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ESCOL BÁSICA E SECUNDÁRIA PINTOR JOSÉ DE BRITO

FICHA DE TRABALHO – Leitura/Gramática


PORTUGUÊS 12ºANO

Lê o seguinte texto.
Fernando Pessoa, O Romance – Uma Apreciação Crítica

Acabou de ser publicado um curioso livro «sobre» Fernando Pessoa,


intitulado Fernando Pessoa, O Romance.
Devo dizer que recebi o volume com alguma antecipação. Como todas as
edições da Saída de Emergência, o tratamento gráfico é exemplar e a capa
5 muito convidativa. Pessoa continua a vender, pelo que, em conjunto com a
antecipação, também sentia algum receio em entrar na leitura. Fi-lo o mais
rapidamente possível, levado também pela curiosidade do subtítulo O
Romance. Afinal era um romance sobre Pessoa? Ou Pessoa tornado
personagem de um romance qualquer?
10 Foram necessárias poucas dezenas de páginas para perceber que nenhuma
das hipóteses se confirmava. A autora, Sónia Louro, tinha agregado
cuidadosamente os estudos biográficos principais, sobretudo a biografia de José Paulo Cavalcanti (já ela
denominada de «Quase Autobiografia») para apenas, de quando em vez, preencher alguns vazios não
documentados com a sua própria liberdade criativa.
15 Escreveu Pessoa: «Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado
sem narrativa».
Eis o paradoxo deste livro que quer ser um romance contando uma história que existiu... quando na
realidade o que existiu nem sequer foi romance, foi drama (em gente). Assim se compreende o
facilitismo de sucessivas citações, num discurso que, muito longe de ser em primeira pessoa, força antes
20 Pessoa a citar-se a si próprio até ao ridículo absoluto dos seus heterónimos se revelarem pouco mais do
que subprodutos de uma esquizofrenia latente.
Sónia Louro pouco mais faz do que agregar pesquisas de outros numa história mal fiada e frágil, em
que não identificamos personagens nem narrativa, antes sombras e silhuetas. Reconhecemos que a
escrita é fluida e por vezes cativante, mas não o suficiente para que – como dissemos da obra de
25 Cavalcanti – se consiga justificar o método empregado, da biografia na primeira pessoa. Nisso
Cavalcanti falhou até de forma mais espetacular, munido como é de outras armas e erudição.
Em resumo, o livro não se apresenta como original ou sequer muito agradável de ler. Para quem não
conheça Pessoa, é demasiado confuso e detalhado, mais vale que leia uma biografia séria. Para quem o
conhece, demasiado insuficiente para gerar interesse. Ao menos Sónia Louro tivesse confiado mais na
30 sua imaginação do que nas suas fontes e teria com toda a certeza um resultado final bem mais agradável
e marcante. Como se apresenta, Fernando Pessoa, O Romance, sabe a muito pouco, uma pobre tese
literária média e repetitiva que muito raramente foge ao que já tinha sido dito antes.
Nuno Hipólito, Um Fernando Pessoa, 10/11/2014
(disponível em www.umfernandopessoa.com, consultado em janeiro de 2016).
1. Responde aos seguintes itens, selecionando a opção correta.

1.1 A citação de Fernando Pessoa (ll. 15-16) é feita com a intenção de


(A) valorizar o romance objeto da crítica, aproximando-o da definição de Pessoa.
(B) confirmar a definição de romance feita por Pessoa.
(C) destacar a fiabilidade das citações introduzidas no livro.
(D) deixar clara a fragilidade do romance, a começar pelo próprio título.

1.2 Em «Foram necessárias poucas dezenas de páginas para perceber que nenhuma das hipóteses
se confirmava» (ll. 10-11) existe uma sequência de
(A) orações subordinante + subordinada adverbial temporal + subordinada adjetiva relativa.
(B) orações subordinada adjetiva relativa + subordinante + subordinada adverbial final.
(C) orações subordinante + subordinada adverbial final + subordinada substantiva
completiva.
(D) orações subordinante + subordinada adverbial final + subordinada substantiva relativa.

1.3 O advérbio utilizado em «A autora, Sónia Louro, tinha agregado cuidadosamente os estudos
biográficos principais» (ll. 11-12) parece antecipar
(A) uma opinião favorável do crítico à obra.
(B) uma opinião desfavorável do crítico à obra.
(C) a importância da obra para um maior conhecimento de Pessoa.
(D) o forte contributo da obra para a biografia de Pessoa.

1.4 A expressão «Em resumo» (l. 27), com que se inicia o último parágrafo, assume-se como
(A) um mecanismo de coesão referencial.
(B) um mecanismo de coesão gramatical interfrásico.
(C) um mecanismo de coesão frásica.
(D) um mecanismo de coesão lexical.

1.5 No excerto «Em resumo o livro não se apresenta como original ou sequer muito agradável de
ler. Para quem não conheça Pessoa, é demasiado confuso e detalhado, mais vale que leia uma
biografia séria. Para quem o conhece, demasiado insuficiente para gerar interesse»
(ll. 27-29) a apreciação crítica é feita através
(A) da sucessão de adjetivos e de afirmações valorativas.
(B) do conselho que é deixado aos leitores.
(C) da informação de que se trata de uma «biografia séria».
(D) da extensão da informação a «quem conhece Pessoa» e a «quem não o conhece».

2. Identifica a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente na frase


«Reconhecemos que a escrita é fluida e por vezes cativante» (ll. 23-24). Complemento direto

3. Indica o antecedente do pronome pessoal presente em «Para quem o conhece, demasiado


insuficiente para gerar interesse» (ll. 28-29). «Pessoa»

4. Identifica o sujeito da oração «força antes Pessoa a citar-se a si próprio» (ll. 19-20) e classifica-o.
«um discurso» – sujeito subentendido

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