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UNIDADE QUEIMADOS

Disciplina: Fundamentos Antropológicos e Sociológicos – 1o sem/2020

Professor: Vinicius Esperança

(profviniciusesperanca@gmail.com)/ http://lattes.cnpq.br/9125318797402381

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FB: https://www.facebook.com/viniciusesperancalopes

CONTEXTUALIZAÇÃO:

A disciplina Fundamentos Antropológicos e Sociológicos tem como objetivo apresentar


ao aluno os conceitos iniciais sobre campo de estudo dos fenômenos sociais, permitindo
a compreensão da realidade social numa perspectiva científica e favorecendo a construção
de conhecimentos nas demais ciências humanas e sociais aplicadas. O conteúdo da
disciplina é muito interessante e atual porque utiliza o discurso socioantropológico como
ferramenta para análise dos processos que dão origem à criação, à manutenção, à crise, à
reprodução e à inovação nos diversos fenômenos sociais e suas múltiplas relações. A
disciplina contribui para o desenvolvimento de um olhar crítico-analítico, científico,
humanista e voltado para o exercício pleno da cidadania, e possibilita desenvolver, no
aluno, habilidades que o capacitarão para a elaboração do discurso próprio do campo
sociológico, além de ser determinante para a compreensão dialógica de todas as demais
disciplinas do curso.

EMENTA:

A questão do conhecimento. A oposição senso comum x ciência. A sociedade como


objeto de estudo. O enfoque específico das ciências sociais. A importância do estudo
sócio-antropológico para a compreensão da realidade social. O conceito antropológico de
cultura e seus desdobramentos. O trabalho de campo como método antropológico.
Etnocentrismo e relativismo cultural. Diversidade cultural e multiculturalismo. O
contexto histórico da formação da Sociologia. O Iluminismo e as revoluções burguesas.
As teorias sociológicas clássicas. O positivismo de Auguste Comte. A sociologia
científica de Émile Durkheim. A sociologia crítica de Karl Marx. A sociologia
compreensiva de Max Weber.

OBJETIVOS GERAIS:

1. Compreender os elementos básicos da Antropologia e da Sociologia que permitam a


análise da realidade social, refletindo sobre as questões contemporâneas da sociedade
brasileira e mundial;

2. Analisar os vários processos sociais que propiciam a criação, manutenção, reprodução,


crise, revolução e/ou inovação dos diversos fenômenos sociais e relacionar, criticamente,
as diferentes concepções de sociedade e visões de mundo, a partir do conhecimento da
dinâmica das relações existentes entre as diversas formas de organização social e sua
importância para a formação profissional.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Distinguir o conhecimento científico do senso comum, ressaltando a importância do


pensamento científico para a elaboração de uma visão crítico-reflexiva da sociedade e
analisar a formação social brasileira, marcada pela diversidade cultural, enfatizando a
tendência multicultural da sociedade contemporânea. Entender o contexto histórico do
surgimento da Sociologia e suas primeiras correntes de pensamento e compreender os
modelos clássicos de análise sociológica: Comte, Durkheim, Marx e Weber.

Definir Antropologia e Sociologia, demonstrando a contribuição de cada uma delas para


a compreensão da vida em sociedade. Entender o enfoque específico utilizado por essas
ciências na análise da sociedade.

Compreender a oposição fundamental entre natureza e cultura, paradigma clássico da


Antropologia e Identificar o método antropológico e os conceitos de etnocentrismo e
relativismo cultural.
AVALIAÇÃO:

A nota da AV1 será composta da seguinte forma:

Seminário temático (ST): até 9,0 pontos, sendo 5,0 do trabalho escrito e 4,0 da
apresentação oral.

Resolução de exercícios (Re).

Av1: ST +Re

A Av2 e a Av3 consistirão, somente, em provas teóricas, abrangendo todo o conteúdo.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO E BIBLIOGRAFIA (Sujeito a mudanças ao


longo do curso):

1ª. Aula (20.2): Apresentação. Aula inaugural. A questão do conhecimento: senso


comum e pensamento científico. A investigação cientifica da sociedade: as assim
chamadas ciências sociais. Problemas sociais e sociológicos.

DAMATTA, Roberto. Primeira parte: Ciências naturais e ciências sociais. Uma diferença
crucial. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro, Rocco,
2000, pp. 17-27.

2ª. Aula (27.2) e 3ª. Aula (05.3): A análise antropológica da cultura. O método
etnográfico, o etnocentrismo e o relativismo cultural.

DAMATTA, Roberto. Você tem cultura?. Disponível em:


http://naui.ufsc.br/files/2010/09/DAMATTA_voce_tem_cultura.pdf

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. – 14ª. Ed. – Rio de


Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001.

4ª. Aula (12.3): Iluminismo, Revolução Francesa e Revolução Industrial.


Neocolonialismo e darwinismo social.
SELL, Carlos Eduardo. Origens da Sociologia. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e
Weber. Petrópolis, RJ, Vozes, 2014, pp. 15-36.

5ª. Aula (19.3): O positivismo de Auguste Comte. A lei dos três estados e a
classificação das ciências. A influência do positivismo no Brasil.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. O positivismo sociológico e utilitarista: I. O
positivismo: linhas gerais; Augusto Comte e o positivismo sociológico. História da
filosofia, 5: do romantismo ao empiriocriticismo. São Paulo, Paulus, 2005, pp. 287-297.

6ª. Aula (26.3) e 7ª. Aula (02.4): A sociologia científica de Émile Durkheim.
SELL, Carlos Eduardo. Émile Durkheim. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber.
Petrópolis, RJ, Vozes, 2014, pp. 77-106.
8ª. Aula (09.4) e 9ª. Aula (16.4): A sociologia crítica de Karl Marx.
SELL, Carlos Eduardo. Karl Marx. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber.
Petrópolis, RJ, Vozes, 2014, pp. 37-76.

10ª Aula (30.4) e 11ª. Aula (07.5): Apresentação de seminários


12ª. Aula (14.5) e 13ª. Aula (21.5): A sociologia compreensiva de Max Weber.
SELL, Carlos Eduardo. Max Weber. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber.
Petrópolis, RJ, Vozes, 2014, pp. 107-154.

14ª. Aula (28.5): Revisão de conteúdos


15ª. Aula (04.6): Av2
16ª. Aula (18.6): Av3
17ª. Aula (25.6): Vista de prova.
AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA

Texto-base: SELL, Carlos Eduardo. Origens


da Sociologia. Sociologia clássica: Marx,
Durkheim e Weber. Petrópolis, RJ, Vozes,
2014, pp. 15-36. (Disponível em PDF)
1. Gênese: fatores sociais e
epistemológicos
Gênese: fatores sociais e
epistemológicos
 1.1 Fatores histórico-sociais
 Revolução Industrial
 Novas classes sociais
 Urbanização
 Aceleração da percepção do tempo
 Família nuclear
 proletarização
 Revolução Francesa
 Revolução Científica
Gênese: fatores sociais e
epistemológicos
ASPECTOS IDADE MÉDIA IDADE IDADE
MODERNA CONTEMPORÂNE
A
Cultural Teocentrismo Renascimento Antropocentrismo
Reforma
Protestante
Iluminismo
Político Regimes Revolução Regimes
monárquicos Francesa democráticos
Econômico Economia Revolução Economia
agrária Industrial Industrial
Gênese: fatores sociais e
epistemológicos
 1.2 Fatores epistemológicos
 Método científico
 Ciência moderna: método experimental
 Aplicação dos princípios científicos à vida social
 Da filosofia à sociologia
2. Definição: a sociologia como
teoria da modernidade
Definição: a sociologia como teoria
da modernidade
 Seu objetivo é compreender a vida social de
forma global, buscando explicar a sociedade
como um todo, em suas estruturas, processos e
interações.
 Uma teoria da sociedade e das relações sociais.
 Estudo da organização social moderna
 A sociologia é uma teoria da modernidade
Émile Durkheim (1858-1917)
Émile Durkheim (1858-1917)
Émile Durkheim (1858-1917)
A pretensão de conferir à
sociologia uma reputação
científica.
 Vida e obras
 Introdução desta ciência no
ensino universitário
 Fundador da “Escola Sociológica
Francesa”
Émile Durkheim (1858-1917)

TEORIA SOCIOLÓGICA
Émile Durkheim (1858-1917)
 A explicação da vida social tem seu
fundamento na sociedade, e não no
indivíduo.
 A independência das estruturas
sociais
 Os homens passam, mas a
sociedade fica.
 A sociedade que age sobre os
indivíduos, modelando suas formas
de agir, influenciando suas
Émile Durkheim (1858-1917)
Émile Durkheim (1858-1917)
 As regras do método sociológico
(1895)
 Definição de fato social:
 “É um fato social toda a maneira de
agir, fixa ou não, capaz de exercer
sobre o indivíduo uma coerção
exterior, ou, ainda, que é geral no
conjunto de uma dada sociedade
tendo, ao mesmo tempo, uma
existência própria, independente das
suas manifestações individuais”
(Durkheim, 1978, p. 93)
Émile Durkheim (1858-1917)
 Os fatos sociais possuem duas
características essenciais:
 Exteriores
 “estamos pois em presença de modos de
agir, de pensar e de sentir que
apresentam a notável propriedade de
existir fora das consciências individuais”
(1978, p. 88)
 Coercitivos
 “são dotados de um poder imperativo e
coercivo em virtude do qual se lhe impõe,
quer ele queira ou não.” (1978, p. 88)
Émile Durkheim (1858-1917)
 O fato social como coisa
 “a primeira regra e a mais fundamental é a
de considerar os fatos sociais como coisas”
 Adotar os mesmos métodos e procedimentos
de pesquisa das ciências naturais
 Radical separação entre o senso comum e a
investigação sociológica
 Busca por uma absoluta objetividade
Émile Durkheim (1858-1917)
 Classificação dos fatos sociais: normal x
patológico
 Ex.: crime.
 Explicação: a função social
 “a origem primária de qualquer processo social de uma
certa importância deve ser procurada na constituição do
meio social interno”
 Identificar a que tipo de necessidade corresponde
qualquer fenômeno ou fato social e de que forma ele
contribui para produzir a harmonia social.
Émile Durkheim (1858-1917)
Émile Durkheim (1858-1917)
 A solidariedade mecânica
 A “consciência coletiva” como fundamento da vida
social;
 “um conjunto de crenças e sentimentos comuns à média
dos membros de uma mesma sociedade, que forma um
sistema determinado que possui vida própria” (1995, p.
50)
 Sociedades menos complexas
 Total predomínio do grupo sobre o indivíduo
 Mínima diversidade de funções na divisão do trabalho
 Direito repressivo
 Repetição de segmentos similares e homogêneos, onde
os grupos sociais vivem relativamente isolados, com um
Émile Durkheim (1858-1917)
 A solidariedade orgânica
 Novo processo de integração dos indivíduos na
sociedade
 Mudança social
 Teoria da Modernidade
 Divisão do trabalho: enorme diversidade de tarefas e a
consciência coletiva se enfraquece, aumentando o
espaço de autonomia individual.
 Transfere o eixo da consciência coletiva para o indivíduo
 A individualidade passa a ser considerada um valor, pois
é da autonomia de casa pessoa que depende a coesão
social.
Émile Durkheim (1858-1917)
 Patologias sociais:
 Divisão de trabalho anômica
 Anomia
 Crises industriais e econômicas
 Divisão de trabalho forçada
 Luta de classes
 Indivíduos obrigados a aceitar certas funções independente de
suas escolhas
 Divisão do trabalho burocrática
 Falta quantititativo de trabalho
Émile Durkheim (1858-1917)
Émile Durkheim (1858-1917)
 O suicídio e suas causas sociais
 Suicídio egoísta
 Não integração dos indivíduos às instituições, grupos ou redes
sociais que permeiam a vida social
 Excesso de individualismo
 Momentos de desagregação social, refletidos em sentimentos
como a depressão e a melancolia
 Suicídio altruísta
 O indivíduo identifica-se tanto com a coletividade que é capaz
de tirar sua vida por ela
 Mártires, kamikazes, honra, etc.
Émile Durkheim (1858-1917)
 O suicídio e suas causas sociais
 Suicídio anômico
 Estado de desregramento social na qual as normas estão
ausentes ou perderam o sentido.
 Típico da modernidade, como por exemplo, nas crises
econômicas.
 Suicídio fatalista
 Excesso de regulamentação moral sobre o indivíduo, de forma
que suas aspirações e desejos ficam anulados por uma
disciplina excessivamente opressiva.
Émile Durkheim (1858-1917)
Émile Durkheim (1858-1917)
Objeto da Pesquisa
Sociologia religiosa e a teoria do
conhecimento
Émile Durkheim (1858-1917)
 Proposta da pesquisa: “estudar a religião mais
primitiva e mais simples que se conheça
atualmente, analisá-la e tentar explicá-la” (1989,
p. 29)
 “Se a tomamos como objeto de pesquisa, é
porque nos pareceu mais apta que qualquer
outra para fazer compreender a natureza
religiosa do homem, ou seja, a nos revelar um
aspecto essencial e permanente da humanidade”
(1989, p. 29)
Émile Durkheim (1858-1917)
 Nestas religiões primitivas tudo está reduzido ao
indispensável, àquilo sem o qual não poderia haver
religião. Mas o indispensável é também o essencial,
ou seja, aquilo que importa conhecermos antes de
tudo.
 Os primeiros sistemas de representação que o
homem produziu do mundo e de si mesmo são de
origem religiosa.
 A conclusão da obra é que a religião é coisa
eminentemente social. As representações religiosas
são representações coletivas que exprimem
realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir
que surgem unicamente no seio dos grupos reunidos
Émile Durkheim (1858-1917)
 A noção do tempo. As divisões em dias, semanas,
meses, anos etc., correspondem à periodicidade dos
ritos, das festas, das cerimônias públicas.
 A noção de espaço. Como todos os homens de
uma mesma civilização possuem uma mesma
representação do espaço, é necessário que esses
valores afetivos e as distinções que eles dependem
seja igualmente comuns, o que implica, quase
necessariamente, que são de origem social. A
organização social serviu de modelo para a
organização espacial.
 As categorias são representações essencialmente
coletivas, elas traduzem antes de tudo estados da
coletividade; dependem da maneira pela qual essa é
Émile Durkheim (1858-1917)
 As representações coletivas são o produto de uma
imensa cooperação que se estende não apenas no
espaço, mas no tempo; para produzi-las, uma
multidão de espíritos diversos associaram,
misturaram, combinaram suas ideias e seus
sentimentos; longas séries de gerações acumularam
aí a sua experiência e o seu saber.
Émile Durkheim (1858-1917)
DEFINIÇÃO DO FENÔMENO
RELIGIOSO E DA RELIGIÃO
Émile Durkheim (1858-1917)
 Religião e a noção de sobrenatural
 Aparece tardiamente na história das religiões.
 Totalmente estranha aos povos que chamamos de
primitivos, mas também a todos aqueles que não
atingiram certo grau de cultura intelectual.
 Não há nada de irracional o especialmente misterioso,
aos olhos primitivos, em seus ritos, tais como o da
fertilidade do solo e dos animais.
 Ideia de sobrenatural é recente e pressupõe o
sentimento de que existe uma ordem natural das
coisas.
Émile Durkheim (1858-1917)
 Religião e a noção de sobrenatural
 O milagre.
 As concepções religiosas têm por objeto exprimir e
explicar, não o que existe de excepcional e de anormal
nas coisas, mas, ao contrário, o que elas têm de
constante e de regular.
 Desde as religiões mais simples que conhecemos, elas
tiveram como tarefa essencial manter, de maneira
positiva, o curso normal da vida.
Émile Durkheim (1858-1917)
 Religião e a ideia de divindade
 Existem grandes religiões nas quais a ideia de deuses
e de espíritos está ausente ou desempenha papel
secundário e obscuro. Ex.: Budismo.
 Inicialmente o que há é um grande número de
proibições e ritos.
 A religião ultrapassa a ideia de deuses ou de espíritos
Émile Durkheim (1858-1917)
 As duas categorias fundamentais dos fenômenos
religiosos: as crenças e os ritos. As primeiras são
estados de opinião, consistem em representações;
os segundos são modos de ação determinados.
 O sagrado e o profano. A divisão do mundo em dois
domínios é o traço distintivo do pensamento
religioso.
 As coisas sagradas são aquelas que os interditos
protegem e isolam; as coisas profanas, aquelas às
quais esses interditos se aplicam e que devem
permanecer à distância das primeiras. As crenças
religiosas são representações que exprimem a
natureza das coisas sagradas e as relações que
Émile Durkheim (1858-1917)
 Os ritos são regras de comportamento que
prescrevem como o homem deve se comportar com
as coisas sagradas.
 “Chegamos pois à seguinte definição: uma religião é
um sistema solidário de crenças seguintes e de
práticas relativas a coisas sagradas, ou seja,
separadas, proibidas; crenças e práticas que unem
na mesma comunidade moral, chamada igreja, todos
os que a ela aderem.
 A religião é coisa eminentemente coletiva.
Émile Durkheim (1858-1917)
 Análise do totemismo australiano
 A religião é a sociedade transfigurada
 “(...) de uma maneira geral, não há dúvida de que
uma sociedade tem tudo o que é preciso para
despertar nos espíritos, pela simples ação que
exerce sobre eles, a sensação do divino; pois ela é
para seus membros o que um deus é para os seus
fiéis” (2003, p. 211)
 A religião forneceu ao homem um critério a partir do
qual poderia classificar e ordenar as coisas do
mundo.
Émile Durkheim (1858-1917)
 Foi tomando a sociedade, suas relações hierárquicas
e suas crenças como modelos, que o homem foi
construindo suas primeiras explicações do mundo,
aplicando as categorias do mundo religioso/social ao
mundo natural.
SOCIOLOGIA
ALEMÃ:
KARL MARX
Karl Marx (1818-1883)
Karl Marx
-Ampla teoria social cujo escopo fundamental foi
compreender a modernidade em sua dimensão
econômica.
-Um dos “fundadores” do pensamento sociológico.
-A dificuldade em se distinguir o pensamento
marxista (de Marx) do marxismo (teorias que partem
de Marx)
-Defensores e críticos são unânimes em reconhecer
que Marx constitui um autor de fundamental
importância no debate intelectual e sociopolítico da
modernidade.
Karl Marx

1. VIDA E OBRAS
Karl Marx
-Nasce em Trier, em 5 de maio de 1818.
-1835: vai estudar direito em Bonn, mas no ano
seguinte transfere-se para Berlim, onde parte para
o estudo da filosofia e aproxima-se do
pensamento de Hegel.
-1841: obtém a tese de doutorado.
-1842: torna-se editor do jornal Gazeta Renana,
da cidade de Colônia. Casa-se com Jenny von
Westphalen. O jornal é fechado.
Karl Marx
-1843: Mora em Paris, onde permanece por dois
anos. Toma contato com grupos socialistas franceses
e começa sua amizade com Friedrich Engels.
-1845: expulso de Paris, muda-se para Bruxelas, onde
começa o envolvimento com atividades políticas do
movimento dos trabalhadores. Participa da fundação
da Liga dos Comunistas. Publica Teses sobre
Feuerbach.
-1846: publica A ideologia alemã.
-1847: publica A miséria da filosofia.
-1848: redige o Manifesto do Partido Comunista
Karl Marx
-1849: participa da (frustrada) tentativa de revolução
alemã. Funda na cidade de Colônia o jornal Nova Gazeta
Renana. Parte para o exílio.
-1850: parte para Londres, onde interrompe
temporariamente as atividades políticas, dedicando-se aos
estudos.
-1852: publica O 18 Brumário de Luis Bonaparte.
-1864: reinicia suas atividades políticas com a fundação da I
Internacional (1864-1872).
-1867: Publica a primeira parte de O Capital.
-1883: morre em Londres.
Karl Marx
JOVEM MARX--Ideologia Alemã--MARX MADURO
Marx filósofo (1846) Marx economista
Karl Marx
-Marx dialogou e absorveu algumas fontes básicas de
pensamento.
◦ 1. Filosofia alemã: método dialético
◦ Hegel (1770-1831)
◦ Esquerda hegeliana
◦ Davis Strauss (1808-1874), Bruno Bauer (1809-1872) e Ludwig
Feuerbach (1804-1872)
◦ 2. Socialismo utópico: a proposta do socialismo científico
◦ Charles Fourier (1772-1837), Saint Simon (1760-1825) e Pierre
Joseph Proudhon (1809-1865)
◦ 3. Economia política: o trabalho como elemento-chave para
compreensão da economia.
◦ Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo(1772-1823)
Karl Marx

2. TEORIA SOCIOLÓGICA
Karl Marx
-A teoria filosófica de Marx –posteriormente
chamado de materialismo dialético- foi adotada
por diversos pensadores como um novo conjunto
de pressupostos filosóficos para a sociologia.
-Sua teoria da análise da sociedade –chamada de
materialismo histórico- foi empregada por certas
correntes como um método de estudo para a
realidade social.
Karl Marx

2. TEORIA SOCIOLÓGICA
◦2.1 Materialismo dialético
Karl Marx
-A crítica radical a toda filosofia hegeliana
◦Hegel
◦ Adoção do método dialético
◦ A realidade como “devir”, ou seja, como uma
constante transformação (Heráclito).
◦ Todo ser é intrinsecamente contraditório. Sua
existência já contém em si sua própria negação: o
princípio da contradição.
◦ Toda realidade é modificação, transformação ou
movimento que são gerados pela contradição.
Karl Marx
-A crítica radical a toda filosofia hegeliana
◦ Hegel
◦ Idealismo absoluto (Schelling e Fichte): em seu
fundamento tudo era essencialmente pensamento, ou
seja, ideia.
◦ Hegel recusa a separação da realidade em espírito e
matéria (Platão). Ele concebia a realidade como unidade
destes opostos, afirmando que o conjunto da realidade é
Espírito, a síntese que supera a oposição entre ideia e
matéria.
◦ Tese (ideia) x antítese (matéria) – síntese (Espírito)
Karl Marx
IDEALISMO DIALÉTICO

TESE Ideia em si Lógica


ANTÍTESE Ideia fora de si Filosofia da
natureza
SÍNTESE Ideia em si e para si Filosofia do espírito
Karl Marx
-A crítica radical a toda filosofia hegeliana
◦Hegel
◦ A história é a “tomada de consciência” que a Ideia ou
o Espírito Absoluto realiza de si mesma.
◦ A fenomenologia do Espírito (1807)
◦ O Estado moderno é a síntese e a superação das suas
formas iniciais na Antiguidade e na idade média
◦ A luta por reconhecimento entre senhor e escavo. O
Estado como elemento conciliador.
Karl Marx
-A crítica radical a toda filosofia hegeliana
◦Hegel: idealismo e justificativa do Estado
prussiano;
◦ Crítica da filosofia do direito de Hegel (1844)
◦ “as instituições jurídicas e políticas e as diversas
formas de Estado não podem se explicar por si
mesmas e em virtude de um chamado
desenvolvimento do espírito humano mas são
resultado das condições materiais de vida”
Karl Marx
-Marx é crítico:
◦ Da esquerda hegeliana, que combate contra as “ideias”
e não contra o mundo real do qual as “ideias” são
reflexo.
◦ A ideologia alemã
◦ “não é a consciência que determina a vida, mas a vida
que determina a consciência”
Karl Marx
-A ideologia alemã
◦ O primeiro pressuposto básico da história é que os homens
devem estar em condições de viver para fazer história. A
primeira realidade histórica é a produção da vida material.
◦ O segundo pressuposto é que tão logo a primeira
necessidade é satisfeita, a ação de satisfazê-la e o
instrumento já adquirido para essa satisfação criam novas
necessidades. E essa produção de necessidade novas é o
primeiro ato histórico.
Karl Marx
-A ideologia alemã
◦ O terceiro pressuposto existente desde o início da evolução
histórica é o de que os homens, que renovam diariamente
sua própria vida, se põem a criar outros, a se reproduzirem-
é a relação entre homem e mulher, pais e filhos- é a família.
◦ Segue-se um quarto pressuposto, de que um modo de
produção ou um estágio industrial está sempre ligado a um
modo de cooperação. A massa das forças produtivas
determina o estado social.
Karl Marx
-A consciência é, desde o seu início, um produto
social.
-Bases para uma nova interpretação da história.
◦ “totalmente ao contrário do que ocorre na filosofia alemã, que
desce do céu a terra, aqui se ascende da terra ao céu”
-Inversão total do sistema hegeliano.
-O ponto de partida do real não é mais o pensamento mas a vida
material (materialismo dialético)
Karl Marx
MATERIALISMO DIALÉTICO

TESE Matéria/Natureza
ANTÍTESE Trabalho/Homem
SÍNTESE História/Sociedade
Karl Marx
-Marx é crítico:
◦ Dos economistas clássicos (Smith, Ricardo) porque
apostam em leis eternas e imutáveis da natureza
◦ Do socialismo utópico (Babeuf, Saint-Simon, Fourier e
Owen), que viu o antagonismo de classes, mas foram
incapazes de propor soluções. A estes, Marx e Engels
propõem o socialismo científico.
◦ De Proudhon, a quem Marx chama de moralista e
critica sua concepção de dividir a propriedade privada
entre os trabalhadores. Esta não deve, segundo Marx,
ser dividida mas suprimida pela revolução.
Karl Marx
-LUDWIG FEUERBACH (1804-1872)
-A essência do Cristianismo:
◦ A religião como forma de alienação do homem.
◦ Substituição do idealismo de Hegel por uma postura materialista.
◦ O segredo da teologia está na antropologia.
◦ Deus é a imagem e semelhança do homem. A religião é uma
projeção dos desejos do homem. A ideia de que um Deus é perfeito
e absoluto emerge porque representa a realização de todas as
capacidades e potências do ser humano. Deus nada mais é que o
homem perfeito, a consciência idealizada que o homem tem de si
mesmo.
◦ A religião e a ideia de Deus representam a separação do homem de
sua essência. O homem está separado de seu próprio ser. Este
fenômeno é chamado por Feuerbach de “alienação”.
Karl Marx
-LUDWIG FEUERBACH (1804-1872)
-Marx considera que Feuerbach está certo quanto à alienação,
mas não consegue identificar suas causas e nem apontar sua
solução.
-O conceito de alienação é apropriado fortemente por Marx,
especialmente nos Manuscritos econômicos e filosóficos.
-A alienação significa que os bens sociais que resultaram do
processo de trabalho tornam-se autônomos e independentes do
homem, apresentando-se como realidades “estranhas” e
opostas a ele, como um ser alheio que o domina.
Karl Marx
-Diferentes dimensões da alienação:
◦ Alienação do produto de seu próprio trabalho: aquilo que o
trabalhador produz no capitalismo não pertence a ele.
Pertence ao proprietário capitalista, ao dono dos meios de
produção. Aqui o homem se aliena, ou seja, perde o controle
daquilo que ele mesmo produz.
◦ Alienação do processo de produção: na economia capitalista,
o trabalhador não controla a atividade de produzir. Esta
capacidade é vendida por ele ao proprietário. No processo de
produção o trabalhador também se aliena de sua atividade.
Ela não lhe pertence e é controlada por outra pessoa.
Karl Marx
-Diferentes dimensões da alienação:
◦ Alienação de sua própria natureza humana: a principal
consequência da propriedade privada e do capitalismo é que o
homem está alienado de si mesmo, ou seja, de sua natureza como
ser humano. Isto acontece porque o trabalho – que é o elemento
que o diferencia das outras espécies- não está mais a serviço da
humanização. O trabalho não estão mais a serviço do homem, mas
sim submetido à logica do capital.
◦ Alienação do homem de sua própria espécie: a alienação atinge a
relação dos homens entre si, pois, na forma capitalista, as relações
passam a ser mediadas e controladas pelo capital, seja pela relação
empregador e empregado, seja pela mercantilização das demais
relações sociais. O homem está alienado de seus semelhantes.
Karl Marx
-Teses sobre Feuerbach
◦ “A miséria religiosa é em um sentido a expressão da
miséria real, e em outro sentido o protesto contra a
miséria real. A religião é o suspiro da criatura
oprimida, o sentimento de um mundo sem coração,
o espírito de situações em que o espírito está
ausente. Ela é o ópio do povo. A verdadeira
felicidade do povo exige a eliminação da religião
enquanto felicidade ilusória”
Karl Marx
-Teses sobre Feuerbach
◦ “Os filósofos interpretaram o mundo de modo
diverso; agora trata-se de mudá-lo”
◦ “A crítica do céu se transforma [...] em crítica da
terra, a crítica da religião em crítica do direito, a
crítica da teologia em crítica da política”
Karl Marx
-O conceito de alienação
◦ Homem expropriado do próprio valor de homem por
causa da expropriação do trabalho
◦ “consiste antes de tudo no fato de que o trabalho é
externo ao operário, ou seja, não pertence a seu ser e,
portanto, em seu trabalho ele não se afirma, mas se
nega, sente-se não satisfeito mas infeliz, não
desenvolve livre energia física e espiritual, mas
desgasta seu corpo e destrói seu espírito”
Karl Marx
-O conceito de alienação
◦ “quanto mais o operário produz, menos tem para
consumir; quanto maior valor produz, tanto menos
valor e dignidade possui; quanto mais belo é o seu
produto, tanto mais disforme torna-se o operário;
quanto mais refinado é o seu objeto, tanto mais
bárbaro, ele se torna; quanto mais forte é o trabalho,
mais fraco ele fica; quanto mais espiritual é seu
trabalho, mais ele se torna material e escravo da
natureza”
Karl Marx

2. TEORIA SOCIOLÓGICA
◦2.2 Materialismo histórico
Karl Marx
-Em Marx, a história não é fruto do Espírito Absoluto,
como em Hegel, mas é fruto do trabalho humano. São os
homens, interagindo para satisfazer suas necessidades,
que desencadeiam o processo histórico.
◦ “O modo de produção da vida material condiciona o
desenvolvimento da vida social, política e intelectual em
geral”
◦ O estudo da sociedade tem seu fundamento ne economia.
Karl Marx
-Em Marx, a história não é fruto do Espírito Absoluto, como
em Hegel, mas é fruto do trabalho humano. São os homens,
interagindo para satisfazer suas necessidades, que
desencadeiam o processo histórico.
◦ “O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu
de guia para meus estudos, pode formular-se, resumidamente
assim: na produção social da própria existência, os homens
entraram em relações determinadas, necessárias,
independentes de sua vontade: estas relações de produção
correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de
suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de
produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base
real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política
e à qual correspondem formas sociais determinadas de
consciência.” (Contribuição à crítica da economia política, 1859)
Karl Marx
Superestrutura política Superestrutura ideológica
(Superestrutura jurídica e (Formas sociais
política) determinadas de
consciência)
Infraestrutura = forças produtivas + relações de produção
(Estrutura econômica da sociedade)
Karl Marx
-2.2.1 Infraestrutura
◦ Elemento fundamental da economia é o trabalho.
◦ Através do trabalho o homem supera sua condição de ser
apenas natural e cria uma nova realidade: a vida social.
◦ O conjunto formado pela matéria-prima, pelos meios de
produção e pelos próprios trabalhadores de uma
sociedade é chamada por Marx de forças produtivas, que
são tudo aquilo utilizado pelo homem no processo de
produção.
◦ A produção é também um fenômeno social, coletivo,
portanto, a relação do homem com o próprio homem.
Por isso, no processo de trabalho, o homem cria também
relações de produção. Corresponde, de forma geral, à
divisão do trabalho.
Karl Marx
-2.2.1 Infraestrutura
◦ Para se entender a vida de uma sociedade é preciso
acompanhar a evolução de suas forças produtivas, pois
são elas que determinam o tipo de relações existentes.
◦ “Em carta fase de seu desenvolvimento histórico, as
forças produtivas da sociedade entram em contradição
com as relações de produção existentes [...]. Abre-se,
então, uma era de revolução social. A transformação que
se produziu na base econômica transforma mais ou
menos lentamente toda a colossal superestrutura”
Karl Marx
-2.2.2 Superestrutura
◦ Partindo da análise das relações de produção, Marx
constatou que a sociedade se dividia em classes sociais.
◦ Elas surgem quando um grupo se apropria das forças ou
meios de produção e se torna proprietário dos
instrumentos de trabalho.
◦ A divisão fundamental das classes sociais é: os
proprietários dos meios de produção e os não
proprietários dos meios de produção.
◦ É o fenômeno da propriedade privada que dá origem as
classes sociais.
Karl Marx
-2.2.2 Superestrutura
◦ Para consolidar o seu domínio sobre os não proprietários, as
classes dominantes precisam fazer uso da força. Esta é a
origem do Estado.
◦ O Estado é um instrumento criado pelas classes dominantes
para garantir seu domínio econômico sobre as outras classes.
As leis e as determinações do Estado estão sempre voltadas
para o interesse da classe dos proprietários.
◦ Um segundo instrumento das classes proprietárias para
garantir seu domínio econômico estaria ligado à força das
ideias, ou seja, a ideologia.
◦ Para Marx, as ideias da sociedade são as ideias da classe
dominante. Quando uma classe se torna dominante, ela
também consegue difundir a sua “visão de mundo” e seus
valores.
Karl Marx
-2.2.2 Superestrutura
◦ A ideologia pode ser definida como um conjunto de
representações da realidade que servem para legitimar e
consolidar o poder das classes dominantes.
◦ “As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias
dominantes; isto é, a classe que é a força material dominante
da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual
dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de
produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de
produção espiritual, o que faz com que a ela sejam
submetidas, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles
aos quais faltam os meios de produção espiritual. As ideias
dominantes nada mais são que a expressão ideal das relações
materiais dominantes, as relações materiais dominantes
concebidas como ideias; portanto, a expressão das relações
que tornam uma classe a classe dominante; portanto, as ideias
de sua dominação“. (Marx, A Ideologia Alemã)
Karl Marx
-2.2.3 A história segundo Marx
◦ As sociedades se transformam quando os homens
alteram o modo de produzir (“materialismo
histórico”)
◦ Elaborou um esquema de evolução da sociedade
ocidental no qual as modificações das forças
produtivas alteravam as relações de produção
(classes sociais) e também produziam novas classes
dominantes (Estado) e novas formas de
compreender a realidade (ideologias).
Karl Marx
Marx: esquema de evolução histórico-social

Estudos marxistas A ideologia alemã Prefácio de Contribuição à


crítica da economia política
Modo de produção Propriedade tribal
primitivo
Modo de produção Propriedade comunal e Modo de produção antigo
escravista estatal
Modo de produção asiático Modo de produção asiático
Modo de produção feudal Propriedade feudal Modo de produção feudal
Modo de produção Propriedade capitalista Modo de produção burguês
capitalista modernos
Karl Marx
O “comunismo primitivo”: modo de produção primitivo

Ideologia Religião primitiva


Estado Organização tribal
Relações de produção Propriedade coletiva
Não há classes sociais
Forças produtivas Cultivo comum da terra
Karl Marx
Das entranhas do comunismo primitivo desenvolve-se
o modo de produção antigo ou escravista

Ideologia Religião do Estado


Estado Impérios centralizados (Ex.:
Roma/Grécia)
Relações de produção Senhores x escravos
Forças produtivas Cultivo da terra com base na
escravidão
Karl Marx
O modo de produção asiático é a forma de organização
social predominante no mundo oriental

Ideologia Religião de Estado


Estado Impérios centralizados (Ex.:
China)
Relações de produção Estado x escravos
Forças produtivas Propriedade estatal e
escravidão
Karl Marx
A partir do modo de produção antigo ou escravista
desenvolve-se o feudalismo

Ideologia Catolicismo
Estado Poder descentralizado
(Feudos)
Relações de produção Senhores x servos
Forças produtivas Cultivo da terra/arrendamento
Karl Marx
-Com a revolução industrial, as forças produtivas
provocam uma gigantesca transformação nas relações
de produção.
-Surgem novas classes sociais: a burguesia e o
proletariado.
-No modo de produção capitalista, a burguesia exerce
diretamente o poder através do Estado Parlamentar e
impõe sua visão individualista do mundo através das
artes, da ciência, da filosofia e da religião.
Karl Marx
Modo de produção capitalista

Ideologia Cultura burguesa


(individualismo)
Estado Estado parlamentar
Relações de produção Burguesia x proletariado
Forças produtivas Indústria
Karl Marx

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
Karl Marx
-Marx é um dos grandes analistas da formação,
desenvolvimento e supressão do modo de produção
capitalista que se constitui, para ele, no eixo de
compreensão da modernidade.
-O Capital tem como objetivo fundamental realizar uma
crítica da economia política tradicional, considerada
burguesa e ideológica.
-Sua crítica se fundamenta em duas teses principais:
◦ Tese da exploração
◦ Tese da alienação
Karl Marx

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
◦3.1 Formação
Karl Marx
-O capitalismo não surge de forma natural, mas é fruto de
um processo histórico marcado pela violência e pela
coerção.
-Processo de gênese do capitalismo:
◦ O surgimento de uma massa de trabalhadores livres no
mercado, forçados a vender a única coisa que possuem, sua
força de trabalho (proletariado);
◦ Uma massa de capital-dinheiro relativamente grande na mão
dos capitalistas para que estes pudessem investir.
Karl Marx
-O “cercamento” da áreas consideradas comuns
◦ A história da propriedade privada como uma história de dominação
e violência;
◦ O papel da Igreja e do Estado na consolidação deste processo;
◦ As punições aos “andarilhos” e “vagabundos”;
◦ Formação de um “exército industrial de reserva” disposta a
trabalhar nas indústrias que passaram a se expandir nos séculos
XVIII e XIX.
◦ A concentração da propriedade fundiária faz surgir os
“arrendatários capitalistas”, o embrião da futura classe capitalista
ou burguesa.
Karl Marx

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
◦3.2 Estrutura
Karl Marx
-Tese da exploração: a mais-valia
◦ O elemento básico da economia capitalista é a
mercadoria;
◦ O valor de uso e o valor de troca;
◦ O tempo de trabalho socialmente necessário para a
produção de um valor de uso;
◦ Qual a origem do lucro? Não é do aumento do preço, mas
ocorre no processo de produção. O lucro vem do tempo
de trabalho não pago ao trabalhador que é chamado por
ele de Mais-valia.
Karl Marx
-Tese da exploração: a mais-valia
◦ O lucro tem sua origem na exploração do trabalhador pelo
capitalista. Este é o segredo do sistema capitalista.
◦ Mais-valia absoluta: o lucro é obtido pelo aumento da
jornada de trabalho.
◦ Os capitalistas sempre lutaram ao longo da história para estender o dia de
trabalho a 10,12, 16 ou até 20 horas, ou seja, até os limites da capacidade do
operário.
◦ Mais-valia relativa: o lucro é obtido pelo aumento da
produtividade.
◦ Rendimento do operário
◦ Inovação tecnológica
Karl Marx
-Tese da alienação: o fetichismo da mercadoria
◦ “(...) à primeira vista, a mercadoria parece ser cosia trivial,
imediatamente compreensível. Analisando-a, vê-se que
ela é algo muito estranho, cheia de sutilezas metafísicas e
argúcias teológicas”
◦ A mercadoria perde sua relação com o trabalho e parece
ganhar vida própria.
◦ A mercantilização da vida e das relações sociais
◦ No capitalismo, em vez da produção estar a serviço do
homem, é o homem que se encontra dominado pela
produção.
◦ Força simbólica das marcas.
Karl Marx

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
◦3.3 Crise
Karl Marx
-Tendência decrescente da taxa de lucro e o
colapso do capitalismo
-A superação do capitalismo depende também de
outros processos:
◦ Consciência de classe;
◦ Organização política dos trabalhadores;
◦ Revolução que exproprie o poder político das classes
burguesas.
Karl Marx

4. TEORIA POLÍTICA
Karl Marx
-11ª tese sobre Feuerbach:
◦“até hoje os filósofos se contentaram em
contemplar a realidade, mas o que importa é
transformá-la”
-Objetivo básico: transição de um modelo
econômico capitalista para uma sociedade
comunista
Karl Marx

4. TEORIA POLÍTICA
4.1 Luta de classes
Karl Marx
-A luta de classes
◦ Manifesto do Partido Comunista:
◦ “A história de toda sociedade que existiu até o momento é
a história da luta de classes. [...] em suma, opressores e
oprimidos, estiveram continuamente em mútuo contraste
e travaram luta ininterrupta, ora latente, ora aberta, luta
que sempre acabou com transformação revolucionária de
toda a sociedade ou com a ruína comum das classes em
luta” (Manifesto do Partido Comunista)
Karl Marx
-A luta de classes
◦ Manifesto do Partido Comunista:
◦ “Como a burguesia é a contradição interna do feudalismo,
assim também o proletariado é a contradição interna da
burguesia.”
◦ “O proletariado empunhará as armas contra a burguesia,
pois essa é sua missão histórica; a revolução levará
necessariamente a uma sociedade sem classes: é este o
advento do comunismo.”
Karl Marx
-Para Marx, os conflitos sociais são expressões das
contradições econômicas da sociedade, ou seja, da divisão da
sociedade em proprietários e não proprietários dos meios de
produção.
-O papel da burguesia na luta contra a aristocracia feudal.
-As diferentes fases de desenvolvimento do proletariado na
realização de sua tarefa revolucionária:
◦ No início combate as próprias máquinas;
◦ Depois passa a defender seus direitos (sindicalismo);
◦ Após, se organiza enquanto classe social (partido político);
◦ Finalmente, desencadeia uma luta que termina com a
revolução contra a burguesia (revolução).
Karl Marx

4. TEORIA POLÍTICA
4.2 Estado
Karl Marx
-A ideia de que o Estado representa o bem comum e os
interesses gerais da sociedade é rejeitada por Marx.
-O Estado como instrumento de domínio de uma classe
social sobre outra.
◦ “o poder político do Estado representativo moderno nada
mais é do que um comitê para administrar os negócios
comuns de toda a classe burguesa” (Manifesto do Partido
Comunista)
◦ “(...) mas este Estado nada mais é do que a forma de
organização que os burgueses necessariamente adotam,
tanto no interior como no exterior, para a garantia recíproca
de sua propriedade e de seus interesses” (A Ideologia Alemã)
Karl Marx

4. TEORIA POLÍTICA
4.3 Revolução e
Comunismo
Karl Marx
-“a sociedade regula a produção geral, dando-me assim a
possibilidade de hoje fazer tal coisa, amanhã outra, caçar pela
manhã, pescar à tarde, criar animais ao anoitecer, criticar após
o jantar, segundo meu desejo, sem jamais me tornar caçados,
pescador, pastor ou crítico” (A Ideologia Alemã)
- A futura sociedade comunista:
◦ A abolição das classes sociais
◦ “em lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e seus antagonismos
de classe, surge uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é
a condição para o livre desenvolvimento de todos” ( Manifesto do Partido
Comunista)
◦ A Abolição do Estado
◦ “a classe trabalhadora não pode simplesmente tomar posse da máquina do
Estado pronta e fazê-la rodar para os seus próprios propósitos” (A guerra civil
na França)
Karl Marx
-Superaçãoda democracia representativa mediante práticas
de democracia direta.
-Período de transição do capitalismo ao comunismo –o
socialismo- no qual deveria vigorar a ditadura do
proletariado.
Karl Marx
-A ditadura do proletariado
◦ 1. expropriação da propriedade fundiária e emprego
da renda fundiária para as despesas do Estado;
◦ 2. impostos fortemente progressivos;
◦ 3. Abolição do direito de sucessão;
◦ 4. confisco da propriedade de todos os emigrados e
rebeldes;
◦ 5. concentração do crédito nas mãos do Estado;
Karl Marx
-A ditadura do proletariado
◦ 6. concentração de todos os meios de transporte nas
mãos do Estado;
◦ 7. Multiplicação das fábricas nacionais e dos
instrumentos de produção;
◦ 8. Obrigação do trabalho igual para todos;
◦ 9. Unificação da agricultura e da indústria;
◦ 10. Instrução pública e gratuita de todas as crianças.
Eliminação do trabalho infantil.
Karl Marx
-A 1ª. Internacional entre o marxismo e o anarquismo (1864)

-A comuna de Paris (década de 1870)


-Leis antissocialistas na Alemanha
-O populismo russo e o assassinato do czar
-1889: a 2ª. Internacional
Karl Marx
-O socialismo etapista russo e sua superação por Lênin (1870-1924)
-A Revolução russa de 1917
-Lênin, Trotski e Stalin
-China, Cuba, Alemanha, leste europeu ...
-Os socialistas revolucionários e os socialistas reformistas ou social-
democratas.
◦ Estado de bem-estar social
SOCIOLOGIA
ALEMÃ:
MAX WEBER
MAX WEBER (1864-1920)
Max Weber
-Marca fundamental da modernidade: emergência de
uma forma específica de racionalismo: o racionalismo
da dominação do mundo.
-Para ele, a cultura ocidental que se encarna em
instituições como o mercado capitalista, a burocracia
estatal, o direito e a ciência, é resultado de um amplo
processo de racionalização que, por um lado,
aumenta a eficiência e produtividade, mas, ao
mesmo tempo, carrega a possibilidade de perda de
liberdade e do sentido da vida.
Max Weber

1. VIDA E OBRAS
Max Weber
-Nasceu em Erfurt, em 21 de abril de 1864.
-Doutorou-se em Direito em 1891.
-Dedicou-se à docência universitária. Foi professor de direito em
Berlim (1891-1893) e de economia política em Freiburg (1895) e
Heidelberg (1896).
-1897-1902: crise pessoal.
-1904: viagem para os Estados Unidos. Publica A ética
protestante e o “espírito” do capitalismo.
-Sua case era um centro frequentado por intelectuais de
renome, como Georg Lukács (1885-1971) e Georg Simmel (1858-
1918).
Max Weber
-1917: publica Ciência como vocação.
-1918: aceita uma cátedra na Universidade de Viena,
transferindo-se para Munique no ano seguinte.
1919: publica Política como vocação.
-Participa da redação da Constituição de Weimar.
-Morre, em Munique, no ano de 1920.
-1922: publicação póstuma de Economia e sociedade.
Max Weber
-Correntes teóricas que influenciaram seu pensamento:
◦ Pensamento filosófico
◦ Immanuel Kant (1724-1804) e Friedrich Nietzsche (1844-1900)
◦ Pensamento econômico
◦ Pensamento social
◦ Fundou a “Associação Alemã de Sociologia”
◦ Teologia
◦ Direito
◦ História
◦ Ciência da religião
Max Weber

2. TEORIA SOCIOLÓGICA
TEORIA SOCIOLÓGICA
-O indivíduo é o elemento fundante na explicação da
realidade social.
-Novo caminho de interpretação da realidade social: a
sociologia compreensiva.
Max Weber

2. TEORIA SOCIOLÓGICA
2.1 Epistemologia
TEORIA SOCIOLÓGICA
A) A especificidade das ciências sociais
-A objetividade do conhecimento nas ciência sociais (1904):
◦ Diferença de princípio entre as ciências da natureza e as ciências
sociais: crítica ao positivismo;
◦ Nas ciências da natureza o objeto de estudo é algo exterior ao
homem, nas ciências sociais o homem é o sujeito e o objeto ao
mesmo tempo.
◦ Ciências naturais: explicação. Ciências sociais: compreensão.
TEORIA SOCIOLÓGICA
B) Tipos ideais
-Instrumento de pesquisa privilegiado do saber sociológico.
-Construção mental elaborada pelo pesquisador, que
seleciona de acordo com seus interesses e os problemas
que deseja aprofundar.
-Não reproduzem ou refletem a realidade tal como ela é em
si mesma. Por isso que os “tipos” (ou seja, os conceitos) são
“ideais”, quer dizer, uma utopia, uma idealização, uma
normatização da realidade e não sua tradução objetiva ou
mesmo uma cópia da essência dos fenômenos.
TEORIA SOCIOLÓGICA
B) Tipos ideais
-Os tipos ideais nos ajudam a dar uma forma lógica à
realidade, que está sempre para além da compreensão de
todo intelecto humano.
-Isto não quer dizer, contudo, que os tipos ideais são uma
construção arbitrária, totalmente subjetiva e pessoal.
-Possuem um componente explicativo ou generalizante. Sua
finalidade é compreender a realidade.
-Exemplos de Weber: “espírito do capitalismo”, “ética
protestante”, “feudalismo”, “burocracia”, “Estado”.
Max Weber

2. TEORIA SOCIOLÓGICA
2.2 Metodologia
TEORIA SOCIOLÓGICA
A) Individualismo metodológico
-O ponto de partida da explicação sociológica reside no
indivíduo.
◦ “A sociologia interpretativa considera o indivíduo e seu ato como a
unidade básica, como seu “átomo” (...) Em geral, para a sociologia,
conceitos como “Estado”, “associação”, “feudalismo” e outros
semelhantes designam certas categorias de interação humana. Daí ser
tarefa da sociologia reduzir esses conceitos à ação compreensível, isto é,
sem exceção, aos atos dos indivíduos participantes” (WEBER, Ensaios de
Sociologia)
TEORIA SOCIOLÓGICA
B) Sociologia: objeto de estudo e método de análise
-“Sociologia significa uma ciência que pretende
compreender interpretativamente a ação social e assim
explicá-la em seu curso e em seus efeitos” (Weber,
Economia e Sociedade)
-Ação social: é a ação dos indivíduos, quando orientada em
relação a outros indivíduos. A tarefa da pesquisa sociológica
consiste em determinar qual o “sentido” ou “significado” da
ação – bem como suas relações com os demais indivíduos.
-Método “compreensivo-explicativo”
TEORIA SOCIOLÓGICA
-Teoria dos tipos de ação: escala formam de racionalidade e
irracionalidade
◦ 1) Ação social referente a fins: a ação é determinada por expectativas
quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de outras
pessoas. Neste tipo de ação, o indivíduo determina racionalmente os
objetivos da ação, calcula os meios mais adequados para persegui-los e
pondera os efeitos de suas escolhas.
◦ 2) Ação social referente a valores: a ação é determinada pela crença
consciente no valor –ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua
interpretação- absoluto e inerente a determinado comportamento como
tal, independente do resultado. O motivo da ação não é um interesse,
mas um valor, indiferente aos resultados positivos ou negativos que ela
possa ter. o indivíduo formula os objetivos da ação com base em suas
convicções e escolhe os meios para realizar seus valores, sem considerar
os efeitos e consequências que eles possam ter.
TEORIA SOCIOLÓGICA
-Teoria dos tipos de ação: escala formam de racionalidade e
irracionalidade
◦ 3) Ação social afetiva: a ação é determinada de moda afetivo,
especialmente emocional: por afetos ou estados emocionais
atuais. Envolve sempre a satisfação imediata de um impulso,
como a vingança, gratificação sensual, dedicação a uma
pessoa ou ideal, etc.
◦ 4) Ação social tradicional: a ação é determinada pelo costume
arraigado. Trata-se da maior parte de nossas ações cotidianas
habituais, de nossos deveres, executadas quase sempre de
modo irrefletido.
TEORIA SOCIOLÓGICA
-Quando diversos agentes sociais organizam a sua ação com
base na expectativa que fazem quanto ao sentido das ações
de outros temos o que Weber chama de relação social. Ex.:
amizade, luta, troca no mercado, cumprimento ou violação
de acordos.
-Ordens ou estruturas sociais são concebidas por Weber
como máximas que orientam a ação, seja como
“obrigações”, seja como “modelos de comportamento”. Ex.:
ordem econômica, política, religiosa, científica, etc.
-Esboço de uma “sociologia das organizações”
TEORIA SOCIOLÓGICA
-Sociologias especiais:
◦ Sociologia econômica
◦ Especificidade da ação social econômica
◦ Sociologia da estratificação social
◦ Busca compreender as diferentes posições do indivíduo na sociedade não a partir de
um único critério, mas a partir de uma inserção em várias esferas da realidade.
◦ Status é a esfera da honra e do prestígio social
◦ Sociologia da religião
◦ Os feiticeiros (praticantes da magia), os sacerdotes (responsáveis pela organização
dos cultos) e os profetas (que enfatizam o comportamento ético da religião)
◦ Sociologia do direito
◦ Descrição do processo de racionalização do direito
◦ Sociologia urbana
Max Weber

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
TEORIA DA MORDERNIDADE
-É no conjunto de estudos históricos-comparativos das
religiões mundiais que Weber traça o quadro de nascimento
e desenvolvimento da modernidade.
-A modernidade é fruto de um longo e peculiar processo
histórico-social de racionalização.
-O racionalismo da dominação do mundo.
Max Weber

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
3.1 Racionalização social: a ética
protestante e o “espírito” do
capitalismo
TEORIA DA MODERNIDADE
-Investigação sobre as “origens” culturais do capitalismo
moderno.
-O capitalismo racional como grande marca da civilização
ocidental.
-Investiga qual a relação entre determinada religião e a
conduta de vida adequada ao moderno sistema econômico
capitalista-industrial.
-A ética protestante “tinha que ser, no fim das contas, a
alavanca mais poderosa que se pode imaginar da expansão
dessa concepção de vida que aqui temos chamado de
‘espírito’ do capitalismo”.
TEORIA DA MODERNIDADE
-“Espírito” do capitalismo: vida disciplinada, ou ascética,
motivada pelo sentido do dever, pela honestidade, e pela
dedicação ao trabalho. É uma ascese do trabalho, ao qual ele se
dedica com rigor e disciplina.
-O conceito de ‘vocação’ desenvolvido por Martinho Lutero.
-O calvinismo
◦ Predestinação
◦ Necessidade de que a salvação seja “comprovada” através de uma
conduta regulada e sistemática.
◦ A ascese intramundana “teve o efeito psicológico de liberar o
enriquecimento dos entraves éticos da ética tradicionalista, rompeu
as cadeias que cerceavam a ambição de lucro, não só ao legalizá-lo,
mas também ao encará-lo como diretamente querido por Deus”
TEORIA DA MODERNIDADE
-Mesmo com o processo de enfraquecimento da religião na vida
individual e social, a ética do trabalho se expandiu e se
consolidou no Ocidente.
-Com o tempo, a motivação da busca da riqueza se desligou da
religião e ganhou vida própria.
-Outro importante processo: o processo histórico de
racionalização. Do ponto de vista de visão religiosa do mundo, o
protestantismo ascético representa o ponto final de um processo
de desencantamento religioso do mundo, pois retira do crente a
possibilidade de influenciar magicamente o divino.
-Uma religião completamente desprovida de elementos mágicos
e uma vida metódica dedicada ao trabalho, de forma disciplinada
e ordenada.
Max Weber

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
3.2 Racionalização cultural: as
religiões mundiais
TEORIA DA MODERNIDADE
-Ensaios reunidos de Sociologia da religião
◦ Índia
◦ Visão imanente do divino + misticismo extramundano = “racionalismo de
fuga do mundo”
◦ China
◦ Visão imanente do divino + misticismo intramundano: “racionalismo de
adaptação ao mundo”
◦ Judaísmo
◦ Precursor do racionalismo prático do Ocidente.
◦ Visão teocêntrica do divino + ênfase na conduta moral = “racionalismo
de aceitação do mundo”
TEORIA DA MODERNIDADE
-Ensaios reunidos de Sociologia da religião
◦ Protestantismo pós-luterano
◦ Visão teocêntrica e transcendente do divino + ascetismo intramundano =
“racionalismo de dominação do mundo”
◦ Fenômenos como o capitalismo moderno, o Estado burocrático, a ciência
e a técnica, o direito formal, a contabilidade, as empresas e outros são a
expressão do tipo de racionalidade predominante no mundo ocidental.
Max Weber

3. TEORIA DA
MODERNIDADE
3.3 O diagnóstico weberiano da
modernidade
TEORIA DA MODERNIDADE
-Racionalização é o cerne da sociologia weberiana
◦ Caracterizado especialmente pela eliminação da magia como
meio de salvação, ou seja, pelo desencantamento do mundo
(religiosa, depois científica)
-Secularização é um dos resultados deste processo. Uma
ordem social secularizada é aquela na qual a esfera religiosa
deixa de ser a força cultural determinante e a crença passa a
ser uma escolha individual.
◦ A religião não é mais o fundamento da ordem social.
TEORIA DA MODERNIDADE
-Perda de sentido
◦ A ciência como vocação
◦ A religião era uma cosmovisão que conferia sentido à realidade. A
ciência não poderia ocupar esse papel.
◦ “o destino de nosso tempo, que se caracteriza pela racionalização,
pela intelectualização, pelo ‘desencantamento do mundo’ levou os
homens a banirem da vida pública os valores supremos e mais
sublimes”
◦ Duas alternativas possíveis
◦ Retorno à religião com o sacrifício do intelecto
◦ Aceitar a absoluta falta de sentido da modernidade racionalizada pela ciência e,
desta forma, pautar-se com coerência em torno dos valores escolhidos.
◦ Diante dos dilemas culturais do mundo moderno, Weber defende uma posição
ética, pautada pelo senso de dever e responsabilidade.
-
TEORIA DA MODERNIDADE
-Perda de liberdade
◦ A politica como vocação
◦ Futuro dominado pela racionalização burocrática
◦ “Juntamente com a máquina inanimada, a inteligência concretizada
ocupa-se em construir a concha de servidão que os homens serão
talvez forçados a habitar algum dia”
◦ O conceito da “jaula de ferro”: embora tenha se libertado das forças
divinas e naturais, o homem tornou-se escravo de sua própria
criação.
◦ O trabalho transformou-se num fim em si mesmo e escravizou o
homem.
Max Weber

4. TEORIA POLÍTICA
TEORIA POLÍTICA
-A abordagem empírica dos fatos políticos: a realpolitik.
-A política como espaço de luta e conquista pelo poder
Max Weber

4. TEORIA POLÍTICA
4.1 Neutralidade axiológica
TEORIA POLÍTICA
-O sentido da neutralidade axiológica nas ciências sociais e
econômicas
-A distinção entre “juízos de fato” e “juízos de valor”
-A tarefa da ciência é compreender a realidade, enquanto a
tarefa da política (e da moral) é agir sobre o mundo.
Max Weber

4. TEORIA POLÍTICA
4.2 Debate político
TEORIA POLÍTICA
-Alemanha: acelerado processo de industrialização
direcionado pelo Estado. Esse processo provocou um
crescimento do tamanho e da importância da burocracia
executiva na sociedade e no estado alemão.
-Política como vocação (1919)
-Origem e a condição do político profissional
- “Ética da convicção” e “ética da responsabilidade”
Max Weber

4. TEORIA POLÍTICA
4.2 Sociologia política
TEORIA POLÍTICA
-Política como vocação
◦ “Por política entenderemos, consequentemente, o conjunto dos
esforços feitos com vistas a participar do poder ou influenciar a
divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior do próprio
Estado”
◦ O poder é a capacidade de impor a própria vontade dentro de
uma relação social.
◦ Dominação é a probabilidade de encontrar obediência a um
determinado mandato.
TEORIA POLÍTICA
-Política como vocação
◦ “Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado
contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro
dos limites de um determinado território –a noção de território
corresponde a um dos elementos essenciais do Estado-
reivindica o monopólio legítimo da violência física”
◦ O Estado nasceu de um lento processo pelo qual o rei
conseguiu centralizar em suas mãos o exército, a administração
financeira e o poder jurídico, unificando o território e limitando
o poder dos senhores feudais.
◦ Deste processo surgem os principais atores da política
moderna: os políticos profissionais e a burocracia estatal.
TEORIA POLÍTICA
-Sociologia da dominação
◦ Dominação legal
◦ “Baseada na crença na legitimidade das ordens estabelecidas e do direito de
mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a
dominação”
◦ “O tipo mais puro que se exerce por meio de um quadro administrativo
burocrático”
TEORIA POLÍTICA
-Sociologia da dominação
◦ Dominação legal
◦ “Baseada na crença na legitimidade das ordens estabelecidas e do direito de
mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a
dominação”
◦ “O tipo mais puro que se exerce por meio de um quadro administrativo
burocrático”
◦ Dominação tradicional
◦ Existe “uma dominação tradicional quando sua legitimidade repousa ne crença
da santidade de ordens e poderes senhoriais tradicionais (existentes desde
sempre)”
◦ Pode ser uma gerontocracia (o poder de mando cabe aos mais velhos) ou um
patriarcalismo (quando a dominação é exercida por um líder político escolhido
pela associação política)
TEORIA POLÍTICA
-Sociologia da dominação
◦ Dominação carismática
◦ Mágicos, profetas, guerreiros, demagogos, chefes de partido, etc.
◦ “Baseada na veneração extraordinária da santidade, do poder heroico ou de
caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por esta reveladas ou criadas”
◦ O carisma é a grande força revolucionária da história, mas o seu caráter
irracional e extracotidiano traz o problema da rotinização do carisma, ou seja,
sua transformação em um poder permanente.
O CONCEITO ANTROPOLÓGICO
DE CULTURA
O CONCEITO
ANTROPOLÓGICODE CULTURA
 Uma sociedade é um grupo relativamente importante
de seres humanos em interação constante, que
reconhecem uma experiência comum e a
institucionalizam. Este grupo perpetua-se por meio da
reprodução biológica, gerida por regras de parentesco.
 Cada sociedade é portadora de uma cultura ou
civilização.
 Por oposição ao biológico, a civilização é o domínio do
que é adquirido por aprendizado no interior de uma
dada sociedade.
O CONCEITO
ANTROPOLÓGICODE CULTURA
 “Cultura é todo complexo que inclui
conhecimento, crença, arte, moral,
lei, costume e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos
pelo homem na condição de
membro da sociedade.” (Edward
Tylor, Primitive culture, 1871)
O CONCEITO
ANTROPOLÓGICODE CULTURA
 “A vida total de um povo, a herança
social que o indivíduo adquire de seu
grupo. Ou pode a cultura ser
considerada como aquela parte do
ambiente que o próprio homem criou”
(Clyde Kluckhon, 1945)
O
DESENVOLVIMENTO
DO CONCEITO DE
CULTURA
O DESENVOLVIMENTO DO
CONCEITO DE CULTURA
 O Renascimento
 1453: a tomada de Constantinopla pelos turcos
 1450-1500: As grandes navegações
 Os Ensaios de Montaigne (1580)
 O nascimento do mito do bom selvagem
 O século das luzes (1715-1800)
 O gênero literário dos relatos e relatórios de viagens.
O DESENVOLVIMENTO DO
CONCEITO DE CULTURA
 O evolucionismo social do século XIX
 A reação ao evolucionismo com Franz Boas (1858-
1949)
 “A limitação do método comparativo da Antropologia”
(1896)
 Atribuiu à antropologia a execução de duas tarefas:
 A reconstrução da história de povos ou regiões particulares;
 A comparação da vida social de diferentes povos, cujo
desenvolvimento segue as mesmas leis.
 Desenvolveu o particularismo histórico (ou a chamada
Escola Cultural Americana), segundo a qual cada cultura
segue os seus próprios caminhos em função dos
diferentes eventos históricos que enfrentou.
A CRÍTICA AOS
DETERMINISMOS
O DETERMINISMO
BIOLÓGICO
O DETERMINISMO BIOLÓGICO
 Os antropólogos estão totalmente convencidos de
que as diferenças genéticas não são determinantes
das diferenças culturais.
 As diferenças se explicam, antes de tudo, pela
história cultural de cada grupo.
 O comportamento dos indivíduos depende de um
aprendizado, de um processo que chamamos de
endoculturação.
O DETERMINISMO BIOLÓGICO
 Margaret Mead: Sexo e Temperamento
 Arapesh
A cultura não estabelece um padrão
comportamental distinto para homens e mulheres
 Docilidade
O DETERMINISMO BIOLÓGICO
 Margaret Mead: Sexo e Temperamento
 Mundugumor
A cultura não estabelece um padrão
comportamental distinto para homens e mulheres
 Agressividade
O DETERMINISMO BIOLÓGICO
 Margaret Mead: Sexo e Temperamento
 Tchambuli
 Inversão total dos padrões comportamentais
ocidentais.
O DETERMINISMO
GEOGRÁFICO
O DETERMINISMO
GEOGRÁFICO
 O determinismo geográfico considera que as
diferenças do ambiente físico condicionam a
diversidade cultural.
 A partir de 1920, a antropologia refutou este tipo de
determinismo e demonstrou que existe uma limitação
na influência geográfica sobre os fatores culturais. E
mais: que é possível e comum existir uma grande
diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de
ambiente físico.
 Ex.: Lapões e os esquimós; Os índios Pueblo e Navajo,
do sudoeste americano; O Parque Nacional do Xingu.
O MITO DOS
INSTINTOS
O MITO DOS INSTINTOS
 Instinto de conservação
 Instinto materno
 Instinto filial
 Instinto sexual
 O conceito de cultura pode ser pensado a
partir dos seguintes pontos:
 A cultura, mais do que a herança genética,
determina comportamento do homem e
justifica as suas realizações;
 O homem atua de acordo com seus
padrões culturais;
 A cultura é um modo de adaptação aos
diferentes ambientes. Para se adaptar aos
diversos ambientes ecológicos, o homem
não modifica seu aparato biológico, mas
sim constrói diferentes respostas culturais;
 O conceito de cultura pode ser pensado a partir
dos seguintes pontos:
 Mesmo contando com uma estrutura física mais
frágil que a de outros animais, o homem superou
limites do meio ambiente e estendeu sua influência
por toda a Terra;
 Adquirindo cultura, o homem passou a depender
muito mais do aprendizado do que a agir através
de atitudes geneticamente determinadas;
 É este processo de aprendizagem que determina o
seu comportamento e sua capacidade artística ou
profissional;
 A cultura é um processo cumulativo que resulta da
experiência adquirida das gerações anteriores.
O conceito de cultura pode ser
pensado a partir dos seguintes
pontos:
 Mesmo contando com uma estrutura
física mais frágil que a de outros
animais, o homem superou limites do
meio ambiente e estendeu sua
influência por toda a Terra;
 Adquirindo cultura, o homem passou a
depender muito mais do aprendizado
do que a agir através de atitudes
IDEIAS SOBRE A
ORIGEM DA
CULTURA
IDEIAS SOBRE A ORIGEM DA
CULTURA
 A cultura surgiu no momento em que o homem
convencionou a primeira regra: a proibição do incesto
(Claude Lévi-Strauss)
 A passagem do estado animal para o estado humano
ocorreu quando o cérebro do homem foi capaz de
gerar símbolos (Leslie White)
COMO OPERA A
CULTURA
COMO OPERA A CULTURA
 A cultura condiciona a visão de mundo do homem
 A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o
mundo.
 A cultura interfere no plano biológico
 Desenvolvimento corporal
 As mortes causadas por feitiçaria; cura xamânica; doenças
psicossomáticas
 Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura
 Nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos
de sua cultura
 A cultura tem uma lógica própria
 A cultura é dinâmica
 Existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna,
ETNOCENTRISMO E
RELATIVISMO CULTURAL
 Etnocentrismo: é o conceito
antropológico que define o que ocorre
quando um determinado indivíduo ou
grupo de pessoas, que têm os mesmos
hábitos e caráter social, discrimina
outro, julgando-se melhor, seja por
causa de sua condição social, pelos
diferentes hábitos e modos de viver. Do
ponto de vista intelectual, etnocentrismo
é a dificuldade de pensar a diferença, de
ETNOCENTRISMO E
RELATIVISMO CULTURAL
 Como podemos abandonar essa
tendência ao etnocentrismo, própria de
toda sociedade?
 Adotando a prática do relativismo
cultural. Dessa forma, não
hierarquizamos formas e estilos de vida,
mas reconhecendo que é justamente na
variedade de formas de viver que reside
a riqueza da vida humana.
 Globalização e multiculturalismo
O MÉTODO
ANTROPOLÓGICO
O MÉTODO ANTROPOLÓGICO
 Etnografia e a observação participante
 É um método clássico que visa realizar a
descrição dos significados pertencentes a
um determinado grupo. Todo grupo social
atribui significados às suas experiências de
vida. A etnografia atua enfatizando a
exploração da natureza e de um fenômeno
social particular; realiza entrevistas em
profundidade; inicia observação; analisa o
discurso dos informantes; investiga os
detalhes de um fato; lança perspectiva
microscópica; e por fim interpreta os
O MÉTODO ANTROPOLÓGICO
 Transformar o exótico no familiar
 Transformar o familiar no exótico
O POSITIVISMO

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. O


positivismo sociológico e utilitarista: I. O
positivismo: linhas gerais; Augusto Comte
e o positivismo sociológico. História da
filosofia, 5: do romantismo ao
empiriocriticismo. São Paulo, Paulus,
2005, pp. 287-297.
O POSITIVISMO
 É o movimento de pensamento que dominou parte da cultura
europeia em suas expressões não só filosóficas, mas
também políticas, pedagógicas e literárias desde cerca de
1840 até os inícios da primeira guerra mundial.
 Entre as características do período pode-se destacar:
 Época de paz substancial na Europa;
 Expansão colonial na África e na Ásia;
 Consumação do capitalismo industrial;
 Multiplicação das grandes cidades;
 Aumento da riqueza;
 Avanços na medicina. Ex.: O avanço no combate às doenças
infecciosas
 Avanços científicos diversos. Ex.: Eletricidade e
eletromagnetismo, termodinâmica, microbiologia, fisiologia e
O POSITIVISMO
 A ideia de progresso humano irrefreável e de que já se
possuíam os instrumentos para a solução de todos os
problemas da humanidade.
 Grandes males da sociedade industrial produziram duas
respostas distintas: o positivismo e o marxismo.
 O positivismo entendia que estes males eram
transitórios e logo desapareceriam pelo crescimento do
saber, da educação popular e da riqueza.
Os representantes
mais significativos do
positivismo são:
Augusto Comte (1798-1857), na
França
John Stuart Mill (1806-1873), na
Inglaterra
Herbert Spencer (1820-1903), na
Inglaterra
OS PONTOS CENTRAIS DO
PENSAMENTO POSITIVISTA
 O primado da ciência: nós só conhecemos aquilo que
as ciências nos dão a conhecer, pois o único método
de conhecimento é o das ciências naturais;
 O método das ciências naturais vale também para o
estudo da sociedade;
 A sociologia surge como a ciência das relações
humanas e sociais;
 A ciência é o único meio em condições de resolver
todos os problemas humanos;
 Otimismo geral, que brota da certeza do progresso
irrefreável rumo a uma sociedade pacífica e
penetrada pela solidariedade humana.
AUGUSTO COMTE E O
POSITIVISMO SOCIOLÓGICO
Fundação da Sociologia:
Augusto Comte (1798-1857)
AUGUSTO COMTE E O
POSITIVISMO SOCIOLÓGICO
 1830: Curso de Filosofia Positiva – fundar uma “física
social” que seria um saber encarregado de aplicar o
método científico ao estudo da sociedade. Seu
objetivo seria a descoberta das leis que guiam os
fenômenos sociais.
 1839: batizou esta ciência de “sociologia”
 Filosofia positivista: “Lei dos três estados”. Uma
filosofia da história que se apresenta como esquema
de toda a evolução da humanidade, tanto individual
quanto social.
AUGUSTO COMTE E O
POSITIVISMO SOCIOLÓGICO
 1. Estado teológico: os fenômenos são
explicados como produto da ação de agentes
sobrenaturais
 Fetichismo
 Politeísmo
 Monoteísmo
 2. Estado metafísico
 Agentes sobrenaturais substituídos por forças
abstratas
 Predomínio do conhecimento filosófico
 3. Estado positivo ou científico
AUGUSTO COMTE E O
POSITIVISMO SOCIOLÓGICO
 Sociologia positivista
 Física celeste – física terrestre – física orgânica – física
social
 A função da sociologia seria estabelecer um sistema
completo de leis que explicassem o comportamento dos
homens na sociedade.
 O caminho para se alcançar o conhecimento
sociológico são a observação, o experimento e o
método comparativo.
 A estática social e a dinâmica social
 A estática social estuda as condições de existência comuns a
todas as sociedades em todos os tempos. Ex.: a sociabilidade
fundamental do homem, o núcleo familiar e a divisão do trabalho.
 A dinâmica social consiste no estudo das leis de
AUGUSTO COMTE E O
POSITIVISMO SOCIOLÓGICO
 Sociologia positivista
 O problema central das sociedades modernas era a
falta de harmonia entre a dimensão da ordem e do
progresso.
 Na nascente sociedade industrial, a organização social
deveria ser dirigida por um novo poder espiritual – os
cientistas – e um novo poder temporal: os empresários
industriais.
AUGUSTO COMTE E O
POSITIVISMO SOCIOLÓGICO
 A religião da humanidade
 Sistema de política positiva (1851-1854)
 A regeneração da sociedade deve assumir a forma de
uma religião, na qual o amor a Deus é substituído pelo
amor a humanidade.
 Cópia exata do sistema eclesiástico católico.
 Dogmas: filosofia positiva e as leis científicas;
 Ritos seculares;
 O anjo da guarda positivo será a mulher;
 Construção de templos leigos
 Papa positivo
 Trindade da religião positiva: a humanidade é o “grande
ser”; o espaço, o “grande ambiente”; e a terra, o “grande
fetiche”.
Você tem cultura?*
**
Roberto da
Matta

Outro dia ouvi uma pessoa dizer que “Maria não tinha cultura”, era “ignorante
dos fatos básicos da política, economia e literatura”. Uma semana depois, no Museu
onde trabalho, conversava com alunos sobre “a cultura dos índios Apinayé de Goiás”,
que havia estudado de 1962 até 1976, quando publiquei um livro sobre eles (Um
mundo dividido). Refletindo sobre os dois usos de uma mesma palavra, decidi que esta
seria a melhor forma de discutir a idéia ou o conceito de cultura tal como nós,
estudantes da sociedade a concebemos. Ou, melhor ainda, apresentar algumas
noções sobre a cultura e o que ela quer dizer, não como uma simples palavra, mas
como uma categoria intelectual um conceito que pode nos ajudar a compreender
melhor o que acontece no mundo em nossa volta.
Retomemos os exemplos mencionados porque eles encerram os dois sentidos
mais comuns da palavra. No primeiro, usa-se cultura como sinônimo de sofisticação, de
sabedoria, de educação no sentido restrito do termo. Quer dizer, quando falamos que
“Maria não tem cultura”, e que “João é culto”, estamos nos referindo a um certo estado
educacional destas pessoas, querendo indicar com isto sua capacidade de
compreender ou organizar certos dados e situações. Cultura aqui é equivalente a
volume de leituras, a controle de informações, a títulos universitários e chega até
mesmo a ser confundido com inteligência, como se a habilidade para realizar certas
operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência), fosse algo a ser
medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode
falar, ou ao quadros e pintores que pode, de memória, enumerar. Como uma espécie
de prova desta associação, temos o velho ditado informando que “cultura não traz
discernimento”... ou inteligência, como estou discutindo aqui. Neste sentido, cultura é
uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais, servindo
como uma arma discriminatória contra algum sexo, idade (“as gerações mais novas
são incultas”), etnia (“os pretos não tem cultura”) ou mesmo sociedades inteiras,
quando se diz que “os franceses são cultos e civilizados” em oposição aos americanos
que são “ignorantes e grosseiros”. Do mesmo modo é comum ouvir-se referências à
humanidade, cujos valores seguem tradições diferentes e desconhecidas, como a dos
índios, como sendo sociedades que estão “na Idade da Pedra” e se encontram em
“estágio cultural muito atrasado”. A palavra cultura, enquanto categoria do senso-
comum, ocupa como vemos um importante lugar no nosso acervo conceitual, ficando
lado-a-lado de outras, cujo uso na vida cotidiana é também muito comum. Estou me
lembrando da palavra “personalidade” que, tal como ocorre com a palavra “cultura”,
penetra o nosso vocabulário com dois sentidos bem diferenciados. No campo da
Psicologia, personalidade define o conjunto dos traços que caracterizam todos os seres

*
Artigo publicado no Jornal da Embratel, RJ, 1981.
**
Roberto Da Matta, pesquisador e professor de Antropologia Social do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. É
autor dos livros: Ensaios de Antropologia Estrutural (Editora Vozes), Um Mundo Dividido (Editora Vozes) , O
Inverso do Carnaval (Edições Pinakotheke), Carnavais, Malandros e Heróis (ZaharEditores) e Relativizando: Uma
introdução à Antropologia Social (Editora Vozes). É autor de inúmeros artigos publicados em revistas
especializadas nacionais e estrangeiras. Foi professor visitante na Universidade de Winsconsin, Madison (Estados
Unidos) e na Universidade de Cambridge (Inglaterra). Tem realizado cursos e conferências na maioria das
universidades brasileiras, americanas e européias

1
humanos. É aquilo que singulariza todos e cada um de nós como uma pessoa
diferente, com interesses, capacidades e emoções particulares. Mas na vida diária,
personalidade é usada como um marco para algo desejável e invejável de uma pessoa.
Assim, certas pessoas teriam “personalidade" outras não! É comum se dizer que "João
tem personalidade” quando de fato se quer indicar que "João tem magnetismo", sendo
uma pessoa "com presença". Do mesmo modo, dizer que "João não tem
personalidade", quer apenas dizer que ele não é uma pessoa atraente ou inteligente.
Mas no fundo, todos temos personalidade, embora nem todos possamos ser
pessoas belas ou magnetizadoras como um artista da Novela das Oito. Mesmo urna
pessoa "sem personalidade" tem, paradoxalmente, personalidade na medida em que
ocupa um espaço social e físico e tem desejos e necessidades. Pode ser uma pessoa
sumamente apagada, mas ser assim é precisamente o traço marcante de sua
personalidade.
No caso do conceito de cultura ocorre o .mesmo, embora nem todos saibam
disso. De fato, quando um antropólogo social fala em "cultura", ele usa a palavra como
um conceito chave para a interpretação da vida social. Porque para nós ''cultura" não é
simplesmente um referente que marca uma hierarquia de "civilização" mas a maneira
de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia
Social e Sociologia, um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas
de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas.
É
justamente porque compartilham de parcelas importantes deste código ( a cultura) que
um conjunto de indivíduos com interesses e capacidades distintas e até mesmo
opostas, transformam-se num grupo e podem viver juntos sentindo-se parte de uma
mesma totalidade. Podem, assim, desenvolver relações entre si porque a cultura lhes
forneceu normas que dizem respeito aos modos, mais (ou menos) apropriados de
comportamento diante de certas situações. Por outro lado, a cultura não é um código
que se escolhe simplesmente. É algo que está dentro e fora de cada um de nós, como
as regras de um jogo de futebol, que permitem o entendimento do jogo e, também, a
ação de cada jogador, juiz, bandeirinha e torcida. Quer dizer, as regras que formam a
cultura (ou a cultura como regra) é algo que permite relacionar indivíduos entre si e o
próprio grupo com o ambiente onde vivem. Em geral, pensamos a cultura como algo
individual que as pessoas inventam, modificam e acrescentam na medida de sua
criatividade e poder. Daí falarmos que Fulano é mais culto que Sicrano e distinguirmos
formas de "cultura" supostamente mais avançadas ou preferidas que outras. Falamos
então em "alta cultura'' e "baixa cultura" ou “cultura popular", preferindo naturalmente
as formas sofisticadas que se confundem com a própria idéia de cultura. Assim,
teríamos a cultura e culturas particulares e adjetivadas.(popular, indígena, nordestina,
de classe baixa, etc.) como formas secundárias, incompletas e inferiores de vida social.
Mas a verdade
.é que todas as formas culturais ou todas as "sub-culturas” de uma sociedade são
equivalentes e, em geral, aprofundam algum aspecto importante que não pode ser
esgotado completamente por uma outra "sub-cultura". Quer dizer, existem gêneros de
cultura que são equivalentes a diferentes modos de sentir, celebrar, pensar e atuar
sobre o mundo e esses gêneros podem estar associados a certos segmentos sociais. 0
problema é que sempre que nos aproximamos de alguma forma de comportamento e
de pensamento diferente, tendemos a classificar a diferença hierarquicamente, que é
uma: forma de exclui-la. Um outro modo de perceber e enfrentar a diferença cultural é
tomar a diferença como um desvio, deixando de buscar seu papel numa totalidade.
Desta forma, podemos ver o carnaval como algo desviante de uma festa religiosa, sem
2
nos darmos conta de que as festas religiosas e o carnaval guardam uma profunda
relação de complementaridade. Realmente, se no terreno da festa religiosa somos
marcados pelo mais profundo comedimento e respeito polo foco no "outro mundo” é
porque no carnaval podemos nos apresentar realizando o justo oposto.
Assim, o carnavalesco e o religioso não podem ser classificados em termos de superior
ou inferior ou como articulados a uma. "cultura autêntica" e superior, mas devem ser
vistos nas suas relações que são complementares. O que significa dizer que tanto há
cultura no carnaval quanto na procissão e nas festas cívicas, pois que cada uma delas
é um código capaz de permitir um julgamento e uma atuação sobre o mundo social no
Brasil. Como disse uma vez, essas festas nos revelam leituras da sociedade brasileira
por nós mesmos e é nesta direção que devemos discutir o conteúdo e a. forma de cada
cultura ou sub-cultura em uma sociedade (veja-se o meu livro, Carnavais; Malandros e
Heróis).
No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos
diz como o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode
prever completamente como iremos nos sentir em cada papel que devemos ou temos
necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como
pessoas que viveram antes de nós os desempenharam. Mas isso não impede,
conforme sabemos, emoções. Do mesmo modo que um jogo de futebol com suas
regras fixas não impede renovadas emoções em cada .jogo.
É que as regras apenas indicam os limites e apontam os elementos e suas
combinações explícitas. O seu funcionamento e, sobretudo, o modo pelo qual elas
engendram novas combinações em situações concretas é algo que só a realidade pode
dizer. Porque embora cada cultura contenha um conjunto finito de regras, suas
possibilidades de atualização, expressão e reação em situações concretas, são
infinitas.
Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender
as diferenças entre. os homens e as sociedades. Elas não seriam dadas, de uma vez
por todas, por meio de um meio geográfico ou de uma raça, como diziam os estudiosos
do passado, mas em diferentes configurações ou relações que cada sociedade
estabelece no decorrer de sua
história. Mas é importante acentuar que a base destas configurações, é sempre um
repertório comum de potencialidades. Algumas sociedades desenvolveram algumas
dessas potencialidades mais e melhor do que outras, mas isso não significa que elas
sejam mais pervertidas ou mais adiantadas. 0 que isso parece indicar é, antes de mais
nada, o enorme potencial que cada cultura encerra, como elemento plástico, capaz de
receber as variações e motivações dos seus membros, bem como os desafios
externos. Nosso sistema caminhou na direção de um poderoso controle sobre a
natureza, mas isso é apenas um traço entre muitos outros. Há sociedades na
Amazônia onde o controle da natureza é muito pobre, mas onde existe urna enorme
sabedoria relativa ao equilíbrio entre os homens e os grupos cujos interesses são
divergentes. 0 respeito pela vida que todas as sociedades indígenas nos apresentam,
de modo tão vivo, pois que os animais são seres incluídos na formação e discussão de
sua moralidade e sistema político, parece se constituir não em exemplo de ignorância e
indigência lógica, mas em verdadeira lição, pois respeitar a vida deve certamente incluir
toda a vida e não apenas a vida humana. Hoje estamos mais conscientes do preço que
pagamos pela exploração desenfreada do mundo natural sem a necessária moralidade
que nos liga inevitavelmente às plantas, aos animais, aos rios e aos mares

3
Realmente, pela escala destas sociedades tribais, somos uma sociedade de
bárbaros, incapazes de compreender .o significado profundo dos elos que nos ligam
com todo o mundo em escala. global. Pois é assim que pensam os índios e por isso
que as suas histórias são povoadas de animais que falam e homens que se
transformam em animais. Conosco, são as máquinas que tomam esse lugar...
O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma
perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente porque diz que não há
homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como
entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente
existiriam sociedades superiores e inferiores. Mesmo diante de formas culturais
aparentemente irracionais, cruéis ou pervertidas, existe o homem a entendê-las – ainda
que seja para evitá-las, como fazemos com o crime - é uma. tarefa inevitável que faz
parte da condição de ser humano e viver num universo marcado e demarcado pela
cultura. Em outras palavras, a cultura permite traduzir melhor a diferença entre nós e os
outros e, assim fazendo, resgatar a nossa humanidade no outro e a do outro em nós
mesmos. Num mundo como o nosso, tão pequeno pela comunicação em escala
planetária, isso me parece muito importante. Porque já não se trata somente de fabricar
mais e mais automóveis, conforme pensávamos em 1950, mas desenvolver nossa
capacidade para enxergar melhores caminhos para os pobres, os marginais e os
oprimidos. E isso só se faz com uma atitude aberta para as formas e configurações
sociais que, como revela o conceito de cultura, estão dentro e fora de nós.
Num país como o nosso, onde as formas hierarquizantes de classificação
cultural sempre foram dominantes, onde a elite sempre esteve disposta a auto-
flagelar-se dizendo que não temos uma cultura, nada mais saudável do que esse
exercício antropológico de descobrir que a fórmula negativa - esse dizer que não temos
cultura é, paradoxalmente, um modo de agir cultural que deve ser visto, pesado e
talvez substituído por uma fórmula mais confiante no nosso futuro e nas nossas
potencialidades.
.

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