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CLÍNICA FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL: DO MÉTODO DE PESQUISA

PARA A PRÁTICA PSICOTERÁPICA; TREINAMENTO EM PSICOTERAPIA


VIVENCIAL; A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO CLÍNICO NA PERSPECTIVA
FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL: DILEMAS E DESAFIOS EM TEMPOS DE
TÉCNICAS

Rebecka Barros de Morais


21014782
Curso de Psicologia, 5º Bloco
UNINASSAU – Parnaíba, PI

INTRODUÇÃO
Durante muito tempo, e mesmo nos dias de hoje, discute-se acerca da prática do
profissional de Psicologia. Inúmeros métodos foram criados, formas de atender e de vincular-
se ao cliente. Contudo, é na clínica fenomenológica-existencial que muitos psicólogos de
diferentes abordagens encontraram o método necessário para que pudessem abarcar todas as
necessidades e angústias trazidas para seus settings terapêuticos. Para explicar melhor, é
necessário descrever um pouco do método fenomenológico de Husserl. Ele o descrevia como
redução fenomenológica, que consiste na exclusão de conhecimentos pré-concebidos que se
tenha do fenômeno para o acesso da evidência pela consciência. Dessa forma, o psicoterapeuta,
ao dispensar de sua consciência, qualquer construção que possa ter do outro, abriria espaço para
que pudesse compreendê-lo em sua totalidade.
Em contextos existencialistas, Sartre se torna uma figura fundamental para a clínica
fenomenológica-existencial. Sua filosofia se baseava no homem responsável por suas escolhas
e as consequências delas advindas. Para ele, a liberdade é a forma universal da existência do
homem, sendo que através do existir o homem poderia vir a ser. Com tal contribuição, Sartre
tira do cerne humano a culpabilidade que esse atribuía a Deus e o coloca como único
responsável por suas decisões, gerando assim, liberdade incondicionada, escolha, angústia e o
entendimento da verdade subjetiva. Sendo assim, a psicoterapia fenomenológica-existencial
tem por finalidade compreender a história de vida de um cliente, como em qualquer outro
método terapêutico. Mas, não busca dar explicações para tal história e suas idiossincrasias
patológicas.
Pelo contrário, compreende cada momento daquele cliente como uma experiência única
que fazem transformações na estrutura total do ser- no-mundo dos clientes . Essa modalidade
de terapia leva o cliente a reconhecer por si só os seus processos existenciais, seus conflitos
internos e externos e quais ferramentas possui para poder modificá-los. Dentro da clínica
fenomenológica-existencial busca-se o contato por meio da relação entre terapeuta e cliente, a
fim de proporcionar uma experiência de liberdade e responsabilidade por seu processo, desde
a entrada na psicoterapia, até a alta. O objetivo buscado será alcançado durante o processo, que
para alguns pode ser mais rápido do que para outros, contudo quanto mais o terapeuta explorar
das estruturas espaciais do mundo de significação de um cliente, mais terá a colaboração dele
para um avanço significativo da psicoterapia.
Em linhas gerais, o conhecimento obtido por essa nova modalidade não dispensa os
conhecimentos e métodos até então desenvolvidos na história da Psicologia. Na verdade há uma
complementariedade entre ambos, a fim de possibilitar uma abertura ao homem para que esse
compreenda-se. O uso dos métodos deve permitir o exercício da liberdade para que o indivíduo
utilize suas próprias capacidades existenciais. Ou seja, o setting é um espaço para que o cliente
possa expressar-se e ser quem realmente é, longe de qualquer julgamento.
O contexto fenomenológico-existencial deve ser versátil e flexívei, variando de cliente
para cliente e de uma fase a outra no tratamento, tendo em vista a dinamicidade do homem e
seu contexto biopsicossócioespeiritual. A presença do terapeuta então torna-se a chave de uma
atitude fenomenológica, que substitui a análise por explicação e manifesta a liberdade em suas
colocações para o cliente. Os meios que implicam na clínica fenomenológica-existencial tem
como objetivo levar o cliente a um insight de suas capacidades e potencialidades, permitindo a
ele significar sua existência como real, dando sentido a sua dor, ao seu ser e validando sua fala.
CRÍTICA
Os artigos e o livro trazem a tona uma perspectiva grandiosa e fundamental do que é o
método fenomenológico-existencial. Incialmente traz uma visão histórica do método
fenomenológico e de seus precursores como Husserl, Heidegger, Kierkegaard e Nietzsche, em
que eles desenvolveram uma forma única do pensamento acerca dos fenômenos humanos. Em
resumo, eles descreviam que para analisar algo, seria necessário desprender-se de suas
concepções acerca do que se observava, para que pudesse assim, compreendê-lo em seu âmago.
Para tais autores, essa nova concepção de compreensão do homem seria uma continuação e
complementação aos estudos psicológicos desde Freud e Jung. Em seguida, Sartre, ao pontuar
a liberdade humana e colocar o homem como senhor de suas escolhas e consequências, mantém
a linha de raciocínio dos autores anteriores, além de ampliar essas perspectiva para um patamar
fenomenológico-existencial.
Posteriormente, autores como May e Binswanger, descrevem características
fundamentais que perpetram as concepções da clínica fenomenológica-existencial. Para eles, a
primeira concepção sugere que a variabilidade de técnicas entre terapeutas existenciais
converge quanto à prevalência da compreensão na determinação do uso da técnica, e não ao
contrário. Ou seja, não é a compreensão que se orienta pela técnica, mas a técnica que
acompanha a compreensão existencial do terapeuta. A segunda é que o dinamismo psicológico
interpretável deve assumir sempre um sentido a partir da situação existencial imediata de um
paciente. O centro desse dinamismo psíquico deve ser a possibilidade inimputável de exercício
da liberdade.
A terceira concepção indica que a ênfase de uma terapia existencial reside na presença.
Isso é, que a relação entre paciente e terapeuta contemple a compreensão e experiência do
terapeuta o mais próximo possível do ser do paciente. Uma experiência participativa do
terapeuta no campo de relações do paciente. A quarta refere-se às formas de comportamento
que destroem a presença. A confrontação entre duas pessoas pode ser profundamente criadora
de ansiedade. Nesse sentido, a visão técnica de outra pessoa pode ser a forma terapêutica mais
utilizada para a redução de ansiedade. Contudo, a técnica não deve ser uma forma para bloquear
a presença.
A quinta implicação remete-se ao objetivo do processo terapêutico. O foco de uma
terapia existencial é de que o paciente experimente sua existência como real, o que significa
tornar-se consciente de suas potencialidades e estar apto para agir com base nelas. A sexta e
última concepção indicada por May, refere-se à importância do compromisso existencial do
paciente. As características expostas por esse autor, estão intimamente ligadas ao livro que trata
da psicoterapia vivencial. Nele, a psicoterapia vivencial perpassa pelo método fenomenológico,
ouvindo o cliente acerca do seu processo. Nesse momento, Sartre aponta que a pessoa é um
continuador passivo de sua história e do que lhe foi imposto, um eterno Para-Outro. Em seguida,
ele define que há um maior contato e expressão da sua liberdade. O cliente começa então a
perceber-se e busca valores que sejam mais compatíveis com sua forma autêntica de viver.
Em meio a tantas palavras, ainda sim, torna-se um processo longo, até a tomada de
consciência de tais processos. O cliente por vezes é tomado por medos, mecanismos de defesa,
preocupações e muitos receios. Nem todos se sentem prontos para assumirem os riscos e
responsabilidades por suas escolhas, demandando a existência de um segundo, com uma
formação voltada para tais necessidades, a fim de apoiá-lo e que caminhe junto dele por esse
percurso. Denota-se disso, a importância de todo o arcabouço teórico-prático do profissional
psicólogo para as mais diversas intervenções que possam surgir diante de seu setting. Na
verdade, como abordado no artigo sobre a formação desse profissional, portanto, estaria mais
relacionada ao desenvolvimento de uma atitude, um modo de ser, de ver e de estar no mundo.
Dito isso, o profissional de Psicologia, que usa a abordagem fenomenológica-existencial estaria
pautado em sua experiência, mas também em Dasein, ou seja, ele, assim como seu cliente, é
flexível e dinâmico em seu setting, suas ações e suas técnicas.
Portanto, vale ressaltar a importância da dimensão existencial e fenomenológica dentro
do contexto da clínica psicoterápica. Na verdade, ela revolucionou a forma de observar e agir
diante de inúmeras pessoas e seus contextos. Os textos abordados são incríveis e esclarecedores,
moldando em todo o momento a forma de compreender, sem perder o raciocínio principal, o
mundo subjetivo, o estado de idiossincrasia humana, que até então era esquecido. Trazer luz ao
que era rotulado, foi uma forma majestosa que clínica fenomenológica-existencial encontrou
de transformar a Psicologia e revolucionar os atendimentos. Carl Rogers, por exemplo, explana
a empatia, como uma forma de compreender a dor do outro. Essa é uma forma de compreender
o homem em seu mais íntimo, naquilo que ninguém mais pôde compreendê-lo e dar-lhe a
oportunidade de trazer significado a sua dor. Isso é a clínica fenomenológica-existencial, isso é
Psicologia.
REFERÊNCIAS
DUTRA. E. Formação do psicólogo clínico na perspectiva Fenomenológico-Existencial:
dilemas e desafios em tempos de técnicas. Revista da Abordagem Gestáltica –
phenomenologiacal studies. v. 19, n. 2, p. 205-211. 2013.

ERTHAL. T. C. S. Treinamento em Psicoterapia vivencial. São Paulo: Editora livro pleno,


2004.

GOMES, W. B.; CASTRO. T. G. Clínica Fenomenológica: do método de pesquisa para a


prática psicoterapêutica. Psicologia: Teoria e pesquisa. v. 26, n.especial, p. 88-93. 2010.

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