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Nuno Júdice Poetas contemporâneos

EDUCAÇÃOLITERÁRIA|ORALIDADE EXPOSIÇÃO SOBRE UM TEMA

1. Ordena os tópicos seguintes, reconstituindo o episódio de Inês de Castro, narrado no Canto III
de Os Lusíadas.
(A) Comovido, o rei quer poupar Inês mas, pressionado pelo povo, manda matá-la.
(B) Inês discursa perante o rei, pedindo-lhe que este lhe poupe a vida ou apresentando o
degredo/exílio como alternativa à morte;
(C) Inês é morta pelos algozes.
(D) Inês, em Coimbra, está apaixonada por D. Pedro.
(E) Sob a influência da opinião do povo, o rei D. Afonso IV manda chamar Inês à sua presença.

2. Lê o poema “Pedro, lembrando Inês”, de Nuno Júdice.

Pedro, lembrando Inês


Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: “Como é mais fácil deixar que as coisas
5 não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
10 ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
Emília Matos e Silva,
esse que mal corria quando por ele passámos, Inês de Portugal, 1998
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
15 que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
20 a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

JÚDICE, Nuno (2001). Pedro, Lembrando Inês. Lisboa: Dom Quixote, p. 40.

3. Redige uma exposição sobre o poema (130-170 palavras), abordando:


a. o perfil do sujeito poético;
b. a relação entre o sujeito poético e o seu interlocutor;
c. a importância do título na construção do sentido global do poema;
d. a linguagem e o estilo.

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Nuno Júdice Poetas contemporâneos

LEITURA|GRAMÁTICA APRECIAÇÃO CRÍTICA

1. Lê a apreciação crítica.

Pedro, Lembrando Inês (Nuno Júdice)


Evocando o amor intemporal de Pedro e Inês, e, ao
mesmo tempo, outras histórias e outros possíveis amo-
res, este é um conjunto de poemas que, conjugando
amor e nostalgia, cativam tanto pela mensagem e pelas
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imagens que evocam como pela forma como estas são
construídas. Saudade e encanto, paixões e silêncios,
descoberta e adeus: o amor é explorado em todas as
suas facetas e, ao mesmo tempo, ora desenvolvido
como algo ainda presente, ora percorrido como a re-
10 cordação de algo que já foi. O resultado é uma impres-
são de universalidade, de uma expressão de um amor
que poderia conter em si todos os amores: passados, presentes e futuros. […]
À força emocional do conteúdo e à beleza das imagens e sentimentos que
transmite, junta-se ainda a harmonia da escrita. A nível formal, não há própria-
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mente uma estrutura comum rígida, mas antes o que se pode reconhecer como
uma identidade própria. O sujeito poético que se dirige a alguém, transmitindo
algo pessoal nas palavras, é quase um protagonista, quase um narrador. E a evo-
cação de cenários, quase descritos ou apenas insinuados, cria ainda um outro
interessante contraste. Momentos há em que é o sentimento que sobressai, num
20 tom de quase divagação, enquanto que, noutros, são as imagens, descritas quase
que como parte de uma narrativa. Estes dois aspetos, conjugados, criam cenário
e circunstâncias: o que o “eu” que recorda vê e o que sente, num todo equili-
brado.
Este é, pois, um livro que, apesar da relativa brevidade, tem muito de bom
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para descobrir. A escrita é belíssima, o sentimento é intenso e genuíno e as ima-
gens que o texto evoca funcionam como o perfeito complemento a esse lado mais
emocional. Evocação de amor, ou de muitos amores, este é, sem dúvida, um livro
que vale a pena ler.
RIBEIRO, Carla. “Pedro, Lembrando Inês (Nuno Júdice)”, 26-03-2013 [Em linha].
As leituras do corvo [Com supressões, consult. em 07-01-2017].

2. Identifica e exemplifica as marcas do género apreciação crítica presentes no texto.

3. Transforma os segmentos seguintes em orações subordinadas finitas com valor equivalente:


a. “Evocando o amor intemporal de Pedro e Inês […]” (l. 1);
b. “apesar da relativa brevidade” (l. 24).

4. Transcreve um enunciado que veicule um valor modal epistémico de


a. certeza; b. probabilidade.
SOLUÇÕES|SUGESTÕESMETODOLÓGICAS

“Pedro, lembrando Inês” (p. 102)

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Nuno Júdice Poetas contemporâneos

Educação Literária
1. (D), (E), (B), (A), (C).

3. a. Identificação do sujeito poético com D. Pedro, homem apaixonado por Inês, sensível (distinto da representação que a
História nos deixou – cruel, vingativo), movido pelas saudades, pela solidão e pela nostalgia. b. Relação de amor
verdadeiro/ autêntico e eterno (apesar da ausência/morte de Inês), caracterizado pela unicidade (vv. 6-9), pela umplicidade
e pela entrega total ao outro (vv. 9-11); os últimos versos (vv. 18-21) são uma declaração de amor que reflete a intensidade
da relação amorosa. c. Título que permite identificar os dois interlocutores (sujeito poético – D. Pedro; destinatário/objeto
poético – D. Inês) e que especifica o universo de referência do texto, remetendo para uma tradição literária que vem já de
Os Lusíadas (amores de D. Pedro e D. Inês). d. Verso longo, que sugere o fluxo de pensamento e o tom reflexivo do sujeito
poético; predomínio de deíticos de primeira e segunda pessoas, que remetem para a proximidade entre o sujeito poético e
o destinatário da sua reflexão, dando verossimilhança à declaração de amor.

Leitura | Gramática
2. Marcas do género apreciação crítica:
• descrição sucinta do livro Pedro, Lembrando Inês (Nuno Júdice): temas e sentimentos, imagens, linguagem, estrutura e
estilo;
• comentários críticos valorativos, expressos através do vocabulário valorativo (“cativam”, “interessante”, “equilibrado”,
“muito de bom”, “belíssima”, “intenso”, “genuíno”, “perfeito”) e reforçados na asserção final (“um livro que vale a pena ler”, ll.
27-28).

3. Exemplos: a. Porque / uma vez que / já que evoca o amor intemporal de Pedro e Inês […]. b. ainda que/embora exista
uma relativa brevidade.

4. Exemplos: a. “este é, sem dúvida, um livro que vale a pena ler” (ll. 27-28). b. “uma expressão de um amor que poderia
conter em si todos os amores” (ll. 11-12).

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