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Carolina Malheiro, Karolyne Florentino e Matheus Marcelo.

A associação livre, é uma das técnicas psicoterápicas características da


abordagem Psicanalítica de Freud, que consiste na fala livre do paciente daquilo
que lhe vier à mente no momento, assim, cabe ao paciente apenas relaxar ao
reclinar-se confortavelmente em um estado mental quase desacordado, sem
obstáculos ou censuras no seu momento de introspecção. É comum durante a fala
livre do paciente, a falta de linearidade no discurso, tendo em vista o elencamento
de eventos e sensações, e é nesse momento que o analista entra em ação, revendo
e instigando palavras ou situações que pareçam fora de contexto, mas que dizem
muito sobre os possíveis traumas.

Contudo, não é possível definir com exatidão quando surgiu a técnica de


livre associação, tendo em vista que não houveram textos de introdução e
definição do conceito, sendo assim definido e compreendido na prática clínica e
por meio de estudos tangenciais por volta de 1892 e 1898. Diante disso, por meio
de uma recapitulação histórica de sua trajetória é possível descrever e analisar
quando e como surgiu essa técnica.

Após se formar em 1881, Freud inicia sua carreira como assistente clínico
no Hospital Geral de Viena, e em 1885 quando conseguiu uma bolsa de estudos
foi para o Hospital da Salpêtrière em Paris, onde conheceu e teve a oportunidade
de trabalhar ao lado do neurologista francês Jean-Martin Charcot, com quem
dedicou-se ao estudo das histerias por meio da técnica da hipnose. Segundo
Charcot, a origem dessas doenças encontrava-se anatomicamente, no entanto,
Freud após um período de estudos considerou essa explicação limitada, e
acreditou que as causas da histeria estariam na vida psíquica.

Concomitantemente aos estudos de Freud, Breuer também analisava a


etiologia da histeria no psiquismo, e foi a partir do caso clínico da paciente Anna
O. que se instituiu o Método Catártico como técnica psicoterápica capaz de
exprimir sentimentos e emoções reprimidas do paciente por meio do acesso a
memórias de situação/evento passado traumático.

Por um tempo as sessões foram mediadas pela hipnose e induzidas pelo


analista a acessar memórias reprimidas através do método catártico. Contudo, por
não conseguir êxito sempre que recorria a hipnose, e demais questões pessoais a
respeito da técnica, Freud foi abandonando-a e caminhando para estabelecer sua
principal técnica psicoterápica, a associação livre.

“[...] Freud pedia ao paciente que se deitasse num divã e ele se sentava
atrás, sem que pudesse ser visto.”(SCHULTZ, SCHULTZ, 2021) Este
posicionamento do terapeuta em relação ao paciente tinha um aspecto muito
pessoal de Freud, visto que esse não gostava de ser encarado por tanto tempo.
Ademais, o fato do analisando estar com sua atenção flutuante inclui que este
pode ter expressões faciais, sendo assim o analisado não toma para si
interpretações e seja influenciado.

“A regra da atenção flutuante é descrita como um estado no qual o


analista mantém uma atenção uniformemente suspensa frente a tudo o
que escuta. Ou seja, não dirige sua atenção para nada específico; sem
expectativas nem inclinações.”(ANDRADE, HERZOG, 2011)

Durante a aplicação da técnica havia momentos em que ela não era tão
livre, pois quando o paciente se aproximava de lembranças ou experiências
dolorosas, este tinha uma relutância em falar sobre, Freud chamou essa relutância
de resistência. E apesar de como o paciente se comportava, ele acreditava que o
psicanalista estava no caminho certo e que devia manter-se nesta investigação,
para que pudesse ocorrer uma evolução..

Um caso marcante dentre suas pacientes, foi o da jovem Miss Lucy, em


que foi possível perceber que não seria necessário o uso da hipnose, pois apenas
com uma pressão na testa e a sugestão, a paciente seria capaz de acessar as
lembranças dos eventos traumáticos. É notório ressaltar, que devido ao caráter
altamente sensível – inconciliável – de algumas memórias, o mecanismo de defesa
de repulsa, conhecido como resistência, era ativado, causando obstáculos no
tratamento psicanalítico.

Diante desses conceitos, foi possível estabelecer uma metodologia clínica,


em que o paciente fala de maneira livre, exprimindo seus conteúdos psíquicos por
meio das palavras, cabendo ao analista fazer as associações e interpretações em
busca da origem dos processos psíquicos, tendo em vista que esses respeitam uma
ordem.

Comprovações que a técnica de livre associação é eficiente:


Por que faz sentido dar liberdade para a fala do paciente da
psicanálise e esperar em troca um alívio de seus sintomas? São
precisamente os fundamentos que embasam esses procedimentos que
selecionamos como objeto de estudo para este breve artigo.

Logo na primeira sessão de um paciente, o analista explicita uma


regra que deverá nortear todo o processo terapêutico. Trata-se da mesma
regra fundamental que seu propositor, Freud, anunciava quando atendia os
seus próprios pacientes: Diga, pois, tudo que lhe passa pela mente.
Comporte-se como faria, por exemplo, um passageiro sentado no trem ao
lado da janela que descreve para seu vizinho de passeio como cambia a
paisagem em sua vista. Por último, nunca se esqueça que prometeu sinceridade
absoluta, e nunca omita algo alegando que, por algum motivo, você ache
desagradável comunicá-lo.

A validade de um tipo de tratamento psicológico baseado na psicanálise


não seria justificada apenas pelo seu êxito prático, mas principalmente pelas suas
formulações e reformulações teóricas e técnicas que visam uma adaptação mais
coerente com os fatos clínicos. Freud (1923/2011c) definiu a psicanálise como um
método de investigação de processos psicológicos difíceis de serem acessados de
outra forma, um método terapêutico e uma nova disciplina científica composta por
conhecimentos teóricos em psicologia alcançados por essa mesma forma de
investigação. De acordo com Nogueira (2004) e Tavares e Hashimoto (2013),
esses três aspectos - tratamento, pesquisa e teoria - estão sempre interligados na
psicanálise. Embora a prática clínica seja a base da psicanálise, ela também surge
da elaboração teórica minuciosa de Freud, conhecida como metapsicologia.

A eficácia da associação livre tem sido estudada por muitos anos, e embora
os resultados sejam mistos, há evidências de que a técnica pode ser útil em certas
situações. Por exemplo, um estudo de 2014 publicado no Journal of Nervous and
Mental Disease descobriu que a associação livre pode ser útil para ajudar pessoas
com transtorno de estresse pós-traumático a se lembrar de eventos traumáticos e
processar emoções difíceis.

Outro estudo, publicado em 2003 no Journal of Consulting and Clinical


Psychology, descobriu que a associação livre pode ser uma técnica eficaz para
ajudar pacientes com transtorno de personalidade borderline a desenvolver
habilidades de regulação emocional. Os pesquisadores observaram que, embora a
técnica possa ser difícil para esses pacientes no início, eles tendem a se acostumar
com ela ao longo do tempo e podem se beneficiar dela em termos de
autoconsciência e autocontrole emocional.

No entanto, outros estudos descobriram que a associação livre pode não


ser eficaz em todos os casos. Por exemplo, um estudo publicado em 2011 no
Journal of Psychiatric Research descobriu que a associação livre não teve um
efeito significativo no tratamento de pacientes com transtorno depressivo maior.
Os pesquisadores observaram que a técnica pode ser útil para explorar
pensamentos e emoções, mas não necessariamente para melhorar os sintomas
depressivos.

Apesar desses resultados mistos, a associação livre continua sendo uma


técnica popular em psicanálise e psicoterapia, e muitos terapeutas acreditam que
pode ser útil para explorar o inconsciente de um paciente e ajudá-lo a se tornar
mais consciente de seus padrões de pensamento e comportamento.

No entanto, é importante notar que a associação livre não é uma técnica


adequada para todos os pacientes, e alguns podem achá-la desconfortável ou
perturbadora. Além disso, é importante que a técnica seja usada com cuidado e
por um terapeuta treinado, já que pode ser desencadeante para certos pacientes.

Em resumo, a associação livre é uma técnica psicanalítica útil para


explorar o inconsciente de um paciente e ajudá-lo a se tornar mais consciente de
seus padrões de pensamento e comportamento. Embora os resultados dos estudos
sejam mistos, há evidências de que a técnica pode ser eficaz em certos casos. No
entanto, é importante que a técnica seja usada com cuidado e por um terapeuta
treinado.
Referências bibliográficas:

Cloitre, M., Stovall-McClough, K. C., Nooner, K., Zorbas, P., Cherry, S.


(2014). Treatment for PTSD related to childhood abuse: A randomized controlled
trial. Journal of Nervous and Mental Disease, 202(9), 675-684.

Levy, K. N., Meehan, K. B., Kelly, K. M., Reynoso, J. S., Weber, M.,
Clarkin, J. F., Kernberg, O. F. (2006). Change in attachment patterns and
reflective function in a randomized control trial of transference-focused
psychotherapy for borderline personality disorder. Journal of Consulting and
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Riso, L. P., du Toit, P. L., Stein, D. J., Young, J. E., & Rossouw, P.
(2003). Cognitive schemas and core beliefs in psychological problems: A
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Zobel, I., Werneke, U., Nickel, T., Goldschmidt, H., & Ackl, N. (2011).
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Journal of Psychiatric Research, 45(11), 1478-1484.

SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney E. Teorias da personalidade .


[Digite o Local da Editora]: Cengage Learning Brasil, 2021. E-book. ISBN
9786555583946. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555583946/. Acesso em: 02 mai.
2023.

ANDRADE, Ana Bárbara de Toledo; HERZOG, Regina. Os afetos do analista na obra


freudiana. Psicol. clin., Rio de Janeiro , v. 23, n. 1, p. 119-131, 2011 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
56652011000100008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 02 maio 2023.

REFERENCIAS: http://seer.ufsj.edu.br/analytica/article/view/2503/1702

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