Você está na página 1de 17

I

Principais Modalidades

1. Principais modalidades: psicanalítica/psicodinâmica 14


Glen O. Gabbard
2. Terapias cognitivas e comportamentais 30
Paul Grant, Paula R. Young e Robert J. DeRubeis
3. Psicoterapia interpessoal 45
Carlos Blanco e Myrna M. Weissman
4. Psicoterapia de grupo 57
Werner Knauss
5. Intervenções de grupo cognitivo-comportamentais 69
David W. Coon, Gia Robinson Shurgot, Zoë Gillispie, Veronica
Cardenas e Dolores Gallagher-Thompson
6. Terapia familiar 84
Sidney Bloch e Edwin Harari
7. Terapia psicodinâmica de casal 99
David E. Scharff e Jill Savege Scharff
8. Terapia cognitivo-comportamental com casais 112
Frank M. Dattilio
9. Arteterapias 125
Joy Schaverien e Helen Odell-Miller
10. Integração em psicoterapia 136
Rutger Willem Trijsburg, Sjoerd Colijn e Jeremy Holmes
1 Principais Modalidades: Psicanalítica/
Psicodinâmica
Glen O. Gabbard

Introdução a desenvolver o conceito de transferência, que referia-se ao fato


de que os pacientes deslocam para o analista os sentimentos, os
Os termos psicanalítico e psicodinâmico têm sido cada vez pensamentos e as atitudes que estavam originalmente vincula-
mais usados como sinônimos nas discussões sobre psicoterapia. das aos pais ou a outras figuras importantes do seu passado.
As duas abordagens terapêuticas derivam de um conjunto de Ele então modificou sua técnica de tal modo que a hipno-
princípios básicos advindos da psicanálise. Entre esses princí- se foi descartada e substituída pelo método da livre associação.
pios estão: a transferência, a contratransferência, a resistência, Esta técnica, que envolvia pedir ao paciente que falasse qual-
o inconsciente dinâmico, uma lente desenvolvimental para quer coisa que lhe viesse à mente, é ainda a base da técnica
enxergar a experiência adulta e o determinismo psíquico. As usada por psicanalistas no mundo todo.
origens históricas dessa abordagem datam do desenvolvimento Freud prosseguiu imergindo no estudo dos sonhos, que ele
da psicanálise por Sigmund Freud no final da década de 1890 e encarava como o caminho mais fácil para o entendimento do
início da década de 1900. inconsciente. Reconheceu que aspectos da vida sexualizados
Embora Freud tenha se especializado originalmente em na infância persistem no presente e influenciam o comporta-
neurologia, sob a influência do neurologista francês Jean-Mar- mento adulto.
tin Charcot, ele ficou intrigado com os mistérios da histeria. A abordagem psicanalítica da psicoterapia sofreu profun-
Mais tarde colaborou com Josef Breuer no uso da sugestão hip- das transformações desde a época de Freud. No entanto, cada
nótica no tratamento de pacientes que sofriam daquele mal. Em um dos princípios fundamentais mantém os remanescentes do
suas contribuições clássicas para o tema, Breuer e Freud decla- pensamento freudiano, e grande parte da construção de Freud
raram que os pacientes histéricos sofrem de “reminiscências”, permanece importante para o entendimento atual dos pacien-
sugerindo que uma idéia inaceitável e reprimida era responsável tes e das estratégias terapêuticas usadas para compartilhar esse
pelos sintomas da enfermidade. Esse entendimento conduziu entendimento com eles. Embora Freud encarasse a transfe-
a uma abordagem terapêutica que veio a ser conhecida como rência e a resistência como os aspectos essenciais de qualquer
ab-reação. Freud estava inicialmente convencido de que trazer abordagem psicanalítica, atualmente expandiríamos o conjun-
uma memória reprimida de um evento traumático de volta à to fundamental de conceitos para incluir a contratransferência,
consciência do paciente por meio de sugestão hipnótica pro- o inconsciente, o determinismo psíquico e a perspectiva desen-
duziria uma catarse que resultaria na remoção dos sintomas do volvimentista. Esses princípios básicos serão introduzidos aqui
paciente. Em outras palavras, o paciente conseguiria recuperar e elaborados mais adiante neste capítulo.
e verbalizar os sentimentos associados ao trauma original.
Freud logo ficou frustrado com o uso da hipnose e da ab-
reação catártica porque percebeu que essa abordagem tera-
Transferência
pêutica freqüentemente não era aceitada e refletia o desejo do Os pacientes inconscientemente relacionam-se com o psi-
paciente de agradar o médico. Também observou que alguns coterapeuta como se este fosse alguém do seu passado. Embora
pacientes manifestaram resistência a essa abordagem terapêu- Freud encarasse a transferência como um deslocamento sim-
tica. Ou era impossível hipnotizá-los ou, mesmo hipnotizados, ples de um relacionamento do passado para o presente, agora
eles eram incapazes de recuperar memórias que tivessem im- reconhecemos que as características reais e o comportamento
portância etiológica. do terapeuta contribuem continuamente para a natureza da
Além disso, Freud começou a reconhecer que se desenvol- transferência (Renik, 1993; Hoffman, 1998). As características
via um relacionamento poderoso entre o paciente e o médico, físicas, a maneira de se relacionar com o paciente, o gênero e
com um importante componente erótico. Uma de suas pacien- a idade do terapeuta, influenciam a percepção que o paciente
tes despertou de um transe hipnótico e lançou seus braços em tem do terapeuta. Esses aspectos desencadeiam redes neurais
torno do pescoço de Freud. Esta e outras experiências o levaram no paciente as quais contêm representações de figuras passadas
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 15

e revêem estes “fantasmas” do passado no presente (Westen e conceito do “inconsciente” como um local ou reservatório de
Gabbard, 2002a). Além da dimensão repetitiva da transferên- armazenagem não é mais adequado à pesquisa contemporânea
cia, o paciente também pode abrigar um anseio por uma expe- da neurociência. Agora reconhecemos que as memórias são
riência curativa ou corretiva para compensar os problemas que armazenadas diferentemente, dependendo do tipo de conhe-
ocorreram em relacionamentos na sua infância. Desta forma, cimento que está sendo armazenado. A memória declarativa
um anseio por um tipo diferente de relacionamento pode ser envolve fatos e episódios da vida de uma pessoa, enquanto a
inerente na transferência. memória procedural envolve habilidades ou procedimentos. Os
mecanismos de defesa, por exemplo, são procedimentos incons-
cientes automáticos que regulam os estados dos sentimentos.
Resistência
As memórias, os tempos difíceis na vida de uma pessoa são as-
Os pacientes ainda resistem à psicoterapia como resistiam pectos do conhecimento declarativo que podem ser conscien-
na época de Freud. Uma das grandes descobertas de Freud foi tes e facilmente lembradas ou podem ser reprimidas e, por isso,
que os pacientes podem ser ambivalentes sobre se sentir me- inconscientes. O conhecimento declarativo é o conhecimento
lhor e inconscientemente (ou conscientemente) se oporem às “do”, enquanto o conhecimento procedural é o conhecimento
tentativas de ajudá-los. A resistência pode manifestar-se como “como” (Westen e Gabbard, 2002b).
silêncio nas sessões de terapia, como uma evitação de tópicos No pensamento atual que integra os dados psicodinâmicos
difíceis, ou como se esquecer das sessões. Em essência, a resis- e da neurociência, tanto as memórias procedurais quanto as
tência pode ser encarada como qualquer maneira em que os pa- declarativas podem ser encaradas como conscientes ou incons-
cientes se defendem contra a mudança, de maneira a manter a cientes (ver Figura 1.1). Uma distinção entre memória explícita
doença como ela está. A resistência não é mais encarada como e implícita relaciona-se a se o conhecimento é expressado e/ou
um obstáculo a ser removido pelo terapeuta. Em vez disso, é recuperado com ou sem consciência consciente. Por isso, a dis-
vista como uma revelação sobre como o passado do paciente tinção explícita versus implícita pode ser entendida como equi-
influencia o comportamento no relacionamento com o tera- valente a consciente versus inconsciente (Westen e Gabbard,
peuta (Friedman, 1991). Por exemplo, se um paciente homem 2000a,b).
encara seu terapeuta homem como crítico, ele pode relutar em Nesse modelo, os mecanismos de defesa estão principal-
dizer muita coisa. Essa reticência pode ser bastante reveladora mente no domínio da memória procedural implícita. A supres-
sobre seu relacionamento com seu pai e com outras figuras de são, no entanto, um dos poucos mecanismos de defesa cons-
autoridade masculina. Ajudar o paciente a entender a resistên- cientes, está no reino da memória procedural explícita porque
cia é um ponto fundamental da terapia psicodinâmica. envolve o banimento consciente de alguns pensamentos e/ou
sentimentos da mente de uma pessoa. O conhecimento decla-
rativo implícito envolve idéias e memórias reprimidas de even-
Contratransferência
tos da vida de uma pessoa e conhecimento que envolve vários
Freud escreveu muito pouco sobre a contratransferência. tipos de expectativas sobre a maneira como os outros irão re-
Ele originalmente a definiu como a transferência do analista agir em resposta ao que ela faz. Esta última categoria pode ser
para o paciente. Em geral, a encarava como uma interferência recuperável se a pessoa desloca a sua atenção para ela, uma
no analista que seguia paralela à transferência no paciente. Em categoria que Freud chamava de pré-consciente. O conheci-
outras palavras, o analista inconscientemente vê o paciente mento declarativo explícito consiste de fatos e eventos que são
como alguém do passado e por isso tem dificuldade para tra- totalmente conscientes.
tá-lo. A contratransferência é, hoje em dia, considerada um Aspectos inconscientes do funcionamento mental podem
instrumento terapêutico enormemente valioso na terapia psi- se revelar como lapsos verbais, esquecimento, ou substituição
canalítica. É uma criação conjunta que se origina, em parte, do de nomes ou palavras. O comportamento não-verbal é também
passado do terapeuta, em parte, igualmente, do mundo interno um reflexo dos modos inconscientes e internalizados de se re-
do paciente. Em outras palavras, os pacientes induzem alguns lacionar com os outros. Em outras palavras, a maneira como o
sentimentos no terapeuta que proporcionam a este um vislum- paciente se relaciona com o terapeuta pode dizer muito sobre
bre do mundo interno do paciente e dos tipos de sentimentos as representações inconscientes do self e do outro dentro do
que são evocados em outros relacionamentos fora da terapia paciente.
(Gabbard, 1995).
Modo de expressão ou recuperação
Tipo de conhecimento
O inconsciente (com ou sem consciência)

A premissa de Freud de que grande parte da vida mental


é inconsciente tem sido extensivamente validada pela pesqui- Declarativo Procedural Explícito Implícito
sa no campo da psicologia experimental (Westen, 1999). No (fatos) (habilidades)
entanto, os psicoterapeutas psicanalíticos têm uma maior pro- Figura 1.1 Tipo de conhecimento versus modo de expressão. Reproduzida de
babilidade de se referir a representações inconscientes ou ao Gabbard, G.O. (2000). Psychodynamic psychiatry in clinical practice, 3rd. Edn. P.
funcionamento mental inconsciente do que ao inconsciente. O 8. Washington, DC: American Psychiatric Press.
16 Glen O. Gabbard, Judith S. Beck & Jeremy Holmes

Determinismo psíquico poderosos – especificamente a agressão e a sexualidade/libido


que lutam para emergir na consciência. O superego, que tem
O princípio do determinismo psíquico estabelece que a
tanto aspectos conscientes quanto inconscientes, é a força mo-
nossa experiência interna, nossos comportamentos, nossa es-
ral que resulta da internalização dos pais e de seus sistemas de
colha de parceiros românticos, nossas decisões de carreira e até
valor. Os valores culturais ou sociais podem também ser inter-
nossos passatempos são moldados por forças inconscientes que
nalizados como parte do superego. O próprio ego é em par-
estão além da nossa consciência (Gabbard, 2000a). O terapeu-
te consciente e em parte inconsciente, como o superego, e é
ta psicodinâmico aborda um paciente com o conhecimento de
que qualquer sintoma ou problema pode servir a funções múl- considerado como o órgão executivo da psique. Os aspectos
tiplas. Vários conflitos de diferentes níveis de desenvolvimen- conscientes do ego estão envolvidos na tomada de decisão, na
to podem todos convergir para formar o resultado final de um percepção, na avaliação e na antecipação das conseqüências.
comportamento ou sintoma. Um terapeuta psicanalítico reco- Entre os muitos aspectos inconscientes do ego estão diversos
nhece que muitas das razões para as dificuldades deste estão mecanismos de defesa.
fora da consciência deste, e tanto o terapeuta quanto o pacien- A psicologia do ego é caracterizada por uma visão do
te podem estar querendo explorar várias causas convergentes. mundo intrapsíquico no qual as três instâncias encontram-se
em constante conflito. O conflito, por sua vez, produz ansieda-
de, que então resulta na ativação de um mecanismo de defesa.
A perspectiva desenvolvimentista
Os sintomas são formados como um resultado do conflito. A
Todo o pensamento analítico é baseado em um modelo de ansiedade e a defesa resultam em formação de compromisso.
comportamento. Uma suposição fundamental é que os eventos Impulsos instintivos buscam vir à tona, mas o ego e/ou o supe-
da infância moldam a pessoa adulta. Os padrões repetitivos de rego direcionam forças defensivas para impedir a emergência
interações problemáticas com outras pessoas originam-se de do impulso inaceitável. A formação de compromisso resultan-
questões intrapsíquicas que são internalizadas durante a infân- te contém tanto o desejo original que surge do id quanto a
cia. No pensamento contemporâneo sobre a interface entre a defesa contra esse desejo. Por isso, o compromisso gratifica o
genética e o ambiente, sabemos que o temperamento geneti- desejo de uma forma disfarçada e atenuada. Tanto os sintomas
camente baseado da criança molda grande parte da interação neuróticos quanto os traços de caráter podem resultar desses
com os pais. Em outras palavras, características que são gene- choques intrapsíquicos e podem ser referidos como formações
ticamente determinadas evocam reações específicas dos pais, de compromisso.
que por sua vez moldam a personalidade da criança (Reiss et A psicologia do ego reduz a ênfase da necessidade de pers-
al., 1995). Os terapeutas psicanalíticos não responsabilizam os crutar as profundezas do inconsciente para as memórias sepul-
pais pelas dificuldades do seu paciente. Eles enxergam as difi-
tadas. Em vez disso, concentra-se no fato de que nas operações
culdades do paciente como uma interação complexa entre as
defensivas típicas encontram-se os compromissos e conflitos
características da criança, as características dos pais e o “ajus-
que compõem o caráter do paciente. A análise sistemática das
te” entre elas (Gabbard, 2000a).
defesas, quando elas entram no tratamento sob a forma de re-
sistências, é a base da técnica da psicologia do ego. Algumas
Base teórica da psicoterapia psicanalítica/ defesas comuns estão listadas na Tabela 1.1 e estão organizadas
psicodinâmica hierarquicamente, indo das defesas mais imaturas ou patológi-
cas para as mais saudáveis ou maduras.
Psicologia do ego O modelo desenvolvimentista associado com a psicologia
do ego envolve o esquema desenvolvimental epigenético vin-
Durante a época em que Freud ponderava sobre a idéia
culado às zonas libidinais oral, anal e fálica. Erik Erikson (1959)
da ab-reação catártica como seu modelo de cura preferido,
ele foi influenciado pelo modelo topográfico da psicanálise. A descreveu a crise psicossocial da criança que ocorria em cada
mente inconsciente abrigava lembranças patogênicas repri- fase do desenvolvimento. Autonomia versus vergonha e dúvida
midas. Por meio do trabalho da psicanálise, essas memórias é típico da fase anal. Iniciativa versus culpa caracteriza a fase
iriam se tornar conscientes. Elas perderiam sua patogenici- fálica-edipiana. Em torno dos três anos de idade e terminando
dade após se tornarem disponíveis à consciência do paciente. mais ou menos entre os seis e sete anos está a fase edipiana
O pré-consciente residia entre o consciente e o inconsciente. do desenvolvimento, em que os genitais são a principal fonte
As memórias, residindo no pré-consciente, eram disponíveis de prazer. A criança deseja ser o objeto de amor exclusivo do
deslocando-se a atenção da pessoa e por isso não eram real- pai/mãe do sexo oposto. Durante essa fase, a criança torna-se
mente reprimidas. extremamente consciente do triângulo composto por mãe, pai
Quando o método da ab-reação catártica de Freud falhou, e filho, tendo transcendido a estrutura de referência diádica
ele desenvolveu o modelo estrutural tripartite, envolvendo o mãe-filho das fases anteriores do desenvolvimento. O comple-
ego, o id e o superego. O modelo estrutural se presta a uma teo- xo de Édipo negativo é freqüentemente usado para descrever
ria baseada no conflito que forma o alicerce para a psicologia o anseio da criança pelo pai/mãe do mesmo sexo, enquanto o
do ego. O id é encarado como a base de impulsos instintivos pai/mãe do sexo oposto é visto como um rival.
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 17

Tabela 1.1 Uma hierarquia dos mecanismos de defesa

Mecanismo de defesa Descrição

Defesas primitivas
Divisão (splitting) Compartimentalizar experiências do self e do outro como integração não é possível. Quando o indivíduo
é confrontado com as contradições no comportamento, pensamento ou sentimento, ele encara as
diferenças com uma negação branda ou com indiferença. Essa defesa impede que o conflito se origine da
incompatibilidade dos dois aspectos polarizados do self ou do outro.
Projeção Perceber e reagir a impulsos internos inaceitáveis e a seus derivativos, como se eles estivessem fora do self.
Identificação projetiva Ao mesmo tempo um mecanismo de defesa intrapsíquico e uma comunicação interpessoal, esse fenômeno envolve
se comportar de tal maneira que uma pressão interpessoal sutil é colocada em outra pessoa para assumir as
características de um aspecto do self ou de um objeto interno que é projetado para aquela pessoa. A pessoa que
é o alvo da projeção começa então a se comportar, pensar e sentir de acordo com o que foi projetado.
Negação Evitar a consciência de aspectos da realidade física que são difíceis de enfrentar negligenciando dados sensoriais.
Distorção Alterar significativamente a realidade externa para satisfazer as necessidades de realização do desejo interno da
pessoa.
Dissociação Destruir o sentido de continuidade nas áreas de identidade, memória, consciência ou percepção como uma
maneira de manter uma ilusão de controle psicológico diante do desamparo e da perda de controle. Embora
similar à divisão, em casos extremos de dissociação há uma alteração da memória dos eventos devido à
desconexão do self do evento.
Idealização Atribuir qualidades perfeitas ou quase perfeitas aos outros como uma maneira de evitar a ansiedade ou sentimentos
negativos, como desprezo, inveja ou raiva.
Representação Representar um desejo inconsciente ou uma fantasia impulsivamente como uma maneira de evitar um sentimento
doloroso.
Somatização Converter o sofrimento emocional ou outros estados afetivos em sintomas físicos e concentrar a atenção em
preocupações somáticas (em vez de preocupações intrapsíquicas).
Regressão Retornar a uma fase anterior do desenvolvimento ou do funcionamento para evitar os conflitos e as tensões
associados com o nível de desenvolvimento atual da pessoa.

Defesas de nível mais elevado (neuróticas)


Introjeção Internalizar aspectos de uma pessoa importante como uma maneira de lidar com a perda dessa pessoa. Pode-se
também introjetar um objeto hostil e mau como uma maneira de se proporcionar uma ilusão de controle sobre
o objeto. A introjeção ocorre de formas não-defensivas como uma parte normal do desenvolvimento.
Identificação Internalizar as qualidades de outra pessoa tornando-se como a pessoa. Embora a introjeção conduza a uma
representação internalizada experimentada como uma “outra”, a identificação é experimentada como parte do
self. Isso também pode servir como funções não-defensivas no desenvolvimento normal.
Deslocamento Deslocar sentimentos associados com uma idéia ou um objeto para outros que de alguma maneira se assemelhem
ao original.
Externalização Negar a responsabilidade pessoal por um comportamento, atribuindo essa responsabilidade a outra pessoa.
Intelectualização Usar ideação excessiva e abstrata para evitar sentimentos de dificuldade.
Isolamento afetivo Separar uma idéia de seu estado afetivo associado para evitar turbulência emocional.
Racionalização Justificar atitudes, crenças ou comportamentos inaceitáveis para torná-las toleráveis a seu self.
Sexualização Dotar um objeto ou comportamento de importância sexual para transformar uma experiência negativa em uma
excitante e estimulante, ou para se precaver de ansiedades associadas com o objeto.
Formação reativa Transformar um desejo ou impulso inaceitável em seu oposto.
Repressão Bloquear ou expelir idéias ou impulsos inaceitáveis para que eles não entrem na consciência. Essa defesa difere da
negação porque essa última está associada com dados sensoriais externos, enquanto a repressão está associada
ao objeto.
Anulação Tentar negar implicações sexuais, agressivas ou vergonhosas de um comentário ou comportamento prévio,
elaborando, esclarecendo ou fazendo o oposto.

Defesas maduras
Humor Encontrar elementos cômicos e/ou irônicos em situações difíceis para reduzir um sentimento desagradável e um
desconforto pessoal. Este mecanismo também permite algum distanciamento e objetividade dos eventos, para
que um indivíduo possa refletir sobre o que está acontecendo.
Supressão Decidir conscientemente a não dar atenção a um sentimento, estado ou impulso específico. Essa defesa difere da
repressão e da negação, pois é mais consciente do que inconsciente.
Ascetismo Tentar eliminar aspectos agradáveis da experiência devido a conflitos internos produzidos por esse prazer.
Altruísmo Comprometer-se com as necessidades dos outros sobre e acima das próprias necessidades. O comportamento
altruístico pode ser usado a serviço de problemas narcisistas, mas pode também ser a fonte de grandes
realizações e contribuições construtivas para a sociedade.
Antecipação Postergar a gratificação imediata planejando e pensando sobre realizações e empreendimentos futuros.
Sublimação Canalizar objetivos socialmente objetáveis ou internamente inaceitáveis para objetivos socialmente aceitáveis.
18 Glen O. Gabbard, Judith S. Beck & Jeremy Holmes

No complexo de Édipo positivo, a criança deseja possuir uma representação objetal total da mãe, em oposição a visão de
exclusivamente o pai/mãe do sexo oposto e pode abrigar dese- objeto parcial de qualidades “totalmente más” ou “totalmente
jos assassinos com relação ao pai/mãe do mesmo sexo. O supe- boas”. Essa fase do desenvolvimento é conhecida como a posi-
rego é visto como resultante de uma resignação relutante em ção depressiva. Como parte dessa época do desenvolvimento, a
que é melhor se identificar com o pai/mãe do mesmo sexo do criança tem uma ansiedade depressiva relacionada à preocu-
que arriscar a retaliação desse pai/mãe em resposta aos desejos pação de vir a causar mal à mãe que ela ama. A criança pode
incestuosos. A criança do sexo masculino pode temer que o tentar resolver essa ansiedade depressiva por meio da repa-
pai a retalie na forma da castração, gerando a ansiedade de ração. Na verdade, Klein reconceituou o complexo de Édipo
castração. O menino, então, se identifica com o agressor (pai) como envolvendo o esforço da criança em lidar com ansieda-
decidindo procurar uma mulher como sua própria mãe porque des depressivas e a culpa reparando aquelas experimentadas
não consegue competir com seu pai. como prejudicadas (Segal, 1953). Uma criança pode escolher
Freud usou o modelo do desenvolvimento masculino para se tornar um médico, por exemplo, como uma maneira de curar
entender a psicologia feminina. Ele imaginou que uma meni- outras pessoas na tentativa de reparar o dano que imagina ter
ninha via-se como um menino até descobrir a existência do causado a seus pais.
pênis. Então sentia-se inferior e passava a sofrer da “inveja do Outro componente-chave da teoria de Klein é o papel da
pênis”. A falta de apoio empírico para esse modelo de desen- inveja como um derivado do instinto da morte. A inveja é uma
volvimento conduziu a um importante repensar da experiência forma de ódio dirigida ao bom objeto, em vez de dirigi-la ao
do desenvolvimento feminino (Benjamin, 1990; Chodorow, mau objeto. A inveja é, em parte, responsável pela percepção
1996). O pensamento atual sobre a construção do gênero con- da criança de que ela causou dano à “mãe boa” (Klein, 1957).
centra-se na influência da cultura, nas identificações com os Enquanto o ciúme envolve três pessoas, a inveja ocorre em um
pais e nas relações objetais internas, em vez de nas suposições contexto de duas pessoas.
rígidas sobre as diferenças anatômicas (ver Capítulo 34, “Ques- Os desenvolvimentistas criticam o pensamento de Klein
tões de gênero na psicoterapia”). por atribuir formas de cognição e percepção complicadas para
os bebês em seus primeiros meses de vida. Seu pensamento
Melanie Klein e a teoria das relações objetais também tem sido desafiado devido à ênfase que dá ao instinto
da morte, uma teoria que não é endossada por qualquer ou-
A teoria das relações objetais tornou-se talvez o modelo
tra escola psicanalítica de pensamento e por sua tendência a
teórico predominante na terapia psicanalítica contemporânea.
minimizar o trauma real enquanto enfatiza a vida de fantasia
As origens da teoria podem ser vinculadas ao trabalho de Me-
lanie Klein, em Londres, nas décadas de 1930 e 1940. Baseada intrapsíquica da criança.
em seu tratamento psicanalítico de crianças, ela desenvolveu Wilfred Bion, um analisando de Klein, foi importante no
uma teoria que enfatizava a fantasia intrapsíquica inconsciente direcionamento da teoria de Klein dos impulsos e uma aproxi-
e o desenvolvimento pré-edipico. mação das relações (Bateman e Holmes, 1995). Ele se concen-
Klein teorizou que o bebê começa a vida com uma ansie- trou em focalizar como a mãe funciona como um continente
dade primária relativamente ao aniquilamento. Ela postulou para os intensos sentimentos do bebê e os “desintoxica” a partir
que para lidar com esse terror, o ego passava por um proces- de sua proteção para que eles sejam recuperados pelo bebê de
so de divisão em que a “maldade” ou agressão associada com uma forma mais fácil de lidar. Esse componente interacional é
o instinto da morte era projetada no seio da mãe. A criança considerado vital no modelo de Bion.
então desenvolvia ansiedades paranóides sobre a possibilidade Enquanto as visões de Klein estavam intimamente relacio-
de a mãe poder atacar o bebê. Essa preocupação é a princi- nadas à teoria do impulso de Freud, a tradição independente
pal ansiedade da posição paranóide-esquizóide, um modo inicial britânica enfatizava que os impulsos do bebê se desenvolvem
de organizar a experiência que envolve cisão e projeção. Os no contexto do relacionamento mãe-bebê e por isso devem ser
bons aspectos da mãe são cindidos e mantidos separados dos encarados nesse contexto. Fairbairn (1952) argumentou que
aspectos maus ou persecutórios, para que eles não sejam con- os impulsos primariamente procuram objetos no ambiente, em
taminados pelo ódio ou pela agressão. Em outras palavras, os vez de buscar reduzir a tensão no sentido da teoria dos impul-
aspectos amorosos da mãe e do self são mantidos isentos da sos. Um princípio fundamental é que os relacionamentos são
contaminação da raiva e do ódio. internalizados nos primeiros anos de vida. As relações objetais
A posição paranóide-esquizóide foi proposta como a ma- construídas em blocos de vida envolvem uma representação do
neira predominante em que os bebês organizam suas experiên- self, uma representação do objeto, e um sentimento que vincu-
cias durante os primeiros seis meses de vida. O objeto mau é la os dois.
projetado e depois reintrojetado durante esse período. O objeto A cisão e a identificação projetiva são dois dos mecanismos
bom também pode ser projetado para ser mantido seguro da de defesa mais associados à teoria das relações objetais (ver Ta-
“maldade” que existe dentro da criança. bela 1.1). Cindir envolve a tendência a dividir todos em grupos
Depois dos seis primeiros meses, a criança começa a inte- de “totalmente maus” ou “totalmente bons”. Essa polarização
grar a mãe “má” com a mãe “boa”. A criança entende que a dos objetos envolve uma cisão correspondente do self. Daí as
mãe tem boas e más qualidades e começa a integrar ambas em apresentações contraditórias do self poderem alternar uma com
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 19

a outra, resultando em um quadro confuso tanto para o pa- A perspectiva independente também foi influenciada pelo
ciente quanto para aqueles próximos ao paciente. No sentido pensamento de D.W. Winnicott. Ele enfatizava a tendência
desenvolvimentista, a cisão é uma defesa que ocorre antes do inata para se caminhar rumo à realização do self. Achava que
conflito. Como resultado, os pacientes que confiam na cisão havia um verdadeiro self cujo crescimento poderia ser prejudica-
podem reagir com indiferença ou negação branda quando con- do ou facilitado pelas reações maternas (Winnicott, 1965). Se
frontados com contradições em seu comportamento (Kernberg, a mãe, ou outra figura cuidadora, não conseguisse se ligar com
1975). o verdadeiro self da criança, esta poderia desenvolver um falso
A identificação projetiva atua em seguida à cisão, pois as self destinado a agradar ou aplacar a figura materna.
representações do objeto ou do self que são divididas podem
ser colocadas em outros como uma maneira de negá-las. Na Psicologia do self
identificação projetiva no contexto psicoterapêutico, o pacien-
te inconscientemente projeta a representação do self ou do ob- A psicologia do self desenvolveu-se a partir do estudo de
jeto naquele que o está tratando, que então inconscientemen- Heinz Kohut de pacientes com transtorno da personalidade
te se identifica com o que foi projetado. Por meio da pressão narcisista que buscavam tratamento analítico (Kohut, 1971,
interpessoal, o paciente provoca uma resposta naquele que o 1977, 1984). Os pacientes adultos de Kohut eram caracteri-
está tratando que corresponda ao que é projetado. Por exem- zados por ter uma auto-estima extremamente vulnerável que
plo, uma paciente de 26 anos com transtorno da personalidade os tornava facilmente menosprezados pelos amigos, colegas e
borderline foi uma vítima de abuso físico por parte de sua mãe. parceiros românticos. Ele não os encarava como sofrendo de
conflito intrapsíquico ou neurótico. Kohut sugeriu que estes in-
Quando estava com sua terapeuta, a acusava de não ouvir
divíduos careciam da empatia desenvolvimentista e apropriada
atentamente o que ela dizia. Também acusava sua terapeuta
por parte de suas mães, o que criava uma situação de déficit.
de ser insensível em relação a ela. Disse-lhe ainda estar con-
Os indivíduos com este déficit seguiam sua vida tentando obter
vencida de que a terapeuta não gostava dela e não queria vê-la.
dos outros respostas que compensassem as funções que esta-
Esse comportamento nas sessões continuou inalterado durante
vam faltando em si mesmos. Kohut chamou-as de funções do
semanas. Finalmente, suas acusações aumentaram a ponto de
self-objeto, em que outros devem desempenhar funções para
a terapeuta ficar zangada e dizer à paciente que estava ficando
o self do paciente, em vez de lhes ser permitido se comportar
cansada de tantas distorções que esta trazia à terapia. Também
autonomamente.
elevou sua voz ao falar com a paciente e exclamou: “Não posso
As funções do self-objeto tendem a cair em três categorias,
mais suportar sua atitude!”. Então, por meio da pressão inter-
que Kohut encarava como os três tipos de transferências do
pessoal do seu comportamento, a paciente influenciou sua te- self-objeto. A transferência do espelho é uma tentativa de cap-
rapeuta a assumir a forma do objeto mau projetado por ela. A tar o “brilho no olho da mãe” em resposta às demonstrações
terapeuta, na verdade, tornou-se uma versão atenuada da mãe de exibicionismo apropriadas da fase que ressoam à infância,
abusiva da paciente. Na situação terapêutica ideal, o material quando a criança achava que essas reações empáticas não eram
por ela projetado é então psicologicamente processado e modi- bem recebidas pela mãe. Essas reações aprovadas ou refletidas
ficado pelo terapeuta para que o que foi projetado seja transfor- eram encaradas por Kohut como essenciais para o desenvolvi-
mado pelo terapeuta antes de ser reintrojetado pelo paciente. mento de um sentido do self na criança.
Esse processo em geral não ocorre no cotidiano, quando os pa- A segunda forma de transferência do self-objeto é a trans-
cientes projetam alguns aspectos de si nos outros no decorrer ferência idealizada, em que o paciente mantém sua auto-estima
do seu contato habitual. ficando à sombra de um terapeuta idealizado. Aquecer-se na
A teoria das relações objetais se ajusta bem com a neuro- glória refletida do terapeuta faz o paciente se sentir aceito e
ciência cognitiva, pois as representações iniciais do self e de ob- valorizado.
jeto ficam gravadas em redes neurais específicas como um resul- A terceira transferência é chamada de transferência ge-
tado da experiência repetida com figuras presentes no ambiente. melar ou do alter-ego. Esse aspecto do self aparece como uma
Um princípio fundamental da teoria das relações objetais é que necessidade de ser exatamente igual ao terapeuta. A origem
a representação interna pode não ser exatamente a mesma que do desenvolvimento é um desejo de fusão que é pouco a pouco
a figura externa em quem a representação é baseada. Por exem- transformado em um comportamento imitativo.
plo, as crianças podem exagerar tendências nos pais devido às Inerente à visão psicológica do self é a noção de que o
suas fantasias sobre os pais. As primeiras representações tendem desenvolvimento e a manutenção da auto-estima é tão im-
a ser mais polarizadas e são com freqüência referidas como obje- portante quanto a sexualidade e a agressão como um fator de
tos parciais. Desde os 3 anos até cerca dos 6, os objetos parciais motivação na interação humana. Além disso, Kohut (1984)
e as representações parciais do self são integrados no objeto total achava que a separação é um mito que não reflete nossa neces-
e nas representações totais do self e envolvem qualidades boas e sidade real de respostas ratificadoras e empáticas por parte dos
más. Quando ocorre uma falha na integração, os pacientes po- outros para sentirmos uma sensação de integração no correr
dem continuar a vida toda se cindindo e dissociando os outros, da vida. Finalmente, Kohut encarava a conexão entre self e
e repetindo os relacionamentos objetais passados por meio do self-objeto como responsável por todas a formas de psicopato-
mecanismo da identificação projetiva. logia. Ele considerava os conflitos edípicos relacionados à se-
20 Glen O. Gabbard, Judith S. Beck & Jeremy Holmes

xualidade e à agressão como meros “fragmentos” de primitivas de “Situação Estranha”. Nesse teste de laboratório de 20 mi-
falhas do desenvolvimento envolvendo carência de respostas nutos, uma criança é exposta a separações breves de sua mãe.
do self ou do objeto. A reação a essas separações conduziu a uma classificação das
Kohut não foi suficientemente claro sobre o momento do crianças como seguramente apegadas, ansiosas e esquivamente
desenvolvimento específico para as dificuldades no self. No apegadas, ansiosas e ambivalentes ou resistentes no estilo do
entanto, sugeriu que o self começa como um núcleo fragmen- apego, ou desorganizadas e desorientadas.
tado e só adquire coesão em resposta a reações empáticas por Embora não haja necessariamente uma correlação uma a
parte dos pais. Na ausência dessas reações empáticas, ocorre a uma entre as categorias de apego da criança e aquelas dos adul-
fragmentação do self e a criança tenta captar o sentido do self tos, os teóricos do apego consideraram clinicamente proveitoso
buscando reações de self-objeto em outras pessoas. pensar nos indivíduos adultos em quatro categorias de apego
A perspectiva psicológica do self é consoante com o traba- mais ou menos análogas: (1) indivíduos seguros/autônomos
lho de observação de bebês de Daniel Stern (1985, 1989). As que valorizam os relacionamentos de apego; (2) indivíduos in-
reações de afirmação e validação da figura materna parecem seguros/rejeitados que negam, desvalorizam, idealizam ou de-
ser cruciais para o sentido do self do bebê, que está em desen- nigrem tanto os apegos atuais quanto os passados; (3) adultos
volvimento. Desde muito cedo em sua infância, a criança tem preocupados que se sentem pressionados ou confusos com os
um sentido de self-com-o-outro em resposta à sintonia com o relacionamentos de apego atuais e passados e (4) indivíduos
cuidador. Stern descreveu cinco sentidos discretos do self, co- desorganizados ou não-resolvidos que têm freqüentemente so-
meçando pelo desenvolvimento de um self predominantemen- frido negligência ou trauma. Em comparação com outras es-
te corpo, do nascimento até os 2 meses. O núcleo do sentido do colas do pensamento psicanalítico, há uma pesquisa empírica
self emerge entre 2 e 6 meses. Entre 7 e 9 meses, o bebê começa muito mais rigorosa por trás da teoria do apego. Parte dessa
a ter um sentido maior do self subjetivo quando os estados in- pesquisa demonstra que os modelos mentais de apego dos pais
trapsíquicos entre o bebê e a mãe começam a se corresponder. prevêem padrões subseqüentes de apego entre a mãe e o bebê
Quando a criança está aproximando-se do meio do segundo (Fonagy, 2001). Um conceito fundamental da teoria do apego
ano de vida, ela tem a capacidade de pensar simbolicamente e é a mentalização, a capacidade de entender que o próprio com-
de se comunicar verbalmente, emergindo assim finalmente um portamento da pessoa e aquele dos outros são motivados por
sentido categórico ou verbal do self. Um self com continuidade estados internos, como pensamentos e sentimentos (Fonagy,
histórica, o sentido narrativo do self, chega entre os 3 e os 5 1998). Além disso, parte da mentalização é um entendimento
anos. de que as percepções que uma pessoa tem das outras são mais
representações do que propriamente a realidade. A capacidade
Teoria do apego da mãe ou do cuidador de observar o estado intencional e o
mundo interno do bebê parece influenciar o desenvolvimento
John Bowlby foi responsável pelo desenvolvimento da do apego seguro na criança. O apego seguro da criança com o
teoria do apego, principalmente em oposição às teorias psi- cuidador influencia sobremaneira o desenvolvimento da capa-
canalíticas existentes na sua época. Apesar disso, nos últimos cidade de mentalizar da criança.
anos a teoria do apego começou a se tornar integrada com a
estrutura pluralística da psicanálise. Bowlby (1988) enfatizou
repetidamente a experiência real da criança e a importância
Escolas pós-modernas
do mundo externo no desenvolvimento saudável. Emprestados Nos últimos anos surgiram vários modelos teóricos que en-
da etologia, os comportamentos de apego eram encarados por fatizam a natureza bipessoal do tratamento psicanalítico. Todas
Bowlby como não-redutíveis a outro impulso. Todo um siste- essas várias abordagens, com rótulos como intersubjetividade,
ma de comportamentos por parte da criança atua para otimizar teoria relacional, construtivismo ou psicanálise interpessoal
a proximidade com a mãe ou o cuidador (Fonagy, 2001). Em endossam o ceticismo sobre qualquer verdade fundamental re-
contraste com o pensamento das relações objetais, a motivação sidindo no paciente ou no analista. A verdade é co-construída
da criança não é a busca do objeto. Em vez disso, seu objetivo é na interação entre o terapeuta e o paciente. Todas elas têm
atingir um estado psicofisiológico relacionado a estar em íntima uma perspectiva pós-moderna, pois duvidam da existência de
proximidade com a mãe ou o cuidador. Holmes (2001) sugere uma realidade objetiva “fora dali” (Holland, 1983; Leary, 1994;
que o mesmo acontece com os adultos, que, quando estressados Aron, 1996).
ou ameaçados, podem, caso se sintam inseguros em seu apego, Renik (1993), por exemplo, enfatiza a subjetividade irredu-
recorrer a “fenômenos patológicos de base segura”, como abuso tível do analista na maneira em que este aborda as intervenções
de substância, autoflagelação deliberada, ou comer em excesso. de ouvir e formular. A situação do tratamento é intersubjetiva,
Esses comportamentos podem recriar um atalho para o estado porque o terapeuta psicanalítico jamais pode transcender total-
fisiológico da base segura, sem seus componentes relacionais mente suas próprias motivações inconscientes para tentar aju-
ou psicológicos. dar o paciente. Em uma visão similar, a perspectiva pós-moder-
O trabalho de Ainsworth e colaboradores (1978) foi fun- na reconhece que o aparecimento da patologia do paciente é
damentalmente importante no aperfeiçoamento do conceito fortemente influenciado pela cultura, pelo gênero e pelos vieses
do apego, estudando a reação do bebê ao que era chamado pessoais do terapeuta. O ponto de vista construtivista enfatiza
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 21

que devemos ser hesitantes sobre encarar a transferência do terapeuta – o modo como entra na sala, senta-se na cadeira, in-
paciente como uma “distorção”, pois este pode ser um plausí- terrompe o contato de olhar com o terapeuta, e o que opta por
vel constructo baseado no reconhecimento pelo paciente dos mencionar ao terapeuta – revela aspectos das relações objetais
verdadeiros aspectos do comportamento do analista (Hoffman, internas e das atitudes inconscientes do paciente com relação
1983, 1991). ao terapeuta.
Quando os terapeutas dinâmicos começam a entender
seus pacientes, tentam motivá-los em busca da colaboração
Princípios de tratamento para atingir objetivos terapêuticos comuns. Essa formação
Os princípios da técnica na psicoterapia psicanalítica têm de uma aliança terapêutica em torno do entendimento pode
evoluído consideravelmente com o passar dos anos. O estereó- ser fundamental para o sucesso da terapia. Os terapeutas
tipo do terapeuta da “tela em branco”, que fica indiferente e em devem ajudar seus pacientes a se aliarem com a tarefa de
silêncio enquanto o paciente se esforça, tem conduzido muitos reflexão e entendimento do terapeuta. Na situação ideal, os
a assumir, equivocadamente, que a passividade é a marca do te- pacientes podem se observar enquanto também participam
rapeuta psicodinâmico. Hoje em dia atuamos em uma era pós- integral e emocionalmente na experiência imediata da situa-
tela em branco, em que o terapeuta está ativamente engajado ção terapêutica.
no processo e reconhece tanto o papel da contratransferência Muitos dos mesmos princípios que se aplicam à atitu-
quanto o da transferência. de ideal do paciente também se aplicam ao terapeuta. Assim
Os princípios da técnica variam um pouco segundo a escola como os pacientes têm sentimentos de transferência que são
de pensamento do terapeuta, mas alguns temas são universais. uma mistura do relacionamento real com o terapeuta e rela-
Os terapeutas psicodinâmicos permitem que seus pacientes cionamentos do passado, os terapeutas experimentam uma
tentem articular a natureza de seus problemas e estabeleçam contratransferência envolvendo a mesma combinação. A visão
objetivos considerando o que eles gostariam de lidar no curso estreita, ou freudiana, da contratransferência era a de que os
do tratamento. Então convidam seus pacientes para dizer qual- conflitos inconscientes do analista sobre as figuras do seu pas-
quer coisa que lhes venha à mente enquanto refletem sobre o sado eram deslocados para o paciente no presente. Essa visão
problema. Os pacientes inevitavelmente enfrentam dificulda- tem sido agora superada por um entendimento mais amplo da
des quando tentam falar livremente com seu terapeuta, e, por contratransferência. Os psicoterapeutas dinâmicos se consi-
isso, as resistências ao processo tornam-se o feijão-com-arroz deram como continentes que recebem várias projeções do pa-
diário do trabalho do terapeuta dinâmico. Já em 1912, Freud ciente. O paciente induz alguns sentimentos no terapeuta que
observou que “a resistência acompanha passo a passo o trata- refletem os relacionamentos internalizados do paciente. Estu-
mento. Toda associação isolada, todo ato de uma pessoa que dando como se sentem em resposta às projeções do paciente,
está em tratamento deve enfrentar a resistência que representa os terapeutas começam a obter um entendimento de como as
um compromisso entre as forças que estão lutando em prol da outras pessoas se sentem em relacionamentos com o paciente.
recuperação e as forças opostas” (p.103). Os terapeutas devem se permitir ser suficientemente flexíveis
Um terapeuta dinâmico não tenta superar as resistências para que possam experimentar o esforço do paciente para atraí-
insistindo que o paciente deve dizer o que lhe vem à mente. los para padrões familiares dos relacionamentos objetais. Assim
Em vez disso, deve entender o significado do silêncio ou da fazendo, eles ficam a par de uma experiência em primeira mão
vergonha do paciente. Nessa exploração, os terapeutas dinâ- das dificuldades características do paciente com outras pessoas
micos freqüentemente descobrem que sentimentos particu- e podem ajudá-lo a entender como estão repetindo no presente
lares sobre o terapeuta são responsáveis pela resistência. Na padrões característicos do passado que são também típicos dos
verdade, as fantasias de transferência sobre o terapeuta são relacionamentos atuais.
importante fonte de resistência. Os pacientes podem imaginar Termos como neutralidade, abstinência e anonimato podem
que o terapeuta poderá criticá-los se eles falarem o que lhes ser enganosos já que se pode criá-los equivocadamente para
vem à mente. Também podem ficar preocupados em ferir os promover uma indiferença ou frieza. Esses princípios da técnica
sentimentos do terapeuta dizendo algo negativo sobre a tera- têm sofrido uma considerável transformação, e todos os três só
pia. Podem se fechar imaginando que os motivos do terapeuta devem ser aplicados agora em um sentido relativo. Em outras
não sejam inocentes – e se o terapeuta deseja secretamente palavras, os terapeutas são neutros na medida em que tentam
ridicularizá-los por causa de suas fraquezas? À medida que o continuar a não fazer julgamentos sobre os sentimentos, de-
tempo passa na terapia, cada vez mais essas preocupações in- sejos e comportamentos do paciente na busca de entendê-lo.
conscientes tornam-se conscientes com a ajuda do terapeuta, Os terapeutas são abstinentes no sentido de que não gratifi-
que faz comentários sobre pontos dos quais o paciente pode cam todo desejo de transferência do paciente porque querem
não estar consciente. entendê-lo, e não simplesmente ser indulgentes com ele. Os
A maneira como o paciente resiste ao processo revela mui- terapeutas certamente proporcionam muita gratificação em sua
to sobre seu mundo interno. Em 1914, Freud observou que cordialidade e humanidade, em seu riso em resposta a uma pia-
o paciente repete na ação o que ele não consegue lembrar e da, em sua criação de um ambiente acolhedor, e em sua escuta
verbalizar. Por isso, a maneira como este se relaciona com o empática (Gabbard, 2000a,b).
22 Glen O. Gabbard, Judith S. Beck & Jeremy Holmes

O anonimato, em especial, tem sofrido transformações na para os terapeutas é aquele em que eles podem se permitir ser
maneira como os psicoterapeutas psicodinâmicos modernos ‘sugados’ para o mundo do paciente e ao mesmo tempo con-
constroem o termo. Os terapeutas estão o tempo todo reve- seguem manter a capacidade para observar o que está aconte-
lando coisas sobre si mesmos – na maneira como seu consul- cendo diante de seus olhos. Nesse estado, os terapeutas estão
tório é montado, na maneira como reagem ao que o paciente realmente pensando seus próprios pensamentos, ainda que es-
diz, por meio de comunicações não-verbais como expressões tejam de certa forma sob a influência do paciente” (p.82). Esse
faciais, e através da sua escolha de quando falar versus quan- processo envolve pequenos enactments (encenação) contra-
do permanecer em silêncio. Eles podem também revelar alguns transferenciais, nos quais os terapeutas podem se sentir como
sentimentos de contratransferência que estão observando na um objeto ou self-representação dentro do mundo interno do
sessão para ajudar os pacientes a entender o que eles evocam paciente, seguido por um processo de voltar a pensar nos pró-
no terapeuta e nas outras pessoas. O anonimato hoje é melhor prios pensamentos e entender a representação no contexto da
entendido como uma forma de restrição baseada na assimetria situação terapêutica.
do relacionamento terapêutico. Os terapeutas não falam so- O terapeuta dinâmico também rastreia os sentimentos do
bre seus problemas pessoais ou sobre sua vida privada e sobre paciente. Será que a ansiedade ou a tristeza emerge quando
a relação com suas famílias porque são remunerados para se o pai do paciente é discutido? Há um lampejo de raiva quan-
concentrar nas questões do paciente. Muitas revelações pessoais do o paciente fala das demandas associadas à doença de um
podem sobrecarregar o paciente. A visão tradicional do anoni- irmão? Um conflito intrapsíquico específico pode ser introdu-
mato era a de que o terapeuta deveria ser como uma “tela em zido pela emergência do sentimento. Os terapeutas dinâmicos
branco” para que as características reais do terapeuta não “con- estão igualmente interessados nas defesas que aparecem para
taminassem” a transferência do paciente. Qualquer coisa que o lidar com os estados afetivos ou derivativos dos impulsos. Por
terapeuta faça tem um impacto contínuo na transferência do exemplo, quando a expressão de raiva é abafada por uma fuga
paciente, de modo que lhe é impossível evitar a transferência defensiva do tema que evocou a raiva, os terapeutas podem
do paciente. Uma abordagem espontânea, natural e cordial do chamar a atenção para o conflito do paciente e para a estraté-
paciente tem muito maior probabilidade de facilitar uma boa gia defensiva usada para lidar com ele (Gray, 1990).
aliança terapêutica do que uma postura distante, silenciosa e Um princípio básico da terapia psicanalítica é a elaboração
indiferente. Também sabemos que as relações objetais internas (working through). Chamar atenção para os estados afetivos, as
e os conflitos intrapsíquicos do paciente de certa forma emergi- defesas e as resistências e entender seu significado requer tem-
rão, independentemente do terapeuta. po. Freud (1914) declarou: “Deve-se dar tempo ao paciente
A espontaneidade é certamente um fator-chave na atitude para que ele se torne mais familiarizado com essa resistência da
ideal do terapeuta. Os terapeutas psicodinâmicos se permitem qual ele agora tomou conhecimento, para elaborá-la e superá-
ser “sugados” para o mundo interno do paciente, engajando- la, continuando, ao desafiá-la, o trabalho analítico” (p.155). O
se na “dança” que este busca estabelecer no consultório. Um terapeuta deve estar preparado para lidar com os mesmos con-
exemplo vai ilustrar uma variação desse fenômeno. flitos, as mesmas resistências e as mesmas transferências quan-
do elas vêm à tona em várias situações diferentes, tanto dentro
Um homem de 30 anos foi à sua primeira consulta com seu tera-
peuta, e começou lhe perguntando quantos pacientes ele havia
do relacionamento terapêutico quanto fora do consultório. So-
tratado. O terapeuta respondeu que não sabia o número exato, mente por meio da interpretação repetitiva, da observação e
mas estava curioso em saber por que o paciente havia perguntado da confrontação o paciente, finalmente, adquirirá um sentido
isso. Em resposta a esse comentário, o paciente disse: “Ah, estou de domínio sobre uma série de conflitos internos assustadores
vendo, você é um desses terapeutas que devolve as perguntas aos e pelos “fantasmas” responsáveis por eles. Freud (1914) enfati-
pacientes e portanto nunca responde nada”. O terapeuta respon- zou que esse processo de elaboração é o que distingue a aborda-
deu: “Bem, eu não iria tão longe. Às vezes faço algumas pergun- gem psicanalítica das terapias baseadas na sugestão. Também é
tas, se acho que serão úteis”. O paciente então comentou: “Você uma das razões por que a terapia dinâmica é em geral de longo
agora parece ter se colocado na defensiva”. O terapeuta replicou: prazo ou sem tempo limitado. Uma exceção importante é a te-
“Não, não creio estar na defensiva. Estou simplesmente tentando rapia dinâmica breve, mas essa modalidade está contemplada
esclarecer minha posição”.
em outra parte neste livro.
Nesse ponto, o terapeuta se viu ficando irritado pela maneira A psicoterapia psicodinâmica ocorre no contexto de uma
como era desafiado pelo paciente e reconheceu que havia sido estrutura que assegura o comportamento ético por parte do te-
atraído para uma dança particular típica desse paciente, que se rapeuta. Aderindo à estrutura, a representação ocorre de uma
queixava de que muitos de seus amigos e colegas o achavam ir-
maneira atenuada que não ameaça ferir ou explorar o paciente.
ritante.
A estrutura é constituída por um conjunto de fronteiras pro-
Neste exemplo, o terapeuta não se mantém alheio à in- fissionais que definem os limites de um relacionamento profis-
fluência do paciente, mas funciona como um continente para sional e o diferencia de uma amizade, de um relacionamento
que ele possa experimentar de modo completo o que nele o romântico ou de um relacionamento entre pai/mãe e filho.
paciente provoca, enquanto também conserva a capacidade Incluídos nessa fronteira estão o consultório do terapeuta, a
para refletir sobre o que está acontecendo entre eles. Como estrutura de tempo de 45 ou 50 minutos, o modo de vestir e
declaram Gabbard e Wilkinson (1994): “O estado mental ideal a conduta profissional, a auto-revelação limitada por parte do
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 23

terapeuta, a aceitação de uma remuneração pelo serviço (ou A observação chama a atenção para um comportamento,
um salário, caso se trate de recursos públicos), confidenciali- a seqüência de um comentário, o vislumbre de uma emoção,
dade e ausência de contato físico. O ponto fundamental desse um padrão dentro da terapia, ou fenômenos similares (Gab-
relacionamento assimétrico é que todo o enfoque do terapeuta bard, 2004). Diferentemente da interpretação, a observação
está voltado para ajudar o paciente com os problemas que este não tenta explicar ou identificar motivos. O terapeuta espera
traz para a terapia. que a observação conduza a uma exploração colaborativa dos
As fronteiras não devem ser estabelecidas rigidamente. significados. Um terapeuta pode dizer, por exemplo: “Não creio
Algumas transgressões de fronteiras podem ser benignas e até que você esteja consciente disso, mas em geral você faz careta
úteis. Se um paciente cai ao entrar no consultório, um tera- quando pergunto sobre sua mãe”.
peuta pode ajudá-lo a se levantar. Em alguns casos, os tera- A confrontação envolve uma tentativa de fazer o paciente
peutas podem fazer perguntas pessoais ou estender a sessão. enfrentar algo que ele está evitando. Embora a confrontação
Essas transgressões menores são referidas como cruzamento de possa ter uma conotação agressiva, esse tipo de intervenção
fronteiras (Gutheil e Gabbard, 1998), porque ocorrem isolada- pode ser também realizada de um modo gentil. Depois que a
mente, são atenuadas de maneira a não haver nenhum dano, mãe de um paciente morreu, o terapeuta observou que este
e freqüentemente são exploradas na própria terapia. As trans- evitava completamente o tópico da morte de sua mãe. O te-
gressões de fronteiras mais clamorosas, como a conduta sexual rapeuta escolheu um momento adequado para chamar a aten-
inadequada, são referidas como violações das fronteiras, porque ção para o fato: “Sei que é um tema difícil para você, mas não
exploram a vulnerabilidade do paciente, podem prejudicá-lo e creio que você tenha falado sobre sua mãe uma única vez desde
destroem a viabilidade da terapia. sua morte”. Enquanto a observação em geral se concentra em
comunicações não-verbais ou padrões que estão fora da cons-
O continuum expressivo-suportivo da psicoterapia ciência do paciente, as confrontações em geral visam a com-
portamentos ou tópicos que são conscientes, porém evitados
A psicoterapia psicodinâmica é freqüentemente referida
(Gabbard, 2004).
como psicoterapia expressiva-suportiva. Essa designação refle-
Na extremidade mais suportiva do continuum, os tera-
te o fato de que com qualquer paciente o terapeuta pode ser às
peutas podem dar um conselho especial aos pacientes sobre
vezes mais expressivo ou exploratório enquanto outras vezes se
a maneira como devem viver suas vidas, como devem decidir
desloca para um estilo mais suportivo ou supressivo, dependen-
se comportar em uma situação específica, ou se devem sair
do das necessidades do paciente. A psicoterapia dinâmica que
é predominantemente exploratória ou expressiva é orientada de um relacionamento em que estão envolvidos. Dar conse-
para analisar defesas, transferência e conflitos intrapsíquicos e lhos é incomum na terapia exploratória e distingue bastante
para tornar uma parte maior do inconsciente do paciente dis- a terapia suportiva da terapia expressiva. O elogio é também
ponível para a consciência. A psicoterapia suportiva ou supres- usado na terapia suportiva ou supressiva para reforçar alguns
siva visa a encorajar ou a fortalecer defesas e suprimir o conflito comportamentos ou pensamentos, aprovando-os. A afirma-
inconsciente. Embora a psicoterapia psicodinâmica como tra- ção é outra intervenção associada com terapias que são pre-
tamento em geral implique uma ênfase expressiva ou explo- dominantemente suportivas. Nesses tratamentos, os terapeu-
ratória, as intervenções suportivas são usadas regularmente tas podem fazer comentários como: “Não o culpo nem um
nesses tratamentos. pouco por se sentir da maneira como está se sentindo”, ou:
Os tipos de intervenções que predominam na terapia di- “Você tem toda a razão de estar zangado”. As defesas podem
nâmica altamente expressiva são a interpretação, a observação ser estimuladas por comentários assim: “Acho que você deve
e a confrontação. Interpretações são declarações feitas pelo continuar a agir de uma maneira bondosa com sua mãe, em-
terapeuta que tentam explicar os pensamentos, sentimentos, bora esteja secretamente zangado com ela”. Nesse exemplo,
comportamentos ou sintomas do paciente. Elas vinculam esses o terapeuta reforçou a formação reativa do paciente porque o
fenômenos a fantasias inconscientes, significados ou origens paciente tinha uma história de sair do controle ao expressar
na infância. Uma experiência que ocorre na terapia que se re- sua raiva.
laciona ao terapeuta pode ser vinculada a situações paralelas Entre as intervenções mais expressivas e suportivas estão
fora do consultório e a situações passadas ocorridas muito tem- vários comentários do terapeuta que são usados em todas as
po atrás. Um terapeuta pode usar a seguinte interpretação da terapias dinâmicas. A validação empática, particularmente as-
transferência para ajudar um paciente a tornar consciente as sociada aos terapeutas psicológicos do self, envolve se colocar
motivações inconscientes. “Fico imaginando se você acha ne- no lugar do paciente e se sintonizar com o seu estado interno.
cessário discordar com qualquer observação que eu faço como Essa imersão empática no mundo interno do paciente ajuda
uma maneira de derrotar a terapia e, por conseqüência, vencer a entender os sentimentos, pensamentos ou comportamentos
também seu próprio pai.” Os desejos e as defesas contra esses da perspectiva do paciente. Um exemplo de um comentário
desejos são com freqüência os temas da interpretação, e esses empaticamente válido é o seguinte: “Posso certamente apreciar
conflitos podem ser interpretados quando aparecem na transfe- por que você se sentiu magoado pelo comportamento do seu
rência, nas memórias da infância e nos relacionamentos atuais chefe com relação a você, porque você trabalhou bastante no
(Malan, 1976; Gabbard, 2000a). projeto e esperava algum reconhecimento”.
24 Glen O. Gabbard, Judith S. Beck & Jeremy Holmes

Grande parte da terapia envolve facilitar ao paciente a e projetados nos outros para que o paciente possa finalmente
exploração de um determinado tema. Por isso os terapeutas reaver o que tem sido externalizado. Os psicoterapeutas psico-
provavelmente usam mais o encorajamento do que qualquer lógicos do self tentam fortalecer a auto-estima do paciente para
outra intervenção para a elaboração. Exemplos incluem: “Por que este consiga suportar os menosprezos e os danos narcisistas
favor, fale-me mais sobre isso; estou muito interessado”. Outros com maior equanimidade.
comentários podem ser mais específicos: “Em que fase da sua Embora a maior parte desses objetivos esteja mais ajustada
adolescência você achou que realmente tinha de sair de casa?”. para a extremidade expressiva do continuum, os pacientes que
Às vezes o encorajamento para a elaboração é necessário por- têm déficits maiores podem requerer estratégias mais suporti-
que a comunicação do paciente está confusa: “Você poderia vas com objetivos mais limitados. Os pacientes com transtorno
por favor me explicar por que você e seu terapeuta anterior da personalidade borderline, por exemplo, podem precisar de
decidiram que não poderiam mais trabalhar juntos?”. comentários suportivos e de aprovação para conseguir tolerar a
O esclarecimento é uma terceira intervenção que reside interpretação (Gabbard, 2000a). Eles podem também precisar
no meio do continuum expressivo-suportivo e pode assumir vá- de apoio explícito do terapeuta para melhorar alguns déficits
rias formas. Na psicoterapia dinâmica, uma clarificação é fre- do ego, como a capacidade de julgamento. Os terapeutas po-
qüentemente destinada a reorganizar algo que o paciente disse dem sistematicamente ajudar esses pacientes a pensar nas con-
como uma maneira de resumir observações fundamentais que seqüências de suas ações e evitar fazer julgamentos insatisfató-
este vem fazendo (Gabard, 2000a). A clarificação pode ser uma rios. Eles podem também ajudá-los a postergar ações impulsivas
maneira de checar com o paciente se o entendimento do tera- apontando os sentimentos que desencadeiam as ações. Outro
peuta está correto. Pode ser também uma maneira de ajudar objetivo pode ser ajudar o paciente a lidar com déficits internos
o paciente a reconhecer padrões. “Quanto mais eu ouço você proporcionando-lhe algum alívio ou conforto ativo para substi-
falar, mais percebo que você está furioso com sua mãe, sua irmã tuir o que está faltando no mundo interno do paciente.
e sua namorada.” Pode ser também uma maneira de ajudar o Os terapeutas psicodinâmicos avaliam cuidadosamente
paciente a entrar em contato com sentimentos específicos que cada paciente para determinar se a ênfase deve ser predomi-
estão sendo evitados: “Quando você fala sobre a perda do seu nantemente expressiva, predominantemente suportiva ou um
namorado, posso perceber que sente falta dele e que está triste, misto de ambas. Várias características sugerem que o pacien-
mas que, apesar disso, gostaria de se concentrar principalmente te reagirá melhor a abordagens mais exploratórias. Aqueles
na raiva”. pacientes que estão fortemente motivados a entenderem a
si próprios, porque estão sofrendo, são mais acessíveis a uma
O foco na freqüência e na transferência são também fun-
abordagem exploratória. Outras forças do ego respondem bem
ções do continuum expressivo-suportivo. Os pacientes que são
ao tratamento expressivo: teste de realidade preservado, bom
adequados para tratamento altamente expressivo podem fazer
controle do impulso, uma tolerância alta à frustração e uma re-
maior progresso com mais de uma sessão por semana e mais ên-
flexibilidade geral ou disposição psicológica que faça o paciente
fase nas questões de transferência. Os pacientes que precisam
pensar sobre as motivações internas para os comportamentos.
de uma abordagem suportiva podem se beneficiar de sessões
Relacionamentos interpessoais significativos e duradouros,
com uma freqüência menor que uma vez por semana e evitar
inteligência acima da média e uma capacidade para estabele-
lidar com temas de transferência.
cer correlações entre as situações em diferentes contextos são
Os objetivos da psicoterapia psicodinâmica são múltiplos.
também indicações para a terapia dinâmica com uma ênfase
Um dos objetivos básicos é expandir no paciente a consciência
expressiva. Os pacientes que carecem dessas características
dos conflitos, sentimentos, desejos, fantasias e motivações in- podem requerer abordagens mais suportivas. Em geral, uma
conscientes. Os terapeutas psicodinâmicos buscam padrões no pessoa que está no auge de uma grave crise em sua vida vai
trabalho ou na escola e nos relacionamentos. Como padrões precisar de apoio mesmo que normalmente a pessoa possa ser
de ligação passados são repetidos no presente, tanto com o adequada para uma abordagem mais dinâmica. A disfunção
terapeuta quanto na vida fora do consultório? Que conflitos cognitiva de base cerebral pode também impedir uma pessoa
recorrentes habitam o paciente nos ambientes de trabalho ou de conseguir usar a terapia exploratória. No entanto, mesmo
de escola? O terapeuta procura formular interpretações desses pacientes que estão gravemente perturbados podem beneficiar-
padrões inconscientes. Outro objetivo é aumentar a consciên- se de terapia altamente expressiva, caso o terapeuta seja sufi-
cia do paciente sobre padrões de ligação problemáticos para cientemente hábil para proporcionar apoio, quando necessário,
possibilitar novos e diferentes modos de ligação com as outras nas áreas de déficits do paciente.
pessoas.
Um dos objetivos gerais da psicoterapia dinâmica é ajudar
os pacientes a “viver a sua própria vida” (Gabbard, 1996). Os Múltiplos modos de ação terapêutica
terapeutas tentam ajudar os pacientes a entender como eles Como a terapia psicodinâmica funciona? Antigamente o
mentem para si próprios, se escondem de si próprios e tentam foco mais completo era na interpretação do conflito incons-
projetar seus próprios conflitos e sentimentos nos outros. De ciente. Atualmente, quase todos os terapeutas psicanalíticos
uma perspectiva kleiniana e das relações objetais, os terapeu- reconhecem que há múltiplos modos de ação terapêutica que
tas interpretam como alguns aspectos do self têm sido negados variam de paciente para paciente (Gabbard e Westen, 2003).
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 25

Estimular o insight e o próprio relacionamento terapêutico são desenvolvimentista das representações mentais mudou signifi-
provavelmente os principais modos pelos quais se provoca a cativamente com o tratamento psicanalítico intensivo em um
mudança na terapia psicanalítica. ambiente hospitalar.
Historicamente, uma das maneiras em que o insight tem Outra maneira ainda em que o relacionamento terapêu-
sido estimulado é no encorajamento da livre associação. Fa- tico pode catalisar a mudança é por meio da internalização da
zendo o paciente dizer qualquer coisa que lhe venha à mente, capacidade de mentalização do terapeuta, avaliada pelo fun-
o terapeuta pode demonstrar-lhe como as idéias estão incons- cionamento reflexivo melhorado (Fonagy e Target, 1996). Os
cientemente ligadas na rede de associações. A interpretação é pacientes que não tinham capacidade para mentalização rela-
outra maneira de tornar os desejos, medos ou fantasias incons- cionada a problemas de ligação inicial tiveram dificuldade para
cientes mais disponíveis à consciência. O terapeuta dinâmico entender a idéia de que os estados mentais motivam o compor-
espera instilar uma maneira de pensar na mente do paciente tamento. Do mesmo modo, eles têm dificuldade para entender
para que, após o término do tratamento, este continue a rea- como funcionam as mentes dos outros. A partir do relaciona-
lizar um trabalho “auto-analítico” ou “auto-terapêutico” para mento psicoterapêutico, os pacientes podem “se encontrar” na
entender a ansiedade, a depressão ou o conflito quando ele mente do terapeuta e melhorar sua capacidade para distinguir
emergir após o término. representações da realidade externa. Como resultado dessa ca-
Freud (1915) certa vez comentou que o analista segue pacidade melhorada, os pacientes podem então entender tanto
um curso “para o qual não há modelo na vida real” (p.166). seus próprios estados mentais quanto os dos outros. Essa capa-
Há sem dúvida um efeito corretivo na experiência de um cidade pode melhorar de acordo com o nível desenvolvimentis-
tipo novo e diferente de relacionamento para o paciente. ta aumentado das representações internas (Blatt e Auerbach,
Quando os terapeutas se comportam diferentemente do 2001).
que os pacientes esperam, estes devem reclamar da maneira O modo de ação terapêutica inerente no relacionamento
como lhes foram impostas algumas expectativas internas ou terapêutico não deve ser mal-interpretado como uma sim-
figuras externas. ples questão de se comportar conscientemente de maneira
Com o tempo, o paciente internaliza o relacionamento diferente dos objetos do passado (Gabbard e Westen, 2003).
com o terapeuta. Logo, o processo de internalização modifi- Para um efeito de mudança, os pacientes devem perceber seu
ca as representações que estavam presentes desde a infância. terapeuta como suficientemente similar aos objetos passados
Nossas representações do self e outras estão gravadas em re- que as redes neurais básicas ativaram. Então os pacientes têm
des neurais baseadas nas experiências da infância (Westen e a oportunidade de elaborar as antigas representações e esta-
Gabbard, 2002a,b). Essas representações são potenciais ati- dos afetivos que foram problemáticos para eles. Os padrões
vados por situações na realidade externa que são de algum característicos de self-outro devem surgir no relacionamento
modo similares a essas representações internalizadas do self com o terapeuta.
e do objeto. Por exemplo, uma criança que cresceu sendo es- Além dos modos principais de ação terapêutica – a busca do
pancada por seu pai vai esperar que um terapeuta homem, insight e a relação terapêutica –, várias estratégias secundárias
mais velho, seja violento ou crítico. Quando esse terapeuta é surgem em um curso típico da terapia psicodinâmica (Gabbard
calmo e interessado, a rede neural associada com o pai abusi- e Westen, 2003). Ainda que os escritores psicanalíticos tenham
vo e o filho abusivo vai ser pouco a pouco modificada em sua uma história de abster-se do uso da sugestão, há pouca dúvi-
intensidade. Embora a rede neural não desapareça completa- da de que as sugestões explícitas ou implícitas para a mudança
mente, ela fica enfraquecida porque agora está sendo supera- acompanham a maioria dos tratamentos. As crenças problemá-
da por uma nova rede neural que envolve uma representação ticas do paciente podem ser confrontadas porque estão clara-
de um entendimento e do objeto e de um self do paciente que mente relacionadas a comportamentos que são de uma maneira
se sentem entendidos. Mantendo a alteração das representa- ou de outra autodestrutivos. Além disso, os terapeutas podem
ções, o paciente também internaliza as atitudes emocionais ajudar os pacientes a examinar métodos conscientes de tomada
do terapeuta, de forma que o vínculo afetivo entre as repre- de decisão ou resolução de problemas que criem dificuldades
sentações podem ter uma valência emocional diferente. para eles. Até a exposição que está classicamente associada à
Blatt e Auerbach (2001) usaram a Escala de Diferencia- terapia do comportamento ocorre em algum grau em tratamen-
ção e Ligação para estudar 40 adultos jovens e adolescentes tos psicodinâmicos. Como enfatizaram Fonagy e Target (2000),
perturbados e resistentes ao tratamento. Estes pacientes foram ajudar os pacientes a diferenciar crença do fato é uma forma de
avaliados no início e no fim do tratamento de orientação psica- exposição em que o terapeuta reconhece a realidade psíquica
nalítica para pacientes internados, que durou mais de um ano. do medo do paciente e ao mesmo tempo lhe oferece uma pers-
Durante o tratamento, as representações internas do self e de pectiva alternativa que sugere segurança. As ansiedades trans-
objeto sofreram mudanças significativas. Antes do tratamento ferenciais também diminuem com o tempo, em parte devido à
essas representações eram dominadas por cisão e pela polari- exposição inerente à situação psicoterapêutica. Por exemplo, os
zação, enquanto depois do tratamento houve descrições mais pacientes finalmente entendem que seu medo de serem humi-
integradas do self e dos outros, refletindo uma mudança em di- lhados ou criticados pelo terapeuta são irrealistas quando au-
reção da consolidação da constância de objeto. Por isso, o nível menta sua exposição ao terapeuta.
26 Glen O. Gabbard, Judith S. Beck & Jeremy Holmes

Algumas mudanças sem dúvida ocorrem fora do reino das ring et al., 2004), incluiu-se apenas experiências randomizadas
intervenções técnicas planejadas. Momentos específicos de controladas que satisfizessem critérios rigorosos. Descobriu-se
reconhecimento mútuo – uma lágrima no olho do terapeuta, que a PPCP produziu efeitos significativos e de grandes dimen-
uma risada compartilhada – que não são simbolicamente repre- sões para o funcionamento social, sintomas psiquiátricos gerais
sentados podem ter um impacto terapêutico poderoso (Stern et e problemas-alvo, e essas melhoras tenderam a aumentar no
al., 1998). Essas mudanças podem ocorrer no reino do conheci- acompanhamento. Estas dimensões de efeito excederam signi-
mento procedural implícito envolvendo como sentir, pensar ou ficativamente aquelas do tratamento usual e do controle das
se comportar em um contexto relacional específico. listas de espera. Também descobriram que não havia diferenças
Duas outras estratégias secundárias merecem ser mencio- entre a PPCP e outras formas de psicoterapia.
nadas. Nos últimos anos, a auto-revelação de uma maneira li- Quando examinamos a psicanálise e a terapia psicanalíti-
mitada por parte do terapeuta tem se tornado uma intervenção ca intensiva, encontramos um pequeno número de estudos de
comum. A auto-revelação criteriosa pode promover um au- resultado com o rigor de um projeto randomizado controlado.
mento da função reflexiva ajudando os pacientes a ver que sua No Estudo de Psicoterapia de Boston (Stanton et al., 1984),
representação do terapeuta é diferente da maneira como o te- os pacientes com esquizofrenia que recebiam terapia suportiva
rapeuta realmente sente (Gabbard, 2001). As auto-revelações foram comparados com aqueles submetidos à terapia psicana-
de sentimentos de contratransferência do aqui e agora podem lítica em uma freqüência de duas ou mais vezes por semana
também ajudar os pacientes a entender o impacto que têm so- por experientes terapeutas de orientação psicanalítica. Embora
bre os outros (Gabbard e Wilkinson, 1994). Além disso, ocorre algumas medidas de resultado parecessem melhorar diferen-
um processo de afirmação em muitas terapias dinâmicas nas cialmente em cada grupo, no geral não foi conferida nenhuma
quais os pacientes acham que seu ponto de vista é valorizado e vantagem importante aos pacientes tratados com terapia psica-
validado. Essa função empaticamente aprovadora do terapeuta nalítica (Gunderson et al., 1984).
pode servir para mitigar sentimentos há muito arraigados no Um estudo da terapia psicanalítica (três a quatro sessões
paciente de ser desacreditado ou rejeitado por figuras anterio- por semana) com 11 crianças diabéticas hospitalizadas teve
res na sua vida. efeitos profundos e duradouros sobre a sua saúde, em compa-
ração com uma amostra comparável de crianças diabéticas que
receberam tratamento médico-padrão (Moran et al., 1991).
Achados de pesquisa O tratamento durou apenas 15 semanas, e por isso o estudo é
Historicamente, psicanalistas e terapeutas psicodinâmicos relevante para terapia psicanalítica intensiva, mas não para o
têm sido muito complacentes com referência à demonstração estudo de terapia psicanalítica estendida.
da eficácia de seus tratamentos. Em parte, a escassez de dados Heinicke e Ramsey-Klee (1986) compararam a psicote-
de eficácia baseados em ensaios randomizados controlados é rapia psicanalítica intensiva (quatro vezes por semana) com
compreensível em razão dos problemas metodológicos espe- sessões de uma vez por semana para crianças com dificuldades
cíficos associados em estudar o tratamento psicanalítico de de aprendizagem. Essa experiência randomizada controlada en-
longo prazo (Gabbard et al., 2002). Um estudo de acompa- volveu tratamentos que duraram mais de um ano. As crianças
nhamento de longo prazo seria proibitivamente dispendioso, que eram vistas uma vez por semana exibiram um índice de
pois o projeto teria de se prolongar durante 10 anos ou mais melhora maior do que aquelas que eram vistas quatro vezes
para acumular uma amostra suficientemente grande para pos- por semana. No entanto, por ocasião do acompanhamento,
sibilitar análises estatísticas válidas. Um grupo-controle ade- aquelas que foram vistas quatro vezes por semana exibiram um
quadamente correspondente também seria difícil de recrutar. índice de melhora muito maior.
A auto-seleção do tratamento é considerada importante para Em um estudo mais recente, 38 pacientes com transtorno
os analistas e para os terapeutas de orientação analítica devi- da personalidade borderline foram aleatoriamente designados
do à motivação necessária para se engajar na exploração psi- para um tratamento hospitalar parcial orientado psicanalitica-
codinâmica. Os pacientes que não recebem os tratamentos de mente ou para atenção psiquiátrica-padrão como um grupo-
sua preferência podem bem se desligar de um estudo rando- controle (Bateman e Fonagy, 1999). Os tratamentos na célula
mizado e controlado. Na verdade, um número substancial de hospitalar parcial consistiam primariamente de psicoterapia
desistências criaria problemas importantes para um estudo de psicanalítica individual uma vez por semana e psicoterapia
longo prazo. Finalmente, durante o período de uma década, psicanalítica de grupo três vezes por semana. Os indivíduos-
variáveis incontroláveis, como eventos da vida, doença grave, controle não receberam nenhuma psicoterapia. No final de 18
mudanças de medicação e a co-morbidade com transtornos meses de tratamento, os pacientes que receberam tratamento
do Eixo I podem prejudicar o significado dos resultados (Gun- de orientação psicanalítica exibiram melhoras significativas
derson e Gabbard, 1999). nos sintomas depressivos, no funcionamento social e inter-
A abordagem psicodinâmica tem recebido credibilidade de pessoal, diminuição da necessidade de hospitalização e do
um grupo substancial de pesquisadores em terapia psicodinâmi- comportamento suicida e de automutilação. Essas diferenças
ca breve. Em uma metanálise recente para avaliar a eficácia da foram mantidas durante um período de acompanhamento de
psicoterapia psicodinâmica de curto prazo (PPCP) (Leichsen- 18 meses após o tratamento, com avaliações a cada seis meses
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 27

(Bateman e Fonagy, 2001). Além disso, o grupo de tratamento ou mais diagnósticos do Eixo I) tiveram um resultado surpreen-
continuou a melhorar durante o período de acompanhamento dentemente bom com a psicanálise, mas um resultado ruim em
de 18 meses. psicoterapia psicanalítica duas vezes por semana. As crianças
Svartberg e colaboradores (2004) designaram aleatoria- com problemas de conduta tiveram uma piora consistentemente
mente 50 pacientes com transtornos da personalidade do tipo maior do que as crianças com dificuldades emocionais de igual
C para 40 sessões de psicoterapia dinâmica ou terapia cognitiva. gravidade. As crianças com menos de 12 anos obtiveram ganhos
A amostra total de pacientes exibiu uma melhora estatistica- mais expressivos com o tratamento intensivo de quatro a cinco
mente importante em todas as avaliações durante o tratamento vezes por semana do que tratamentos não-intensivos, de uma a
e durante os dois anos de seguimento. Os pacientes que re- três vezes por semana. Os adolescentes, por outro lado, não pa-
ceberam terapia cognitiva não relataram mudança importante receram se beneficiar da freqüência aumentada, mas a duração
nos sintomas de angústia após o tratamento, ao contrário dos do tratamento foi correlacionada com melhores resultados. Esse
pacientes que receberam tratamento de terapia dinâmica. Dois estudo ilustra bem como os achados de pesquisa podem surpre-
anos após o tratamento, 54% dos pacientes da terapia dinâmica ender e informar os profissionais da área clínica.
e 42% dos pacientes de terapia cognitiva tiveram remissão dos Vários estudos de acompanhamento prospectivos usando
sintomas. Os pesquisadores concluíram que a melhora conti- um delineamento pré e pós-teste tiveram melhoras substanciais
nua após o tratamento com psicoterapia dinâmica. sugeridas em pacientes que receberam terapias psicanalíticas
Na Suécia, o Projeto Estocolmo de Resultados em Psico- para transtornos da personalidade (Stevenson e Meares, 1992;
terapia e Psicanálise (Sandell et al., 2000) conseguiu acompa- Høglend, 1993; Monsen et al., 1995a,b). Dados adicionais (Ste-
nhar um grande número de pacientes tratados com psicanálise venson e Meares, 1995) de um desses estudos sugerem que os
e terapia psicanalítica que foram subsidiados pelo seguro de ganhos de um ano de terapia dinâmica foram mantidos em um
saúde nacional e proporcionados por profissionais da prática acompanhamento de cinco anos. Entretanto, estudos não-con-
privada. Esse estudo pode ser melhor categorizado como um trolados, particularmente aqueles com tamanhos de amostra re-
grande delineamento pré e pós-teste. A designação aleatória lativamente pequenos e populações clínicas com condições sa-
foi tentada, mas não foi bem-sucedida. Alguns pacientes re- bidamente flutuantes, não produziram dados significativos com
cusaram-se a ser designados e outros que concordaram em ser relação a que tipo de tratamento pode ser efetivo e para quem.
designados não conseguiram o tratamento da sua preferência
e por isso o buscaram privadamente. A amostra de pacientes
incluiu 756 pessoas que foram subsidiadas por até três anos em
Conclusões
psicanálise ou psicoterapia ou nas respectivas listas de espera A psicoterapia psicodinâmica é provavelmente a forma de
para subsídio desses tratamentos. Dados completos para três terapia mais amplamente praticada e mais conhecida. Baseada
estudos longitudinais foram obtidos de um grupo de 331 pesso- na psicanálise, suas características singulares incluem uma ên-
as em várias fases da psicoterapia psicodinâmica de longo prazo fase na vida mental inconsciente, atenção sistemática a temas
e de um grupo de 74 pessoas em várias fases da psicanálise. de transferência e questões desenvolvimentistas, a exploração
Os tratamentos psicanalíticos foram definidos como ocorren- da contratransferência como uma importante ferramenta tera-
do quatro a cinco vezes por semana, enquanto a psicoterapia pêutica, e a elaboração da resistência, defesa e conflito.
consistiu de uma a duas sessões por semana. Nas avaliações A base empírica da terapia psicanalítica ampliada está
do resultado sintomático usando a lista de 90 sintomas, a me- longe de ser adequada, mas as pesquisas preliminares são en-
lhora durante os três anos após o tratamento foi positivamen- corajadoras. Pelo fato dessa forma de terapia requerer um in-
te relacionada à freqüência e à duração do tratamento, com vestimento de tempo e dinheiro maior do que muitas outras
os pacientes em psicanálise tendo uma melhora maior do que terapias, provavelmente deverá ser usada principalmente para
aqueles em psicoterapia psicanalítica. No entanto, esse achado condições sem probabilidade de responder à terapia breve e/ou
pode ser confundido pela possibilidade de que os psicanalis- à medicação. Os pacientes com dificuldades complexas e dura-
tas que estavam realizando psicoterapia uma ou duas vezes por douras, especialmente aquelas firmemente entrincheiradas no
semana não estivessem conduzindo sua modalidade preferida. caráter, provavelmente vão requerer uma terapia psicanalítica
Os pacientes em psicanálise continuaram a melhorar após o sem tempo determinado para conseguir ganhos significativos.
término, um achado em geral não observado nos estudos de
resultados de outras psicoterapias.
Outro grande delineamento pré e pós-teste de 763 crianças Referências
que foram avaliadas e que receberam tratamento psicanalítico Ainsworth, M.D.S., Blehar, M.C., Waters, E. & Wall, S. (1978). Patterns of
no Centro Anna Freud em Londres, Reino Unido, produziu da- attachment: the pschological study of the strange situation. Hillsdale, NJ: Erl-
baum.
dos que sugeriam que os pacientes tinham uma probabilidade
Aron, L. (1996). A meeting of minds: mutuality and psychoanalysis. Hillsdale, NJ:
maior de se beneficiar da análise (Target e Fonagy, 1994a.b). Analytic Press.
As crianças com fobias pareceram se beneficiar significativa- Bateman, A. & Fonagy, P. (1999). The effectiveness of partial hospitalization in
mente da psicanálise, o que não aconteceu com aquelas com the treatment of borderline personality disorder: a rondomized controlled
depressão. As crianças com transtornos emocionais graves (três trial. American Journal of Psychiatry, 156, 1563-69.
28 Glen O. Gabbard, Judith S. Beck & Jeremy Holmes

Bateman, A & Fonagy, P. (2001). Treatment of borderline personality disorder Gray, P. (1990). The nature of therapeutic action in psychoanalysis. Journal of
with psychoanalytically oriented partial hospitalization: an 180 month the American Psychoanalytic Association, 38, 1083-96.
follow-up. American Journal of Psychiatry, 158, 36-42. Gunderson, J.G. & Gabbard, G.O. (1999). Making the case for psychoanalytic
Bateman, A. & Holmes, J. (1995). Introduction to psychoanalysis: contemporary therapies in the current psychiatric environment. Journal of the American
theory and practice. London: Routledge. Psychoanalytic Association, 47, 679-703.
Benjamin, J. (1990). An outline of intersubjectivity: the development of recog- Gunderson, J.G. et al. (1984). Effects of psychotherapy in schizophreia, II:
nition. Psychoanalytic Psychology, 7 (Suppl.), 33-46. comparative outcome of two forms of treatment. Schizophrenia Bulletin,
Blatt, S. & Auerbach, J. (2001). Mental representation, severe psychopathol- 10, 564-98.
ogy, and the therapeutic process. Journal of the American Psychoanalytic Gutheil, T.H. & Gabbard, G.O. (1998). Misuses and misunderstandings of
Association, 49, 113-59. boundary theory in clinical and regulatory settings. American Journal of
Bowlby, J. (1998). A secure base: clinical applications of attachment theory. Lon- Psychiatry, 155, 409-15.
don: Routledge. Heinicke, C.M. & Ramsey-Klee, D.M. (1986). Outcome of child psychothera-
Chodorow, N.J. (1996). Theoretical gender and clinical gender: epistemologi- py as a function of frequency of session. Journal of the American Academy
cal reflections of the psychology of women. Journal of the American Psy- of Child Psychiatry, 25, 247-53.
choanalytic Association, 44 (Suppl.), 215-38. Hoffman, I.Z. (1983). The patient as interpreter of the analyst’s experience.
Erikson, E.H. (1959). Identity and the life-cycle: selected papers. Psychological Contemporary Psychoanalysis, 19, 389-422.
Issues, 1, 1-171. Hoffman, I.Z. (1991). Discussion: tosard a social constructivist view of the
Fairbairn, W.R.D. (1952). Psychoanalytic studies of the personality. London: Rou- psychoanalytic situation. Psychoanalytic Dialogues, 1, 74-105.
gledge and Kegan Paul. Hoffman, I.Z. (1998). Ritual and spontaneity in the psychoanalytic process: a dia-
Fonagy, P. (1998). An attachment theory approach to treatment of the difficult lectical-constructivist view. Hillsdale, NJ: Analytic Press.
patient. Bulletin of the Menninger Clinic, 62, 147-69. Høglend, P. (1993). Personality disorders and long-term outcome after brief
Fonagy, P. (2001). Attachment theory and psychoanalysis. New York: Other dynamic psychotherapy. Journal of Personality Disorders, 7, 168-81.
Press. Holland, N.N. (1983). Post-modern psychoanalysis. In: I. Hassan & S. Hassan,
Fonagy, P. & Target, M. (1996). Playing with reality, I: theory of mind and ed. Innovation/renovation: new perspectives on the humanities, pp. 291-309.
the normal development of psychic reality. International Journal of Psycho- Madison, WI: University of Wisconsin.
Analysis, 77, 217-33.
Holmes, J. (2001). The search for the secure base: attachment theory and psycho-
Fonagy P. & Target, M. (2000). Playing with reality, III: the persistence of dual therapy. London: Brunner-Routledge.
psychic reality in borderline patients. International Journal of Psycho-Anali-
Klein, M. (1957). Envy and gratitude. In: The writings of Melanie Klein, Vol. E,
sys, 81, 853-73.
pp. 176-235. London: Hogarth Press.
Freud, S. (1912/1958). The dynamics of transference. In: J. Strachey, trans.
Kernberg, O.F. (1975). Borderline conditions and pathological narcissism. New
and ed. The standard edition of the complete psychological works of
York: Jason Aronson.
Sigmund Freud, Vol. 6, pp. 97-108. London: Hogarth Press.
Kohut, H. (1971). The analysis of the self: a systematic approach to the psychoana-
Freud, S. (1914/1958). Remembering, repeating and working-through (fur-
lytic treatment of narcissistic personality disorders. New York: International
ther recommendations on the technique of psycho-analysis III). In: J.
Universities Press.
Strachey, trans. and ed. The standard edition of the complete psychological
works of Sigmund Freud, Vol. 12, pp. 157-73, London: Hogarth Press. Kohut, H. (1977). The restoration of the self. New York: International Universi-
ties Press.
Freud, S. (1915/1958). Observations on transference-love (further recommen-
dations on the technique of psycho-analysis III). In: J. Strachey, trans. Kohut, H. (1984). How does analysis cure? A. Goldberg ed. Chicago, IL: Uni-
and ed. The standard edition of the complete psychological works of Sigmund versity of Chicago Press.
Freud, Vol. 12, pp. 157-73. London: Hogarth Press. Leary, K. (1994). Psychoanalytic ‘problems’ and postmodern ‘solutions’. Psy-
Friedman, L. (1991). A reading of Freud’s papers on technique. Psychoanalytic choanalytic Quarterly, 63, 433-65.
Quarterly, 60, 564-95. Leichsenring, F., Rabung, S. & Leibing, E. (2004). The efficacy of short-term
Gabbard, G.O. (1995). Countertransference: the emerging common ground. psychodynamic therapy in specific psychiatric disorders: a meta analysis.
International Journal of Psycho-Analysis, 76, 475-85. Archives of General Psychiatry, 61, 1208-16.
Gabbard, G.O. (1996). Love and hate in the analytic setting. Northvale, NJ: Jason Malan, D.H. (1976). The frontier of brief psychotherapy. New York: Plenum.
Aronson. Monsen, J.T., Odland, T., Faugli, A., Daae, E. & Eilertsen, D.E. (1995a).
Gabbard, G.O. (2000a). Psychodynamic psychiatry in clinical practice, 3rd edn. Personality disorders and psychosocial changes after intensive psycho-
Washington, DC: American Psychiatric Press. therapy: a prospective follow-up study of an outpatient psychotherapy
Gabbard, G.O. (2000b). Psychoanalysis and psychoanalytic psychotherapy. In: project, 5 years after end of treatment. Scandinavian Journal of Psychology,
B.J. Sadock & V.A. Sadock, ed. Comprehensive textbook of psychiatry, Vol. 2, 36, 256-68.
7th edn. Pp. 2056-80. Philadelphia, PA: Lippincott, Williams & Wilkins. Monsen, J.T., Odland, T., Faugli, A., Daae, E., & Eilertsen, D.E. (1995b). Per-
Gabbard. G.O. (2001). Psychodynamic psychotherapy of borderline personal- sonality disorders: changes and stability after intensive psychotherapy
ity disorder: a contemporary approach. Bulletin of the Menninger Clinic, focusing on affect consciousness. Psychotherapy Research, 5, 33-48.
65, 41-57. Moran, G., Fonagy, K.P., Kurtz, A., Bolton, A & Brook, C. (1991). A con-
Gabbard, G.O. (2004). Long-term psychodynamic psychotherapy: a basic text. Ar- trolled study of the psychoanalytic treatment of brittle diabetes. Journal of
lington, VA: APPI. the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 30, 926-35.
Gabbard, G.O. & Westen, D. (2003). Rethinking therapeutic action. Interna- Reiss, D., et al. (1995). Genetic questions for environmental studies: differen-
tional Journal of Psycho-Analysis, 84, 823-41. tial parenting and psychopathology in adolescence. Archives of General
Gabbard, G.O. & Wilkinson, S.M. (1994). Management of countertransference Psychiatry, 52, 925-36.
with borderline patients. Washington, DC: American Psychiatric Press. Renik, O. (1993). Analytic interaction: conceptualizing technique in light of
Gabbard, G.O., Gunderson, J.G. & Fonagy, P. (2002). The place of psycho- the analyst’s irreducible subjectivity. Psychoanalytic Quarterly, 62, 553-71.
analytic treatments within psychiatry. Archives of General Psychiatry, 59, Sandell, R., et al. (2000). Varieties of long-term outcome among patients in
505-10. psychoanalysis and long-term psychotherapy: a review of findings in
Compêndio de Psicoterapia de Oxford 29

the Stockholm Outcome of Psychoanalysis and Psychotherapy Project Svartberg, M., Stiles, T. & Seltzer, M.H. (2004). Randomized, controlled trial
(STOPP). International Journal of Psycho-Analysis, 81, 921-42. of the effectiveness of short-term dynamic psychotherapy and cognitive
Segal, H. (1964). An introduction to the work of Melanie Klein. New York: Basic therapy for cluster C personality disorders. American Journal of Psychiatry,
Books. 161, 810-17.
Stanton, A.H., Gunderson, J.G., Knapp, P.H., Frank, A.F., Vannicelli, M.L., Target, M. & Fonagy, P. (1994a). The efficacy of psychoanalysis for children:
Schnitzer, R. & Rosenthal, R. (1984). Effects of psychotherapy in schizo- prediction of outcome in a developmental context. Journal of the Ameri-
phrenia, I: design and implementation of a controlled study. Schizophrenia can Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 33, 1134-44.
Bulletin, 10, 520-63. Target, M & Fonagy, P. (1994b). The efficacy of psychoanalysis for children
Stern, D.N. (1985). The interpersonal world of the infant: a view from psycho- with emotional disorders. Journal of the American Academy of Child and
analysis and developmental psychology. New York: Basic Books. Adolescent Psychiatry, 33, 361-71.
Stern, D.N. (1989). Developmental prerequisites for the sense of a narrated Westen, D. (1999). The scientific status of unconscious processes: is Freud
self. In: A.M. Cooper, O.F. Kernberg & E.S. Person, ed. Psychoanalysis: really dead? Journal of the American Psychoanalytic Association, 47, 1061-
toward the second century, pp. 168-178. Haven, CT: Yale University Press. 106.
Stern, D.N., et al. (1988). Non-interpretive mechanisms in psychoanalytic Westen, D & Gabbard, G.O. (2002a). Developments in cognitive neurosci-
therapy: the ‘something more’ than interpretation. International Journal ence II: implications for theories of transference. Journal of the American
of Psycho-Analysis, 79, 903-21. Psychoanalytic Association, 50, 99-134.
Stevenson, J. & Meares, R. (1992). An outcome study of psychotherapy for Westen, D. & Gabbard, G.O. (2002b). Developments in cognitive neurosci-
patients with borderline personality disorder. American Journal of Psychia- ence I: conflict, compromise and connectionism. Journal of the American
try, 149, 358-62. Psychoanalytic Association, 50, 53-98.
Stevenson, J. & Meares, R. (1995). Borderline patients at 5-year follow-up. Winnicott, D.W. (1965). The maturational processes and the facilitating envi-
Read before the Annual Congress of the Royal Australian-New Zealand ronment: studies in the theory of emotional development. London: Hogarth
College of Psychiatrists, May 6, 1995, Cairns, Australia. Press.

Você também pode gostar