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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS JOSÉ BELCHIOR VIEGAS

(Sede: Escola Secundária José Belchior Viegas)

Português – 12.º Ano Turma B – Cursos Científico-Humanísticos – Ano letivo 2021/2022


4.º Teste globalizante de avaliação
Grupos Domínios Classificação
Grupo I (Partes A, B e C) Educação Literária
Grupo II (Itens 1. a 4.) Leitura
Grupo II (Itens 5. a 7.) Gramática
Grupo III Escrita
Classificação Final: ______________________________________ Prof. _________________________

A prova inclui 10 itens, devidamente identificados no enunciado, cujas respostas contribuem


obrigatoriamente para a classificação final. Dos restantes 5 itens da prova, apenas contribuem para a
classificação final os 3 itens cujas respostas obtenham melhor pontuação.
GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

PARTE A
Leia o texto.

De madrugada, muito antes de nascer o sol, e ainda bem, porque estas horas são sempre as mais
frias, levantam-se os trabalhadores de sua majestade, enregelados e famintos, felizmente os
libertaram das cordas os quadrilheiros, porque hoje entraremos em Mafra e causaria péssimo efeito o
cortejo de maltrapilhos, atados como escravos do Brasil ou récua de cavalgaduras. Quando de longe
5 avistam os muros brancos da basílica, não gritam, Jerusalém, Jerusalém, por isso é mentira o que
disse aquele frade que pregou quando foi levada de Pêro Pinheiro a pedra a Mafra, que todos estes
homens são cruzados duma nova cruzada, que cruzados são estes que tão pouco sabem da sua
cruzadia. Fazem alto os quadrilheiros, para que desta eminência possam os trazidos apreciar o amplo
panorama no meio do qual vão viver, à direita o mar onde navegam as nossas naus, senhoras do
10 líquido elemento, em frente, para o Sul, está a famosíssima serra de Sintra […]e a vila, lá em baixo na
cova, é Mafra, que dizemos eruditos ser isso mesmo o que quer dizer, mas um dia se hão de retificar
os sentidos e naquele nome será lido, letra por letra, mortos, assados, fundidos, roubados,
arrastados,[…] não antecipemos, ainda há muito trabalho para acabar, por causa dele é que vocês
vieram das longes terras onde vivíeis […].
15 Para chegarem à obra, vindos donde vêm, têm de atravessar a vila, passam à sombra do palácio
do visconde, rasam a soleira dos Sete-Sóis […]. As janelas do palácio não se abrem para ver passar
o cortejo dos miseráveis, só o cheiro que deitam, senhora biscondessa. Abriu-se, sim, o postigo da
casa dos Sete-Sóis e veio Blimunda olhar, não é nenhuma novidade, quantas levas já por aqui
passaram, mas, estando em casa, sempre vem ver, é uma maneira de receber quem chegou, e
20 quando à noite Baltasar regressa, ela diz, Por aqui passaram hoje mais de cem, perdoe-se a
imperfeição de quem não aprendeu a contar rigoroso, foram muitos, foram poucos, é como quando se
fala de anos, já passei dos trinta, e Baltasar diz, Ao todo ouvi dizer que chegaram quinhentos, Tantos,
espanta-se Blimunda, e nem um nem outro sabem exatamente quantos são quinhentos, sem falar
que o número é de todas as coisas que há no mundo a menos exata, diz-se quinhentos tijolos, diz-se
25 quinhentos homens, e a diferença que há entre tijolo e homem é a diferença que se julga não haver
entre quinhentos e quinhentos, quem isto não entender à primeira vez não merece que lho expliquem
segunda.
Juntam-se os homens que entraram hoje, dormem onde calhar, amanhã serão escolhidos. Como
os tijolos. Os que não prestarem, se foi de tijolos a carga, ficam por aí, acabarão por servir a obras de
30 menos calado, não faltará quem os aproveite, mas, se foram homens, mandam-nos embora, em hora
boa ou hora má, Não serves, volta para a tua terra, e eles vão, por caminhos que não conhecem,
perdem-se, fazem-se vadios, morrem na estrada, às vezes roubam, às vezes matam, às vezes
chegam.
José Saramago, Memorial do Convento, 53.ª ed., Alfragide, Editorial Caminho, 2013, pp. 404-406.

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1. Apresente três críticas tecidas pelo narrador ao longo do primeiro parágrafo do excerto,
fundamentando a sua resposta com elementos textuais pertinentes.

2. Comente as reações da «senhora biscondessa» e de Blimunda perante a passagem do cortejo,


salientando a intenção do narrador.

3. Clarifique o sentido da expressão «diz-se quinhentos tijolos, diz-se quinhentos homens» (ll. 24-
25).

4. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.


Na folha de respostas, registe apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o
número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.
O presente excerto de Memorial do Convento ilustra diversas características da escrita de José
Saramago: o tom oralizante do discurso do narrador, que é acentuado, nomeadamente, a) ; a
presença constante de comentários e reflexões críticas, como se verifica em b) ; o recurso
sistemático à ironia, presente, por exemplo, em c) .

a) b) c)
1. pela transgressão das regras de 1. « De madrugada, muito antes de 1. « De madrugada, muito antes
reprodução do discurso direto nascer o sol (…), porque estas de nascer o sol (…), porque
2. pelo uso recorrente de horas são sempre as mais frias, estas horas são sempre as mais
construções anafóricas levantam-se os trabalhadores de frias,» (l. 1)
3. pela adequação das falas das sua majestade,» (ll. 1 e 2) 2. « que todos estes homens são
personagens ao respetivo estatuto 2. « felizmente os libertaram das cruzados duma nova cruzada,
social cordas os quadrilheiros, porque que cruzados são estes que tão
hoje entraremos em Mafra e pouco sabem da sua cruzadia.»
causaria péssimo efeito o cortejo (ll. 6 a 8)
de maltrapilhos, atados como 3. « Ao todo ouvi dizer que
escravos do Brasil ou récua de chegaram quinhentos, Tantos,
cavalgaduras.» (ll. 2 a 4) espanta-se Blimunda,» (ll. 22 e
3. «Juntam-se os homens que 23)
entraram hoje, dormem onde
calhar, amanhã serão escolhidos.»
(l. 28)

PARTE B
Leia o poema e as notas.

ESPARSA1
sua ao desconcerto2 do mundo

Os bons vi sempre passar


no mundo graves tormentos; NOTAS
e, para mais m’espantar, 1Esparsa – poema formado por uma única
os maus vi sempre nadar estrofe, que varia entre oito e dezasseis versos;
em mar de contentamentos. 2 desconcerto – ausência de harmonia, de ordem;
5
Cuidando3 alcançar assim 3 Cuidando – pensando, acreditando;
o bem tão mal ordenado, 4 concertado – certo, justo.
fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado4.
10

Luís de Camões, Rimas, texto estabelecido e prefaciado


por Álvaro J. Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005, p.102.

5. Explicite a visão antitética do mundo presente no poema.

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(Sede: Escola Secundária José Belchior Viegas)

6. Indique a estratégia adotada pelo sujeito poético e a consequência da sua ação,


fundamentando a sua resposta com transcrições pertinentes.

PARTE C

7. Para além de José Saramago e de Camões, a temática da crítica social está presente nas
obras de outros autores estudados ao longo do ensino secundário.

Baseando-se em dois autores por si estudadas, escreva uma exposição na qual comprove
a afirmação acima transcrita.

A sua exposição deve incluir:


 uma introdução ao tema;
 um desenvolvimento no qual explicite, para cada um dos autores, a presença
da temática, fundamentando-a em, pelo menos, um exemplo significativo;
 uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

GRUPO II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.


Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

LEITURA | GRAMÁTICA

Leia o texto seguinte.

Majestades, altezas reais, senhoras e senhores,


Cumpriram-se hoje exatamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal de
Direitos Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a
atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é
5 arriscado prever que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de
amanhã. Nada tenho contra esses atos comemorativos, eu próprio contribuí para eles,
modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o
desaconselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.
Neste meio século, não parece que os Governos tenham feito pelos direitos humanos tudo
10 aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades
agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz
de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas assiste
indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que
ao nosso próprio semelhante.
15 Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os Governos, porque não
sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aqueles que
efetivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais, cujo poder,
absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da
democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos
20 que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes
correspondem e que não é de esperar que os Governos façam nos próximos 50 anos o que não
fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a
mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos
deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.
25 Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de outubro, as primeiras palavras
que pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da
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Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A
todos torno a agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa,
aos do passado e aos de hoje: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais
30 um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado.
Bem hajam, portanto.
Discurso integral de José Saramago, durante a atribuição do Nobel da Literatura, dezembro de 1998, Estocolmo.

1. Na introdução deste seu breve discurso, Saramago anuncia que vai abordar o tema
(A) da literatura portuguesa.
(B) dos direitos humanos.
(C) da atribuição deste prémio.
(D) da realização deste tipo de homenagem.

2. Com a frase «Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante» (ll. 13-
14), Saramago pretende
(A) destacar o progresso científico.
(B) destacar a tendência progressista do nosso tempo.
(C) criticar a falta de compaixão quotidiana.
(D) criticar os aspetos negativos da ciência.

3. Segundo Saramago, «Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor» (l. 24) se houver
(A) maior exigência de todos no cumprimento dos deveres.
(B) maior intervenção do cidadão comum.
(C) mais reivindicações dos direitos do cidadão.
(D) mais iniciativas desta natureza.

4. A presença da repetição no excerto «Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos,
reivindiquemos também o dever dos nossos deveres» (ll. 22-24) tem um valor
(A) reivindicativo, reiterativo e aponta para uma relação de equidade.
(B) conformista, introspetivo e aponta para uma relação de inferioridade.
(C) alarmista, crítico e aponta para uma relação de superioridade.
(D) construtivista, conformista e aponta para uma relação de igualdade.

5. O valor aspetual presente na frase «Não esqueci os agradecimentos» (l. 25) é:


(A) valor imperfetivo.
(B) valor perfetivo.
(C) situação habitual.
(D) situação iterativa.

6. Todas as expressões abaixo transcritas desempenham a função sintática de modificador


apositivo do nome, exceto a expressão
(A) modestamente (l. 7)
(B) as empresas multinacionais e pluricontinentais (l. 17)
(C) absolutamente não democrático (l. 18)
(D) cidadãos comuns (l. 22).

7. Através das expressões «reivindiquemos também o dever dos nossos deveres» (ll. 23-24) e
«Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor» (l. 24), transmite-se uma ideia de
(A) possibilidade, em ambos os casos.
(B) certeza, em ambos os casos.
(C) obrigação, no primeiro caso, e possibilidade, no segundo caso.
(D) possibilidade, no primeiro caso, e obrigação, no segundo caso.

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GRUPO III

ESCRITA

Num texto bem estruturado, com um


mínimo de duzentas e um máximo de
trezentas e cinquenta palavras, faça a
apreciação crítica da pintura Os
Amantes, da autoria de René Magritte.
O seu texto deve incluir:
– a descrição da imagem apresentada,
destacando elementos significativos da
sua composição;
– um comentário crítico, fundamentando
a sua apreciação em, pelo menos, três
aspetos relevantes e utilizando um
discurso valorativo.
René Magritte, Os Amantes, 1928, in www.wikiart.org/en/rene-
magritte/the-lovers-1928 (consultado em maio de 2022).

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2022/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras –, há que atender ao seguinte:
 um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
 um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

FIM
COTAÇÕES
As pontuações obtidas nas respostas a Grupo
estes 10 itens contribuem I II III
Subtotal
obrigatoriamente para a classificação
1. 3. 4. 5. 7. 2. 3. 4. 7.
final.
Cotação (em pontos) 13 13 13 13 13 13 13 13 13 44 161
Destes 5 itens, contribuem para a
I II
classificação final da prova os 3 itens
Subtotal
cujas respostas obtenham melhor
2. 6. 1. 5. 6.
pontuação.
Cotação (em pontos) 3 x 13 pontos 39
Total 200

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