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Escola Superior de Gestão, Ciências e Tecnologia

Curso de Psicologia
Psicoterapias Sistemáticas e Humanista
Tema: Reflexão Sobre Como Ser Psicoterapeuta

Discente: Maideen Sulemane


Docente:
Dr. Hachimo Chagane

Maputo, dezembro de 2021


PORPOSTA DE REFLEXÃO SOBRE COMO SER PSICOTERAPEUTA

Ser psicoterapeuta é uma das mais belas e desafiadoras profissões existentes. Não são tantas as
carreiras que exigem tanto cuidado, responsabilidade, preparação “interior”, uma boa dose de
vivências e experiências DE VIDA.

Ao escolhermos a profissão de psicoterapeutas, estamos optando por entrar em contacto com


outras pessoas de maneira intensa, íntima, complexa. Estamos nos permitindo tocar outros e
sermos tocados o tempo inteiro. Estamos dispostos a sermos afectados de todas as maneiras
possíveis. Estamos dispostos a nos doarmos.

Não obstante, é por isso e muitos outros motivos que sentimos tamanha ansiedade e insegurança
na hora de actuarmos. Nossa profissão requer responsabilidade, uma postura cuidadosa.

É natural que estudantes e “aspirantes” a psicoterapeutas se perguntem “O que é necessário para


ser um bom psicoterapeuta?

O conselho para futuros terapeutas é: além de uma boa bagagem de terapia própria, além de uma
boa bagagem de teoria, uma curiosidade eternamente aberta, é preciso também uma grande
vontade de ver o outro mudar, uma grande solidariedade, uma capacidade de identificação
infinita, uma empatia sem fim e uma disposição mesmo de ser o outro por muitas horas.
(Mautner, 1985, p.34).

Assim, reflicta e comente as seguintes afirmações:

1. Como lidar com a frustração no processo de tornar-se terapeuta, tendo em vista a


mobilização ocorrida no processo de aprendizagem e reconhecimento de expectativas do
terapeuta ao deparar-se com a realidade, os imprevistos, as novidades e surpresas do
contexto do atendimento psicoterápico?

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2. Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana” (Carl Jung).

3. Uma peça-chave da formação de um psicoterapeuta é o tratamento ao qual ele mesmo se


submete” (CALLIGARIS, 2008, p.55). É importante que cada terapeuta tenha realizado a
sua própria terapia, pois: Não há melhor introdução à variedade do sofrimento humano do
que a descoberta de que, em algum canto de seus pensamentos, ele pode encontrar
palavras, lembranças, razões, visões e pensamentos parecidos com aqueles que afectam,
agitam ou mesmo enlouquecem seus pacientes (CALLIGARIS, 2008, p. 55-56).

4. Calligaris (2008) introduz uma ideia interessante, de que algumas “características” já


estejam integradas na própria pessoa, como ao afirmar que para ser um bom
psicoterapeuta, “é útil que a gente possua alguns traços de carácter ou de personalidade
que, dito aqui entre nós, dificilmente podem ser adquiridos no decorrer da formação:
melhor mesmo que eles estejam consigo desde o começo” (CALLIGARIS, 2008, p.3). Na
sua opinião o autor descreve algumas características importantes de um psicoterapeuta:

4.1. Gosto pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas.


4.2. Uma extrema curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo
possível de preconceito.
4.3. Certa quilometragem rodada.
4.4. Boa dose de sofrimento psíquico. (CALLIGARIS, 2008).

5. O estudante deve desenvolver “familiaridade e, talvez, muita estranheza, perante a si


mesmo: suas crenças, seus valores, seus afectos, suas emoções, suas concepções, seus
desejos, suas necessidades, seus pontos cegos e, até, suas dificuldades” (CARDELLA,
2002, p.95).

6. Cardella (2002) descreve três objectivos no trabalho de formação de psicoterapeutas:

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a) Desenvolvimento da auto-percepção do terapeuta. Sensibiliza-se o aluno para a
importância de um processo contínuo de autoconhecimento, tanto no que se refere
às suas habilidades como às dificuldades, enfatizando a singularidade de cada
terapeuta.
b) Desenvolvimento da habilidade de reverter sua percepção para a compreensão do
cliente, como ajudar o aluno a aceitar e lidar com os sentimentos que emergem na
relação com o cliente.
c) Desenvolvimento do raciocínio lógico. A partir da teoria e da experiência de si, do
contacto consigo mesmo. (CARDELLA, 2002, p.105 apud FRAZÃO s/d, p.5).

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Respostas

1. No meu ponto de vista uma das formas de lidar com a frustração no processo de
tornar-se psicoterapeuta, tendo em vista a mobilização ocorrida no processo de
aprendizagem e reconhecimento de expectativas do mesmo ao deparar-se com a
realidade, os imprevistos, as novidades e as surpresas do contexto do atendimento
psicoterapêutico são:
 Focar nos pontos positivos da situação;
 Evitar ao máximo pensar no que deu errado;
 Aceitar a realidade porque há coisas que não temos o poder de alterar pois não
dependem exclusivamente de nós próprios;
 Estabelecer objectivos focando-se no que são as suas prioridades e no que
precisa alcançar;
 Lembrar-se sempre dos seus propósitos.
 Investir no autoconhecimento, pois quanto mais temos conhecimento sobre as
nossas emoções, maior será a nossa capacidade de gerenciá-las de forma
inteligente;
 Encarrar a frustração como uma oportunidade de crescimento, de mudança ou
ate mesmo de encontrar novos propósitos.
 Em caso dessas frustrações estarem a ocupar grande parte da vida, causando
danos a saude mental e física, o mais correcto é a procura de ajuda de um
profissional, neste caso, um psicólogo.

Durante a experiencia do estágio nas primeiras semanas, tive a oportunidade de


passar por varias frustrações pois pude notar que no campo de trabalho, na pratica a
realidade é totalmente diferente de tudo aquilo que eu ouvia na sala de aulas. Como
por exemplo, durante muitas aulas em sala de aula tive o conhecimento de que não
podia tocar ou demonstrar algum carinho pelo cliente, mas la na pratica isso é
praticamente impossível, primeiro porque tem-se contacto com uma variedade de
pessoas com os mais diferenciados problemas que muitas das vezes se mostram
vulneráveis, e estão ali a procura de aceitação esperando alguma demonstração de

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afecto do nosso lado, e é constrangedor e quase impossível não poder proporcionar
este carinho ou demonstração de afecto.

2. A frase «Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma
humana, seja apenas uma alma humana» (Carl Jung).» pode ser aplicada em vários
contextos da vida, mas no que toca a psicologia, ao ser psicoterapeuta, para mim ela
relata o seguinte: que além de toda a técnica, todo o conhecimento que adquirimos
durante a formação e que temos adquirido com as experiências profissionais, que
além de toda a responsabilidade e cumprimento de protocolos, além de todo o
profissionalismo e o senso de dever, somos seres humano tocando outro, e isso tem
de ser maior que qualquer regra, qualquer teoria ou qualquer sabedoria. Que no
momento em que estamos cuidando de alguém deve sempre e acima de tudo
prevalecer a igualdade, a empatia, a compreensão, a sintonia, a humildade e muita
humanidade, pois os nossos conhecimentos, o nosso estatuto não nos torna superior
do que ninguém, e antes de nos sermos bons profissionais, temos de ser bons seres
humanos.

Durante o estágio, pude observar que esta fase não é praticada pela maioria dos
profissionais de saude, pois deparei-me incontáveis vezes com casos em que
pacientes reclamavam de maus tratos, do não cumprimento daquilo que tinha de ser
a politica do atendimento ao paciente pelos profissionais de saude, e pude ate
mesmo presenciar alguns profissionais tratando com inferioridade os seus pacientes.
Talvez isso aconteça por muitos acharem-se superiores que os seus pacientes e por
saberem que de certa forma que a vida, a melhoria e o bem-estar do paciente
encontram-se em suas mãos.

3. É importante que cada psicoterapeuta tenha realizado a sua própria terapias pois é de
extrema importância que o mesmo entre em contacto com as suas dores, para que
possa elaborá-las em sua própria análise, aprender com a experiência e perceber
também que não precisa ser um exemplo de perfeição ou normalidade, que ele

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também pode sentir dores da alma, sofrer e ser um individuo sensível, o que de certa
forma ajuda a entrar em contacto com a dor do outro e se aproximar com mais
empatia.

Durante esse processo de autoterapia, o psicoterapeuta deve ser capaz de deparar-se


com a complexidade da sua própria motivação, das fantasias e sintomas conscientes
e inconscientes. Quando o terapeuta perceber que as questões apresentadas pelos
pacientes em algum momento também podem ter permeado a sua vida, ele já tenha
tratado as suas questões na sua terapia pessoal e possa facilitar o processo quando
esbarrar com questões parecidas em seu consultório, mas acima de tudo, que se
permita ter liberdade de ser quem verdadeiramente é e que saiba lidar com as suas
escolhas e desejos.

Durante o estagio pude notar que essa regra muitas vezes não é aplicada, que na
nossa realidade, muitas das vezes quando esbarramos com questões semelhantes a
que já passamos um dia, pelos nossos profissionais não terem o hábito de fazer a
autoterapia ou a terapia com um outro profissional antes de tentar cuidar do outro,
acabam transferindo o paciente para outro profissional ou até mesmo dando voltas
fazendo o paciente criar o desinteresse de uma ajuda terapêutica. Isto porque
infelizmente, são poucos os psicoterapeutas com coragem e capazes de aceitar que
também precisam de ajuda.

4.
a. É de extrema importância ter o gosto pela palavra e um carinho espontâneo pelas
pessoas, pois por mais diferentes que as pessoas sejam, devemos sempre tratar-lhes
bem, sem preconceito, com simpatia, devemos saber escutar, ser curioso,
observador, e acolhedor, dar a total atenção sem ter em conta estatutos sociais,
financeiros, a higiene, possuir uma atitude de calor, carinho, aceitação, acolher a
singularidade do outro.

b. É importante que o psicoterapeuta tenha uma extrema curiosidade pela variedade da


experiência humana com o mínimo possível de preconceito, isto quer dizer, estar

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aberto a obter mais conhecimentos sobre o mundo interno de quem está diante de
nós, sem nenhum preconceito e julgamentos do que é certo ou errado, deixando de
lado as nossas crenças e convicções. Porque não são as nossas crenças, as nossas
convicções ou os nossos princípios que decidem o que é certo, o que é errado, o que
é bom ou o que é mau, tudo isso decide-se na complexidade da vida da pessoa da
qual se trata. Pois, se já possuirmos opiniões morais prontas das atitudes,
comportamentos e pensamentos aceitáveis socialmente no mundo em que vivemos,
ao invés de ajudar, iremos focar-nos apenas em julgar, devemos nos permitir ser
ignorantes, ou seja, perguntar querendo realmente conhecer e estar prontos para
ouvir o inesperado.

c. É importante que o psicoterapeuta tenha uma certa quilometragem rodada, isto é,


que o psicoterapeuta já tenha vivenciado uma boa parte dessa variedade de
experiências, e que tenha a consciência de que é difícil encontrar caminhos pelos
quais pelo menos uma parte da nossa mente não tenha sido cativada em algum
momento ao se deparar com vontades ou desejos que são reprovados socialmente,
isto porque, assim, o psicoterapeuta saberá que não será um processo fácil e estará
disposto a fazer de tudo para conseguir ajudar o seu cliente a resolver os seus
conflitos.

d. É importante que o psicoterapeuta tenha tido uma boa dose de sofrimento psíquico,
pois é de extrema importância que o mesmo já tenha sido paciente por algum tempo,
para ele saber como o tratamento se conduz, pois, ser paciente requer uma boa dose
de coragem motivada pela vontade de resolver os conflitos internos, aliviar um
sintoma e viver melhor. E também, porque durante a prática clinica, poderemos
encontrar pacientes que não melhoram, que trarão problemas muito complicados e
nesses momentos algumas palavras que poderão ocorrer na mente não nos parecerão
correctas e suficientes, o que de certa forma poderá fazer com que duvidemos da
eficácia do nosso trabalho, e nesses momentos é de grande valia que você saiba ou
tenha consciência que a prática que você utiliza para os seus pacientes costuma a dar
resultados positivos, costuma a dar melhorias significativas.

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5. Tendo em conta que o estudante é um ser biopsicossocial, no processo do contacto com
novas experiências, com novos pontos de vista ele poderá familiarizar-se, identificar-se,
reconhecer-se ou até mesmo espelhar-se na situação que vivencia, ou pelo contrario, ele
pode não se enquadrar naquilo que é as novas experiências ou pontos de vista fazendo
com que surja uma estranheza perante a si mesmo, duvidando de tudo aquilo que ele
acreditou ser certo ou errado até ao momento.

6.
a. A autopercepção nos permite entender onde nos fechamos e onde brilhamos, e até
mesmo onde nos autossabotamos. Entender, em meio as nuvens de pensamentos e
julgamentos, como realmente nos sentimos e conseguir traduzir isso em palavras, e
assumir a autorresponsabilidade pela forma como nos sentimos é uma força a ser
cultivada. No entanto, essa habilidade também nos ajuda no trabalho, quando
praticamos a autopercepção, também profissionalmente, estamos aptos para
compreender as nossas fraquezas, as nossas forças, e os nossos bloqueios com muita
clareza e, assim utiliza-las ao nosso favor para nos desenvolvermos cada vez mais.

A autopercepção e o autoconhecimento são aspectos importantes porque nos


permitem compreender melhor quais são as nossas habilidades, as nossas virtudes,
as nossas capacidades, os nossos valores, o nosso propósito e missão de vida. Tendo
esses aspectos em mãos podemos viver em função do que realmente sonhamos e
desejamos para a nossa vida pessoal assim como profissional, e também como
futuros psicoterapeutas se possuirmos esses aspectos, facilitará uma melhor
compreensão das pessoas ao nosso redor e em especial os nossos futuros clientes.

b. A habilidade de reverter a nossa percepção para a compreensão do cliente, no meu


ponto de vista é a capacidade de ser empático, pois a empatia permite que entremos

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no mundo do cliente, que consigamos nos mover lá com companhia e ajuda do
mesmo buscando a compreensão da sua experiência vivida. deve-se mostrar ao
aluno (futuro terapeuta) que cada individuo apresenta a sua especifica
individualização interna, pois cada ser é único e inigualável e o seu funcionamento é
a sua melhor tentativa de se adaptar ao meio em que esta inserido, e por isso o foco
na terapia é voltado para a ampliação da consciência do individuo sobre o seu
próprio funcionamento, o objectivo é priorizar o ser humano que há no outro, por
isso, que muitas das vezes afirma-se que a terapia é uma experiência mútua, de estar
com relação com a pessoa, é uma experiência de um encontro genuíno em que o
cliente é recebido como ele é, com as suas fraquezas, as suas forças as suas
possibilidades e os seus limites.

Apesar de se poder discordar com o ponto de vista do cliente, o psicoterapeuta deve


conhecer a opção do mesmo e respeitar por ser o modo de ser dele. Pois, para uma
boa terapia é necessário que haja uma boa relação entre o psicoterapeuta e o cliente,
e caso o psicoterapeuta não consiga reverter a sua percepção para a compreensão do
cliente, fará automaticamente que ele se distancie do cliente e se por acaso o cliente
notar poderá sentir-se sozinho e não compreendido, impossibilitando dessa maneira
o desenvolvimento de uma boa relação terapêutica e um resultado positivo da
terapia.

c. É importante o desenvolvimento do raciocínio logico, a partir da teoria e da


experiencia de si, do contacto consigo mesmo, porque o raciocínio é a operação
mental que nos permite combinar logicamente os conhecimentos através das nossas
experiências, sejam sociais ou connosco mesmos para encontrar a solução para um
determinado assunto ou problema.
Em muitos momentos o raciocínio nos ajuda a tomar a maioria das decisões
importantes, pois ele nos permite pesar os prós e os contras nos fazendo escolher
assim o que pode ser a melhor opção. E com o raciocínio logico o futuro terapeuta
terá a capacidade de ajudar os conflitos internos dos seus clientes com inteligência,
rapidez, e quase 100% de certeza de que está a fazer a coisa certa.

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