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BANCO DE QUESTÕES

Disciplina: LITERATURA
Série: 2 série
Segmento: ENSINO Médio
Semestre: 1°/2010
Elaborador(a): Profª ADRIANA TULLIO

Prezado Professor,

O Banco de Questões se propõe a apresentar ideias que ajudem o professor na elaboração de atividades
a serem realizadas junto a seus alunos. Parte de uma visão de avaliação que acredita em um processo analítico,
pelo qual o professor obtenha dados que o auxiliem na revisão de suas práticas educacionais e tornem o ensino
mais significativo e produtivo.
Os conteúdos são pertinentes ao 1° semestre. Nas questões objetivas há cinco (5) afirmativas. Optou-se
por essa forma de trabalhar com o objetivo de aproximar os alunos dos diversos exames vestibulares que ainda
utilizam em suas provas cinco (5) opções de resposta, assim como o ENEM. Caso o professor prefira trabalhar
apenas com quatro (4), basta eliminar uma das alternativas. As questões estão divididas em níveis de dificuldade
e há, inclusive, questões de vestibulares seriados, cada vez mais comuns em nosso país.
Professor, são vários os caminhos para o uso desse material. Espero que seia fonte de pesquisa, e que o
ajude em seu trabalho.

Um abraço.

Profª Adriana Tullio

1
QUADRO DE CONTEÚDOS

CONTEÚDOS/CAPÍTULOS QUESTÕES
Romantismo: contexto histórico 5, 10.

Romantismo: características 3, 6, 24.


Romantismo: condições de produção /
recepção / formação da consciência 4, 8, 9, 20, 21, 33, 34.
nacional
Romantismo: relato de viagens / e o
7.
mapeamento do território brasileiro
Romantismo: folhetins e telenovelas /
32.
entretenimento
Romantismo em Portugal: autores e obras
11.
(Garret, Herculano, Castelo Branco)
Romantismo no Brasil: poesia (3 gerações) 1, 2.

G. Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves 12, 15.


Romantismo no Brasil: prosa (autores e
obras) => Macedo, Alencar, Taunay, 14, 16, 17, 18, 19.
Guimarães
Extemporâneo: Manuel Antônio de Almeida 22, 23, 31.
Romantismo: o teatro (Martins Pena,
29, 30.
Alencar)
Romantismo X Realismo e Naturalismo 25, 27.

Realismo X Naturalismo 26, 28.


Realismo/Naturalismo em Portugal: Eça de
35.
Queirós
Realismo/Naturalismo no Brasil: Machado
36, 37, 38, 39, 40.
de Assis, Aluísio Azevedo, Raul Pompéia
Figuras de estilo 13.

2
I. QUESTÕES OBJETIVAS

Para responder às questões de 1 e 2, leia o texto a seguir.

UFPB - PSS 2009 - 2ªsérie

Amor: entre o sonho e a realidade

Se te amo, não sei!

Amar! se te amo, não sei.


Oiço aí pronunciar
Essa palavra de modo
Que não sei o que é amar.

Se amar, é sonhar contigo,


Se é pensar, velando, em ti,
Se é ter-te n’alma presente
Todo esquecido de mi!

Se é cobiçar-te, querer-te
Como uma benção dos céus
A ti somente na terra
Como lá em cima a Deus;

Se é dar a vida, o futuro,


Para dizer que te amei:
Amo; porém se te amo
Como oiço dizer, – não sei.
DIAS, Gonçalves. Poesia lírica e indianista. 1. ed. São Paulo: Ática, 2003, p. 199.

QUESTÃO 01 (Descritor: Ler e interpretar o poema romântico.)


Nível de dificuldade: fácil
Assunto: Poesia romântica – sentimentalismo e subjetividade.

Com base na 1ª estrofe do poema, é CORRETO afirmar que o eu lírico

a) tem convicção de que ama, mesmo sem se sentir amado.


b) mostra-se inconstante em relação a seus sentimentos.
c) considera o amor um sentimento indefinível.
d) tem dúvidas acerca do que significa amar.
e) nega a existência do amor.

3
QUESTÃO 02 (Descritor: Interpretar o poema, observando no texto características de conteúdo e forma.)
Nível de dificuldade: médio
Assunto: Poesia romântica => características de forma e conteúdo.

Considerando os traços estilísticos desse poema, identifique com V a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e com
F, a(s) falsa(s):

( ) O poema é lírico, enfocando o amor a partir de uma visão romântica, comparando o ser amado a uma
dádiva dos céus.
( ) O poema apresenta versos de métrica regular (7 sílabas), estruturado em forma de soneto.
( ) O poema caracteriza-se pelo tom subjetivista e sentimentalista, revelando a preocupação do eu lírico com
os seus sentimentos.
( ) O poema foge à estética romântica, fazendo referência de forma explícita ao amor físico.

A sequência correta é:

a) VFVF c) FVVF e) FFVF


b) VFFV d) VVFV

QUESTÃO 03 (Descritor: Conhecer um pouco das matrizes ideológicas do Romantismo e extrair do texto suas
principais ideias.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Matrizes ideológicas do Romantismo.

O primeiro livro romântico brasileiro foi Suspiros Poéticos e Saudades (1836), de Domingos José
Gonçalves de Magalhães (1811-1882). No prólogo da obra (“Lede”), o autor apresenta as concepções ideológicas
da escola romântica. Leia o fragmento a seguir.

LEDE (Prólogo de Suspiros Poéticos e Saudades)


Domingos José Gonçalves de Magalhães

“É um livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares (...) a imaginação vagando no infinito
como um átomo no espaço; ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do
Cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora enfim refletindo sobre a sorte da
Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as
cenas da Natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se
ligam como os anéis de uma cadeia; poesias da alma e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser
julgadas. Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado como
bastão de peregrino, errou de cidade em cidade, de ruína em ruína, como repudiado pelos seus; quem no silêncio
da noite, cansado de fadiga, elevou até a Deus uma alma piedosa, e verteu lágrimas amargas pela injustiça, e
misérias dos homens; quem meditou sobre a instabilidade das coisas da vida, e sobre a ordem providencial que
reina na história da Humanidade, como nossa alma em todas as nossas ações; esse achará um eco de sua alma
nestas folhas que lançamos hoje a seus pés, e um suspiro que se harmonize com o seu suspiro. Para bem se
avaliar esta obra, três coisas releva notar: o fim, o gênero, e a forma. O fim deste Livro, ao menos aquele a que
nos propusemos, que ignoramos se o atingimos, é o de elevar a Poesia à sublime fonte donde ela emana, como o
eflúvio d’água, que da rocha se precipita, e ao seu cume remonta, ou como a reflexão da luz ao corpo luminoso;
vingar ao mesmo tempo a Poesia das profanações do vulgo, indicando apenas no Brasil uma nova estrada aos
futuros engenhos. A Poesia, este aroma d’alma, deve de continuo subir ao Senhor; som acorde da inteligência
deve santificar as virtudes, e amaldiçoar os vícios. O poeta, empunhando a lira da Razão, cumpre-lhe vibrar ‘as
cordas eternas do Santo, do Justo, e do Belo. (...) O poeta sem religião, e sem moral, é como o veneno derramado
na fonte, onde morrem quantos ai procuram aplacar a sede. Ora, nossa religião, nossa moral é aquela que nos
ensinou o Filho de Deus, aquela que civilizou o mundo moderno, aquela que ilumina a Europa, e a América: e só
este bálsamo sagrado devem verter os cânticos dos poetas brasileiros. Uma vez determinado e conhecido o fim, o
gênero se apresenta naturalmente. (...) Quanto à forma, isto é, à construção, por assim dizer, material das
estrofes, e de cada cântico em particular, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se
apresentaram, para não destruir o acento da inspiração.”
MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de. “Lede”, prólogo da obra Suspiros Poéticos e Saudades. In Prólogos
interessantíssimos. Vários Autores. Ministério da Cultura – Fundação Bblioteca Nacional, Departamento Nacional
do Livro.

4
Agora, INTERPRETE as principais ideias do autor e ANALISE as proposições abaixo. Feito isso, assinale
a alternativa CORRETA.

a) A ideia mais importante no texto, presente tanto quando o autor discute aspectos formais quanto de conteúdo, é
a liberdade.
b) O poeta precisa dedicar-se à construção regrada, que prime pela beleza, para “elevar a Poesia à sublime fonte
donde ela emana”.
c) O fim sublime, que santifica a virtude e amaldiçoa os vícios, fica mais longínquo por causa da poesia, dada a
existência de poetas sem religião e sem moral.
d) A preocupação com a definição do gênero dos textos românticos é dispensável: esta surge naturalmente, como
uma decorrência da definição da forma.
e) A ironia é uma característica do trecho: “Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a
campa de um amigo, e armado como bastão de peregrino, errou de cidade em cidade(...)”.

QUESTÃO 04 (Descritor: Perceber o Romantismo como fator decisivo para a consolidação da literatura brasileira,
a partir da formação de uma classe leitora.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Romantismo e consolidação da literatura brasileira.

Os folhetins eram suplementos que faziam parte dos jornais e narravam histórias românticas, cheias de
amores e aventuras, ao gosto da época. Seu sucesso foi importantíssimo para a consolidação da literatura
nacional, pelo grande número de leitores que atingiu, em pleno século XIX. Leia um fragmento de A Moreninha
(1844), de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882).

Os Dois Breves, Branco e Verde (Cap. VII)


“Eu vi a travessa menina hesitar longo tempo entre o desejo de possuir a concha e o receio de ser
molhada pelas vagas; depois pareceu haver tomado uma resolução: o capricho de criança tinha vencido.
(...)
- Tomais este breve, cuja cor exprime a candura da alma daquela menina. Ele contém o vosso camafeu:
se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele belo anjo, dai-lho, a fim de que ela o
guarde com desvelo.
Eu mal compreendi o que o velho queria: ainda maquinalmente entreguei o breve à linda menina, que o
prendeu no cordão de ouro que trazia ao pescoço. Chegou a vez dela. O nosso homem deu-lhe o outro breve,
dizendo:
- Tomai este breve, cuja cor exprime as esperanças do coração daquele menino. Ele contém a vossa
esmeralda: se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele bom anjo, dai-lho, a fim de
que ele o guarde com desvelo.
Minha bela mulher executou a insinuação do velho com prontidão, e eu prendi o breve ao meu pescoço
com uma fita que me deram.
Quando tudo isto estava feito, o velho prosseguiu ainda:
- Ide, meus meninos; crescei e sede felizes! vós olhastes para mim, pobre e miserável, e Deus olhará para
vós... Ah! recebei a bênção de um moribundo! recebi-a e saí para não vê-lo expirar...”
(MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. 5. ed. São Paulo: Ática, 1973, p.47-8)

A partir do texto, e refletindo a ideia de consolidação da literatura brasileira, julgue as assertivas a seguir.

I. Quem faz o relato é o menino envolvido na situação, o que obriga esse narrador-personagem a ser um
observador distanciado.

II. O leitor romântico é exigente, e sente-se confuso, já que ora a personagem feminina é uma menina, ora é uma
mulher.

III. As juras de amor eterno, bem de acordo com o espírito romântico, criavam uma expectativa que agregava cada
vez mais leitores à obra, compondo um grupo legitimador da própria literatura brasileira.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I e II.
b) apenas I e III.
c) apenas II e III.
d) apenas III.
e) I, II e III.
5
QUESTÃO 05 (Descritor: Comparar o conceito de Romantismo do século XIX ao comportamento classificado
como romântico no século XX e analisar as proposições.)
Nível de dificuldade: média a difícil.
Assunto: Conceitos de Romantismo (escola artística, século XIX) e romantismo (comportamento sonhador,
fantasioso).

A rigor, o Romantismo foi um movimento artístico expressivo do século XIX. Porém, nos séculos XX e XXI,
é comum ver-se pessoas sendo classificadas como “românticas”. Pensando nisso, leia a canção a seguir.

O Último Romântico
Lulu Santos, Antônio Cícero e Sérgio Souza

Faltava abandonar a velha escola


Tomar o mundo feito coca-cola
Fazer da minha vida sempre
O meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dela
O meu caminho só
Único
Talvez eu seja
O último romântico
Dos litorais
Desse Oceano Atlântico...
Só falta reunir
A zona norte à zona sul
Iluminar a vida
Já que a morte cai do azul...
Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande
Prá poder chorar...
Me dá um beijo, então
Aperta a minha mão
Tolice é viver a vida
Assim, sem aventura...
Deixa ser
Pelo coração
Se é loucura então
Melhor não ter razão...
Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande
Prá poder chorar...
Me dá um beijo, então
Aperta a minha mão
Tolice é viver a vida
Assim, sem aventura...
Deixa ser
Pelo coração
Se é loucura então
Melhor nem ter razão...
(...)
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
http://letras.terra.com.br/lulu-santos/47141/ - Acesso em 21 de dezembro de 2009.

Feita a leitura da canção, COMPARE as características do “Último romântico” apresentado na letra com as
características do Romantismo (escola literária). Depois, ANALISE as alternativas e assinale a INCORRETA.

6
a) A canção “O Último Romântico” é exemplo de um romântico atual (romantismo – forma de comportamento), que
é diferente de um personagem ou de um eu lírico do Romantismo (escola literária).
b) Por influência da Revolução Francesa (1789), cujo lema era “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, um dos
pilares do Romantismo é a “liberdade”. Isso pode ser provado nos primeiros sete versos da canção.
c) “Já que a morte cai do azul” (verso 15). Os românticos do século XIX viam a morte como uma possibilidade de
evasão. Na canção, pode-se ler que o romântico do século XX pretende aproveitar a vida já que a morte é
inevitável.
d) Os fracassos amorosos, nos textos do século XIX, aparecem carregados do excesso de sentimentalismo e de
subjetividade românticos. Na canção, há um sofrimento mais contido: “Falta eu acordar / Ser gente grande / Prá
poder chorar...”.
e) Uma característica fundamental no Romantismo é a evasão, ou seja, o indivíduo foge de uma situação adversa,
pelos caminhos da morte, da infância, da loucura. O romântico da canção também o faz: “ Deixa ser / Pelo coração
/ Se é loucura então / Melhor não ter razão...”.

QUESTÃO 06 (Descritor: Relacionar texto e afirmação sobre ele.)


Nível de dificuldade: médio
Assunto: Análise de aspectos ideológicos do século XIX presentes nos fragmentos.

Todo momento artístico apresenta uma visão do momento histórico em que se insere.
O século XIX vivenciou muitos eventos importantes: chegada da Família Real, Independência, Abolição,
República, entre outros. Com relação a eles, o olhar do homem sobre sociedade foi mudando com o passar do
tempo.
Leia as assertivas abaixo (todas são fragmentos de textos românticos) e JULGUE se a afirmação proposta
contempla o fragmento literário que a antecede.

I. “(...) precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-
o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer.” ALENCAR, José de. Senhora. 2. ed. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2001. p. 100.
A personagem critica as convenções sociais.

II. “Negras mulheres, suspendendo às tetas / Magras crianças, cujas bocas pretas / Rega o sangue das mães: /
Outras moças, mas nuas e espantadas, / No turbilhão de espectros arrastadas, / Em ânsia e mágoa vãs!” (ALVES,
Castro. “ O navio negreiro”. In Grandes Poemas do Romantismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.
183.
O eu lírico explicita o horror da escravidão.

III. “– Perdi a minha [irmã] muito cedo e fiquei só no mundo, por isso invejo a felicidade daqueles que têm uma
família. Há de ser tão bom a gente se sentir amada sem interesse!” (ALENCAR, José de. Lucíola. 31. ed. Rio de
Janeiro: Ediouro, 1999. p.23.
A personagem critica o amor por interesse.

Está(ão) correta(s):

a) apenas I e II.
b) apenas II e III.
c) apenas II.
d) apenas I e III.
e) I, II e III.

7
QUESTÃO 07 (Descritor: Ler nas imagens de uma artista o período em que elas foram produzidas, com seus
costumes e realidade social.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Caracterizar o contexto sociocultural do romantismo brasileiro.

O pintor francês Jean Baptiste Debret (1768-1848) viajou pelo Brasil no século XIX, mais precisamente
entre 1816 e 1831. Suas telas são impressões dos costumes, da vida do Brasil desse período. Sobre ele diz
Visconde de Taunay (1843-1899), autor da obra Inocência (1872):
“Sem ele [Debret], não teríamos uma documentação tão sólida, tão abundante e verdadeira do meio social
e da paisagem humana da época. Os estudos, os seus quadros, os seus desenhos revelam uma terra dum
pitoresco, dum motivo sociológico imenso e onde os historiadores e artistas muito têm que aprender, porque
Debret, a par da técnica, que é cheia de encanto e interesse, prende ainda pela novidade, pela curiosidade dos
temas tratados. Os pesquisadores podem assim ver facilmente os costumes do Brasil, de uma guerra que
madrugava para a civilização.”
(DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 2008, p.24.)

1. 2.

3. 4.

5. 6.

(DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 2008)

8
Considerando o texto de Taunay e as imagens de Debret, avalie as assertivas a seguir.

I. A terceira imagem traz uma pompa monárquica, ausente na Corte carioca. Além disso, há algo de ilusório no
escravo que caminha atrás de seus senhores (imagem 2), sem aproveitar a possibilidade de fuga, o que contradiz
o caráter documental da obra.

II. Visconde de Taunay fala sobre “uma documentação tão sólida, tão abundante e verdadeira”, e de “motivo
sociológico imenso”. As imagens de Debret mostram negros e brancos interagindo de uma forma já bastante
comum no Rio de Janeiro do século XIX.

III. Pode-se considerar a obra de Debret como uma “obra de viagens”, visto que nela representa elementos que
conheceu durante o período em que viveu no Brasil. As telas 5 e 6, por exemplo, trazem imagens corriqueiras,
como crianças brincando e soldados conversando.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I e II.
b) apenas I e III.
c) apenas II e III.
d) apenas III.
e) I, II e III.

QUESTÃO 08 (Descritor: Relacionar dois textos de tipos diferentes e analisar alternativas críticas sobre eles.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Romantismo e formação da consciência nacional.

TEXTO I
O CAÇADOR

Pela margem do grande rio caminha Jaguarê, o jovem caçador. O arco pende-lhe ao ombro, esquecido e
inútil. As flechas dormem no coldre da uiraçaba. Os veados saltam das moitas de ubaia e vêm retouçar na grama,
zombando do caçador.
Jaguarê não vê o tímido campeiro, seus olhos buscam um inimigo capaz de resistir-lhe ao braço robusto.
O rugido do jaguar abala a floresta; mas o caçador também despreza o jaguar, que já cansou de vencer.
Ele chama-se Jaguarê, o mais feroz jaguar da floresta; os outros fogem espavoridos quando de longe o
pressentem.
Não é esse o inimigo que procura, porém outro mais terrível para vencê-lo em combate de morte e ganhar
nome de guerra. Jaguarê chegou à idade em que o mancebo troca a fama do caçador pela glória do guerreiro.
Para ser aclamado guerreiro por sua nação é preciso que o jovem caçador conquiste esse título por uma
grande façanha.
(ALENCAR, José de. Ubirajara. 18. ed. São Paulo: Ática, 2000, p. 15)

TEXTO II

“Buscar as raízes da nossa história e valorizar o passado era, como já vimos, um modo de sublinhar a
ruptura com a ex-mãe-pátria. A influência de Portugal, depois de três séculos de colonização, era profunda e
radicada, e não era fácil, de um momento para outro, definir uma identidade própria (...). O processo de
diferenciação assumiu o peso de um projeto político, já que o Romantismo exerceu, no âmbito cultural, o mesmo
papel que a independência desenvolveu no âmbito político.
(...)
Quanto a José de Alencar, (...) particularmente crítico em relação às interpretações arbitrárias dos
costumes aborígenes, devemos acrescentar que ele não escapa à tendência geral de idealização do autóctone.
Os vários estudiosos de sua obra sublinharam, frequentemente, que nela o índio aparece como uma figura mais
lendária do que histórica.”
(OLIVEIRA, Vera Lúcia de. Poesia, mito e história do Modernismo brasileiro. São Paulo: UNESP; Blumenau:
FURB, 2002. A reabilitação romântica do índio. P. 48-50. – fragmento.)

9
Leia os textos atentamente, RELACIONE-OS e, sobre eles, assinale a alternativa CORRETA.

a) Dada a sua criticidade em relação aos costumes aborígenes, José de Alencar os representa da forma como são
e como vivem, o que é comprovado pelo texto I, quando Jaguaré sai a caçar.
b) Segundo o texto II, o Romantismo está para a cultura assim como a independência está para a política. Em
ambos os casos, a figura dos heróis tem suma importância, como aquilo que Jaguaré procura ser.
c) Pode-se inferir dos textos I e II que a consciência nacional proposta no período passa pela idealização do
indígena como herói, tendência à qual José de Alencar se opõe.
d) A influência portuguesa era enorme, e precisava ser afastada. Porém, mais do que a figura do índio, o texto II
mostra que o indivíduo do interior (sertanejo, gaúcho...) também precisava ser valorizado.
e) Jaguaré vive um rito de passagem, que José de Alencar, “particularmente crítico em relação às interpretações
arbitrárias dos costumes aborígenes”, questiona em sua própria obra.

QUESTÃO 09 (Descritor: Analisar as características românticas presentes nos textos, e relacioná-las às


assertivas críticas apresentadas sobre eles.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Relacionar a visão de mundo romântica às modificações sociais, econômicas, políticas, e culturais da
época.

Para contemplar diferentes aspectos ideológicos do século XIX, houve quatro tipos de romances. Observe:

I. Romance indianista-histórico: O Guarani.

A CAÇADA
Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho tronco
decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade.
Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa
de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um
junco selvagem.
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor do cobre, brilhava com reflexos dourados; os cabelos
pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila
negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco oval
a beleza inculta da graça, da força e da inteligência.
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam do lado esquerdo duas plumas
matizadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham rogar com as pontas negras o pescoço flexível. Era de
alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e nervosa, ornada com uma axorca de frutos amarelos,
apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida.
Segurava o arco e as flechas com a mão direita calda, e com a esquerda mantinha verticalmente diante de
si um longo forcado de pau enegrecido pelo fogo. Perto dele estava atirada ao chão uma clavina tauxiada, uma
pequena bolsa de couro que devia conter munições, e uma rica faca flamenga, cujo uso foi depois proibido em
Portugal e no Brasil.
Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de folhas que se elevava a vinte passos de
distancia, e se agitava imperceptivelmente. Ali por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de um
dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brilhar na sombra dois raios vítreos e pálidos, que
semelhavam os reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol. Era uma onça enorme; de garras
apoiadas sobre um grosso ramo de árvore, e pés suspensos no galho superior, encolhia o corpo, preparando o
salto gigantesco.
(ALENCAR, José de. O Guarani. 20. ed. São Paulo: Ática, 1996).

II. Romance regionalista: O Gaúcho.

II. O VIAJANTE
— A modo que estou conhecendo ao senhor? acudiu ele.
— Pode ser, chamo-me Manuel Canho, para o servir.
— Outro tanto; Francisco da Graça, mas todos me conhecem por Chico Baeta, um seu criado. Seu nome
não me é estranho. Manuel Canho... De Ponche-Verde?
— Isso mesmo.
— Bem dizia eu. Agora me alembro; foi em umas corridas no Alegrete, há coisa assim como dois anos a
esta parte. O senhor não esteve lá?
— Fui um dos que correram.
— Bem sei; e ganhou aos vencedores. Pois é isso, que eu tinha cá na idéia. E querem ver?
Proferindo estas palavras, o Chico Baeta afastou-se do morzelo para melhor examiná-lo.
10
— Não há dúvida. Foi este o moço?
— É verdade!
— Eh pingo! exclamou o peão, dando com entusiasmo uma palmada na anca do animal.
Só compreenderá a energia da exclamação do Chico Baeta quem souber que pingo é o epíteto mais terno
que o gaúcho dá a seu cavalo. Quando ele diz “meu pingo” é como se dissesse meu amigo do coração, meu
amigo leal e generoso.
— Que faísca! Sr. Manuel Canho. Enquanto os outros ginetes, e os havia de fama, levantavam a poama
na quadra, cá o morzelinho fez trás, zás, e fuzilou na raia como um corisco.
Canho estava gostando de ouvir o elogio feito a seu animal: o cavalo é uma das fibras mais sensíveis do
coração do gaúcho. Mas alguma coisa instigava o viajante, que fazendo um esforço interrompeu o peão.
ALENCAR, José de. O gaúcho. 3. ed. São Paulo: Ática, 1998.

III. Romance Urbano: Diva.


III
Visitando o negociante, vi ao entrar na sala uma linda moça, que não reconheci. Estava só. De pé no vão
da janela cheia de luz, meio reclinada ao peitoril, tinha na mão um livro aberto e lia com atenção.
Não é possível idear nada mais puro e harmonioso do que o perfil dessa estátua de moça. Era alta e
esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados, que são hastes de lírio para o rosto gentil; porém na mesma
delicadeza do porte esculpiam-se os contornos mais graciosos com firme nitidez das linhas e uma deliciosa
suavidade nos relevos.
Não era alva, também não era morena. Tinha sua tez a cor das pétalas da magnólia, quando vão
desfalecendo ao beijo do sol. Mimosa cor de mulher, se a aveluda a pubescência juvenil, e a luz coa pelo fino
tecido, e um sangue puro a escumilha de róseo matiz. A dela era assim.
Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, como diadema cintilando na cabeça de um anjo. Havia em toda a
sua pessoa um quer que fosse de sublime e excelso que a abstraía da terra. Contemplando-a naquele instante de
enlevo, dir-se-ia que ela se preparava para sua celeste ascensão.
Às vezes, porém, a impressão da leitura turbava a serena elação da sua figura, e despertava nela a
mulher. Então desferia alma por todos os poros. Os grandes olhos, velutados de negro, rasgavam-se para
dardejar as centelhas elétricas do nervoso organismo. Nesses momentos toda ela era somente coração, porque
toda ela palpitava e sentia.
Eu tinha parado na porta, e admirava: afinal adiantei-me para cumprimentá-la. Ouvindo o rumor dos meus
passos, ela voltou-se.
– Minha senhora!... murmurei inclinando-me.
As cores fugiram-lhe. Ela vestiu-se como de uma túnica lívida e glacial: logo depois sua fisionomia
anuviou-se, e eu vi lampejos fuzilarem naquela densidade de uma cólera súbita. Fulminou-me com um olhar
augusto e desapareceu.
Acreditas, Paulo, que essa moça que te descrevi fosse Emília, a menina feia e desgraciosa que eu deixara
dois anos antes? Que sublime trabalho de florescência animada não realizara a natureza nessa mulher! Emília
teria então dezessete anos.
(ALENCAR, José de. Diva. MINISTÉRIO DA CULTURA – Fundação Biblioteca Nacional, Departamento Nacional
do Livro, p.7)

Sobre os fragmentos acima e a ideologia da época, ANALISE as assertivas a seguir:

I. Através da própria linguagem, José de Alencar, em O Gaúcho, constrói de forma verossímil tanto o espaço
regional – os pampas – quanto a própria personagem – o gaúcho.

II. A beleza, a força, a coragem, a valentia de Peri (personagem do texto II) aproximam-no da figura do cavaleiro
medieval, a qual será resgatada para construir grandes heróis indígenas no Romantismo brasileiro.

III. Em Diva, Alencar trabalha com a idealização da mulher, aspecto importante que, grosso modo, pode-se
observar na valorização do próprio burguês, classe social de prestígio que, muitas vezes, acaba por promover-se
nos textos românticos.

Está (ão) correta (s):


a) apenas I e II.
b) apenas I e III.
c) apenas II e III.
d) apenas I.
e) I, II e III.

11
QUESTÃO 10 (Descritor:Perceber elementos românticos em um texto contemporâneo e em outro do século XIX e
relacionar os fragmentos correspondentes.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Características românticas no século XIX e na contemporaneidade.

Pensando nos conceitos de Romantismo já estudados por você, leia o fragmento da canção
contemporânea “Os Outros”, do final do século XX, escrita pelo compositor Leoni (1961-), e um trecho do poema
“Segredo”, do romântico Casimiro de Abreu (1839-1860).

Os Outros
Composição: Leoni
Já conheci muita gente
Gostei de alguns garotos
Mas depois de você
Os outros são os outros
Ninguém pode acreditar
Na gente separado
Eu tenho mil amigos mas você foi
O meu melhor namorado
Procuro evitar comparações
Entre flores e declarações
Eu tento te esquecer
A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender
Depois de você, os outros são os outros e só
(...)
http://letras.terra.com.br/kid-abelha/46816/
Acesso em 08 de dezembro de 2009.

Segredos
Casimiro de Abreu
Eu tenho uns amores - quem é que os não tinha
Nos tempos antigos? - Amar não faz mal;
As almas que sentem paixão como a minha
Que digam, que falem em regra geral.

- A flor dos meus sonhos é moça e bonita


Qual flor entreaberta do dia ao raiar,
Mas onde ela mora, que casa ela habita,
Não quero, não posso, não devo contar!

(...)

- Depois... mas já vejo que vós, meus senhores,


Com fina malícia quereis me enganar.
Aqui faço ponto; - segredos de amores
Não quero, não posso, não devo contar!
Rio - 1857
(Grandes Poemas do Romantismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.)

Como você percebeu, há marcas do Romantismo do século XIX na postura romântica de produções
contemporâneas.
Relacione os trechos destacados nas duas colunas e assinale a sequência CORRETA.

COLUNA I

I. “Já conheci muita gente


Gostei de alguns garotos”

12
II. “(...) mas você foi
O meu melhor namorado”

III. “A minha vida continua


Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender”

COLUNA II

A. “Eu tenho uns amores - quem é que os não tinha


Nos tempos antigos? - Amar não faz mal;”

B. “- A flor dos meus sonhos é moça e bonita


Qual flor entreaberta do dia ao raiar,”

C. “Aqui faço ponto; - segredos de amores


Não quero, não posso, não devo contar!”

D. “As almas que sentem paixão como a minha


Que digam, que falem em regra geral.”

E. “- Depois... mas já vejo que vós, meus senhores,


Com fina malícia quereis me enganar.”

a) I. A; II. D; III. E.
b) I. E; II. B; III. A.
c) I. A; II. B; III. C.
d) I. A; II. C; III. D.
e) I. D; II. B; III. C.

QUESTÃO 11 (Descritor: Interpretar o texto e reconhecer as características românticas nele presentes.)


Nível de dificuldade: médio.
Assunto: Romantismo em Portugal, leitura de fragmento de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.

Em Portugal, Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um dos maiores expoentes do século XIX,
principalmente em relação às obras ultrarromânticas do autor. O argumento de Amor de Perdição, (1862) seu
texto mais famoso, aproxima-se do argumento de Romeu e Julieta (1595), peça teatral do inglês Willian
Shakespeare (1564-1616): dois jovens são impedidos de se relacionarem por causa de brigas entre suas famílias.
Em Amor de Perdição, Simão e Teresa (os protagonistas), vivem a impossibilidade de estarem juntos. A
moça escreve a carta que você lerá de um convento (castigo do pai dela por esta não aceitar casar-se com o
primo, Baltazar Coutinho), para o rapaz, que acabara de ser condenado por ter assassinado Baltazar, ao tentar
impedir que a moça fosse transferida de um convento para outro.

"Simão, meu esposo. Sei tudo... Está conosco a morte. Olha que te escrevo sem lágrimas. A minha agonia
começou há sete meses. Deus é bom, que me poupou ao crime. Ouvi a notícia da tua próxima morte, e então
compreendi porque estou morrendo hora a hora. Aqui está o nosso fim, Simão!... Olha as nossas esperanças!
Quando tu me dizias os teus sonhos de felicidade, e eu te dizia os meus!... Que mal fariam a Deus os nossos
inocentes desejos?!... Por que não merecemos nós o que tanta gente tem?... Assim acabaria tudo, Simão? Não
posso crê-lo! A eternidade apresenta-se-me tenebrosa, porque a esperança era a luz que me guiava de ti para a
fé. Mas não pode findar assim o nosso destino. Vê se podes segurar o último fio da tua vida a uma esperança
qualquer. Ver-nos-emos num outro mundo, Simão? Terei eu merecido a Deus contemplar-te? Eu rezo, suplico,
mas desfaleço na fé quando me lembram as últimas agonias do teu martírio. As minhas são suaves; quase que as
não sinto. Não deve custar a morte a quem tiver o coração tranqüilo. O pior é a saudade, saudade daquelas
esperanças que tu achavas no meu coração, adivinhando as tuas. Não importa, se nada há além desta vida. Ao
menos, morrer. Se tu pudesses viver agora, de que te serviria? Eu também estou condenada, e sem remédio.
Segue-me, Simão! Não tenhas saudades da vida, não tenhas, ainda que a razão te diga que podias ser feliz, se
me não tivesses encontrado no caminho por onde te levei à morte... E que morte, meu Deus!... Aceita-a! Não te
arrependas. Se houver crime, a justiça de Deus te perdoará pelas angústias que tens de sofrer no cárcere... e nos
últimos dias, e na presença da..."
(BRANCO, Camilo Castelo. Amor de Perdição. São Paulo: Scipione, 1994. p.78)

13
São características do ultrarromantismo presentes no texto, EXCETO.

a) Religiosidade.
b) Maniqueísmo.
c) Subjetividade.
d) Evasão.
e) Sentimentalismo.

Para responder às questões de 12 e 13, considere os fragmentos da questão 12.

QUESTÃO 12 (Descritor: Analisar os fragmentos poéticos e relacioná-los aos três grupos temáticos em que se
dividia a poética romântica do século XIX.)
Nível de dificuldade: médio.
Assunto: Principais tendências da poesia brasileira romântica (indianista, mal do século, condoreira).

No Brasil, as gerações românticas são classificadas de acordo com a temática predominante em cada
fase. São três as classificações, as quais estão listadas a seguir.
Então, leia os fragmentos de poemas e CLASSIFIQUE-OS de acordo com as gerações poéticas a que
pertencem.

( I ) nacionalista / indianista ( II ) ultrarromântica ( III ). abolicionista / republicana

1. ( ) “Eu vivo sozinha; ninguém me procura!


Acaso feitura
Não sou de Tupã?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde:
– “Tu és”, me responde,
“Tu és Marabá!”

2. ( ) “E murmurá-lo num jardim de amores;


Quando julgava a natureza minha,
Desdenhava os seus dons: ei-la vingada:
Cedo de vermes rojarei ludíbrio,
E vida alardearão fracos arbustos
Sobre meu lar de morto!”

3. ( ) “Era um sonho dantesco...O tombadilho


que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...”

4. ( ) “Iludimo-nos todos! – Concebemos


Um paraíso eterno:
E quando nele sôfregos tocamos,
Achamos um inferno.”

5. ( ) “Crioula! O teu seio escuro


Nunca deste ao beijo impuro!
Luzidio, firme, duro,
Guardaste-o p’ra um nobre amor,
Negra Diana selvagem,
Que escutas sob a ramagem
As vozes – que traz a aragem
Do teu rijo caçador!...”

14
Todos os fragmentos são oriundos do livro Grandes Poemas do Romantismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1995.

a) 1-I; 2-II; 3-III; 4-III; 5-II.


b) 1-I; 2-II; 3-II; 4-III; 5-I.
c) 1-I; 2-II; 3-III; 4-II; 5-III.
d) 1-II; 2-III; 3-II; 4-II; 5-I.
e) 1-I; 2-III; 3-II; 4-II; 5-I.

QUESTÃO 13 (Descritor: Reconhecer figuras de linguagem nos fragmentos destacados.)


Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Figuras de linguagem – antítese, paradoxo, comparação, hipérbole, gradação.

As figuras de linguagem são alguns dos muitos recursos utilizados pelos escritores em suas produções.
Os versos destacados na primeira coluna foram extraídos dos fragmentos do exercício 12 (se necessário,
retome as estrofes completas). Relacione as colunas e assinale a alternativa que apresenta a sequência
CORRETA.

COLUNA I
I. “Era um sonho dantesco... O tombadilho / (...) / Em sangue a se banhar.”
II. “Legiões de homens negros como a noite, / Horrendos a dançar...”
III. “Um paraíso eterno: / (...) Achamos um inferno.”

COLUNA II
A. antítese.
B. paradoxo.
C. comparação.
D. gradação.
E. hipérbole.

a) I – E; II – C; III – A.
b) I – D; II – C; III – B.
c) I – E; II – A; III – A.
d) I – D; II – A; III – C.
e) I – E; II – B; III – B.

QUESTÃO 14 (Descritor: comparar as figuras femininas construídas nos fragmentos, e reconhecer seus
processos de construção.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Recuperar, a partir da leitura de textos românticos, as formas de representação do imaginário brasileiro
da primeira metade do século XIX.

A arte faz da mulher tema relevante na história e, portanto, em todos os movimentos artísticos. Leia a
descrição de três personagens femininas da prosa romântica brasileira.

Texto I, romance indianista: Iracema, de Iracema (1865), José de Alencar.


“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos
que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito
perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia
a terra com as primeiras águas.”
(ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Scipione, 1994. p.10)

• Texto II, romance urbano: Aurélia, de Senhora (1875), José de Alencar.


“Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro. Era a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes, a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade.
15
Era rica e formosa.
Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem,
como o raio de sol no prisma do diamante.
Quem não se recorda da Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro,
e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor?”
(ALENCAR, José de. Senhora. 2ed. São Paulo: Ediouro, 2001. p. 13)

• Texto III, romance regionalista: Inocência, de Inocência (1872), de Visconde de Taunay.


“Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante.
Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar
sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de
projetarem sombras nas mimosas faces.
Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado.
Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia,
deixando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença.”
(Taunay, Visconde de. Inocência. São Paulo: Ática: São Paulo, 1999. p.39.)

ANALISE cada um dos fragmentos, COMPARE-OS e assinale a alternativa ADEQUADA em relação à


construção da figura feminina.

a) As descrições de Iracema e Aurélia são idealizadas. O fragmento referente à Inocência, porém, traz uma visão
irônica (“Apesar de bastante descorada e um tanto magra”).
b) Iracema é apresentada ao leitor através de comparações da personagem com elementos da natureza. O
mesmo processo de faz com a personagem Inocência.
c) O trecho “Tornou-se a deusa dos bailes, a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. ”, no texto
II, não é representativo da visão de mundo da época do século XIX.
d) Embora os fragmentos tragam personagens femininas de espaços diferentes (floresta, cidade, fazenda), a
presença da idealização, em todos eles, é constante.
e) Em cada um de seus espaços (apresentados pelos tipos de romances em que surgiram – indianista, urbano,
regionalista), as personagens descritas representam mulheres reais.

QUESTÃO 15 (Descritor: Fazer, no poema, o estudo dos aspectos formais e dos temas desenvolvidos pelos
poetas românticos brasileiros.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Estudo dos aspectos formais e dos temas desenvolvidos pelos poetas românticos brasileiros.

A ideia de liberdade perpassa as produções românticas, tanto em termos de forma quanto de conteúdo.
Castro Alves (1847-1871), em sua lírica amorosa, por vezes traz elementos de morbidez da segunda fase do
Romantismo brasileiro. Leia um fragmento do poema “Mocidade e Morte”.

Mocidade e Morte
Castro Alves

Oh! Eu quero viver, beber perfumes


Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
Árabe errante, vou dormir à tarde
A sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma vez responde-me sombria:


Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer... quando este mundo é um paraíso,


E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher-camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas.
16
Minh'alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas...

E a mesma vez repete-me terrível,


Com gargalhar sarcástico: — impossível!

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.


Vejo além um futuro radiante:
Avante! — brada-me o talento n'alma
E o eco ao longe me repete - avante!—
O futuro... o futuro... no seu seio...
Entre louros e bênçãos dorme a glória
Após um nome do universo n'alma,
Um nome escrito no Panteon da história.

E a mesma voz repete funerária: —


Teu Panteon – a pedra mortuária!

(fragmento)

(Grandes Poemas do Romantismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.)

Retome o poema observando-o em termos de forma e conteúdo, e assinale a alternativa CORRETA.

a) O tema geral do texto é o conflito entre o desejo de viver e a morte implacável.


b) A evasão pela morte desaparece no poema “Mocidade e Morte”.
c) A mocidade, no poema, surge como possibilidades frustradas pela sombra da morte.
d) A possibilidade produtiva é a vivência do gênio romântico, anunciada na quinta estrofe.
e) O aspecto formal presente nesse poema prova que os românticos preconizam o uso do verso livre.

QUESTÃO 16 (Descritor: Identificar, em textos e obras românticas, as principais características da prosa de ficção
romântica brasileira.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Principais características da prosa de ficção romântica brasileira.

UPE 2012 (Universidade do Estado de Pernambuco) - adaptado

Com o Romantismo, o gênero romance começou a despontar no Brasil significativamente. Os


enunciados abaixo se referem a esse gênero e a essa produção específica. ANALISE-OS e ASSINALE as
verdadeiras.

I) Mesmo sendo um escrito em versos, e o outro, em prosa, os gêneros epopeia e romance mantêm as mesmas
características estruturais e de conteúdo.
II) No Brasil, os romances românticos representavam os interesses e desejos de uma sociedade com aspirações à
vida burguesa.
III) José de Alencar foi um romancista que produziu na fase de transição entre o Romantismo e o Realismo, daí o
caráter menos idealista de sua obra.
IV) O romance “Senhora”, de José de Alencar, foca a comercialização das relações humanas, particularmente do
casamento aos moldes burgueses.
V) Em “Senhora”, José de Alencar cria Aurélia Camargo para satirizar a figura da mocinha romântica, um traço
marcante da protagonista da obra.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência das afirmações VERDADEIRAS.


a) I – III.
b) II – IV.
c) IV – V.
d) II – V.
e) III – IV.

17
Para responder às questões de 17, 18 e 19, considere o texto a seguir.

UFPB - PSS 2006 - 2ªsérie

Amor
1 AS CORTINAS DA JANELA cerraram-se; Cecília tinha-se deitado.
Junto da inocente menina, adormecida na isenção de sua alma pura e virgem, velavam três
sentimentos profundos, palpitavam três corações bem diferentes.
Em Loredano, o aventureiro de baixa extração, esse sentimento era um desejo ardente, uma sede
5 de gozo, uma febre que lhe requeimava o sangue; o instinto brutal dessa natureza vigorosa era ainda
aumentado pela impossibilidade moral que a sua condição criava, pela barreira que se elevava entre ele,
pobre colono, e a filha de D. Antônio de Mariz, rico fidalgo de solar e brasão.
Para destruir esta barreira e igualar as posições, seria necessário um acontecimento extraordinário,
um fato que alterasse completamente as leis da sociedade naquele tempo mais rigorosas do que hoje; era
10 precisa uma dessas situações à face das quais os indivíduos, qualquer que seja a sua hierarquia, nobres
e párias, nivelam-se; e descem ou sobem à condição de homens.
O aventureiro compreendia isto; talvez que o seu espírito italiano já tivesse sondado o alcance dessa
idéia; em todo o caso o que afirmamos é que ele esperava, e esperando vigiava o seu tesouro com um
zelo e uma constância a toda a prova; os vinte dias que passara no Rio de Janeiro tinham sido verdadeiro
15 suplício.
Em Álvaro, cavalheiro delicado e cortês, o sentimento era uma afeição nobre e pura, cheia da
graciosa timidez que perfuma as primeiras flores do coração, e do entusiasmo cavalheiresco que tanta
poesia dava aos amores daquele tempo de crença e lealdade.
Sentir-se perto de Cecília, vê-la e trocar alguma palavra a custo balbuciada, corarem ambos sem
20 saberem por quê, e fugirem desejando encontrar-se, era toda a história desse afeto inocente, que se
entregava descuidosamente ao futuro, librando-se nas asas da esperança.
Nessa noite Álvaro ia dar um passo que na sua habitual timidez, ele comparava quase com um
pedido formal de casamento; tinha resolvido fazer a moça aceitar malgrado seu o mimo que recusara,
deitando-o na sua janela; esperava que encontrando-o no dia seguinte, Cecília lhe perdoaria o seu
25 ardimento, e conservaria a sua prenda.
Em Peri o sentimento era um culto, espécie de idolatria fanática, na qual não entrava um só
pensamento de egoísmo; amava Cecília não para sentir um prazer ou ter uma satisfação, mas para dedicar-
se inteiramente a ela, para cumprir o menor dos seus desejos, para evitar que a moça tivesse um
pensamento que não fosse imediatamente uma realidade.
30 Ao contrário dos outros ele não estava ali, nem por um ciúme inquieto, nem por uma esperança
risonha; arrostava a morte unicamente para ver se Cecília estava contente, feliz e alegre; se não desejava
alguma coisa que ele adivinharia no seu rosto, e iria buscar nessa mesma noite, nesse mesmo instante.
Assim o amor se transformava tão completamente nessas organizações, que apresentava três
sentimentos bem distintos: um era uma loucura, o outro uma paixão, o último uma religião.

(ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: FTD, 1999, p. 78-79).

GLOSSÁRIO
isentar: livrar, dispensar, desobrigar.
extração: nascimento, origem.
párias: homens excluídos da sociedade.
balbuciar: articular imperfeitamente e com hesitação.
librar: fundamentar, basear, concentrar.
malgrado: apesar de, a despeito de.
ardimento: astúcia.
arrostar: olhar de frente, afrontar, encarar sem medo.

18
QUESTÃO 17 (Descritor: Inferir os fatos do livro que se referem ao enunciado.)
Nível de dificuldade: média.
Assunto: Estudo do romance indianista O Guarani, de José de Alencar.

No texto “Amor”, extraído do romance O Guarani, o narrador, ao descrever o personagem Loredano,


chama a atenção para a necessidade de um “acontecimento extraordinário” que pudesse alterar as
“leis da sociedade” e permitir ao colono transpor determinadas barreiras sociais e morais. A partir da
leitura do fragmento, é correto afirmar que esse acontecimento extraordinário se relaciona à (ao)

a) morte de Álvaro, único que obedecia ao código de honra imposto por D. Antônio de Mariz.
b) cerco dos Aimorés à casa de D. Antônio de Mariz e à revolta dos colonos.
c) revelação sobre o passado religioso de Loredano.
d) enriquecimento de Loredano que poderia passar da condição de pobre colono à de proprietário de
terras.
e) volta de Peri para a sua tribo, deixando desprotegida a família de D. Antônio de Mariz.

QUESTÃO 18 (Descritor: Leitura do fragmento e análise das alternativas.)


Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Estudo de romance indianista a partir de fragmento de O Guarani, de José de Alencar.

Em relação à caracterização de Álvaro, o narrador

a) limita-se aos aspectos físicos, descrevendo-o como um nobre.


b) realça traços patológicos e instintivos próprios do homem daquela época.
c) traça um perfil do personagem evidenciando, de forma idealizada, seus sentimentos e atitudes.
d) evidencia determinadas atitudes do personagem, associando-as a condicionamentos biológicos.
e) penetra no inconsciente do personagem, revelando o caráter ambíguo de sua personalidade.

QUESTÃO 19 (Descritor: Interpretar o fragmento e analisar a quem se referem as expressões e destaque.)


Nível de dificuldade: média.
Assunto: Estudo de romance indianista a partir de fragmento de O Guarani, de José de Alencar.

Considere o fragmento:

“Ao contrário dos outros ele não estava ali, nem por um ciúme inquieto, nem por uma esperança
risonha;” (linha 29).

As expressões ciúme inquieto e esperança risonha referem-se, respectivamente, a

I. Álvaro e Loredano, que, mesmo enciumados, devotavam seu amor a Cecília.


II. Loredano e Peri, que temiam o assédio de Álvaro, mas confiavam no sucesso de seus planos.
III. Loredano e Álvaro, que revelam sentimentos distintos em relação a Cecília.

Está(ão) correta(s) apenas:

a) I c) III e) I e III
b) II d) I e II

QUESTÃO 20 (Descritor: Perceber o perfil do leitor do romance-folhetim a partir dos pensamentos da


personagem no texto.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Público-leitor dos romances-folhetins.

Os romances-folhetins tinham leitores fiéis, com um perfil muito parecido. Luísa, de O Primo Basílio
(1878), obra escrita pelo português Eça de Queirós (1845-1900), é grande consumidora desses romances.
Leia o texto a seguir.

“Tornou a espreguiçar-se. E saltando na ponta do pé descalço, foi buscar ao aparador por detrás de
uma compota um livro um pouco enxovalhado, veio estender-se na voltaire, quase deitada, e, com o gesto
acariciador e amoroso dos dedos sobre a orelha, começou a ler, toda interessada. Era a Dama das

19
camélias. Lia muitos romances; tinha uma assinatura, na Baixa, ao mês. Em solteira, aos dezoito anos
entusiasmara-se por Walter Scott e pela Escócia; desejara então viver num daqueles castelos escoceses,
que têm sobre as ogivas os brasões do clã, mobilados com arcas góticas e troféus de armas, forrados de
largas tapeçarias, onde estão bordadas legendas heróicas, que o vento do lago agita e faz viver; e amara
Ervandalo, Morton e lvanhoé, ternos e graves, tendo sobre o gorro a pena de águia, presa ao lado pelo
cardo de Escócia de esmeraldas e diamantes. Mas agora era o moderno que a cativava: Paris, as suas
mobílias, as suas sentimentalidades. Ria-se dos trovadores, exaltara-se por Mr. de Camors; e os homens
ideais apareciam-lhe de gravata branca, nas ombreiras das salas de baile, com um magnetismo no olhar,
devorados de paixão, tendo palavras sublimes. Havia uma semana que se interessava por Margarida
Gautier; o seu amor infeliz dava-lhe uma melancolia enevoada; via-a alta e magra, com o seu longo xale de
caxemira, os olhos negros cheios de avidez da paixão e dos ardores da tísica; nos nomes mesmo do livro —
Júlia Duprat, Armando, Prudência, achava o sabor poético de uma vida intensamente amorosa; e todo
aquele destino se agitava, como numa música triste, com ceias, noites delirantes, aflições de dinheiro, e
dias de melancolia no fundo de um cupê quando nas avenidas do Bois, sob um céu pardo e elegante,
silenciosamente caem as primeiras neves.”
(QUEIRÓS, Eça de. O Primo Basílio. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p. 6.)

Pode-se considerar que Luísa representa o padrão dos leitores românticos. Assim,

a) o leitor do romance-folhetim é um sonhador, desejando uma vida intensamente amorosa.


b) o leitor acha os romances irônicos, lendo-os avidamente para criticá-los.
c) o objetivo desse leitor era o entretenimento, sem se envolver sentimentalmente com a leitura.
d) embora lesse romances cuja atmosfera levava ao sonho, esse leitor comportava-se de forma realista.
e) ao interessar-se pelo moderno, o leitor muda de comportamento perante personagens e atitudes.

QUESTÃO 21 (Descritor: Comparar Romantismo e Realismo a partir de um fragmento realista com uma
personagem romântica.
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Romantismo X Realismo.

Até o final do século XIX, de uma forma geral, as estéticas artísticas sugiram em oposição às
escolas anteriores.
O Realismo, escola da 2ª metade do século XIX, opõe-se e critica o Romantismo, escola cuja
ênfase se dá na 1ª metade do mesmo século.
O texto que você leu é fragmento de uma obra realista. Comparando características românticas e
realistas, analise as assertivas a seguir.

I. A presença de uma personagem com comportamento romântico em um texto realista implica em crítica a
essa personagem.

II. Luísa era uma leitora sentimental e sonhadora. Em oposição a isso, espera-se que um leitor realista fosse
racional e objetivo.

III. Em linhas gerais, um leitor realista comportar-se-ia como a romântica Luísa, dada a sensibilidade que o
ser humano tem.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I e II.
b) apenas I e III.
c) apenas II e III.
d) apenas I.
e) I, II e III.

20
Para responder às questões de 22, 23 e 31, leia o texto a seguir.

PISM I – UFJF (triênio 2007-2009)

Leia, com atenção, o fragmento abaixo, para responder às questões 22 e 23.

“Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos
empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio,
não sei fazer o que, uma certa Maria da Hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e
bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal–apessoado, e
sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encontrada à borda do navio, o Leonardo fingiu
que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé
direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo e deu-lhe
também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isso uma declaração em
forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer, passou-se a
mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem dessa vez um pouco mais fortes; e no dia
seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares que pareciam sê-lo de muitos anos. Quando
saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos; e daí a um mês
manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho,
formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão, o
qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E esse nascimento é
certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de que falamos é o herói
de nossa história.”
ALMEIDA, M.A. de. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 1997, p.13-14.

QUESTÃO 22 PISM I – UFJF (triênio 2007-2009 - adaptada) (Descritor: Interpretar o texto e inferir seu
principal objetivo.)
Nível de dificuldade: médio.
Assunto: Estudo de fragmento da obra Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de
Almeida.

O principal objetivo comunicativo do fragmento selecionado acima é o de:

a) apresentar os caminhos pelos quais começou a relação entre Leonardo e Maria da Hortaliça, e
os motivos do naufrágio dessa relação.
b) demonstrar como a relação amorosa na época em que o romance foi escrito é diferente da relação
amorosa dos tempos atuais.
c) expor a maneira através da qual o protagonista da obra foi gerado e o modo pelo qual seus pais se
conheceram e iniciaram sua vida de casal.
d) demonstrar que a história de vida do protagonista da obra sempre foi tumultuada, porque seus pais não
se amavam na época em que ele foi gerado.
e) expor os principais traços do caráter de Leonardo e de Maria e a sólida base de experiência do casal
para construir uma família.

QUESTÃO 23 PISM I – UFJF (triênio 2007-2009 - adaptada) (Descritor: Interpretar o texto e concluir
fatos.)
Nível de dificuldade: médio.
Assunto: Estudo de fragmento da obra Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de
Almeida.

Considerando a descrição de Leonardo e de Maria, no fragmento acima, só NÃO é possível


concluir que:
a) os dois eram formosos e cheios de vida.
b) a valorização do corpo esbelto já era uma tendência desde aquela época.
c) o flerte entre namorados podia chegar a mais do que olhadelas e sorrisos naquele tempo.
d) os dois tiveram uma atração imediata e tinham muita disposição para o amor.
e) ambos já possuíam uma ocupação quando se conheceram.

21
QUESTÃO 24 (Descritor: Caracterizar o herói romântico e compará-lo ao personagem da tira de HQ.)
Nível de dificuldade: médio.
Assunto: O individualismo no Romantismo.

PASUSP – 25/10/2009
O Romantismo, movimento literário do século XIX, apresenta, entre outras características, uma
visão de mundo centrada no indivíduo. Seus heróis são personagens portadoras de verdades, destemidas,
de caráter exemplar e que realizam grandes missões.

Fonte: http: // www2.uol.com.Br/adaoonline/v2/tiras/lavie/tiras/caminho5.gif. acessado em agosto de


2009.

Em relação aos heróis literários, a personagem da tira


a) manifesta uma atitude oposta ao ideal do herói romântico.
b) representa um herói literário, disposto a enfrentar qualquer perigo.
c) admira a paisagem natural, exaltando a natureza bucólica.
d) demonstra sua decepção com a sociedade e busca refúgio na imaginação.
e) apresenta uma atitude angustiada e pessimista diante dos perigos.

II. QUESTÕES DISCURSIVAS

QUESTÃO 25 (Descritor: Comparar escolas literárias e construir um quadro representativo dessa


comparação.)
Nível de dificuldade: médio.
Assunto: Comparação entre Romantismo e Realismo/Naturalismo.

O Realismo e o Naturalismo foram duas escolas artísticas contemporâneas, com ênfase na


segunda metade do século XIX. Suas características são opostas às do Romantismo, escola que os
antecedeu. A partir da leitura dos fragmentos a seguir, CONSTRUA um QUADRO COMPARATIVO em que
apresente duas características românticas e duas realistas / naturalistas.

TEXTO I – ROMÂNTICO
“A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a alguns
passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens brancas
esgarçadas sobre o céu azul e estrelado. Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema
elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um
desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues
vapores da alvorada. Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão
ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição.
— Já vi esta moça! disse comigo. Mas onde?...”
ALENCAR, José de. Lucíola. Ministério da Cultura – Fundação Biblioteca Nacional, Departamento Nacional
do Livro, p. 2.

TEXTO II – REALISTA/NATURALISTA (OBS.: Embora haja diferenças entre estas duas escolas, não serão
consideradas nesse exercício).
“Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos, fosse o mais
simples, visavam um interesse pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar os bens. Das suas hortas
recolhia para si e para a companheira os piores legumes, aqueles que, por maus, ninguém compraria; as

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suas galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do que no entanto gostava imenso; vendia-os todos
e contentava-se com os restos da comida dos trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era uma moléstia
nervosa, uma loucura, um desespero de acumular; de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote, socado, de
cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda às hortas e
ao capinzal, sempre em mangas de camisa, de tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o
seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia apoderar-se
logo com as unhas.”
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p. 9.

QUADRO COMPARATIVO

ROMANTISMO REALISMO / NATURALISMO


1. 1.
2. 2.

QUESTÃO 26: (Descritor: Justificar as características literárias destacadas no quadro comparativo a partir
de elementos dos textos.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Comparação entre Romantismo e Realismo/Naturalismo.

Justifique as características destacadas por você no quadro comparativo dos textos I e II com
fragmentos do texto.

QUESTÃO 27 (Descritor: Justificar os elementos literários destacados no quadro comparativo a partir de


elementos dos textos.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Comparação entre Realismo e Naturalismo.

O Realismo e o Naturalismo foram duas escolas artísticas contemporâneas, com ênfase na


segunda metade do século XIX. Embora sejam contemporâneas, há características diferenciadas entre elas.
A partir da leitura dos fragmentos a seguir, CONSTRUA um QUADRO COMPARATIVO em que apareçam
duas características realistas e duas naturalistas.

TEXTO I
“Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de
1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por
outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o
motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-
me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas,
combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era
verdade...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus
sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele
mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e
depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.”
ASSIS, Machado de. A Cartomante. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p. 1.

TEXTO II
“Quando voltava para os seus aposentos, tomada em caminho por um pavor inexplicável, agarrava-
se trêmula à mulata.
Não podia comer, tinha um fastio desolador, cortado por desejos violentos de coisas salgadas, de
coisas extravagantes. Sobrevieram-lhe salivações constantes, vômitos biliosos quase incoercíveis.
Uma manhã não se pôde levantar. Acudiram apressados o coronel e a mulher do administrador;
abeiraram-se do leito, instando com a enferma para que tomasse um chá de erva-cidreira, um remédio
qualquer caseiro, enquanto não vinha o médico que se tinha mandado chamar a toda a pressa.
Quando este chegou estava Lenita abatidíssima: emaciada, lívida, com os olhos afundados em uma
auréola cor de bistre, comprimia o peito, estertorava sufocada. Uma como bola subia-lhe do estômago,
chegava-lhe à garganta, estrangulava-a. No alto da cabeça, um pouco para a esquerda tinha uma dor

23
circunscrita, fixa, lancinante, atroz: era como se um prego aí estivesse cravado. E seu sistema nervoso
estava irritadíssimo: o mais ligeiro ruído, o jogo de luz produzido pelo abrir da porta arrancava-lhe gritos.”
RIBEIRO, Júlio. A Carne. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p. 6.

QUADRO COMPARATIVO

REALISMO NATURALISMO
1. 1.
2. 2.

QUESTÃO 28: (Descritor: Justificar as características literárias destacadas no quadro comparativo a partir
de elementos dos textos.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Comparação entre Realismo e Naturalismo.

Justifique as características destacadas por você no quadro comparativo dos textos I e II com
elementos do texto.

Para responder às questões de 29 e 30, leia o texto a seguir.

QUESTÃO 29 (Descritor: Interpretar o texto e reconhece, nele, os recursos utilizados pelo autor para
construir a comicidade e a crítica.)
Nível de dificuldade: média.
Assunto: Comédias de Martins Pena.

Martins Pena (1815-1848) foi um dos maiores comediantes (senão o maior) do Romantismo
brasileiro. Em suas peças, satirizando a sociedade, construía um retrato moral do Brasil do século XIX. Leia
um trecho de “O juiz de paz na roça” (1842).

“ESCRIVÃO, lendo – Diz João de Sampaio que, sendo ele "senhor absoluto de um leitão que teve a porca
mais velha da casa, aconteceu que o dito acima referido leitão furasse a cerca do Sr. Tomas pela parte de
trás, e com a sem-cerimônia que tem todo o porco, fossasse a horta do mesmo senhor. Vou a respeito de
dizer, Sr. Juiz, que o leitão, carece agora advertir, não tem culpa, porque nunca vi um porco pensar como
um cão, que e outra qualidade de alimária e que pensa às vezes como um homem. Para V. Sa. não pensar
que minto, lhe conto uma história: a minha cadela Tróia, aquela mesma que escapou de morder a V. Sa.
Naquela noite, depois que lhe dei uma tunda nunca mais comeu na cuia com os pequenos. Mas vou a
respeito de dizer que o Sr. Tomás não tem razão em querer ficar com o leitão só porque comeu três ou
quatro cabeças de nabo. Assim, peço a V. Sa. Que mande entregar-meu leitão. E.R.M."
JUIZ – É verdade, Sr. Tomás, o que o Sr. Sampaio diz?
TOMÁS – E verdade que o leitão era dele, porém agora é meu.
SAMPAIO – Mas se era meu, e o senhor nem mo comprou, nem eu lho dei, como pode ser seu?
TOMÁS – É meu, tenho dito.
SAMPAIO – Pois não é, não senhor. (Agarram ambos no leitão e puxam, cada um para sua banda.)
JUIZ, levantando-se – Larguem o pobre animal, não o matem!
TOMÁS – Deixe-me, senhor!
JUIZ – Sr. Escrivão, chame o meirinho. (Os dois apartam-se.) Espere, Sr. Escrivão, não é preciso. (Assenta-
se.) Meus senhores, só vejo um modo de conciliar esta contenda, que é darem os senhores este leitão de
presente a alguma pessoa. Não digo com isso que mo dêem.
TOMÁS – Lembra.Vossa Senhoria bem. Peço licença para lhe oferecer.
JUIZ – Muito obrigado. É o senhor um homem de bem, que não gosta de demandas. E que diz o Sr.
Sampaio?
SAMPAIO – Vou a respeito de dizer que, se Vossa Senhoria aceita, fico contente.
JUIZ – Muito obrigado, muito obrigado! Faça o favor de deixar ver. Ó homem, está gordo, tem toucinho de
quatro dedos! Com efeito! Ora, Sr.Tomás, eu que gosto tanto de porco com ervilha!
TOMÁS – Se Vossa Senhoria quer, posso mandar algumas.
JUIZ – Faz-me muito favor. Tome o leitão e bote no chiqueiro quando passar. Sabe onde e?
TOMÁS, tomando o leitão – Sim senhor.
JUIZ – Podem se retirar, estão reconciliados.”
(PENA, Martins. O Juiz de Paz na Roça. São Paulo: Martin Claret, 2000. p. 77-8)

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Martins Pena era capaz de tirar o riso da situação mais cotidiana. No trecho que você leu, quais os
recursos utilizados por ele? Como se resolveu o problema? (ATENÇÃO: a clareza de sua resposta e o bom
uso da norma culta serão considerados na correção).

QUESTÃO 30 (Descritor: Interpretar o texto e discutir a caricaturização das personagens construídas na


comédia de Martins Pena.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: As personagens de Martins Pena.

A comédia, desde seu advento, trabalha com a caricaturização das personagens. Como isso se dá
em Martins Pena (use o texto anterior como base), e quais os efeitos de sentido produzidos.

QUESTÃO 31 (Descritor: Interpretar o texto e discutir seu caráter de Romantismo.)


Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: A extemporaneidade de Memórias de um Sargento de Milícias.

Releia o texto que abre as questões 22 e 23.


Conforme você pode perceber pelo fragmento lido, Memórias de um sargento de milícias (1854)
apresenta características muito diferentes dos romances românticos em geral. É, possível, inclusive,
classificá-lo como romance extemporâneo (fora de seu tempo). A partir de seus estudos, AVALIE se este
romance é romântico ou realista e JUSTIQUE sua resposta.

QUESTÃO 32 (Descritor: Comparar as características das novelas românticas do século XIX com os textos
atuais.)
Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: Romantismo no século XIX e romantismo na atualidade.

As telenovelas, de uma forma geral, apresentam um roteiro básico (um vilão, um mocinho, a moça
doce e apaixonada, um assassinato misterioso, um casamento no final...). Normalmente, o romance-
folhetim também seguia uma espécie de “fórmula”, muito semelhante as das novelas atuais.
Leia o resumo de uma telenovela desta década.

Almas Gêmeas
de Walcyr Carrasco

A trama é dividida em duas fases: a primeira é ambientada em 1928 e a segunda se passa em


1948. Na bela e encantadora cidade de Roseiral, no interior de São Paulo, tem gente romântica e
misteriosa; tem gente divertida e também ambiciosa; mas todos tem muita história para contar. Como a
simpática Olívia, uma dondoca caída que acha que tem uma família perfeita, e nem desconfia que seu
marido, o canalha Raul, tem um romance secreto com a bela Dalila. Em Roseiral também mora uma turma
caipira muito divertida, como a ingênua Mirna, que está doidinha pra casar, mesmo contra a vontade do
irmão, o rabugento Crispim, ambos vivendo sob a tutela de seu tio Bernardo ("Tio Nardo"). E ainda há o
pessoal da pensão do casal de imigrantes italianos Osvaldo e Divina, que está sempre em pé-de-guerra. Na
maioria das vezes, quem arruma encrenca é Ofélia, a implicante mãe de Divina, que não perde a
oportunidade de atazanar Osvaldo. Apesar das confusões, o casal comanda uma família, com mais quatro
filhos - Vitório, Dalila, Hélio e Nina -, que, apesar das dificuldades, sempre tem muito amor.
Mas essa linda cidade também abriga o tema central da novela: o grande amor do botânico Rafael
pela bailarina Luna, filha da milionária Agnes. Um romance que tem poderosas inimigas, como a ambiciosa
e malevolente Cristina e sua mãe, a diabólica e calculista Débora. Só que, um belo dia, esse casal
apaixonado foi surpreendido pelo destino… Cristina deseja loucamente Rafael e obsessivamente as joias
valiosíssimas que sua prima Luna ganhou da avó, Adelaide. A partir daí, ela manda que Guto, seu amante,
forje um assalto e roube as joias da prima. Mas Guto acaba assassinando Luna com um tiro no coração.
Rafael se desespera completamente com a perda de sua alma gêmea.
Entretanto, no mesmo momento em que Luna morre assassinada, nasce em uma aldeia indígena
do Mato Grosso do Sul, na cidade de Bonito, uma menina cabocla. Rafael nem imagina que num lugar
muito distante, vive Serena, uma bela e jovem mestiça que cresceu acreditando que sua felicidade estava
bem longe de sua aldeia, sem nem desconfiar que é a reencarnação da doce Luna. Serena segue seu
destino, sem saber que é em Roseiral que mora Rafael, o seu grande amor que ainda não conhece e que
passou 20 anos enclausurado numa escuridão profunda causada pela tristeza da morte da mulher. Tal
situação, contudo, será alterada com a chegada de Serena. A partir daí, Cristina fará a vida de Rafael e

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Serena um inferno! Porém Serena defenderá sua alma gêmea Rafael, e Felipe, filho de Rafael, portanto seu
filho de reencarnação passada, quando era Luna, das maldades inconsequentes da horripilante Cristina.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alma_G%C3%AAmea - Acesso em 10/12/2009.

Analise o resumo da telenovela e destaque dois elementos das novelas românticas do século XIX aí
presentes.

Para responder às questões de 33 e 34, leia os textos a seguir.

Leia os textos a seguir.

TEXTO I
Prólogo (da 1ª edição)
Meu amigo.
Este livro o vai naturalmente encontrar em seu pitoresco sítio da várzea, no doce lar, a que povoa a
numerosa prole, alegria e esperança do casal.
Imagino que é a hora mais ardente da sesta.
O Sol a pino dardeja raios de fogo sobre as areias natais; as aves emudecem; as plantas languem.
A natureza sofre a influência da poderosa irradiação tropical, que produz o diamante e o gênio, as duas
mais sublimes expressões do poder criador.
Os meninos brincam na sombra do outão, com pequenos ossos de reses, que figuram a boiada. Era
assim que eu brincava, há quantos anos, em outro sítio, não mui distante do seu. A dona da casa, terna e
incansável, manda abrir o coco verde, ou prepara o saboroso creme do buriti para refrigerar o esposo, que
pouco há recolheu de sua excursão pelo sítio, e agora repousa embalando-se na macia e cômoda rede.
Abra então este livrinho, que lhe chega da corte imprevisto. Percorra suas páginas para desenfastiar
o espírito das cousas graves que o trazem ocupado.
Talvez me desvaneça amor do ninho, ou se iludam as reminiscências da infância avivadas
recentemente. Se não, creio que, ao abrir o pequeno volume, sentirá uma onda do mesmo aroma silvestre e
bravio que lhe vem da várzea.
Derrama-o, a brisa que perpassou os espatos da carnaúba e a ramagem das aroeiras em flor.
Essa onda é a inspiração da pátria que volve a ela, agora e sempre, como volve de contínuo o olhar
do infante para o materno semblante que lhe sorri.
O livro é cearense. Foi imaginado aí, na limpidez desse céu de cristalino azul, e depois vazado no
coração cheio das recordações vivaces de uma imaginação virgem. Escrevi-o para ser lido lá, na varanda
da casa rústica ou na fresca sombra do pomar, ao doce embalo da rede, entre os múrmures do vento que
crepita na areia, ou farfalha nas palmas dos coqueiros. Para lá, pois, que é o berço seu, o envio.
Mas assim mandado por um filho ausente, para muitos estranho, esquecido talvez dos poucos
amigos, e só lembrado pela incessante desafeição, qual sorte será a do livro?
(...)
Mas sempre fui avesso aos prólogos; em meu conceito eles fazem à obra o mesmo que o pássaro à
fruta antes de colhida; roubam as primícias do sabor literário. Por isso me reservo para depois.
Na última página me encontrará de novo; então conversaremos a gosto, em mais liberdade do que
teríamos neste pórtico do livro, onde as etiquetas mandam receber o público com a gravidade e reverência
devidas a tão alto senhor.
Rio de Janeiro — Maio de 1865.
J. DE ALENCAR.
(ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Scipione, 1994. p. 3-4)

TEXTO II
Ao Autor

Reuni as suas cartas e fiz um livro.


Eis o destino que lhes dou; quanto ao título, não me foi difícil achar.
O nome da moça, cujo perfil o senhor desenhou com tanto esmero, lembrou-me o nome de um
inseto.
Lucíola é o lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos.
Não será a imagem verdadeira da mulher que no abismo da perdição conserva a pureza d' alma?
Deixe que raivem os moralistas.
A sua história não tem pretensões a vestal. É musa cristã: vai trilhando o pó com os olhos no céu.
Podem as urzes do caminho dilacerar-lhe a roupagem: veste-a a virtude.

26
Demais, se o livro cair nas mãos de alguma das poucas mulheres que lêem neste país, ela verá
estátuas e quadros de mitologia, a que não falta nem o véu da graça, nem a folha de figueira, símbolos do
pudor no Olimpo e no Paraíso terrestre.
Novembro de 1861.
(ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Scipione, 1994.)

O prólogo de Alencar a Iracema situa o leitor na ambientação romântica por ele desejada.
Em Lucíola, Alencar já insere o leitor dentro da obra, dado que “Ao Autor” já faz parte da própria
ficção.

QUESTÃO 33 (Descritor: Interpretar o prefácio e perceber sua relevância na constituição da obra, fazendo
da leitura um movimento diferente.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Dados da fonte ou de títulos, subtítulos e de pré e pós-textos apresentados nos suportes (orelha,
quarta capa, prefácio, apresentação, posfácio, índice.) e sua relevância para a interpretação dos textos.

Analisar o texto I e perceber como o autor José de Alencar insere o leitor no universo da obra que
este prefácio abre, Iracema. Reconte esse processo.

QUESTÃO 34 (Descritor: Interpretação de dados da fonte ou de títulos, subtítulos e de pré e pós-textos


apresentados nos suportes – orelha, quarta capa, prefácio, apresentação, posfácio, índice.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Dados da fonte ou de títulos, subtítulos e de pré e pós-textos apresentados nos suportes (orelha, quarta
capa, prefácio, apresentação, posfácio, índice.)

O autor citado no título do texto é Paulo, remetente das cartas a uma senhora que as publicará
(donde a idéia de autoria). Antes de entrarmos no texto, então, lemos por esse comentário, ainda sem saber
do próprio Paulo, informações sobre uma moça de quem o rapaz fala. O que a senhora diz sobre a moça?

QUESTÃO 35 (Descritor: Perceber as críticas sociais levantadas pelas escolas Realista e Naturalista.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Realismo / Naturalismo em Portugal.

A Relíquia (1887), de Eça de Queirós (1845- 1900), é um livro que apresenta críticas contra as
instituições. Igreja, família, sociedade. Em 2007, está obra foi adaptada para a linguagem dos quadrinhos
pelo quadrinista paulistano Marcatti.
Em linhas gerais, a narração se concentra numa viagem feita por Teodorico ao Egito e à Palestina,
em busca de uma relíquia para sua tia, Dona Maria do Patrocínio (Titi), uma mulher amarga que se dizia
extremamente religiosa.
Observe algumas cenas.

27
28
FONTE: Queirós, Eça de. A Relíquia. Adaptada para quadrinhos por Marcatti. São Paulo: Conrad Editora,
2007.

Após a leitura dos quadrinhos, apresente a crítica expressa à religião e às relações sociais e
familiares (ATENÇÃO: a clareza de sua resposta e o bom uso da norma culta serão considerados na
correção).

Para responder às questões de 36 e 37, leia os textos a seguir.

Em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1899), Machado de Assis constrói
narradores muito peculiares. Veja.

TEXTO I: Memórias Póstumas de Brás Cubas


Das Negativas
Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do
livro. O principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia
que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da
riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do céu.
O acaso determinou o contrário; e aí vos ficais eternamente hipocondríacos. Este último capítulo é
todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o
casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o
suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e
conseguintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do
mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não
tive filhos, não transmitia nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. NEAD – Núcleo de Educação à Distância,
www.nead.unama.br, p. 130-1.

TEXTO II: Dom Casmurro


E BEM, E O RESTO? (CXLVIII)
Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu
coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas
não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da
de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach,
se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de

29
tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não,
e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro
da outra, como a fruta dentro da casca.
E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos,
a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também,
quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à "História dos
Subúrbios.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p.
139.

QUESTÃO 36 (Descritor: Analisar a postura dos narradores-personagens dos textos estudados e explicá-
la.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: A amargura do narrador machadiano em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro.

Os dois capítulos são o desfecho de seus respectivos livros. Os dois narradores-personagens


apresentam-se amargos com relação a suas vidas. EXPLIQUE os motivos pelos quais cada um deles
apresenta tal visão de mundo. (ATENÇÃO: a clareza de sua resposta e o bom uso da norma culta serão
considerados na correção).

QUESTÃO 37 (Descritor: Apresentar a metalinguagem nos textos estudados.)


Nível de dificuldade: fácil.
Assunto: A metalinguagem em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro.

A metalinguagem é a linguagem que versa em si mesma, que reflete sobre o processo de criação.
Extraia dos textos 2 trechos que evidenciem tão processo.

QUESTÃO 38 (Descritor: Perceber a visão histórica negativa sobre a mulher em narrativas machadianas –
séc. XIX.)
Nível de dificuldade: média.
Assunto: As mulheres machadianas.

As mulheres machadianas são personagens importantíssimas nos textos desse autor. A seguir,
você lerá um pequeno trecho sobre Capitu, protagonista do romance Dom Casmurro, e outro sobre Rita,
uma das protagonista do conto “A Cartomante”.

 CAPITU
“Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimulada.’
Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu
deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a
cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu
intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes,
enfiados neles, (...)”
Assis, Machado de. “Olhos de Ressaca”. In Dom Casmurro. NEAD – Núcleo de Educação à Distância,
www.nead.unama.br, p. 35.

 RITA
“Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse
desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do
inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas
ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di
feminina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio.
(...) Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num
espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca.”
Assis, Machado de. “A Cartomante”. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p. 3.

Ao construir Capitu e Rita, Machado de Assis explora que visão histórica sobre a mulher? Justifique
sua resposta com elementos dos trechos. (ATENÇÃO: a clareza de sua resposta e o bom uso da norma
culta serão considerados na correção).

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QUESTÃO 39 (Descritor: Perceber e explicitar mazelas sociais por meio da descrição das personagens.)
Nível de dificuldade: média.
Assunto: O Ateneu – patologias sociais.

O Ateneu (1888), obra de Raul Pompéia (1863-1895), apresenta, em um colégio (título), um


microcosmo da sociedade de meados da segunda metade do século XIX. O narrador-personagem Sérgio, já
maduro, relata suas lembranças, denunciando patologias sociais. Leia um trecho, no qual Sérgio descreve
seus companheiros.

“Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O
Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas de símio — palhaço dos
outros, como dizia o professor; o Nascimento, o bicanca, alongado por um modelo geral de pelicano, nariz
esbelto, curvo e largo como uma foice; o Álvares, moreno, cenho carregado, cabeleira espessa e intonsa de
vate de taverna, violento e estúpido, que Mânlio atormentava, designando-o para o mister das plataformas
de bonde, com a chapa numerada dos recebedores, mais leve de carregar que a responsabilidade dos
estudos; o Almeidinha, claro, translúcido, rosto de menina, faces de um rosa doentio, que se levantava para
ir à pedra com um vagar lânguido de convalescente; o Maurílio, nervoso, insofrido, fortíssimo em tabuada:
cinco vezes três, vezes dois, noves fora, vezes sete?... Ia estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o
dedinho esperto... olhos fúlgidos rosto moreno, marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas
acesas, lábios inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de ficar sentado três
minutos, sempre à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de pouca-vergonha,
fazendo agrados ao mestre, chamando-lhe bonzinho, aventurando a todo ensejo uma tentativa de abraço
que Mânlio repelia, precavido de confiança; Batista Carlos, raça de bugre, válido, de má cara, coçando-se
muito, como se o incomodasse a roupa no corpo, alheio às coisas da aula, como se não tivesse nada com
aquilo, espreitando apenas o professor para aproveitar as distrações e ferir a orelha aos vizinhos com uma
seta de papel dobrado. Às vezes a seta do bugre ricocheteava até à mesa de Mânlio. Sensação;
suspendiam-se os trabalhos; rigoroso inquérito. Em vão, que os partistas temiam-no e ele era matreiro e
sonso para disfarçar.”
POMPÉIA, Raul. O Ateneu. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p. 13-4.

No trecho anterior, Sérgio descreve seus companheiros. De uma forma geral, quais são suas
impressões? Justifique sua resposta com três fragmentos do texto lido. (ATENÇÃO: a clareza de sua
resposta e o bom uso da norma culta serão considerados na correção).

QUESTÃO 40 (Descritor: Analisar o comportamento das personagens de um texto, de acordo com as


características de uma determinada escola literária.)
Nível de dificuldade: difícil.
Assunto: Naturalismo em O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

Aproximadamente na segunda metade do século XIX, surgiu o Naturalismo, marcado por uma prosa
crua, experimental, de análise tanto dos comportamentos humanos individuais quando da movimentação
dos agrupamentos sociais.
Em O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, uma das personagens, João Romão, mente para a negra
Bertoleza e usa-a como um animal, até que resolve desfazer-se dela. Leia a cena referente ao desfecho
dessa situação.

“Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava de cócoras, no chão, escamando
peixe, para a ceia do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo.
Num relance de grande perigo compreendeu a situação; adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê
perdido para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que
o seu amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de si, procurando
escapula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro.
— É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam-
na! É escrava minha!
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e
com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres.

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Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém
conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois
embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue.
João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que
vinha, de casaca! trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.”
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. NEAD – Núcleo de Educação à Distância, www.nead.unama.br, p. 161-2.

APRESENTE de forma crítica tanto o comportamento da personagem João Romão quanto o de


Bertoleza, dentro da ótica Naturalista. (ATENÇÃO: a clareza de sua resposta e o bom uso da norma culta
serão considerados na correção).

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GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS

QUESTÃO 01 D QUESTÃO 13 A
QUESTÃO 02 A QUESTÃO 14 D
QUESTÃO 03 A QUESTÃO 15 D
QUESTÃO 04 D QUESTÃO 16 B
QUESTÃO 05 A QUESTÃO 17 B
QUESTÃO 06 E QUESTÃO 18 C
QUESTÃO 07 C QUESTÃO 19 C
QUESTÃO 08 B QUESTÃO 20 A
QUESTÃO 09 E QUESTÃO 21 A
QUESTÃO 10 C QUESTÃO 22 C
QUESTÃO 11 B QUESTÃO 23 B
QUESTÃO 12 C QUESTÃO 24 A

GABARITO DAS QUESTÕES DISCURSIVAS

QUESTÃO 25
Características românticas => subjetividade, idealização da mulher, devaneio, e...;
Características realistas => objetividade, materialismo, contemporaneidade, e...
Podem ser aceitas outras características, desde que coerentes com os fragmentos.

QUESTÃO 26
Romantismo => idealização da mulher: “Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema
elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um
desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues
vapores da alvorada.”; devaneio: “Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e não sei que
laivos de tão ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição.”
Realismo / Naturalismo => materialismo: “Só tinha uma preocupação: aumentar os bens”;
objetividade: ““Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos, fosse
o mais simples, visavam um interesse pecuniário.”.
(OBS.: São válidos outro exemplos dados pelos alunos.)

QUESTÃO 27
Características realistas => ironia, objetividade, ênfase nos comportamentos das personagens, adultério e...:
Características naturalistas => cientificismo, descritivismo, objetividade, e...
Podem ser aceitas outras características, desde que coerentes com os fragmentos.

QUESTÃO 28
Realismo => adultério: “Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela
podia sabê-lo, e depois...”; objevidade: “Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. (...); em
todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo.”
Naturalismo => cientificismo: “Não podia comer, tinha um fastio desolador, cortado por desejos violentos de
coisas salgadas, de coisas extravagantes. Sobrevieram-lhe salivações constantes, vômitos biliosos quase
incoercíveis.”; descritivismo: “Quando este chegou estava Lenita abatidíssima: emaciada, lívida, com os
olhos afundados em uma auréola cor de bistre, comprimia o peito, estertorava sufocada.”.
(OBS.: São válidos outro exemplos dados pelos alunos.)

QUESTÃO 29

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Os principais recursos foram a ironia e a construção do non sense (aceitar as palavras do aluno). O
problema se resolveu com o juiz “convencendo”, por intermédio da linguagem, os dois requerentes (Sr.
Tomás e Sr. Sampaio) a darem-lhe o porco.

QUESTÃO 30
Pela caricatura, através do exagero, constrói-se o riso e o ridículo. Um dos efeitos de sentido produzido pelo
juiz de paz, por exemplo, personagem exagerada, levanta a crítica contra as instituições.

QUESTÃO 31
Embora antecipe traços realistas (o enredo se passa no subúrbio; é marcado pela comicidade, pela crítica e
pela caricaturização das personagens), cronologicamente o romance é publicado em pleno Romantismo
(1854), e, embora traga críticas, também visa o entretenimento burguês.

QUESTÃO 32
Espera-se que o aluno perceba que os mesmos elementos das novelas românticas do século XIX
permanecem nas telenovelas atuais. Sendo assim, há várias possibilidades de respostas: o amor que segue
além da vida; a vilã invejosa, ambiciosa e má; a mãe da vilã, tão má quanto, que a orienta; o assassinato
inesperado; etc.

QUESTÃO 33
Espera-se que o aluno perceba que Alencar pretende ambientar o leitor em relação às belezas do espaço
cearense, terra onde a história de Iracema será contada.
(OBS.: Há outras possibilidades de leitura.)

QUESTÃO 34
Inicialmente, a senhora compara a moça com um inseto de nome Lucíola, que brilha em meio à noite.
Depois, fala sobre perdição e alma e diz que a moça é musa cristã. Ou seja, as palavras da senhora
despertam no leitor, antes que este começasse efetivamente a ler o enredo da história, curiosidade sobre
este. É um “pré-texto”.

QUESTÃO 35
Espera-se que o aluno perceba a falsidade de relações sociais baseadas no interesse, como a aproximação
existente entre o clero e Titi, que a bajulava pela situação social da mulher. Além disso, era com raiva e
asco que a tia recebia o sobrinho órfão (“Pelo fedor percebi que o menino já havia chegado.”),
comprometendo a visão de “família” veiculada pela literatura romântica, por exemplo.

QUESTÃO 36
A amargura decorre de elementos fundamentais da vida de cada uma das personagens. Brás Cubas,
narrador defunto, no capítulo “Das Negativas”, dá-se conta das coisas que desejou, mas não conseguiu
realizar, em sua vida. Bentinho, por sua vez, em “E bem, e o resto?”, reflete sobre a tração sofrida por parte
de sua esposa e de seu melhor amigo.

QUESTÃO 37
a) Memórias Póstumas de Brás Cubas: “(...)os sucessos narrados na primeira parte do livro.”; “Este último
capítulo é todo de negativas.”; “(...) a derradeira negativa deste capítulo de negativas (...)”.
b) Dom Casmurro: “Mas não é este propriamente o resto do livro.”.

QUESTÃO 38
Machado de Assis explora a imagem da mulher dissimulada, esperta, aproveitadora, sensual (e, por
consequência, leva o leitor a pensar em homens fracos e subjugados por essas mulheres). No primeiro
texto, diz-se que Capitu tinha “olhos de cigana oblíqua e dissimulada.”; no segundo, Rita, “como uma serpente,
foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca.”
(OBS.: Considerar outros exemplos dos alunos.)

QUESTÃO 39
Sérgio apresenta impressões negativas sobre os colegas, sempre animalizados, deformados, pervertidos.
Por exemplo: Nascimento era o “bicanca”, alongado como um modelo geral de pelicano; Álvares, moreno,
cenho carregado, cabeleira espessa e intonsa de vate (profeta) de taverna, era violento e estúpido; por fim,
Batista Carlos, raça de bugre, tinha má cara e coçava-se muito, como se o incomodasse a roupa no corpo.
(OBS.: O aluno pode apresentar outros exemplos.)

QUESTÃO 40

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Espera-se que o aluno perceba que a personagem João Romão, extremamente materialista, comporta-se
de acordo com seus interesses, sem preocupar-se com o outro (donde o “descarte” de Bertoleza quando ela
não lhe interessa mais). Bertoleza, por sua vez, aparece como um animal acuado, que de forma
desesperada e instintiva (defesa) põe fim à própria vida.

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