GRUPO I
PARTE A
Leia o poema.
1. Proceda à divisão do poema em duas partes, explicitando o conteúdo de cada uma delas.
Texto B
Leia o texto.
1 Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
São – tictac visível – quatro horas de tardar o dia.
Abro a janela diretamente, no desespero da insónia.
E, de repente, humano,
5 O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
Fraternidade na noite!
Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.
Dorme. Nós temos luz.
10
Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,
O coração latente das nossas duas luzes,
Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.
15
Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.
Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
Que fazes, camarada, da janela com luz?
20
Reticências
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Lê o poema.
O Guardador de Rebanhos, XX
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
CAEIRO, Alberto (2001). Poesia. Lisboa: Assírio & Alvim, pp. 53-54.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Explica por que razão o sujeito poético refere que o Tejo é “mais belo” e “não é mais belo”
do que o rio que corre pela sua aldeia
2. Interpreta o sentido do verso “aqueles que veem em tudo o que lá não está” (v. 6).
A encenação poética a que Fernando Pessoa nos habituou resulta de uma consciência
hipertrofiada do ser que viveu torturado pela inteligência e que explorou várias temáticas
suscetíveis de se interligarem.
GRUPO II
Leia o texto.
Não é preciso ser um estudioso da obra de Fernando Pessoa para perceber que há
citações pessoanas para todos os gostos e momentos. A obra de Pessoa está para as redes
sociais como um oráculo1 de pensamentos a partilhar. Serve de legenda de foto, serve para
acompanhar o perfil do tinder2, para postar com uma paisagem de fundo, ou mesmo como
5 indireta para o ex. E se esta é a manifestação menos nobre e prestigiante do génio pessoano,
não deixa de ser a mais corriqueira e omnipresente nos quotidianos do século que agora
atinge a maioridade.
Entre as categorias de frases-de-Pessoa-para-partilhar, a mais recorrente é a falsa-citação.
Nomeadamente aquela que, na verdade, não pertence ao poeta, mas muita gente parece
10 acreditar que sim. É o caso do apócrifo3 Pedras no caminho? Guardo-as todas! Um dia vou
construir o meu castelo. Quem nunca se cruzou com este clássico nas redes? Partilhado por
aquela pessoa sofrida que enfrenta a vida com estoicismo4, mas não percebe nada de
literatura. E nunca, com pena minha, pela classe dos nefrologistas5. Os únicos para quem esta
frase faz mais do que sentido, já que ganham dinheiro com pedras nos rins alheios, na
15 esperança de comprar uma casita de praia antes da meia-idade.
Outra recorrente citação (esta mesmo) de Pessoa, é a do mar salgado e de quanto do seu
sal são lágrimas de Portugal. Um expressivo verso, que descreve eficazmente a ligação
histórica do povo português ao mar, como ponto de partida, fonte de saudade, separação e
angústia. E que entretanto tem vindo a ser “substituído” no Brasil por uma rima do rapper
20 Emicida que, sem saber da existência dessa frase de Pessoa, “respondeu-lhe” com igual
eficácia, angariando a identificação de toda uma geração de ouvintes de Rap afro-brasileiros.
Assim sendo, e porque me parece mais verdadeira e justa esta nova versão, proponho que
passemos a citar antes Emicida, escrevendo no mural que O tempero do mar foi lágrima de
preto!
Capicua, in revista VISÃO, nº 1334, de 27 de setembro de 2018 (com supressões).
Notas:
1
resposta da divindade consultada; 2 do incendiário; 3 que não é do autor a quem se atribui;
4
indiferença; 5 especialistas das doenças dos rins.
2. De acordo com o conteúdo do segundo parágrafo, encontram-se, nas redes sociais, citações
(A) pessoanas para toda e qualquer situação.
(B) de Pessoa que podemos partilhar com toda a gente.
(C) atribuídas indevidamente a Fernando Pessoa.
4. O valor aspetual configurado na afirmação “A obra de Pessoa está para as redes sociais como
um oráculo de pensamentos a partilhar.” (ll. 2-3) é
(A) genérico.
(B) habitual.
(C) perfetivo.
(D) imperfetivo.
5. A oração “que agora atinge a maioridade” (ll. 6-7) classifica-se como subordinada
(A) substantiva relativa.
(B) substantiva completiva.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) adjetiva relativa explicativa.
GRUPO III
Há quem considere que as redes sociais são uma fonte credível de informação. Por isso,
estas estão a substituir os contactos diretos e a leitura de obras de referência. Contudo, não se
pode nem deve confiar cegamente no que aí se lê e muito menos desprezar outros meios de
alcançar conhecimentos.
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(334 palavras)