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Resumão Clínica Psicanalítica AV1

A histeria como paradigma

• A palavra histeria está em circulação há mais de dois mil anos. Desde a antiguidade e
em particular com Hipócrates a histeria já era usada para designar perturbações
nervosas em mulheres que não haviam tido gravidez.

• A palavra histeria – histeros, que, em grego, quer dizer útero – ao longo da história
estava ligada de forma indissociável ao feminino e com o sexual.

• Alguns autores acreditam que a histeria se modifica conforme o contexto sociocultural


vigente em cada época.

• Na Idade Média, a histeria passou a ser definida como possessão pelo demônio.

• No século XIX, tornou-se a ser a doença paradigmática, coincidindo com as profundas


mudanças que afetaram a estrutura familiar sob a pressão da industrialização, quando
os papéis de homens e mulheres se polarizaram como nunca.

• Existia ainda a suspeita de que o ser humano era dividido num eu consciente, moral e
em alguma outra coisa, problemática, irracional, que precisava ser contida.

• Entre os sintomas clássicos das manifestações histéricas encontravam-se: sensação de


sufocação, tosse, paralisia dos membros, desmaios, incapacidades repentinas de falar,
perda de audição, esquecimento de língua materna, vômitos persistentes e
incapacidade de ingerir alimentos.

• Tomar a histeria como paradigma é transformá-la em uma questão através da qual


uma comunidade de pesquisadores e clínicos dedicará suas observações com a
finalidade de esclarecê-la.

• Embora classicamente tenha sido identificada como uma forma de sofrimento


feminina, sobretudo a partir de Charcot, ela foi estendida aos homens.

Joseph Breuer

• Médico vienense a quem Freud (1910) atribuiu o mérito da Psicanálise. Isso se deve ao
fato de tê-la “praticado” com sua paciente Anna O’, que apresentava diversos
distúrbios histéricos e que atribuía a dissolução de seu quadro clínico mediante à
conversação (talking cure). O método catártico, realizado com essa paciente, exigia
previamente o seu profundo hipnotismo a fim de que as ligações patogênicas que em
condições normais lhe escapavam pudessem ser evidenciadas.

Jean-Martin Charcot

• Médico parisiense a quem Freud tornou-se discípulo em 1885 e 1886. Quase ao


mesmo tempo em que Breuer praticava a talking cure, começava em Paris, com as
histéricas da Salpêtrière, as investigações de onde havia de surgir nova concepção da
enfermidade. Entretanto, foi Pierre Janet quem tentou penetrar mais intimamente nos
processos psíquicos particulares da histeria, ao tomar a divisão do psiquismo e a
dissociação da personalidade como ponto central da teoria acerca desse distúrbio.

Pierre Janet

• Fortemente influenciado pelas ideias dominantes na França sobre o papel da


hereditariedade e da degeneração, o que o levara a partir de experiências de
laboratório, o psicólogo e médico parisiense Janet pensou que a histeria fosse uma
forma de alteração degenerativa do sistema nervoso, que se manifestava pela
fraqueza congênita do poder de síntese psíquica. A divisão psíquica era atribuída à
incapacidade inata e os pacientes histéricos seriam, desde o princípio, incapazes de
manter como um todo a multiplicidade dos processos psíquicos, e daí decorria a
dissociação psíquica (FREUD, 1910).

Sigmund Freud

• Diferentemente de Janet, era o trabalho terapêutico, a necessidade prática, que


impelia Freud. O que o fez descrever o aparelho psíquico dinamicamente pelo conflito
de forças mentais contrárias, reconhecendo nele o resultado de uma luta ativa da
parte dos dois agrupamentos psíquicos entre si (FREUD, 1910). Para chegar a essa
concepção dinâmica do aparelho psíquico, precisou prescindir do hipnotismo, o que
tornou possível reconhecer não apenas o mecanismo patogênico da histeria – recalque
–, mas o papel da resistência no trabalho clínico com a neurose (FREUD, 1910).

• A histeria foi elevada à condição de neurose, ganhando estatuto clínico preciso fora da
dimensão médica, uma vez que a anatomia, a fisiologia e a patologia não integram o
saber capaz de compreendê-la.

• Através da “observação” da histeria e, posteriormente, da sua “escuta”, Freud edificou


os fundamentos da Psicanálise cujas pedras angulares suportam-se na pressuposição
da existência de processos psíquicos inconscientes, do reconhecimento da teoria da
resistência e do recalque, da apreciação da importância da sexualidade e do complexo
de Édipo. Esses constituem os principais temas da Psicanálise e os fundamentos de sua
teoria. Aquele que não possa aceitá-los a todos não deve considerar-se a si mesmo
como psicanalista (FREUD, 1910).

• Foi ouvindo as histéricas que Freud construiu a maior parte do edifício psicanalítico. A
primeira grande descoberta deu-se a partir da constatação de que os sintomas
conversivos eram as expressões de representações [Vorstellungen] que estariam em
estado latente (inconsciente) enquanto o sujeito estivesse orientado segundo a lógica
do consciente.

• Essas representações latentes que se expressam sob a forma sintomática o levaram a


postular um nível do aparelho psíquico ao qual dera o nome de inconsciente. Nele se
articulam as representações recalcadas do consciente e que mesmo latentes
trabalham visando à satisfação. O sintoma histérico seria uma satisfação pulsional
substituta que se forma (formação substitutiva ou de compromisso) mediante uma
articulação entre os processos psíquicos consciente e inconsciente e a moral sexual
civilizada.

Breuer e o tratamento da “Anna O.”

Método catártico:

• O paciente era hipnotizado e levado a lembrar-se da história do desenvolvimento de


sua doença.

• O paciente era reconduzido até o momento das primeiras manifestações de seu


sofrimento, ou seja, até a cena traumática, e incentivado a revivê-la de forma
adequada, liberando a reação afetiva necessária e que, na época da vivência do
trauma, por algum motivo, não foi efetivada.

• Tinha por objetivo proporcionar que a cota de afeto utilizada para manter o sintoma
(que estava ali contida) pudesse ser dirigida para um caminho que finalizasse com a
descarga pela fala. Isso também foi chamado de abreação.

• O método catártico, descoberto por Breuer, teve influência fundamental para o


surgimento da Psicanálise. Foi através dele que Freud percebeu a importância da cura
pela fala, o que mais tarde iria se tornar a livre associação.

Divergências entre Breuer e Freud:

• Freud (1914) considera a teoria de Breuer relativa à histeria muito incompleta por não
tocar no problema da etiologia das neuroses.

• Enquanto Freud acreditava que toda histeria tinha na sua base uma problemática
sexual, Breuer acreditava que a doença não era determinada pelo conteúdo da
lembrança, mas pelo estado psíquico do sujeito no momento do trauma, estado que
ele chamava de hipnóide*.

• *O estado hipnóide caracteriza-se por manter o nível de excitação intracerebral em


níveis parecidos aos da vigília, mas o funcionamento representacional tem as
características do estado de sono, ou seja, o decurso associativo é inibido.

Mas ao adotar esse método, Freud deparou-se com duas dificuldades:


1. Nem todas as pessoas podiam ser hipnotizadas;

2. O que caracteriza a histeria e a distingue de outras neuroses, ou seja, o método


catártico era ineficaz quanto à etiologia da histeria, pois só eliminava os sintomas.

Freud começa a buscar uma melhora no método, e constata que, unindo o método catártico
de Breuer com o método de repouso de Weir Mitchell* atingia melhores resultados.

*Esse método combinava repouso no leito, isolamento, alimentação abundante, massagem e


eletricidade, de forma estritamente controlada, para superar os estados de exaustão nervosa
graves e de longa duração.

O PROBLEMA ETIOLÓGICO DA HISTERIA

Inicialmente, Freud formula o problema etiológico da histeria em termos de quantidade de


energia:

• A histeria deve-se a um excesso de excitação que não foi descarregada por via verbal
ou somática, porque a representação psíquica do trauma, ao ter sido impedida de
expressão, torna-se um corpo estranho que atua no psiquismo.

• O afeto como excitação psíquica é convertido em excitação somática, ou seja, em


sintoma corporal.

• Do ponto de vista descritivo, a histeria apresenta uma entidade línica definida, com
sintomatologias e traços estruturais próprios.

• Do ponto de vista relacional, reproduz um vínculo doentio com o outro que se repete
na transferência.

A histeria é uma neurose geralmente latente que eclode por ocasião de acontecimentos
marcantes, ou em períodos críticos da vida de um sujeito.

• É possível pensar a histeria como o teatro da subjetividade, como um fundamento da


construção subjetiva que tem necessariamente seu eixo na ênfase da relação com o
outro.

• O sofrimento histérico expressa-se, principalmente, através de sintomas corporais


que, em sua maioria, são transitórios, não resultam de nenhuma causa orgânica e que,
em sua localização corporal, não obedecem a nenhuma lei anatômica ou fisiológica.

• Construção do método psicanalítico:

• Pré-psicanálise: método catártico com hipnose.

• Consiste em possibilitar que o paciente possa rememorar a ideia dissociada do afeto


de modo a convergi-los através da fala. Todo esse trabalho era realizado sob hipnose e
ativado pelas sugestões do médico.

• Bernheim (abre caminhos para a regra fundamental).


• Psicanálise: método psicanalítico sem hipnose.

• Consiste na tarefa de saber do próprio paciente algo que se ignorava e que também
ele não sabia. Quando chegava com eles a um ponto em que diziam nada saber mais,
eu lhes assegurava que sabiam, sim, que deviam apenas dizê-lo, e ousava afirmar que
teriam a lembrança correta no momento em que eu pusesse a mão sobre sua testa.
Dessa maneira consegui, sem recorrer à hipnose, saber dos doentes tudo o que era
preciso para estabelecer o nexo entre as cenas patogênicas esquecidas e os sintomas
por elas deixados.

• Descobertas:

• “As lembranças esquecidas não se achavam perdidas. Estavam em poder do doente e


prontas para emergir em associação com o que ainda sabia, mas alguma força as
impedia de se tornarem conscientes, obrigava-as a permanecer inconscientes”
(FREUD, 1910, p. 240). Essa descoberta levou à RESISTÊNCIA.

• Foi com base na RESISTÊNCIA, Freud baseou sua concepção dos processos psíquicos
da histeria. Para a recuperação do doente, mostrava-se necessário afastar a
resistência, entendida como mecanismo clínico que o leva a supor o RECALQUE que a
sustenta. O recalque cria estratégias para a ideia recalcada não retornar e o sintoma
deflagra a falha do recalque.

Caracterização da clínica freudiana

A regra fundamental ou regra da livre associação

• Foi intitulada pelo próprio Freud como a regra fundamental da Psicanálise;

• É uma das vias de acesso ao inconsciente.

NO QUE CONSISTE E QUAIS AS SUAS VANTAGENS CLÍNICAS:

• Trata-se do compromisso assumido pelo paciente de comunicar ao analista tudo o que


lhe vier à mente, independentemente de ordenamento lógico-gramatical, de suas
inibições ou do fato de acreditar que seus pensamentos não portam conteúdo
significativo.

• Apesar de tê-la desenvolvido a partir da sua utilização da hipnose, da sugestão e do


método catártico (período pré-psicanalítico), foi a partir do refinamento de sua escuta
clínica que elaborou a regra fundamental utilizando-a no caso clínico de Emmy von N.

• Esse refinamento da técnica psicanalítica possibilitou o acesso do material recalcado,


de natureza inconsciente, para a consciência, possibilitando, portanto, a sua revelação
e a dissolução dos sintomas.
Resumo Livro: Fundamentos da clínica psicanalítica.

Capítulo – Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico

 Pois assim que afiamos a atenção intencionalmente até um determinado ponto,


começamos a selecionar em meio ao material apresentado; fixamos uma parte de
maneira bastante acurada, eliminando outra em seu lugar e, nessa seleção seguimos
as nossas expectativas, corremos o risco de nunca encontrarmos algo diferente
daquilo que já sabemos; se seguirmos as nossas inclinações, certamente falsificaremos
a possível percepção. Não nos esqueçamos de que em geral ouvimos coisas cuja
importância só se revelará a posteriori;
 Confusões com o material de outros pacientes são bastante raras;
 Não recomendo fazer anotações de grande extensão nas sessões com o analisando,
nem fazer registros da sessão e assemelhados. Além da impressão desfavorável que
isso causa em alguns pacientes, valem, por sua vez, os mesmos aspectos que
destacamos na memorização;
 A anotação durante a sessão com o paciente se justificaria a partir da intenção de
tornar o caso tratado o objeto de uma publicação científica. Isso dificilmente seria
recusado;
 Os casos que mais têm sucesso são aqueles em que procedemos quase sem intenção,
nos surpreendendo com cada mudança de rumo e com que nos defrontamos sempre
desarmados e sem preconcepções;
 O comportamento correto do analista consiste em se alçar de uma configuração
psíquica para a outra, se preciso for não especular e meditar enquanto analisa e só
submeter o material obtido ao trabalho sintético do pensamento após terminada a
análise;
 O médico não poderá tolerar quaisquer resistências dentro de si próprio, resistências
estas que afastaram de seu consciente aquilo que foi reconhecido pelo seu
inconsciente, cada recalque não resolvido do médico corresponde, de acordo com a
expressão precisa de Wilhelm Stekel, a um “ponto cego” em sua percepção analítica;
 O médico precisa ser opaco para o analisando e, assim como uma superfície
espelhada, não deve mostrar nada além daquilo que lhe é mostrado;
 Atenção equiflutuante – O adjetivo gleichschwebend, para além da mera questão da
flutuação, designa as pequenas batidas de asa suficientes para que um pássaro possa
planar. É esse tipo de atenção que Freud recomenda aos analistas, suficiente para
que o analista possa escutar, sem seleção prévia, as associações livres do analisando;

Capítulo – Sobre a dinâmica da transferência

 As peculiaridades da transferência para o médico, ultrapassando a medida e o tipo


daquilo que se justificaria de forma sóbria e racional, será compreensível a partir da
consideração de que, justamente, não foram apenas as representações de
expectativas conscientes, mas também as retidas ou inconscientes que produziram tal
transferência;
 Sobre essa conduta da transferência nada mais haveria a dizer ou pensar, se não
houvesse ai dois pontos ainda obscuros, que são de especial interesse para o
psicanalista. Primeiro, não entendemos por que a transferência no caso de pessoas
neuróticas é tão mais intensa na análise do que nas outras pessoas, não analisadas;
segundo, permanece uma incógnita o motivo de ser a transferência, na análise a mais
forte resistência contra o tratamento, enquanto fora da análise temos de reconhecê-la
como portadora do efeito de cura e condição para o sucesso do tratamento;
 Assim, no tratamento analítico, a transferência parece-nos surgir primeiro apenas
como a arma mais poderosa da resistência, e podemos concluir que a intensidade e a
duração da transferência são um efeito e uma expressão da resistência. O mecanismo
da transferência, é bem verdade, resolve-se a partir de seu retorno à disponibilidade
da libido, que permaneceu em posse de imagos infantis; o esclarecimento de seu
papel no tratamento, porém, só funciona se abordarmos os seus vínculos com a
resistência;
 É inegável que o controle dos fenômenos da transferência oferece as maiores
dificuldades para o psicanalista, mas não esqueçamos que são justamente elas que nos
prestam o inestimável serviço de tornar manifestas e atuais as moções amorosas
ocultas e esquecidas dos pacientes, pois, afinal, ninguém pode ser abatido;
 O fenômeno da transferência é um dos pilares do tratamento analítico;

Livro 4+1 – Condições da Psicanálise

Capítulo 1 - As funções das entrevistas preliminares

 Em seu texto “O início do tratamento”, Freud diz ter o hábito de praticar o que chama
de tratamento de ensaio: tratamento psicanalítico de uma ou duas semanas antes do
começo da análise propriamente dita. Isto serviria, segundo ele, para evitar a
interrupção da análise após um certo tempo. Freud não especifica, porém, por que
esse tratamento se interromperia;
 Nesse mesmo texto, Freud anuncia que a primeira meta da análise é a de ligar o
paciente ao seu tratamento e à pessoa do analista, sendo mais explícito em relação a
pelo menos uma função desse tratamento de ensaio: a do estabelecimento do
diagnóstico e, em particular, a do diagnóstico diferencial entre neurose e psicose;
 A expressão entrevistas preliminares corresponde em Lacan ao tratamento de ensaio
em Freud. Essa expressão indica que existe um limiar, uma porta de entrada na análise
totalmente distinta da porta de entrada do consultório do analista. Trata-se de um
tempo de trabalho prévio, à análise propriamente dita, cuja entrada é concebida não
como continuidade, e sim — como o próprio nome tratamento de ensaio parece
sugerir — como uma descontinuidade, um corte em relação ao que era anterior e
preliminar. Esse corte corresponde a atravessar o umbral dos preliminares para entrar
no discurso analítico. Esse preâmbulo a toda psicanálise é erigido por Lacan em
posição de condição absoluta: “não há entrada em análise sem as entrevistas
preliminares;
 Na prática depreendemos, no entanto, que nem sempre é possível demarcar
nitidamente esse umbral da análise. Isto ocorre porque tanto nas entrevistas
preliminares quanto na própria análise o que está em jogo é a associação livre. Temos,
portanto, a indicação de que, nesse momento, a tarefa do analista é apenas a de
relançar o discurso do analisante. Freud, entretanto, dirá que “há razões diagnósticas
para fazer esse tratamento de ensaio”. Este é o momento em que, por princípio, a
questão diagnóstica está em jogo;
 As entrevistas preliminares têm a mesma estrutura da análise, mas são distintas desta;
 O analista está submetido a esse paradoxo, a partir do qual decidirá se irá ou não
acatar aquela demanda de análise. Do ponto de vista do analista, as entrevistas
preliminares podem ser divididas em dois tempos: um tempo de compreender e um
momento de concluir,2 no qual ele toma sua decisão. É nesse momento de concluir
que se coloca o ato psicanalítico, assumido pelo analista, de transformar o tratamento
de ensaio em análise propriamente dita;
 Podemos dividir em três as funções das entrevistas preliminares, cuja distribuição é
antes lógica do que cronológica: 1o — A função sintomal (sinto-mal). 2o — A função
diagnóstica. 3o — A função transferencial;
 Quando esse sintoma é transformado em questão, ele aparece como a própria
expressão da divisão do sujeito. É nesse momento que o sintoma, encontrando o
endereço certo que é o analista, se torna sintoma propriamente analítico. É isso que
Lacan quer dizer com a formulação “o analista completa o sintoma” — que
corresponde ao discurso da histérica;
 O diagnóstico só tem sentido se servir de orientação para a condução da análise. Para
tanto, o diagnóstico só pode ser buscado no registro simbólico, onde são articuladas as
questões fundamentais do sujeito (sobre o sexo, a morte, a procriação, a paternidade)
quando da travessia do complexo de Édipo: a inscrição do Nome-do-Pai no Outro da
linguagem tem por efeito a produção da significação fálica, permitindo ao sujeito
inscrever-se na partilha dos sexos;
 O estabelecimento da transferência é necessário para que uma análise se inicie: é o
que denominamos a função transferencial das entrevistas preliminares. Mas a
transferência não é condicionada ou motivada pelo analista. “Ela está aí, diz Lacan na
‘Proposição’, por graça do analisante. Não temos de dar conta do que a condiciona.
Aqui ela está desde o início.” A transferência não é, portanto, uma função do analista,
mas do analisante. A função do analista é saber utilizá-la;

Leitura também do texto: As cinco lições da psicanálise, ler a parte devido a extensão do
texto.

RESUMO SLIDES DO SIA


 O famoso caso Anna O. influenciou Freud enormemente na criação de uma nova
técnica de investigação e tratamento da histeria – a livre associação – e,
consequentemente, na descoberta da Psicanálise. A partir do caso Anna O., Breuer
passou a utilizar a hipnose de forma diferente da usada na época, para fazer surgir
a origem dos sintomas;
 Método catártico — este método objetivava proporcionar que a cota de afeto
utilizada para manter o sintoma (que estava ali contida) pudesse ser dirigida para
um caminho que finalizasse com a descarga pela fala. Isso também foi chamado de
abreação.

 Conversão – a carga de afeto ligada à ideia é transformada em sintoma somático.


Surgimento abrupto de sintomas físicos (paralisias, anestesias, cegueira) de origem
psicogênica. Ocorre geralmente em situações estressantes, de ameaça ou conflito
intrapsíquico ou interpessoal significativos para o indivíduo. A conversão expressa a
representação simbólica de um conflito psíquico em termos de manifestações
motoras. Frequente na histeria e no transtorno de personalidade histriônica.

 Pode ser conceituada como o compromisso assumido pelo paciente de comunicar ao


analista tudo o que lhe vier à mente, independentemente de suas inibições ou do fato
de achá-las insignificantes ou não. Freud desenvolveu a técnica da associação livre
gradualmente a partir da hipnose, da sugestão e do método catártico.
 Embora a técnica da associação livre tenha passado por diferentes descrições, ao
longo da obra de Freud, ela permaneceu praticamente inalterada e continuou sendo
considerada um dos principais meios de acesso ao material inconsciente;

 Atenção Flutuante: modo como o analista deve escutar o analisando. O analista não
deve privilegiar nenhum elemento e deve funcionar o mais livre possível a sua própria
atividade inconsciente;
 A técnica rejeita o emprego de qualquer expediente especial (mesmo de tomar notas).
Consiste simplesmente em não dirigir o reparo para algo específico e em manter a
mesma ‘atenção uniformemente suspensa’ (como denominamos) em face de tudo o
que se escuta;
 Exceções a esta regra
Nenhuma objeção pode ser levantada a exceções feitas a esta regra, como por
exemplo: datas, sonhos, ou eventos específicos dignos de nota, que podem ser
facilmente destacados de seu contexto.
Diz Freud: Mas tampouco tenho o hábito de fazer isto. Quanto aos exemplos, anoto-
os, de memória, à noite, após o trabalho se encerrar; Quanto aos textos de sonhos a
que dou importância, faço o paciente repeti-los, após havê los relatado, de maneira a
que eu possa fixá-los na mente; Tomar notas durante a sessão com o paciente poderia
ser justificado pela intenção de publicar um estudo científico do caso;
 Qual é a atitude correta? A conduta correta para um analista reside em oscilar, de
acordo com a necessidade, de uma atitude mental para outra, em evitar especulação
ou meditação sobre os casos, enquanto eles estão em análise, e em somente
submeter o material obtido a um processo sintético de pensamento após a análise ter
sido concluída;
• Freud anuncia que a primeira meta da análise é a de ligar o paciente ao seu
tratamento e à pessoa do analista;

• Sendo mais explícito em relação a pelo menos uma função desse tratamento de
ensaio: a do estabelecimento do diagnóstico e, em particular, a do diagnóstico
diferencial entre neurose e psicose;
 Condição absoluta - “não há entrada em análise sem as entrevistas preliminares”. Na
prática, nem sempre é possível demarcar nitidamente esse umbral da análise. Isto
ocorre por quê? Tanto nas entrevistas preliminares quanto na própria análise o que
está em jogo é a associação livre;
 Paradoxo do analista – aceitar ou não aceitar aquela demanda de análise;

A alguém que vem pedir uma análise para se conhecer melhor, a resposta de Lacan é clara
— “eu o despacho”.

Lacan não considera esse “querer se conhecer melhor” como algo que tenha o status de
uma demanda que mereça resposta.

 É a partir do simbólico que se pode fazer o diagnóstico diferencial estrutural por meio
dos três modos de negação do Édipo correspondentes às três estruturas clínicas:
- recalque (Verdrängung) do neurótico, nega conservando o elemento no inconsciente
- desmentido (Verleugnung) do perverso, o nega conservando-o no fetiche
- foraclusão (Verwerfung) do psicótico é um modo de negação que não deixa traço ou
vestígio algum: ela não conserva, arrasa.
Os dois modos de negação que conservam implicam a admissão do Édipo no
simbólico, o que não acontece na foraclusão.
 O ato analítico - Há um corte que é concretizado pela passagem para o divã, o qual
implica um ato que pode ser significado ao sujeito pela indicação do analista para que
o analisante se deite. Este ato também pode ser interpretado como a manifestação do
analista ao candidato à análise, de que ele o aceita em análise;
 Os fenômenos da resistência: É sempre em torno de alguma forma de mudança e
transformação subjetiva que gira a experiência psicanalítica;
 O conceito de resistência foi caracterizado ao longo de toda a obra freudiana como
uma força que se manifesta como obstáculo à análise e, principalmente, contra toda e
qualquer mudança ou transformação subjetiva decorrente do tratamento analítico;
 Transferência é quando o sujeito envolve o analista em seu processo de análise.
(KAUFMANN, 1996, p. 548)

• O paciente vê no seu analista o retorno – a reencarnação – de algumas figuras


importantes de sua infância ou de seu passado e, consequentemente, a ele transfere
sentimentos e reações que sem dúvida se aplicavam a esse modelo. (CUNHA, 1970, p.
215)

 Para que ela serve? A transferência serve para tirar o sujeito das amarras da realidade
empírica. Ela abre para o sujeito a possibilidade de entrada em uma outra cena.
 Como o analista faz a passagem? Por meio de manobras para tirar o sujeito do senso
comum, colocando em cena o objeto, ou seja, o non sense*.
 Vimos que a transferência não é um processo que se desenvolve em uma única
direção. Uma das características fundamentais da transferência é a ambiguidade:

- Freud nos alerta sobre esta dupla face da transferência: “... na análise, a transferência surge
como a resistência mais poderosa ao tratamento.” (FREUD. A dinâmica da transferência, p.
135)

 Qual a precondição para manejar a transferência? Que o sujeito tenha conseguido


abrir mão do seu narcisismo.
 A Psicanálise fundamentou-se na aposta de que a cura de um sofrimento psíquico
poderia ser conduzida pela palavra;
Análise + interpretações => reconstrução da história individual do sujeito

A análise, junto com as interpretações, tentaria reconstruir a história individual do sujeito


através de uma arqueologia das representações mentais, que tomariam emprestada a
capacidade criadora da interpretação para preencher lacunas das lembranças
rememoradas.

Conclusão: Como fenômeno psíquico, os sonhos são produções e comunicações da


pessoa que sonha. E a interpretação psicanalítica não é do sonho e sim do relato.

Breve resumo material de aulas

 Não é possível fazer o diagnóstico sem transferência;


 A castração é o primeiro trauma vivido;
 O sintoma é um símbolo, uma representação;
 A interpretação é um equívoco, nos trabalhamos para criar os equívocos;
 Tipos clínicos:
- Histeria
- Neurose histérica
- Neurose Obsessiva

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