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O INDIZÍVEL
A LUTA PELA EXPRESSÃO
Antônio Soares Amora
Quando dizemos que conteúdo e forma são concomitantes e indissolúveis em nosso
espírito, não estamos a pensar em certos mistérios da vida afetiva. Um exame de consciência, uma
auto-observação cuidadosa, revela-nos, na vida sentimental, por exemplo, fatos desta natureza:
experimentamos emoções, sentimos profundamente certos estados anímicos - e não encontramos
meios para os definir. Não é porventura freqüente o caso de simpatias e antipatias involuntárias?
Quantas vezes não simpatizamos com uma pessoa, sem nenhuma razão, sem nenhum motivo, sem
que nada tenha feito essa pessoa para receber nossa simpatia. Em casos como este temos
consciência de nosso estado de simpatia - mas não sabemos explicá-lo, nem defini-lo. É um estado
bem vivo em nós - e no entanto indefinível, ou indizível.
Muito mais que o homem comum, o artista, vivendo mais intensamente a vida afetiva, sente
esse indizível dentro de si. E sua maior angústia espiritual é encontrar a expressão para essa
realidade visceralmente sentida, mas incompreendida. O drama do artista é sempre a "luta pela
expressão". E quando o artista consegue vencer a impotência expressiva, e alguma cousa dizer das
infinitas e misteriosas ressonâncias de seu mundo interior - essa alguma cousa é sempre muito
pouco em face do que ficou incompreendido. Uma obra literária, em face do indizível que ficou na
alma do artista é, como diz Bergson, "franja residual" do oceano infinito e inquieto das emoções.
O progresso da linguagem e da experiência humana é ininterrupto, suas conquistas são
permanentes; mas o mistério da vida é infinito, e a arte há de sempre lutar com o indizível.
QUESTÃO No 01
"Quando dizemos que conteúdo e forma são concomitantes e indissolúveis
em nosso espírito (...)"
São concomitantes e indissolúveis porque
a) a palavra e a forma é que dão vida ao pensamento.
b) a essência precede a palavra e juntos formam o pensamento.
c) o assunto e a palavra nascem ao mesmo tempo e não há como separar um do
outro.
d) a forma, posterior ao pensamento, serve de veículo para que ele chegue até nós.
e) o pensamento, depois de formulado, liga-se à palavra e juntos formam a
mensagem.
QUESTÃO No 02
"(...) sentimos profundamente certos estados anímicos (...)"
Estados anímicos são estados de
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a) vontade.
b) expressão.
c) pensamento.
d) comportamento.
e) alma.
QUESTÃO No 03
Dentre os trechos abaixo, o único que NÃO apresenta o mesmo tema do
texto de Antônio Soares Amora é:
QUESTÃO No 04
"(...) realidade visceralmente sentida (...)"
A palavra "visceralmente" quer dizer de modo
a) profundo.
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b) moderado.
c) perfeito.
d) completo.
e) apaixonado.
QUESTÃO No 05
Marque a alternativa em que predomina o sentido conotativo.
a) "É um estado bem vivo em nós (...)"
b) "(...) e não estamos a pensar em certos mistérios da vida afetiva."
c) "O progresso da linguagem e da experiência humana é ininterrupto (...)"
d) "(...) e não encontramos meios para os definir."
e) "(...) como diz Bergson, "franja residual" do oceano infinito e inquieto das
emoções."
QUESTÃO No 06
QUESTÃO No 07
QUESTÃO No 08
( "Ah! quem há-de exprimir, alma impotente e escrava,
) O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,
- Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava."
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QUESTÃO No 09
QUESTÃO No 10
TEXTO 2
SALVEM A LÍNGUA PORTUGUESA!
(Fátima Soares Rodrigues - Estado de Minas ( 7-12-00))
Segundo os Novos Parâmetros Curriculares do MEC relacionados ao ensino da Língua
Portuguesa nas escolas brasileiras, a gramática deve ser ensinada de forma contextual, eliminando a
antiga forma através de frases caóticas e na base da "decoreba", mas tem gente que anda misturando
alhos com bugalhos e achando que o Português se aprende apenas com leituras e interpretações de
textos e, por isso, a gramática é desnecessária. E eu pergunto como um aluno de ensino
fundamental pode ser revisor do próprio texto se desconhecer as regras básicas do Português como
a vírgula, por exemplo, que não se separa o sujeito do predicado, se ele nem sabe o que é isso.
As mesmas pessoas que discursam contra o ensino da gramática (nem a contextual elas
dão) pregam também a não-necessidade de se aprender conteúdos que "não acrescentam nada" à
vida do estudante, isto é, ele não vai "- usar isso" na sua profissão, questionando para que um
padeiro ou um pedreiro precisa saber conjugar um verbo defectivo, ou a impessoalidade do verbo
haver; ou discutindo o porquê do ensino, na matemática, de equações do 2º grau, logaritmos, etc.
Trata-se de um pensamento "pré-histórico" e fatídico imaginar que as pessoas estão fadadas
a ser o que são até morrer, isto é, o padeiro nunca passará de padeiro, o pedreiro jamais terá a
oportunidade de vir a ser um mestre-de-obras ou engenheiro; é confinar as pessoas ao "seu
mundinho" para sempre. Pergunto então: É este o papel do educador? Ou é abrir horizontes
estimulando a curiosidade dos alunos e ensinando-lhes que "o saber nunca ocupa lugar" e que o
raciocínio acontece na medida em que há o elo entre as coisas simples e complicadas?
Considerando que o ser humano é um animal capaz de satisfazer a sua curiosidade através
de pesquisas e conclusões, é inadmissível pensar e formar um estudante "limitado" apenas ao que
"interessa" no seu dia-a-dia, frustrando-o enquanto ser pensante e capaz de ir além do que se
aprende.
Acredito que um padeiro também pode e deve sonhar ser o administrador da padaria e para
isso ele tem que ter oportunidade de adquirir conhecimentos.
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QUESTÃO No 11
A expressão misturar alhos com bugalhos denota no texto a idéia de que
QUESTÃO No 12
Considerando os trechos "... É inadmissível pensar e formar um estudante
limitado apenas ao que interessa no seu dia-a-dia..." __ "... o ser humano é um
animal capaz de satisfazer a sua curiosidade através de pesquisas e
conclusões...", a locução que deve preencher a lacuna a fim de expressar a idéia
de relação conseqüência/causa é
a) contanto que.
b) se bem que.
c) ao passo que.
d) já que.
e) por mais que.
TEXTO 3
LÍNGUA E PROGRESSO (Fragmento)
(José de Alencar)
A língua é a nacionalidade do pensamento como a pátria é a nacionalidade do povo. Da
mesma forma que instituições justas e racionais revelam um povo grande e livre, uma língua pura,
nobre e rica, anuncia a raça inteligente e ilustrada. Não é obrigando-a a estacionar que hão de
manter e polir as qualidades que porventura ornem uma língua qualquer; mas sim fazendo que
acompanhe o progresso das idéias e se molde às novas tendências do espírito, sem contudo
perverter a sua índole e abastardar-se.
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TEXTO 4
LÍNGUA
(Caetano Veloso)
Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua."
QUESTÃO No 13
No trecho "... que acompanhe o progresso das idéias (...) sem contudo
perverter a sua índole e abastardar-se." (texto 3), José de Alencar expressa a
perenidade e a transitoriedade das formas lingüísticas, o que se revela também
no seguinte verso de Caetano Veloso:
a) "E uma profusão de paródias."
b) "E furtem cores como camaleões."
c) "Gosto de ser e de estar."
d) "E deixa os portugais morrerem à míngua."
e) "Minha pátria é minha língua."
QUESTÃO No 14
O verso citado entre aspas por Caetano Veloso "Minha pátria é minha
língua" significa que
TEXTO 5
PEQUENA TRAGÉDIA BRASILEIRA
TEXTO 6
QUESTÃO No 15
A função da linguagem que predomina em ambos os textos é
QUESTÃO Nº 16
Em "Laços de Família" percebe-se que a fala das personagens interfere na
condução da narrativa. Só NÃO há essa interferência em
a) "Tudo no fundo, estava igual, só que menor e familiar. Estava sentada bem
tesa na sua cama, o estômago tão cheio, absorta, resignada... Empanturras-te
e eu que pague o pato, disse-se melancólica."
(Devaneios e Embriaguez de uma rapariga)
c) "Continuo a dizer que o menino está magro, disse a mãe resistindo aos
solavancos do carro. E apesar de Antônio não estar presente, ela usava o
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Brasileira
e) "... agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo
demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixa, faminta." (Amor)