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PALAVRAS 12

Teste de avaliação – 12.º ano novembro 2022

Educação Literária

Grupo I (120 pontos)

A (60 pontos)

Lê atentamente o seguinte poema.

A minha vida é um barco abandonado


Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah! Falta quem o lance ao mar, e alado


Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor do afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontade.


Que viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,


O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.

Fernando Pessoa, Poesia 1931-1935 e não datada, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Freitas, Madalena Dina, Lisboa:
Assírio e Alvim, 2005.

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Explica os dois primeiros versos no contexto do poema.
2. Relaciona a interrogação da primeira estrofe com o sentido da segunda estrofe.
3. Identifica o recurso expressivo presente no verso treze “O vento embala-te sem te
mover”, comentando o seu valor expressivo.
4. Comenta a seguinte afirmação: “o sonho é muitas vezes, para Fernando Pessoa, uma
compensação para a realidade amarga e hostil”.

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B (45 pontos)

Em Petiz
I
De Tarde
Mais morta do que viva, a minha companheira
Nem força teve em si para soltar um grito;
E eu nesse tempo um destro1 e bravo rapazito,
Como um homenzarrão servi-lhe de barreira!

Em meio de arvoredo, azenhas e ruínas,


Pulavam para a fonte as bezerrinhas brancas;
E tetas a abanar, as mães, de largas ancas,
Desciam mais atrás, malhadas e turinas2.

Do seio do lugar − casitas com postigos −


Vem-nos o leite. Mas batizam-no3 primeiro.
Leva-o, de madrugada, em bilhas, o leiteiro,
Cujo pregão4 vos tira ao vosso sono, amigos!

Nós dávamos, os dois, um giro pelo vale:


Várzeas, povoações, pegos5, silêncios vastos!
E os fartos animais, ao recolher dos pastos,
Roçavam pelo teu "costume de percale6".

Já não receias tu essa vaquita preta,


Que eu segurei, prendi por um chavelho7? Juro
Que estavas a tremer, cosida com o muro,
Ombros em pé, medrosa, e fina, de luneta!
Cesário Verde, Cânticos do Realismo e Outros Poemas, ed. Teresa Sobral Cunha, Lisboa: Relógio d’Água, 2006,
p.118.

5. Seleciona marcas temporais no poema que permitem percecionar o episódio narrado


como fruto da recordação do sujeito.
6. Explicita de que modo o campo é descrito como um espaço perdido, fruto da
prevalência da vida urbana moderna.
7. Este poema apresenta uma figura feminina citadina que acompanha o sujeito na sua
evocação do passado. Recorda outras figuras femininas que conheceste aquando da
leitura de outros poemas de Cesário.

1
ágil.
2
raça de gado bovino.
3
adicionar água.
4
anúncio público feito em voz alta.
5
sítios mais fundos dos rios.
6
fato de tecido de algodão fino.
7
chifre.
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C (15 pontos)

8. Tendo em conta a tua experiência de leitura da poesia pessoana, apresenta a teoria do


fingimento poético, numa exposição de cento e trinta a cento e setenta palavras,
fundamentando as tuas afirmações.

Grupo II (40 pontos)


Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Um saco cheio para abrir

A Fundação Calouste Gulbenkian celebra os 130 anos do “monumento nacional”


literário com a exposição Tudo o que Tenho no Saco, Eça e Os Maias, que inclui peças
nunca antes saídas da Casa de Tormes. Para ver até fevereiro, em Lisboa.
Esta é uma “visão panorâmica”, explica a curadora Isabel Pires de Lima, não é uma
empreitada documental: “É uma exposição para o grande público, fala sobre Os Maias em
diálogo com outras obras.” A ex-ministra da Cultura e professora catedrática da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto sublinha a atualidade de Eça de Queirós: “Quando um escritor
resiste ao tempo e tem leitores, um século, dois, cinco ou dez depois, é porque é atual.” Para já,
o século XXI bem pode ainda rever-se em Eça, pois a curadora pensou também nos novos
públicos, nos alunos da escola: esta é uma exposição para abrir ligações, perceber influências,
descobrir afinidades, ver o que a admiração por Eça também provocou em nós. Uma ideia
igualmente sublinhada por Maria Helena Borges, subdiretora do Programa Gulbenkian de
Língua e Cultura Portuguesas: “Aqui, mostra-se que o Eça é imortal, é intemporal. A doutora
Isabel Pires de Lima conseguiu dessacralizar o autor e Os Maias.” Entra-se na sala e esta
transfigura-se num túnel onde se descobre uma constelação de ideias, de afetos, de artes várias.
Patente entre sexta-feira, 30 de novembro, e 18 de fevereiro, e organizada em sete núcleos
(1888 ‒ A Vasta Máquina!, Aprendizagens, Guerra ao Romantismo, Norma e Desejo, Olhares
Cruzados, A Arte é tudo, Lugares), Tudo o que Tenho no Saco, Eça e Os Maias declina-se sob
o signo dessa frase repescada de uma missiva dirigida a Ramalho Ortigão datada de 20 de
fevereiro de 1881: o cônsul Eça estava então em Bristol, tinha livros já publicados que lhe
tinham construído o nome, e declara que decidira elaborar um romance “em que pusesse tudo
no saco”. E se o saco queirosiano é um poço profundo, a exposição é uma caixa de
ressonâncias. Documentos, há-os, claro: contos, crónicas, romances, cartas que fizeram história
(como a descasca supimpamente exemplar escrita para Fialho de Almeida, espicaçado pela
crítica negativa deste a Os Maias). Sublinha-se, assim, o “particular e original realismo” de
Eça: “um heterodoxo, um realista mas não como manda a cartilha”, sublinha a curadora. Este

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Eça é também um puzzle material, visual e sonoro. Ao som da banda sonora criada pelo
musicólogo Rui Vieira Nery e inspirada nas alusões musicais da obra do escritor (um loop com
opereta francesa, opereta vienense, música erudita portuguesa de raíz rural, danças de salão
portuguesas, zarzuelas e ópera francesa) encontramos um acervo intimista mostrado pela
primeira vez fora da Casa de Tormes, lar da Fundação Eça de Queiroz, em Baião: a
escrivaninha de pé alto e banco onde o escritor trabalhava, o baú dos manuscritos e o tinteiro de
latão, a mesa do célebre arroz de favas, a mesa dos espíritos de Eça, a cadeira de Jacinto
(personagem de A Cidade e as Serras)... Antes de aí chegar, há fotografias pessoais:
contemple-se o autor vestido com a cambaia orientalista oferecida e pose mandarinesca num
retrato datado de 1893, ou de fato e bigodes cofiados ao lado dos cúmplices da época, os
denominados Vencidos da Vida. Mas também observamos o autor em ambiente familiar:
sentado e pensativo na sua sala de trabalho, à mesa com amigos ou com os filhos no jardim da
casa de Neuilly, em França. Mas também há para ver desenhos próprios (como Alta Síria
traçada pelo seu punho na viagem datada de 1869, por exemplo), capas vintage de Os Maias,
caricaturas de Rafael Bordalo Pinheiro ou de João Abel Manta, que por exemplo declina o
autor como mestre marionetista das suas próprias personagens. (…) E a palavra de Eça de
Queiroz? Está presente, para ser lida… e para ser levada: o desenho expositivo contempla 53
blocos de folhas A4 com excertos de textos diversos que qualquer um pode levar consigo. Eça
regressa à cidade.
Sílvia Couto Cunha, Visão, 22.11 a 28.11.2018, p. 41.

1. O texto é o anúncio de uma exposição


(A) para um público restrito e especialista.
(B) para o público que nunca leu Eça de Queirós.
(C) que tem como protagonista um monumento nacional em Tormes.
(D) que relaciona vários documentos de Eça de Queirós.

2. O título deste texto é uma alusão a uma expressão de


(A) Isabel Pires de Lima.
(B) Eça de Queirós.
(C) Fialho de Almeida.
(D) Abel Manta.

3. De acordo com o texto, Eça é intemporal porque


(A) os seus leitores mantêm-se fiéis.
(B) remete para situações exemplares.
(C) introduz temas anacrónicos.
(D) continua a ter leitores, passados dois séculos.

4. A expressão “a exposição é uma caixa de ressonâncias” (l. 22-23), no contexto em que


surge, significa que a exposição
(A) é uma pequena amostra da crítica à obra do escritor.
(B) é uma amostra concentrada do impacto da obra do escritor.
(C) enfatiza todo o universo queirosiano.
(D) dissemina as ambiguidades da obra queirosiana.

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5. A expressão “o saco queirosiano é um poço profundo” (l. 22) constitui uma


(A) metáfora.
(B) comparação.
(C) personificação.
(D) hipérbole.

6. Indica o referente do pronome relativo presente em “que inclui peças nunca antes saídas
da Casa de Tormes.” (ll. 2-3).

7. Classifica a palavra “um loop” (l. 28) quanto ao processo de formação.

Grupo III (40 pontos)


Escrita
Num texto bem estruturado, com o mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, faz
uma apreciação crítica desta ilustração.

Segue a planificação apresentada.


• identificação da imagem que é objeto de apreciação;
• descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua
composição (cor, forma, simbologia);
• comentário crítico, fundamentando devidamente a tua apreciação e utilizando um
discurso valorativo;
• retoma dos pontos de vista desenvolvidos.
Bom trabalho!

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