Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
8.º ano
Duração da Prova: 90 minutos Outubro de 2020
GRUPO I
Lê o texto. Caso necessário, consulta o vocabulário.
Texto A
Leitura
Segunda Guerra Mundial. Oito pessoas viveram dois anos num anexo de uma casa na
Prinsengracht 263, em Amesterdão. Uma delas era uma menina de 13 anos que escreveu um
diário. O famoso diário de Anne Frank. Na vida dessa menina como as outras, sabemos do
seu mundo, da vida sob ocupação, o segredo, o medo. E aprendemos sobre a humanidade.
5 Um milhão de pessoas visitam a sua casa todos os anos.
Estou com a minha sobrinha e os pais dela numa fila para entrar na casa de Anne Frank.
Fomos quatro entre tantos, pacientes numa fila de horas. Tantos a querer compreender alguma coisa
e, sobretudo, a prestar homenagem a Anne, e nela a milhões de judeus mortos na Segunda Guerra.
A casa de Anne Frank fica virada para um canal, ao lado de uma igreja. Ali havia um
10 castanheiro de que Anne gostava. Era uma das poucas manifestações de vida que podia ver a partir
do anexo. A cidade levantou-se em 2007 quando o quiseram abater. A árvore estava doente, a
reabilitação fez-se. Até que em 2010 se partiu, como se fosse um galho frágil e não uma árvore de
150 anos, depois de uma noite de chuva e vento.
A visita começa. Não damos logo com o anexo nem com o espírito daquela que escreveu
em março de 1944: “Quando penso na minha vida em 1942, parece-me tudo muito irreal. A Anne
15 Frank que gozava dessa existência divinal era completamente diferente daquela que ganhou
experiência dentro destas paredes. Sim, era uma vida divinal. Cinco admiradores em cada esquina,
vinte e tal amigos, a preferida da maioria dos professores, estragada de mimos pelo Papá e pela
Mamã, sacos de doces e uma grande mesada. Que mais poderia alguém desejar?”.
Antes mesmo de entrar no anexo, há frases de Anne escritas nas paredes. São uma forma
de preparação. “Um dia esta guerra terrível terminará. Chegará à altura em que seremos novamente
20 pessoas, e não apenas judeus!”
1
Passam microfilmes contextualizadores. Há fotografias que nos sintonizam com a voz
interior de Anne, a voz que conhecemos do diário. Aquele é o espaço de que ela fala. Aquela é a
menina que escreveu o que lemos. E novamente excertos do diário.
Este sítio onde estamos, e que não é ainda o anexo, é o armazém e o escritório da
25 Companhia Opekta, uma empresa de produtos usados no fabrico de compotas que pertencia ao pai
de Anne. De entre as pessoas que trabalhavam na empresa, apenas quatro sabiam do esconderijo
e prestavam apoio aos oito moradores (correndo por isso risco de vida, uma vez que o auxílio a
judeus era proibido).
Como é que os habitantes da casa passaram os 761 dias em que viveram clandestinos?
30 Uma boa parte do dia em silêncio, sem luz natural. A ler, estudar, conversar, ouvir a BBC e seguir o
movimento das tropas, pensar no que fariam no fim da guerra, espreitar o céu no sótão (o único
compartimento onde havia uma janela e era possível respirar ar fresco), fazer a vida de casa (limpar,
cozinhar). A escrever (que seria de Anne sem o diário?), a não usar o autoclismo entre as oito e as
nove horas da manhã (apenas um empregado estava a essa hora e seria suspeito ouvir o barulho
35 da descarga). A andar com pés de lã até às seis da tarde (quando os empregados despegavam e
se cantava liberdade no anexo). A não discutir, a quase não falar, até às seis da tarde. A não correr
riscos.
À minha frente está a estante de livros que escondia a passagem secreta para o esconderijo.
Uma estante banal, que se movia. E depois o espaço exíguo 1, tão pequeno e tão estreito, mesmo,
40 onde oito pessoas viveram uma quase vida. O quarto que os pais de Anne partilhavam com a filha
mais velha, a sala de estar e cozinha que se transformava em quarto de dormir dos Van Pels, o
quarto que Anne dividia com Fritz e um pequeno corredor transformado em quarto de dormir de Peter
van Pels. Estes compartimentos em dois andares, escadas íngremes 2. E por fim o sótão, onde não
podemos subir, e de onde Anne via o castanheiro a ganhar novas folhas na primavera, “um ano mais
45 bonito do que no outro”, anota ela.
In suplemento Fugas, Público, edição online de 12 de agosto de 2014 (texto adaptado, acedido em 05.10.2016)
Vocabulário
1pequeno; diminuto; 2muito inclinadas; difíceis de subir.
2
Sequência________________________________________________
2. Seleciona, em cada item, a alínea que completa cada frase de forma adequada, de
acordo com o sentido do texto.
2.1. Apesar dos esforços dos habitantes de Amesterdão, o castanheiro de que Anne
gostava
a) teve de ser abatido.
b) não foi reabilitado.
c) cedeu aos elementos da Natureza.
d) não resistiu à doença.
2.2. A expressão “seremos novamente pessoas, e não apenas judeus” (ll.19-20) revela
a) o desrespeito de Anne pelos judeus.
b) a desumanidade dos judeus.
c) a perseguição aos judeus.
d) a discriminação dos judeus.
2.3. Na linha 35, a expressão “com pés de lã” significa que os residentes do anexo
a) se deslocavam de mansinho.
b) usavam meias de lã.
c) calçavam pantufas.
d) eram tímidos.
3. Identifica a única opção em que a palavra “para” é uma conjunção subordinativa final.
(A) “Estou [...] numa fila para entrar na casa de Anne Frank.” (linhas 6-7)
(B) “A casa de Anne Frank fica virada para um canal [...].” (linha 9)
(C) A estante “escondia a passagem secreta para o esconderijo.” (linha 38)
(D) Ninguém pode subir para o sótão de onde Anne via o castanheiro.
3
Texto B
Educação Literária
Lê o texto.
4
gostaria de ser um dia para os meus filhos. O tipo de mãe que não leve aquilo que as
pessoas dizem demasiado a sério, mas que me leve a mim a sério. É difícil explicar o que
quero dizer, mas a palavra “mãe” diz tudo. Sabes o que comecei a fazer? Para ter a
35 sensação de chamar à minha mãe algo parecido, chamo-lhe muitas vezes “Mãezinha”. Por
vezes abrevio para “Mã”: um “Mãe” imperfeito. Gostava de a poder honrar acrescentando
o “e”. Ainda bem que ela não se apercebe disto, pois apenas a faria infeliz.
Bem, já chega. A minha escrita ajudou-me a sair um pouco das “profundezas do
desespero”.
Tua Anne
Anne Frank, in Diário de Anne Frank – versão definitiva, Lisboa, Editora Livros do Brasil, 2006
5
6. Considerando o que é dito no texto, esclarece o motivo pelo qual Anne afirma que “O
papel é mais paciente do que as pessoas.” (linhas 12-13)
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
7. Caracteriza a relação que Anne mantém com a mãe. Usa palavras tuas.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
GRUPO II
Gramática
6
3. “[...] às vezes torna-se insuportável.” (linhas 19-20)
3.1. Sabendo que a forma de base do adjetivo na frase é suportável, classifica a
palavra destacada a negrito quanto ao seu processo de formação.
_____________________________________________________________________
b) “Acredita, quando uma pessoa está fechada há um ano e meio, às vezes torna-se
insuportável.” (linhas 19-20)
____________________________________________________________________________________
Cotações
Grupo Item
(cotação em pontos)
6 6 3 5 5 6 3 5 6 6 50
II 1 2 3 4 5
8 4 2 3 8 25
Total 100