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ACONSELHAMENTO E ORIENTAÇÃO EM PSICOLOGIA

Histórico?
O aconselhamento originou-se com Frank Parsons, em 1909, com o objetivo de
promover ajuda a jovens em processo de escolha da carreira e em face à emergência de
novas profissões e ocupações devido à Revolução Industrial.
O foco do aconselhamento era, portanto, conhecer as principais inclinações desses
jovens para que eles pudessem ser encaminhados para ocupações consideradas
adequadas a esses perfis profissionais (Patterson e Eisenberg, 1988), tanto no cenário
escolar como no organizacional, em uma clara referência à teoria de traço e fator.
O conceito se ampliou, passando a designar uma relação de ajuda na qual o cliente, ou a
pessoa em busca de atendimento, buscava alívio para suas tensões, esclarecimentos para
suas dúvidas ou acompanhamento terapêutico em face de problemáticas enfrentadas em
diversos domínios da vida, como o educacional, o profissional e o emocional, não
envolvendo apenas o fornecimento de informações, a aplicação de testes psicológicos e
a orientação considerada diretiva
No século XX a Psicologia nos EUA era profundamente influenciada pelo
estruturalismo de Edward Titchener. Ganhou mais força depois das correntes
funcionalistas e mais tarde behavioristas. O objetivo era desenvolver pesquisas sobre o
funcionamento do comportamento humano e do funcionamento dos processos mentais
(BELMINO, apud GODWIN, 2005)
Os primórdios dessa disciplina nos Estados Unidos da América nos anos da década de
1950, o uso da teoria traço-fator definia um Aconselhamento Psicológico (AP)
preocupado com sua cientificidade, com um olhar psicométrico e psicodiagnóstico do
ser humano, posicionando o conselheiro como alguém que, a partir de seu conhecimento
especializado, orienta e conduz o cliente a encontrar melhores formas de se adaptar ao
mundo

Teoria Traço-e-Fator:
Tendo Parsons como principal representante, é uma teoria essencialmente normativa,
que parte do princípio de que os indivíduos diferem-se nas habilidades, interesses e
traços de personalidade, e cada profissão requer pessoas com aptidões específicas, ou
seja, “o homem certo no lugar certo”, adequando os indivíduos às ocupações. O
interessado, portanto, não decide, mas aceita ou não o conselho do orientador
educacional.
Conceito:
Genericamente, trata-se de uma experiência que visa a ajudar as pessoas a planejar,
tomar decisões, lidar com a rotina de pressões e crescer, com a finalidade de adquirir
uma autoconfiança positiva. Pode ser considerada uma relação de ajuda que envolve
alguém que busca auxílio, alguém disposto a ajudar e apto para essa tarefa, em uma
situação que possibilite esse dar e receber apoio.
Outra definição clássica é de uma relação face a face de duas pessoas, na qual uma delas
é ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional, profissional, vital e a utilizar
melhor os seus recursos pessoais.
Aconselhamento é o processo pelo qual se dá a oportunidade de os clientes explorarem
preocupações pessoais, ampliando a capacidade de tomar consciência e das
possibilidades de escolha.

Influência Carl Rogers:


Carl Rogers, ator fundamental nesse movimento crítico, desestabilizou a área com seu
entendimento de que um atendimento em AP deveria ser uma relação de ajuda em um
espaço acolhedor e permissivo, com o foco no cliente e não no problema ou na busca
por diagnósticos, com atitudes profissionais de empatia, autenticidade, congruência
interna e aceitação positiva do cliente e seus conteúdos, o que criaria uma atmosfera
facilitadora para o desenvolvimento da pessoa e para o seu protagonismo nas decisões
em sua vida.
Com a entrada de Rogers nesse cenário, “há um transbordamento daquilo que era, e é
ainda, muitas vezes, considerado clínico”
AP, nessa lógica, passa a ser a disciplina que pensa a relação de ajuda a qualquer pessoa
em qualquer contexto. É a disciplina que tem como objeto de estudo a própria relação
profissional-cliente, e que passará a pesquisar esse relacionamento, suas características,
seus elementos formativos e sua influência no processo de mudança do cliente.
Como resgata Schmidt (2009), a presença em diferentes países e especialmente nos
Estados Unidos de centros de atendimento psicopedagógico aos estudantes nas
Universidades permitiu com que a área de Aconselhamento Psicológico fosse explorada
a partir de diferentes práticas e teorias. No Brasil, como afirma a autora, a ausência
desses centros e a predominante orientação humanista dos coordenadores dos primeiros
serviços de aconselhamento psicológico nas universidades brasileiras fez com que AP
aparecesse nos primeiros currículos de cursos nacionais em Psicologia ligado à teoria
rogeriana.
Diferença de aconselhamento e psicoterapia:
Aconselhamento
- Curta duração, com foco na resolução dos problemas, e ajuda a pessoa a remover os
obstáculos ao seu crescimento, auxiliando os indivíduos a reconhecerem e empregarem
seus recursos e suas potencialidades
- Questões pontuais e efêmeras
Psicoterapia
- Relacionada a mudanças na estrutura da personalidade, envolvendo uma
autocompreensão mais intensa.
- Questões mais profundas e de longo prazo.
A orientação, os verbos orientar e aconselhar distanciam-se do que vem a ser a
psicoterapia. Esta é entendida como o tratamento de perturbações da personalidade ou
da conduta por meio de métodos e técnicas psicológicas, ou seja, é indicada em casos
nos quais a orientação e o aconselhamento não seriam suficientes para conduzir os
processos de mudanças e de crescimento necessários.
O aconselhamento seria indicado quando não houvesse o diagnóstico de algum
transtorno psicológico ou em situações que envolvessem o atendimento mais pontual,
com o fornecimento de informações e de acompanhamento para a tomada de uma
decisão importante.
A maior parte dos autores compreende que o aconselhamento está mais ligado a ajudar
o cliente a tomar alguma decisão e envolve situações objetivas que permitem uma
melhor utilização de recursos e potencialidades pessoais, sendo que as demandas estão
relacionadas, geralmente, a conflitos ambientais e situacionais, a conflitos conscientes.
A psicoterapia seria desenvolvida em um nível mais “profundo” e teria como foco os
conflitos de personalidade, com destaque para a necessidade de mudanças nessa
estrutura (Santos, 1982). A psicoterapia seria, nesse sentido, a autocompreensão
intensiva da dinâmica que explica as crises existenciais particulares.
 Carl Rogers – Abordagem Centrada na Pessoa (ACP):
Tendência atualizante
- Tendência inerente, presente em todos os seres humanos, a desenvolver-se em uma
direção positiva. Esta passa a ser a ideia central ao longo de todo o seu pensamento,
independentemente da denominação ou do foco de trabalho que venha a assumir.
Percurso
- O que ocorreu é que o primeiro Rogers, o psicoterapeuta, foi se ampliando no Rogers
professor, facilitador de grupos, e o Rogers preocupado com processos sociais e
questões como a paz mundial, fazendo com que ele buscasse ampliar sua teoria a esses
vários campos.
Na perspectiva da ACP idealizada por Rogers, o ser humano é visto como um ser capaz
de se auto realizar, de se auto gerir e de se auto atualizar, como um sujeito autônomo e
ativo no mundo, portador de vontade própria e possibilidades de escolha, considerando
suas expressões singulares e os sentidos próprios de cada indivíduo.
Fases:
1. Fase não diretiva (1940 -1950)
Parte de conceitos que têm como base o impulso individual para o crescimento e para a
saúde. Dá maior ênfase aos aspectos de sentimento do que aos intelectuais, enfatiza o
presente do indivíduo em vez de seu passado, tem como maior foco de interesse o
indivíduo e não o problema, e toma a própria relação terapêutica como uma experiência
de crescimento.
Nessa fase, as atitudes do terapeuta privilegiam a técnica da permissividade, através de
uma postura de neutralidade em que o profissional deveria intervir o mínimo possível
(Holanda, 1998). Segundo Wood (1994), o psicoterapeuta (ou “conselheiro”, termo
mais utilizado nessa etapa) renuncia ao papel de especialista, tornando mais pessoais as
relações com o cliente e conduzindo a sessão a partir da orientação ditada por este
último (denominado “paciente” em Psicoterapia e consulta psicológica). Ou seja, é o
cliente quem conduz o processo, e não o psicoterapeuta, que, intervindo minimamente,
pretende não dirigir a sessão, deixando que o primeiro o faça.
2. Fase Reflexiva (1950-1957)
É a fase da Terapia Centrada no Cliente, sendo a função do terapeuta promover o
desenvolvimento do cliente em uma atmosfera desprovida de ameaça, isto é, sob
condições facilitadoras.
Aqui a noção de “não-direção” é substituída pela de “centramento no cliente”,
sugerindo um papel mais ativo por parte do terapeuta e transformando o cliente no foco
maior de sua atenção (Cury, 1987), enquanto na fase anterior a ênfase recaía sobre a
não-direção do processo, com um psicoterapeuta mais passivo.
3. Fase Experiencial (1957 – 1970)
Nessa fase, o objetivo da psicoterapia é ajudar o cliente a usar plenamente sua
experiência no sentido de promover uma maior congruência do self e do
desenvolvimento relacional. Ou seja, a ênfase recai sobre a vida inter e intrapessoal, e a
relação terapêutica passa a adquirir significado enquanto encontro existencial
A fase experiencial de seu pensamento passa a ser descrita a partir da ênfase no conceito
de autenticidade do terapeuta, na experiência imediata da relação com o cliente.
4. Fase Coletiva ou Inter-humana (1970 – 1987)
Nos últimos 15 anos de sua vida Rogers voltou seu interesse para questões mais amplas,
concernentes às atividades de grupo e à relação humana coletiva, abandonando
definitivamente a atividade de terapia individual no consultório e assumindo em seu
trabalho a definição de abordagem, em vez de psicoterapia. Esta é uma fase de
transcendência de valores e de ideias, em que Rogers trabalha com conceitos que
coexistem em outras áreas da ciência, tais como a física, a química ou a biologia,
expressando sua preocupação com o futuro do homem e do mundo.
“Seria uma fase mais mística, holística em seu sentido amplo, em que Rogers se voltaria
para a consideração de uma relação mais transcendental, ou para a transcendência da
existência humana”.
Fases do aconselhamento:
Descoberta Inicial
- Se trata do início do trabalho, o conselheiro e o cliente ainda não se conhecem direito,
então é preciso estabelecer o primeiro vínculo entre eles. Para encorajar a descoberta, o
conselheiro deve estabelecer condições que promovam confiança no cliente.
1. Empatia: compreender a experiência do outro “como se fosse” a própria.
2. Coerência ou autenticidade: ser como você parece, sempre coerente, digno de
confiança no relacionamento.
3. Consideração positiva: interessar-se por seu cliente.
4. Incondicionalidade: respeito incondicional à individualidade da pessoa
5. Concreção: usar linguagem clara para descrever a situação de vida do cliente,
separando declarações ambíguas e ajudando o cliente a encontrar descrições que
retratam exatamente o que está acontecendo em sua vida.

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