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Teste de avaliação com estrutura de Exame – 12.

o Ano
Fernando Pessoa – Heterónimos
Cesário Verde – «O sentimento dum ocidental»
Versão 2

Nome ___________________________________________ Ano ________ Turma _________ N.o _______

Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A

Lê o poema e a nota.

Na véspera de não partir nunca


Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
5 Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande tranquilidade a que nem sabe encolher ombros
10 Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
15 A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea1
Sossego, sim, sossego...
Grande tranquilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
20 Que prazer olhar para as malas fitando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
25 É a véspera de não partir nunca!

Fernando Pessoa, Poesias de Álvaro de Campos, Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
NOTAS
1 sine
linea: sem (uma) linha [alusão aos pintores e escritores,
que deverão pintar ou escrever todos os dias alguma coisa].

1
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1. Este poema evidencia uma atitude apática e abúlica por parte do sujeito poético.
Justifica esta afirmação, explicando de que modo esta atitude do eu se concretiza ao longo do
poema.

2. Explicita o sentido da repetição da forma verbal «dormita» nos versos 21 a 24.

3. Seleciona a opção de resposta adequada para completar a afirmação abaixo apresentada.

Vários são os processos que contribuem para conferir ritmo e cadência ao poema,
nomeadamente, a presença, em simultâneo,

da alternância entre versos longos e curtos e do predomínio de frases


(A)
interrogativas.
da alternância entre versos longos e curtos e da repetição de um verso como
(B)
refrão.
de um esquema rimático fixo em todas as estrofes e do predomínio de frases
(C)
interrogativas.
de um esquema rimático fixo em todas as estrofes e da repetição de um verso
(D)
como refrão.

2
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PARTE B

Lê as estrofes da segunda parte do poema «O sentimento dum ocidental», de Cesário Verde,


e as notas.

Toca-se as grades, nas cadeias. Som


Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O aljube1, em que hoje estão velhinhas e crianças,
Bem raramente encerra uma mulher de «dom»2!
5 E eu desconfio, até, de um aneurisma3
Tão mórbido4 me sinto, ao acender das luzes5;
À vista das prisões, da velha sé, das cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
A espaços, iluminam-se os andares,
10 E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos6
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a lua lembra o circo e os jogos malabares7.
Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
15 Nelas esfumo8 um ermo9 inquisidor severo,
Assim que pela história eu me aventuro e alargo.

Cesário Verde, «O sentimento dum ocidental», in Cânticos do Realismo – O livro de Cesário Verde,
introdução e nota bibliográfica de Helena Carvalhão Buescu, coord. de Carlos Reis, Lisboa, INCM, 2015, p. 124.

NOTAS
1 aljube: prisão.

2 mulher de «dom»: senhora de classe privilegiada.

3 aneurisma: doença das artérias que leva a um enfraquecimento das suas paredes, com risco de rompimento.

4 mórbido: doentio.

5 acender das luzes: a iluminação de Lisboa era, então, alimentada a gás.

6 estancos: quiosques; tabacarias.

7 jogos malabares: malabarismo.

8 esfumo: esboço.

9 ermo: solitário.

3
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4. Demonstra que o ambiente da cidade condiciona o estado de espírito do sujeito poético.

5. Explica a atitude que o sujeito poético assume ao constatar a realidade que se vive na prisão
(«cadeias», verso 1; «aljube», verso 3).

6. Seleciona a opção de resposta adequada para completar a afirmação abaixo apresentada.

Nos versos «Duas igrejas, num saudoso largo, / Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:»
(versos 13-14) está presente uma

(A) hipérbole, que introduz um olhar crítico sobre o papel da Igreja no passado.
(B) hipérbole, que sugere a valorização do papel da Igreja no passado.
(C) metáfora, que sugere a valorização do papel da Igreja no passado.
(D) metáfora, que introduz um olhar crítico sobre o papel da Igreja no passado.

PARTE C

7. A representação da Natureza é uma linha temática presente tanto na poesia de Alberto Caeiro como
na de Ricardo Reis.

Escreve uma breve exposição na qual comproves esta afirmação, baseando-te na tua experiência
de leitura dos textos dos heterónimos pessoanos.

A tua exposição deve incluir:


− uma introdução ao tema;
− um desenvolvimento no qual explicites um aspeto semelhante e um aspeto distinto na
representação da Natureza nos dois heterónimos, ilustrando cada um desses aspetos com,
pelo menos, um exemplo pertinente;
− uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

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Grupo II
Lê o texto.

«Gosto muito de me ouvir falar. Ouves-me?»


Quanto mais pessoas conheço, maior é o número de pessoas que não conheço. Não sei se
é de mim, mas tudo indica que seja. Diz-se que temos dois ouvidos e uma boca, para ouvirmos
o dobro do que falamos. Não sou de seguir frases feitas, mas esta sempre me pareceu feita de
um bom conselho. Tento ouvir mais do que falo, e quando falho, volto a fazer-me aluno até
5 acertar. No entanto, há quem veja nesta frase tão concreta múltiplas maneiras de a virar do
avesso, e inverta o sentido de tão útil conselho. Aconteceu-me na semana passada, naquela que
foi uma de tantas vezes antes dessa.
Há pessoas que conversam comigo com o propósito único de se ouvirem a elas próprias.
É como se fosse um segredo só delas, mas que toda a gente sabe. É como um número de circo
10 de aldeia, que provoca espanto e tristeza, tudo no mesmo fôlego. Como uma conversa ao
espelho, mas com outro alguém a fazer de reflexo. Tantas palavras para uma boca, a saírem
encavalitadas, todas coladas umas às outras, quase parecem uma só, cheias de pressa para que
uma respiração não chegue a parecer uma passagem de testemunho a quem está de frente para
esta trovoada. A falta que faz um código de conduta para que não haja acidentes com tantos
15 feridos ligeiros. Um árbitro de conversas que vá assinalando faltas e foras de jogo, e que dê
tempo extra no final, para nenhum dos lados sair prejudicado. Ganhávamos todos, a começar
pelas palavras, que deixavam de ter gravidade zero e iam ganhando peso, até conseguirem fazer
ninho em quem as está a ouvir.
Devia batizar-se este fenómeno solista com outro nome, para não contaminar o verbo
20 conversar. Porque uma conversa deve conter nela própria uma generosidade que de tempos a
tempos trava a língua, e dá lugar à escuta. Que depois troca de lugar, e faz o mesmo por quem
acabou de falar, numa simples e complexa dança falada. Quando o fiel da balança se encosta a
um lado, a conversa ganha estatuto de monólogo, e o monólogo é feito a um. Um monólogo é
um diálogo de uma pessoa consigo mesma. A partir do momento em que o monólogo tem duas
25 pessoas, uma delas é necessariamente público.
Como pode alguém gostar de um amigo e não querer saber dele, tudo ao mesmo tempo?
Qual terá sido o momento em que secou a empatia e se plantou um narciso? A equipa dos que
ouvem já não sabe como guardar tanta coisa que não é dela. Tem um armazém inteiro cheio de
conversas que nasceram mortas. E se queimássemos o que não queremos ouvir, à frente de
30 quem nos fala, enquanto nos fala? Ou que volta e meia se fizesse uma contabilidade de palavras,
um ajuste de contas. Um contabilista apresenta-nos o saldo das nossas conversas, e somos
cobrados em conformidade. O senhor Bruno este mês abusou, falou mais 400 palavras do que
ouviu, vai pagar um imposto de silêncio jeitoso sobre isso, vai. E no mês seguinte paga-se a dívida
na generosidade da escuta. Pode ser que assim não se queime mais o verbo conversar, que custa
35 tanto a dar flor.
Bruno Nogueira, in Sábado
(texto adaptado, consultado em 06.01.2023, em https://www.sabado.pt).

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1. A reflexão de Bruno Nogueira sobre o ato de conversar
(A) foi potenciada por uma frase com a qual o humorista sempre se identificou.
(B) resultou de uma situação isolada que o autor experienciou recentemente.
(C) foi desencadeada por um de vários episódios que sucederam ao humorista.
(D) resultou da necessidade de o autor se autorrecriminar por também falhar.

2. No contexto em que ocorre, a expressão «trovoada» (linha 14) constitui uma


(A) metáfora associada à ideia de excesso.
(B) anástrofe associada à ideia de excesso.
(C) metonímia associada à ideia de concisão.
(D) hipérbole associada à ideia de concisão.

3. De acordo com o autor, o que distingue uma «conversa» de um «monólogo» (linha 23) é
(A) o domínio da língua.
(B) a reciprocidade.
(C) a controvérsia.
(D) o poder de persuasão.

4. No início do último parágrafo, o humorista recorre às interrogações retóricas para evidenciar a sua
(A) intolerância perante os que assumem uma postura passiva.
(B) solidariedade em relação aos que têm necessidade de falar.
(C) incompreensão face à atitude dos que considera narcisistas.
(D) indiferença relativamente às conversas sobre trivialidades.

5. A oração iniciada por «quem» em «No entanto, há quem veja nesta frase tão concreta múltiplas
maneiras de a virar do avesso» (linhas 5-6) é subordinada substantiva
(A) relativa, com função de complemento direto.
(B) relativa, com função de sujeito
(C) completiva, com função de complemento direto.
(D) completiva, com função de sujeito.

6. Nas linhas 23 e 24, o recurso à palavra «monólogo» contribui para a coesão


(A) gramatical frásica.
(B) gramatical referencial.
(C) lexical por substituição por meronímia.
(D) lexical por reiteração.

7. Em «Um monólogo é um diálogo de uma pessoa consigo mesma.» (linhas 23-24) e em «O senhor
Bruno este mês abusou» (linha 32) está presente um valor aspetual
(A) genérico, no primeiro caso, e imperfetivo, no segundo.
(B) perfetivo, no primeiro caso, e genérico, no segundo.
(C) genérico, no primeiro caso, e perfetivo, no segundo.
(D) imperfetivo, no primeiro caso, e genérico, no segundo.

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Grupo III

Atenta na afirmação de Bruno Nogueira retirada do texto do Grupo II.

«Diz-se que temos dois ouvidos e uma boca, para ouvirmos o dobro do que falamos.». (linhas 2-3)

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
e cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a importância de exprimir a nossa
opinião, mas também de ouvir o que os outros têm a dizer.

No teu texto:
− explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos,
cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
− formula uma conclusão adequada à argumentação desenvolvida;
− utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma
única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2023/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre 200 e 350 palavras –, há que atender ao
seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido;
− um texto com extensão inferior a 80 palavras é classificado com 0 pontos.

FIM

COTAÇÕES

Item
Grupo
Cotação (em pontos)

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I
16 16 10 16 16 10 16 100

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II
8 8 8 8 8 8 8 56
III Item único 44

Total 200

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