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Herberto Helder
Algumas obras: A Colher na Boca, 1961; Lugar, 1962; A Máquina Lírica, 1964; Húmus,
1967; O Bebedor Noturno, 1968; Vocação Animal, 1971; Cobra, 1977; O Corpo o Luxo a
Obra, 1978; Photomaton & Vox, 1979; Flash, 1980; A Plenos Pulmões, 1981; A Cabeça
entre as Mãos, 1982; As Magias, 1987; Última Ciência, 1988; Do Mundo, 1994; Doze Nós
Numa Corda: poemas mudados para português, 1997; Fonte, 1998; A Faca Não Corta o
Fogo – Súmula & Inédita, 2008; Servidões, 2013; A Morte Sem Mestre, 2014; Poemas
Canhotos, 2015; Letra Aberta, 2016.
Laranjas instantâneas
Laranjas instantâneas, defronte – e as íris ficam amarelas.
A visão da terra é uma obra cega. Mas as laranjas
atrás das costas, as mais
pesadas, as mais
5 lentamente maduras, as laranjas que mais tempo demoram
a unir o dia à noite, que têm uma força maior em cima
das mesas, essas.
Operatórias. São laranjas ininterruptas trabalhando em imagens
as regiões ofuscantes da cabeça.
10 Enriquecem o ofício sentado com um incêndio
quarto a quarto da alma. Enriquecem, devastam.
– Constelação ao vento avassalando a casa.
HELDER, Herberto, 2004. “Última Ciência”. In Ou o Poema Contínuo. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 443-444)
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2.2. Interpreta a utilização do adjetivo “ininterruptas” (v. 8), no contexto em que ocorre.
O Poema
I
Um poema cresce inseguramente
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Apresenta uma interpretação do verso “E o poema cresce tomando tudo em seu re-
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gaço.” (v. 14).
Gramática
Classifica como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações que se seguem e cor-
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rige devidamente as que considerares falsas.
a. O advérbio utilizado na primeira frase do poema desempenha a função sin-
tática de modificador.
b. Os dois últimos versos da primeira estrofe apresentam um valor modal de
certeza.
c. O sujeito da primeira oração do verso 6 é indeterminado.
d. A expressão “o silêncio”, usada no verso 12, desempenha a função sintática
de complemento direto.
e. No contexto em que ocorrem, as palavras “violência” (v. 6), “sol” (v. 8), “corpos”
(v. 9), “rios” (v. 11) e “folhas” (v. 12) integram o campo semântico de “mundo”
(v. 6).
O nome “regaço” (v. 14) foi formado a partir do verbo “regaçar” (sinónimo de “arrega-
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çar”).
Wassily Kandinsky,
Yellow-Red-Blue, 1925.
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sem nome –
65 será ainda que do meu sangue se erguem finas
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Relaciona a metáfora utilizada pelo sujeito poético na primeira estrofe com o as-
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sunto do poema.
2.1. Apesenta uma interpretação das passagens em que o sujeito poético des-
creve “essa criança”:
a.
“Essa criança tem boca, há tantas finas raízes / que sobem do meu sangue.”
(vv. 17-18).
b. “Essa criança dorme sobre os meus lagos de treva.” (v. 27).
c.
“essa criança / é tão brusca, tão brusca, ela destrói e aumenta / o meu cora-
ção.” (vv. 42-44).
d. “Essa criança tem os pés na minha boca / dolorosa.” (vv. 53-54).
e.
“Essa criança que aperta as veias que iluminam / a minha garganta.” (vv. 74-75).
A quinta estrofe introduz um cenário hipotético sobre o qual o sujeito poético re-
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flete.
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Interpreta:
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Sou fechado
como uma pedra pedríssima. Perdidíssima
da boca transata. Fechado
como uma. Pedra sem orelhas. Pedra una
15 reduzida a. Pedra.
Pedra sem válvulas. Com a cor reduzida
a. Um dia de louvor. Proferida lenta.
Escutada lenta.
Tamara de Lempicka,
– Todo o leitor é de safira, é The Reader III (asbtract), c. 1956.
Coleção Lempicka Estate
20 de. Turquesa.
E a vida executada. Devagar.
Torna-se a infiltrada cor da. Pedra
do leitor.
Volto para essa pedra absoluta. Relativa
25 à minha pedra.
Minha pedra pensada com a forma
de. Uma lenta vida elementar.
sobre. Mergulhados
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40 filamentos no terror
devagar
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O olhar é um pensamento
O olhar é um pensamento.
Tudo assalta tudo, e eu sou a imagem de tudo.
O dia roda o dorso e mostra as queimaduras,
a luz cambaleia,
a beleza é ameaçadora.
– Não posso escrever mais alto.
Transmitem-se, interiores, as formas.
HELDER, Herberto, 2004. “Do Mundo”. Joan Miró, Pintura (Mulher diante do
In Ou o Poema Contínuo. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 552) sol), 1950. Coleção particular
b lo co i n fo r m at i vo p. 316
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HELDER, Herberto, 2013. Servidões. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 50-51)
cusa em aderir a essa estratégia. Essa opção, que, afinal, apenas o faz ficar “contente de
nada e de ninguém” (v. 10), indiferente, corresponde à assunção da sua autonomia, recu-
sando a criação de poemas com “endereço” (v. 11) e a exposição do seu trabalho “só por-
que sim”, “só porque não agora” (v. 12).
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