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Introdução
As autoras começam o artigo pensando em como é pensada a psicoterapia, que
muitas vezes se imagina um tratamento cujo objetivo principal é a cura. Essa ideia de
ajudar o paciente a se livrar de certos sintomas é algo que faz sentido para a maioria das
pessoas e até mesmo para os estudantes de Psicologia que estão começando a se envolver
na prática psicoterapêutica. Nesse sentido é preciso entender que as expectativas do
estudante ao começar os atendimentos psicoterapêuticos afetam a forma como eles
entendem tanto as experiências dos clientes quanto as suas próprias experiências.
O artigo argumenta que estudante leva para a prática, sua própria identidade como
indivíduo. A forma como ele se relaciona com o cliente também é moldada pela sua
própria visão de quem é. No início, devido à falta de experiência com o método que deverá
guiar sua prática, ele pode analisar os sentimentos e comportamentos dos clientes com
base em suas próprias vivências, expectativas e valores morais. Sendo assim a supervisão,
tanto para os estudantes durante suas atividades acadêmicas quanto para os recém-
formados, é uma ferramenta que possibilita adquirir conhecimentos fundamentais e uma
experiência mínima necessária para atuar como praticantes clínicos.
Quando pensamos a Psicologia Clínica historicamente, vemos que foi criada uma
figura idealizada que surgiu para atender à necessidade de valorizar a subjetividade, que
é uma característica do individualismo moderno. Isso resulta em uma mudança na relação
entre teoria e prática. Nesse contexto, o autor menciona que se apegar rigidamente aos
modelos científicos pode limitar a compreensão dos fenômenos. Isso acontece porque o
método é às vezes visto como uma maneira falsa de controlar a ocorrência desses
fenômenos.
1. A Fenomenologia Husserliana
Para contextualizar o tema principal do artigo, as autoras expõem alguns conceitos
básicos da fenomenologia-existencial, começando pela concepção Husserliana. Elas
começa tratando da mudança de concepção de "eu" no pensamento de Husserl. Onde ele
direciona a fenomenologia para uma abordagem transcendental que busca compreender
as condições e estruturas fundamentais subjacentes à experiência consciente e à cognição.
Husserl começa a enfocar o "eu" não mais como um objeto empírico, mas como a fonte
ou origem da própria experiência, incluindo a percepção e a atribuição de significado aos
objetos. Sendo assim a fenomenologia tenta analisar e descrever as estruturas
fundamentais da consciência, a maneira como percebemos o mundo e atribuímos
significado aos objetos.
Husserl destaca que o "Eu" é responsável por todo o conhecimento, dando forma e
significado ao mundo. A fenomenologia, portanto, tem como principal objetivo descrever
as experiências a partir das quais os objetos da consciência são formados
intencionalmente. Husserl acredita que o "Eu Transcendental" unifica essas experiências.
Esse "Eu" vai em direção ao mundo, percebe e compreende as coisas (objetos).
Husserl busca entender uma consciência absoluta através da redução
fenomenológica. Isso ajuda cada pessoa a dar sentido ao mundo de forma pessoal,
mostrando suas experiências genuínas. Ao deixar de lado as influências externas, a
consciência pode conhecer a si mesma completamente.
2. O Existencialismo Sartreano
Já o Sartre nega a possibilidade do Eu ser visto como uma estrutura constituinte da
consciência. O "Eu" não está presente na consciência não refletida, porque o pensamento
"Eu penso" só aparece quando refletimos sobre isso. Em outras palavras, é a reflexão que
cria o "Eu" como algo além, chamado de "Eu transcendente," que agora existe no mundo
como uma entidade em si mesma. Sartre argumenta que isso é um "Eu" superado e não
fundamental, já que é o que é conhecido e não o que realiza o conhecimento.
O Existencialismo se concentra em entender a existência através da análise
profunda, considerando a liberdade de escolha contextualizada. No entanto, essa
liberdade não garante automaticamente o sucesso. As pessoas escolhem projetos com
base em seus valores, que são influenciados pela moral do seu contexto. Nessa visão, o
ser humano se torna um indivíduo isolado, sendo consciente e separado de si mesmo.
O Sartre apresenta uma contradição Homem/Mundo, onde ao mesmo tempo que o
homem é integrante do mundo, ele é separado dele. O mundo confere ao homem a sua
identidade e existência, dando objetivo a ele, o que faz dele parte integrante do mundo.
O texto sugere que o mundo objetiva o homem como uma coisa entre outras coisas. Além
disso, a perspectiva menciona os outros indivíduos e a sociedade também objetivam o
homem, contribuindo para essa objetificação.
Parte da forma como o homem cria o mundo é construída por ele mesmo. Para se
tornar verdadeiramente humano, é preciso interagir com outros seres humanos, pois a
identidade como homem é formada através da interação com a realidade que ele mesmo
constrói. Para entender o indivíduo, é importante considerar tanto a história pessoal dessa
pessoa quanto os ambientes sociais, culturais, econômicos e políticos nos quais ela vive.
Assim, a fenomenologia-existencial oferece ferramentas úteis para a prática clínica.
Através do método fenomenológico, aplicando a "epoqué", criamos a base para uma
compreensão profunda. E usando o método progressivo-regressivo, podemos entender o
"Projeto de Ser" dos clientes ao examinar as escolhas que fazem, seguindo um movimento
dialético no tempo.
4. A Sociabilidade e o Social
Aqui o artigo trata da sociabilidade a partir do conceito de Qualidade de Vida,
apresentando uma discussão reflexiva sobre a mensuração desse conceito. As autoras
falam destacam a influência do capitalismo na definição contemporânea de bem-estar.
Que passa por padrões de beleza, comportamentais e status social são impostos pela
mídia, afetando a percepção do bem-estar. Nesse sentido o psicólogo é considerado
alguém que pode promover mudanças comportamentais para alcançar o bem-estar do
cliente.
A prática clínica é descrita como um olhar sobre o homem na sociabilidade,
moldado pelas relações sociais, normas e leis. O texto destaca a interação entre indivíduos
e objetos, onde a materialidade desempenha um papel mediador. A ação individual
contribui para objetivos coletivos, resultando em um processo de totalização em curso na
dialética homem-mundo.
Considerações Finais
Por fim o texto destaca características desejáveis em aspirantes a psicoterapeutas,
como interesse nas pessoas e estabilidade emocional. Na atualidade, também é importante
que esses terapeutas em formação desenvolvam autoconhecimento. Ao entrar na prática,
estudantes de Psicologia precisam integrar teoria e aplicação prática.
É ressaltado que a formação acadêmica não basta para ser um psicoterapeuta eficaz.
A busca pelo autoaperfeiçoamento é fundamental. Tornar-se terapeuta envolve correr
riscos, sair da zona de conforto e explorar possibilidades de crescimento. Questionar o
conhecimento acadêmico é essencial, pois ele é influenciado por pessoas e pode evoluir.
Erros são naturais no processo de aprendizado. Os terapeutas não devem superestimar o
impacto de seus erros nos clientes.
O texto adverte sobre não impor ideais rígidos aos clientes. O autoconhecimento
também é importante para os terapeutas, evitando idealizações. Projetos inflexíveis não
permitem adaptação a frustrações ou limitações. Reconhecer limites é crucial tanto para
os terapeutas quanto para os clientes.