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• A palavra histeria está em circulação há mais de dois mil anos. Desde a antiguidade e
em particular com Hipócrates a histeria já era usada para designar perturbações
nervosas em mulheres que não haviam tido gravidez.
• A palavra histeria – histeros, que, em grego, quer dizer útero – ao longo da história
estava ligada de forma indissociável ao feminino e com o sexual.
• Na Idade Média, a histeria passou a ser definida como possessão pelo demônio.
• Existia ainda a suspeita de que o ser humano era dividido num eu consciente, moral e
em alguma outra coisa, problemática, irracional, que precisava ser contida.
Joseph Breuer
• Médico vienense a quem Freud (1910) atribuiu o mérito da Psicanálise. Isso se deve ao
fato de tê-la “praticado” com sua paciente Anna O’, que apresentava diversos
distúrbios histéricos e que atribuía a dissolução de seu quadro clínico mediante à
conversação (talking cure). O método catártico, realizado com essa paciente, exigia
previamente o seu profundo hipnotismo a fim de que as ligações patogênicas que em
condições normais lhe escapavam pudessem ser evidenciadas.
Jean-Martin Charcot
Pierre Janet
Sigmund Freud
• A histeria foi elevada à condição de neurose, ganhando estatuto clínico preciso fora da
dimensão médica, uma vez que a anatomia, a fisiologia e a patologia não integram o
saber capaz de compreendê-la.
• Foi ouvindo as histéricas que Freud construiu a maior parte do edifício psicanalítico. A
primeira grande descoberta deu-se a partir da constatação de que os sintomas
conversivos eram as expressões de representações [Vorstellungen] que estariam em
estado latente (inconsciente) enquanto o sujeito estivesse orientado segundo a lógica
do consciente.
Método catártico:
• Tinha por objetivo proporcionar que a cota de afeto utilizada para manter o sintoma
(que estava ali contida) pudesse ser dirigida para um caminho que finalizasse com a
descarga pela fala. Isso também foi chamado de abreação.
• Freud (1914) considera a teoria de Breuer relativa à histeria muito incompleta por não
tocar no problema da etiologia das neuroses.
• Enquanto Freud acreditava que toda histeria tinha na sua base uma problemática
sexual, Breuer acreditava que a doença não era determinada pelo conteúdo da
lembrança, mas pelo estado psíquico do sujeito no momento do trauma, estado que
ele chamava de hipnóide*.
Freud começa a buscar uma melhora no método, e constata que, unindo o método catártico
de Breuer com o método de repouso de Weir Mitchell* atingia melhores resultados.
• A histeria deve-se a um excesso de excitação que não foi descarregada por via verbal
ou somática, porque a representação psíquica do trauma, ao ter sido impedida de
expressão, torna-se um corpo estranho que atua no psiquismo.
• Do ponto de vista descritivo, a histeria apresenta uma entidade línica definida, com
sintomatologias e traços estruturais próprios.
• Do ponto de vista relacional, reproduz um vínculo doentio com o outro que se repete
na transferência.
A histeria é uma neurose geralmente latente que eclode por ocasião de acontecimentos
marcantes, ou em períodos críticos da vida de um sujeito.
• Consiste na tarefa de saber do próprio paciente algo que se ignorava e que também
ele não sabia. Quando chegava com eles a um ponto em que diziam nada saber mais,
eu lhes assegurava que sabiam, sim, que deviam apenas dizê-lo, e ousava afirmar que
teriam a lembrança correta no momento em que eu pusesse a mão sobre sua testa.
Dessa maneira consegui, sem recorrer à hipnose, saber dos doentes tudo o que era
preciso para estabelecer o nexo entre as cenas patogênicas esquecidas e os sintomas
por elas deixados.
• Descobertas:
• Foi com base na RESISTÊNCIA, Freud baseou sua concepção dos processos psíquicos
da histeria. Para a recuperação do doente, mostrava-se necessário afastar a
resistência, entendida como mecanismo clínico que o leva a supor o RECALQUE que a
sustenta. O recalque cria estratégias para a ideia recalcada não retornar e o sintoma
deflagra a falha do recalque.
Em seu texto “O início do tratamento”, Freud diz ter o hábito de praticar o que chama
de tratamento de ensaio: tratamento psicanalítico de uma ou duas semanas antes do
começo da análise propriamente dita. Isto serviria, segundo ele, para evitar a
interrupção da análise após um certo tempo. Freud não especifica, porém, por que
esse tratamento se interromperia;
Nesse mesmo texto, Freud anuncia que a primeira meta da análise é a de ligar o
paciente ao seu tratamento e à pessoa do analista, sendo mais explícito em relação a
pelo menos uma função desse tratamento de ensaio: a do estabelecimento do
diagnóstico e, em particular, a do diagnóstico diferencial entre neurose e psicose;
A expressão entrevistas preliminares corresponde em Lacan ao tratamento de ensaio
em Freud. Essa expressão indica que existe um limiar, uma porta de entrada na análise
totalmente distinta da porta de entrada do consultório do analista. Trata-se de um
tempo de trabalho prévio, à análise propriamente dita, cuja entrada é concebida não
como continuidade, e sim — como o próprio nome tratamento de ensaio parece
sugerir — como uma descontinuidade, um corte em relação ao que era anterior e
preliminar. Esse corte corresponde a atravessar o umbral dos preliminares para entrar
no discurso analítico. Esse preâmbulo a toda psicanálise é erigido por Lacan em
posição de condição absoluta: “não há entrada em análise sem as entrevistas
preliminares;
Na prática depreendemos, no entanto, que nem sempre é possível demarcar
nitidamente esse umbral da análise. Isto ocorre porque tanto nas entrevistas
preliminares quanto na própria análise o que está em jogo é a associação livre. Temos,
portanto, a indicação de que, nesse momento, a tarefa do analista é apenas a de
relançar o discurso do analisante. Freud, entretanto, dirá que “há razões diagnósticas
para fazer esse tratamento de ensaio”. Este é o momento em que, por princípio, a
questão diagnóstica está em jogo;
As entrevistas preliminares têm a mesma estrutura da análise, mas são distintas desta;
O analista está submetido a esse paradoxo, a partir do qual decidirá se irá ou não
acatar aquela demanda de análise. Do ponto de vista do analista, as entrevistas
preliminares podem ser divididas em dois tempos: um tempo de compreender e um
momento de concluir,2 no qual ele toma sua decisão. É nesse momento de concluir
que se coloca o ato psicanalítico, assumido pelo analista, de transformar o tratamento
de ensaio em análise propriamente dita;
Podemos dividir em três as funções das entrevistas preliminares, cuja distribuição é
antes lógica do que cronológica: 1o — A função sintomal (sinto-mal). 2o — A função
diagnóstica. 3o — A função transferencial;
Quando esse sintoma é transformado em questão, ele aparece como a própria
expressão da divisão do sujeito. É nesse momento que o sintoma, encontrando o
endereço certo que é o analista, se torna sintoma propriamente analítico. É isso que
Lacan quer dizer com a formulação “o analista completa o sintoma” — que
corresponde ao discurso da histérica;
O diagnóstico só tem sentido se servir de orientação para a condução da análise. Para
tanto, o diagnóstico só pode ser buscado no registro simbólico, onde são articuladas as
questões fundamentais do sujeito (sobre o sexo, a morte, a procriação, a paternidade)
quando da travessia do complexo de Édipo: a inscrição do Nome-do-Pai no Outro da
linguagem tem por efeito a produção da significação fálica, permitindo ao sujeito
inscrever-se na partilha dos sexos;
O estabelecimento da transferência é necessário para que uma análise se inicie: é o
que denominamos a função transferencial das entrevistas preliminares. Mas a
transferência não é condicionada ou motivada pelo analista. “Ela está aí, diz Lacan na
‘Proposição’, por graça do analisante. Não temos de dar conta do que a condiciona.
Aqui ela está desde o início.” A transferência não é, portanto, uma função do analista,
mas do analisante. A função do analista é saber utilizá-la;
Leitura também do texto: As cinco lições da psicanálise, ler a parte devido a extensão do
texto.
Atenção Flutuante: modo como o analista deve escutar o analisando. O analista não
deve privilegiar nenhum elemento e deve funcionar o mais livre possível a sua própria
atividade inconsciente;
A técnica rejeita o emprego de qualquer expediente especial (mesmo de tomar notas).
Consiste simplesmente em não dirigir o reparo para algo específico e em manter a
mesma ‘atenção uniformemente suspensa’ (como denominamos) em face de tudo o
que se escuta;
Exceções a esta regra
Nenhuma objeção pode ser levantada a exceções feitas a esta regra, como por
exemplo: datas, sonhos, ou eventos específicos dignos de nota, que podem ser
facilmente destacados de seu contexto.
Diz Freud: Mas tampouco tenho o hábito de fazer isto. Quanto aos exemplos, anoto-
os, de memória, à noite, após o trabalho se encerrar; Quanto aos textos de sonhos a
que dou importância, faço o paciente repeti-los, após havê los relatado, de maneira a
que eu possa fixá-los na mente; Tomar notas durante a sessão com o paciente poderia
ser justificado pela intenção de publicar um estudo científico do caso;
Qual é a atitude correta? A conduta correta para um analista reside em oscilar, de
acordo com a necessidade, de uma atitude mental para outra, em evitar especulação
ou meditação sobre os casos, enquanto eles estão em análise, e em somente
submeter o material obtido a um processo sintético de pensamento após a análise ter
sido concluída;
• Freud anuncia que a primeira meta da análise é a de ligar o paciente ao seu
tratamento e à pessoa do analista;
• Sendo mais explícito em relação a pelo menos uma função desse tratamento de
ensaio: a do estabelecimento do diagnóstico e, em particular, a do diagnóstico
diferencial entre neurose e psicose;
Condição absoluta - “não há entrada em análise sem as entrevistas preliminares”. Na
prática, nem sempre é possível demarcar nitidamente esse umbral da análise. Isto
ocorre por quê? Tanto nas entrevistas preliminares quanto na própria análise o que
está em jogo é a associação livre;
Paradoxo do analista – aceitar ou não aceitar aquela demanda de análise;
A alguém que vem pedir uma análise para se conhecer melhor, a resposta de Lacan é clara
— “eu o despacho”.
Lacan não considera esse “querer se conhecer melhor” como algo que tenha o status de
uma demanda que mereça resposta.
É a partir do simbólico que se pode fazer o diagnóstico diferencial estrutural por meio
dos três modos de negação do Édipo correspondentes às três estruturas clínicas:
- recalque (Verdrängung) do neurótico, nega conservando o elemento no inconsciente
- desmentido (Verleugnung) do perverso, o nega conservando-o no fetiche
- foraclusão (Verwerfung) do psicótico é um modo de negação que não deixa traço ou
vestígio algum: ela não conserva, arrasa.
Os dois modos de negação que conservam implicam a admissão do Édipo no
simbólico, o que não acontece na foraclusão.
O ato analítico - Há um corte que é concretizado pela passagem para o divã, o qual
implica um ato que pode ser significado ao sujeito pela indicação do analista para que
o analisante se deite. Este ato também pode ser interpretado como a manifestação do
analista ao candidato à análise, de que ele o aceita em análise;
Os fenômenos da resistência: É sempre em torno de alguma forma de mudança e
transformação subjetiva que gira a experiência psicanalítica;
O conceito de resistência foi caracterizado ao longo de toda a obra freudiana como
uma força que se manifesta como obstáculo à análise e, principalmente, contra toda e
qualquer mudança ou transformação subjetiva decorrente do tratamento analítico;
Transferência é quando o sujeito envolve o analista em seu processo de análise.
(KAUFMANN, 1996, p. 548)
Para que ela serve? A transferência serve para tirar o sujeito das amarras da realidade
empírica. Ela abre para o sujeito a possibilidade de entrada em uma outra cena.
Como o analista faz a passagem? Por meio de manobras para tirar o sujeito do senso
comum, colocando em cena o objeto, ou seja, o non sense*.
Vimos que a transferência não é um processo que se desenvolve em uma única
direção. Uma das características fundamentais da transferência é a ambiguidade:
- Freud nos alerta sobre esta dupla face da transferência: “... na análise, a transferência surge
como a resistência mais poderosa ao tratamento.” (FREUD. A dinâmica da transferência, p.
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