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AVISO:

O conteúdo deste Ebook é de caráter educativo.

OBJETIVO:

A função desse ebook é ajudar vocês com conhecimentos básicos


para um processo psicoterapêutico de qualidade, dentro da
abordagem da Gestalt-Terapia.

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ÌNDICE

SOBRE NÓS ....................................................................... 01


INTRODUÇÃO ................................................................... 02
GESTALT-TERAPIA ......................................................... 02
INTRODUÇÃO A OBRA ...................................................... 03
ABERTURA EXISTENCIAL ............................................... 04
AJUSTAMENTO CRIATIVO ................................................ 05
AJUSTAMENTO NEURÓTICO ............................................ 06
AMPLIAÇÃO DE CONSCIÊNCIA ........................................ 08
ANGÚSTIA ....................................................................... 09
ANSIEDADE ....................................................................... 11
AUTOSSUPORTE ............................................................... 12
AUTORREGULAÇÃO OGANÍSMICA .................................... 13
AWARENESS ..................................................................... 15
CICLO DO CONTATO ........................................................... 16
CONTRATRANSFERÊNCIA ................................................ 19
DEMANDA INICIAL E DEMANDA TERAPÊUTICA ............... 21
DOMINADOR E DOMINADO – TOP DOG E UNDERDOG ........ 22
EVITAÇÃO ANSIOSA ........................................................ 24
EXPECTATIVA CATASTRÓFICA ........................................ 25
FIGURA E FUNDO .............................................................. 26
GESTALT ABERTA ............................................................ 28
INSIGHT ............................................................................ 29
INTEGRAÇÃO DE PARTES ALIENADAS ............................ 30
MECANISMOS DE DEFESA ................................................ 31
MUDANÇA ........................................................................ 38
NECESSIDADES/DESEJOS .............................................. 40
NEUROSE .......................................................................... 41
REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA ......................................... 43
RELAÇÃO TERAPÊUTICA ................................................ 45
RESPONSABILIDADE ....................................................... 47
SAÚDE .............................................................................. 48
SINTOMA .......................................................................... 50
SONHOS ............................................................................ 51
TRANSFERÊNCIA ............................................................. 52
SOBRE NÓS

Somos Isadora e Helena,


psicólogas e Gestalt terapeutas
do Transborda. Além de
amigas, somos parceiras e
compartilhamos juntas o amor
pela Gestalt-terapia e o sonho
de construir um espaço com o
propósito de criar uma rede de
psicólogos, que sejam capazes de
proporcionar autoconhecimento
e crescimento para mais e mais
pessoas.

OTransbordaéumespaçoqueconstruímosjuntascommuitoamor
e dedicação. O seu objetivo é proporcionar questionamentos,
ampliação de consciência, insights e crescimento, para ajudar
as pessoas a se conectarem consigo mesmas e a alcançarem
seus objetivos. Além de formar psicólogos mais autênticos,
livres e competentes.

A nossa parceria é essencial para fazer o nosso sonho crescer.


Acreditamos em uma psicologia que foge da solidão do
consultório individual e queremos compartilhar isso com o
mundo.

Para isso, além da nossa clínica em psicoterapia individual,


promovemos aulas, supervisões, palestras, cursos e
disponibilizamos materiais, como esse que você acaba de
adquirir.

OBRIGADA POR ESCOLHER CRESCER COM A GENTE!

01
INTRODUÇÃO

GESTALT-TERAPIA
A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica fundada
por Fritz e Laura Perls na década de 1940. Ela possui uma grande
bagagem teórica fundamentada: no existencialismo, que tem
grande contribuição para a visão holística do homem, o considerando
como um ser livre para fazer escolhas e ser responsável por elas; na
fenomenologia, que instrumentaliza o trabalho clínico da Gestalt-
terapia com a ideia da redução fenomenológica, compreendendo
os fenômenos e o sentido deles a partir da consciência de cada um;
e na postura dialógica, que nos chama a atenção para a importância
do vínculo estabelecido entre terapeuta e cliente, sendo este
imprescindível para que o processo psicoterapêutico aconteça e,
para isso, contamos com o auxílio do humanismo, trazendo a ideia
da compreensão empática ao indivíduo.

No que tange à base teórica, a Gestalt-terapia conta com a


contribuição da Teoria Organísmica de Kurt Goldstein, da Teoria de
Campo de Kurt Lewin e da Psicologia da Gestalt dos autores Max
Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka.

Em resumo a Gestalt-terapia é considerada como a terapia do


contato. A experiência humana se dá na fronteira de contato entre
o organismo e o ambiente. Acredita-se que estamos sempre em
contato com o meio e é por meio deste contato que o funcionamento
humano pode tornar-se saudável ou disfuncional. Ele se torna
disfuncional quando a interação natural e necessária do organismo/
ambiente se torna comprometida, o que culmina em necessidades/
desejos não satisfeitos.

O acúmulo dessas necessidades não satisfeitas (Gestalten abertas)


é o que gera a chamada neurose - comportamentos repetitivos e
obsoletos de interrupção do contato, que impedem o crescimento
do self.

02
Nesse sentido, a Gestalt-terapia busca, através da redução
fenomenológica dos eventos e experiências do indivíduo, acessar
Gestalten abertas e possibilitar que ele integre todo o seu potencial
para se adaptar à realidade a sua frente. O objetivo é tornar o cliente
mais consciente de si mesmo, de suas necessidades e de como
interage com o meio.

INTRODUÇÃO À OBRA

Este trabalho tem a intenção de apresentar de forma clara e objetiva


os principais conceitos das teorias que fundamentam a Gestalt-
terapia, já citadas acima. O intuito é ser um veículo de consulta
para contribuir para os estudos acerca desta abordagem. Nos
preocupamos em trazer um diferencial, que é o que marca nosso
trabalho enquanto interlocutoras do conhecimento da Gestalt-
terapia, que o é de trazer de forma precisa e elucidativa exemplos
práticos da clínica gestáltica, facilitando a compreensão da teoria
à prática.

03
CONCEITOS

1- ABERTURA
EXISTENCIAL
Para a Gestalt-terapia, neurose é um modo de viver rígido, repetitivo
e padronizado, que advém do acúmulo de Gestalten abertas, isto é,
da obstrução do processo de autorregulação, que se forma a partir
da insatisfação das necessidades. Por isso, se torna objetivo de um
processo terapêutico gestáltico proporcionar a abertura existencial
dos clientes com esse padrão neurótico de comportamento.

A abertura existencial somente acontece a partir do processo de


ampliação de consciência. Nesse processo, o cliente pode se dar
conta de suas necessidades e Gestalten abertas, integrar suas
partes alienadas e ter insights. Com isso, ele aumenta seus recursos
e comportamentos para lidar com a situações e demandas da vida,
e isso faz com que ele deixe de evitar situações novas e comece a se
abrir para o mundo – exatamente o processo de abertura existencial.
No consultório, é comum recebermos clientes vivendo de forma
neurótica, com padrões rígidos de comportamento e evitação
ansiosa do novo. Isso impede o processo de abertura existencial
e, consequentemente, o crescimento. No processo terapêutico,
o cliente tende a entrar em contato com suas inseguranças e se
abrir para novas oportunidades, o que possibilita crescimento e
amadurecimento.

Por exemplo, um cliente que chegou no consultório preso a um


casamento infeliz, que já não funcionava para ambas as partes
e insatisfeito no emprego, em que não era reconhecimento,
valorizado e não tinha um salário que lhe agradava. No entanto,
ele tinha várias introjeções que lhe mantinham no mesmo lugar,
e vários padrões de comportamentos que não traziam mudanças,
crescimento e causavam inúmeras frustrações.

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No decorrer do processo terapêutico, acessando suas frustrações,
questionando suas introjeções, falando sobre as suas inseguranças
e investigando de onde elas vinham, o cliente conseguiu se abrir
para novas experiências, correndo mais riscos, buscando outros
empregos, outras formas de se relacionar e modos de viver que
fossem mais adaptativos e trouxessem mais felicidade. Esse foi
o processo de abertura existencial que buscamos com todos os
clientes em um processo gestáltico.

2- AJUSTAMENTO
CRIATIVO
Ajustamento criativo é um dos conceitos fundamentais para a Gestalt-
terapia. Essa abordagem considera o homem uma totalidade que se
autorregula a partir do contato com o meio – interação organismo/
meio. O ajustamento criativo é uma das formas de contato com
o meio que inclui autorregulação, abertura ao novo e um contato
vitalizante, em contraposição à um controle externo, dependência,
aprisionamento ao passado e comportamentos repetitivos.

O indivíduo está em constante interação com o meio e este campo,


individuo/meio, está em constante transformação. Sempre há uma
novidade acontecendo. No entanto, o meio nem sempre é propicio
para a satisfação das necessidades. Por isso faz-se necessário o
papel ativo do indivíduo para lidar com tamanha mudança, uma vez
que apenas suas funções conservativas de autorregulação não são
suficientes para o ajustamento no meio. É preciso que se descubra
novas estratégias de adaptação. Por exemplo, um contexto de
pandemia naturalmente demanda da sociedade capacidade de
ajustamento criativo, seja para trabalhar de casa, para se reinventar
nos modos de relação online e até para estudar.

Assim, ajustar-se criativamente é viver a vida como fluxo na


interação com os outros e com o meio, assumindo responsabilidade

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e imprimindo a sua marca nos acontecimentos da vida. Quando o
contato não é feito de forma criativa ele é apenas uma adaptação
excessiva, uma acomodação e cristalização de comportamentos.
Essa perspectiva implica que a psicoterapia é a restauração do poder
de ajustamento criativo do cliente. É um processo de atualização
de suas potencialidades criativas, tal qual só pode acontecer a
partir da tomada de consciência sobre sua vida, seus padrões e
comportamentos. Quanto mais insights um indivíduo tiver, mais
ampliação de consciência sobre sua vida, seu meio e suas relações
ele terá e, com isso, mais em awareness estará e, portanto, com
mais capacidade de se ajustar de forma criativa no meio.

Um exemplo clínico, foi de um cliente de 25 anos que tinha


o comportamento de omissão, esquiva e vergonha quando
se via diante um problema, ou seja, agia de forma infantil, se
desresponsabilizando e terceirizando a seus pais que resolvessem
por ele. Quando, no processo psicoterapêutico, ele se deu conta
disto, pôde ressignificar este comportamento repetitivo e passou
a lidar com seus problemas de forma mais madura, buscando ajuda
com pessoas que tinham mais conhecimento e recursos para lhe
ajudar, ou seja, passou a utilizar de outras formas criativas para
se satisfazer no meio.

Em um jeito de ser saudável, nós conseguimos identificar as nossas


necessidades e conseguimos também mover recursos e ações, de
forma criativa, para satisfazer essas necessidades.

3- AJUSTAMENTO
NEURÓTICO
Para a Gestalt-terapia um organismo saudável é aquele que
se autorregula e se ajusta criativamente no meio, no processo
de criação e destruição de figuras sem interrupção do ciclo. O
ajustamento neurótico é um modo de relacionar com o mundo que

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não proporciona a autorregulação. Se refere àquilo que uma pessoa
faz diante de um problema, que não consegue contornar, ao recorrer
à formas desatualizadas e congeladas no passado. Esse movimento
interrompe o processo de percebermos o que realmente poderia
ser feito para solucionar aquele conflito (que seria o ajustamento
criativo). Mas é importante ressaltar que o ajustamento neurótico
foi no passado, em algum momento, um ajustamento criativo.

Esse ajustamento não satisfaz a necessidade do organismo, não


transforma o meio e age na manutenção de um jeito de ser enrijecido,
estereotipado, inflexível e sem criatividade. E desse modo, quando
somos confrontados a realizar novas experiências, entramos
em evitação ansiosa, fugindo de lidar com essas situações que
poderiam trazer algum desconforto, como as antigas já trouxeram,
o que gera a ansiedade.

A maioria das pessoas que chegam até o consultório com vários


conflitos e sintomas estão se ajustamento ao meio de forma
neurótica, ou seja, estão recorrendo à padrões antigos e enrijecidos
como tentativa de adaptação no presente. Isso acontece devido ao
acúmulo de Gestalten abertas que atrapalham uma percepção real
e clara da realidade e uma tomada de decisões mais assertivas e
adaptativas para suas questões, necessidades e desejos.

Um exemplo clínico, foi uma pessoa que chegou até o consultório


com o seguinte histórico: ela cresceu em um meio com pessoas
muito invasivas e percebemos, ao longo das sessões, que ela
aprendeu que para ter sua privacidade deveria se fechar para
as pessoas. Por isso, não falava sobre seus sentimentos, com o
tempo passou a nem conseguir identificá-los, não falava sobre
si e não fluía conversa com as pessoas. Ela ter escolhido se
relacionar dessa forma com as pessoas foi, no primeiro momento,
um ajustamento criativo para lidar com a forma invasiva da família.

No entanto, no momento em que ela procurou pela terapia, ela já


estava morando sozinha, em outro meio e com outras relações.
Ainda assim, demonstrava dificuldade de estabelecer relações de

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intimidade e se sentia sozinha. Isso atrapalhava sua vida amorosa,
social e até profissional. Mesmo em ambientes diferentes,
com uma nova realidade, ela continuava utilizando padrões de
comportamentos antigos que não eram mais adaptativos para o
momento. Muito pelo o contrário, lhe prejudicavam no momento
atual. E isso representa o ajustamento neurótico.

O processo terapêutico consiste, nesse sentido, em ampliar a


consciência da cliente sobre a sua realidade, sobre seu padrão
antigo e desajustado para o momento, identificando de onde ele vem
(adaptação ao meio com pessoas invasivas), dando possibilidade
para que, assim, ela crie novas formas de se relacionar com o meio.
Formas essas que sejam criativas e adaptativas.

4- AMPLIAÇÃO DE
CONSCIÊNCIA
O processo de ampliação de consciência se dá a partir do
autoconhecimento e esse é um dos objetivos da psicoterapia
gestáltica. A partir do autoconhecimento, o indivíduo tem acesso
a suas reais necessidades, faz uma leitura de campo, do meio e
de suas relações de forma mais verdadeira. Tudo isso através da
exploração de si mesmo.

O processo de ampliação de consciência leva a angústia, pois


abrem-se novas possibilidades. Mas aumentar a angústia não
significa aumentar o sofrimento. Faz-se necessário aprender a
lidar com a angústia de forma paciente e se abrindo para o que ela
propõe. A angústia traz movimento, pois é a partir dela que inúmeras
possibilidades se abrem.

Dentro de um processo psicoterapêutico, a ampliação de


consciência é um dos objetivos. O terapeuta tem o papel de ajudar
o cliente nesse processo através da redução fenomenológica, que é

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momento em que deixamos de lado todas as nossas crenças, teorias
e julgamentos para captar o sentido das experiências do nosso
cliente. Isso significa ajudar o cliente no processo de se dar conta
de suas necessidades, fechar Gestalten, integrar partes alienadas
e polaridades e tudo isso a partir dos insights. Esse movimento é o
que dá possibilidade ao cliente de ressignificar as suas experiências
e, assim, se abrir para o mundo.

Ou seja, o processo de ampliação de consciência expande os recursos


e comportamentos de uma pessoa para lidar com as situações e
demandas da vida, justamente porque a liberdade do sujeito está
diretamente relacionada ao nível de consciência que ele tem de si
mesmo. E isso faz com que uma pessoa aja de forma mais congruente
com seus desejos e necessidades e, consequentemente, obtenha a
capacidade de tomar decisões mais assertivas, maduras, melhor se
adaptar ao mundo, crescer emocionalmente e pessoalmente.

Um exemplo clínico, é de um cliente que chegou ao consultório


muito rígido e cheio de defesas, utilizando de justificativas lógicas
e racionais para explicar os acontecimentos de sua vida. Quando
ele passou a relatar algumas experiências que tinha vivido e fazer
a redução fenomenológica delas, foi possível ter mais crítica sobre
sua família e suas relações e, assim, a consciência dele sobre ele
mesmo, como e com quem verdadeiramente ele se relacionava,
se ampliou. Este processo fez com que ele ficasse mais flexível e
menos rígido.

5- ANGÚSTIA
O homem é liberdade e isso é condição promotora de angústia.
Angústia é um conceito muito importante no existencialismo, mas
que a Gestalt-terapia utiliza na sua prática clínica. O conceito não
está ligado a um sentimento negativo. É uma experiência valiosa
que ocorre quando tomamos consciência da nossa liberdade de
escolha e do vazio existencial. Angústia é o vazio. É viver em um

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mundo cheio de possibilidades de escolha, com um vazio a ser
preenchido, mas sem a menor garantia de realização, sucesso ou
segurança.

Na angústia, o sentido da existência cede lugar a uma dúvida. A


pessoa deixa de ter um lugar ou algo para se apoiar. A angústia é a
própria liberdade. Por isso, no consultório, na nossa prática clínica,
é muito importante aprender a sustentar a angústia do cliente.

Em diversos momentos, o cliente chega cheio de angústias e


incertezas, procurando algo, alguém ou respostas para se apoiar.
Não é papel de um Gestalt terapeuta dar essas respostas e nem
segurança para o cliente, mas ensiná-lo a lidar com esse processo
que faz parte da vida e que é exatamente o que traz movimento e
crescimento.

Então a angústia faz parte da condição humana e é o que nos coloca


realmente presentes diante do que estamos vivendo no momento;
é também um importante momento para conhecer sobre nós
mesmos de maneira profunda, porque nos coloca diante do nosso
problema de existir, e, por fim, ainda nos solicita uma ação. Ela faz
com que busquemos enfrentar a realidade e não evitar ou fugir
disso. Por isso tudo, é dada a importância de sustentar, manter e
criar angústia nos clientes.

Por exemplo, um cliente que tem vontade de sair do trabalho que


já não lhe satisfaz e investir em uma nova carreira. Nesse cenário,
podem surgir várias angústias diante da incerteza do que a nova
carreira pode lhe proporcionar. Não cabe ao terapeuta dar suporte
e segurança para o cliente nesse momento, mas ajudá-lo a
sustentar as incertezas da vida, se abrindo para as oportunidades,
mesmo sem garantia do sucesso. A única coisa que o cliente pode
fazer diante as incertezas da vida, é se conhecer o suficiente,
fazer uma boa leitura de campo, para que suas escolhas sejam
assertivas e adaptativas.

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6- ANSIEDADE
O organismo, para manter o seu equilíbrio homeostático, necessita
da interação com o meio e é por meio delas que ele assimila aquilo
que é nutritivo e rejeita aquilo que lhe é tóxico. A assimilação de
novos elementos é o que possibilita o crescimento.

Contudo, essa interação organismo e meio nem sempre acontece


de forma natural e favorável. Tanto porque o organismo pode não
fazer a leitura adequada da sua necessidade, como porque o meio
pode não ser propício. Diante de uma experiência em que a pessoa
não consegue satisfazer a sua necessidade na troca com o meio, o
desejo fica em aberto, gerando uma tensão organísmica.

O acúmulo dessas necessidades inacabadas pode criar o sintoma


da ansiedade. Assim, pode-se dizer que a ansiedade é o medo da
readaptação, isto é, de ter que fazer muita força para se adaptar de
novo. Com isso, evita-se o novo e, consequentemente, a abertura
para assimilação de novas experiências na fronteira de contato.
O indivíduo delimita as suas fronteiras em uma pequena área de
interação, o que impossibilita o seu crescimento. Além disso, a
pessoa ansiosa se relaciona com o mundo através de mecanismos
de defesa que comprometem o funcionamento normal do ciclo do
contato.

Podemos dizer, então, que, sob a presença da ansiedade, a interação


natural e necessária do organismo/ambiente pode se tornar
comprometida, isto é, pode haver perda da capacidade plástica
dessa totalidade. O indivíduo ansioso inibe o processo natural de
contato e assimilação dos novos elementos necessários ao seu
próprio crescimento, devido ao receio antecipado dos efeitos
desses elementos.

A ansiedade talvez seja um dos sintomas mais recorrentes da


clínica. A pessoa ansiosa apresenta um acúmulo de necessidades
não satisfeitas (Gestalten abertas) que geram tensão e evitação

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ansiosa, impossibilitando o seu crescimento. No consultório,
buscamos identificar essas Gestalten abertas, ajudando o cliente
a reconhecer os seus desejos insatisfeitos, a fazer uma boa leitura
de si mesmo e do mundo. A intenção é fechar Gestalten, seja na
satisfação ou frustração, diminuindo a tensão organímisca e dando
possibilidade para que a pessoa se abra para o novo.

Um exemplo clínico, foi de um cliente que tinha crises recorrentes


de ansiedade e ao investigar a sua vida fomos percebendo
como ele tinha várias questões mal resolvidas e necessidades
insatisfeitas: culpa com a forma que se relacionava com a família
biológica, dívida com a família adotiva, insatisfação do trabalho e
nos relacionamentos. Elaborar e se relacionar diferente em todos
esses âmbitos da sua vida, diminuiu a sua tensão organísmica.

7- AUTOSSUPORTE
O conceito de autossuporte foi desenvolvido por Perls, em seus
escritos da década de 1960, e está diretamente ligado à maturidade
do indivíduo. “Amadurecimento é o desenvolvimento que se dá de um
apoio ambiental à independência pessoal”, ou seja, é a capacidade
do indivíduo de andar com seus próprios pés, se responsabilizando
por suas ações, sentimentos e pensamentos.

O desenvolvimento do autossuporte, então, se refere ao potencial da


pessoa, à sua independência e ao processo de amadurecimento. O
crescimento requer o autossuporte e isso exige autoconhecimento
e autoaceitação. O autossuporte se torna impossível se a pessoa
não se conhece, não toma consciência de suas necessidades,
desejos e capacidades.

Um dos objetivos da psicoterapia gestáltica é que o cliente


desenvolva seu autossuporte. Nesse processo o terapeuta ocupa um
lugar de facilitador, para que o cliente reconheça suas capacidades
e limitações, e que esses possam ser desenvolvidos e se tornem

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disponíveis no contato com o outro. Só é possível acontecer a
mudança, se o autossuporte do cliente for desenvolvido.

Um exemplo clínico foi de uma cliente de 18 anos que havia sofrido


abuso sexual pelo padrasto na infância. No momento da terapia ela
ainda morava com ele e sua mãe, que tinha consciência dos abusos,
mas se omitia. A relação delas era extremamente fria e hostil. A
cliente então era uma menina sozinha e desemparada. Ao longo
do processo psicoterapêutico, ajudar a cliente a desenvolver seu
autossuporte foi essencial, uma vez que seu meio não era propício
para isso. A partir do momento em que ela passou a reconhecer
suas capacidades e limites e o que ela podia de fato fazer com
isto, ela se fortaleceu emocionalmente para criar ajustamentos
criativos diferentes para se adaptar a esse meio e se desenvolver
na vida. Um dos ajustamentos foi pedir ajuda a sua madrinha,
começar a fazer doces para vender e sair de casa.

8- AUTORREGULAÇÃO
ORGANÍSMICA
Este conceito vem da Teoria Organísmica proposta por Kurt
Goldstein. Ele definia a autorregulação organísmica como uma
forma do organismo de interagir com o mundo, segundo a qual o
organismo pode se atualizar, respeitando sua natureza. Segundo
Goldstein, a emergência de tarefas, desafios, ou ações necessárias
para o bom funcionamento do organismo surgem, em determinado
momento, como prioridades para uma pessoa. Isso é o que Perls
chama de necessidades e desejos na teoria da Gestalt-terapia.

Goldstein afirma que essas necessidades são satisfeitas ou


atualizadas na relação com o meio. O equilíbrio acontece quando
o organismo consegue se atualizar, através de suas performances,
lidando simultaneamente com as demandas do meio.

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Esta interação com o meio pode se dar tanto através de reações de
aceitação e adaptação ao meio, quanto também através de ações
de rejeição e fuga do mesmo. Quando a continuidade do sistema
organísmico é ameaçada pelo contato com o meio, a retirada do
contato é uma tentativa de adaptação do organismo. Esta noção
de fuga e de resistência como respostas também de equilibração, é
claramente levada para o campo conceitual da Gestalt-terapia.

Perls se apropria desta teoria e diz que: “Nem todo contato é


saudável, e nem toda fuga é doentia”, ou seja, o indivíduo tem a
capacidade de avaliar quando seu sistema estiver sendo ameaçado,
seja pelo contato ou pela fuga e, assim, a retirada do contato se
torna uma tentativa de adaptação do organismo.

Esta abordagem foi construída a partir do conceito de que a lei


que governa o funcionamento do ser humano é a da busca da
autoatualização. Perls explica esse conceito melhor enfatizando
que as pessoas dão prioridade para a satisfação das necessidades
emergentes como figuras. Sendo essa necessidade satisfeita, ela
deixa de ser figural e outra necessidade emerge.

As complicações surgem, neste processo de atualização, quando


não há a possibilidade de satisfação de uma necessidade. Uma vida
saudável significa você ser capaz de satisfazer suas necessidades
com o menor esforço possível, isto é, fazendo uma boa
autorregulação. Quando uma necessidade não é satisfeita, a tensão
gerada por essa necessidade fica no organismo. O acúmulo dessas
tensões, geradas por necessidades não satisfeitas (Gestalten
abertas) é o que gera a ansiedade (tais conceitos também foram
abordados aqui neste vocabulário).

Em relação ao processo psicoterapêutico, podemos dizer que


é por meio da autorregulação que o cliente atinge sua realização
e entra em contato com o maior potencial de si mesmo, tendo a
possibilidade de reconhecer quem se é e abrir mão do controle, o
que é exatamente o que um processo terapêutico gestáltico preza.

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Por exemplo, um cliente controlador que chega ao consultório
relatando ter que controlar tudo sempre (seu trabalho, seu tempo
e suas relações), não está se equilibrando, está apenas alienando
sua insegurança, criando defesas de controle para não entrar em
contato com suas fragilidades e, desta forma, não se reconhece
verdadeiramente. É o papel da terapia compreender a necessidade
de controle e integrar suas partes inseguras para dar espaço para
a coragem e autenticidade.

9- AWARENESS
Awareness é um conceito central e fundamental para a Gestalt-
terapia. A tradução do inglês para o português se refere, de imediato,
à palavra consciência. No entanto, a Gestalt-terapia adota um
sentido mais próprio, que foi sintetizado por “saber da experiência”.
Então, awareness se refere ao fluxo da experiência aqui-agora em
que, a partir da interação presente entre o organismo e meio, é
configurado um sentido (saber tácito). É um saber imediato, implícito
do campo e de modo pré-reflexivo. É um saber da experiência aqui-
e-agora.

Nesse sentido, podemos dizer que awareness é estar em contato


com sua própria existência; é estar presente e em contato com o
que acontece no aqui-e-agora. Quando o cliente está “aware” as
possibilidades de ele tomar consciência de quem ele realmente é,
são muito maiores.

A Gestalt-terapia busca, então, gerar a awareness e o contato do


indivíduo com seus aspectos alienados, de forma a proporcionar
a integração de sua personalidade. Quanto mais integrado, mais
possibilidade de estar em aware.

Para mudar, o cliente precisa descobrir suas sensações e seus


sentimentos. Quando o cliente está em contato com a sua
necessidade, conhece seus desejos, faz uma leitura de campo

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verdadeira - está aware - ele sabe o que fazer e como fazer, se
sentindo livre e responsável para escolher.

É papel de um Gestalt terapeuta contribuir para que o cliente se


torne aware de si e quanto mais em aware ele estiver, mais claras
serão as possibilidades, desejos e limitações dele, tendo, assim,
maior capacidade de exercer sua liberdade.

O cliente, no nosso consultório, alcança o estado de awareness


quanto mais integrado e consciente de si mesmo e do mundo
ele estiver. Esse processo só acontece através da redução
fenomenológica e investigação da história de vida do cliente,
acessando Gestalten abertas, partes alienadas, desejos e
necessidades.

10- CICLO DO CONTATO

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O ciclo de contato é a teorização pela qual Perls se utilizou para
pensar a forma como nos relacionamos com o mundo. A priori nem
todo contato é bom, nem toda fuga é doentia. Nenhum é bom ou
mau em princípio, ambos são formas de enfrentamento. O ciclo do
contato é o processo de satisfação de necessidades e serve para
explicar a forma como nos relacionamos com o mundo na busca
da satisfação de um desejo ou necessidade que surge no nosso
organismo.

Os teóricos da Gestalt, a título de estudo, dividem o contato em


algumas etapas. O Ciclo de Contato foi escrito primeiramente
por Goodman e Hefferline em 1951 e foi chamando de processo de
contato-retirada, abordando quatro fases.

A primeira fase, é a etapa de pré-contato: que é onde surge o desejo


ou a necessidade, que no primeiro momento aparece apenas como
um conjunto de sensações e excitações, até que se torne a forma
de uma figura clara. Este pré-contato é um estágio basicamente
sensorial. Toda necessidade e desejo são vinculadas a um objeto,
que em geral pertence ao meio. Nesta fase ele é só imaginado, existe
apenas na subjetividade. Quando o organismo entra em contato para
assimilar este objeto, se dá a segunda fase. É a tomada de contato:
que se refere ao momento de ativação da energia e da ação. A
pessoa mobiliza o seu corpo para se dirigir àquilo que satisfaz a
sua necessidade. A terceira é a etapa de contato final. Essa fase
é o momento de contato com o que satisfaz a necessidade. E a
quarta fase é o pós contato, em que a necessidade foi satisfeita, o
organismo se retira do contato com o objeto de satisfação, a tensão
desaparece e o organismo volta para o equilíbrio.

Depois das definições de Goodman e Hefferline, Zinker, discípulo


de Perls, descreveu seis etapas do ciclo da experiência ou ciclo
da satisfação das necessidades ou ainda ciclo gestáltico, como
é conhecido hoje. Tais etapas são adequadas para descrever o
processo de satisfação de necessidades. Sendo elas: a sensação, o
dar-se conta, a energização, a ação, o contato e a retração.

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A primeira etapa é a sensação: nessa fase, a pessoa sente uma
impressão vaga, uma inquietude. Ainda não há uma forma definida
que indique o que fazer com esse estímulo. A próxima etapa é o dar-
se conta: nessa fase a pessoa consegue dar nome a essa inquietude.
É tomada de consciência de uma necessidade (fome, sede, sexo,
contato etc.). O corpo compreende o conjunto de sinais e estímulos,
ou seja, eles se mostram, nessa fase, mais claros e definidos. A
próxima etapa é a da energização. Na medida que o corpo toma
consciência de sua necessidade, começa então o processo de
mobilização de energia que mobiliza todo o corpo para partir para
a ação e satisfazer essa necessidade. A partir disso, se dá, então, a
ação, isto é, o corpo se põem em marcha para alcançar a satisfação
da necessidade. É o fazer de fato. A quinta fase, a fase de contato, o
corpo entra em contato com o objeto de satisfação.

Se tenho sede, bebo água e ela agora faz parte do corpo. Essa etapa
é de transformação tanto para o indivíduo quanto para o meio. A
última fase, da retração, é a fase da retirada do objeto de satisfação.
Quando a necessidade foi satisfeita ficamos saciados e não há
mais o interesse, então há a retirada e o organismo permanece em
repouso até a próxima sensação.

Uma das características do neurótico é não fazer um bom contato


com o meio e o ciclo travar em algum ponto. O ideal seria conquistar
um padrão rítmico conforme nossas necessidades e, para isso, é
necessário a capacidade de discriminação.

Compreender o ciclo de contato, e suas fases, para a prática clínica


é essencial, pois entendendo o ciclo de uma pessoa, podemos
identificar a fase em que ela se encontra bloqueada e tomar
consciência dos motivos que levaram a esse bloqueio. Isso dá
possibilidade de destravar o ciclo e fechar a Gestalt. Identificamos
a fase que uma pessoa se encontra travada observando a forma
como se ela relaciona com o meio e os mecanismos de defesa que
mais aparecem no seu contato com o mundo.

Um exemplo clínico é de uma cliente que se queixava muito da

18
relação que tinha com seus pais e que queria sair de casa, mas
não conseguia. Ao aprofundar no processo psicoterapêutico,
percebemos que ela não conseguia se movimentar para buscar
melhorar no emprego, procurar apartamento e ter movimento
para satisfazer seu desejo. Ela esperava que os pais dessem
dinheiro a ela e a ajudasse a sair de casa. Neste caso percebemos
uma pessoa travada, no ciclo de contato, na ação. Sabendo disso,
podemos localizar o mecanismo de defesa que está envolvido
neste bloqueio. Neste caso a cliente estava utilizando as defesas:
o egotismo, por querer que os pais resolvessem seu desejo para
ela; e a racionalização, pois utilizava de justificativas lógicas para
não enfrentar as suas inseguranças de tomar decisões sozinha.
Ambas defesas mantinham ela no mesmo lugar: insatisfeita e
na casa dos pais. Depois de percebido isto, buscamos entender
de onde vem este bloqueio que estava lhe travando no ciclo de
contato e fazendo com que ela não se realizasse no mundo.
Por trás disso tudo nos deparamos com uma pessoa insegura,
medrosa que não estava disposta a bancar a responsabilidade da
escolha de ter uma casa e arcar com as consequências, querendo,
inconscientemente, se manter dependente dos pais.

11-
CONTRATRANSFERÊNCIA
A Gestalt-terapia entende a transferência como a forma de percepção
e de se relacionar do cliente com o mundo. A contratransferência se
refere a resposta à transferência do cliente. Para a Gestalt-terapia
não há problema em o terapeuta expressar e revelar o que se sente
na relação. Isso também faz parte do processo e é o que torna a
relação autêntica, embora ela deva ser seletiva. Isso demonstra
empatia com o cliente, congruência consigo mesmo e simpatia na
relação Eu/Tu estabelecida entre cliente e terapeuta.

O cliente normalmente se sente inserido e reconhecido como pessoa

19
na relação e não se sente apenas como um objeto de interesse
profissional. Essa troca humaniza e passa confiança na relação. No
entanto, é importante frisar que é um compartilhamento seletivo e
que deve ser importante para o processo no dado momento e a todo
tempo consciente. Então dizemos que é uma contratransferência
em vigilância.

O Gestalt terapeuta pode entrar no jogo neurótico do cliente, para


entender mais profundamente como ele se comporta e para criar
uma boa relação. No entanto, é importante ter consciência desse
processo e, por isso, a terapia do terapeuta precisa estar em dia.
Um exemplo clínico, foi de quando em um dado momento o terapeuta
se colocou no lugar do pai do cliente (quando o cliente em um
processo de transferência colocou o terapeuta nesse lugar), para
criar confiança e uma boa relação, entender melhor como o cliente
funciona, para posteriormente, mostrar e apontar o jogo neurótico
que impede o crescimento dele.

O cliente confluía com os desejos do pai e colocava todas as figuras


de “autoridade” nesse lugar, se submetendo a elas e não fazendo
escolhas sozinho. Foi necessário ocupar esse lugar, observar como
o cliente também acabava sendo obediente ao terapeuta nesse
papel, para mostrar como isso funcionava na prática e ampliar a
consciência do cliente sobre esse lugar que ele se colocava.

Em resumo, podemos dizer que o Gestalt terapeuta se esforça


para entender e limitar a transferência do cliente, estando sempre
atento para explorar a sua contratransferência, especialmente por
uma awareness permanente do que ele mesmo sente, emocional e
corporalmente.

20
12- DEMANDA
INICIAL E DEMANDA
TERAPÊUTICA
Demanda, em sua definição, se refere à solicitação de um
determinado serviço. Todo cliente que chega até o nosso consultório
traz consigo uma demanda. Essa demanda, normalmente, fala de
um sintoma, uma questão, uma dificuldade, um problema ou um
conflito existente na vida da pessoa. Nem sempre se trata de uma
demanda terapêutica e, por isso, é importante falarmos sobre a
diferença entre demanda inicial e demanda terapêutica.

A demanda inicial é o que chamamos de figura, ou seja, é aquilo que


o cliente tem acesso, está consciente e que consegue perceber
e identificar. No processo psicoterapêutico esta demanda é
transformada em uma demanda terapêutica através do movimento
de buscar o Fundo. No fundo é que encontramos os motivos que
levarem a pessoa a desenvolver aquele sintoma ou chegar até
aquele conflito. Ou seja, no fundo, aquilo que está por trás da queixa
da pessoa, é onde acessamos as suas vivências, experiências,
traumas, dores, sentimentos, emoções e podemos identificar todas
as suas Gestalten abertas.

Transformar uma demanda inicial em demanda terapêutica é


demonstrar para o cliente a importância de investigar a sua história,
para acessar as suas Gestalten abertas e descobrir a origem das
suas queixas. Só assim uma Gestalt é realmente fechada e a situação
problema tende a se resolver. E resolvendo, uma nova Gestalt pode
emergir do fundo, ou seja, uma outra demanda pode surgir.

Uma demanda em um processo terapêutico nunca é estática. Ela


pode se alterar e outras demandas podem surgir. Metaforicamente,
é como se descascasse uma cebola: novas camadas vão aparecendo
e o processo tende a se aprofundar cada vez mais em um lindo

21
processo de desvelar da consciência.

Nesse processo de identificação da demanda dos nossos clientes,


também é importante expor ao cliente qual o nosso papel frente a sua
demanda. Isso significa deixar claro que não estamos ali, enquanto
Gestalt terapeutas, para dar conselhos, ordens, orientações e nem
para resolver os seus conflitos por eles. Um processo terapêutico
gestáltico pressupõe também o processo de responsabilização
pelo seu crescimento.

Um exemplo clínico é de um cliente que chega ao consultório com


a queixa de TDAH. O TDAH é visto pela Gestalt-terapia como uma
deflexão generalizada, ou seja, é um cliente que tem dificuldade
de entrar em contato com situações, questões, sentimentos e
pensamentos. Por isso, ao invés de passar algum medicamento,
ou técnicas de concentração, a nossa intenção é identificar
porque o cliente desenvolveu esse mecanismo de defesa que
corta o contato dele com o mundo. O objetivo é identificar em
qual momento da sua vida esse mecanismo foi importante e
porque ele continua usando dele mesmo quando deixou de ser. É
nesse ponto que se encontra a demanda terapêutica. Ao entender
essa questão, outras demandas podem surgir para o cliente: por
exemplo, com relação a seus relacionamentos e trabalho.

13- DOMINADOR E
DOMINADO – TOP DOG
E UNDERDOG
Muitas das nossas necessidades individuais se opõem à sociedade.
Competição, necessidade de controle, exigências de perfeição
e imaturidade são características de nossa cultura atual. As
expectativas neuróticas da sociedade levam o indivíduo a se

22
dissociar de sua própria natureza, impedindo seu processo de
integração. Então, para ser aceito pela sociedade, o indivíduo
responde com um conjunto de respostas fixas, ignorando seus
próprios sentimentos, desejos e emoções.

O Dominador corresponde às ordens da sociedade. Pode vir como


voz interna ou representado por algo/alguém. É exigente, punitivo,
autoritário e primitivo. Ele manda com afirmações do tipo “você
deveria”, “você precisa” e “porque você não”.

O Dominado é a parte que desenvolve grande habilidade em fugir das


ordens do dominador. Responde com “sim, mas...”, “estou tentando,
mas da próxima vez farei melhor”.

Essa dinâmica resulta em fortes conflitos internos entre dominador


e dominado: aquilo que eu deveria ser versus aquilo que sou. A base
desses conflitos, são as introjeções que começam logo na infância.
A criança introjeta as falas do dominador (que vêem de figuras de
referência, normalmente os pais), e conclui: “o que eu devo fazer
para não ser rejeitada, para ser aceita, reconhecida, amada e ser
ouvida pelo meio?”. E nesse processo aliena e rejeita tudo aquilo
que não pode aparecer para ser amada. Essa é a parte dominada.

Integração e cura só podem ser conseguidas quando a necessidade


de controle entre dominador e dominado cessa. É necessário chegar
no sentido de cada um. Nosso objetivo como terapeutas é ampliar o
potencial humano através do processo de integração, apoiando os
interesses, desejos e necessidades genuínas do indivíduo.

No consultório, podemos citar como exemplo, um cliente que


cresceu em uma família que era sempre alto astral, debochada e
fazia piada de tudo. Raramente emoções como tristeza e raiva
tinham espaço para aparecer. Esse cliente, a partir desse meio
que cresceu, chegou à conclusão de que para ser aceito e amado
precisa ser sempre forte, insensível e animado. Para isso, precisou
alienar a sua parte frágil e sensível. Todas as vezes que passava por
situações difíceis, não consiga elaborar e sentir suas emoções, se

23
julgava muito e, com isso, desenvolveu vários sintomas ansiosos.
Permitir que sua sensibilidade aparecesse e entender de onde vinha
os seus julgamentos foi importante para eliminar os seus sintomas.

14- EVITAÇÃO ANSIOSA


Evitação ansiosa é a forma como Goldstein, um dos autores que
mais contribuíram para a Gestalt-terapia, nomeia a ansiedade,
sendo ela um desejo de evitar uma situação passada, que um dia
já foi dolorosa. Então a evitação ansiosa se refere a evitação de
situações novas por causa da experiência vivida da impossibilidade
de reagir diante as demandas do meio. É o medo da readaptação.

Toda evitação ansiosa vem acompanhada de uma expectativa


catastrófica que é uma fantasia mental de que algo ruim pode
acontecer. Fritz Perls amplia a noção de ansiedade, evitação
ansiosa e expectativa catastrófica para descrever comportamentos
presentes nos mecanismos neuróticos, onde esta evitação da
novidade também se faz notar como uma tentativa neurótica de
padronização de modos de atuação já conhecidos.

Um exemplo clínico é de um cliente de 25 anos que não conseguia


dormir sozinho no quarto. Ele já havia tentado algumas vezes, mas
sempre tinha crises de ansiedade, palpitação e muito calafrio.
Sua expectativa catastrófica era de que se ele dormisse sozinho
iria passar mal e ninguém iria socorrê-lo. Ao investigar mais a
fundo esta expectativa catastrófica e fazer a redução desta
experiência, ele se lembrou que havia passado por uma situação
quando criança em que estava viajando de férias com a família e
dormindo no quarto junto do avô. Um dia ele acabou adormecendo
na sala sozinho e o avô passou mal e chegou a desmaiar nesta noite.
Este cliente se sentiu com muito medo, desespero, impotência e
um desamparo enorme. Assim, ele fez a associação de que toda
vez que fosse dormir sozinho ele iria acordar no susto com algo de
ruim acontecendo sem ninguém para ajudar. Ele passou a evitar

24
situações de dormir sozinho para não vivenciar a possível dor que
viveu no passado.

No processo terapêutico, ele tem a capacidade de ressignificar


esta experiência, entrar em contato com este menino medroso,
desesperado e desamparado que ali ainda existia e, assim, se abrir
para novas experiências.

15- EXPECTATIVA
CATASTRÓFICA
A autorregulação organísmica mantém relação direta com a
fronteira de contato, já que é por meio do contato com o mundo
que necessidades são satisfeitas ou não. Ao atender a necessidade
da melhor forma possível, se ajustando criativamente, a Gestalt se
fecha, o organismo se equilibra e novas necessidades podem se
tornar figura.

Em suma, é por meio do contato que podemos satisfazer


necessidades. Expectativas catastróficas, que se refere a uma
fantasia mental de que algo ruim pode acontecer, impedem a
fluidez do processo de contato e, com isso, que necessidades sejam
satisfeitas.

Assim, a expectativa catastrófica é consequência de uma evitação


ansiosa. Goldstein chama a ansiedade de evitação ansiosa, já que
considera que a ansiedade é o desejo de evitar uma situação que
já foi dolorosa para a pessoa. Então, evitação ansiosa se refere a
evitação de situações novas, em função da experiência vivida da
impossibilidade de reagir diante das demandas do meio. É o medo
da readaptação. E toda evitação ansiosa vem acompanhada de uma
expectativa catastrófica.

Expectativas catastróficas são comuns de encontrar no

25
consultório. E são elas que impedem a abertura para o novo, que
é o que traz crescimento. Por exemplo: “se eu terminar o meu
namoro, eu vou ficar sozinha para sempre” e é isso que impede
que a pessoa termine a relação e se abra para novas que poderiam
trazer mais felicidade e crescimento. É importante questionar
essas expectativas, entender de onde elas vieram, mas, também,
sustentar a angústia do cliente para lidar com as incertezas da
vida.

16- FIGURA E FUNDO


O organismo está em constante contato com o meio e este contato
se dá da seguinte forma: há a emergência de um desejo, que gera
uma excitação e energização para satisfazer esse desejo e, assim,
há a satisfação, que é quando o organismo satisfaz o desejo e
volta para seu equilíbrio. Esse processo acontece o tempo todo, o
que significa dizer que o organismo está o tempo todo abrindo e
fechando Gestalt.

Tais necessidades e desejos emergentes que fazem os ciclos se


abrirem é o que chamamos de figura. A figura é sempre clara e
consciente, já o fundo é mais difuso e fica em segundo plano. Essas
necessidades surgem como figura e quando satisfeitas elas deixam
de ser figura e vão para o fundo e, assim, outra figura pode emergir.
Para a Gestalt-terapia este é o processo saudável do organismo: o
processo contínuo de formação e destruição de figuras.

Para se tornar uma pessoa integrada, é necessário que os ciclos


consigam se fechar atendendo a todo desejo e necessidade. Para
isso acontecer é necessário que a pessoa tenha uma percepção
clara do seu desejo, tenha clareza das capacidades pessoais de
realização do desejo e a percepção clara das condições que o meio
proporciona para a satisfação do desejo.

Figura é aquilo que eu estou prestando atenção, aquilo que estou

26
conseguindo ver e fundo é o contexto, o que está por trás daquilo que
eu consigo ver. Toda experiência vivida, os conflitos, dificuldades e
potencialidades fazem parte de um fundo, mesmo que esse fundo
não consiga se apresentar por completo. Na Gestalt devemos buscar
o fundo, pois é através dele que chegamos ao insight, o que dará
sentido ao problema, ou o conflito, e assim, reestruturar o campo
do cliente para que ele mesmo encontre uma solução.

Em uma relação psicoterapêutica, muitas vezes o cliente vem nos


mostrando apenas a figura, por exemplo: ansiedade, insatisfação
no trabalho, término de relacionamento, compulsões etc. Porém, é
imprescindível analisar o fundo da situação problema que o cliente
traz a terapia.

O objetivo da terapia na Gestalt, é variar figura com o fundo. Por


exemplo, um cliente vem trazendo uma demanda de compulsão
alimentar. Esta será então a figura e nós devemos primeiramente
entender melhor essa figura através da descrição, pedindo que o
cliente descreva esta figura: qual compulsão é essa, quando isso
acontece, como é a experiência etc.

E assim é hora de ir para o fundo. Nós vamos investigar o que está por
trás desta compulsão para entender o sentido dela para o cliente.
Para isso é necessário que nós, Gestalt terapeutas, exploremos
todo campo e história de vida do cliente: seu meio, suas relações
com pai, mãe, amigos e amores, sua relação com a comida, suas
experiências de vida, escolhas etc. Investigamos profundamente o
campo da vida do cliente para chegarmos ao insight, percebermos
o sentido da compulsão e fechar a Gestalt.

A objetivo é colocar luz nas questões do cliente. Neste caso ele vem
com uma demanda da compulsão que está consciente, está clara
e nós vamos sair desta figura e colocar luz no que está no fundo,
olhando mais profundamente para suas relações e decisões, por
exemplo.

27
17- GESTALT ABERTA
Todas as vezes que surge uma necessidade ou um desejo no
organismo de uma pessoa, uma Gestalt se abre. O ciclo do contato
explica o processo de satisfação das necessidades e desejos. Esse
ciclo, quando interrompido, é o que mantém as Gestalten abertas e é
exatamente o acúmulo de Gestalten abertas que geram as neuroses.
O ciclo é interrompido pela forma com que nos relacionamos com
nós mesmos e com o mundo.

Ou seja, para fechar uma Gestalt, ou satisfazer uma necessidade,


precisamos do claro reconhecimento do que desejamos, de
mobilizar energia para essa satisfação, de fazer uma boa leitura
de campo, de entrar em contato com o que satisfaz a necessidade
e de retrair desse contato quando já satisfeito. Se utilizamos de
alguns mecanismos de defesa nesse processo, ele é interrompido e
a Gestalt fica aberta. E é tudo isso que buscamos identificar em um
processo terapêutico.

Gestalten abertas pedem o tempo todo pelo o seu fechamento.


Enquanto uma Gestalt não se fecha, padrões de comportamento
tendem a se repetir.

Por exemplo, um cliente que tinha pais extremamente agressivos


e rígidos. Para lidar com essa situação o cliente passou a utilizar
da deflexão. Ele cortava o contato com o mundo e com os pais
para não sentir a dor de presenciar a agressividade dos pais e
para fugir da rigidez deles.

Nesse processo, de apenas fugir da relação com os pais, algumas


necessidades ficam em aberto: necessidade de afeto, cuidado,
amor e amparo. Essa Gestalt aberta influencia na forma como ele se
relaciona com outras pessoas, fora do ambiente familiar. O padrão
tende a se repetir (a Gestalt pedindo o seu fechamento) e o cliente
se envolve em relacionamentos amorosos de pessoas agressivas e
pouco afetivas.

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No processo terapêutico é muito importante reconhecer todo esse
processo de Gestalten abertas e mecanismos que impedem o seu
fechamento, para que o cliente se relacione com o mundo de outra
forma e feche suas Gestalten.

18- INSIGHT
O Insight é a tomada de consciência de algo importante e significativo
a respeito da vida do cliente, durante o processo terapêutico. É a
percepção que o cliente tem do padrão ou configuração em sua
experiência, sentimento, comportamento e pensamento. Então se
refere ao momento que o cliente se dá conta da forma como tem
agido no mundo e do que o levou a agir assim.

Existem vários tipos de insight e como eles podem emergir, por


exemplo: o Insight intelectual que ocorre racionalmente. Ele mostra
o entendimento intelectual de algo, mas não um saber emocional
e operacional de uma situação; o Insight emocional ou visceral,
que é aquele que traz uma clara consciência, compreensão e
sentimento ao mais profundo do ser, em relação ao significado
de comportamentos pessoais e, além disso, permite que ocorra
modificações positivas na personalidade; e o Insight estrutural,
que ocorre quando relacionamos dois dados que aparentemente
não tinham ligação.

Os insights também podem variar em intensidade. Ele pode


acontecer desde a resolução de pequenos problemas, onde a
pessoa tem uma luz ou uma ideia nova, ou até àqueles capazes de
alterar toda estrutura emocional e psíquica, reestruturando todo o
campo, seja da família, do trabalho ou das relações no geral, o que
permite vivencia-las e lidar com elas de uma forma diferente.

Insights podem vir à tona a qualquer momento: durante ou após


um momento de sofrimento intenso; momentos de relaxamento
e reflexão, ou num estado de quietude e silêncio. No entanto,

29
é importante afirmar que os trabalhos terapêuticos costumam
favorecer e acelerar o surgimento de insights.

Em um processo psicoterapêutico o insight é imprescindível. É


papel do terapeuta facilitar o aparecimento e trazer conhecimento
de algo que não tinha sido percebido. Neste processo os insights
normalmente veem acompanhados de emoção: tristeza, raiva,
alívio, alegria etc. Ele é o que dá possibilidade ao cliente de fechar
gestalten. O terapeuta gestáltico trabalha sempre em busca do
insight e buscamos facilitar esse processo nos nossos clientes
através das nossas intervenções.

Então, a psicoterapia vai ser o processo no qual o cliente se dá


conta de associações entre fatos de sua vida, memórias, emoções,
comportamentos e relacionamentos. Ao dar-se conta, o cliente
modifica as próprias narrativas e memórias sobre tais fatos e
pessoas, e, com isso, adquire domínio sobre os conflitos internos e
emoções de natureza patogênica a eles associados. Ter um insight
significar descobrir ou perceber algo que antes você não percebia
sobre si mesmo, ou sobre o funcionamento da vida e do mundo.

Um exemplo clinico é de uma pessoa que em determinado


momento está se deixando manipular por alguém e descobre
que está permitindo que isso aconteça porque se sente culpado
por algo que fez; sendo assim, está tentando compensar algo
que antes nem se dava conta. Quando você percebe a situação, é
como um despertar interior. Antes havia uma cegueira, e agora as
coisas ficaram claras.

19- INTEGRAÇÃO DE
PARTES ALIENADAS
As partes alienadas se referem a partes que foram dominadas em
uma pessoa, ou seja, as partes que não podem aparecer para que

30
uma pessoa seja aceita pela sociedade.

Para Gestalt-terapia, nós somos um conjunto de polaridades. Ou


seja, temos em cada um de nós forças opostas que se cruzam,
mas que não necessariamente são incompatíveis. Todas elas são
necessárias para a nossa adaptação no mundo. Somos força e
fragilidade, emoção e razão, agressividade e passividade etc. Muitas
vezes, negamos uma das nossas polaridades porque aprendemos
que são feias ou erradas, também alienando partes da nossa
personalidade.

Faz parte do processo terapêutico integrar todas as nossas


polaridades e partes negadas. Já que negar essas partes, incluindo
as partes dominadas, não faz com que elas deixem de existir. Muito
pelo contrário, daí surgem vários conflitos, elas atuam sobre nós de
forma inconsciente, e impedem a nossa adaptação ao meio.

Só conseguimos perceber partes alienadas de um cliente


conhecendo toda a sua história e investigando a sua forma de
relacionar com o outro e com o mundo. Um cliente que cresceu
em uma família que exige que ele seja sempre seguro e destaque
em tudo que faz, vai ter dificuldade em expressar e integrar suas
inseguranças e fraquezas.

E negar suas inseguranças, evita que ele as enfrente e se torne de


fato uma pessoa segura.

20- MECANISMOS DE
DEFESA
Como já dito aqui neste Vocabulário, as fases do ciclo do contato
servem para todas as necessidades e desejos, desde os mais
simples e fisiológicos até necessidades emocionais mais
complexas. A existência de cada pessoa é vista em ciclos de contato

31
e retraimento, nos quais se chega à autorregulação organísmica
ou ajustamento criativo da pessoa em seu meio. Esse processo
acontece constantemente. Surgem necessidades para serem
satisfeitas e, quando concluídas, novas necessidades emergem.

No entanto, em cada etapa do ciclo podem existir interrupções que


impossibilitam o bom funcionamento do organismo e a satisfação
plena de um desejo ou necessidade. Esse processo pode ser
distorcido ou interrompido pela forma com que nos relacionamos
com o mundo.

Diante da impossibilidade de satisfazer uma de suas necessidades/


desejos, de realizar trocas ou evitar o contato com o meio, o
organismo recorre a algumas estratégias (mecanismos) para
assegurar sua integridade. Esses mecanismos podem ser saudáveis
ou disfuncionais, conforme a sua intensidade e o momento em
que são utilizados (nível de consciência sobre eles). Podem ser
funcionais quando facilitam e ajudam no processo de adaptação de
uma pessoa. Ele se torna disfuncional quando aplicado em outros
ambientes dos quais não seria necessário e pode atrapalhar a sua
leitura adequada de campo. Eles são vistos pela Gestalt-terapia
como um distúrbio da fronteira de contato, que define o padrão de
comportamento neurótico do indivíduo.

Perls inicialmente apontou quatro mecanismos de defesa, depois


concluiu com mais três. Neste abordaremos os que utilizamos no
trabalho da clínica.

INTROJEÇÃO

A introjeção é definida como o processo primário de internalização


de crenças, valores, pensamentos transmitidos pelos pais, pela
cultura e outros ambientes significativos, que interferem e também
contribuem na constituição da subjetividade da criança.

Os introjetos podem ser positivos (internalização de valores e


vivências que facilitam a identificação e integração da criança no

32
mundo social) e tóxicos (inibição do excitamento espontâneo e
criativo).

Um introjeto tóxico é uma mensagem negativa que a pessoa escuta


e internaliza sem digerir, limitando seu modo de ser genuíno e
cristalizar a percepção de si e do mundo. A introjeção carrega
“um deveria” junto com “um não deveria”, que vem associado a
expectativas trágicas por ter desobedecido, desagradado, revelado
uma vontade, ou mesmo recusado algo.

Exemplo: “só posso sair de casa quando casar”, “mulher não sabe
dirigir”, “tenho que me formar até os 25 anos”...

CONFLUÊNCIA

A confluência se refere a um tipo de interação em que o indivíduo não


reconhece a barreira que há entre ele e o seu meio. Ele aliena o seu
desejo em função de um padrão externo. Em estado patológico de
confluência, a pessoa não consegue fazer contato consigo mesmo.

A pessoa se liga fortemente aos outros sem diferenciar o que é seu


do que é deles; aceita ser diferente para sentir-se semelhante aos
demais e, embora com sofrimento, obedece a valores e atitudes
da sociedade e dos pais; gosta de agradar aos outros, mesmo não
tendo sido solicitada e, por temer o isolamento, aprecia estar em
grupo, agarrando-se firmemente aos outros. O confluente não tem
contato com seu próprio desejo, se misturando com o desejo do
outro e vivendo em função dele.

Exemplo: pessoas que estão em um relacionamento amoroso e se


perdem, não entram em contato com seu próprio desejo e fazem
tudo pelo parceiro, vivendo em função dele, sem questionamentos.

EGOTISMO

Em tal mecanismo de defesa há uma terceirização do desejo, isto


é, o egotista impõe de antemão as suas necessidades e desejos

33
em relação às outras pessoas. O egotista impõe de tal forma sua
vontade, que negligencia a atenção ao seu meio; tem dificuldade
para dar e receber.

A autoconsciência exagerada impede o envolvimento com o outro e


que ele se entregue no contato sem medo de perder seus próprios
limites. A fronteira que separa o eu, do meio está rigidamente
definida a ponto de impedir a percepção de aspectos da realidade
externa. O egotista, ao O egotista, ao prestar muita atenção a si
mesmo e às suas próprias necessidades, não enxerga ou nega a
demanda do meio O egotista não lida bem com frustrações, pois
tem como característica comportamentos obsoletos e sem novas
reações, sem levar em conta e enxergar a situação do momento.

Exemplo: pessoas que impõe seu desejo ao outro, seja diretamente


ou indiretamente, por meio de manipulações, jogos ou até mesmo
drama, sem enxergar também o outro lado.

RETROFLEXÃO

A retroflexão tem seu significado literal como: voltar-se


rispidamente contra si mesmo. O retroflexor faz consigo o que
gostaria de fazer, inconscientemente, com o outro. Está fixado no
meio de si próprio, não consegue expressar sentimentos como raiva
para o ambiente, voltando-se para si em forma de somatização e
autopunição. O retroflexor se coloca no lugar do meio como alvo do
seu comportamento, não dirigindo suas energias para fora.

Exemplos: Coceiras, tosse, dor de garganta, herpes e roer as


unhas.

DEFLEXÃO

A deflexão é uma manobra para evitar o contato direto, seja com


outra pessoa ou situação. É uma forma de esfriar o contato com
o meio, com a intenção de evitar possíveis danos. A pessoa que
deflete age como se tivesse uma armadura invisível, vendo as coisas

34
de forma rasa, o que pode gerar a sensação de estar perdida (sem
contato com seu próprio desejo), além de confusa e deslocada.

Exemplo: pessoas que tendem a falar em rodeios ou


excessivamente, desviam o olhar de quem fala, ri de seus
problemas e bloqueios, fala do passado ao invés do presente e
exprimi emoções brandas, mesmo quando são intensas.

DESSENSIBILIZAÇÃO

Este mecanismo se refere ao entorpecimento do indivíduo, ele se


apresenta frio diante de um contato; apresenta dificuldade para
se estimular; sente diminuição da sensopercepção e há perda de
interesse por sensações novas e mais intensas. É uma ausência
constante da definição dos sentimentos, no qual a pessoa não
percebe os acontecimentos em sua volta, os sinais emitidos pelo
corpo e embotamento afetivo. Assim, nesse bloqueio do contato, o
organismo está inerte ao mundo que lhe rodeia, há uma restrição da
fronteira de contato.

Exemplo: pessoas que geralmente já passaram por situações


traumáticas, ou bem difíceis de serem elaboradas e, assim, se
mantêm frias e distantes, evitando contato com o meio para se
prevenir de forma inconsciente e equivocada, de um possível tipo
de sofrimento ou dor.

PROJEÇÃO

A projeção é um exemplo de resistência do inconsciente, de não


querer ver algo em mim, é uma alienação de si mesmo, a pessoa não
reconhece em si determinadas características e, ao invés disso, às
atribui a outra(s) pessoa(s). Ela visualiza no mundo exterior aquelas
partes de sua própria personalidade com as quais se recusa a se
identificar, e reage com a rejeição a elas, mas é afetada quando
aparece no outro.

Exemplo: quem faz uso desse ajustamento geralmente é uma

35
pessoa que não pode aceitar seus sentimentos e ações, porque
não deveria sentir ou agir de determinada maneira, entendendo o
sentimento ou ação como desagradável.

Uma forma de identificar a projeção é através da irritação. Se algo


está irritando a pessoa, ela pode estar projetando algo de si no
outro.

PROFLEXÃO

A proflexão é uma combinação dos mecanismos de projeção e


retroflexão. Consiste em fazer ao outro aquilo que gostaríamos que
o outro nos fizesse. É uma mensagem indireta e com a intenção
inconsciente de que ele faça comigo o que eu faço com ele. A ação
do proflector é uma substituição do ao de fazer alguma coisa a si
próprio, atribuindo ao outro que o faça. Neste caso ele está negando
sua independência, sua capacidade de fazer e se satisfazer sozinho.

Ele está fora do contato com fontes de auto suporte que existem
dentro de si mesmo e com as várias opções que estão a seu dispor,
assim ele não vê alternativas em manipular e fazer manobras para
conseguir tocar o outro, ser reconhecido por ele e conseguir o que
deseja. É como se amasse para ser amado. Se adulasse para ser
adulado.

Exemplo: pessoas que fazem muito pelos outros e têm sempre


sentimentos de ingratidão.

NEGAÇÃO

Na negação há também uma alienação de si mesmo. É uma


incapacidade de contato consigo mesmo e nos serve para evitar a dor
e o sofrimento da frustração. O indivíduo nega suas características,
desejos ou emoções para ser mais aceito e querido pelas pessoas e
por ele mesmo.

Exemplo: esse mecanismo pode ser visto quando há relutância

36
em negar alguma característica: “eu não sou assim”. Essa
característica ou sentimento diz sobre algo que envolve dor e
que não aceitamos ou reconhecemos em nós mesmos, por isso, a
tendência é negarmos.

RACIONALIZAÇÃO

A racionalização é um mecanismo de defesa utilizado nos


momentos em que a pessoa tem dificuldade em aceitar, ou não
quer que determinada situação ou ação ocorra e como justificativa
utiliza explicações lógicas. A racionalização está relacionada com a
necessidade de explicar o que acontece e manter a coerência entre
ações e pensamentos. É uma explicação da negação, que confirma
a neurose.

Exemplo: “eu odeio meu trabalho, mas eu não saio porque o


mercado está em crise.”
“Meu namoro não está legal, mas eu não termino porque ele ou ela
vai sofrer muito.

FIXAÇÃO

A fixação diz respeito a um apego a uma pessoa ou situação. O seu


oposto diz da evitarão do contato com novas situações que estão
fora da fronteira de contato. Nessas circunstâncias não é fácil
saber o que vem primeiro, se o medo do contato com o novo ou o
ato de agarrar-se a situações familiares. A pessoa não parte para
o novo, não muda, não se move em direção a próxima figura, mas
permanece com o antigo e familiar. Sendo assim, na fixação falta o
movimento de exploração curiosa, necessário à criação de figuras
vivas e interessantes.

Exemplo: pessoas que estão fixadas em determinada relação ou


situação, querendo entender cada vez mais e mais, mas no fundo
com a dificuldade de se livrar daquela situação e fechar um ciclo.

37
21- MUDANÇA
Perls não possui em sua teoria um conceito claro de mudança na
Gestalt-terapia, mas ela fica implícita em seu trabalho e pode ser
explicada pela Teoria Paradoxal da Mudança, escrita por Arnold
Beisser, em 1970. Essa teoria diz que a mudança não ocorre quando
o indivíduo tenta de forma opressiva ser o que não é, e nem quando
o outro tenta mudá-lo, mas sim quando o indivíduo se esforça para
ser o que realmente é.

O indivíduo está em um contínuo processo de movimento e


crescimento. O tempo todo ele é chamado a se reinventar e lidar
com o novo, assim, torna-se imprescindível aprender a adaptar à
essas mudanças e ser e se apropriar de quem realmente é. Isso é
essencial para um bem estar e uma boa vida, pois torna possível o
ajustamento criativo no meio.

Na maioria das vezes, o conflito que o cliente traz para a terapia é


interno e está presente na dinâmica das polaridades dominador/
dominado, ou seja, entre o que ele “acha que deveria ser” e o que
“pensa que é”. Esses “deverias” são impostos pela sociedade,
família e seu meio. A identificação desse conflito e a integração
dessas polaridades são capazes de levar o indivíduo à mudança.
Fazemos isso encorajando o cliente a entrar em contato com essas
partes alienadas, entendendo quem são e para que e quem elas
servem. As partes alienadas que aparecem nos indivíduos muitas
vezes assumem papéis diferentes e só quando são identificadas e
integradas plenamente, que a mudança ocorre. Quando o cliente se
identifica com os fragmentos alienados, ocorre uma integração. E
assim, sendo aquilo que é – plenamente – a pessoa pode se tornar
uma outra pessoa.

Em relação ao trabalho do Gestalt terapeuta na clínica, a intenção


não é mudar o cliente, pois assim estaria tirando a responsabilidade
dele pela sua vida. O objetivo é ajudá-lo a expandir sua consciência
sobre sua própria vida e encorajá-lo a aceitar e integrar partes

38
alienadas. A mudança é vista, então, como consequência do
processo.

O Gestalt terapeuta não assume o papel de agente transformador,


que visa mudar o outro através de interpretação ou persuasão.
Muito pelo contrário, a mudança só pode acontecer quando o cliente
abandona seu papel do que deveria ser, do que tem que ser, para
torna-se quem ele é. Quando o cliente se conhece e conhece seu
modo de ser, a mudança ocorre espontaneamente.

Então, para que o cliente possa se conhecer, ele precisa estar em


contato e perceber melhor o que está à volta dele, com o meio que
o cerca, em todos os momentos. Isso significa estar em estado de
awareness, constantemente em contato com as suas necessidades
e seus desejos. É estar no aqui e agora, presente e integrando suas
emoções e sensações. Quando isso acontece, a pessoa tem mais
capacidade de funcionar melhor, de forma mais saudável, no meio.

Quando o cliente entra em contato com suas necessidades,


se tornar consciente de si, e de seu meio, desenvolve seu
autossuporte, reconhece seus conflitos e integra suas polaridades,
ele pode decidir se quer mudar ou permanecer o mesmo, mas se
todos estes processos acontecerem com este indivíduo, ele já
mudou; não sabemos se mudou para aquilo que queria mudar, mas
com certeza está experienciando de forma mais plena o que ele é
verdadeiramente e essa é a verdadeira mudança.

Um exemplo clínico é de um cliente que estava tendo problemas


no relacionamento com seu chefe, pois este estava demandando
muitas apresentações e o expondo em reuniões com a equipe.
Este cliente era muito racional, sério e gostava de “manter a
pose”, como ele mesmo dizia. Porém tal “pose” não estava se
sustentando mais, pois nas reuniões ele gaguejava e suava muito
fazendo com que todos percebessem. Ao longo do processo
terapêutico este cliente entrou em contato com partes dele que
eram: frágil, inseguro e sensível. Todas estas partes estavam
alienadas e o cliente as negava, por julgá-las como erradas. No

39
entanto, foi apenas quando ele as aceitou e integrou-as como
parte de sua personalidade, que ele pode mudar. Ele conseguiu
acolher estas partes e só assim a mudança foi possível: ele se
encorajou se sentindo mais seguro e confiante.

22- NECESSIDADES/
DESEJOS
As necessidades e desejos se referem àquilo que o seu organismo
pede, naquele momento, para retomar ao seu equilíbrio
homeostático. As necessidades podem ser básicas: fome, sede,
sexo, sono etc. Na perspectiva da psicoterapia, dentro do conceito
de necessidades, está também o conceito de desejo, pois o ser
humano é mais complexo que apenas necessidades básicas.

O desejo, então, vai além das necessidades fisiológicas e se refere


ao que uma pessoa quer: afeto, atenção, carinho, reconhecimento,
formar, casar, ter um trabalho, mudar etc.

Dar-se conta de suas necessidades e desejos é um processo


importante em terapia. Isso significa se dar conta de todas as
necessidades sejam elas físicas, biológicas ou emocionais. Saber
quando eu tenho fome, quando sinto sede, quando tenho algum
desconforto físico, quando estou carente, quando sinto medo,
inveja, quando estou inseguro, quando sinto raiva, quando quero
amar, beijar... enfim, todas as sensações. Isso é importante porque
é comum encontrarmos clientes que não acessam as suas reais
necessidades e desejos.

Alguns desejos são alienados e negados porque sentimos vergonha,


medo de ser rejeitado por desejar aquilo, ou até mesmo porque não
sabemos dar o nome a eles. Então faz parte do processo terapêutico
o reconhecimento de suas necessidades e desejos. Sem o claro
reconhecimento dos desejos e necessidades não é possível se

40
mobilizar para satisfazê-los e a Gestalt se mantém aberta enviando
tensão para o corpo.

23- NEUROSE
A Gestalt-terapia é considerada como a terapia do contato. A
experiência humana se dá na fronteira de contato entre o organismo
e o ambiente. Acredita-se que estamos sempre em contato com
o meio e é por meio deste contato que o funcionamento humano
pode tornar-se saudável ou disfuncional. Para a Gestalt-terapia
uma relação de conflito existente entre o organismo e seu meio que
inicialmente vai determinar a neurose, embora aconteça depois um
processo de internalização desse conflito.

Neurose é uma tentativa de evitar o conflito entre organismo e


meio (que já aconteceu ou teme que aconteça) e reestabelecer seu
equilíbrio nesta relação. No entanto, essa estratégia de sobrevivência
e de autorregulacão, tem como consequência a alienação daquelas
partes da personalidade que produzem o desequilíbrio do campo
organismo/meio, resultando na criação de conflitos internos, que é
a base do processo de formação das neuroses.

Pode-se então dizer que neurose é o resultado de processos


inconscientes, repetitivos e obsoletos de interrupção do contato,
gerando uma distorção na percepção da realidade, dificultando a
recuperação do equilíbrio no campo organismo/meio.

No processo de interrupção de contato do organismo com o


meio, aquilo que deveria ser rejeitado ou transformado é aceito
passivamente, tendo como consequência a divisão do self, que faz
com que algumas partes fiquem alienadas. Mas é importante dizer
que a interrupção do contato e a aceitação passiva do que deveria
ser rejeitado, é uma forma de defesa do self, no sentido de tentar
resolver um impasse existencial que a pessoa se encontra quando
está diante de uma situação que é ao mesmo tempo intolerável e

41
inevitável. Se torna neurótico na medida que esse comportamento
se torna repetitivo e padronizado, mesmo quando não mais
necessário. Dizemos que, diante de situações intoleráveis, as quais
não podem ser evitadas nem transformadas, o organismo prioriza
a necessidade de sobrevivência em detrimento de seu prazer e de
seu crescimento harmonioso, produzindo as neuroses.

Na neurose o que é essencialmente próprio da pessoa é alienado e


colocado para fora das fronteiras, enquanto o que é essencialmente
próprio do outro é identificado e colocado para dentro das fronteiras,
trazendo uma diminuição de contato com o meio e consigo mesmo.
Isso torna o neurótico confuso e inseguro sem poder mais identificar
com clareza suas próprias necessidades. Ele deixa de se ajustar
criativamente no meio e agir de forma espontânea, estando sempre
controlando a si mesmo para não cometer erros ou desagradar o
outro. Sua awareness de contato com sua experiência no aqui e
agora está constantemente sendo bloqueada.

A neurose, para Gestalt-terapia, se caracteriza por uma estrutura


fragilizada e dividida em duas partes que lutam constantemente uma
contra a outra, por exemplo, uma parte que diz a pessoa: “não devo
sentir raiva”. Esse introjeto se formou a partir do medo da criança
de ser punida ou abandonada, pois em seu meio a raiva era vista
como ruim e quando foi expressada a consequência foi punição e
abandono pelo meio. No entanto, para garantir que isso não mais
aconteça, tal parte introjetada se torna a parte mais forte, enquanto
a parte verdadeira ou não introjetada, que seria a dominada, fala:
“sinto raiva”. Esta parte torna-se mais fraca, submetendo-se às
imposições da parte introjetada, tornando-se alienada. A pessoa
aliena a raiva como forma de garantia do amor e não abandono dos
pais, se tornando uma pessoa neurótica.

Em relação a prática terapêutica, geralmente quem chega ao


consultório são pessoas neuróticas, que estão com Gestalten
abertas e repetindo comportamentos e padrões em sua vida e em
suas relações. O objetivo é fazer a redução fenomenológica das
vivências e entender onde está a base da formação da neurose

42
da pessoa, ou seja, o que e como ela introjetou certos conceitos e
padrões, e o que ela alienou de sua personalidade. Tudo isso para
integrar todas essas partes.

Para o exemplo clínico, utilizaremos o mesmo exemplo utilizado


acima. Uma cliente que tinha muita dificuldade de expressar raiva,
ela chega ao consultório com muitas introjeções e relatando estar
com muitas coceiras e vermelhidão pelo corpo, o que indicava
claramente uma retroflexão. Ao fazer a redução fenomenológica
entendemos que ela estava com raiva de sua mãe, mas não
conseguia expor e nem expressar tal sentimento, porque o meio
que ela viveu rejeita este sentimento, dizendo que é errado e
exclui quem o expressa. Por isso, a cliente entende que essa
necessidade é “errada” e como tentativa de evitar o conflito com
as pessoas da sua convivência, ela aliena essa sua necessidade
e sentimento, resultando nesses conflitos internos e gerando as
neuroses.

24- REDUÇÃO
FENOMENOLÓGICA
A redução fenomenológica consiste numa suspensão momentânea
da “atitude natural” com a qual nós nos relacionamos com as coisas
do mundo. Isso significa deixar de lado todos os preconceitos,
teorias e definições que nós utilizamos para conferir sentido às
coisas. Fazemos isso para compreender as coisas como elas são
em si mesmas.

Em síntese, a redução fenomenológica requer a suspensão das


atitudes, crenças, teorias, e colocar em suspenso o conhecimento
das coisas do mundo exterior a fim de concentrar-se na pessoa
exclusivamente e na experiência em foco, porque esta é a realidade
para ela.

43
Por isso, utilizamos desse método o tempo todo no consultório. É
a forma que conseguimos captar o sentido da experiência para o
próprio cliente. Quando o cliente diz que está angustiado é preciso
entender, de antemão, o que é angústia para ele. É preciso, de modo
geral, saber como cliente sentiu e internalizou cada experiência.

Então na psicoterapia, a redução fenomenológica se desenvolve a


partir da necessidade de se compreender a realidade existencial
vivida do cliente. Quando um cliente fala ao psicoterapeuta de suas
crenças, que podem não ser as mesmas do profissional, não cabe ao
psicoterapeuta julgá-las, mas pôr entre parênteses suas próprias
crenças e valores para poder penetrar no mundo existencial do
paciente.

Pôr em prática a redução fenomenológica na experiência de


ser empático no contexto clínico exige, de antemão, que o
psicoterapeuta tenha certo nível de contato consigo mesmo, que
tenha um funcionamento congruente, que tenha autoconhecimento
suficiente sobre seu jeito de funcionar no mundo, com seus limites
e potencialidades, para que elas não interfiram no mundo do cliente.

Um exemplo clínico, foi um cliente que chegou no consultório


com a queixa de procrastinar muito e ter muita dificuldade para
resolver pendências e seguir com seus compromissos, como pagar
contas, ser pontual com os trabalhos e com sua rotina social. No
primeiro momento, disse que uma agenda poderia resolver o seu
problema. No processo de redução fenomenológica não vamos
focar em resolver o “problema”, mas em entender e investigar
todo o seu histórico.

A postura é sempre de curiosidade com a situação problema que o


cliente trouxer. Investigando a forma desse cliente de se relacionar
com os seus compromissos, a sua história de vida e relação com
os pais, sem nenhuma interpretação prévia, chegamos ao seguinte
sentido dessa experiência: o cliente tinha dificuldade de crescer e
assumir compromissos da vida “adulta”. Isso relacionado ao medo
de perder o apoio dos pais. A sua dificuldade de cumprir com

44
seus compromissos e a procrastinação estava relacionada a sua
dificuldade em se tornar adulto.

Só podemos acessar isso no processo de redução fenomenológica.

25- RELAÇÃO
TERAPÊUTICA
A relação terapêutica entre cliente e terapeuta é um dos aspectos
mais importantes do processo psicoterapêutico e a Gestalt-terapia
utiliza a postura dialógica, da filosofia de Martin Buber, priorizando a
relação Eu-tu e o humano que há no outro. A relação Eu-Tu consiste
em estar plenamente presente, e de forma viva, com poucas
finalidades ou objetivos direcionados para si.

Assim, o objetivo da terapia gestáltica é uma experiência mútua,


de estar em relação com a pessoa. É uma experiência de encontro
genuíno, onde o cliente é visto pelo terapeuta como ele é, com toda
sua vulnerabilidade, com suas forças e fraquezas. Isto permite que
ele próprio se reconheça sendo quem é.

A palavra terapia se refere a cuidado e terapeuta é aquele que


presta cuidados. Terapia e cura não estão diretamente ligadas a
doença, mas sim a um serviço. O terapeuta não é aquele que tem
poder sobre o outro, mas aquele que está em poder do outro, ou
seja, é o seu servidor. O terapeuta gestáltico não é visto como
onipotente, ele acompanha o processo do seu cliente, que é o único
responsável por ele mesmo, por suas escolhas e todo seu processo
de amadurecimento.

O Gestalt terapeuta não está isolado em seu domínio e nem em


uma empatia otimista independente do que o cliente faça ou fale.
Ele acompanha o processo do cliente que se dispõe a se conhecer

45
numa relação dual denominada de Simpatia, em contraposição a
empatia de Carls Rogers e a Apatia da Psicanálise. A empatia vem da
abordagem não diretiva de Carls Rogers e se refere a uma aceitação
incondicional no processo terapêutico, que é centrado no cliente. A
psicanálise, propõe uma neutralidade em que o terapeuta se mantém
distante emocionalmente do cliente para provocar processos de
transferência. Esse processo é denominado de apatia.

A Gestalt-terapia buscar estimular o que foi denominado por


simpatia, onde o Gestalt terapeuta está presente de forma ativa
como pessoa, numa relação Eu/Tu com o cliente. Nesse processo
ele explora sua própria contratransferência como parte do processo
terapêutico.

E para que o processo terapêutico funcione o primeiro passo é criar


uma relação de autenticidade e confiança com o cliente. Só assim,
ele conseguirá acessar suas dores e questões profundas que estão
alienadas. O papel do Gestalt terapeuta é permitir e favorecer. Ele
é um catalista: toda transformação que acontece está ligada às
interferências das duas partes.

E a Gestalt-terapia considera a própria relação como sua maior


técnica e sua principal ferramenta de trabalho, a qual denomina
relação dialógica, sendo ambos afetados um pelo outro, promovendo
transformação e crescimento. A boa relação terapêutica é um forte
indicativo de sucesso no tratamento, sendo o fator mais importante
do que a abordagem ou as técnicas utilizadas pelo terapeuta.

Portanto, faz-se necessário algumas características próprias do


terapeuta, como empatia, curiosidade, não julgamento, criatividade,
capacidade de prestar atenção no outro, e estar aberto e disponível
para conhecer, estar pronto para o inesperado e vivenciar o processo
com o outro.

Um exemplo clínico da consequência de uma relação terapêutica


não realizada, foi de um cliente que entrou em terapia e dizia
que trazia uma questão que ele queria trabalhar, mas que era um

46
segredo que ele não conseguia falar para a terapeuta sobre. Como
a relação terapêutica não estava bem estruturada, a terapeuta
ao questionar demais sobre o que de fato era este tema, acabou
pressionando o cliente e este se sentiu desconfortável e ainda
mais resistente para se abrir para o processo. Este foi um exemplo
da consequência negativa que teve a não criação de uma boa
relação terapêutica.

26- RESPONSABILIDADE
Para a Gestalt-terapia, o indivíduo é um ser livre e responsável por
construir sua própria história. Nós estamos em constante mudança
e movimento.

Uma pessoa se desenvolve e cresce através da liberdade de escolha


e há sempre uma margem de liberdade que lhe permite escolher, o
que fazer e qual decisão tomar.

Junto com a liberdade de escolha vem a responsabilidade. Somos


responsáveis por aquilo que escolhemos, por nossas vivências
e sentimentos. Ser responsável é assumir as consequências, do
sucesso o do fracasso, e os riscos de todas as escolhas que fizer na
vida.
Em processo terapêutico, procuramos responsabilizar o cliente
por sua vida, sem deixar que ele culpe outras pessoas e situações
pelas coisas que ocorrem em sua vida. A culpa aprisiona e a
responsabilidade liberta.

A liberdade exige responsabilidade, pois o homem escolherá


constantemente sua essência. Ao escolher o que escolhemos, é
preciso ter consciência do que estamos fazendo e assumir inteira
responsabilidade por isso.

É importante ter crítica e ampliar a consciência sobre aquilo


que nos aconteceu e sobre as condições do meio que estamos

47
inseridos. No entanto, o que fazer a partir disso é sempre escolha e
responsabilidade de cada um.

A responsabilidade é acompanhada da maturidade. É papel


do Gestalt terapeuta desenvolver a maturidade do cliente.
Responsabilizando-o pelas suas questões, seus sentimentos, sua
vida e ampliando a sua consciência sobre si mesmo. Pois assim, ele
pode fazer escolhas mais assertivas e viver de forma mais saudável
e adaptativa, mesmo quando o meio não é propício para a satisfação
de suas necessidades.

Um cliente que se tornou uma pessoa insegura ao crescer em um


ambiente hostil, ao tomar consciência disso, se torna responsável
pelo seu processo de autoconfiança. Ao se responsabilizar por sua
vida, uma pessoa se torna capaz de mudar e escolher o seu destino

27- SAÚDE
Para a Gestalt-terapia, saúde é dada pela capacidade do sujeito de
satisfazer suas necessidades no meio. É o ajustamento criativo
utilizando a potencialidade máxima do sujeito inserido no meio.
O organismo saudável é aquele que se autorregula e se ajusta
criativamente no seu campo, no processo de criação e destruição
de figuras sem interrupção do ciclo.

Perls, criador da Gestalt-terapia, considera que o ser humano provém


de um impulso natural que vai em direção ao equilíbrio, ou seja, o
organismo é capaz de se equilibrar de acordo com suas necessidades
e com as demandas do meio. Ele acredita que toda pessoa possui
uma tendência inerente para organizar suas experiências em um
todo, através de processos constantes de formação e destruição
de figuras, pelas quais se dá a autorregulação do organismo ou
seu ajustamento criativo no meio. O processo de autorregulação,
então, acontece em um ciclo que é espontâneo. Nesse ciclo uma
figura dominante emerge de um fundo (que é uma necessidade ou

48
desejo do organismo) trazendo uma tensão. Essa tensão faz com
que o organismo se excite e mobilize energia, concentrando toda
atenção sobre ela até a sua satisfação ou fechamento. A satisfação
dessa necessidade acontece através de uma ação e de um contato
com o meio e, assim, o desejo é resolvido, entramos em equilíbrio
energético e a figura desaparece gradualmente no fundo, de onde
emerge uma nova.

Para a Gestalt-terapia, esse fluxo natural de autorregulacão, ou esse


processo de formação e destruição de figuras não interrompido
é o estado saudável de todo organismo. A expressão natural da
vitalidade e do funcionamento saudável é o impulso para atualização
do self ou para a completa realização de suas necessidades, que
requer, inevitavelmente, um contato satisfatório, sem interrupções,
com o meio e consigo mesmo.

Na prática clínica, o objetivo da Gestalt-terapia é proporcionar que


o cliente se torne cada vez mais saudável através do processo de
ampliação de consciência. O intuito é que o cliente se torne uma
pessoa integrada. Para isso é necessário que haja percepção clara
do desejo, de suas capacidades e potencialidades, do que possui
para satisfazer tal desejo e por último a percepção clara do que o
meio está oferecendo para realização do desejo.

Por exemplo, um cliente que estava passando por inúmeras


crises de ansiedade, chega ao consultório queixando estar
muito insatisfeito com sua vida no geral, mas sem conseguir
explicitar um motivo aparente para o sintoma estar aparecendo.
Ao investigar sua vida e suas vivências, pôde-se perceber que ele
estava extremamente infeliz em seu trabalho e que seu desejo
era sair de lá, porém era um trabalho bem remunerado onde ele
não tinha enormes conflitos, por isso a dificuldade de enxergar
sua insatisfação. Quando ele se dá conta disto e de seu desejo, ele
busca formas de satisfazê-lo e ir de encontro à sua saúde neste
aspecto, para assim outra figura emergir.

49
28- SINTOMA
O sintoma é uma tentativa de adaptação do organismo. É uma
resposta do organismo, sem sucesso, buscando equilibrar-se
entre as demandas do meio e as necessidades prioritárias para o
funcionamento do organismo.

Nesse sentido, o sintoma é também um indício de fracasso da


resolução plena da situação. O corpo faz uma redução de danos, isto
é, tenta algo que não vai resolver ao máximo, mas reduz a quantidade
de danos que ela vai gerar. Todo sintoma tem um sentido e buscar
o sentido faz com que nos apropriemos dessa situação e tende a
fazer com que o sintoma desapareça.

Ou seja, o sintoma é uma alerta, funciona como um mensageiro; um


sinal que o organismo está desajustado e pedindo o seu equilíbrio.
Apenas eliminá-lo ou rotulá-lo com algum diagnóstico, sem
entender o seu sentido, é calar o mensageiro organísmico e tirar a
oportunidade de crescimento do cliente.

Em nosso consultório, surgem muitos casos com a queixa de


depressão. Em um desses casos, ao observar o campo como
um todo do cliente, investigar o fundo e o que havia por trás dos
sintomas da depressão, notamos uma vida cheia de escolhas
erradas e frustrações: um casamento infeliz, um emprego ruim, um
relacionamento difícil com os filhos. Ele se encontrava sem energia
nenhuma para resolver tantos conflitos e frustrações da vida. A
falta de energia é uma tentativa de ajustamento do organismo para
que o cliente pare de fazer escolhas erradas e se afunde cada vez
mais. No entanto, não era adaptativo e nem funcional para o seu
momento.

Tomar consciência das escolhas erradas, do seu sentido de vida,


necessidades, desejos e fazer uma boa leitura de campo, lhe deu
possibilidade de fazer escolhas mais assertivas e adaptativas e se
abrir para novas oportunidades que lhe trouxessem mais prazer.

50
A ampliação de consciência, ao invés do rótulo e da medicação
que apenas eliminaria os sintomas, é o que dá a possibilidade da
mudança.

29- SONHOS
Para Perls, os sonhos são o caminho que conduz a integração de
nossas partes alienadas. Ele afirma que cada parte de um sonho é
uma projeção, isto é, cada fragmento do sonho, cada pessoa, coisa,
estado de espírito é uma porção de self alienado. Assim, partes
do nosso self encontram-se com outras. Há um encontro entre o
Dominador e o Dominado.

Nos sonhos, pode-se analisar também o tipo de contato que a


pessoa estabelece com os outros, as suas angustias e seus temores.
Em alguns momentos, o foco não é no conteúdo do sonho, mas nas
emoções que ele desperta para a pessoa que sonha. Em caso de
sonhos muito extensos, deve-se escolher apenas uma parte a ser
trabalhada em terapia.

Existem algumas técnicas que facilitam o processo de análise


de sonhos, dentre elas: a técnica do ir e vir; ir de um elemento a
outro no sonho; técnica da projeção-identificação; técnica de
seguir cada nova imagem que vai surgindo ao sonhador e a técnica
da representação coletiva do sonho. Algumas características
importantes e curiosas sobre os sonhos são: sempre nos lembramos
melhor do sonho quando ainda estamos meio dormindo; o significado
do sonho está em função das características daquele que sonha,
sua experiência e situação atual de vida; todas as pessoas sonham
em média de quatro a cinco vezes por noite; os sonhos não dizem
algo agradável sobre nós, por isso, tendemos a esquecer; sonhos
repetitivos demonstram Gestalten abertas; pesadelos costumam
aparecer em momentos de crise; sonhos são mensagens mais
aceitáveis do que se o conteúdo fosse explícito e direto.

51
Um exemplo clínico de um sonho, foi de uma cliente que trouxe
o seguinte sonho para a terapia: estava em um sítio com várias
pessoas que ela não reconhecia muito bem e com um casal de
amigos próximos, quando anoitecia no sítio e todos iam dormir,
ela e o marido da amiga ficavam juntos em uma relação amorosa.

Ela relatava no sonho adorar esta adrenalina, mas que quando


acordava ficava se sentindo muito culpada. Para contextualizar, a
cliente era cristã com várias introjeções religiosas, muito puritana,
boazinha e meiga. Ao analisar o sonho se colocar em seu lugar ela
percebeu algumas partes alienadas, como manipuladora e aquela
que tem desejo sexual. Todas estas partes, por toda sua história e
introjeção da igreja, não podiam aparecer, por isso ela acordava se
sentindo culpada. Quando a cliente se colocou no lugar da amiga
(no movimento de investigação do sonho), entendendo que papel
a amiga fazia no sonho, ela entrou em contato com a “enganada”
e “trouxa”, outras partes alienadas que ela também possuía. De
acordo com sua elaboração ela fazia estes papéis perante a igreja.

30- TRANSFERÊNCIA
Todo processo de psicoterapia é um encontro e dizemos que a
aptidão para psicoterapia se soma à aptidão para o encontro, ou
seja, não há psicoterapia sem encontro, não há psicoterapia sem
relação terapêutica.

Esse encontro de terapeuta e cliente não tem a intenção de modificar


as coisas ou situações externas, mas sim, de alterar a percepção
interna que o cliente tem sobre as suas experiências. O processo
terapêutico favorece a reelaboração e reflexão sobre os eventos da
vida de uma pessoa. E nesse processo de reelaboração o cliente
traz de sua história e enxerga os fatos a partir do que vivenciou.

A Gestalt-terapia entende a transferência como a forma de


percepção e de se relacionar do cliente com o mundo. O cliente tem

52
as suas Gestalten abertas e o acúmulo dessas Gestalten abertas,
geram a neurose, que é exatamente o modo repetitivo, padronizado
de comportamentos, pensamentos e ações dele no mundo. Assim,
o cliente vai enxergar o mundo e se relacionar com o seu terapeuta
a partir desse conjunto de percepções enrijecidas. Em suma,
dizemos que o cliente percebe o terapeuta com as mesmas lentes
deformadoras e restritivas através das quais se utilizava enquanto
criança.

Então a transferência deve ser compreendida em ternos de


percepção e de modo de se relacionar com o mundo no presente.
Por isso, o trabalho psicoterapêutico não é apenas o de atualizar as
lembranças enterradas, mas também de observar as circunstâncias
e as distorções dessas lembranças no momento presente. Ou seja, o
objetivo é observar como o cliente ainda enxerga o presente a partir
de uma lente de percepção do passado e como ele se relaciona,
inclusive com o terapeuta, a partir dessa lente arcaica. Isso é o que
a Gestalt-terapia entende por transferência do cliente.

O Gestalt terapeuta busca lidar com essas transferências de forma


mais ativa, com meios mais diretos e menos alienantes para o
cliente (como é o caso da psicanálise). A intenção não é instaurar
uma neurose de transferência para que ressurjam comportamentos
infantis, mas sim, tornar consciente para o cliente esses
comportamentos.

Vamos pensar em um exemplo: uma cliente que começa a colocar


o terapeuta no lugar da sua mãe. Na terapia essa cliente busca
sempre acolhimento, admiração, reconhecimento e não se
responsabiliza pelas suas escolhas. Percebemos que ela busca
isso na terapia, justamente porque é a forma que ela aprendeu a
se relacionar com a sua mãe e é o que lhe impede do seu processo
de amadurecimento e crescimento. Sair desse papel e apontar
esse lugar para a cliente pode lhe render insights capazes de lhe
permitir sair desse lugar. A alternância de atitudes terapêuticas
de apoio compreensivo e de frustração oportuna favorece pouco
a pouco a autonomia do cliente.

53
Referências bibliográficas

FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Gestalt-terapia: conceitos


fundamentais. Vol. 01 São Paulo: Summus 2013.

FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Gestalt-terapia: conceitos


fundamentais. Vol. 02 São Paulo: Summus 2014.

FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Gestalt-terapia: conceitos


fundamentais. Vol. 03 São Paulo: Summus 2015.

FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Gestalt-terapia: conceitos


fundamentais. Vol. 04 São Paulo: Summus 2016.

GINGER, S.; GINGER, A. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo:


Summus, 1995.

PERLS, F. S. Ego, fome e agressão. São paulo: Summus, 2002.

STEVENS, J. Tornar-se presente. São Paulo: Summus, 1971.

PERLS, F. S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São


Paulo: Summus, 1997.

PERLS, F. S. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977.


YONTEF, G. M. Pocesso, diálogo e awareness. São Paulo: Summus,
1998.

ESTE TRABALHO FOI ESCRITO A PARTIR DESTAS REFERÊNCIAS


BIBLIOGRÁFICAS E NOSSA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL.

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Um abraço!

Helena e Isadora.

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