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Racionalismo Dogmático de

Descartes
Filosofia

Luana Abreu

Nº: 27

11ºI

17/02/2021
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Índice

Introdução
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Para iniciar este ensaio acerca do racionalismo dogmático de Descartes vou
começar por expor e explicar a questão problema à qual esta teoria pretende responder,
a possibilidade e origem do conhecimento.

→ O problema da origem e possibilidade do conhecimento

● Epistemologia
- disciplina filosófica que se dedica ao estudo de problemas como a
origem, a natureza e a possibilidade do conhecimento
- teve um máximo desenvolvimento nos séculos XVII e XVIII, uma vez que
é nesta altura que se formam algumas teorias, de forma a responderem a
dois grandes problemas da filosofia: um relacionado com a sua origem e
com a possibilidade de este existir «a origem,certeza e extensão do
conhecimento».

O Problema da origem e possibilidade do conhecimento traduz-se nas seguintes


perguntas:
- A consciência cognoscente apoia-se na experiência ou no pensamento?
- De qual das duas fontes de conhecimento – experiência ou pensamento –
tira ela os seus conteúdos?
- Será possível conhecer alguma coisa?
- O que podemos conhecer? Conhecemos a realidade em si mesma?
Podemos ter a certeza do que conhecemos?
Quanto à origem do conhecimento podemos considerar 2 teorias: o
Racionalismo e o Empirismo.

● Racionalismo
- Todo o conhecimento verdadeiro deriva da razão e constrói-se de
ideias inatas, esse conhecimento só é verdadeiro se for
logicamente necessário e universalmente válido.
- Defendem que podemos ter conhecimento a priori acerca de
questões para lá da matemática ou lógica, podemos descobrir, por
exemplo, se Deus existe ; se temos uma alma distinta do corpo ;
se somos capazes de agir livremente.
● Empirismo
- Todo o conhecimento do mundo é a posteriori/empírico, ou seja,
deriva da experiência e todas as ideias têm uma base empírica, e
por esse motivo, não existem ideias inatas
- O conhecimento a priori apenas fornece conhecimento no âmbito
da matemática e da lógica, além disso não nos dá conhecimento
do mundo. A razão assemelha-se a uma “tábua rasa” onde, antes
da experiência, nada se encontra escrito.

Em relação à possibilidade do conhecimento podemos igualmente considerar 2


teorias:
● Dogmatismo
- deposita a confiança na capacidade da razão chegar à verdade
● Ceticismo
- defende que o conhecimento não é possível

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→ Qual a sua importância?

A necessidade de explicar o mundo, dando-lhe algum sentido é tão antiga como


o próprio Homem, que tem recorrido quer ao auxílio da magia, do mito e da religião,
quer, mais recentemente, à contribuição da ciência e da tecnologia. No entanto, é nos
séculos mais recentes, que se tem dado uma maior importância aos domínios do
conhecimento e da ciência.

É a partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e
mais próximo do que detém atualmente.É também a partir desta época que as
implicações da atividade científica se evidenciam na nossa vida quotidiana .

O que é o conhecimento científico? Como o podemos adquirir? O que temos


implícito quando dizemos que conhecemos determinado assunto? Em que consiste a
prática científica? Qual a relação existente entre o conhecimento científico e o mundo
real? Quais as consequências práticas e éticas das descobertas científicas? São algumas
das questões com que nos deparamos frequentemente.

O objetivo deste trabalho passa então por mostrar uma das muitas respostas ao
problema da origem e possibilidade do conhecimento. Vou então expor a visão de
Descartes acerca deste problema, que tal como na nossa época também na dele era um
problema filosófico muito presente. Irei então expor o racionalismo dogmático de
Descartes, irei começar por apresentar Descartes e a obra deixada por ele, em seguida
contextualizar no tempo e espaço esta teoria para dar a perceber o que esteve na origem
desta teoria. Feitas as apresentações vou prosseguir para a explicação do método usado
é qual o objetivo por trás dele, vou incidir principalmente na descoberta do cogito e qual
o caminho percorrido até o alcançar. Após esta explicação vou apresentar as críticas
feitas a esta teoria e contra argumentar-las. Por fim, vou nomear as principais
características do racionalismo dogmático de Descartes,o porquê dessa denominação e
elaborar uma breve conclusão na qual exponho também a minha posição em relação à
tese.

Desenvolvimento
→ Racionalismo dogmático de Descartes

● Quem é Descartes? E quais as suas obras?

René Descartes nasceu em 31 de março de 1596, na pequena cidade de La Haye,


na França. Em 1606 entrou para o colégio jesuíta de La Flèche, onde estudou gramática,
retórica, dialética, matemática e filosofia escolástica, que consistia num misto dos
ensinamentos da Bíblia e da filosofia e ciência de Aristóteles. Após sair de Lá Flèche, em
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1614, frequentou a Universidade de Poitiers, onde, em 1616, obteve a licenciatura em
Direito. Em 1629 abandona definitivamente a França e muda-se para a Holanda, onde
vive até 1649, no entanto, nesse mesmo ano Descartes muda-se para a Suécia para
ensinar filosofia à Rainha.Infelizmente, Descartes, de saúde frágil, não suportou o
rigoroso inverno sueco contraindo pneumonia o que originou a sua morte a 11 de
fevereiro de 1650
Sempre teve vontade de conhecer o mundo e por isso ,a partir de 1618, viajou
pela Europa como soldado. Durante esse período, fez as suas primeiras investigações
sobre matemática e física e, em 1619, enquanto retido na Alemanha, teve a visão de uma
ciência ou método universal. No dia 10 de novembro, três sonhos sucessivos
convenceram-no da aprovação divina para o seu projeto, no entanto ao reconhecer que
era demasiado jovem (23) para poder desenvolver este projeto, decide esperar alguns
anos e dedica-se a viajar e a resolver problemas matemáticos e físicos de caráter prático.
Descartes elaborou várias obras ao longo da sua vida, algumas de muito
importância e destaque na atualidade.
➔ Em 1628, redigiu as Regras para a Direção do Espírito, obra sobre o método,
que ficará inacabada e só foi publicada após a sua morte.
➔ Em 1637, publicou em francês três ensaios, Dióptrica, Meteóricos e Geometria
➔ Em 1641, publicou ,em latim, as Meditações sobre Filosofia Primeira
➔ Em 1644 publicou os Princípios da Filosofia

● O que esteve na origem da teoria da origem e da possibilidade do


conhecimento Cartesiana?

Com o Renascimento, o interesse pela cultura clássica possibilitou o pensamento


não-aristotélico da Antiguidade na Europa. As ideias de Platão e das principais escolas
filosóficas do período helenístico — o estoicismo, o epicurismo e o ceticismo tornaram-
se conhecidas e discutidas nos centros cultos da Europa, e tiveram um profundo
impacto sobre o pensamento europeu dos séculos XVI e XVII. Assistiu-se então ao
enfraquecimento da concepção medieval do mundo, o que levou Descartes a rejeitar o
pensamento aristotélico-medieval.
Descartes rejeita então a forma medieval de compreender e explicar o mundo,
essa posição foi motivada por 3 razões.
➔ Fez-o porque considerava as teorias dos filósofos medievais duvidosas e incertas,
ou seja, não tinham o grau de certeza que ele considerava necessário para que
fossem conhecimento e por isso era possível duvidar da sua verdade, segundo
ele as teorias estavam sujeitas a dúvida porque estavam fundamentadas nas
ideia de Aristóteles que afirmava que todo o conhecimento tem a sua origem na
experiência. Portanto, Descartes contrariamente aos seus contemporâneos não
considerava que o conhecimento verdadeiro e indubitável tivesse como origem a
experiência, logo, a experiência não é um fundamento seguro e sólido para
oconhecimento.
➔ Outro motivo foi a oposição à metafísica tradicional. ele aceitava as crenças
essenciais do Cristianismo, a existência de Deus e a imortalidade da alma, mas
recusava o essencial da metafísica de Aristóteles e dos medievais, que dependia
de vários tipos de causas e de um infindável número de substâncias e de
distinções conceptuais as quais Descartes considerava desnecessárias. Embora
não tenha recusado a noção de substância, ele aceitou apenas dois tipos de
substâncias.
➔ Por fim, recusou também a ciência medieval, em particular, a física de
Aristóteles. Esta física recorria a diferentes tipos de causas para explicar os
objetos : a causa formal, a causa material, a causa eficiente e a causa final. A
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física de Aristóteles é por isso uma física finalista: tudo o que acontece é
explicado pelo seu propósito ou finalidade. Descartes recusou então esta
explicação e substitui-a por uma física mecanicista, que, tal como a física atual,
aceita apenas a causa eficiente e explica os fenómenos a partir de um número
muito reduzido de leis da natureza.

De forma resumida, Descartes recusa o pensamento medieval nos seguintes


pontos:

Origem do conhecimento
- o pensamento medieval afirma que o conhecimento tem origem nos sentidos
- Descartes afirma que o conhecimento tem origem na razão e é constituído por
verdades indubitáveis

Metafísica
- o pensamento medieval afirma que a realidade é constituída por um grande
número de substâncias.
- Descartes afirma que a realidade é constituída por um pequeno número de
substâncias.

Ciência
- o pensamento medieval afirma que a ciência é qualitativa e finalista, os
acontecimentos são explicados com base em vários tipos de causas.
- Descartes afirma que a ciência é quantitativa e mecanicista, usa apenas a causa
eficiente e um pequeno número de leis da natureza para explicar os objetos físicos e os
seres vivos.

Tendo isto em conta, Descartes definiu como objetivo substituir a concepção


aristotélico-medieval do mundo, uma concepção empirista, finalista e geocêntrica, por
uma nova conceção do mundo, uma concepção racionalista, mecanicista e heliocêntrica.
Para o concretizar, formulou um conjunto de teorias de caráter científico sobre o
mundo, o homem e os animais fundamentando essa concepção com uma teoria do
conhecimento e uma metafísica radicalmente diferentes das medievais, esta conceção
do conhecimento, em que as diferentes ciências são justificadas pela metafísica, é
ilustrada pela metáfora da árvore:
“[A] Filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a Metafísica, o tronco a
Física, e os ramos que saem do tronco são todas as outras ciências que, se
reduzem a três principais: a Medicina, a Mecânica e a Moral. (…)
Ora, como não é das raízes nem do tronco das árvores que se colhe os
frutos, mas apenas das extremidades dos ramos, a principal utilidade da
Filosofia depende daquelas suas partes que são aprendidas em último
lugar.” (Princípios de Filosofia, p. 22.)
Assim, para ele, a metafísica constitui o fundamento último de todo o
conhecimento, é a partir dela que se deduzem os princípios fundamentais da física, da
qual derivam, todas as outras ciências.

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Descartes viveu numa época de ceticismos e sentiu a necessidade de demonstrar
aos adeptos desta concepção que o conhecimento existe. Para isso ele vai defender
essencialmente duas teses:
➔ A primeira tese é a de que: só constituem conhecimento verdadeiro as crenças
verdadeiras e justificadas em razões indubitáveis.
➔ A segunda tese que Descartes vai defender é o fundacionalismo, ou seja, a ideia
que considera que o conhecimento é como um edifício de crenças, em que as
crenças mais básicas suportam as outras, da mesma forma que os andares
inferiores de um edifício suportam os outros.

● Como é que Descartes vai alcançar essas verdades indubitáveis?

Descartes tem o objetivo de fundamentar as ciências em bases sólidas e seguras


e demonstrar a possibilidade do conhecimento, para isso tem de alcançar fundamentos
indubitáveis, ou seja, verdades indubitáveis. Ele precisa de alcançar estas verdades para
que delas se possa deduzir outras verdades que por sua vez também serão indubitáveis.
Para encontrar estas verdades é necessário duvidar de todas as crenças e aceitar só
como verdadeiras aquelas que não aceitem a mínima hipótese de dúvida.

Descartes viveu numa época marcada pelo ceticismo e por isso decide adotar,
provisoriamente, o ceticismo e a dúvida para encontrar os fundamentos de todo o
conhecimento verdadeiro. O método de Descartes é então caracterizado pelo uso da
dúvida como um meio para alcançar a verdade. Na sua obra, o DISCURSO DO
MÉTODO, publicada em 1637, Descartes expõe o caminho percorrido por ele até
alcançar o cogito, a primeira verdade.

De ressaltar que Descartes não é cético, apenas adota uma atitude ceticista para
provar que o conhecimento é possível. Descartes têm o objetivo oposto ao dos céticos, o
objetivo dos mesmo é mostrar que não existe conhecimento enquanto que o objetivo de
Descartes é provar que existe conhecimento. O ceticismo é apenas aparente e um
resultado provisório da estratégia de Descartes para mostrar que existem verdades
indubitáveis.

● Da dúvida ao cogito

Descartes adota então a dúvida metódica que consiste em colocar em dúvida


todas as crenças, rejeitando posteriormente todas aquelas que não sejam inteiramente
indubitáveis. O filósofo define então apenas considerar algo como certo e indubitável e
tomá-lo como conhecimento se esse algo resistir à dúvida. Podemos então afirmar que
a dúvida é um meio para chegar à certeza, ao conhecimento verdadeiro.

“Agora que resolvera dedicar-me apenas à descoberta da verdade,


pensei que (..) era necessário rejeitar como falso tudo aquilo em que pudesse
imaginar a menor dúvida,a fim de ver, se após isso, ficaria qualquer coisa nas
minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável” (René Descartes, Discurso
do método)

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A dúvida pode então ser dividida em 3 níveis : 1º nível, ilusão dos sentidos; 2º
nível, indistinção entre sono e vigília; 3º nível, hipótese de um gênio maligno ou Deus
enganador.

1. Ilusão dos sentidos


- Descartes considera que os sentidos não são completamente
confiáveis
- O argumento usado por Descartes para fundamentar esta
afirmação é o de que os nossos sentidos por vezes enganam-nos,
por exemplo, as ilusões de ótica são prova disso,e por isso
devemos rejeitar todas as nossas crenças que sejam baseadas nos
sentidos, na ciência empírica.

“ Assim,porque os sentidos nos enganam algumas vezes eu quis supor


que nada há que seja como eles o fazem imaginar” (René Descartes, Discurso
do Método)

2. Indistinção entre sono e vigília


- Descartes considera que não é possível termos a certeza absoluta
de não estarmos a sonhar enquanto julgamos estar a percecionar
objetos.
- O argumento apresentado para fundamentar esta ideia é o de por
vezes estarmos a sonhar quando julgamos estar acordados e,
deste modo, talvez tudo aquilo que pensamos estar a observar
não passe de uma ilusão, um sonho.

“Finalmente,considerando que todos os pensamentos que temos quando


acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso
algum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara
acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus
sonhos" (René Descartes, Discurso do Método)
3. Hipótese do génio maligno ou Deus enganador
- Temos que considerar a hipótese de existir um Deus tão
poderoso e malévolo que esteja empenhado em fazer-nos viver
em ilusão
- O argumento utilizado é o de que sem que soubéssemos este
poderia controlar os nossos pensamentos e fazer-nos cometer
erros de raciocínio
- Descartes não afirma a sua existência mas sim a possibilidade
dela, e se caso ele existir então tudo aquilo em que acreditamos
admite alguma dúvida

“Todavia, está gravada no meu espírito uma velha crença, segundo a


qual existe um Deus que pode tudo e pelo qual fui criado tal como existo. Mas
quem me garante que ele não procedeu de modo que não houvesse nem terra,
nem céu, nem corpos extensos, nem figura, nem grandeza, nem lugar, e que, no
entanto, tudo isto me parecesse existir tal como agora? E mais ainda, assim
como concluo que os outros se enganam algumas vezes naquilo que pensam
saber com absoluta perfeição, também eu me podia enganar todas as vezes que
somasse dois e três ou contasse os lados de um quadrado.” (Meditações sobre a
Filosofia Primeira, pp. 110–111.)

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Podemos então concluir que nos 1º e 2º níveis da dúvida Descartes põe em causa
os dados empíricos, o conhecimento a posteriori, e o 3º nível, o expoente máximo da
radicalidade, põe em causa o conhecimento a priori. Com esta conclusão observamos
então que as crenças que têm por base ora os sentido ora a razão não fornecem verdades
indubitáveis, e podemos ainda afirmar que o conhecimento não é possível,
mergulhamos então num profundo ceticismo. No entanto, como referi anteriormente,
Descartes não é cético e por isso este aparente ceticismo é apenas um resultado
provisório e um meio para atingir o objetivo de Descartes : mostrar que o conhecimento
é possível, ou seja, a existência de verdades indubitáveis.

Depois de tanto duvidar, Descartes chega ao cogito. O raciocínio seguido pelo


mesmo para alcançar o cogito, a primeira verdade indubitável é o seguinte: Descarte
reconhece a sua existência pois se ele está a duvidar então está a pensar e se pensa tem
que existir, porque para haver pensamento é necessário uma entidade em que o
pensamento ocorra. Ele conclui então que há pelo menos uma coisa da qual não
podemos duvidar, a nossa existência como seres pensantes, Res Cogitans.
“Mas ,logo de seguida, enquanto queria pensar que tudo era falso, eu,
que assim pensava, era necessariamente alguma coisa. E, notando que esta
verdade - eu penso, logo existo- era tão firme e tão certa que todas as
extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes para a abalar, julguei
que a podia aceitar para primeiro princípio da filosofia que procurava"
(Discurso do método, pp.50-51)

No entanto, o cogito apenas assegura-nos da nossa existência como seres


pensantes, levando nos a uma situação solipsista ( apenas existimos como pensamento),
então Descartes afirma que somos constituídos por um corpo (res extensa) e a alma ou
pensamento (Res Cogitans), substâncias que não se misturam, levando-o a assumir uma
posição dualista (existência de dois princípios necessários, mas opostos). Considera
ainda que a alma é mais fácil de conhecer do que o corpo
“Depois, examinando atentamente o que eu era e vendo que podia supor
que não tinha corpo algum e que não havia nenhum mundo, nem
qualquer lugar onde eu existisse; mas que não podia fingir, para isso, que
eu não existia; e que, pelo contrário, justamente porque pensava ao
duvidar da verdade das outras coisas, seguia-se muito evidentemente e
muito certamente que eu existia; (…) compreendi que era uma substância,
cuja essência ou natureza é unicamente pensar e que, para existir, não
precisa de nenhum lugar nem depende de coisa alguma material. De
maneira que esse eu, isto é, a alma pela qual sou o que sou, é inteiramente
distinta do corpo, e até mais fácil de conhecer do que ele, e ainda que este
não existisse, ela não deixaria de ser tudo o que é.” (Discurso do Método,
pp. 51–52.)

● O critério da verdade

Através do cogito, a primeira verdade indubitável pois surge clara e


distintamente, desta conceção Descartes concluir então uma verdade indubitável só o é
se for adquirida com clareza e distinção.
Mas o que é esta clareza e distinção que Descartes fala?
➔ A ideia é clara quando a razão nos mostra que ela é verdadeira sem
possibilidade de erro ou dúvida
➔ A ideia é distinta quando não se confunde com nenhuma outra ideia

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Descartes define então o critério da verdade, que consiste no seguinte: “É
verdadeiro tudo aquilo que concebemos tão clara e distintamente como a ideia do
cogito”

“Depois disso,considerei o que é indispensável a uma proposição para ser


verdadeira e certa. (...) E, tendo notado que não há nada no “eu penso, logo
existo", que me garanta que digo a verdade, a não ser que vejo claramente que
para pesar é preciso existir, julguei que podia admitir como regra geral que é
verdade tudo aquilo que concebemos muito claramente e distintamente”
(Discurso do Método)

→ O cogito ergo sum

● O que é, então, o cogito?


➔ Uma entidade que é puro pensamento. É por isso que Descartes lhe
chama também algumas vezes espírito, alma, intelecto, ou razão. É por
isso uma substância pensante, Res Cogitans, não tem forma, não ocupa
espaço e não tem extensão.
“Mas o que sou eu então? Uma coisa pensante. O que quer isto
dizer? Quer dizer: uma coisa que duvida, que compreende, que
afirma, que nega, que quer, que não quer, que também imagina, e
que sente.” (Meditações sobre a Filosofia Primeira, p. 124.)
➔ É uma ideia clara e distinta, uma ideia inata, e uma intuição racional,
pois é alcançado através da intuição e surge clara e distintamente
➔ Constitui um fundamento indubitável do conhecimento, pois nem
mesmo o gênio maligno poderia enganar-nos no que diz respeito à nossa
própria existência, e a primeira verdade indubitável pois resiste à dúvida.
“Depois, examinando atentamente que coisa eu era, e vendo que
podia supor que não tinha corpo e que não havia qualquer mundo
ou qualquer lugar onde eu existisse; mas que , apesar disso, não
podia admitir que não existia; e que, antes pelo contrário, por isso
mesmo que pensava, ao duvidar das outras coisas, tinha de
admitir como evidente e muito certo que existia” (Discurso do
método)
➔ É a partir dele que Descartes irá reconstruir o conhecimento é por isso o
ponto de partida do saber
➔ É distinto do corpo e melhor conhecido do que ele
“Ao passo que bastava que tivesse deixado de pensar para não
ter nenhuma razão para crer que existia (...) De maneira que esse eu,
isto é, a alma [ou] pensamento pelo qual sou o que sou [um ser
pensante] é inteiramente distinto do corpo,mais fácil de conhecer do
que este, o qual, embora não existisse, não impediria que ela fosse o que
é” (Discurso do Método)

→ Considerações finais sobre o racionalismo dogmático de Descartes

O cogito é uma verdade alcançada através da razão e não dos sentidos e por isso
apenas a razão podemos conceber a nossa própria existência como uma verdade

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indubitável. Se o cogito é a base do conhecimento então podemos afirmar que o
conhecimento tem origem na razão e não nos sentidos.
Esta conclusão retirada por Descartes faz dele um racionalista,e por isso
considera que a origem do conhecimento é a razão, contrariamente ao seus
contemporâneos, que consideravam ser os sentidos.
Podemos então concluir que as principais características do racionalismo
Cartesiano são:
➔ Para alcançar um conhecimento indubitável recorre, provisoriamente, à
dúvida
➔ Rejeita o conhecimento sensorial e perceptivo como fonte de
conhecimento, ou seja, a origem do conhecimento não são os sentidos
➔ Considera o cogito como a primeira ideia indubitável e é a partir dele que
se irá desenvolver o conhecimento, também a partir dele estabelece o
critério da verdade
➔ Afirma que a origem do conhecimento é a razão, ou seja, é a principal
fonte do conhecimento
➔ Não é cético, apenas adotou, provisoriamente, o ceticismo como forma
de alcançar o conhecimento indubitável
➔ Afirma que o conhecimento é possível e pode ser alcançado através da
intuição racional e da dedução, as duas operações da razão
Além de racionalista, Descartes é dogmático pois confiou na razão para alcançar
o conhecimento indubitável

→ Críticas ao cogito e à tese cartesiana

A tese Cartesiana foi sujeita a várias críticas, destacando-se o chamado Círculo


Cartesiano e outras objeções elaboradas por David Hume.

● Círculo Cartesiano
Esta objeção foi formulada pela primeira vez por Antoine Arnauld. Expressa-se
da seguinte forma:
- Descartes afirma que Deus é a garantia da verdade do que
conhecemos com clareza e distinção, mas ao mesmo tempo usa a
clareza e distinção para provar a existência de Deus (uma vez que
as premissas da sua prova da existência de Deus são por ele
consideradas claras e distintas). Descartes, deste modo, raciocina
em círculo e, portanto, comete uma falácia da circularidade.

● A dúvida metódica é impossível

Hume apresenta objeções à dúvida metódica. Ele considera que este ceticismo
extremo é impossível, está para além daquilo que os seres humanos são capazes e por
isso a dúvida metódica é impraticável. Mesmo que a dúvida fosse praticável, não seria
possível ir para além dela sem usar as faculdades racionais que a dúvida põe em
questão. Hume afirma então que o método de Descartes não é exequível.

● Não temos provas da existência do eu

A crença na existência do cogito é fundamental ao projeto de Descartes, é


através da sua análise que Descartes prova a existência de Deus e recupera como
verdades indubitáveis tudo o que a dúvida metódica pôs em questão.

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Hume afirma que não temos nenhuma ideia de eu, pois para ele todas as nossas
ideias têm origem em impressões e no caso não temos nenhuma impressão que possa
estar na origem da ideia de eu. Para Hume o eu, tal como o entendemos, não existe, ele
apenas considera que, através da experiência, tudo o que podemos dizer é que o "eu" é
uma coleção de percepções. Se Hume tiver razão, o cogito é apenas uma ficção e,
portanto, não pode ter o papel absolutamente essencial que Descartes lhe atribui na sua
filosofia.
Tal como deixei explícito anteriormente este trabalho centra-se essencialmente
na descoberta do cogito e na sua importância, e por isso irei apresentar os meus contra
argumentos à crítica feita ao mesmo. Hume diz então que não podemos ter a certeza da
existência do “eu”, considerando apenas como uma coleção de percepções e que não
temos nenhuma impressão da ideia de “eu”, no entanto, se não houver um “eu”, uma
alma, um pensamento como podemos originar as percepções? É necessário haver algo
que as percepcione e que as consolide, sem pensamento então não há mente, não há
raciocínio, ou seja, não haveria nada e tão pouco poderíamos debater este assunto
porque se o fazemos é porque estamos a raciocinar, a pensar e por isso existimos.

● Não é possível provar a existência do mundo

Descartes prova a existência do mundo exterior e ao argumentar que as ideias


cuja causa atribuímos a objetos físicos têm, de facto, essa causa. Mais uma vez, Hume
opõe-se à tese cartesiana. Ele nega que seja possível provar a existência do mundo
exterior pois defende que só temos experiência direta das representações na nossa
mente, não dos objetos físicos.

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Conclusão

Após o estudo do racionalismo de Descartes conclui que, apesar de alguns erros


e contradições que devem ser melhorados e esclarecidos, é uma forte candidata para
ser considerada a resposta da questão filosófica da possibilidade e origem do
conhecimento que é muito complexa e permanece em aberto.

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Webgrafia
● https://dicionario.priberam.org/dualismo
● https://www.diferenca.com/racionalismo-e-empirismo/
● https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/empirismo.htm
● https://pt.wikipedia.org/wiki/Racionalismo
● https://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes
● https://www.ebiografia.com/rene_descartes/
● https://www.todamateria.com.br/descartes/
● https://criticanarede.com/his_descartes.html
● https://www.studocu.com/pt/document/ensino-secundario-portugal/
filosofia/o-problema-da-origem-do-conhecimento-resumos/10014641
● Power points fornecidos pela professora

Bibliografia
● Descartes, René, Discurso do Método, Lisboa: Edições 70, 2013.
● Descartes, René, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra:
Livraria Almedina, 1992.
● Descartes, René, Princípios de Filosofia, Lisboa: Edições 70, 2006.
● Anotações do caderno da disciplina
● Resumos da minha autoria

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