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Um dos pontos mais frágeis e mais criticados da ou das Psicoterapias Existenciais é a

questão da técnica. A práxis se compõe de um tripé que consiste em uma teoria, uma
técnica e a prática propriamente dita. Este tripé esta fundamentado em um solo
epistemológico e antropológico que determina uma visão de mundo e de homem.

Temos a convicção que não há saber que dê conta da complexidade do sujeito pós-
moderno e para evoluir as ciências estão tendo que abrir suas fronteiras, incorporar em
seu saber conceitos vindos de outros campos, outras disciplinas (Lyotard, 1986). O
campo da psicologia clínica, bem como o da psicoterapia também está passando por
requestionamentos e tendo que ampliar sua visão do ser humano.

A psicologia clínica se debruça sobre a questão buscando técnicas cada vez mais
eficazes. Este tecnicismo é criticado com muita propriedade pelos adeptos da
abordagem existencial.

Todas as demais abordagens em psicoterapia, de uma forma ou de outra desenvolveram


suas técnicas, de acordo com o olhar que construíram sobre o humano, até mesmo a
humanista Rogeriana com o método não-diretivo. A psicoterapia existencial, dado seus
modelos teóricos e suas origens, desenvolveram uma visão da psicoterapia que colocou
a técnica em um segundo plano. Em função de seus postulados, a teoria existencial
sempre priorizou a relação terapêutica em detrimento da técnica. Isto é histórico!

“A técnica segue a compreensão. A tarefa substancial e a responsabilidade do terapeuta


consistem em compreender o paciente como um ser-no-mundo. Todos os problemas
técnicos estão subordinados a essa compreensão; sem ela, os recursos técnicos são
impertinentes no melhor dos casos, e no pior um procedimento para sistematizar a
neurose” (May, 1967, pág. 105).

Para boa parte dos autores existenciais, uma importância exagerada na técnica se
constituiria em um obstáculo para uma relação autêntica e para uma compreensão
existencial-fenomenológica do ser, pois leva a uma coisificação do sujeito, a uma
rotulação, a considerar o homem um objeto que se deve calcular manejar e analisar.

É preciso deixar claro que nas terapias existenciais a relação é considerada o fator mais
importante. É a relação que cura. Uma relação de confiança, de segurança, autêntica –
dentro de certo limite imposto pelo próprio contexto – é a base da “cura”, é o que
sustenta todo o processo terapêutico.

Técnicas Relacionais

Algumas atitudes do terapeuta e algumas formas de intervenção que se enquadram


dentro das técnicas relacionais: contato empático manifesto, acolhimento,
espontaneidade, iniciativa, clareza do método expositivo, exposição aberta de seu
método de pensamento, inclusão do terapeuta como pessoa real.
Outras técnicas que se enquadram dentro da categoria das relacionais já são bem
conhecidas e consagradas como o já citado método não-diretivo de Rogers (1966).
Dentre as técnicas relacionais, além das já citadas:

Função continente: A função continente é uma das mais importantes dentro do processo
terapêutico, ela irá regular o nível de angústia que circula em uma sessão de
psicoterapia. Quanto mais angústia, mais continente devemos ser, quanto menos, mais
podemos deixar nosso cliente fazer suas associações livremente.

Transferência e transparência: o terapeuta deve regular com muito cuidado até que
ponto ele se oculta e se mostra ou expõe. A transferência é uma relação velha, repetitiva
e estereotipada. Ser um pouco transparente vai possibilitar a construção de uma relação
telemática, nova, em que o cliente pode ser mais espontâneo, em suma, ser ele mesmo.
É um engodo pensar que se mostramos ou expomos algo de nós, isto irá impedir a
transferência, a prática clínica já mostrou o contrário.

Ativação do aqui-agora: A terapia existencial também da importância ao futuro, aos


planos e projetos, é para o futuro que olhamos o tempo todo, portanto tem um caráter
também prospectivo. Mas a prioridade é do aqui-agora, nas palavras de Yalom

“o aqui-agora é a principal fonte de poder terapêutico... ao que acontece aqui (neste


consultório, neste relacionamento, na intermedialidade – o espaço entre mim e você. É
basicamente uma abordagem não-histórica

Técnicas direcionais

Quanto às técnicas direcionais, estas recebem este nome por serem técnicas dinâmicas e
que dependem de uma direção do terapeuta. Em sua maioria se utilizam, além da fala,
também o corpo ou corporalidade. Não são diretivas no sentido de se dar respostas
prontas ou sugestões ao cliente. O conteúdo vem do cliente e o manejo destas técnicas
vai possibilitar insights e abertura de novos caminhos no processo terapêutico.

São técnicas já consagradas pela prática clínica, seja individual ou grupal. E


devidamente adaptadas ao setting e ao contexto. Técnicas da Gestalterapia, do
Psicodrama, da Sistêmica, até mesmo da cognitiva ou comportamental podem ser
usadas com as devidas adaptações.

 Cadeira vazia: técnica muito usada na Gestalterapia;


 Técnicas psicodramáticas: hoje já se utiliza também na terapia individual,
denominado psicodrama bi-pessoal;
 Técnicas de relaxamento e hipnose: que levam a uma dissociação interna em que
a dimensão consciente fica em suspensão e o subconsciente fica mais livre para
“trabalhar”. Hoje há inclusive uma corrente de psicanalistas que a utilizam na
análise, trata-se da Hipnoanálise (Malomar).
 Técnicas como desenhos e escrita;
 Para casa: em muitas ocasiões pode ser útil a indicação de atividades para serem
realizadas no período entre as sessões.

Essas técnicas são muito eficazes em vários momentos do processo terapêutico,


principalmente aqueles em que as resistências estão mais evidentes ou exacerbadas.

As técnicas relacionais são intrínsecas á relação, estas deverão estar sempre presentes
numa medida ou outra e ocupam o maior tempo do processo terapêutico.

Hoje, a formação do terapeuta deve ser, e é muito mais ampla e complexa. O


instrumento principal do terapeuta é, em suma, ele mesmo. Quanto maior a experiência
de vida ou seu repertório experiencial, quanto maior a bagagem teórica e técnica, e
temos que acrescentar quanto mais “terapizado”, mais condições tem o terapêuta de
lidar com as angústias de seus clientes, de se colocar no lugar do outro, no entanto sem
sair do seu, construindo uma relação autêntica, telemática, um erosterapeutico, onde não
só o paciente, mas ambos crescem como pessoa, e o terapeuta também como
profissional.

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