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DESENVOLVIMENTO
HUMANO
AULA 3

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Prof. Cassio Gonçalves de Azevedo

CONVERSA INICIAL

Vimos anteriormente algumas características dos elementos e processos incutidos no


desenvolvimento psicossexual que participam na estruturação da personalidade, como o recalque

e o complexo de Édipo, bem como algumas características das pulsões parciais que compõem a

libido.

Nesta aula, detalharemos as fases do dito desenvolvimento psicossexual, ressaltando


primeiro um traço bastante distinto da teoria das fases freudiana, sua sobreposição, para destacar

a complexidade inerente à metapsicologia freudiana no que diz respeito ao desenvolvimento da

personalidade e a constituição da subjetividade.

Exploraremos a fase oral, anal, fálica, de latência e genital, para, ao final, na sessão “Na

prática”, apresentarmos um caso concreto em que o arcabouço teórico e metodológico produzido

pela clínica e pesquisa em psicanálise se mostra imprescindível para a sua compreensão.

TEMA 1 – AS FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

Conforme já vimos, o desenvolvimento psicossexual não é linearmente progressivo, mas

complexo e dinâmico, além de regressivo, à medida que as fases coexistem e as regressões ao

infantilismo das pulsões parciais se verifica em traços da sexualidade normal e patológica. As fases

não são superadas nem tampouco o infantil se limita à infância

Na elaboração de sua hipótese sobre o desenvolvimento pulsional, Freud (1905/1980) aponta

para a marca da sobreposição que se constituirá como característica do processo de


subjetivação, em que os modos mais arcaicos do desenvolvimento permanecem presentes,

também, na sexualidade do adulto. Assim, o adulto portará para sempre o infantil que o

constituiu. As pulsões parciais serão submetidas à ação do recalque e do processo secundário,

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mas nunca abandonarão seus intentos de retorno ao prazer primordial, agora elaborado

teoricamente como fantasia de desejo. (Zavaroni et al., 2007, p. 68)

O desenvolvimento psicossexual é o processo por meio do qual a libido (pulsão sexual) se

desenvolve atravessada pelos cinco estágios: a fase oral, anal, fálica, de latência e genital.

Essa energia tem sua fonte nas zonas erógenas, é uma energia sexual e é o componente da vida
psíquica humana. Para Freud, o movimento produzido na alma é causado pela libido, que se
encontra distribuída desorganizadamente no corpo da criança e só em um momento posterior

encontra uma organização que a orientará na busca da satisfação sexual. (Furtado; Vieira, 2014,
p. 97)

A psicanálise, entretanto, não é uma teoria desenvolvimentista propriamente dita, ou pelo

menos não no sentido tradicional de conceber o desenvolvimento humano em fases que se

sucedem. “Não há nenhum tipo de superação ou prolongamento de uma fase na outra” (Furtado;

Vieira, 2014, p. 97).

Não há cumulatividade de estruturas, tal como acontece na teoria de Jean Piaget (2001),

durante o desenvolvimento dos seres humanos. Os estágios da organização da libido para


Freud, são aqueles momentos em que certos impulsos relacionados com partes específicas do

corpo da criança adquirem privilégio em relação aos outros. Isso não implica que outros
impulsos não possam estar atuando ao mesmo tempo ou que os anteriores tenham sido

superados e/ou deixado de atuar. (Furtado; Vieira, 2014, p. 97)

Esse é, sem dúvida, um traço bastante distinto desse segmento da teoria freudiana no que
tange ao desenvolvimento humano. Tanto no que concerne ao desenvolvimento filogenético, em

que as fases atravessadas pela humanidade em termos evolutivos não teriam sido superadas, mas

coexistiriam com o homem “evoluído”.

Assim, também no plano ontogenético, as fases do desenvolvimento não são superadas, ou

até mesmo incorporadas pelas fases seguintes, numa concatenação coesa e bem resolvida. Até

mesmo a idade cronológica das fases se interpenetram e, mais do que isso, coexistem durante o

desenvolvimento subsequente. A pulsão sexual, ou libido, vai sendo balizada pela superposição de

fases que passam a coexistir sempre numa relação mediada pelo outro:

Apesar de podermos encontrar referências da teoria freudiana sobre sexualidade infantil em

inúmeros livros de psicologia do desenvolvimento, podemos afirmar com Freud e outros autores
que a psicanálise não é desenvolvimentista. Segundo Freud (1938/1987), as fases da

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organização libidinal se superpõem umas às outras, não havendo este caráter de superação da
fase anterior para se ascender a um estágio mais evolutivo. Trata-se de uma teoria da

constituição do sujeito, onde as pulsões parciais são organizadas a partir dos modos de
articulação da criança com o Outro. (Furtado; Vieira, 2014, p. 96)

Trata-se, no processo de desenvolvimento psicossexual, das vicissitudes que a libido vai sendo

exposta, e a conformação subjetiva que vai adotando a partir dessa demarcação.

Salientamos que esses impulsos que são originados nas zonas erógenas são denominados de

pulsões. Essas pulsões estão situadas na fronteira entre o corpo e a psique dos indivíduos e

sempre fazem pressão para obterem satisfação. A satisfação está sempre em parte relacionada
ao próprio corpo e em parte aos objetos externos. Elas funcionam independentemente umas das

outras e por isso são chamadas de pulsões parciais. Seus objetos podem ser os mais variáveis
possíveis e elas podem encontrar diversos tipos de satisfação. Entretanto, a frustração dessas

pulsões é que vai determinar como as pessoas se relacionam com os outros e com a cultura. Daí
a importância da educação como agente civilizatório, pois é através da educação que a criança

passa a tentar ter um domínio sobre esses impulsos, sejam eles sexuais ou agressivos. É através

da internalização das diversas proibições dirigidas a esses impulsos que a criança aprende a lidar
com seus limites e aprende a conviver em sociedade. (Furtado; Vieira, 2014, p. 100)

TEMA 2 – FASES PRÉ-GENITAIS: ORAL E ANAL

2.1 FASE ORAL: DOS 0 AOS 2 ANOS

O bebê humano nasce em condições de extrema dependência dos cuidados de outro, e a

amamentação desperta suas primeiras e mais significativas experiências de prazer. Pela boca, ele

experimenta não apenas o prazer da alimentação e de saciedade, mas o prazer extraído do seio e

da própria boca que se tornará, na fase oral, a zona erógena de primazia na sua relação com o

mundo e o outro.

A criança passa então a explorar o mundo pela via oral, como se a boca se transformasse numa

janela para o mundo, e a experimentação a precipita a toda sorte de sabores e dissabores. Com o

seio ou o seu substituto, “adquire-se não só a satisfação da fome, mas da vontade de comer. O

seio é acompanhado por um conjunto de elementos (voz, olhar, calor, carícia, proteção...) que

constituem também suas primeiras relações com a mãe (Outro)” (Furtado; Vieira, 2014, p. 96).

Concomitantemente às experiências satisfatórias, a criança experimenta também as idas e

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vindas da mãe, suas demoras, recusas, e a essas experiências de frustração a criança reage

substituindo o seio materno pelo dedo, mão, pé, chupeta etc. Ou seja, a satisfação experimentada

ao mamar, segundo Freud, será a matriz de uma satisfação que nela se ampara, porém a ela não se

restringe – o chupar.

A primeira de tais organizações sexuais pré-genitais é a oral ou, se assim preferirmos, canibal.
Nela a atividade sexual ainda não se encontra separada da ingestão de alimentos, correntes
opostas ainda não estão diferenciadas em seu interior. O objeto das duas atividades é o mesmo,
a meta sexual consiste na incorporação do objeto, no modelo daquilo que depois terá, como
identificação, um papel psíquico relevante. Um resíduo dessa fase de organização que a

patologia nos leva a supor pode ser o ato de chupar o dedo, no qual a atividade sexual,
desprendida da atividade da alimentação, trocou o objeto externo por um do próprio corpo.

(Freud, [1901-1905], 2016, p. 108)

Freud define essa atividade de chupar como sendo uma atividade de sugar com deleite:

O ato de chupar ou sugar, que aparece já no lactente e pode prosseguir até o fim do


desenvolvimento ou se conservar por toda a vida, consiste na sucção, repetida de maneira

rítmica, com a boca (os lábios), sem a finalidade da alimentação. São tomados como objeto da
sucção uma parte do próprio lábio, a língua ou qualquer outro local da pele que esteja ao alcance

– até mesmo o dedão do pé. Nisso aparece um instinto de agarrar que se manifesta, digamos,

no ato de puxar simultaneamente, de forma rítmica, o lobo da orelha, podendo recorrer a uma
parte do corpo de outra pessoa (em geral a orelha) para o mesmo fim. A sucção deleitosa

absorve completamente a atenção, e conduz ao adormecimento ou, inclusive, a uma reação


motora da natureza de um orgasmo. Não é raro que a sucção deleitosa seja combinada com a

fricção de algumas partes sensíveis do corpo, como o peito ou os genitais externos. Por essa via,

muitas crianças passam da sucção à masturbação. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 82-83)

Essa atividade de chupar, de obter satisfação com a boca, “sem a finalidade da alimentação”

se estende do seio para outros membros e destes para os objetos do mundo sensível,

constituindo-se como uma verdadeira primeira via de experimentação e conhecimento do mundo

externo para a criança que, inadvertidamente, leva a boca praticamente tudo que esteja ao seu

alcance.

Quem vê uma criança largar satisfeita o peito da mãe e adormecer, com faces rosadas e um
sorriso feliz, tem que dizer que essa imagem é exemplar para a expressão da satisfação sexual

na vida posterior. Então a necessidade de repetir a satisfação sexual se separa da necessidade de

nutrição, uma necessidade que é inevitável, quando os dentes aparecem e a alimentação não é

mais exclusivamente sugada, e sim mastigada. A criança não se utiliza de um objeto exterior

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para sugar, mas sim de uma área da própria pele, porque isso lhe é mais cômodo, porque assim
independe do mundo externo que ainda não consegue dominar, e por que dessa maneira cria

praticamente uma segunda zona erógena, embora de valor menor. (Freud, [1901-1905], 2016,
p. 86)

Essa experiência autoerótica irá aos poucos se deslocando para os objetos do mundo sensível

e possibilitando os primeiros traços de divisão entre o sujeito e os objetos, entre o eu e o não eu:

Outro elemento importante para ser destacado nesta fase oral da vida sexual infantil é que a

primeira relação com os objetos é marcada pela oposição dentro-fora. Todos aqueles objetos
que se mostram agradáveis são incorporados pela criança e os desagradáveis são expulsos [...]
Nos termos freudianos, os objetos de satisfação são incorporados ao eu e aqueles desagradáveis

são expulsos, ou seja, a relação do sujeito com o mundo é marcada pela oposição entre o eu e o
não eu (mundo dos objetos não agradáveis. (Furtado; Vieira, 2014, p. 98)

Um comportamento que emerge a partir dessa relação mediada pela boca entre o eu e o não

eu, o sujeito e os objetos, é o de agressividade. A criança satisfaz sua pulsão oral com a

compressão dos músculos da mandíbula naquilo que se chamou de fase “oral-sádica”, em que se

pode observar o impulso de incorporação dos objetos associado ao impulso agressivo de

destruição desse mesmo objeto (Furtado; Vieira, 2014, p. 98).

A satisfação oral não será mais abandonada e muitas serão as possibilidades de extração de

satisfação da boca, por exemplo, o beijo. Nesse caso, a pulsão parcial oral se satisfaz conjugada às

demonstrações de afeto e, no adulto, bastante atrelada ao ato sexual dirigido. Porém, a pulsão oral

pode levar a outras experiências de satisfação não tão bem incorporadas ao comportamento sexual

adulto considerado normal.

À fase oral, segue-se uma segunda fase do desenvolvimento, proveniente de uma segunda

zona erógena:

O asseio do corpo infantil e as exigências culturais de higiene corporal também não acontecem

sem que adquiram importância para a criança, pois, afinal, outras partes do corpo entram em

jogo. Agora, uma modificação se impõe. Não é mais a criança que dirige um apelo a mãe, mas ao

contrário. É uma outra pessoa que dirige um pedido à criança para que ela regularize suas

funções excretórias. Inicia-se, então, a educação para o controle dos esfíncteres e a criança
passa a ter um papel ativo na relação com os seus novos objetos de prazer: as fezes. (Furtado;

Vieira, 2014, p. 99)

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2.2 FASE ANAL: DE 1 A 3 ANOS

O segundo estágio do desenvolvimento psicossexual proposto por Freud é o anal, podendo

ser observado entre o primeiro e o terceiro ano de vida. Trata-se do momento em que o ânus

assume a primazia de zona erógena das pulsões parciais. Assim como a boca, o ânus é o tipo de
zona dita como predestinada, por Freud:

a localização da zona anal a torna adequada para favorecer um apoio da sexualidade em outras
funções do corpo. É de se presumir que a significação erógena dessa parte do corpo é muito

grande originalmente. Através da psicanálise tomamos conhecimento, não sem alguma


surpresa, das transformações normalmente experimentadas pelas excitações sexuais que dela
partem, e como frequentemente essa zona mantém, por toda a vida, um grau considerável de

suscetibilidade à estimulação genital. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 91)

As transformações que Freud se refere serão dadas a partir das significações que irão adquirir

ao ter essa relação com seu excremento mediada pelo outros.

As crianças que utilizam a excitabilidade erógena da zona anal se revelam no fato de reter a

massa fecal até que esta, acumulando-se, provoque fortes contrações musculares e, na
passagem pelo ânus, exerça um grande estímulo na mucosa. Isso deve produzir, juntamente

com a sensação de dor, uma sensação de volúpia. Um dos melhores indícios de futura

estranheza ou nervosismo ocorre quando um bebê se recusa obstinadamente a evacuar o


intestino ao ser posto sobre o vaso, ou seja, no momento desejado pela pessoa que dele cuida, e

reserva essa função para quando ele próprio desejar. O que lhe importa, naturalmente, não é
sujar o berço; ele apenas cuida para que não lhe escape o prazer secundário ligado à defecação.

(Freud, [1901-1905], 2016, p. 91-92)

As estimulações orgânicas, as quais Freud se refere no parágrafo anterior, estão presentes

desde o início da vida da criança, porém a zona anal assume a primazia de zona erógena

posteriormente devido a um fato novo. O principal evento que marca essa segunda etapa do

desenvolvimento psicossexual da criança é a inversão na relação do sujeito com o outro. Os adultos

agora passam a demandar que a criança faça cocô nos lugares, com horas certas, e domine, assim,

o controle de seus esfíncteres. Esse treinamento envolve a expressão de aprovação ou não dos

pais, e, consequentemente, confere algum valor à massa fecal na manipulação do desejo dos pais

O conteúdo intestinal, sendo um corpo que estimula uma área de mucosa sexualmente sensível,

[...] constitui o primeiro "presente": através da liberação ou da retenção dele, o pequeno ser
pode exprimir docilidade ou desobediência ante as pessoas ao seu redor. A partir do significado

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de "presente", ganha posteriormente o de "bebê", que, segundo uma das teorias sexuais

infantis [...] é obtido pela alimentação e nasce pelo intestino. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 92)

Ao presumir a grande significação dessa parte do corpo, Freud aponta para as transformações

as quais serão submetidos os processos escatológicos, assumindo diferentes significações ao


longo do desenvolvimento posterior do sujeito.

A ligação que esta fase tem com a sexualidade adulta não encontra dificuldades de compreensão
quando admitimos que o ânus assume o papel de um órgão sexual. Outras práticas sexuais
relacionadas às fezes são conhecidas pela vida íntima de algumas pessoas (coprofilia, p.ex.),

entretanto estas práticas constituem variações específicas da vida sexual que são conhecidas
como perversões sexuais.

Esse “presente” que Freud se refere, e que são seus excrementos, não lhe são a princípio

repugnantes, a criança não tem nojo daquilo que produz, e como demonstra Freud, as crianças lhe

vão atribuindo diferentes valores, o que faz com que as fezes, ao longo do desenvolvimento

posterior, por deslocamento simbólico, mantenham uma relação com o dinheiro, e as relações

pecuniárias do adulto fica assim atrelada, em alguma medida, com essa fase do desenvolvimento.

Alguns traços de caráter e a relação perdulária ou avarenta dos adultos com o dinheiro costumam

ser vinculadas com a significação elaborada durante o período de atividade da sexualidade anal.

TEMA 3 – FASE FÁLICA: DOS 4 AOS 6 ANOS

Os dois períodos ou fases de desenvolvimento anteriores, oral e anal, são, na perspectiva

freudiana, pré-genitais, ou seja, anteriores ao período que inaugura as genitálias como

protagonista da atividade libidinal. Esse período é o chamado período fálico, em que os genitais,

bem como a diferença sexual, assumem o centro das atenções das crianças, “Nele se apresenta o

momento central que vai significar todas as outras vivências anteriores como relativas à

sexualidade” (Furtado; Vieira, 2014, p. 100).

Em nota acrescentada aos “Três ensaios”, Freud referencia aquilo que fora um

desdobramento posterior da teoria do desenvolvimento da libido, apenas entrevista no texto de

1905:

[Nota acrescentada em 1924:] Depois, em 1923, eu próprio modifiquei essa exposição, inserindo

uma terceira fase no desenvolvimento da infância, após as duas organizações pré-genitais –

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fase que já merece a denominação de genital, que mostra um objeto sexual e algum grau de
convergência das correntes sexuais para esse objeto, mas se diferencia num ponto essencial da

organização definitiva da maturidade sexual: conhece apenas um tipo de genital, o masculino.


Por isso a denominei estágio de organização fálica ("A organização genital infantil", 1923).

Segundo Abraham [...] seu modelo biológico é a indiferenciada constituição genital do embrião,
igual em ambos os sexos. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 110)

A denominação do período fálico em referência ao órgão sexual masculino se justifica em

função da fantasia infantil de que todos, originalmente, possuam o órgão sexual masculino e que

alguns (as meninas) o perderam, como vimos anteriormente sobre o complexo de Édipo. A

referência à perda do pênis são as represálias ameaçadoras contra a masturbação infantil de que o

pênis lhe poderia ser cortado. A essa angústia, Freud denomina angústia de castração, ou seja, o

medo masculino da perda do falo.

A fase fálica, portanto, coincide com o Complexo de Édipo, em que

O pequeno Édipo encontra em seu pai o responsável por sua mãe se atrasar e desejar outras

coisas que não ele mesmo. Essas características, esses atributos que justificam e explicam para

a criança as ausências da mãe, denominamos falo. (Furtado; Vieira, 2014, p. 103)

TEMA 4 – FASE OU PERÍODO DE LATÊNCIA: DOS 6 AOS 10 ANOS

Esse desenvolvimento sexual que “se manifesta de forma observável por volta dos três ou
quatro anos” (Freud, [1901-1905], 2016, p. 79), mas que desde o princípio já é posto a trabalho

pelas pulsões parciais pré-genitais arrefece ao final do conflito edipiano. As manifestações sexuais

comuns da infância parecem se interromper, quando, na realidade, o aparelho psíquico está

adquirindo novos contornos mais complexos:

Durante esse período de latência total ou parcial são formados os poderes psíquicos que depois

se colocarão como entraves no caminho do instinto sexual e, ao modo de represas, estreitarão


seu curso (o nojo, o sentimento de vergonha, os ideais estéticos e morais). Com as crianças

civilizadas temos a impressão de que é obra da educação construir tais represas, e certamente a

educação faz muito nesse sentido. Na realidade, porém, esse desenvolvimento é organicamente

condicionado, fixado hereditariamente, e pode se produzir, às vezes, sem qualquer auxílio da

educação. Esta permanece inteiramente no domínio que lhe foi assinalado, quando se limita a
seguir o que foi organicamente traçado, dando-lhe uma marca um tanto mais limpa e mais

profunda. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 80)

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A emergência de sentimentos, como vergonha, nojo, e de ideais estéticos e morais não se

coaduna com as satisfações que as pulsões parciais até então exigiam nas fases anteriores. A

amnésia infantil, que vimos em outra ocasião, incide em geral desse período da infância para trás.

O mecanismo de recalque, portanto, age influenciado pelas barreiras civilizatórias recém-

construídas e exerce a pressão que lhe é característica para manter afastados da consciência, de

agora em diante, quaisquer manifestações de uma sexualidade infantil e parcial.

O fato de a escolha de objeto ocorrer em dois tempos se reduz essencialmente ao efeito do


período de latência, mas vem a ser bastante significativo no que toca aos distúrbios do estado
final. Os resultados da escolha infantil de objeto se prolongam até uma época tardia; são

conservados como tais ou são reavivados na época da puberdade. Graças à repressão que se
desenvolveu entre as duas fases, porém, eles se revelam inutilizáveis. Suas metas sexuais

experimentaram uma atenuação, e agora são o que podemos designar como a corrente tema da
vida sexual. Somente a investigação psicanalítica pode provar que atrás dessa ternura, adoração

e estima se escondem os velhos impulsos sexuais dos instintos parciais infantis, agora inúteis. A

escolha objetal da época da puberdade tem de renunciar aos objetos infantis e começar de novo
como corrente sensual. A não coincidência das duas correntes tem, muitas vezes, a

consequência de não se poder alcançar um dos ideais da vida sexual, a união de todos os desejos
num só objeto. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 111)

O período de latência expande o círculo social da criança, diversificando os objetos de amor e

desejo. Freud, porém, defende o caráter regressivo dos padrões de relacionamento, calcado para

tanto na configuração já experimentada pela pulsão ao longo do desenvolvimento anterior

Ao longo de todo o período de latência, a criança aprende a amar outras pessoas - que a ajudam

em seu desamparo e satisfazem suas necessidades -, inteiramente segundo o modelo e em

prosseguimento da sua relação de lactente com a nutriz. Talvez haja relutância em identificar
com o amor sexual os sentimentos de afeição e estima que a criança tem por aqueles que dela

cuidam, mas penso que uma investigação psicológica mais precisa poderá estabelecer essa

identidade além de qualquer dúvida. Para a criança, o trato com a pessoa que dela cuida é uma

fonte contínua de excitação sexual e satisfação das zonas erógenas, ainda mais porque essa –

que geralmente é a mãe - dedica-lhe sentimentos que se originam de sua própria vida sexual:
acaricia, beija e embala a criança, claramente a toma como substituto de um objeto sexual

completo. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 143-144)

Na medida em que atributos civilizatórios (vergonha, nojo, moral) vão também balizando o

circuito pulsional nessa fase do desenvolvimento, abre-se a possibilidade para o advento de um

processo bastante distinto na economia libidinal do sujeito: a sublimação.

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Com que meios são realizadas essas construções, tão significativas para a cultura e a

normalidade posteriores do indivíduo? Provavelmente à custa dos impulsos sexuais infantis


mesmos, que não cessaram nesse período de latência, mas cuja energia - integralmente ou na

maior parte - é desviada do emprego sexual e dirigida para outros fins. Os historiadores da

civilização parecem concordes em supor que, desviando-se as forças instintuais sexuais das

metas sexuais para novas metas - um processo que merece o nome de sublimação - adquirem-
se fortes componentes para todas as realizações culturais. Acrescentaríamos que o mesmo
processo ocorre no desenvolvimento do indivíduo, e situaríamos o seu começo no período de
latência sexual da infância (Freud, [1901-1905], 2016, p. 80-81)

Não obstante esse desenvolvimento todo do período de latência, Freud não deixa de nos
lembrar sobre essa especificidade que embasa a psicanálise e que ressaltamos no início desta aula,

a saber: que as fases anteriores, com suas zonas erógenas e pulsões parciais infantis não se

extinguem como tais, e que o desenvolvimento subsequente assim as incorpora, com alguma

relativa independência.

De vez em quando, irrompe um quê de manifestação sexual que escapou à sublimação, ou

alguma atividade sexual persiste através de todo o período de latência, até a intensa irrupção do
instinto sexual na puberdade. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 82)

TEMA 5 – FASE GENITAL E A PUBERDADE

A última fase do desenvolvimento psicossexual é a fase genital que coincide com a puberdade

e com a entrada na adolescência. Como uma reedição da fase fálica, interrompida pelo período de

latência, as genitálias voltam a assumir, nesta fase, a função de zonas erógenas.

A única diferença está em que na infância a reunião dos instintos parciais e sua subordinação,

sob o primado dos genitais, ou não são obtidas ou o são muito imperfeitamente. O

estabelecimento desse primado a serviço da reprodução é, portanto, a última fase percorrida

pela organização sexual. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 110)

As mudanças que ocorrem nessa etapa do desenvolvimento são particularmente drásticas no

que diz respeito à imagem corporal que até então se desenvolvera. Entre os eventos que ocorrem

nessa fase,

O mais evidente dos processos da puberdade foi escolhido como o essencial: o manifesto

crescimento dos genitais externos, em que o período de latência da infância se expressara por

relativa inibição do crescimento. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento dos genitais internos

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avançou de tal modo que eles são capazes de fornecer produtos sexuais, ou de acolhê-los para a
formação de um novo ser. Assim foi constituído um aparelho altamente complicado, que

aguarda utilização. (Freud, [1901-1905], 2016, p. 122-123)

É importante observar nesta última frase de Freud um certo descompasso entre o

desenvolvimento sexual e o psicossocial no que diz respeito à adolescência. Embora o corpo já


tenha maturado e todo o organismo já tenha condições de experimentar a vida adulta, nas

sociedades ditas mais “evoluídas”, em que não há um ritual de passagem claramente circunscrito,

verificamos uma espécie de “moratória”, um adiamento do reconhecimento do adolescente, pela

sociedade, como jovem adulto. Essa moratória, termo proposto por Erik Erikson e que veremos

adiante em outra ocasião, faz com que o jovem não tenha mais a condição de criança tampouco a

de adulto, o que o precipita numa marginalização em termos de representação social (Calligaris,

2000).

NA PRÁTICA

Um argumento comumente levantado contra os direitos das pessoas com orientações sexuais

dissonantes em relação à heteronormatividade, das pessoas homossexuais, para ficar em um só

exemplo, é o fato de que sua relação seria de todo estéril, ou seja, imprestável em termos

reprodutivos. “Dois homens ou duas mulheres não são capazes de gerar um filho”, dizem,

justificando aquilo que seria uma aberração sexual, por não encontrar amparo no mundo da

natureza.

Ora, depois das investigações psicanalíticas, tomamos a consciência de que a sexualidade

humana, inclusive mesmo a dos heterossexuais, como um todo, não tem muitas relações com a

finalidade reprodutiva, mas com o prazer.

O beijo, o chupar, o sexo anal, oral, as carícias, os elementos que compõe a sexualidade

humana não têm finalidade reprodutiva e, no entanto, não se abrem mão deles.

Para além do corpo, o que a psicanálise nos revela é que uma vez desencadeado esse processo

de deslocamento da finalidade reprodutiva para um mais além, os deslocamentos da sexualidade

humana não mais poderão renunciar satisfações já experimentadas.

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FINALIZANDO

Vimos que o desenvolvimento psicossexual é o processo por meio do qual a libido (pulsão

sexual) se desenvolve por meio dos cinco estágios: a fase oral, anal, fálica, de latência e genital; e

que não é linearmente progressivo, mas complexo e dinâmico, e até mesmo regressivo à medida

que as fases coexistem e as regressões ao infantilismo das pulsões parciais se verifica em traços da

sexualidade normal adulta e patológica. As fases não são superadas nem tampouco o infantil se

limita à infância.

Trata-se, no processo de desenvolvimento psicossexual, das vicissitudes que a libido vai sendo

exposta, e a conformação subjetiva que vai adotando a partir dessa demarcação.

A fase oral, que é a primeira, tem como zona erógena a boca. A criança experimenta as

satisfações oriundas da alimentação e, concomitantemente, as experiências satisfatórias,

experimenta também as idas e vindas da mãe, suas demoras, recusas, ou seja, experiências de

falta, e, a essas experiências de frustração, a criança vai reagindo com substituições do seio

materno pelo próprio dedo, mão, pé, chupeta etc.

Essa satisfação experimentada pela amamentação, segundo Freud, será a matriz de uma outra

que nela se apoia e dela se desenvolve, porém a ela não se restringe – o chupar. As satisfações

através da boca jamais serão extintas ou renunciadas.

A segunda fase do desenvolvimento psicossexual é a fase anal, em que o ânus assume o

protagonismo de principal zona erógena. Essa fase é marcada pela demanda do cuidador de que a

criança domine o controle de seu esfíncter e defeque no lugar certo, o que, quando ocorre, é

reforçado pelos pais.

Como a criança não tem consolidadas ainda as barreira do nojo, por exemplo, o cocô assume

uma significação de “presente” e essa é só a primeira das transformações as quais serão

submetidos os processos escatológicos, assumindo diferentes significações ao longo do

desenvolvimento posterior do sujeito.

A fase fálica coincide com o Complexo de Édipo e recebeu essa denominação em referência ao

órgão sexual masculino pelo fato de que a fantasia sexual infantil predominante é a de que todos,

originalmente, possuem o órgão sexual masculino, o pênis, e que alguns (as meninas) o teriam

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perdido. Nessa fase, a diferença sexual anatômica toma a atenção das crianças que criam suas

próprias teorias sexuais infantis.

Vimos também o período de latência em que as manifestações sexuais infantis arrefecem, e o

que parece ser uma pausa no desenvolvimento psicossexual, visto mais perto, é, na realidade, um

processo latente em que são erigidos mecanismos psicológicos que especificam nossa espécie em

relação à natureza. Nojo, vergonha, ideais estéticas e morais são consolidados tendo como

matéria-prima as pulsões parciais desenvolvidas nos períodos anteriores. O recalque aqui incide

com maior potência e o desenvolvimento intelectual tende a se intensificar.

A última fase proposta por Freud é a fase genital, que coincide com a puberdade e o início da

adolescência. Funciona como uma reedição da fase fálica, interrompida pelo período de latência,

em que as genitálias voltam a assumir a função de zonas erógenas. Aqui a maturação do sistema

reprodutivo irá impor uma drástica mudança corporal com a finalidade de orientar o

desenvolvimento pulsional para a reprodução.

REFERÊNCIAS

CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.

FREUD, S. Obras completas, volume 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise

fragmentária de uma histeria ("O caso Dora") e outros textos (I90I-190S). Tradução de Paulo César

de Souza. 11. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

FURTADO, L. A. R.; VIEIRA, C. A. L. A Psicanálise a as Fases da Organização da Libido.

Scientia, v. .2, n 4. p. 92-107. Disponível em:

<a_psicanalise_e_as_fases_da_organizacao_da_libido_luis_achiller_rodrigues_furtado

_camilla_araujo_lopes_vieira.pdf>. Acessado em: 22 dez. 2021.

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