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SUPERVISÃO DE ESTÁGIO CLÍNICO EXISTENCIAL-HUMANISTA

RESUMO DO ARTIGO – SER TERAPEUTA

Docente: Alisson Santos


Dicente: Sueltom Gonzaga Silva de Souza

Introdução
As autoras começam o artigo pensando em como é pensada a psicoterapia, que
muitas vezes se imagina um tratamento cujo objetivo principal é a cura. Essa ideia de
ajudar o paciente a se livrar de certos sintomas é algo que faz sentido para a maioria das
pessoas e até mesmo para os estudantes de Psicologia que estão começando a se envolver
na prática psicoterapêutica. Nesse sentido é preciso entender que as expectativas do
estudante ao começar os atendimentos psicoterapêuticos afetam a forma como eles
entendem tanto as experiências dos clientes quanto as suas próprias experiências.
O artigo argumenta que estudante leva para a prática, sua própria identidade como
indivíduo. A forma como ele se relaciona com o cliente também é moldada pela sua
própria visão de quem é. No início, devido à falta de experiência com o método que deverá
guiar sua prática, ele pode analisar os sentimentos e comportamentos dos clientes com
base em suas próprias vivências, expectativas e valores morais. Sendo assim a supervisão,
tanto para os estudantes durante suas atividades acadêmicas quanto para os recém-
formados, é uma ferramenta que possibilita adquirir conhecimentos fundamentais e uma
experiência mínima necessária para atuar como praticantes clínicos.
Quando pensamos a Psicologia Clínica historicamente, vemos que foi criada uma
figura idealizada que surgiu para atender à necessidade de valorizar a subjetividade, que
é uma característica do individualismo moderno. Isso resulta em uma mudança na relação
entre teoria e prática. Nesse contexto, o autor menciona que se apegar rigidamente aos
modelos científicos pode limitar a compreensão dos fenômenos. Isso acontece porque o
método é às vezes visto como uma maneira falsa de controlar a ocorrência desses
fenômenos.
1. A Fenomenologia Husserliana
Para contextualizar o tema principal do artigo, as autoras expõem alguns conceitos
básicos da fenomenologia-existencial, começando pela concepção Husserliana. Elas
começa tratando da mudança de concepção de "eu" no pensamento de Husserl. Onde ele
direciona a fenomenologia para uma abordagem transcendental que busca compreender
as condições e estruturas fundamentais subjacentes à experiência consciente e à cognição.
Husserl começa a enfocar o "eu" não mais como um objeto empírico, mas como a fonte
ou origem da própria experiência, incluindo a percepção e a atribuição de significado aos
objetos. Sendo assim a fenomenologia tenta analisar e descrever as estruturas
fundamentais da consciência, a maneira como percebemos o mundo e atribuímos
significado aos objetos.
Husserl destaca que o "Eu" é responsável por todo o conhecimento, dando forma e
significado ao mundo. A fenomenologia, portanto, tem como principal objetivo descrever
as experiências a partir das quais os objetos da consciência são formados
intencionalmente. Husserl acredita que o "Eu Transcendental" unifica essas experiências.
Esse "Eu" vai em direção ao mundo, percebe e compreende as coisas (objetos).
Husserl busca entender uma consciência absoluta através da redução
fenomenológica. Isso ajuda cada pessoa a dar sentido ao mundo de forma pessoal,
mostrando suas experiências genuínas. Ao deixar de lado as influências externas, a
consciência pode conhecer a si mesma completamente.

2. O Existencialismo Sartreano
Já o Sartre nega a possibilidade do Eu ser visto como uma estrutura constituinte da
consciência. O "Eu" não está presente na consciência não refletida, porque o pensamento
"Eu penso" só aparece quando refletimos sobre isso. Em outras palavras, é a reflexão que
cria o "Eu" como algo além, chamado de "Eu transcendente," que agora existe no mundo
como uma entidade em si mesma. Sartre argumenta que isso é um "Eu" superado e não
fundamental, já que é o que é conhecido e não o que realiza o conhecimento.
O Existencialismo se concentra em entender a existência através da análise
profunda, considerando a liberdade de escolha contextualizada. No entanto, essa
liberdade não garante automaticamente o sucesso. As pessoas escolhem projetos com
base em seus valores, que são influenciados pela moral do seu contexto. Nessa visão, o
ser humano se torna um indivíduo isolado, sendo consciente e separado de si mesmo.
O Sartre apresenta uma contradição Homem/Mundo, onde ao mesmo tempo que o
homem é integrante do mundo, ele é separado dele. O mundo confere ao homem a sua
identidade e existência, dando objetivo a ele, o que faz dele parte integrante do mundo.
O texto sugere que o mundo objetiva o homem como uma coisa entre outras coisas. Além
disso, a perspectiva menciona os outros indivíduos e a sociedade também objetivam o
homem, contribuindo para essa objetificação.
Parte da forma como o homem cria o mundo é construída por ele mesmo. Para se
tornar verdadeiramente humano, é preciso interagir com outros seres humanos, pois a
identidade como homem é formada através da interação com a realidade que ele mesmo
constrói. Para entender o indivíduo, é importante considerar tanto a história pessoal dessa
pessoa quanto os ambientes sociais, culturais, econômicos e políticos nos quais ela vive.
Assim, a fenomenologia-existencial oferece ferramentas úteis para a prática clínica.
Através do método fenomenológico, aplicando a "epoqué", criamos a base para uma
compreensão profunda. E usando o método progressivo-regressivo, podemos entender o
"Projeto de Ser" dos clientes ao examinar as escolhas que fazem, seguindo um movimento
dialético no tempo.

3. A Psicologia Clínica e o Sujeito Objetivado


Nessa sessão as autoras tratam do lugar que a Psicologia Clínica ocupou. Para se
tornar uma ciência concreta, a Psicologia, especialmente na prática clínica, buscou
estabelecer um conhecimento incontestável. Ela almejava um método confiável que
pudesse prever e controlar os fenômenos que moldam a formação de um indivíduo
subjetivo. Ao se contrapor à objetividade defendida pela ciência, os terapeutas receberam
o poder de influenciar a natureza do cliente, onde os aspectos distintos do cliente foram
simplificados e tratados como objetos de estudo, tendendo a excluir a subjetividade.
O principal impacto dessa diferença nas relações terapêuticas está ligado à
dificuldade de aceitar diversas maneiras de entender o mundo, resultando na
simplificação das experiências em conceitos que são aplicados universalmente, ou seja,
que são generalizados. Com a ênfase nas questões patológicas reforçou a ideia de que o
indivíduo é dependente e submisso ao processo terapêutico. A Psicologia foi apresentada
como a principal, senão a única, solução eficaz para seus problemas.
Na prática clínica, o psicólogo busca entender como as pessoas se encaixam no
mundo e ajuda a atender suas necessidades de acordo com os objetivos terapêuticos. No
entanto, é importante reconhecer que as pessoas podem crescer e mudar pessoalmente
através de várias experiências sem a necessidade de intervenção psicológica.
O artigo ainda levanta uma questão social importante, onde a prática da Psicologia
Clínica não se restringe às camadas favorecidas, buscando uma abordagem única para
cada cliente. Isso também se aplica aos terapeutas, evitando uma visão de poder sobre os
clientes. O ambiente social influencia a formação das subjetividades. Tornar-se terapeuta
envolve atender às expectativas sociais e pessoais.

4. A Sociabilidade e o Social
Aqui o artigo trata da sociabilidade a partir do conceito de Qualidade de Vida,
apresentando uma discussão reflexiva sobre a mensuração desse conceito. As autoras
falam destacam a influência do capitalismo na definição contemporânea de bem-estar.
Que passa por padrões de beleza, comportamentais e status social são impostos pela
mídia, afetando a percepção do bem-estar. Nesse sentido o psicólogo é considerado
alguém que pode promover mudanças comportamentais para alcançar o bem-estar do
cliente.
A prática clínica é descrita como um olhar sobre o homem na sociabilidade,
moldado pelas relações sociais, normas e leis. O texto destaca a interação entre indivíduos
e objetos, onde a materialidade desempenha um papel mediador. A ação individual
contribui para objetivos coletivos, resultando em um processo de totalização em curso na
dialética homem-mundo.

5. Ser Terapeuta Ideal


Agora chegamos no ponto central da discussão do artigo, a formação do terapeuta.
A formação tem o poder de moldar quem somos. Ela nos define como seres únicos, mas
muitas vezes nossa maneira de pensar é influenciada por ideias predefinidas. A ideia de
ajudar o cliente a se livrar do sofrimento e ser visto como um bom profissional pode
motivar o terapeuta. Isso porque essa capacidade de ajudar lhe confere poder. No entanto,
o terapeuta iniciante, influenciado por ideias da sociedade capitalista, como padrões de
saúde mental, qualidade de vida e bem-estar, pode se concentrar em encaixar o cliente em
conceitos predefinidos. Isso pode levar a tentativas de mudar o cliente para se adequar às
expectativas do meio.
Há no terapeuta em formação a inevitável busca por desempenho e nessa situação
as dúvidas sobre o que é mais adequado ser dito estão sempre presentes. Nesse sentido, a
supervisão atua como um guia para aliviar essa ansiedade e preocupação, fornecendo
orientação por meio de um profissional experiente.
O terapeuta idealiza a psicoterapia como a aplicação de um método em um contexto
previsível, como se ele tivesse a receita para todo o sofrimento, deixando de lado o
processo terapêutico como um processo em que o cliente toma consciência e assume seu
próprio projeto de ser, que pode ser mantido ou não.
Falando sobre singularidade e relação, existem outros aspectos também podem ser
entendidos de maneira equivocada. A individualidade do cliente e do terapeuta está ligada
ao ambiente em que vivem. Suas experiências são influenciadas pelas relações fora da
terapia. Isso afeta como eles se relacionam durante a terapia e em outras situações. Todas
essas relações são importantes e precisam ser consideradas.
Outro aspecto é quanto dinâmica do silêncio por parte dos clientes em sessões de
terapia, muitas vezes são interpretadas como uma barreira à intervenção terapêutica,
sentindo-se desconfortáveis e pressionados a preencher o vazio com intervenções que não
produzem efeitos. No entanto, o silêncio do cliente pode ter significados diversos e
produtivos quando explorados terapeuticamente. O silêncio é um fenômeno que pode ser
trabalhado em terapia, levando o cliente a uma reflexão sobre si mesmo e suas escolhas.
Existem dois tipos de silêncio discutidos: o silêncio produtivo, que é reflexivo e
voltado para o cliente, e o silêncio estéril, que pode indicar evitação de tópicos
desconfortáveis. O manejo adequado do silêncio requer a compreensão das intenções do
cliente por parte do terapeuta.
O texto aborda ainda a relação entre terapeutas iniciantes e seus orientadores. Os
estagiários podem idealizar seus orientadores e temer a avaliação negativa. No entanto,
essa relação deve ser uma oportunidade para o crescimento, com o orientador orientando
o estagiário a abandonar idealizações e arriscar-se a aplicar a abordagem terapêutica de
forma autêntica.

Considerações Finais
Por fim o texto destaca características desejáveis em aspirantes a psicoterapeutas,
como interesse nas pessoas e estabilidade emocional. Na atualidade, também é importante
que esses terapeutas em formação desenvolvam autoconhecimento. Ao entrar na prática,
estudantes de Psicologia precisam integrar teoria e aplicação prática.
É ressaltado que a formação acadêmica não basta para ser um psicoterapeuta eficaz.
A busca pelo autoaperfeiçoamento é fundamental. Tornar-se terapeuta envolve correr
riscos, sair da zona de conforto e explorar possibilidades de crescimento. Questionar o
conhecimento acadêmico é essencial, pois ele é influenciado por pessoas e pode evoluir.
Erros são naturais no processo de aprendizado. Os terapeutas não devem superestimar o
impacto de seus erros nos clientes.
O texto adverte sobre não impor ideais rígidos aos clientes. O autoconhecimento
também é importante para os terapeutas, evitando idealizações. Projetos inflexíveis não
permitem adaptação a frustrações ou limitações. Reconhecer limites é crucial tanto para
os terapeutas quanto para os clientes.

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