"HORAS MORTAS"

O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL
CESÁRIO VERDE
 C ESÁR I O VER D E

CESÁRIO VERDE NASCEU EM LISBOA NO DIA 25 DE FEVEREIRO

DE 1855.

FOI UM GRANDE POETA PORTUGUÊS, SENDO CONSIDERADO

ATÉ UM DOS PIONEIROS DA POESIA EM PORTUGAL NO SÉC. XX.

FALECEU, DE TUBERCULOSE,A 19 DE JULHO DE 1886.

AMBOS O SEU PAI E A SUA IRMÃ MORRERAM DA MESMA

DOENÇA, O QUE O INSPIROU A ESCREVER UM DOS SEUS MAIS
BELOS POEMAS: "NÓS", EM 1884.
 "NÓS" (1884)

“Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas

(Até então nós só tivéramos sarampo),
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!”
"HORAS MORTAS"
 "O t e t o fund o d e o x i génio, d e a r,
E st e nde-se a o c o mp rido, a o me i o d a s t ra p eiras;
Vê m l á g rimas d e l uz d o s a st ro s c o m o l he iras ,
E nl e v a-me a q ui me ra a zul d e t ra nsmigrar."
" P or baixo, que portões! Qu e arru amentos!
Um paraf uso cai nas lajes, às escuras:
Colocam- se taipais, rangem as f ech adu ras,
E os olhos dum calech e espantam- me,
sangrentos. "
 " E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das f achadas;
P ois sobem, no silêncio, inf au stas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua f lauta ."
 " S e eu nã o mo r r es s e, nunca ! E et er na ment e
B us ca s s e e co ns eg ui s s e a p er fei çã o d a s co us a s !
E s q ueço -me a p r ever ca s t í s s i ma s es p o s a s ,
Que a ni nhem em ma ns õ es d e vi d r o t r a ns p a r ent e!"
 " Ó nossos f ilhos! Que de sonh os ágeis,
P ousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e f rágeis."
 "Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as f rotas dos avós, e os nómadas ardentes ,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!"
 " Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!.. .
Ju lgo avistar, na treva , as f olh as das navalh as
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados."
 " E nes t es neb ul o s o s co r r ed o r es
Na us ei a m-me, s ur g i nd o , o s vent r es d a s t a b er na s ;
Na vo l t a , co m s a ud a d e, e a o s b o r d o s s o b r e a s p er na s ,
C a nt a m d e b r a ço d a d o , uns t r i s t es b eb ed o r es . "
 "E u nã o re c e i o, t o d av ia o s ro ub o s;
A fa st am-se, á d i st ância, o s d úb i os c a mi nhantes ;
E suj o s, se m l a d rar, ó sse os, fe b ri s, e rra nte s,
A ma re ladame nte , c ã e s p a re ce m l o b os. "
 "E o s g ua rd a s, q ue re v i st a m a s e sc a d a s,
Ca m i nha m d e l a nt e rna e se rv e m d e c ha v e i ro s;
P o r c i m a , a s i m o ra i s , no s se us ro up õ e s l i g e i ro s,
To sse m , f um a nd o , so b re a p e d ra d a s sa c a d a s."
 "E , e no rme , ne st a ma ssa i rre g ul ar
De p ré d i os se p ulc rai s, c o m d i me nsõe s d e mo nt e s ,
A d o r huma na b usc a o s a mp los ho ri zonte s,
E t ê m ma ré s, d e fe l , c o mo um si ni stro ma r! "
 R ECU R S OS “ (…) Como as linhas de uma pauta” - v. 9
EX P R ES S I VOS COMPARAÇÃO
“Ó nossos filhos!” - v.17
APÓSTROFE
“(…) Raça ruiva do porvir” - v.21
ALITERAÇÃO
“E pelas vastidões aquáticas seguir!” - v.22
ANÁSTROFE
(…) As folhas das navalhas” - v.27
METÁFORA
“ (…) Com dimensões de montes” - v.42
HIPÉRBOLE
 O IMAGINÁRIO ÉPICO

A HOMENAGEM INSÓLITA A CAMÕES E A REPRESENTAÇÃO DO

REVERSO DA EPOPEIA CAMONIANA.
A DENÚNCIA DA REALIDADE DECADENTE E A ANTIÉPTICA DO
FINAL DO SÉC. XIX.
INTERTEXTUALIDADE COM OS LUSÍADAS, COM INTENÇÃO
CRITÍCA E DEPRECIATIVA FACE À ATUALIDADE DA ESCRITA DO
POEMA.
DESFASAMENTO ENTRE A REALIDADE DESEJADA (O
IMAGINÁRIO ÉPICO) E A REALIDADE EFETIVA (O REAL
ANTIÉPTICO).
 PERCEÇÃO SENSORIAL

SENSAÇÕES VISUAIS SENSAÇÕES AUDITIVAS

“Um parafuso cai nas lages, (…)” -v.6 “O teto fundo de oxigénio, de ar, / estende-se ao comprido,” - v.2-3

“Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas, / as notas pastoris de uma longínqua “(…)Ás escuras" - v.6
flauta.” - V.12-13
“A dupla correnteza augusta das fachadas;” - v.10
“E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.” - V.28
“(…) De vidro transparente!” - V.16
“Cantam de braço dado, uns tristes bebedores.” - V.32
“(…) Vastidões aquáticas (…) - v.24
“(…) Sem ladrar (…)” - v.35
E têm marés, de fel, como um sinistro mar! - V.44
“Tossem, (…)” - v.40
P ER CEÇÃ O S OCI A L TRASNFIGURAÇÃO
POÉTICA DO REAL

• O OBJETIVO DE CESÁRIO É DESCREVER

OS OBJETOS E OS CONTRASTES DA
CIDADE.
• É AO VAGUEAR PELA CIDADE QUE O
"EU" DENUNCIA ESTE LADO POBRE E
PERIGOSO DE LISBOA.
• CONCEÇÃO DUMA NOVA REALIDADE, A
PARTIR DE ELEMENTOS REAIS, ATRAVÉS
DA VISÃO
TRANSFIGURADORA DO SUJEITO
POÉTICO.
• PARA O POETA,VER É PERCEBER O QUE
SE ESCONDE.
 • A CIDADE É UM ESPAÇO
CONFINADOR E DESTRUTIVO.

• OPOSTO DO CAMPO.

• REPRESENTAÇÃO MINUNCIOSA E
REALISTA.
R EP R ES ENTA ÇÃ O DA
CI DA DE • CAPTAÇÃO DE
EXTERIORES, INTERIORES E
PEQUENOS EPISÓDIOS DO
QUOTIDIANO.

• A DEAMBULAÇÃO E IMAGINAÇÃO
DO SUJEITO POÉTICO FORMAM O
OBSERVADOR ACIDENTAL.
 REPRESENTAÇÃO
DA CIDADE

TIPOS SOCIAIS

POVO BURGUESIA MARGINAIS

PRODUTIVIDADE; OCIOSIDADE; DEGRADAÇÃO
VITALIDADE; INÉRCIA; SOCIAL E MORAL;
AUTENTICIDADE; ARTIFICIALIDADE;

ALVO DE SIMPATIA ALVO DE CRITICA E ALVO DE CRITÍCA E

E SOLIEDARIADADE IRONIA POR PARTE REPULSA POR
POR PARTE DO DO SUJEITO PARTE DO SUJEITO
SUJEITO POÉTICO. POÉTICO. POÉTICO.
 MARGINAIS
DEGRADAÇÃO
SOCIAL E MORAL;

ALVO DE CRITICA E
REPULSA POR PARTE
DO SUJEITO POÉTICO