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A associação livre é uma técnica desenvolvida por Freud, mas de acordo com

Laplanche e Pontalis (2004, p. 38) não foi possível definir uma data exata para a
descoberta desta técnica, porém ela foi obtendo sua evolução entre 1892 e 1898 e
por diversas vertentes. Ao estudar de forma mais profunda sobre a histeria no
período de 1893-1895 Freud vivenciou alguns casos de suma importância para
compreensão dos métodos da psicanálise utilizados para tratamento de
psicopatologias. Antes da Associação livre, Freud encontrou-se com a hipnose,
técnica utilizada pelo Neurologista Jean-Martin Charcot, como tratamento para as
histéricas. Freud no início até concordara com o médico, porém, começou a
especular de que a causa da histeria teria origem em outro âmbito, desconsiderando
o âmbito anatômico e visando a psique.

Procurarei mostrar que pode haver modificação funcional sem lesão


orgânica concomitante, ao menos, sem lesão nitidamente perceptível até a
mais minuciosa análise. Em outros termos, darei um exemplo apropriado de
alteração funcional primitiva; e, para isso, não peço mais que permissão
para passar à área da psicologia, inevitável quando se trata de histeria.
(Freud, 1893, p. 207)

Freud juntamente com Breuer entre 1892 e 1898, em Estudos sobre a


Histeria, experienciou o caso mais emblemático, o de Anna Ó. Considerada por
Freud a primeira paciente pela psicanálise, pois de acordo com a própria, havia sido
curada pela talking cure (cura pela fala). Freud e Breuer divergiam sobre a etiologia
da histeria, enquanto o segundo acreditava se tratar uma patologia biológica, Freud
a definia sua origem psíquica. Breuer primava pelas técnicas hipnóticas e catárticas,
e Freud somatizados no corpo pela histeria, porém, durante o processo terapêutico
de Bertha Pappenheim (chamada Anna Ó), a paciente conquistou um espaço de fala
maior a cada sessão, sendo que a própria se considerou curada pelo que nomeou
da técnica talking cure.

Freud estava ciente da importância de reconstruir os vínculos entre as


associações representacionais. Da mesma forma, a descoberta de uma relação
causal entre essas associações possibilitou-lhe um olhar dinâmico sobre a psique e,
assim, uma intervenção terapêutica. Freud descobriu que, se fizesse com que seus
pacientes trouxessem os conteúdos à análise por conta própria, ele se aproximaria
mais daquilo que estava oculto.
Segundo Laplanche e Pontalis: “Essa ‘liberdade’ acentua-se no caso de não
ser fornecido qualquer ponto de partida. É nesse sentido que se fala de regra de
associação livre como sinônimo de regra fundamental” (2004, p. 39).

Sendo assim, a associação livre visa acessar o inconsciente do paciente,


permitindo que pensamentos, memórias, sentimentos e imagens ocultos ou
reprimidos surjam à consciência. Essa abordagem se baseia na premissa de que
nossos pensamentos conscientes são apenas a ponta do iceberg, enquanto a maior
parte da nossa psique permanece oculta em nosso inconsciente.

Diga, pois, tudo que lhe passa pela mente. Comporte-se como faria, por
exemplo, um passageiro sentado no trem ao lado da janela que descreve
para seu vizinho de passeio como cambia a paisagem em sua vista. Por
último, nunca se esqueça que prometeu sinceridade absoluta, e nunca
omita algo alegando que, por algum motivo, você ache desagradável
comunicá-lo. (Freud, 1913, p. 136)

Durante uma sessão de associação livre, o terapeuta convida o paciente a


falar livremente sobre qualquer pensamento, imagem ou sentimento que venha à
mente, sem censura ou filtragem. O paciente é encorajado a expressar-se
espontaneamente, sem se preocupar com a lógica, a coerência ou o julgamento
social. O objetivo é permitir que conteúdos inconscientes se manifestem, revelando
aspectos ocultos da psique e trazendo à tona possíveis conflitos, traumas ou
desejos reprimidos.

A associação livre pode ocorrer de duas maneiras principais: livremente


verbalizada ou por meio da livre associação de palavras. Na primeira abordagem, o
paciente fala livremente, seguindo seus próprios pensamentos e associações
internas. Na segunda abordagem, o terapeuta apresenta uma palavra ou frase, e o
paciente deve responder com a primeira palavra ou pensamento que vier à mente,
sem censura ou análise racional.

A associação livre pode revelar padrões recorrentes de pensamento, reações


emocionais ou até mesmo revelações surpreendentes sobre o inconsciente do
paciente, promovendo a compreensão e a cura emocional. Sendo assim, diante do
exposto, abordaremos mais sobre a técnica psicanalítica associação livre na
discussão abaixo a partir dos episódios da série “Sessão de Terapia” estudados em
sala de aula.
Fontes:

Laplanche, J., & Pontalis, J-B. (2004) Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.
Wittgenstein, L. (1976). Conversas sobre Freud. In R. Wollheim (Org.). Freud. Rio de Janeiro:
Artenova. (Uma Coletânea de Ensaios Críticos).

CARVALHO, Vitor Orquiza; HONDA, Helio. Fundamentos da associação livre: uma valorização da
técnica da psicanálise. Analytica,  São João del Rei ,  v. 6, n. 10, p. 46-56, jun.  2017 .   Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S231651972017000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  26  maio  2023.

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