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FILOSOFIA
AULA 3
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CONVERSA INICIAL
TEORIAS DO CONHECIMENTO
questão que envolve quais são os elementos e condições necessárias para que existam ideias e
pensamentos em nossa mente. Veremos no primeiro tema dessa aula que o pensador francês do
século XVII, René Descartes e pai da corrente chamada “racionalismo”, afirma que as ideias
verdadeiras têm origem na própria mente e estão conosco desde o nosso nascimento. O chamado
empirismo inglês, que será abordado no Tema 2, teve origem com Bacon ainda no século XVI, mas
obteve seu maior desenvolvimento no século seguinte com Locke e Hume. Esta corrente
promoveu críticas à concepção cartesiana ao considerar que a origem das ideias são as
Estudaremos no Tema 3 como Kant foi o grande responsável na solução da disputa entre
empiristas e racionalistas com a obra Crítica da Razão Pura no final do século XVIII. Além disso,
No Tema 4, abordaremos o modo como o pensador alemão Hegel (1770- 1831) elaborou a
concepção dialética a partir de bases idealistas para conceber sua teoria do conhecimento. No
Tema 5, veremos a oposição de Marx (1818-1883) ao idealismo de Hegel com a elaboração do que
Hegel e a dialética materialista de Marx, identificaremos que para a primeira das teorias, a origem
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ou materiais, portanto, a forma como a economia e o trabalho estão organizados a partir das
alicerces no que diz respeito à teoria do conhecimento. Isto porque na Antiguidade e Idade Média,
tanto os pensadores gregos quanto os clérigos da Igreja Católica, indicavam que a origem do
entidade divina, que era o caso de Platão, que tomava o Mundo Inteligível como dotado de todas as
verdades. Deus era tomado como criador do mundo e da natureza ou Primeiro Motor do Universo,
conforme indicava Aristóteles, e era reafirmado por muitos teólogos medievais. Nessa estrutura
de pensamento, a humanidade era tomada como passiva em relação a Deus ou à própria natureza.
A novidade trazida por Descartes no século XVII foi a afirmação de que a origem das ideias e dos
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pensamentos não seria Deus, senão o próprio indivíduo, fundando aquilo que o pesquisador
Descartes estabelece uma nova teoria do conhecimento à medida que afirma a mente ou a
razão humana como protagonista principal do conhecimento, sendo Deus e as leis da natureza
secundárias diante das verdades e saberes produzidos de forma inata pela consciência. Vamos
esse termo de outras duas palavras que se parecem, mas possuem significados diferentes.
assemelhem, os sentidos são bem diferentes. O “racionalismo” é uma teoria filosófica criada no
século XVII por René Descartes, cuja principal característica é afirmação da existência de ideias
inatas, ou seja, ideias com as quais já nascemos e que não dependem do aparelho sensorial ou dos
sentidos (paladar, tato, olfato, audição ou visão) para se constituírem em nossa mente. O
racionalismo, portanto, estabelece que a razão humana é a origem de todas as verdades existentes
na própria mente, não derivando de Deus ou do corpo. O racionalismo, por isso, é também
teologia medieval, responsável por promover a argumentação racional sobre a existência de Deus
seria também uma variação do uso da “racionalidade”. Por fim, o termo “racionalização” passou a
ser empregado com maior vigor no século XIX na cultura ocidental. Seu significado está
1.2 O COGITO
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Descartes é um pesador francês que durante a sua infância e juventude estudou num colégio
Jesuíta chamado La Fleche, no início do século XVII. Nesse colégio, aprendeu a Escolástica e,
portanto, uma série de concepções científicas depois criticadas pela ciência de Copérnico e Galileu,
conforme estudamos anteriormente. Descartes se defrontou com duas visões opostas: de um lado,
a Escolástica, que tomava a ordem da natureza a partir de Deus; do outro, uma nova ciência
inaugurada por Copérnico e Galileu, que concedia maior autonomia intelectual ao gênio humano e
Ainda jovem, Descartes conviveu diante de uma grande dúvida, isto é, em qual das duas
concepções de mundo deveria confiar: na tradição da Escolástica ou na nova ciência. Esse dilema
fez com que despertasse nele o projeto de refundar toda a filosofia, relato presente nas obras
Discurso do Método (1973) e Meditações Metafísicas (1973), publicadas respectivamente nos anos
de 1637 e 1641. A refundação da filosofia deveria partir da dúvida radical, também chamada de
“dúvida hiperbólica”, o que significa dizer que é necessário duvidar de absolutamente tudo: Deus
existe? Como diferenciar o sonho da realidade? O mundo a minha volta é real? Eu existo? Seria eu
um louco imaginando um mundo que parece ser real? Deus poderia ter inventado um mundo para
constata que ao duvidar de tudo ou mesmo que estejamos nesse momento no meio de um sonho
imaginando uma aula de filosofia, há um elemento encontrado na dúvida que se estabelece como
verdadeiro. Trata-se do cogito, termo que em latim pode ser traduzido como pensar, refletir,
duvidar ou qualquer outra operação da mente. Descartes constata a primeira verdade, “Penso,
logo existo” (Cogito ergo sum em latim, que poderia ser traduzido também como “duvido, por isto
sou”). A constatação do chamado cogito cartesiano revela que mesmo que tudo seja uma farsa, ou
que Deus tenha inventado um mundo para nos enganar, ainda que sejamos loucos e imaginemos
ou sonhemos um mundo irreal; ou mesmo que as impressões sensoriais sejam mentirosas, não se
pode duvidar da própria dúvida ou do próprio pensamento. A dúvida (ou cogito) torna-se a
primeira verdade, antes que se constate a existência de Deus ou se o mundo em nossa volta é real.
Fecharei agora os olhos, tamparei meus ouvidos, desviar-me-ei de todos os meus sentidos,
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apagarei mesmo de meu pensamento todas as imagens de coisas corporais, ou, ao menos, uma
vez que mal se pode fazê-lo, reputá-las-ei como vãs e como falsas; e assim, entretendo-me
apenas comigo mesmo e considerando meu interior, empreenderei tornar-me pouco a pouco
mais conhecido e mais familiar a mim mesmo. Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que
afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e
não quer, que também imagina e que sente. Pois, como notei acima, conquanto as coisas que
sinto e imagino não sejam talvez absolutamente nada fora de mim e nelas mesmas, estou,
entretanto, certo de que essas maneiras de pensar, que chamo sentimentos e imaginações,
somente na medida em que são maneiras de pensar, residem e se encontram certamente em
mim. E nesse pouco que acabo de dizer, creio relatado tudo o que sei verdadeiramente, ou, pelo
menos, tudo o que até aqui notei que sabia. (Descartes, 1973, p. 27)
O cogito revela ser parte integrante do que se entende como racionalismo. Trata-se de uma
ideia inata com a qual já nascemos e que não depende das sensações ou do mundo externo para
existir. Descartes funda uma metafísica moderna, afirma Franklin Leopoldo (2001), à medida que a
primeira verdade é o próprio pensamento ou dúvida, e não a existência de Deus. Antes de tudo,
somos uma substância ou coisa pensante (rex cogitans), que se distingue de tudo o que é material
ou corporal (rex extensa). Descartes considera outras ideias inatas além do cogito, como a ideia de
Deus, do infinito e absoluto, as formas geométricas perfeitas ou os números, uma vez que
sonhando ou acordado, sendo ou não o mundo a minha volta real, o triângulo sempre terá três
Descartes buscará comprovar a existência de Deus como uma verdade secundária. Seu
raciocínio gira em torno de reconhecer que nosso pensamento (o cogito) alcança no máximo como
primeira verdade o próprio pensamento ou dúvida. No entanto, o filósofo reconhece que somos
seres finitos e limitados, de modo que mesmo que tudo o que esteja a nossa volta seja uma ilusão,
não poderia ter sido nosso pensamento o responsável pela criação de cada detalhe dessa suposta
realidade. Dessa forma, nossa mente não poderia ter dado origem a cada folha presente em todas
as árvores e muito menos a criadora de cada página e letra de um determinado livro. Por ser
limitada e finita, não se pode dizer que nossa mente seria a responsável por elaborar a
Descartes reconhece que apenas um ser infinito, absoluto e superior, portanto Deus, poderia
ter dado origem ao mundo, ainda que ele possa ser uma ilusão. O filósofo ainda especula se
poderia haver um Deus maligno ou um Gênio enganador que teriam criado este mundo para
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porque um ser absoluto e infinito apenas poderia ser necessariamente bom, de modo que o mundo
diante de nossos olhos não pode ser uma ilusão, senão uma realidade, pois Deus sendo infinito é
existência do cogito e o mundo concreto, físico ou a natureza, por ser Seu criador.
Investigaremos no tópico 2 da aula uma linha de pensamento filosófica que se tornou oposta
empirismo. Inaugurado por Francis Bacon ainda no século XVI, esta teoria ganhou maior vigor no
século seguinte nas mãos de John Locke e David Hume, conforme veremos a seguir. Mas o que
define o empirismo? Estudaremos que o empirismo parte do pressuposto de que todas as ideias
constituídas na nossa mente não são inatas, ou seja, não são ideias com as quais já nascemos,
senão sua origem remete às sensações corporais. Trata-se uma filosofia que se opõe ao
fundador do empirismo inglês, sobretudo quando escreve a obra Novum Organum (1999) no ano
de 1620. O pensador foi um nobre inglês que (acredita-se) tenha estudado em Florença, onde teve
contato com a ciência experimental de Galileu. Lembremos que Galileu é o pai dos procedimentos
experimentais na ciência, segundo os quais o conhecimento apenas pode ser obtido por meio da
Impactado por esta concepção, Bacon leva a noção de experimentação científica para a
porque a noção de experiência não se limita apenas à revelação de elementos científicos. A noção
de experiência abarca igualmente a constatação de que nossas ideias têm origem nas sensações ou
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experiências sensoriais. Segundo Bacon, todo conhecimento deve ser baseado em dados da
experiência.
É interessante notar que o empirismo inglês se constitui como uma espécie de consenso em
desenvolvimento de máquinas que servirão nos séculos XVIII e XIX à Revolução Industrial, que
político de John Locke (que será discutido futuramente) e o liberalismo econômico de Adam Smith
(1723-1790). Estas teorias pressupõem que é por meio da experiência e da posse ou propriedade
Legenda: John Locke foi o principal pensador inglês a criticar o racionalismo de Descartes.
Em 1695, John Locke (1632-1704) escreveu a obra Ensaio acerca do Entendimento Humano
(1999). A mais famosa tese do empirismo desenvolvida por John Locke é a “tabula rasa”. Trata-se
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da crítica ao cogito e o inatismo cartesianos. Considera que todas as ideias têm origem nas
experiências sensíveis. A mente é como uma folha em branco, por isso o termo “tábula rasa”, que é
preenchida a partir das sensações (os cinco sentidos), sendo a memória o elemento-chave para a
recordação e justaposição de sensações. Com este conceito, o filósofo queria dizer que ao
nascermos não temos nenhum princípio ou ideia inata e tudo que aprendemos e processamos em
nossa mente é originado com base nas experiências feitas e adquiridas durante a vida. Locke é um
Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos, pois, que a mente é, como
dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma ideia; como
ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e ilimitada fantasia do
homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da
razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso
mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre nossos
Locke opõe a tábula rasa ao cogito cartesiano. De um lado, temos com Locke a noção de que
todas as nossas ideias e tudo o que somos derivam das sensações; do outro lado, o racionalismo
cartesiano afirma a existência do inatismo, considerando que todas as ideias verdadeiras em nossa
mente surgiram do próprio pensamento e não têm vínculos com a experiência sensorial.
O pensador escocês David Hume (1711-1776) escreveu em 1739 a obra Tratado da Natureza
Humana (2002). Na realidade, Hume não realiza críticas aos seus antecessores defensores do
empirismo, senão uma espécie de aprimoramento dessas concepções. Avança na concepção de
empirismo à medida que a novidade passa a ser apresentação de que a formação das ideias em
nossa mente não depende unicamente das sensações, mas também dos hábitos ou costumes
causados por estas experiências e que acabam por produzir ideias cada vez mais complexas na
mente. Por exemplo: como sabemos que amanhã devemos trabalhar? O que garante que o Sol
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Para o empirista David Hume, as impressões são obtidas pela experiência, isto é, pela
sensação, percepção e pelo hábito. Estas condicionam a memória por meio de um processo de
associação de ideias. É assim que se formam os pensamentos cada vez mais complexos. O próprio
hábito de associar ideias, pelas diferenças ou semelhanças, formam as noções presentes na mente.
Hume lembra como um jogador de bilhar aprimora seu jogo por meio do hábito ao lado da
experiência. Ele não utiliza instrumentos geométricos para ser habilidoso. Sua habilidade é
adquirida por meio da experiência e sucessivos erros, tentativas e acertos que conduzem a práticas
e habilidade incríveis.
ocidental.
Razão Pura (2012) publicada em 1781. Essa obra é considerada uma das mais importantes do
pensamento filosófico moderno por dois grandes motivos. O primeiro deles gira em torno do fato
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de que Kant foi o responsável por afastar as explicações metafísicas da filosofia, o que significa
dizer que especular sobre a existência de Deus, do Ser ou da natureza humana são temas muito
subjetivos para que nossa razão possa dar um veredito último ou absoluto a respeito. Kant
também protagonizou uma solução para o debate entre empiristas e racionalistas sobre a origem
Na Crítica da Razão Pura, Kant procura superar a dicotomia ou oposição entre o racionalismo e
o empirismo que percorria toda a filosofia dos séculos XVII e XVIII. Kant procura investigar as
negado pelos empiristas. O filósofo alemão teve sua atenção despertada para o problema do
conhecimento após ler a obra do empirista Hume, que, segundo o próprio Kant, o acordou do
“sonho dogmático”, ou seja, o fez criticar certas presunções da razão (pura) ao tentar explicitar
elementos subjetivos como a existência de Deus, o que é o infinito ou mesmo o que é o Ser ou a
natureza humana.
A solução para a oposição entre o racionalismo e o empirismo foi chamada por ele mesmo de
“Revolução copernicana da filosofia”, numa referência à revolução científica feita por Copérnico no
campo da astronomia e que mudou os paradigmas do conhecimento humano, pois alterou a visão
sobre mundo e da posição que a humanidade ocupa no universo. O primeiro passo para
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A diferença apontada por Kant entre “a coisa em si” e o “fenômeno” revela que o primeiro
conceito é inalcançável pela nossa mente, demonstrando os limites da razão. A questão sobre a
existência de Deus ou da alma deixa de ser relevante para a filosofia. Não significa dizer que a
filosofia não possa se questionar sobre Deus, a alma ou a essência de todas as coisas, senão
conduz à constatação de que a mente é limitada e incapaz de dar uma resposta certa e segura a
respeito. A crítica da razão pura procura questionar os subjetivismos da própria razão. Ao verificar
que é impossível conhecermos “a coisa em si”, nos aproximamos do ato de perguntar se o número
de estrelas em todo universo é par ou ímpar. Kant reconhece que a razão humana está limitada a
conhecer os “fenômenos”. Para a filosofia, um fenômeno não tem relação com o que
consideramos fenomenal, uma exceção ou evento fantástico. Fenômeno designa tudo aquilo que
se manifesta e que é apreensível pelas nossas sensações e pensamentos, tal como o latido de um
cachorro, a chuva, uma folha em branco ou mesmo esse texto que você lê agora.
O fato é que depois de Kant nunca mais nenhum outro grande pensador da cultura ocidental
procurou provar ontologicamente (ciência do ser) a existência de Deus, ou discutir o que é a alma
ou a natureza humana. Essas concepções representam a razão pura ou “a coisa em si”. O filósofo
Lebrun expôs de forma interessante esta abordagem no seu conhecido livro intitulado Kant e o fim
da metafísica (1993).
Do ponto vista estético, na obra Crítica da faculdade do Juízo (1995), publicada em 1790, Kant
afirma que o belo é uma experiência subjetiva particular. Não há uma noção universal de belo que
seja eterna, imutável ou absoluta. O belo tem origem na forma como uma obra se manifesta frente
De certo modo, Kant tentou provar que tanto os inatistas (os racionalistas, que consideravam
certas ideias inatas na alma) quanto os empiristas estavam errados. Não há ideias inatas, conforme
concebia Descartes, mas nossa mente tampouco não é uma tábula rasa, como queria Locke. Ou
afirmavam que eram adquiridos pela experiência. Kant postula que a razão é inata, mas é uma
estrutura vazia e sem conteúdo, que não depende da experiência para existir.
Em outras palavras, Kant estabelece que as capacidades mentais (como a noção de tempo,
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espaço, entre outras faculdades) são inatas, porém os conteúdos são apreendidos por meio da
experiência. Desta maneira, a estrutura da razão é inata e universal, enquanto os conteúdos são
empíricos, obtidos pela experiência. Uma metáfora que nos ajuda entender o raciocínio de Kant
seria comparar suas reflexões com o aprendizado de idiomas. Podemos dizer que todos os seres
humanos nascem com a capacidade inata de falar qualquer idioma com facilidade depois de um
momento de aprendizagem na infância. Porém, apenas é possível aprender este ou qualquer outro
idioma se um indivíduo possuir a experiência e vivenciar a cultura em que o idioma é falado por
outros sujeitos. Nesse caso, a capacidade de aprender e falar um idioma é inato, no entanto, só é
possível aprendê-lo empiricamente. Por isso, Kant afirma que as faculdades são inatas e os
Segundo o filósofo, não podemos conhecer a realidade das coisas e do mundo, o que ele
chamou de noumeno, “a coisa em si”. A razão humana só pode conhecer aquilo que recebeu com a
percepção a posteriori, ou seja, os “fenômenos” como cor, tamanho etc. As formas são inatas (a
comprovado pela razão ou pela experiência. A realidade não está nas coisas (já que não as
podemos conhecer em última análise), mas em nós, porque vemos o mundo “filtrado e
processado” pela nossa razão e sentidos. Depois de Kant, a Teoria do Conhecimento tomou um
rumo diferente se comparada ao racionalismo e empirismo. A solução dada ao tema pelo filósofo
não eliminou as discussões e os questionamentos, mas deu-lhes um limite. Eis a Crítica da Razão
Pura.
responsável por conceber um novo método de análise da história e da construção das ideias. Esse
1807.
Em Hegel a lógica dialética representa o movimento da história dado pela oposição entre tese,
(Aufhebung) poderia ser traduzida ao mesmo tempo como construir, destruir e elevar (ou superar).
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A dialética hegeliana é conhecida como idealista. Isto porque a obra de Hegel é tida por
muitos estudiosos como o “último suspiro” da metafísica na filosofia ocidental. Hegel estabelece a
existência do que designa como “Espírito Absoluto”, uma figura ideal e racional, origem de toda a
realidade e conquistas racionais. O Espírito Absoluto é uma entidade divina, um Deus, é racional e
anterior à existência humana, mas se realiza progressivamente na história por meio da ação de
certos indivíduos extraordinários. Hegel afirma que o Espírito Absoluto é capturado de forma
gradual e fragmentada por meio de indivíduos excepcionais, ilustres e raros (poetas, filósofos,
Seu idealismo se deve ao fato de que a origem da realidade e de todas as ideias são o Espírito
Absoluto, por isto afirma várias vezes na obra: o que é real é racional e o que é racional é real, o que
significa dizer que primeiro a ideia ou a razão formam e transformam o mundo material ou
concreto e, em seguida, a realidade, ao entrar em confronto dialético com a razão, passa a exigir a
elaboração de novas ideias, e assim sucessivamente. O esquema a seguir revela que a razão e as
Hegel indica que quem faz a história são os indivíduos excepcionais. Foram responsáveis por
história, rumo à perfectibilidade. Cada um dos indivíduos excepcionais contribuiu com o progresso
humano capturando uma ideia, uma parte ou um fragmento do Espírito Absoluto, como se
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Espírito Absoluto. De forma permanente, cada parte capturada se opõe à anterior, dando origem a
um novo elemento. Um exemplo disso seriam as oposições entre a visão espiritualista de Platão e
dada por Kant, como síntese dessa contradição. O progresso da humanidade se dá por meio da
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pensador buscou inverter a dialética hegeliana, de caráter idealista, conforme vimos. No seu lugar,
Marx propôs uma nova abordagem dialética, que foi denominada como materialismo histórico-
Embora Marx seja mais conhecido por suas concepções revolucionárias socialistas e crítica ao
capitalismo, é importante frisar que em sua juventude três escritos formam o que pode se verificar
como sendo as bases filosóficas que constituem o materialismo histórico-dialético. Estes textos
foram publicados postumamente: Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (2005), escrita em 1843,
texto elaborado em 1844 e publicado pelos soviéticos em 1932; e A ideologia alemã (2007), escrito
Nessas obras Marx promoveu a inversão da dialética de Hegel, isto é, colocou-a de ponta-
cabeça, pois considera que a origem de nossas ideias, comportamentos e a forma como a realidade
é organizada pelos indivíduos não têm origem no Espírito Absoluto, senão nas relações sociais a
partir de bases materiais econômicas, ou seja, de acordo como o trabalho e o domínio sobre a
estamos nos referindo à noção de que a dialética marxista é materialista, histórica e científica,
opondo-se às interpretações subjetivistas dos idealistas, sobretudo Hegel. Portanto, Marx inverteu
concepções ideais, senão as relações econômicas (denominas por Marx como condições
históricas). As condições materiais ou econômicas (ou seja, a maneira como a realidade está
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realidade. No primeiro volume da obra O Capital (1995), publicada em 1867, Marx denomina a
Hegel afirmava que apenas os indivíduos excepcionais fazem a história, capturam o Espírito
Absoluto e o distribuem aos demais indivíduos comuns. Na obra O 18 Brumário de Luís Napoleão
(1997), Marx inverte essa premissa, considerando que todos os indivíduos fazem a História: "Os
homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob
circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e
NA PRÁTICA
É possível que nos deparemos com discursos que de alguma forma reproduzam argumentos
histórico-dialéticos. Elabore por meio de uma expressão artística (vídeo, quadrinhos, charges,
entre outras) um diálogo entre pelo menos duas das correntes estudadas nesse capítulo. O
objetivo é que você traduza numa forma estética o que aprendemos na aula, tendo como foco a
FINALIZANDO
empiristas rejeitam a existência de ideias inatas e afirmam que todos os pensamentos têm origem
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nas experiências sensíveis ou corporais. No Tema 3 foi investigada a solução para a oposição entre
empiristas e racionalistas por meio da obra Crítica da Razão Pura, de Kant, responsável por impor
dialética hegeliana e seu teor idealista, enquanto o Tema 5 refletiu sobre a constituição do
REFERÊNCIAS
DESCARTES, R. Meditações metafísicas. In: Os pensadores, vol. XV. São Paulo: Abril Cultural,
1973.
HEGEL. A fenomenologia do espírito. In: Os pensadores, vol. XXX. São Paulo: Abril Cultural,
1974.
HUME, D. Tratado da Natureza Humana. Tradução de Débora Danowski. São Paulo: Editora
da Unesp, 2002.
1999.
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