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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS JOSÉ BELCHIOR VIEGAS

(Sede: Escola Secundária José Belchior Viegas)


Português – 12.º Ano Turma B – Cursos Científico-Humanísticos – Ano letivo 2022/2023
4.º Teste globalizante de avaliação

Grupos Domínios Classificação


Grupo I (Partes A, B e C) Educação Literária
Grupo II (Itens 1. a 4.) Leitura
Grupo II (Itens 5. a 7.) Gramática
Grupo III Escrita
Classificação Final: ______________________________________ Prof. _________________________
A prova inclui 10 itens, devidamente identificados no enunciado, cujas respostas contribuem obrigatoriamente para a
classificação final. Dos restantes 5 itens da prova, apenas contribuem para a classificação final os 3 itens cujas
respostas obtenham melhor pontuação.
GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

EDUCAÇÃO LITERÁRIA
PARTE A

Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.

[…] [E]sta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro, não havendo
portanto mediano termo entre a papada 1 pletórica2 e o pescoço engelhado, entre o nariz rubicundo 3 e o outro héctico4, entre a
nádega dançarina e a escorrida, entre a pança repleta e a barriga agarrada às costas. Porém, a Quaresma, como o sol, quando
nasce, é para todos.
5 Correu o Entrudo 5 essas ruas, quem pôde empanturrou-se de galinha e de carneiro, de sonhos e de filhós, deu umbigadas
pelas esquinas quem não perde vaza autorizada, puseram-se rabos surriados em lombos fugidiços, esguichou-se água à cara com
seringas de clisteres, sovaram-se incautos6 com réstias de cebolas, bebeu-se vinho até ao arroto e ao vómito, partiram-se
panelas, tocaram-se gaitas, e se mais gente não se espojou, por travessas praças e becos, de barriga para o ar, é porque a cidade
é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não chove. Agora é tempo
de pagar os cometidos excessos, mortificar a alma para que o corpo finja arrepender-se, ele rebelde, ele insurreto, este corpo
10 parco e porco da pocilga que é Lisboa.

SARAMAGO, José. Memorial do Convento, 2014, Porto: Porto Editora (pp. 29-30).

Ai como é diferente o carnaval em Portugal. Lá nas terras de além e de Cabral, onde canta o sabiá e brilha o Cruzeiro do Sul,
sob aquele céu glorioso, e calor, e se o céu turvou, ao menos o calor não falta, desfilam os blocos dançando avenida abaixo, […] o
samba, o samba terramoto da alma, até Ricardo Reis, sóbrio homem, muitas vezes sentiu moverem-se dentro de si os refreados 7
tumultos dionisíacos8, só por medo do seu corpo se não lançava no turbilhão, saber como estas coisas começam, ainda podemos,
15 mas não como irão acabar. Em Lisboa não corre esses perigos. O céu está como tem estado, chuvoso, mas, vá lá, não tanto que o
corso não possa desfilar, vai descer a Avenida da Liberdade, entre as conhecidas alas de gente pobre, dos bairros, é certo que
também há cadeiras para quem as pode alugar, mas essas irão ter pouca freguesia, estão numa sopa, parece partida
carnavalesca, senta-te aqui ao pé de mim, ai que fiquei toda molhada. Estes carros armados rangem, bamboleiam, pintalgados de
figuras, em cima deles há gente que ri e faz caretas, máscaras de feio e de bonito, atiram com parcimónia serpentinas ao público,
20 saquinhos de milho e feijão que acertando aleijam, e o público retribui com um entusiasmo triste. Passam algumas carruagens
abertas, levando provisão de guarda-chuvas, acenam lá de dentro meninas e cavalheiros que atiram confetti uns aos outros.
Alegria destas também as há entre o público, por exemplo, está esta rapariga a olhar o desfile e vem por trás dela um rapaz com
uma mão cheia de papelinhos, aperta-lhos contra a boca, esfrega freneticamente e vai aproveitando a surpresa para a apalpar
onde pode, depois ela fica a cuspinhar, a cuspinhar, enquanto ele afastado ri, são modos de galantear à portuguesa, há
25 casamentos que começaram assim e são felizes. Usam-se bisnagas para atirar ao pescoço ou à cara das pessoas esguichos de
água, ainda conservam o nome de lança-perfumes, é o que resta, o nome, do tempo em que foram suave violência nos salões,
depois desceram à rua, muita sorte é ser limpa esta água, e não de sarjeta, como também se tem visto.

SARAMAGO, José. O Ano da Morte de Ricardo Reis, 2016, Porto: Porto Editora (pp. 181-182).
NOTAS
30 1. papada – dobra da pele pendente por baixo do pescoço; 2. pletórica – exuberante; 3. rubicundo – corado; 4. héctico – tísico, muito magro;
5. entrudo – Carnaval; 6. incautos – imprudentes; 7. refreados – reprimidos; 8. dionisíacos – instintivos, sensuais.

1. Explicite uma das críticas feitas à cidade de Lisboa, comum aos dois excertos, comprovando a resposta com

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elementos textuais.

2. Identifique a época festiva descrita nos excertos, demonstrando que surge caracterizada como um período de
excessos.

3. Selecione a opção de resposta adequada para completar a afirmação abaixo apresentada.


Quer o excerto de Memorial do Convento quer o excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis refletem diferentes
características da escrita de José Saramago, nomeadamente: _______a)________; o recurso à metáfora, como se
verifica em ______b)_______; e à ironia, presente, por exemplo, em _______c)________.

a) b) c)

1. o uso de um registo 1. «[E]sta cidade, mais que todas, é uma 1. «Agora é tempo de pagar os
predominantemente erudito boca que mastiga de sobejo para um cometidos excessos» (l. 10)
2. a distinção inequívoca entre as lado e de escasso para o outro.» (l. 1) 2. «Ai como é diferente o carnaval em
diferentes modalidades de reprodução 2. «Estes carros armados rangem, Portugal» (l. 12)
do discurso bamboleiam, pintalgados de figuras» (l. 3. «Em Lisboa não corre esses perigos»
3. a alternância entre o registo formal e 20) (l. 16-17)
o registo informal 3. «Alegria destas também as há entre o
público» (l. 24)

PARTE B

Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.

Com grandes esperanças já cantei


com que os deuses no Olimpo conquistara;
depois vim a chorar porque cantara,
e agora choro já, porque chorei.

5 Se cuido1 nas passadas que já dei,


custa-me esta lembrança só tão cara2
que a dor de ver as mágoas que passara,
tenho pela mor mágoa que passei.

Pois logo, se está claro que um tormento


10 dá causa que outro n’alma se acrescente,
já nunca posso ter contentamento.

Mas esta fantasia se me mente?


Oh! ocioso e cego pensamento!
Ainda eu imagino em ser contente.

Luís de Camões, Lírica (antologia), RBA Editores, 1996, pp. 67-68.

NOTAS
1. cuido – penso; 2. cara – estimada, prezada.

4. Considerando as quadras, identifique dois momentos temporais distintos, associando cada um deles a
diferentes estados de espírito do sujeito poético.
5. Clarifique o sentido do primeiro terceto.

6. Selecione a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.


No último terceto, o caráter _______a)________ do poema surge evidenciado, entre outros aspetos, pelo
emprego da ______b)_______, tal como se constata no verso 12. Na última estrofe, o sujeito poético manifesta

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(Sede: Escola Secundária José Belchior Viegas)
uma atitude de _______c)________.

a) b) c)

1. reflexivo 1. apóstrofe 1. relativa esperança


2. crítico 2. interrogação retórica 2. desistência em relação ao que o rodeia
3. onírico 3. antítese 3. revolta em relação ao mundo

PARTE C

7. Ao longo dos tempos, diversos autores portugueses destacaram o papel da mulher nas suas obras.

Baseando-se na sua experiência de leitura, escreva uma breve exposição sobre o modo como a mulher é
representada em dois autores ou em duas obras que estudou, no ensino secundário, no domínio da educação
literária.

A sua exposição deve incluir:


− uma introdução ao tema;
− um desenvolvimento no qual explicite um aspeto que evidencie o modo como a mulher é representada
em cada um dos autores ou obras que selecionou, fundamentando cada um desses aspetos com, pelo
menos, um exemplo pertinente;
− uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
LEITURA | GRAMÁTICA
Leia o texto.

O século XXI será o século em que ganharemos ou perderemos a batalha pelos Direitos Humanos, esses que estão contidos
na Declaração Universal assinada em dezembro de 1948, em Nova Iorque. Em 1998, quando foi celebrado o respetivo
cinquentenário, realizaram-se por todo o mundo congressos, exposições, colóquios e simpósios, pronunciaram-se quilómetros
de discursos, escreveram-se milhares de artigos e ensaios, enfim, durante uma semana quase não se falou doutra coisa nos
5 órgãos de comunicação social. A realidade, porém, mostra-nos que não só não se progrediu durante esses cinquenta anos,
como em muitos aspetos se andou para trás.
Provavelmente iremos ter de esperar o ano 2048 para que de novo se volte a falar de Direitos Humanos… Talvez os mais
novos tenham essa sorte. Entretanto, o planeta está como está e tudo indica que nessa altura estará pior. […]
O verdadeiro drama que temos Diante de nós não se chama mudança de século ou mudança de milénio, chama-se final de
10 uma civilização. […]
Ainda somos os filhos da Ilustração, do Iluminismo, da Enciclopédia, direta ou indiretamente todos nos alimentámos
dessas ideias, mas o universe mental que, para o bem ou para o mal, forjou as pessoas que somos está a chegar ao seu termo.
A civilização, tal como a entendíamos, está a despedir-se de nós, não tarda que pertença ao passado.
Ninguém poderá prognosticar como virão a ser homens dentro de cinquenta ou cem anos, ninguém será capaz de realizar
15 essa projeção de futuro.
Também nós não poderemos afirmar que fomos melhores do que será essa gente futura, mas, segundo apontam todos os
indícios, Podemos, sim, prever já que eles serão outros.
Ora, em minha opinião, o único bem que realmente valeria a pena legar-lhes seria o respeito pelos Direitos Humanos, não
apenas aquele respeito formal que se manifesta em celebrações tão pouco sinceras como foram as de 1998, mas sim a
20 responsabilização efetiva, internacionalmente assumida, do seu reconhecimento e do seu total cumprimento.
Movemo-nos dentro de um Sistema que fomenta as desigualdades económicas e condena milhões de seres humanos à
miséria, um sistema sem pudor que despreza e ofende todos os dias o documento por ele próprio elaborado há cinquenta
anos e agora reduzido a um farrapo de papel. Creio que só aquelas a quem os direitos humanos têm vindo a ser negados
poderão ainda salvar essa já quase frustrada esperança da humanidade. O mundo precisa urgentemente de uma revolução

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25 moral, de uma revolução ética que desperate as consciências e mude os caminhos do homem. O programa para a
transformação existe, não o procuremos mais longe, chama-se Declaração Universal do Direitos Humanos.
É certo que sem democracia não haverá direitos humanos, mas também é certo que sem direitos humanos não haverá
democracia.
José Saramago, “Direitos Humanos, Combater as desigualdades”,
in Jornal de Letras, 2 a 15 de novembro de 2022, p. 20 (texto com supressões).

1. No primeiro parágrafo, José Saramago enfatiza


(A) o contributo da comunicação social na divulgação dos Direitos Humanos.
(B) a superficialidade das comemorações do cinquentenário dos Direitos Humanos.
(C) a progressão evidente e expectável dos Direitos Humanos no século XXI.
(D) o valor inquestionável das celebrações dos Direitos Humanos no mundo.

2. No segundo parágrafo, através de várias expressões, conclui-se que o autor exprime uma ideia de
(A) certeza.
(B) obrigação.
(C) permissão.
(D) possibilidade.

3. A partir da leitura do discurso de Saramago, deduz-se que este defende


(A a segurança que advém do facto de existir uma Declaração dos Direitos Humanos.
)
(B) a importância de continuarmos a celebrar a Declaração dos Direitos Humanos.
(C) a urgência de transformação cívica através da Declaração dos Direitos Humanos.
(D) a centralidade da Declaração dos Direitos Humanos, desde a última celebração.

4. No contexto em que ocorre, a expressão «farrapo de papel» (l. 23) constitui


(A) uma metáfora associada à ideia de valorização.
(B) uma metáfora associada à ideia de depreciação.
(C) uma metonímia associada à ideia de valorização.
(D) uma metonímia associada à ideia de depreciação.

5. Todas as orações abaixo transcritas são subordinadas substantivas completivas, exceto a oração
(A) «que somos» (l. 12).
(B) «que fomos melhores do que o será essa gente futura» (l. 16).
(C) «que eles serão outros» (l. 17).
(D) «que sem democracia não haverá direitos humanos» (l. 27).

6. Na expressão «despedir-se de nós» (l. 13), «de nós» desempenha a mesma função sintática que
(A) «de papel» (l. 23).
(B) «da humanidade» (l. 24).
(C) «de uma revolução moral» (ll. 24-25).
(D) «do homem» (l. 25).

7. A frase iniciada por «O mundo precisa» (l. 24) e a frase iniciada por «É certo que» (l. 27) exprimem
(A) a modalidade epistémica, em ambos os casos.
(B) a modalidade deôntica, em ambos os casos.
(C) a modalidade epistémica, no primeiro caso, e a modalidade deôntica, no segundo caso.
(D) a modalidade deôntica, no primeiro caso, e a modalidade epistémica, no segundo caso.

GRUPO III

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(Sede: Escola Secundária José Belchior Viegas)
ESCRITA

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, faça a
apreciação crítica do cartoon abaixo apresentado, da autoria de Konstantin Kazanchev.

Fonte: Fonte: www.cartoonmovement.com


(consultado em 10.05.2023)
O seu texto deve incluir:
‒ a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
‒ um comentário crítico, fundamentando a sua apreciação em, pelo menos, três aspetos relevantes e
utilizando um discurso valorativo.

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos
ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.:
/2023/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras –, há que
atender ao seguinte:
 um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
 um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

FIM

COTAÇÕES
As pontuações obtidas nas respostas a estes Grupo
10 itens contribuem obrigatoriamente para a I II III Subtotal
classificação final. 2. 3. 5. 6. 7. 1. 2. 6. 7.
Cotação (em pontos) 13 13 13 13 13 13 13 13 13 44 161
Destes 5 itens, contribuem para a
I II
classificação final da prova os 3 itens cujas Subtotal
respostas obtenham melhor pontuação. 1. 4. 3. 4. 5.
Cotação (em pontos) 3 x 13 pontos 39
Total 200

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