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Palavras 12

Teste de avaliação – 12.º ano novembro / dezembro

Grupo I (100 pontos)


A (60 pontos)
Educação Literária
Grupo I

A.
Lê atentamente o seguinte poema.

XXIII  
     O meu olhar azul como o céu 
     É calmo como a água ao sol. 
     É assim, azul e calmo,
     Porque não interroga nem se espanta...

5      Se eu interrogasse e me espantasse


     Não nasciam flores novas nos prados
     Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo... 
     (Mesmo se nascessem flores novas no prado
     E se o sol mudasse para mais belo, 
10      Eu sentiria menos flores no prado 
     E achava mais feio o sol...
     Porque tudo é como é e assim é que é, 
     E eu aceito, e nem agradeço,
     Para não parecer que penso nisso...)
Fernando Pessoa, Obra Completa de Alberto Caeiro, Jerónimo Pizarro (Dir.), Lisboa: Tinta-
da-China, 2016, p. 37.

1. Explica de que modo o recurso expressivo com que abre o poema reflete a filosofia de
vida defendida pelo sujeito poético.
2. Explicita o significado dos três versos iniciais da segunda estrofe.
3. Comenta a conclusão do eu poético, contida nos três versos finais do poema.

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Palavras 12

B (40 pontos)
Lê, com atenção, o texto a seguir transcrito.

Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os
peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem, e não falam. Uma só cousa pudera
desconsolar ao Pregador, que é serem gente os peixes, que se não há de converter. Mas esta
dor é tão ordinária que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje
5 em Céu, nem Inferno; e assim será menos triste este Sermão, do que os meus parecem aos
homens, pelos encaminhar sempre à lembrança destes dois fins.
Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós,
tem duas propriedades, as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o são, e
preservá-lo, para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações do
10 vosso Pregador S. António, como também as devem ter as de todos os Pregadores. Uma é
louvar o bem, outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar, e repreender o mal,
para preservar dele. Nem cuideis, que isto pertence só aos homens, porque também nos
peixes tem seu lugar. Assim o diz o grande Doutor da Igreja São Basílio: Non carpere
solum, reprehendereque possumus pisoes, sed sunt in illis, et quae prosequenda sunt
15 imitatione. Não só há que notar, diz o Santo, e que repreender nos peixes, senão também
que imitar, e louvar. Quando Cristo comparou a sua Igreja à rede de pescar, Sagenae missae
in mare, diz que os pescadores recolheram os peixes bons, e lançaram fora os maus:
Colegerunt bonos in vasa, malos autem foras miserunt. E onde há bons, e maus, há que
louvar, e que repreender. Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes,
20 o vosso Sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas virtudes, no segundo
repreender-vos-ei os vossos vícios. E desta maneira satisfaremos às obrigações do sal, que
melhor vos está ouvi-las vivos, que experimentá-las depois de mortos. (…)
Começando pois pelos vossos louvores, irmãos peixes, bem vos pudera eu dizer, que
entre todas as criaturas viventes, e sensitivas, vós fostes as primeiras que Deus criou. ( ... )
Padre António Vieira, Sermões, II (Obras Escolhidas, vol. XI), 2.ª ed., Lisboa: Sá da Costa, 1997.
[“Sermão de Santo António aos Peixes”, cap. II, pp.161-166.]

4. Padre António Vieira critica, de forma indireta, os seres humanos. Indica, explicitando, o
referente utilizado pelo pregador para atingir os criticados.

5. O pregador apresenta neste excerto a divisão do sermão. Mostra como procedeu a essa
divisão.

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Palavras 12

Grupo II (50 pontos)

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
D. Quixote
Entre o quarto centenário da segunda parte do D. Quixote, que se cumpriu em 2015,
e da morte de Cervantes, que se assinalará em 2016 (a 22 de abril), é tempo de celebrar o
engenhoso fidalgo, a sua altiva figura e feitos extraordinários. É o que fazem dois livros
recém-lançados em Portugal, mas por caminhos muito diferentes.
5 António Mega Ferreira recupera (reescrevendo-os) os ensaios publicados na
coletânea Por D. Quixote, o literato, o justiceiro e o amoroso, em 2006, para nos dar O
Essencial sobre D. Quixote. Dividido em seis capítulos, aborda o nascimento de uma
paixão, quem era afinal esse cavaleiro, o seu mundo entortado, as mulheres, odisseias e a
última viagem. “Se é nos livros que se deve procurar a origem da loucura de D. Quixote, é
10 também neles que se deve buscar uma outra exaltante dimensão do romance de Cervantes,
já que é como discurso (literário) sobre aquilo a que hoje chamamos literatura que o livro
monumental ganha outra dimensão, a de um jogo que é dispositivo de interrogação do
mundo e do estatuto que nele adquire a ficção”, afirma António Mega Ferreira. “O génio de
Cervantes está em levar-nos a tomar o partido da loucura, de cada vez que a realidade
15 desmancha o prazer que a loucura de D. Quixote nos proporciona”.
Num registo oposto, mais crítico, Michel Onfray propõe uma contra-história da
literatura através da releitura integral de D. Quixote. Sugere o ensaísta francês, conhecido
pelas suas muitas polémicas que, a obra de Cervantes é o exemplo de uma nova forma de
pensar, ver, fazer e dizer, que tem raízes na modernidade e se distingue pela “paixão
20 furiosa pelas ideias em detrimento da realidade”, espécie de “religião do ideal sem ter em
conta o real”. O que diz Cervantes nesse texto?, pergunta Onfray. “Diz-nos que conhecer a
verdade mata, e que se compreende que os homens tenham inventado mil estratagemas,
entre os quais a denegação, para não terem de enfrentar a realidade”.
Jornal de Letras, 23 de dezembro a 5 de janeiro, 2015, p. 13.

Leitura | Gramática

1. O texto apresenta características específicas do género


(A) apreciação crítica.
(B) discurso político.
(C) texto de opinião.
(D) artigo de divulgação científica.

2. Neste texto, são analisados


(A) dois livros escritos a partir da mesma obra, recentemente publicados.
(B) dois livros de Cervantes.
(C) dois livros do mesmo autor sobre a obra mais importante de Cervantes.
(D) três livros escritos a partir da leitura da obra mais emblemática de Cervantes.

3. As obras em análise
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Palavras 12

(A) são da autoria de Cervantes.


(B) têm como coautores António Mega Ferreira e Michel Onfray.
(C) são da autoria de António Mega Ferreira e Michel Onfray respetivamente.
(D) têm como coautores António Mega Ferreira, Michel Onfray e Cervantes.

4. A utilização das aspas, no texto,


(A) assinala um comentário do autor.
(B) marca um momento de crítica.
(C) delimita citações.
(D) assinala uma explicação.

5. As expressões entre parênteses, no texto,


(A) assinalam correções às ideias anteriormente expostas.
(B) constituem explicações.
(C) assinalam uma opinião diferente.
(D) delimitam exemplos.

6. O texto apresenta
(A) uma breve descrição do objeto em análise e comentário crítico.
(B) caráter persuasivo, informação seletiva e dimensão ética e social.
(C) caráter demonstrativo, concisão e objetividade.
(D) título, subtítulo, notas de rodapé, epígrafe e bibliografia.

7. A frase: “é tempo de celebrar o engenhoso fidalgo, a sua altiva figura e feitos


extraordinários” (ll. 2-3) constitui uma referência a
(A) António Mega Ferreira.
(B) D. Quixote.
(C) Cervantes.
(D) Sancho Pança.

8. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase:


“aborda o nascimento de uma paixão” (ll. 7-8).
9. Classifica a oração “que se deve buscar uma outra exaltante dimensão do romance
de Cervantes” (l. 10).
10. Indica o antecedente do pronome sublinhado na expressão: “que se cumpriu em
2015” (l. 1).

Grupo III (50 pontos)


Escrita

Os momentos de lazer são imprescindíveis na vida das pessoas.


Tendo em conta a afirmação anterior, redige um texto de opinião, com 200 a 350
palavras, no qual fundamentes o teu ponto de vista com dois argumentos e com, pelo menos, um
exemplo concreto e significativo para cada um.

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Palavras 12

Teste de avaliação – 12.º ano novembro / dezembro


Proposta de correção

Grupo I
Educação Literária

A.
1. O poema abre com uma dupla comparação muito expressiva.
Efetivamente, o “olhar” do sujeito poético é comparado ao “céu” e à “água ao sol”,
realçando-se, no primeiro caso, a cor azul como elemento comum, no segundo a serenidade.
Esta comparação reflete de forma evidente uma filosofia de vida que representa o modo natural
e claro como o sujeito contempla a Natureza que o rodeia, através das sensações, sem qualquer
interferência do pensamento, como se os seus olhos fossem um espelho da realidade.
Em conclusão, esta comparação reflete a simplicidade e a naturalidade do olhar do sujeito.
2. Nos três versos iniciais da segunda estrofe, o “eu” explica a razão pela qual não procura refletir
sobre a essência da realidade.
Na verdade, segundo ele, pensar sobre a Natureza, questioná-la, não contribuiria para a mudar,
renovar ou tornar mais bela, enfraquece o deslumbramento que se tem ao contemplá-la (“eu sentiria
menos flores no prado/E achava mais feio o sol…”).
Em suma, o sujeito poético tal como a Natureza não pensa, não se interroga, não se espanta,
apenas existe.
3. Nos três versos finais, o sujeito poético justifica a sua atitude de total aceitação da Natureza,
independente de qualquer questionamento.
Afirma que não agradece nem a existência nem a beleza do mundo natural porque estaria
subjacente a esse ato um estado de espírito reflexivo, precisamente o que ele quer evitar. Limita-se a
aceitar de forma pacífica a realidade, tal qual ela é, para não parecer que pensa.
Em conclusão, o seu objetivismo permite-lhe recusar um envolvimento emocional.
B.
4. O pregador utiliza os peixes como estratégia discursiva, retirada de Santo António, para poder
criticar ironicamente os homens, já que estes “se não aproveitam”.
O auditório humano continua, assim, a ser visado nas fortes críticas do orador, quer por contraste
com os louvores que vai fazer aos peixes, quer por semelhança, através das críticas.
Enfim, a alegoria encontrada vai permitir ao orador expor, de forma concreta, os defeitos humanos.
5. Neste excerto, o pregador apresenta de forma evidente a organização do seu sermão.
De facto, começa por antecipar a forma como vai estruturar o seu raciocínio, referindo que as
pregações têm duas propriedades: “Uma é louvar o bem, outra repreender o mal”. De seguida,
querendo proceder com clareza, explicita aos peixes que o seu sermão apresentará duas partes
distintas: “(…) dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas
atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios”.
Conclui-se que o pregador aplicará as duas propriedades do sal ao seu sermão.

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Palavras 12

Grupo II
Leitura | Gramática

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
A A C C B A B Complemento Oração “o quarto centenário
do nome. subordinada da segunda parte do
substantiva D. Quixote”
completiva.

Grupo III
Escrita

Tópicos de resposta:

Momentos de lazer:
 conjunto de ocupações às quais o indivíduo se entrega de livre vontade para repousar,
para se divertir, para desenvolver a sua formação, a sua participação social voluntária ou
a sua capacidade criadora;
 forma de libertação das ocupações e obrigações diárias;
 benefícios físicos e psicológicos, através da libertação do stress físico e psicológico;
 sentimentos de serenidade e de plenitude, trazendo também atitudes positivas para as
obrigações diárias;
 consolidação de laços familiares;
 …

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