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O MECANISMO PSÍQUICO DOS FENÔMENOS HISTÉRICOS E A

PSICOTERAPIA DA HISTERIA

Bruno Borelli
Elysa Santa Rosa

A) A classe médica da época falhara em identificar as razões da histeria. Contrariando a


medicina anatomoclínica, a qual considerava que, uma vez que os sintomas estavam no
corpo, logo, a causa também estaria, Freud propôs que as causas da histeria não estavam
no corpo, mas sim na psique e que esta sim era responsável pelos sintomas corporais.
Outro ponto revolucionário foi a sua ideia de inconsciente, o que na época era visto como
especulativo e acientífico, Freud designou como tendo um papel essencial para explicar
a histeria. Não obstante, o inconsciente não era irascível, desorganizado ou improdutivo,
mas sim o contrário, Freud ainda demonstra a revolução de que, este, possui uma
inteligência, é organizado e produz associações importantíssimas, muitas vezes, alterando
a consciência, nos casos das histerias dissociativas e o corpo, ideia de psicomatismo, nas
Histerias de Conversão. Ademais, Freud ainda traz, influenciado por Charcot, os métodos
da hipnose para a ciência psicológicas, algo que antes era encarado com charlatanismo e
também demonstrou a importância da fala, neste processo e em seu ulterior, para o
tratamento.

B) O recalcamento é configurado, segundo Freud, como uma espécie de estrangulamento


ou barreira na qual a lembrança do evento traumático, conjuntamente com o seu afeto não
ab-reagido, ficam inacessíveis ao inconsciente, isto é, ficam resguardadas no
inconsciente. O Recalcamento, portanto, é um mecanismo de defesa sobre estas
lembranças, as quais, ligadas ao seu afeto não ab-reagido, são protegidas da consciência.

C) A frase “Os histéricos sofrem principalmente de reminiscências” escrita por Freud,


refere-se aos sintomas da Histeria, estes, são tentativas do organismo de lidar com as
lembranças recalcadas e liberar o afeto. Portanto, podemos dizer, que os histéricos sofrem,
em seus sintomas, exatamente por suas reminiscências ou lembranças;

D) O afeto tem um papel de extrema importância nos traumas psiquícos, pois o excesso
do mesmo é o que leva uma lembrança a se tornar um evento traumático. Caso não haja
uma reação, como chorar, se vingar ou falar sobre o ocorrido, o vínculo entre esse excesso
de afeto e a lembraça permanecerá. Quando o indivíduo não é capaz de agir, a linguagem
pode entrar como substituta. Freud então percebe que a hipnose já não é mais necessária,
visto que a fala do paciente também permite acessar o inconsciente, pois é por meio da
linguagem que ocorre a internalização e externalização dos eventos.

E) Charcot denominou quatro fases de um ataque histérico, sendo elas: 1- fase epilóide,
2- fase dos movimentos amplos, 3- fase das atittudes passionnelles (alucionatória) e 4-
fase do delírio terminal. É levado em conta a terceira fase, que é quando acontece uma
reprodução alucinatória da lembrança de um trauma ou uma série de traumas que estão
interligados. Então, o ataque histérico teria origem na lembrança de algum evento em que
a pessoa não pode ter uma reação para descarregar o afeto, ou seja, um evento traumático.
Os movimentos (mexer pernas e braços etc.) que a pessoa fazia durante um ataque
histérico, poderia ser considerado como uma forma de reagir ao afeto da lembrança que
está sendo reproduzida. Já a epilepsia teria como etiologia fatores motores e a fase de
atittudes passionnelles não estaria presente.

F) A resistência é percebida e compreendida por Freud como uma defesa, uma repulsa
por parte do ego, que impede a lembrança do evento traumático, em que a pessoa não
pode reagir e gerou um excesso de afeto, de chegar até a memória. Quando o paciente
afirmava não saber o que lhe causou os sintomas histéricos, na verdade, escolhia,
conscientemente ou não, não querer saber, como uma forma de defesa. Por mais que o
terapeuta insistisse e tentasse extrair uma resposta por meio de diferentes perguntas, o
paciente continuaria afirmando não saber as causas de seus sintomas, afim de evitar sentir
novamente o que havia sentido no momento em que seus sintomas iniciaram.

G) Freud, ao analisar que alguns dos seus pacientes não eram suscetíveis à hipnose,
reajustou o seu método a partir de um artifício técnico: a pressão na testa, nele, ele
sugestionava o paciente, enquanto apertava a sua testa, que lembra-se do evento
traumático. Com isso, Freud percebeu que, mesmo que eles não recordassem da
lembrança traumática em si, expressavam, através da fala, fragmentos aos quais o evento
estava associado. Logo, Freud realizou que o inconsciente não era desorganizado, mas
que sim havia uma inteligência a qual o organizava e produzia associações com outros
conteúdos do inconsciente. Visto que o método hipnótico já não era suficiente em alguns
casos, ele analisou que esse fragmentos constituiam associações as quais conduziam
originalmente ao trauma inicial. Portanto, neste caso, a fala em si já era suficiente para
alcançar a lembrança, o método, dessa forma, já não era mais cirúrgico como antes, mas
sim analítico: traçar as associações até chegar a lembrança recalcada.

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