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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DA LOUSÃ

Escola Secundária da Lousã - Ano letivo 2023/24

Prova escrita de avaliação (3.º Teste) - Português 12.ºA Avaliação: Pontos (Valores)
Fevereiro 2024

Nome: __________________________________ Educação Literária: _______


(______________________)
Nº _______ Turma: ____ Leitura: ________________
(______________________)
Encarregado de Educação: __________________________ Gramática: _____________
(______________________)
Professor: _______________ Escrita: ________________
(______________________)

PARTE A

Lê o poema de Alberto Caeiro.

Dizes-me: Que uma pedra ou uma planta. Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.

Dizes-me: sentes, pensas e sabes Sei que sou real também.

Que pensas e sentes. Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,

Então as pedras escrevem versos? Embora com menos clareza que me mostram a pedra e
a planta.
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?
Não sei mais nada.
Sim: há diferença.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Mas não é a diferença que encontras;
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias
sobre as coisas: Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;

Só me obriga a ser consciente. E as plantas são plantas só, e não pensadores.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei. Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,

Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos. Como que sou inferior.

Ter consciência é mais que ter cor? Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,

Pode ser e pode não ser. Digo da planta, «é uma planta»,

Sei que é diferente apenas. Digo de mim «sou eu».

Ninguém pode provar que é mais que só diferente. E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.

Sei isto porque elas existem.

Fernando Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, col. Edição

Crítica de Fernando Pessoa, ed. de Ivo Castro, Lisboa,

Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2015, pp. 80-81


Apresenta, de forma clara ou estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Na primeira estrofe, o sujeito poético reproduz as ideias do seu interlocutor («tu», v. 1) sobre a
diferença entre o Homem e as demais entidades da Natureza, como a «pedra» ou a «planta» (v. 2).

Explicita em que consiste essa diferença, segundo o interlocutor do eu poético.

2. No início da segunda estrofe, o sujeito poético inicia a resposta ao seu interlocutor: «Sim: há
diferença. / Mas não é a diferença que encontras» (vv.7 e 8).

Apresenta dois aspetos da distinção entre o eu lírico e as outras entidades da Natureza.

3. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.

Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número que
corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Na quarta estrofe, o sujeito poético defende que a faculdade de pensar a) __. Na repetição da forma
verbal «Sei», no início da quinta estrofe, está presente b) __, com a qual o sujeito poético sublinha
que c) __.

a) b) c)

1. não é mais importante do que 1. tem um conhecimento superior


outras características dos seres 1. um hipérbato ao do seu interlocutor

2. faz o Homem superior às 2. uma enumeração 2. tem uma consciência que lhe
outras entidades da Natureza permite conhecer o mundo através
3. uma anáfora dos sentidos
3. é a via privilegiada para
conhecer o mundo 3. o seu conhecimento do mundo é
puramente raciona
PARTE B

Leia o excerto que se apresenta da obra de Cesário Verde.

O sentimento dum ocidental

I
Nas nossas ruas, ao anoitecer,

Há tal soturnidade, há tal melancolia,

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia

Despertam um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,

O gás extravasado enjoa-nos, perturba;

E os edifícios, com as chaminés, e a turba

Toldam-se d’uma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,

Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!

Ocorrem-me em revista, exposições, países:

Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,

As edificações somente emadeiradas:

Como morcegos, ao cair das badaladas,

Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros

Voltam os calafates, aos magotes,

De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;

Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,

Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

Cesário Verde, Cânticos do Realismo – O livro de Cesário Verde,

Lisboa, INCM, 2005, pp. 122-123


Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Localize no tempo e no espaço a deambulação do sujeito poético, exemplificando com elementos


textuais pertinentes.

2. Explicite a reação do “eu” poético perante a realidade observada.

PARTE C

1. Lê o texto.

Camões era ativista, influenciador e político


Dizemos que Camões é o poeta português e com razão. A sua emoção lírica é incomparável –
«Erros meus, má fortuna, amor ardente» –, a sua força épica não tem par – «canto o peito ilustre
Lusitano, a quem Neptuno e Marte obedeceram». Muita gente ignora que ele foi também um homem
de intervenção social, um influenciador, um político. […] Os Lusíadas são o grande poema da glória
portuguesa. Mas na época foi mais que isso. Para além de um descarado enaltecimento a el-rei D.
Sebastião, a obra era também um libelo acusatório contra a degradação moral e política do reino. O
poema procurava reerguer a dignidade de Portugal, quando o império se mostrava já falido, perdido
em guerras, enredado nas garras de uma nobreza corrupta… […] Ao cantar as glórias de outrora,
mostrava as tristezas da época. Ao elevar ao estatuto de deuses o homem de outras eras, por
comparação, mostrava a pequenez dos que de tinham os poderes no seu tempo. Mais que um
poema, Os Lusíadas apresentavam-se como um verdadeiro livro ideológico

1.1 Considerando o conteúdo do texto e a tua experiência de leitura de Os Lusíadas, escreve uma
breve exposição sobre o modo como a epopeia camoniana confirma a perspetiva apresentada no
último parágrafo do texto de João Morgado.

A tua exposição deve incluir:

– uma introdução ao tema;

– um desenvolvimento no qual refiras dois aspetos que evidenciem o modo como, em «Os
Lusíadas», Camões reflete sobre ideias, valores e princípios, fundamentando cada um desses
aspetos em, pelo menos, um exemplo pertinente;

– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.


Proposta de resolução

PARTE A

1. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

– A primeira diferença entre o Homem e as demais entidades da Natureza reside no facto de o


primeiro ser superior, já que é dotado da faculdade da razão, enquanto as segundas não o
são, pois só os seres humanos podem refletir sobre a realidade – «Então as plantas têm ideias
sobre o mundo?», v. 6;

– A segunda diferença está no facto de os seres humanos terem sentimentos e sensibilidade e


os seres e objetos da Natureza não terem – «Então as pedras escrevem versos?», v. 5.

2. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

– O sujeito poético reconhece que uma diferença entre a Natureza e o Homem assenta no
facto de ser dotado da faculdade do intelecto, e, por isso, ter consciência – «o ter consciência
não me obriga a ter teorias sobre as coisas», v. 9;

– A distinção principal entre Homem e restante Natureza reside na ideia de todos as entidades
deste mundo terem uma essência própria e características específicas, que as tornam
diferente de outras entidades – «E as plantas são plantas só, e não pensadores.» (v. 27).

3. a) 1; b) 3; c) 2.

PARTE B

1. O sujeito poético encontra-se a deambular pela cidade de Lisboa, num fim de tarde,


uma vez que logo na primeira estrofe se faz referência ao Tejo, ao bulício e à azáfama
típicos do final de um dia de trabalho. Por isso, os versos “Nas nossas ruas, ao
anoitecer” (v. 1) e “Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia” (v. 3) atestam a
localização espácio-temporal anteriormente registada. A deambulação é também
evidente na forma verbal “erro” (v. 20).

2. As exclamações presentes na terceira estrofe traduzem a emotividade, o estado de


espírito do “eu” poético; estas exclamações (“Felizes!” – v. 10; Madrid, Paris, Berlim,
S. Petersburgo, o mundo! – v. 12) parecem sugerir uma certa inveja daqueles que
partem e, desse modo, fogem da realidade onde se encontra o “eu”. Estes podem ver
outras capitais, conhecer o mundo, em vez de ficarem emparedados e sujeitos ao
“desejo absurdo de sofrer” (v. 4) que a cidade onde o “eu” poético se encontra lhe
desperta.
PARTE C

1. Resposta pessoal. Tópicos de resposta:


– Os Lusíadas enquanto «livro ideológico», nomeadamente nos momentos das reflexões do poeta.

– As considerações do poeta sobre os defeitos da pátria (o desprezo pelas artes e pelas letras, no
final do Canto V, desinteresse face à sua obra, nas reflexões dos Cantos VII e X, o apego ao dinheiro,
explorado na reflexão do Canto VIII).

– Os conselhos aos seus contemporâneos, sobre os «valores e princípios» que os elevarão ao


patamar dos heróis que exalta (o valor da cultura, abordado na reflexão do Canto V, o ideal de
conciliação das armas e das letras, apontado nas reflexões dos Cantos V, VII e X) e sobre os critérios
para se tornarem merecedores do canto épico (reflexão do Canto VII) e atingirem a Glória, a Fama e
a imortalidade (reflexão do Canto IX).

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