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Entenda o papel da

psicoterapia na psicologia
clínica
Silvina Rodrigues de Oliveira

Psicóloga Clinica e Responsável Técnica da Clínica escola de


Psicologia Uninassau Redenção
ENTENDENDO O PROCESSO

 A eficácia do tratamento psicológico está diretamente relacionada à


compreensão do psicólogo acerca dos papéis desempenhados por ele
e pelo paciente durante o processo terapêutico.

 Não basta que o profissional conheça e aplique técnicas, já que


também é preciso dominar os conceitos que embasam a prática da
ciência psicológica.

 Sem clareza teórica, o tratamento está sujeito ao fracasso, uma vez


que as expectativas inadequadas causam frustração ao paciente e ao
profissional.
A psicologia clínica e a psicoterapia

 Com o avanço da ciência psicológica, os ambientes de atuação do


psicólogo estão cada vez mais variados e abrangentes. Seja na escola, nos 
hospitais, em presídios, em instituições ou, até mesmo, no sistema
judiciário, o espaço e as possibilidades de exercício tendem a aumentar e
a ganhar importância na sociedade.

 Nesse sentido, a clínica é um dos modelos de atuação do psicólogo. É a


parte que estuda os processos mentais, as causas e as manifestações
comportamentais. O profissional especializado nessa área é o responsável
por avaliar, diagnosticar e tratar o sofrimento psicológico.

 É importante ressaltar que a psicologia clínica não diz respeito somente


aos distúrbios e às disfunções mentais, embora eles estejam incluídos.
Além das doenças, ela também trata de demandas que não são
patológicas, como a busca por autoconhecimento e a resolução de
conflitos.
A psicoterapia tem três formatos
principais:
 individual: é o método tradicional, no qual o psicólogo analisa questões de
caráter pessoal de um cliente por vez e busca a solução de um problema;

 coletiva: é realizada em grupo de duas ou mais pessoas, com o objetivo de


atuar sobre questões com as quais o grupo se identifica coletivamente. Foca
na comunicação e na interação dos pacientes e pode incluir as dinâmicas e o
psicodrama;

 institucional: é realizada em hospitais e clínicas psiquiátricas, com o objetivo


de amenizar transtornos psicológicos e reabilitar os pacientes psiquiátricos
para a vivência em sociedade.
Os benefícios da psicoterapia para o paciente

 A psicologia ainda carrega o estigma e o preconceito da atribuição exclusiva ao


tratamento de pessoas mentalmente disfuncionais. O psicólogo deve se afastar da
perspectiva médica e quebrar esses preconceitos, já que a terapia também trabalha
questões trazidas por pessoas que não têm distúrbios.

 Ou seja: saúde mental não significa ausência de transtornos, mas, sim, a promoção da
qualidade de vida. Por isso, a psicoterapia não tem contraindicações e traz ganhos
para todas as pessoas. Entenda melhor quais são esses benefícios a seguir.
Desenvolvimento de inteligência emocional

 Uma das maiores vantagens da terapia é racionalizar as emoções. Ao


entender a origem dos sentimentos, fica mais fácil controlá-los e não tomar
atitudes impulsivas, além de desenvolver tolerância à frustração e
independência afetiva.
Autoconhecimento

 Muitas pessoas buscam a psicoterapia para organizar as ideias e entender


mais sobre si mesmas. Dessa forma, o paciente compreende melhor as suas
capacidades e consegue definir objetivos realistas para evitar a sensação de
fracasso. O psicólogo promove o protagonismo do paciente sobre a vida e
ajuda-o a não viver em função das expectativas de terceiros.
Aprendizado e aperfeiçoamento de habilidades sociais

 Os problemas de relacionamentos interpessoais estão entre as principais


causas que fazem as pessoas procurarem ajuda profissional. Isso acontece
porque empatia e assertividade são habilidades difíceis de adquirir, assim
como a capacidade de identificar relações disfuncionais e que causam
dependência emocional.

 A terapia permite ao paciente reavaliar os seus papéis sociais como pai, mãe,
filho, cônjuge etc. Dessa forma, ele passa a agir de acordo com as suas
possibilidades e, consequentemente, se responsabiliza menos por situações
que independem do seu controle.
Abertura para mudanças

 A terapia é um lugar de aprendizado. As crenças e opiniões deixam de ser


engessadas porque o paciente compreende a fluidez da condição humana,
incluindo a sua habilidade de reconhecer e corrigir os erros. Portanto, o
psicólogo deve auxiliar o paciente a quebrar paradigmas, desmitificar
concepções e, principalmente, reavaliar a percepção do mundo.
Superação de conflitos

 Não são poucos os cenários de confronto que enfrentamos diariamente. Na


verdade, situações de conflito fazem parte do cotidiano, não sendo uma
possibilidade eliminá-las. Entretanto, em muitos casos, as circunstâncias de
atrito passam a gerar um nível de estresse tão significativo que são capazes
de tirar o foco do indivíduo do que realmente é relevante — e é aí que entra o
papel da psicoterapia, que busca promover maneiras alternativas de
administrar essa carga.

 Além disso, esse tipo de suporte ainda pode ser benéfico no sentido de
auxiliar o paciente a encarar traumas mais profundos (por vezes, decorrentes
de episódios que se passaram anos atrás) e, desse modo, superá-los
efetivamente.
Melhora nos relacionamentos interpessoais

 Uma vida plena não é possível sem o estabelecimento de relacionamentos,


independentemente do tipo, já que somos seres sociais por natureza. Nesse
sentido, a psicoterapia trabalha o desenvolvimento das habilidades de
socialização de um indivíduo, com o propósito de melhorar as relações
mantidas — sendo especialmente útil para aqueles que apresentam uma
personalidade mais introspectiva, com tendência ao isolamento social, a fim
de evitá-lo.
As diferentes abordagens psicoterapêuticas

 Para direcionar o exercício da psicoterapia, foram desenvolvidos alguns


princípios teóricos que embasam a atuação profissional. Cada abordagem foca
em aspectos diferentes da constituição humana e todas dependem da
dedicação do profissional em se aprofundar nos estudos e em reconhecer as
suas limitações. Conheça as principais abordagens psicológicas a seguir.
Cognitivo-comportamental

 Para a terapia cognitivo-comportamental (TCC), os pensamentos e crenças (ou seja, as


cognições) formados ao longo da vida influenciam a maneira como a pessoa compreende
os acontecimentos, impactando as emoções e os comportamentos. O objetivo do
terapeuta é identificar padrões de pensamentos disfuncionais que acarretam condutas
inadequadas e sofrimento mental para desconstruí-los e reestruturá-los.

 Essa abordagem é caracterizada pela objetividade e pela validação científica, além de ser
famosa pelas altas taxas de efetividade e pela longevidade dos resultados empiricamente
comprovados. É indicada para o tratamento dos mais diversos transtornos mentais
descritos pela literatura científica atual, inclusive de distúrbios recorrentes, como a 
depressão.
Junguiana

 Também chamada de “psicologia analítica”, essa abordagem tem como base


as ideologias de Carl G. Jung e é trabalhada para fazer uma integração entre
o inconsciente e o consciente. Desse modo, visa ao estabelecimento de um
equilíbrio entre os universos interno e externo.

 O paciente passa, nessa metodologia de psicoterapia, por três estágios:


autoconsciência, transformação e atualização. O intuito é permitir a
percepção daquilo que está na região mais “obscura” e aparentemente
inacessível da psique do indivíduo para, então, transformá-lo e tornar a
mudança concreta.
Psicoterapia breve

 O termo “psicoterapia breve” tem origem na tentativa de reduzir o tempo dos


tratamentos psicanalíticos, em termos de duração, feitos por S. Ferenczi e O.
Rank em um período em que a referência à psicanálise era inevitável em
razão da inexistência de outra modalidade de tratamento. Essa abordagem
tem como base uma espécie de “tripé” formado por atividade, planejamento
e foco.

 O propósito é alcançar os objetivos da terapia em um prazo bem mais


encurtado, promovendo a melhora na qualidade de vida a partir da eleição de
uma queixa principal, que tem, então, a sua resolução como foco.
Análise do comportamento

 O behaviorismo, ou análise do comportamento, surgiu com base nos estudos


de Skinner no século 20, como uma contraproposta à psicanálise. Os
psicólogos behavioristas focam o comportamento, aquilo que é passível de
observação, mensuração e teste.

 O objetivo principal dessa terapia comportamental é compreender e


modificar as contingências que definem um determinado comportamento, de
modo a aumentar ou diminuir a frequência dessas condutas.
Gestalt

 Criada nos anos 50, na Europa, por Fritz Perls, é uma tendência da teoria
mais vinculada à Filosofia. Esse é um tipo de abordagem de psicoterapia que
busca ensinar aos indivíduos o fenômeno de awareness como um método em
que o atuar, o sentir e o perceber são preferíveis em comparação a
interpretar e focar a modificação de condutas preexistentes.
Psicanálise

 Essa abordagem psicoterapêutica foi desenvolvida por Freud no final do


século 19, embora autores como Lacan, Melanie Klein e Jung tenham
implementado conceitos igualmente aplicados por muitos psicoterapeutas.

 A psicanálise aborda o aspecto inconsciente da mente, decifrando a natureza


humana a partir do passado individual, das relações com os pais, dos sonhos e
dos traumas. Na técnica, chamada de livre associação, por exemplo,
o psicanalista estimula os insights para compreender os pensamentos e as
ações.
Psicodrama

 Fazendo uso da ação como um meio de investigar a psique humana e as


respectivas ligações emocionais, com o propósito de desenvolver no indivíduo
a espontaneidade, essa abordagem foi criada por Levy Moreno, psiquiatra
romeno, no início do século 20. Originada do Teatro do Improviso, ela busca a
verdade, fazendo da dramatização, um instrumento.

 Essa prática é compreendida como um processo que tem a capacidade de


trabalhar o resgate de inúmeras possibilidades de ação e de criatividade do
paciente.
Humanismo

 Aqui, é fornecida uma perspectiva holística da constituição humana. O


indivíduo é visto como um todo: os aspectos mentais, corporais, emocionais e
espirituais estão interligados e são indissociáveis.

 Carl Rogers foi um dos principais formuladores da psicologia humanista, com a


terapia centrada no cliente. Essa abordagem enfatiza a autonomia do
indivíduo sobre as suas escolhas dentro de um leque de possibilidades que
proporcionam o desenvolvimento pessoal.
Para Finalizar

Muitos profissionais escolhem a psicologia clínica como carreira, mas precisam


adquirir um maior domínio teórico para o bom atendimento dos pacientes. A
atuação como terapeuta exige mais do que a aplicação de técnicas.
É preciso compreender o papel das abordagens dentro da psicologia clínica e
como cada uma contribui para a qualidade de vida do paciente.

Esse é o caminho para alcançar mais credibilidade e sucesso profissional, além


de garantir a eficácia do processo terapêutico para o indivíduo.
“Conheça todas as teorias, domine todas
as técnicas, mas ao tocar uma alma
humana, seja apenas outra alma humana.”

Carl Jung.

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