Você está na página 1de 5

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o poema.

S. Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,


A navegar num doce mar de mosto,
Capitã o no seu posto
De comando,
5 S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
10 É num antecipado desengano
Que ruma em direçã o ao cais divino.

Lá nã o terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
15
Doiros desaguados
Serã o charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarã o prolongar os horizontes
20 Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima


Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
25
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

“Diá rio IX [1964]”, in Miguel Torga, Antologia poética,


Lisboa, Publicaçõ es Dom Quixote, 2014, p. 352.

1
1. Explique o sentido dos três últimos versos da primeira estrofe, relacionando-o com o verso 8.

2. Identifique o recurso expressivo presente no verso 14, explicitando o seu valor semântico.

3. Comprove que o apego à terra é uma ideia que percorre todo o poema.

Leia a seguinte cantiga de amigo. Se necessário, consulte a nota.

Sedia-m’eu1 na ermida de San Simió n


e cercaron-mi-as ondas que grandes son.
Eu atendend´2 o meu amigu´! E verrá?

Estando na ermida, ant’3 o altar,


5 cercaron-mi-as ondas grandes do mar.
Eu atenden[d´ o meu amigu´! E verrá?]

E cercaron-mi-as ondas que grandes son:


non ei4 [i] barqueiro nen remador.
Eu [atendend´ o meu amigu´! E verrá?]
10
E cercaron-mi-as ondas do alto mar:
non ei[ ]i barqueiro nen sei remar.
Eu aten[dend´ o meu amigu´! E verrá?]

Non ei i barqueiro nen remador:


15 morrerei [eu], fremosa, no mar maior.5
Eu aten[dend´ o meu amigu´! E verrá?]

Non ei [i] barqueiro nen sei remar:


morrerei eu, fremosa, no alto mar.
Eu [atendend´ o meu amigu´! E verrá ?]

Mendinho, B 852/V 438

Mercedes Brea (coord.), Lírica profana galego-portuguesa,


Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, 1996.

_____________
1
Estava eu.
2
Esperando.
3
Diante.
4
Tenho.
5
Alto.

4. Refira o assunto da cantiga.

5. Caracterize o estado de espírito do sujeito da enunciação.

2
GRUPO II

Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

Leia o texto.

Pensar o ambiente

“Ambiente é uma á rea ao mesmo tempo fascinante e deprimente.” Esta duplicidade, só


aparentemente paradoxal, define em grande medida o registo em que se desenvolve o pensamento
de Sofia Guedes Vaz ao longo das pá ginas do seu ensaio “Ambiente em Portugal”, recentemente
editado pela Fundaçã o Francisco Manuel dos Santos.
Sofia Guedes nã o trai a expectativa dos leitores que querem obter no seu ensaio uma informaçã o
5
geral, em escrita clara e lú cida, sobre o estado do ambiente no nosso país. Essa tarefa é realizada
tanto no plano histó rico como num plano analítico. A autora identifica as principais etapas de
formaçã o da consciência ambiental, o papel dos movimentos sociais, a construçã o das primeiras
instituiçõ es e políticas pú blicas, sem esquecer de passar em revista o atual estado do ambiente do
país, seguindo o fio condutor dos macroindicadores (da á gua e resíduos, à s alteraçõ es climá ticas e
mar). Mas aquilo que considero mais criativo neste livro reside na perspetiva crítica em que ele está
perspetivado. A autora confessa-se em movimento de aprendizagem constante num domínio de
grande complexidade. Não hesita em chamar a atenção para consensos mitoló gicos e potencialmente
anestesiantes, como o da “sustentabilidade”. E sobretudo insiste na tarefa de alargar a reflexão sobre a
10 transiçã o ambiental a áreas tã o inovadoras como o teatro, o humor, a arte, a literatura, o cinema, sem
esquecer o papel das ciências.
O ambiente fascina, pelo desafio enorme da sua compreensã o. Pela sua perturbante
complexidade, que nos percorre o corpo e a alma, envolvendo todas as faculdades. O ambiente
deprime, porque o que está em jogo é demasiado alto para perdermos a batalha da transiçã o. Mas o
combate trava-se no meio de um espesso nevoeiro de incerteza. Sabemos o que devemos fazer. Mas
nã o sabemos mais nada.

Viriato Soromenho Marques, in Jornal de Letras, Artes e ideias, ano XXXVI, nº 1203, de 9 a 22 de novembro de 2016
(com supressõ es).
15

20

1. A “duplicidade” a que o autor se refere no início do texto tem a ver com


(A) o facto de se tratar de um tema desafiante, mas gerador de frustrações.
(B) o facto de se tratar de um paradoxo.
(C) a atitude da investigadora e a reação do leitor.
(D) a atitude da investigadora e das instituições que gerem o ambiente.

2. Na opinião de Soromenho Marques, Sofia Guedes


(A) fornece aos leitores informação relevante e credível, mas redutora, porque se debruça apenas
sobre a água, os resíduos, as alterações climáticas e o mar.
(B) informa sobre o estado do ambiente no nosso país, mas admite que se encontra ainda num
processo de aprendizagem.

3
(C) elabora um estudo acessível, em linguagem clara, mas ignora a questão da sustentabilidade
ambiental.
(D) dá a conhecer outras das suas paixões, como é o caso do teatro, da arte, da literatura e do cinema.

3. A referência a “Sofia Guedes Vaz” (l. 3), “Sofia Guedes” (l. 5) e “A autora” (l. 7) configura a coesão
(A) lexical. (C) interfrásica.
(B) referencial. (D) frásica.

4. O constituinte sublinhado no segmento frásico “Sofia Guedes não trai a expectativa dos leitores…”
(l. 5) desempenha a função sintática de
(A) complemento direto. (C) sujeito.
(B) complemento do nome. (D) modificador.

4
5. O referente do determinante possessivo em “sua compreensão” (l. 17) é
(A) “ambiente”. (C) “complexidade”.
(B) “desafio”. (D) “compreensão”.

6. Na frase “que nos percorre o corpo e a alma” (l. 18) encontra-se


(A) um sujeito, um complemento direto e um complemento indireto.
(B) um complemento direto e um complemento indireto.
(C) um complemento direto, um complemento indireto e um complemento oblíquo.
(D) um sujeito e um complemento direto.

7. O conector usado em “Mas não sabemos mais nada.” (ll. 20-21) tem um valor de
(A) consequência. (C) conclusão.
(B) adição. (D) oposição.

8. Indique o valor modal expresso na frase “Ambiente é uma área ao mesmo tempo fascinante e
deprimente.” (l. 1).

9. Identifique o processo de formação da palavra “incerteza” (l. 20).

10. Classifique a oração subordinada na frase: “Sabemos o que devemos fazer.” (l. 20)

GRUPO III

A observação do mundo que nos rodeia e a capacidade de refletir sobre


ele leva-nos a apreciá-lo melhor.

Redija um texto de apreciação crítica da pintura de Claude Monet, de


150 a 180 palavras, atentando aos seguintes aspetos:
− contraste claro/escuro;
− fusão humano/natureza;
− sensações sugeridas pelo espaço e pelas figuras humanas.

Mulheres no jardim, 1866-67,


Claude Monet, Museu d’Orsay.

Você também pode gostar