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RETOMA | EDUCAÇÃO LITERÁRIA

PORTUGUÊS
12.º ano

Fernão Lopes, Crónica de D. João I

Programa e Metas Curriculares de Português – 10.º ano

Excertos de 2 capítulos Contexto histórico.


(11, 115 ou 148 da 1.ª Parte) Afirmação da consciência coletiva.
Atores (individuais e coletivos).
O AUTOR E A OBRA – FERNÃO LOPES

§ Nasceu em 1385 e morreu em 1459.


§ Primeiro cronista oficial do reino (1434-1454).
§ Guarda-mor da Torre do Tombo de 1418 a 1454.
§ Origem: provavelmente popular ou mesteiral.
§ Educação: provavelmente numa escola conventual; autodidata; domínio do latim e do castelhano.
§ Funções na corte: escrivão de livros de D. João I e de D. Duarte; escrivão da puridade do infante D.
Fernando.
§ Pedido de D. Duarte: escrever a história da primeira dinastia e do reinado de seu pai, D. João I.
§ O seu trabalho historiográfico terá começado com os primeiros reinados portugueses.
§ Fernão Lopes concluiu as Crónicas de D. Pedro I, de D. Fernando e de D. João I.

I. Contexto histórico

A crise dinástica de 1383-1385

Relação e casamento de D. Fernando, rei de Portugal, com D. Leonor Teles.

Conflitos com Castela.

2 de abril de 1383: assinatura do tratado de Salvaterra de Magos (determinando as cláusulas de casamento de D.


Beatriz, filha de D. Fernando e herdeira da coroa portuguesa, com D. João I, futuro rei de Castela).

22 de outubro de 1383: morte de D. Fernando; D. Leonor assume a regência; o futuro rei de Castela ambiciona o
trono de Portugal.

ambiciona o tronopopular.
Descontentamento de Portugal.

Envolvimento de D. Leonor Teles com o Conde


Andeiro.

.6 de dezembro de 1383: assassínio do Conde Andeiro pelo Mestre de Avis.

.
De maio a setembro de 1384: guerra com Castela; cerco castelhano à cidade de Lisboa.

6 de abril de 1385: cortes de Coimbra; guerra com Castela; aclamação de D. João, Mestre de Avis, como Regedor
e Defensor do Reino; será, depois, o rei D. João I.

cerco castelhano à cidade de Lisboa. 2


CRÓNICA DE D. JOÃO I – CAPÍTULOS 11, 115 E 148 DA PRIMEIRA PARTE

Visão global da obra

1.ª parte 2.ª parte

Narração dos acontecimentos desde o Relato do conflito entre Portugal e

assassinato do conde Andeiro (dezembro Castela, desde a aclamação de D. João I

de 1383) à aclamação do Mestre de Avis nas cortes de Coimbra (abril de 1385) à

como rei de Portugal (abril de 1385). assinatura do tratado de paz (31 de


outubro de 1411).

193 capítulos 204 capítulos

• 1.ª Parte
• Ação concentrada em cerca de dezasseis meses ¾ vários acontecimentos simultâneos;
• Da morte do conde Andeiro (dezembro de 1383) à aclamação do Mestre de Avis como rei de
Portugal nas cortes de Coimbra (abril de 1385).

A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célere dos episódios quase simultâneos do
assassinato do conde Andeiro, do alvoroço da multidão que acorre a defender o Mestre e da morte do bispo de Lisboa.
Ao longo dos capítulos, fundamenta-se a legitimidade da eleição do Mestre, consumada nas cortes de Coimbra, na
sequência da argumentação do doutor João das Regras, enquanto desfecho inevitável, imposto pela vontade da
população.

II. Afirmação da consciência coletiva (Capítulos-chave)

Período do país sem rei e tomada de consciência de liberdades e responsabilidades.


O alvoroço na cidade de Lisboa depois da morte do conde Andeiro e o papel decisivo do Povo na
11 aclamação do Mestre de Avis.

115 Vivência heroica do Povo nos grandes momentos da revolução:


— preparação da resistência ao cerco castelhano à cidade de Lisboa, de forma empenhada e
valorosa.

Vivência da miséria associada à falta de mantimentos durante o cerco castelhano.


148 — resistência patriótica à fome.

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III. Atores (individuais e coletivos)

1. Atores Individuais – personagens históricas:


§ D. Leonor Teles (a vilã);
§ D. João, Mestre de Avis (o retrato de um homem espontâneo);
§ Álvaro Pais (imagem do fidalgo de nobres valores).

2. Atores coletivos:

§ Povo (massa anónima).

IV. O estilo de Fernão Lopes


. Objetividade no rigor da pormenorização (descrições pormenorizadas
Articulação entre com valor descritivo e informativo).
objetividade e subjetividade . Subjetividade na apreciação crítica e emotiva dos factos relatados
(uso de interrogação retórica, frase exclamativa).

. Interpelação do interlocutor (narratário), com recurso à 2.ª pessoa do


plural e à apóstrofe.
. Utilização do verbo ouvir, sugerindo a interação oral.
Coloquialismo . Reprodução de cantigas populares.
. Uso de palavras ou expressões de sabor popular e /ou arcaizante.
. Articulação entre planos gerais (a cidade e os atores coletivos que nela
Visualismo intervêm) e planos de pormenor (grupos de personagens e situações
e particulares).
dinamismo . Recriação dos acontecimentos de forma dinâmica.
. Uso de vocábulos a marcar o sensorialismo da linguagem (atos de ver
e ouvir).
. Emprego de recursos expressivos que conferem visualismo ao relato:
comparação, personificação, enumeração, hipérbole.

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CRÓNICA de D. João I EM EXAME

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GRUPO I

Leia o seguinte excerto, transcrito do Capítulo 11 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. Em caso de
necessidade, consulte o glossário apresentado, por ordem alfabética, nas Notas.

1 Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Mestre, e como aló foi Alvoro Paez e
muitas gentes com ele.

O Page do Mestre que estava aa porta, como lhe disserom que fosse pela vila segundo já era
percebido, começou d'ir rijamente a galope em cima do cavalo em que estava, dizendo altas
5 vozes, bradando pela rua: – Matom o Mestre! matom o Mestre nos Paços da Rainha! Acorree
ao Mestre que matam! E assi chegou a casa d’ Alvoro Paez que era dali grande espaço. As
gentes que esto ouviam, saíam aa rua veer que cousa era; e começando de falar u~ us com os
outros, alvoraçavom-se nas vontades, e começavom de tomar armas cada u~u como melhor e
mais asinha podia. Alvoro Paez que estava prestes e armado com ~ua coifa na cabeça segundo
10 usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima du~u cavalo que anos havia que nom
cavalgara; e todos seus aliados com ele, bradando a quaesquer que achava dizendo: –
Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre, ca filho é deI-Rei dom Pedro. E assi
bradavom el e o Page indo pela rua. Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos
bradar que matavom o Mestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara
15 em logo de marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u deziam que
se esto fazia, por lhe darem vida e escusar morte. Alvoro Paez nom quedava d'ir pera alá,
bradando a todos: – Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre que matam sem por
quê! A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom
cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom logares escusos, desejando cada u~u de seer o
20 primeiro; e preguntando u~us aos outros quem matava o Mestre, nom minguava quem
responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha.
Crónica de D. João I de Fernão Lopes (ed. Teresa Amado), Lisboa, Comunicação, 1992 (Texto com algumas alterações, feitas de
acordo com a grafia actual.)
NOTAS
aló (l. 1) – então.
alvoraçavom-se nas vontades (l. 10) – excitavam-se os ânimos.
arroido (l. 17) – ruído.
asinha (l. 11) – depressa.
coifa (l. 11) – parte da armadura que cobria a cabeça.
com mão armada (l. 19) – com armas na mão.
em logo de (l. 18) – em lugar de.
era dali grande espaço (l. 8) – era longe dali. escusar (l. 20): evitar.
escusos (l. 23) – escondidos ou pouco frequentados.
minguava (l. 24) – faltava.
nom quedava d'ir pera alá (l. 20): não parava de ir para lá; continuava a dirigir-se para lá.
percebido (l. 4) – combinado.
prestes (l. 11) – pronto; preparado.
rijamente (l. 4) – energicamente; depressa.

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1. As ações do Pajem e de Álvaro Pais obedecem a um plano previamente traçado. Justifique esta
afirmação, com base na informação contida no texto.

2. Descreva três das reações das «gentes» aos apelos lançados pelo Pajem e por Álvaro Pais.

3. Explique a relação de sentido que se estabelece entre o texto e a frase que lhe serve de título.

4. Refira uma característica da escrita de Fernão Lopes patente no texto, fundamentando a resposta com
citações relevantes.

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Num texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras, descreva as suas impressões de leitura de
excertos de uma crónica de Fernão Lopes – Crónica de D. Pedro ou Crónica de D. João I –, destacando o
episódio que considere mais impressivo.

Comece por identificar, na sua folha de respostas, o título da crónica a que se refere o seu texto.

Observações

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2010/).
2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.

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