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CURSO: PSICOPATOLOGIA, PSICANÁLISE E CLÍNICA

CONTEMPORÂNEA TURMA: 2 - Online (2022/2023)


ALUNA: Renara Raiana Fagundes Novais
MÓDULO DO CURSO: Os casos clínicos de Freud: da Psicopatologia ao Aparelho Psíquico

Transferência

Comentarei, nas páginas que se seguem algumas percepções sobre a dinâmica da


Transferência, inspirada nas palavras da professora Cauana Mestre1. Durante o encontro a
professora dialoga sobre o caso Dora e conceitos-chaves da teoria psicanalítica, entre os quais,
a Transferência. Considero esse tema muito delicado e desafiador, pois acredito que a
transferência e o motor da análise e o manejo desta é o que permite que uma interpretação
tenha efeito.
Sem ela o tratamento não ocorre e o seu manejo é o desafio da análise. A meta das
entrevistas preliminares ou tratamento de ensaio ou primeiras entrevistas é fazer com que o
sujeito se ligue a pessoa do analista. No jogo, o sujeito faz seus primeiros movimentos com
alguma vantagem, pois encara o terapeuta com atitude transferencial pronta, que nós
terapeutas temos de primeiro descobrir lentamente, em vez de ter a oportunidade de observar
a transferência nascer e crescer. (FREUD, 1913, p. 126). A transferência está sempre em jogo,
uma vez que ela não é exclusiva do cliente, nem do terapeuta, estando presente em todas as
relações. Distintamente daquilo que o senso comum absorveu ela não está, apenas, no
consultório. Freud (1912, p. 102), inclusive reitera que não é correto que durante a psicanálise
a transferência surja de modo mais intenso e desenfreado que fora dela. Com esse primeiro
equivoco desfeito tenho a segunda questão ao que tange a transferência, pois ao mesmo tempo
que ela é o veículo da análise, de imediato, é a mais poderosa arma da resistência. Porquê?
Em uma busca rápida no dicionário enciclopédico de psicanálise, de Kauffman a
palavra resistência aparece 72 vezes, mas nenhum verbete é exatamente uma definição, mas
de certa forma uma “origem” do conceito.
Na parte dos Estudos sobre a histeria dedicada à psicoterapia da histeria, o conceito de
resistência é fruto de uma autocrítica de Freud com relação ao uso de uma técnica catártica
que envolvia o exercício de uma pressão física exercida sobre o paciente: "Tendo feito assim

1
Psicanalista e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Também é
especialista em Psicanálise pela PUC-PR e graduada em Psicologia pela mesma Instituição.
um grande elogio", escreve ele, "dos resultados de meu procedimento auxiliar de pressão,
negligenciando muito, ao mesmo tempo, as questões de defesa ou resistência, devo ter dado
ao leitor a impressão de que é possível, por meio desse pequeno artifício, superar os
obstáculos psíquicos que se opõem ao tratamento catártico. Mas acreditar nisso seria um
grave equívoco. Não há, que eu saiba, ganhos desse tipo em terapêutica. (p.457, 1996.)
Foi a partir do entendimento de Freud sobre os processos de resistência que ele pode
abandonar os métodos catárticos e, então, focar na associação livre. A transferência é, o
veículo que permitirá que associação livre aconteça. Em outras palavras, o surgimento do
sujeito sob transferência é o que dá o sinal de entrada em análise, e esse sujeito é vinculado ao
saber, portanto o analista é para o analisante, o sujeito suposto saber. Significa dizer que que
para o analisante o analista sabe o porquê de seu sintoma. O psicanalista ocupar esse lugar de
Sujeito Suposto Saber é possível apenas por conta da relação de transferência que é
estabelecida.
Lacan discute mais sobre o assunto em a direção do tratamento. Dizendo que ela é
outra coisa. Consiste, em primeiro lugar, em fazer com que o sujeito aplique a regra analítica,
isto é, as diretrizes cuja presença não se pode desconhecer como princípio do que é chamado
"a situação analítica", sob pretexto de que o sujeito as aplica melhor sem pensar nelas. O
sujeito atribuirá, ao analista ainda esse lugar de saber, o analista por sua vez deve está
advertido e não buscar idealizar essa suposição. Nesses momentos, fazemos o semblante.
A psicanálise tem de lidar com as resistências das duas fontes. A resistência
acompanha o tratamento passo a passo, sendo preciso levar em conta que ela representa um
compromisso entre as forças que visam a cura e as que a ela se opõem. Seguindo um
complexo patogênico
desde sua representação no consciente até sua raiz no inconsciente, logo se chega a
uma região em que a resistência vigora tão claramente que a associação seguinte aparece
como compromisso entre as suas exigências e as do trabalho de investigação. E, a
transferência se coloca, o material do complexo é transferida para figura do analista.
Por isso, o sujeito na terapia entra em um trabalho de repetição que permite a
elaboração de um sintoma. Mas, o que o processo de repetição tem a ver com as questões
transferenciais e da resistência? Percebemos que a transferência mesma é somente uma
parcela de repetição, e que a repetição é transferência das reminiscências, não só para o
médico, mas para todos os âmbitos da situação presente. Portanto, o analisando se entrega à
compulsão de repetir, que então substitui o impulso à recordação, não apenas na relação
pessoal com o médico, mas também em todos os demais relacionamentos e atividades
contemporâneas de sua vida. Na outra ponta, a participação da resistência não é difícil de
reconhecer. Quanto maior a resistência, tanto mais o recordar será substituído pela repetição.
(Freud, 1914, p. 150). São as resistências que determinarão o que, por ventura se repetirá.
Alguns pacientes se preocupam em preparar o que vão falar, o analista deve estar
atento, pois muitas vezes essa otimização do tempo da sessão, esse zelo está revestido de
resistências. Isso nada mais é do que um modo de se proteger dos pensamentos indesejados.
Por mais bem-intencionado que o sujeito esteja a resistência esconderá intencionalmente
favorecendo que o material inconsciente escape a comunicação. O analista deve quando isso
ocorrer retomar o contrato e pedir que o analisante fale o que lhe vier à cabeça. Com o
estabelecimento da transferência acreditamos que seja resistência seja diminuta, dando lugar a
outras resistências.
Ressalto ainda que o analista também possui suas resistências, existem os
acontecimentos instituições que corroboram com a resistência e muitas vezes quando o
trabalho consegue ter mais de cinco sessões efetivamente é um êxito. Sobre algumas dessas
questões pretendendo conversar um pouco na sessão sobre o extrato clínico e algumas
considerações.

REFERÊNCIAS:

FREUD, S. (1912) A dinâmica da transferência. In: Obras Psicológicas Completas de


Sigmund Freud: edição standard brasileira. Vol. XII. Rio de Janeiro: Companhia das
Letras, 2010.
___________. (1913) Sobre o início do tratamento. In: Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud: edição standard brasileira. Vol. XII. Rio de Janeiro: Companhia das
Letras, 2010.
___________. (1914) Repetir, recordar e elaborar. In: Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud: edição standard brasileira. Vol. XII. Rio de Janeiro: Companhia das
Letras, 2010.
___________. (1915) Observações sobre o amor transferencial. In: Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Vol. XII. Rio de Janeiro: Imago,
2010.
Clinica Ampliada. BVS. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/201_clinica_ampliada.html> Acesso em 15 de junho
de 2018.
FILHO, C. Aula de supervisão de estágio de Ênfase I, 07 de março a 11 de abril de 2018.
Notas de Aula. Mimeografado.
O OVO E A GALINHA. Clarice Lispector. Disponível em:
<https://claricelispector.blogspot.com.br/2007/11/o-ovo-e-galinha.html>. Acesso em: 11
abril. 2018.
QUINET, A. As 4+1 condições da análise. 9. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
RODRIGUES, A. Estágio Supervisionado. Salvador, Bahia, 2018. 10 slides, color.
Acompanha texto.
Lacan, J. (1958/1998). A direção do tratamento e os princípios do seu poder. Escritos. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar.
Lacan, J. (1954/1998). Seminário I: os escritos técnicos de Freud.. Escritos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar.

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