornam possível maior evolução cultural, desde
que a “maior liberdade” permaneça compatível com o ideal de civilização, o direito do todo, da
comunidade.
A liberdade individual não é um bem cultural, ela era maior antes de qualquer civilização,
mas era sem valor porque o indivíduo mal tinha condições de defendê-la. Graças à evolução
cultural, ela experimenta restrições (...) Aquilo que numa comunidade humana se faz sentir
como impulso à liberdade pode ser revolta contra alguma injustiça presente e assim tornar-
se propício a uma maior evolução cultural, permanecendo compatível com a civilização.
(FREUD, 2013, p. 41)
O movimento natural nos casos em que a liberdade se configurasse como justiça deveria
verter para a reorganização da civilização e correção da injustiça, entretanto, nem sempre é nesse
movimento que a civilidade funciona. A conquista de maior liberdade feminina tem sido tarefa
árdua, lenta, de muitos braços e conquistas em variados campos, que, idealmente, devem culminar
para as modificações no campo do Direito. Freud destaca a necessidade de uma acomodação
conveniente entre as reivindicações dos indivíduos com as reivindicações culturais do grupo.
Grande parte das lutas da humanidade centralizam-se em torno da tarefa única de encontrar
uma acomodação conveniente – isto é, uma acomodação que traga felicidade – entre essa
reivindicação do indivíduo e as reivindicações culturais do grupo, e um dos problemas que
incide sobre o destino da humanidade é o de saber se tal acomodação pode ser alcançada
por meio de alguma forma específica de civilização ou se esse conflito é irreconciliável.
(FREUD, 2013, p. 41)

Ainda que não haja conflito irreconciliável entre a civilização e as reivindicações femininas
e, principalmente, elas estejam de acordo com a exigência primeira da noção civilizatória que é a
ideia de justiça, a modificação de um pensamento injusto difundido socialmente esbarra na
dificuldade da percepção da injustiça entre aqueles que não são diretamente afetados por ela. Nesse
ponto, em diversos cenários, a saída tem sido a sublimação transformada em propulsão para chegar
a um ideal civilizatório mais abrangente através de publicações científicas, artísticas ou filosóficas
que cumprem o papel cultural de evoluir a civilização.
A sublimação do instinto é um traço bastante saliente da evolução cultural; ela torna
possível que atividades psíquicas mais elevadas, científicas, artísticas ou ideológicas,
tenham papel tão significativo na vida civilizada. Cedendo à primeira impressão, seríamos
tentados a dizer que a sublimação é o instinto imposto ao destino pela civilização. (FREUD,
2013, p. 42)
Resguardadas as diferenças da informação difundida através de relato científico (Casos
Clínicos I) ou através do fluxo de consciência da narrativa artística a partir da técnica da onisciência
(Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres), é nítido que o elemento social, a cultura, tem papel
crucial no desenvolvimento da doença em Anna. Em Lóri, todavia, a sociedade em trânsito 8

oferece-lhe possibilidades de realização.


A personagem de Clarice é testemunho da liberdade feminina em fase de transição na
cultura. A pontuação na obra demarca a fase da vida da personagem a que teremos acesso. O
romance “inicia-se” com uma vírgula e “finda-se” com dois pontos, sugerindo que algo veio antes,
algo vem depois; para o narrador, todavia, entre essas demarcações está a parte que mais importa e
à qual teremos acesso. De acordo com Santos (2012), “o início fragmentado indica o ponto de
partida da narrativa e (…) “sugere a existência de um percurso anterior dessa personagem, do qual o
narrador não se ocupa, pois é o momento presente que interessa, indicando uma transformação na
vida dessa mulher”.
Há possíveis e interessantes associações entre Lóri e a escritora que parece ter influenciado
esses escritos femininos de Clarice, a feminista Simone de Beauvoir. Entre as muitas similaridades,
pode-se destacar a família burguesa, o pensamento existencialista, a busca por liberdade, o fato de
serem professoras e terem um companheiro filósofo – com os quais ambas promovem debates sobre
a condição da mulher.
“Qual é o meu valor social, Ulisses? (...) “O de uma mulher desintegrada da sociedade
brasileira de hoje, na burguesia da classe média” (...) “Você acha que ofendo a minha
estrutura social com a minha enorme liberdade?” “Claro que sim, felizmente. Porque você
acaba de sair da prisão como ser livre, e isso ninguém perdoa. (...) E isso provoca o
desencadeamento de muitas outras liberdades, o que é um risco para a tua sociedade.
(LISPECTOR, 2016, p. 140-141)
A arte, de forma geral, é coadjuvante na luta de remodelação do consciente coletivo social.
É o que pode ser exemplificado, mais uma vez, com a história de Anna O e o reconhecimento de

8
Trânsito, para Freire, apresenta-se como um processo de movimento que, embora associado a uma certa
noção de continuidade do ontem, é sobretudo uma ruptura para o estabelecimento de novas concepções.
seu trabalho subsequente como Bertha Pamppenhein, seu ativismo e escrita potentes.
A sublimação da pulsão de Bertha em energia vital que serviu à modificação de uma
sociedade injusta inclui, além da contribuição na Literatura, escritos em que denunciava a situação
social da mulher. A ativista acrescenta um ponto de vista feminino em questões de sua sociedade
como uma suposta “imoralidade” de mulheres na Galícia, reivindica a necessidade da educação
formal para a proteção das mulheres e meninas e denuncia mecanismos da civilização que subjugam
as mulheres e lhes restringem direitos.
Conforme bem delineia Beauvoir (1949-2019), “achar-se situada à margem do mundo não é
posição favorável para quem quer recriá-lo” (p.190). Simone observa que a posição da mulher
passou, ao longo dos séculos XVIII e XIX, da posição de musa a posição de público e,
posteriormente, chegou à posição de escritora, quando consegue intervir em seu destino. Uma
intervenção crucial nessa trajetória feminina na luta por direitos é a do direito à instrução, uma
conquista em grande parte feminina. Reconhecidamente a primeira Assistente Social da Alemanha,
fundadora da Organização de Assistência à Mulher e co-fundadora da Liga das Mulheres Judias,
Bertha Pamppehain é precursora dessas conquistas. (PAVAN, 2020).
Observar que entre as duas personagens em análise neste capítulo situam-se historicamente
os momentos que Louro (2020) chamou de primeira e segunda ondas feministas é uma possível
chave para compreender a mudança social que garante a Lóri o ajuste à cultura. A primeira onda - o
sufragismo - requereu, além do voto, a oportunidade de estudo e acesso a profissões, mas
permaneceu ligada às reivindicações das mulheres brancas da classe média. A segunda onda,
demarcada pela autora com início em torno de 1968, está relacionada à rebeldia e contestação, além
de preocupação com a construção teórica junto às reivindicações sociais e políticas.
Sobre o debate do feminismo na atualidade, Louro (2020) esclarece que o debate precisa se
dar a partir do termo gênero e reivindica a observação de sua construção social como método de
exclusão. Esse cuidado serve, inclusive, para que a ele se articulem aspectos da identidade, com as
condições de cisgênero e transgênero, além de outros aspectos que interseccionam e atravessam os
conceitos, como o racismo e o preconceito de classe, que somatizam exclusões.
É necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais, mas é a forma
como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou pensa
sobre elas que vai construir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada
sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e as relações
de homens e mulheres numa sociedade importa observar não exatamente seus sexos, mas
sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos. O debate vai se constituir, então,
por meio de nova linguagem, na qual gênero será um conceito fundamental. (LOURO,
2020, p. 25)
Pavan (2020) relembra que o debate sobre gênero deve centrar-se em aspectos da atualidade,
mas ressalta a importância de revisitar o passado para entender como se deu a conquista de direitos
e para que não se possa, de maneira alguma, retroceder.
Espero ter demonstrado, neste trabalho, a importância de garantir visibilidade e voz a
mulheres como Bertha Pappenheim. Muito já se alcançou em relação aos direitos das
mulheres quando comparamos nossa época à época retratada nos textos traduzidos neste
trabalho. Bertha Pappenheim, com suas convicções, seus esforços e seus textos, colaborou
para essas conquistas. Especialmente na época em que vivemos, é fundamental lembrar o
passado, aprender com ele, considerar o que já mudou e o que ainda precisa mudar e –
acima de tudo – é fundamental lembrar o passado para não repeti-lo. (PAVAN, 2020, p.
128)

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