Você está na página 1de 2

Letras em dia, Português, 10.

° ano Educação Literária

Luís de Camões, Rimas

Lê atentamente o poema de Luís de Camões.

Aquela triste e leda1 madrugada,


cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada2.
 
5 Ela só, quando amena e marchetada3
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se4 d’ũa5 outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.
 
Ela só viu as lágrimas em fio,
10 que d’uns e d’outros olhos derivadas
s’acrescentaram em grande e largo rio.
 
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
CAMÕES, Luís de, 1994. Rimas (Texto estabelecido, revisto e prefaciado por
Álvaro J. da Costa Pimpão). Coimbra: Almedina (p. 157)

1. leda: alegre;
2. celebrada: recordada, não esquecida;
3. marchetada: enfeitada;
4. apartar-se: afastar-se, separar-se;
5. ũa: uma.

Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada.

1. Divide o poema em partes, de acordo com a sua estrutura interna, e fundamenta a tua resposta.

2. Justifica a personificação da madrugada.

3. Explicita o sentimento que o sujeito lírico pretende transmitir.

4. Destaca o valor expressivo da antítese na primeira e na quarta estrofes.

5. Identifica as características formais do poema, no que diz respeito a estrofes, rima e métrica.

LDIA10 © Porto Editora


Letras em dia, Português, 10.° ano Sugestões de resolução

Educação Literária

Luís de Camões, Rimas

1. O poema pode ser dividido em duas partes. Na primeira, correspondente à primeira estrofe, o sujeito lírico manifesta
a sua intenção de recordar aquela madrugada. As restantes estrofes constituem a segunda parte e justificam aquela
intenção.

2. Ao longo do poema, a madrugada é personificada. Na segunda estrofe, ela é apresentada como alguém que é
surpreendido, no seu percurso habitual diário, por uma situação que lhe capta a atenção. «Ela […] viu» e «Ela viu» é
repetido anaforicamente nas segunda, terceira e quarta estrofes, reforçando o papel da madrugada enquanto única
testemunha do momento de separação dos amantes.

3. O sujeito lírico pretende transmitir a saudade e a profunda tristeza provocada pela separação de duas pessoas que
se amam. A referência a uma grande quantidade de lágrimas que, hiperbolicamente, pareciam formar um rio («as
lágrimas em fio,/que d’uns e d’outros olhos derivadas/s’acrescentaram em grande e largo rio», vv. 9-11) e a referência
às «palavras magoadas», capazes de arrefecer o fogo e de aliviar a culpa das «almas condenadas», intensificam a
profunda tristeza sentida pelos amantes e manifestada nas suas palavras e nos seus gestos.

4. No primeiro verso, a madrugada é duplamente adjetivada como «triste e leda», ou seja, triste e alegre, o que constitui
uma antítese. A alegria da madrugada relaciona-
-se com o seu esplendor, beleza e brilho natural e a tristeza deve-se ao facto de se «sentir» solidária com a situação
testemunhada. Na quarta estrofe, o verso «que puderam tornar o fogo frio» também explora a antítese ao referir o
«fogo» como «frio».

5. O poema é um soneto, pois é constituído por duas quadras e dois tercetos. Nas quadras, a rima é interpolada (entre
o primeiro e o quarto versos) e emparelhada (entre o segundo e o terceiro versos). Nos tercetos, existe rima cruzada.
Todos os versos são constituídos por dez sílabas métricas, correspondendo à métrica preconizada pelo género do
soneto.

LDIA10 © Porto Editora

Você também pode gostar