Você está na página 1de 9

Testes por sequência

Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

Sequência 1 • Fernando Pessoa – Poesia dos heterónimos

Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Parte A
Lê o poema de Alberto Caeiro.

XXXIV

Acho tão natural que não se pense


Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...

5 Que pensará o meu muro da minha sombra?


Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...

10 Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que
tem?
Se ela a tivesse, seria gente,
E se fosse gente, tinha feitio de gente, não era a
15 terra.
Mas que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
20 Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.

PESSOA, Fernando, 2010, Poesia dos Outros Eus.


2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 63-64)

1 Considerando a primeira estrofe do poema, procede à caracterização do sujeito poético.

2e Clarifica o sentido dos versos 8 e 9, tendo em conta o contexto em que ocorrem.


LDIA12DP © Porto Editora
Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

LDIA12DP © Porto Editora

3 Explicita o valor das interrogações retóricas utilizadas na última estrofe, relacionando-as com o
sentido do último verso, enquanto conclusão do poema.

4e Completa as afirmações seguintes, selecionando a opção adequada a cada espaço.

Regista as letras – (a), (b) e (c) – e, para cada uma delas, o número que corresponde à opção
selecionada em cada um dos casos.

Neste poema de Alberto Caeiro, são percetíveis várias características da escrita deste
heterónimo pessoano. De facto, o discurso poético pauta-se pelo uso de um tom (a) ,
recriando uma linguagem (b) de artifícios, que se harmoniza com a (c)
comunicativa das ideias apresentadas.

(a) (b) (c)

1. solene 1. despojada 1. complexidade


2. formal 2. repleta 2. ambiguidade
3. coloquial 3. dependente 3. simplicidade

Parte B
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Levad’1, amigo, que dormides as manhanas2 frias


tôdalas3 aves do mundo d’amor dizia[m]:
leda4 m’and’eu.
Levad’, amigo que dormide’las frias manhanas
5 tôdalas aves do mundo d’amor cantavam:
leda m’and’eu.

Tôdalas aves do mundo d’amor diziam,


do meu amor e do voss[o] em ment’haviam5:
leda m’and’eu.

10 Tôdalas aves do mundo d’amor cantavam,


do meu amor e do voss[o] i enmentavam6:
leda m’and’eu.

Do meu amor e do voss[o] em ment’haviam


vós lhi tolhestes7 os ramos em que siíam8:
15 leda m’and’eu.

Do meu amor e do voss[o] i enmentavam


vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam:
Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

leda m’and’eu.
Vós lhi tolhestes os ramos em que siíam
20 e lhis secastes as fontes em que beviam;
leda m’and’eu.

Vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam


e lhis secastes as fontes u9 se banhavam;
leda m’and’eu.

Nuno Fernandes Torneol, in LOPES, Graça Videira (ed. coord.),


2016. Cantigas medievais galego-portuguesas. Corpus integral
profano – Vol. 2. Lisboa: Biblioteca Nacional, Instituto
de Estudos Medievais e Centro de Estudos de Sociologia e Estética
Musical (pp. 185-186)

1. Levad’: levantai-vos. 2. manhanas: manhãs. 3. tôdalas: todas as. 4. leda:


alegre. 5. em ment’haviam: tinham no pensamento. 6. i enmentavam: nele (no
canto), falavam do meu amor e do vosso. 7. tolhestes: tirastes.
8. siíam: estavam pousadas. 9. u: onde.

5 Interpreta o apelo feito pela donzela ao «amigo», nas duas primeiras estrofes.

6 Identifica duas partes distintas na estrutura temática do poema, justificando, devidamente, a


resposta.

(Questões adaptadas do Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa – 2022, 2.ª fase)

Parte C

7 Ricardo Reis é, no universo pessoano, o poeta que desenvolve uma reflexão existencial centrada

na questão da morte.

Escreve uma breve exposição sobre a consciência e a encenação da mortalidade na poesia deste
heterónimo.
A tua exposição deve incluir:
– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual refiras duas das formas como a mortalidade humana é abordada na
poesia de Ricardo Reis, fundamentando as ideias apresentadas em, pelo menos, um exemplo
significativo de cada uma dessas formas;
– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

LDIA12DP © Porto Editora


Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

LDIA12DP © Porto Editora

Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

Lê o texto.

Quando as árvores eram rainhas

A Idade Média não é apenas a época dos cavaleiros e das damas, dos servos e dos
senhores, dos torneios e dos reis. É, acima de tudo, o tempo da floresta e das árvores. Num
dos seus primeiros livros, Guerreiros e Camponeses, o grande medievalista francês Georges
Duby escreveu: «Até ao final do século XII, a proximidade de um vasto pano de fundo florestal
5 ressoava em todos os aspetos da civilização: a sua marca tanto pode ser encontrada nos temas
dos romances corteses como nas formas inventadas pelos decoradores góticos. Para os
homens da época, a árvore é a manifestação mais óbvia da natureza vegetal.»
A floresta, as suas formas, as suas criaturas, as suas lendas, as suas clareiras, mas
também a madeira como elemento omnipresente na vida quotidiana ocupam o espaço vital e o
10 imaginário do mundo medieval. Até ao ano 1000, como estudou a medievalista Ana Rodríguez,
do Conselho
Superior da Investigação Científica (CSIC), o material de construção mais comum era a
madeira e não a pedra. [...]

Inspiração à sombra
15 A floresta é simultaneamente o local de todos os perigos, dos animais selvagens, dos
ataques (de bandidos), e um espaço de vida, com água e todos os recursos da Natureza, como
a caça. Por todas estas razões, constitui o refúgio ideal para marginais, como o bando de Robin
dos Bosques, outro dos grandes mitos medievais associados à floresta e às árvores. Além dos
seus mistérios, das suas feras e das suas solidões, as florestas também acolheram o amor
20 cortês, por vezes em segredo. [...]
O homem medieval explorou excessivamente os recursos da floresta, mas nunca
conseguiu esgotá-los, como aconteceria alguns séculos mais tarde com a revolução industrial.
A floresta era infinita e a madeira ocupava o centro da vida. [...]
Tolkien recorreu ao seu profundo conhecimento do mundo medieval para recriar, em O
25 Senhor dos Anéis, o poder das florestas com Fangorn e os seres que as habitam, os Ents,
aquelas árvores vivas que podem adormecer para sempre e parar de se mover, e que estão
constantemente à procura das mulheres Ents, que parecem ter desaparecido.
De facto, após a Idade Média, a floresta será sujeita a um processo constante de
destruição e exploração que terminará no século XIX com a Idade do Carvão, e as
consequências que conhecemos. A Idade Média é talvez o último período em que as árvores
dominaram o mundo.
Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

ALTARES, Guillermo, 2020. «Quando as árvores eram rainhas».


Courrier Internacional, n.º 296, outubro de 2020 (pp. 66-67)

1 O primeiro período do texto sugere que

(A) prevalece uma ideia estereotipada da Idade Média.


(B) a Idade Média foi um período de fortes contrastes sociais.
(C) a Idade Média se caracterizou por relações sociais desequilibradas.
(D) o texto irá abordar questões polémicas relativas à época medieval.

2 De acordo com o texto, na Idade Média, as florestas assumiam-se como


(A) espaços exclusivos do imaginário medieval.
(B) locais isentos de perigo.
(C) lugares de possibilidades múltiplas.
(D) espaços, predominantemente, arriscados.

3 A exploração das florestas na Idade Média reflete


(A) a preocupação ambiental que, desde cedo, assolou o ser humano.
(B) a indiferença humana em relação à finitude dos recursos naturais.
(C) uma utilização consciente dos recursos naturais.
(D) a preocupação em relação às gerações vindouras.

4 Ao referir a figura de Robin dos Bosques e a obra de Tolkien (O Senhor dos Anéis), o autor
(A) destaca a relevância das florestas no imaginário da Idade Média.
(B) realça a imprescindibilidade das florestas no processo de criação artística.
(C) valoriza o papel do ser humano em detrimento do papel da natureza.
(D) evidencia a influência das florestas na criação de universos míticos e ficcionais.

5 No contexto em que ocorre, o vocábulo «para» (l. 16) contribui para a coesão textual
(A) gramatical referencial.
(B) gramatical interfrásica.
(C) gramatical frásica.
(D) lexical por substituição.

6 Identifica o processo que esteve na origem da formação de cada uma das seguintes palavras:
a) «omnipresente» (l. 9);
b) «infinita» (l. 22).

7 Classifica a oração «que terminará no século XIX com a Idade do Carvão» (l. 28) e refere a função
sintática do elemento que a introduz.
LDIA12DP © Porto Editora
Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

LDIA12DP © Porto Editora


Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

Grupo III
«Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao
mundo e aos outros.»
Bernardo Soares

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e
cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a forma como a individualidade humana é
apresentada na citação de Bernardo Soares.
No seu texto:
– explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos,
cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2023/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

Cotações
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 104
16 16 16 8 16 16 16
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 56
8 8 8 8 8 8 8
III Item único 40
Total 200

LDIA12DP © Porto Editora


Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

Matriz do Teste 2 • Fernando Pessoa – Poesia dos heterónimos LDIA12DP © Porto Editora

Estrutura e cotação Domínios Aprendizagens Essenciais

Parte A

• Interpretar obras literárias


1. 16 pontos portuguesas produzidas no
século XX:
Fernando Pessoa (poesia dos
2. 16 pontos heterónimos).

• Interpretar textos literários


3. 16 pontos portugueses produzidos entre
Educação
os séculos XII e XVI:
Literária
4. 8 pontos Poesia trovadoresca. [Retoma]
Grupo I
104 pontos • Comparar textos de diferentes
Parte B épocas em função dos temas,
ideias, valores e marcos históricos
e culturais: Fernando Pessoa
5. 16 pontos (poesia dos heterónimos) e
poesia trovadoresca.

6. 16 pontos

Parte C
• Escrever uma exposição,
Escrita
respeitando as marcas de género.
7. 16 pontos

1. 8 pontos
• Ler textos de diferentes graus
de complexidade argumentativa:
2. 8 pontos
artigo de opinião.

3. 8 pontos • Identificar os processos de


coesão textual (gramatical e
lexical).
Grupo II Leitura
4. 8 pontos
56 pontos Gramática
• Conhecer os processos de
formação de palavras.
5. 8 pontos
• Explicitar o conhecimento
gramatical relacionado com a
6. 8 pontos
articulação entre constituintes e
entre frases (frase complexa).
7. 8 pontos

Grupo III • Escrever um texto de opinião,


Item único 40 pontos Escrita
40 pontos respeitando as marcas de género.
Testes por sequência
Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 2

Sugestões de resolução do Teste 2 a expressão do sofrimento da donzela pelo fim do


idílio.2
Grupo I – Parte A
2 In Explicitação dos critérios de classificação e respetivas cotações
1. O sujeito poético caracteriza-se como alguém que – Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa – 2022, 2.ª fase.

considera o ato de não pensar como seu traço


constitutivo e que, por isso, se sente distanciado e se Grupo I – Parte C
ri de haver «gente que pensa» (v. 4). Vive das
7. Resposta pessoal. Tópicos de resposta:
sensações, nega a utilidade do pensamento e
– face à consciência da efemeridade da vida e à
defende uma atitude objetivista perante a realidade
inevitabilidade da morte, Ricardo Reis procede a
(vv. 11 e 16-19).
uma encenação da mortalidade, defendendo que se
2. Os versos exprimem o descontentamento do «eu» deve fruir o momento presente com tranquilidade,
consigo mesmo por se ter surpreendido a perguntar- sem anseios futuros, baseando-se na máxima
se «cousas», isto é, a pensar, o que significa ter-se epicurista do carpe diem (exemplo textual: «Mestre,
traído, por momentos, a si próprio, caindo no erro são plácidas»);
que critica nos outros. Mesmo que momentânea, – a vivência do presente deve pautar-se pela
esta contradição provoca-lhe um desagrado e um disciplina e contenção e pela aceitação do Destino
desconforto quase físicos (v. 9).1 inelutável, de acordo com a perspetiva estoicista,
3. As interrogações retóricas dos versos 10 e 15 uma vez que o homem não tem poder de escolha e
salientam a indiferença do sujeito poético face ao que qualquer perturbação gerará apenas dor
ato de pensar e marcam o seu afastamento (exemplo textual: «Vem sentar-te comigo, Lídia, à
relativamente a essa problemática. Por seu lado, o beira do rio»).
verso final surge formulado como a conclusão do
poema e, em particular, da argumentação iniciada Grupo II
no verso 15, relativa ao que o sujeito poético 1. (A).
perderia se «pensasse» e ao que ganha não
pensando. Assim, pensar significaria deixar de ver a 2. (C).
realidade para «ver só» as construções abstratas 3. (B).
dos «pensamentos», que se interporiam, como uma
cortina, entre o «eu» e «as árvores», «as plantas», e 4. (D).
a «Terra», deixando-as «às escuras». Pelo 5. (C).
contrário, não pensando, nada se interpõe entre o
6. a) Composição morfológica.
seu olhar e a realidade das coisas do mundo; em
suma, não pensar é libertar de subjetividade a visão b) Derivação por prefixação.
do real, é restituir ao olhar a capacidade de ver o 7. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva;
mundo na sua plenitude, é sentir-se dono da «que» – sujeito.
«Terra» e do «Céu».
1 In Explicitação dos critérios de classificação e respetivas cotações Grupo III
– Prova Escrita de Português B – 2002, 1.ª fase, 1.ª chamada.
Resposta pessoal.
4. a) 3; b) 1; c) 3.

Grupo I – Parte B
5. Nas duas primeiras estrofes, com o seu apelo, a
LDIA12DP © Porto Editora

donzela expressa a vontade de acordar o «amigo».


Por outro lado, identifica o interlocutor (através da
apóstrofe), evidenciando a relação amorosa entre
ambos. Para além disso, interpela o «amigo»,
avisando-o da aproximação do dia (na tradição da
alba).2

6. Na estrutura temática do poema, podem


identificar-se duas partes distintas. Assim, nas
primeiras quatro estrofes, é sobretudo evocada a
felicidade associada ao sentimento amoroso
recíproco. Já nas quatro últimas estrofes, predomina

Você também pode gostar