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Testes por sequência

Letras em dia, Português, 12 .° ano • Teste 5

Sequência 3 • Poetas contemporâneos

Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Parte A
Lê o texto.
O tempo sujo

Há dias que eu odeio


Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
5 Que trabalha ao serviço da infeção

São dias que nunca deviam ter saído


Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam que nos lançam
1 As pedras do medo os vidros da mentira
0 As pequenas moedas da humilhação

Dias ou janelas sobre o charco


Que se espelha no céu
Dias do dia a dia
Comboios que trazem o sono a resmungar para o trabalho
1 O sono centenário
5 Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes
2
Se esconde e assobia
0

Dias que passei no esgoto dos sonhos


Onde o sórdido dá as mãos ao sublime
Onde vi o necessário onde aprendi
Que só entre os homens e por eles
Vale a pena sonhar.
2
O’NEILL, Alexandre, 2005. «No reino da Dinamarca».
5 In Poesias Completas. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 44)
Sugestões de resolução
Letras em dia, Português, 12 .° ano

1 Interpreta a comparação presente na primeira estrofe, atendendo aos sentimentos referidos nos
versos 10 e 11.

2 «Há dias que eu odeio» (v. 1)

Explicita dois dos sentimentos que justificam o ódio do sujeito poético a certos dias, fundamentando
a tua resposta com elementos textuais.
3 Seleciona a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.

O carácter negativo dos dias referidos pelo sujeito poético é realçado, na última estrofe, por
meio da . O poema encerra com o reconhecimento, nessa mesma estrofe, da dimensão
de tais dias.
(A) metáfora ... repetitiva
(B) metáfora ... paradoxal
(C) perífrase ... paradoxal
(D) perífrase ... repetitiva

4 Estabelece uma relação entre o título e o assunto do poema.

Parte B
Lê o excerto do Sermão de Santo António, de Padre António Vieira, e as notas.

A primeira coisa, que me desedifica1, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande
escândalo é este; mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão
que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos
comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os
5 pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo
Agostinho: Homines pravis, præversisque cupiditatibus facti sunt veluti pisces invicem se devorantes:
«Os homens com suas más, e perversas cobiças vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos
outros». Tão alheia coisa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no
mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer.
1 Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer2 a fealdade deste escândalo, mostrou-
0 lho nos peixes; e eu que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o
vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não; não é isso o que vos digo. Vós
virais os olhos para os matos, e para o Sertão? Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de
olhar. Cuidais que só os Tapuias3 se comem uns aos outros; muito maior açougue é o de cá, muito
mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir4, vedes todo aquele andar, vedes aquele
1 concorrer às praças, e cruzar as ruas; vedes aquele subir, e descer as calçadas, vedes aquele
5 entrar, e sair sem quietação, nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como
hão de comer, e como se hão de comer.

VIEIRA, Padre António, 2014. «Sermão de Santo António». In Obra Completa (Direção de José Eduardo Franco e
Pedro Calafate). Tomo II. Volume X (Sermões Hagiográficos I). Lisboa: Círculo de Leitores (pp. 149-155)
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1. desedifica: escandaliza; 2. encarecer: aumentar; 3. Tapuias: tribo indígena do interior do Brasil que comia os seus mortos em rituais funerários;
4. bulir: mexer; trabalhar (na linguagem coloquial).

5 Explica de que modo a alegoria dos peixes contribui para a intenção persuasiva do sermão.
Sugestões de resolução
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6 Relaciona o recurso às interrogações retóricas com o objetivo crítico do pregador.

Parte C

7 Na obra dos poetas contemporâneos, tal como no Sermão de Santo António, de Padre António

Vieira, o quotidiano ocupa um lugar de destaque.

Baseando-te na leitura dos textos apresentados nas Partes A e B, escreve uma breve exposição na
qual compares o modo como a realidade contemporânea é representada.
A tua exposição deve incluir:
– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual explicites dois aspetos em que a representação do contemporâneo
se aproxima;
– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
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Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

Lê o texto.

Os poemas que nos acontecem

Um poema que foi lido apenas uma vez não foi lido vezes suficientes.
Normalmente, leem-se as notícias de jornal para adquirir a informação que contêm. Depois
de saber o que lá está escrito, esses textos perdem a sua utilidade, não faz sentido lê-los de
novo.
5 Os poemas são o contrário disso, os poemas não se leem apenas para saber o que está lá
escrito.
Um poema é um mecanismo. Quando o lemos, pomo-lo a funcionar. Ao contrário dos
relógios, o poema não funciona a corda ou a pilhas. Somos nós que lhe damos energia. Quanto
mais nos empenhamos nele, melhor funciona o poema. Essa é uma das razões pelas quais
1 devemos lê-lo várias vezes.
0 A cada leitura, o poema irá dar-nos mais poema. Nos grandes poemas, nos versos mais
ricos, é possível descobrir novos significados todos os dias. De certo modo, os nossos olhos
leitores também escrevem o poema. Ao interpretá-lo, revelam-no.
Por isso, a poesia é uma atividade eminentemente humana: um ser humano comunica com
outro ser humano através de uma matéria criada ao longo de inúmeras gerações, as palavras.
1 Fruto de uma evolução que ainda não terminou, as palavras tentam dar forma àquilo que, tantas
5 vezes, é invisível e informe. Entre outras coisas, a poesia é a combinação precisa de palavras, a
sinergia que nasce desse encontro, a explosão de reflexos que sugere.
Muitas vezes, no entanto, essa representação humana tenta decifrar as leis e as razões
da natureza, aspira a ser natureza. Então, como num paradoxo que se transforma de repente
em epifania, percebemos que o humano aspira à natureza porque essa é a sua origem, esse é o
2 centro mais profundo de si próprio.
0 O tamanho dessa procura é a história da poesia. Ao longo de séculos, o seu caminho tem
sido o de uma liberdade crescente. Recusando as ideias em que o quiseram fechar tantas
vezes, o poema tem-se reinventado sempre.
De certo modo, o poema pergunta sempre: quem sou? A resposta que encontra é dada por
cada um de nós, ao lê-lo. Pode dar-se o caso de, a cada leitura, encontrarmos uma resposta
2 diferente. É também assim com a vida, com aquilo que nos acontece. Não é raro tirarmos
5 conclusões novas de algo que já nos aconteceu muitas vezes.
O poema é uma experiência. No entanto, experiência não é o que nos acontece, é o que
aprendemos daquilo que nos acontece.

PEIXOTO, José Luís, 2017. «Os poemas que nos acontecem». In SILVA, Pedro, et alii.
Outras Expressões 12. Porto: Porto Editora (p. 194)
Sugestões de resolução
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1 Segundo o autor, o processo de leitura de um poema distingue-se do de outros textos em virtude

(A) da sua exigência compositiva e da sua extensão.


(B) da sua intenção comunicativa e da sua riqueza interpretativa.
(C) da sua multiplicidade de sentidos e da sua complexidade linguística.
(D) da sua interatividade com os leitores e da sua objetividade.

2 A apresentação do poema como «um mecanismo» (l. 5) caracteriza-o enquanto realidade


(A) útil.
(B) simples.
(C) complexa.
(D) autónoma.

3 De acordo com os parágrafos três e quatro, o bom «funcionamento» (riqueza interpretativa) de um


poema é
(A) inversamente proporcional ao empenho dos leitores.
(B) diretamente proporcional ao empenho dos leitores.
(C) independente do empenho dos leitores.
(D) indissociável do empenho dos leitores.

4 O texto termina com uma reflexão sobre


(A) a singularidade das leituras poéticas e a sua dimensão didática.
(B) a multiplicidade de interpretações de um poema, decorrente da pluralidade de leitores.
(C) as experiências poéticas dos autores e respetivas conclusões.
(D) o sentido unívoco dos poemas, independentemente dos leitores e das leituras.

5 Todas as orações abaixo transcritas correspondem a orações subordinadas adjetivas relativas


restritivas, exceto a oração
(A) «que ainda não terminou» (l. 14).
(B) «que nasce desse encontro» (l. 16).
(C) «que se transforma de repente em epifania» (ll. 18-19).
(D) «que o humano aspira à natureza» (l. 19).

6 Identifica as funções sintáticas das expressões:

a) «de reflexos» (l. 16);


b) «por cada um de nós» (ll. 24-25).

7 Indica o antecedente de «lá» (l. 3).


Sugestões de resolução
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Grupo III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras, faz a apreciação crítica do cartoon abaixo apresentado, da autoria de Anne Derenne.
O teu texto deve incluir:
– a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
– um comentário crítico, fundamentando devidamente a tua apreciação e utilizando um discurso
valorativo;
– uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.

Anne Derenne

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2023/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

Cotações

Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 104
16 16 8 16 16 16 16
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 56
8 8 8 8 8 8 8
III Item único 40
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Total 200
Sugestões de resolução
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Matriz do Teste 5 • Poetas Contemporâneos

Estrutura e cotação Domínios Aprendizagens Essenciais

Parte A • Interpretar obras literárias


portuguesas produzidas no
século XX: Poetas
1. 16 pontos
Contemporâneos (Alexandre
O’Neill).
2. 16 pontos
• Interpretar textos literários
portugueses produzidos entre
3. 8 pontos os séculos XVII e XIX:
Educação
Literária Sermão de Santo António, de
4. 16 pontos Padre António Vieira. [Retoma]
Grupo I
104 pontos • Comparar textos de diferentes
Parte B épocas em função dos temas, ideias,
valores e marcos históricos e
culturais: Poetas Contemporâneos
5. 16 pontos
(Alexandre O’Neill) e Sermão de
Santo António, de Padre António
6. 16 pontos
Vieira.

Parte C
Escrita • Escrever uma exposição,
respeitando as marcas de género.
7. 16 pontos

1. 8 pontos
• Ler textos de diferentes graus
de complexidade argumentativa:
2. 8 pontos
artigo de opinião.

3. 8 pontos • Explicitar o conhecimento


gramatical relacionado com a
Grupo II Leitura articulação entre constituintes
4. 8 pontos
56 pontos Gramática e entre frases (frase complexa).

5. 8 pontos • Sistematizar o conhecimento


das diferentes funções sintáticas.

6. 8 pontos • Identificar os processos de


coesão textual (gramatical
e lexical).
7. 8 pontos

Grupo III • Escrever uma apreciação crítica,


Item único 40 pontos Escrita
40 pontos respeitando as marcas de género.
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Sugestões de resolução do Teste 5 (poderosos) sujeitavam os «pequenos» (mais


desfavorecidos), abandonando a cobiça que os
Grupo I – Parte A caracteriza.
1. A comparação estabelecida entre os dias que o 6. Com o recurso às interrogações retóricas, o
«eu» odeia e os insultos que não pode rebater orador conduz o auditório à tomada de consciência
destaca a impossibilidade de dar resposta a esses de que também os homens, inclusivamente os da
dias-insultos, sob pena de os sentimentos negativos «Cidade» (l. 13), se «comem», generalizando o
que lhes estão associados – «medo», v. 10, defeito, que não atinge somente os indígenas
«mentira», v. 10, e «humilhação», v. 11 – se («Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos
transferirem para o sujeito poético. outros; muito maior açougue é o de cá», ll. 14-15), e
2. O ódio que o sujeito poético exprime em relação a destacando a sua reiteração contínua. Este último
certos dias prende-se com os sentimentos negativos aspeto surge reforçado pelo uso da anáfora e pelo
que estes provocam em si. Com efeito, o «eu» recurso a verbos de movimento (ao sugerirem uma
manifesta a sua frustração ao revelar-se incapaz de atividade permanente), presentes no penúltimo
dar resposta a esses dias, sem que daí advenham período do excerto («Vedes vós todo aquele bulir,
consequências negativas («insultos a que não posso vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às
responder/ Sem o perigo duma cruel intimidade/ praças, e cruzar as ruas; vedes aquele subir, e
Com a mão que lança o pus/ Que trabalha ao descer as calçadas, vedes aquele entrar, e sair sem
serviço da infeção», vv. 3-5). Por outro lado, é quietação, nem sossego?», ll. 15-17).
percetível uma certa resignação por parte do sujeito
poético ao afirmar que são «Dias do dia a dia» e Grupo I – Parte C
«Comboios que trazem […] o sono centenário», 7. Resposta pessoal. Tópicos de resposta:
evidenciando o perpetuar de uma rotina e o
– a realidade contemporânea surge marcada pelas
conformismo relativamente a um tempo que não
assimetrias sociais (no poema «O tempo sujo»,
consegue alterar.
surge a metáfora dos dias como «Comboios que
3. (B). trazem o sono a resmungar para o trabalho/ O sono
centenário/ Mal vestido mal alimentado», numa
4. O título antecipa a causa dos sentimentos
alusão aos que vivem o seu quotidiano em
negativos do sujeito poético, a quem desagradam os
condições precárias; no excerto do Sermão de
dias de um tempo marcado pela sordidez, que
Santo António, a «Cidade» é descrita como um
descreve. O «eu» assume, desta forma, uma atitude
«açougue», sugerindo a exploração a que os mais
crítica face à realidade que vive, denunciando a
poderosos submetem os mais fracos);
vivência de um tempo triste, de mediocridade,
– realidade contemporânea perpassada por
estagnação e apatia.
sentimentos negativos, como a humilhação (no
poema, é feita uma referência explícita a este
Grupo I – Parte B
sentimento no verso 11; no texto vieiriano, sugere-se
5. Através da alegoria, os peixes representam um que os «pequenos» acabam por ser humilhados ao
defeito humano (a exploração), pelo que as sofrerem as consequências da cobiça humana)…
repreensões que lhes são dirigidas contribuem para
suscitar a reflexão e promover a mudança de Grupo II
comportamentos, nos homens (movere). Com efeito,
1. (B).
o orador acusa os peixes, animais do mesmo
elemento, de se devorarem uns aos outros, sendo a 2. (C).
circunstância agravada pelo facto de serem os
3. (B).
grandes a devorarem os mais pequenos e, de modo
a ilustrar a gravidade deste ato, dá como exemplo o 4. (A).
caso dos homens que também se exploram
5. (D).
mutuamente («e eu que prego aos peixes, para que
vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais 6. a) Complemento do nome.
nos homens», ll. 10--11). Assim, ao evidenciar a b) Complemento agente da passiva.
crueldade e injustiça desta atitude, António Vieira,
7. «notícias de jornal»
pretende que os homens alterem o seu
comportamento face ao seu semelhante no que diz
Grupo III
respeito à exploração a que os «grandes»
Sugestões de resolução
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Resposta pessoal.

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