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PSICOLOGIA CLINICA II
- Isabel Leal e José Afonso -
Objetivos:
Envolver os alunos numa atitude sensível à função psicoterapêutica.
Domínio das teorias e técnicas de entrevista Diana Pintéus
Domínio das técnicas de P.A. 2013/2014
Índice
Introdução 3
Capítulo 2 – A Psicanálise
1
Capítulo 4 – Do comportamento à cognição. Modelos e Terapias
2
INTRODUÇÃO
A psicoterapia é um tratamento que é feito por meios psicológicos. Só é utilizada a psicoterapia quando existem
queixas psicológicas e este processo pretende alcançar o tratamento psicológico, desta forma o objectivo das
psicoterapias é o de eliminar ou diminuir o sofrimento humano. Sendo que o sofrimento é uma dor psíquica, por
vezes insistente e violenta, que influencia a vida normal do sujeito.
Qualquer grau e qualidade de sofrimento ou mal-estar beneficiam do apoio psicológico. As razões que levam as
pessoas a recorrer à psicoterapia são as mais diversas. Quase toda a gente precisa ou vai precisar de psicoterapia
ao longo da sua vida. Por exemplo, as pequenas fobias devem ser tratadas em psicoterapia, uma vez que podem
comprometer muitos aspectos da vida de quem as possui. As perdas normais da vida, situações de crise, não ter
trabalho, perder o estatuto social também são boas razões para recorrer a uma psicoterapia de apoio muito curta.
Algumas pessoas fazem psicoterapia, não só porque se sentem especialmente mal, ou com uma área de
sofrimento muito grande ou crises existenciais, mas também só porque vão beneficiar de fazer psicoterapia. Até
as pessoas ditas “normais”, aparentemente sem necessidade de as fazer.
“Porque todos nós queremos ser mais e maiores e o tipo de vida que temos não facilita a nossa reflexão e auto-
ajuda para podermos viver com alegria, todos beneficiamos de uma psicoterapia.”
3
Capítulo 1
4
FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS DAS PSICOTERAPIAS
O sagrado e o profano
Em tempos remotos, o entendimento do dom da cura articulou-se, sobre tudo, com conceitos hoje periféricos á
actividade terapêutica. Nomeadamente com o conceito de sagrado que é encarado como “uma condição de vida”
e é presença obrigatória em todas as sociedades e em todas as épocas, isto é, é inerente a todas as sociedades.
Umas vezes podemos encontrá-lo associado a objectos e seres, outra vezes é transcendente aos homens e assente
num princípio de superioridade absoluta.
Parece misterioso e resulta obscuro, ainda hoje, que a palavra tenha uma capacidade mágica da cura e possa, por
si só, operar mudanças sensíveis na forma de estar e de sentir das pessoas.
Há autores, nomeadamente Szasz, que estabelecem uma analogia entre psicoterapia e religião, considerando que
ambas pretendem fornecer respostas para as questões fundamentais da existência: quem somos o que fazemos
aqui, para onde vamos, e, sobretudo qual o sentido de tudo isso.
Numa espécie de inventario das formulas destinadas a obter comportamentos desejáveis, Rogers falava-nos de
ordenação e proibição. Dar ordens e proibir são métodos antigos de, a partir de um lugar de poder e ainda que
implicitamente por recurso ao medo ou à ameaça, se conseguir, ainda que de forma temporalmente limitada, a
adesão ao que se pretendia ou a evitação de um comportamento ou atitude.
Tão clássico como estes métodos é o da exortação. O discurso inflamado, o recurso à retórica do que deve ser,
criavam como ainda hoje criam “uma hipertensão emocional temporária, procurando fixar o individuo num
nível alto de boas intenções”. Como se diz popularmente, de boas intenções está o inferno cheio, querendo com
isto dizer que, fora do quadro de exortação directo, as boas intenções rapidamente se desvanecem.
O recurso à sugestão, no sentido do encorajamento e da tranquilização, a famosa e habitual fórmula do “vais ver
que não é nada”, “está descansado que tudo vai melhorar” é, por si só, e alheia a qualquer realidade do sujeito,
uma forma apenas de negar o problema existente e o sentimento do sujeito sobre o assunto.
A catarse por sua vez é uma técnica antiga de desabafo e alivio imediatos pela mera enunciação dos problemas
que afligem o sujeito sendo que até hoje, é um recurso não só das práticas confessionais de orientação religiosa
mas de muitas outras, laicas, que ancoradas num qualquer principio de poder perdoar ou, tão só saber ouvir,
sobrevivem, ainda que não curem, não tratem, nem promovam mudança.
També o antigo procedimento de aconselhar quer dizer dar conselhos no sentido de ensinar como se faz, ou
como se deve fazer ou ser, quer no sentido persuasivo de tentar convencer sobre o melhor método, a meçlhor
opção ou o caminho indicado a seguir têm, como se sabe, uma longa tradição.
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Ou seja, sempre existiram fórmulas decorrentes de uma epistemologia ingénua, mas nem por isso menos eficaz,
para apaziguar os males do corpo e do espirito, para estimular para a acção ou para conformação, para dar
sentido a acontecimentos fortuitos, para securizar ou para acalmar.
Contudo, é muito duvidoso que essas práticas ancestrais possam merecer o nome de psicoterapia, tal como nós a
entendemos hoje.
Alguns autores assumem que existem dois sentidos diferentes para a utilização do termo psicoterapia,
um lato e outro restrito. E que apenas o sentido mais restrito se refere às teorias e técnicas utilizadas
por corpos profissionais nos últimos cem anos.
O sentido “lato”
O sentido lato prende-se com conversas informais, como amigos, pais, professores, etc. Por outro lado, o sentido
restrito já inclui as técnicas e a psicoterapia é realizada por profissionais e especialistas.
A função de escuta ou aconselhamento, fortuita e pontual, te todo o mérito, sempre existiu e sempre existirá, e
merece referência, na medida em relembra o óbvio: que ninguém é bom juiz em causa própria e que ser social é
também recorrer àqueles em que se confia e que sempre fez parte das necessidades humanas o recurso a outros
para formar opinião, facilitar a escolha ou a decisão ou meramente ter a sensação de se ser compreendido.
Desta forma, esta função, de algum modo persecutória da psicoterapia, mas não confundível com ela, designa-se
de função terapêutica. Assim, a função terapêutica exerce-se, de forma pontual e particular, subsidiária a uma
relação afectiva pré-estabelecida ou a uma relação investida num dado momento como suficiente para
desempenhar um papel tranquilizante, catártico, clarificador, sugestivo, etc. Ainda, na função terapêutica,
aproveita-se o que há, de forma real ou imaginária, e usa-se no momento necessário para colmatar dificuldades
ou ajudar a resolver problemas sugeridos.
Muitas pessoas podem de alguma forma desempenhar esta função terapêutica SEM serem psicoterapeutas.
Contudo, a verdadeira psicoterapia tem de ser feita por psicoterapeutas e na qual se deve obedecer a critérios
técnicos e teóricos. É uma relação formal e temporal, no qual o tempo é limitado que decorre em espaços
combinados, centra-se na problemática do cliente e ainda, é uma relação unilateral.
PERCURSOS DA PSICOTERAPIA
Não há nenhuma psicoterapia boa para tudo, de todo. Há, sim, psicoterapias mais adequadas a algumas pessoas,
circunstâncias e contextos. Não há uma só psicoterapia para todos, que abarque todos os contextos.
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O percurso histórico das psicoterapias actuais, até meados dos anos 40 do século XX, girava em torno da
psicanálise. Este conceito nasce com Freud. Depois da II Guerra Mundial, um enorme movimento de
psicoterapeutas dedicou-se a explorar outras vias conceptuais e pragmáticas por associação a diferentes quadros
teóricos. A partir dos anos 60 assistiu-se ao nascimento de muitas propostas psicoterapêuticas que se divulgaram
nas décadas seguintes. Existem várias definições para psicoterapias, e uma delas é, uma relação de trabalho
entre terapeutas e clientes na busca de soluções para os problemas dos seus clientes, mais vantajosas que as que
são utilizadas naquele momento e a responsabilização dos clientes pelas mudanças que desejam que ocorram
nas suas vidas.
O consenso de que uma psicoterapia é uma terapia por meios psicológicos esclarece que se trata de um
tratamento, de uma forma de curar ou melhorar, o que, em si mesmo, pressupõe doença, défice ou mal-estar
anterior. Não diz, entretanto, muito do que são estes “meios psicológicos”.
Os “meios” psicológicos
Num clássico de divulgação sobre a psicoterapia, considerava que a partir da própria natureza da intervenção
psicológica se podia distinguir diversos “meios psicológicos” que nem sempre possuíam fundamentos
sistematizados classificando-os:
Terapêuticas pelo repouso e pelo isolamento – Aqui o sujeito fica privado dos seus estímulos habituais
ou afastando-o das suas fontes de tensão
Terapêuticas dirigidas – Fazem apelo a processos mais conscientes ou mais inconscientes e têm como
objectivo traçar um percurso reconhecido como desejável para o cliente.
Educação e a reeducação – Utilizam-se todas as metodologias que implicam a aquisição de novas
competências ou a sua recuperação, competências essas que por qualquer acontecimento foram perdidas.
São dadas estratégias para a pessoa poder lidar com o seu desconforto
Sugestão e hipnose – Fazem apelo aos processos inconscientes, que por sua vez podem ter uma intenção
educativa ou reeducativa.
Terapêuticas pela actividade – Incluem grupos de actividade e múltiplas formas de terapia.
(Arte/terapias ocupacionais)
Psicoterapia compreensiva – Consistem em terapias existenciais e em metodologias não directivas.
Associadas as psicoterapias de setting.
Terapêuticas de encorajamento e de apoio – Podem ser de forma clássica ou mais exortativa até as
actuais e sistematizadas psicoterapias de apoio.
A “organização” da psicoterapia
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Sendo dado que está sempre presente a trilogia hoeme-relação-bem-estar, as propostas psicoterapêuticas devem
ser consideradas em função do número e dos métodos, quer dizer, do facto de tratarem de psicoterapias
individuais ou de grupo e de os métodos que as orientam serem directivos ou não directivos. O que talvez seja
uma forma excessivamente simplificada de considerar um universo de intervenções cada vez mais complexo.
Os quadros teóricos
Designa-se por quadros teóricos de referencias as teorias, as hipóteses e os modelos que sustentam as práticas e
as intervenções de qualquer disciplina cientifica.
Uma teoria pode apresentar-se sob três aspectos principais: Sistema hipotético-dedutivo, sistema de conjecturas
que permita a sua formulação e articulação com “a realidade” uma possibilidade de a falsear; Sistema
explicativo coerente, apresentando níveis de implicação e deductabilidade que assegurem as suas capacidades
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explicativas; e, conjunto significativo pertinente, encontrar a sua validade em função da problemática a que se
aplica.
Uma hipótese é um enunciado antecipado sobre a natureza das relações entre dois fenómenos, é uma explicação
provisoria.
Os objectos
O objecto de intervenção, só em raros casos que é o sujeito na sua especificidade e individualidade. Por um lado
porque toda a experiência humana é eivada de subjectividade, o que significa provavelmente que o Outro nunca
nos é acessível mas apenas a narrativa ainda que sintomática que faz de si mesmo. Por outro lado, porque para
ultrapassar esse obstáculo fundamental e ainda o outro que decorre da própria subjectividade do terapeuta, é
necessário o recurso a quadros explicativos e compreensivos do funcionamento mental e do comportamental
geral e especifico dos indivíduos, que o terapeuta tem necessariamente de possuir para mediar esse “encontro de
subjectividades” (do terapeuta e do paciente) e produzir conhecimento reconhecível como tal entre pares do
mesmo ofício.
Habitualmente, este objecto é definido à priori, pelo paradigma teórico em que o terapeuta assenta o seu
conhecimento e os protocolos psicoterapêuticos inscrevem-se em modelos teóricos preestabelecidos.
Os objectivos
As psicoterapias de apoio têm uma função essencialmente de apoio e suporte do paciente objectivando a
supressão de sintomas e trabalhando com o material psicológico em erupção. As psicoterapias psicanalíticas são
dirigidas ao insight. Pretendem um conhecimento profundo e aprofundado das problemáticas e do
funcionamento dos sujeitos. Em função dos objectivos pode ser função directa quer do contexto, do paciente,
quer do próprio terapeuta, e assim se delineiam uma estratégia de intervenção.
Os contextos
Os contextos de intervenção actuais vão dos centros de saúde e dos hospitais gerais, às prisões, às escolas, às
empresas de media e grande dimensão, etc. não podemos ter os mesmos objectos, os mesmos objectivos e os
mesmos quadros teóricos em todos os contextos.
O conceito de paradigma
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Kuhn definiu a matriz de uma dada ciência como um conjunto de métodos, utensílios, critérios e valores
utilizados na investigação de um dado objecto. Existem na comunidade científica grandes modelos/paradigmas.
Têm um núcleo central de modelos e exemplos e tentamos explicar os fenómenos que aparecem à luz daqueles
modelos.
Por sua vez, Garfield (1957), destacava aspectos que considerava comuns a quaisquer formas de Psicoterapia.
Nomeadamente, a capacidade do terapeuta de compreender o seu paciente e de lhe dar apoio; é esperado que o
terapeuta seja capaz de ouvir, compreender e dar apoio e a possibilidade de o cliente experimentar uma situação
de catarse (de alivio, de ab-reacção) e de obter um maior conhecimento sobre si próprio.
Na década seguinte, Rogers (1963), defendeu que era necessário numa relação terapêutica é o mesmo que para
qualquer uma relação humana de qualidade: empatia, autenticidade, calor humano. (Predomínio da relação sobre
a teoria ou sobre a técnica) segundo a professora, uma pessoa bem resolvida é automaticamente empática,
autêntica e calorosa.
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Depois deles, de uma forma mais discreta ou mais afirmativa, muitos foram os psicoterapeutas que, nem sempre
de forma assumida ou inteiramente coerente, destacaram a importância da relação ou de aspectos que
consideraram comuns a diferentes psicoterapias.
Na década de oitenta, Golfried (1980) chamava a atenção para o facto de todas as terapias são experiências
correctivas e proporcionam feedback, no sentido de os pacientes aprendam sobre si mesmo e passem a
compreender os seus pensamentos e comportamentos a partir de diferentes pontos de vista
Frank (1982) assinalava a importância da relação de confiança estabelecida e afirmava como factores comuns o
O quadro terapêutico que assinala a formalidade e alimenta as expectativas do cliente de um tipo particular de
trabalho; e, a existência de um raciona teórico que permita uma explicação aceitável dos sintomas do cliente e
que prescreva um ritual destinado a resolvê-los, em que ambos – cliente e paciente terapeuta – acreditem.
O ano de1986 é fértil em reflexões sobre factores comuns na Psicoterapia. Karuso (1986) considera que as
diversas psicoterapias partilham: Uma experiência afectiva, facilitadora de mudanças; Um novo domínio
cognitivo, capaz de proporcionar diferentes formas de perspectivar a vida e interpretar os acontecimentos; Uma
regulação comportamental.
Ainda, Stiles. Shapiro e Elliot (1986) consideraram que os factores relacionados com o terapeuta no sentido em
que todas as psicoterapias e todos os psicoterapeutas oferecem aceitação, empatia e acolhimento aos seus
clientes.
Factores Comuns
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Alívio do sofrimento Mudança de expectativas sobre a Estimulação do confronto com os
eficácia pessoal próprios medos
Relação positiva Aprendizagem cognitiva Arriscar
Securização Experiencia emocional correctiva Compromisso na realização
Desabafo da tensão Exploração dos quadros de referência Modelagem
internos
Estruturação Feedback Exercícios
Aliança terapêutica Insight Avaliação da realidade
Participação activa Justificação lógica Experiencias de sucesso
terapeuta/paciente
Competência do terapeuta Elaboração (working-through)
Atitude calorosa, respeito,
empatia, aceitação
incondicional e genuidade do
terapeuta
Confiança
Capítulo 2
A Psicanálise
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DA PRÁTICA À TEORIA
Psicanálise, o que é?
Além de uma psicoterapia, recobre um extenso campo de teorias, ideias e hipóteses. É um método de
investigação que consiste na evidenciação do significado dos processos inconscientes das palavras, acções e
produções imaginárias. Também é considerada uma teoria do funcionamento da personalidade e uma técnica
terapêutica usando a associação livre. Para lá de uma prática ortodoxa, desenvolveram-se psicoterapias de
inspiração analíticas e mesmo psicoterapias breves e focais e, logo de seguida: psicoterapias de grupo de base
psicanalítica, terapias familiares psicanalíticas, terapias corporais psicanalíticas, etc. À técnica terapêutica
corresponde a “Psicoterapia psicanalítica”, ao método de observação corresponde a “entrevista psicanalítica” e a
Psicanálise para o conjunto de hipóteses.
PSICANÁLISE(S)
Com tasntas e tão permanentes recorrências a Freud, dir-se-ia que a Psicanálise era a palavra do mestre. Dir-se-
ia que a globalidade da obra de Freud merceria idêntico empenhamento por parte dos que á sombra do seu
nome, continuaram a afirmar que era Freudianos e que aquilo que faziam era Psicanálise.
De facto, os desmultiplicamentos da Psicanálise se, em alguns casos perseguem linhas traçadas por Freud, muito
mais amiúde,, inauguram caminhos próprios, que só por boa vontade e desejo de filiação e continuidade têm
alguma coisa a ver com Freud.
Daí que seja necessário explicitar o cerne do pensamento de Freud e as suas linhas mestras que inauguram a
Psicanálise para a partir desse núcleo central apontar as diferenças, notar os grandes pontos de quebra e mesmo
de ruptura e também dar conta das continuidades que, ainda assim, se foram produzindo.
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Freudismo
A construção do freudismo foi um trabalho lento e elaborado Freud desenvolve a associação livre para substituir
o método catártico. A psicanálise esta muito ligada a sexualidade e ao inconsciente. Desenvolve ainda a ideia
de que a sedução sexual de adultos a crianças é a causa traumática das neuroses. Abre caminho a perspectiva de
um desenvolvimento psicossexual que é explorado nos três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Nesses três
ensaios, ele discorre no primeiro sobre as aberrações sexuais; no segundo sobre o desenvolvimento da
sexualidade infantil; e no terceiro sobre as transformações da puberdade.
A produção Freudiana tem quatro grandes eixos: teoria da sexualidade, teoria dos sonhos, metapsicologia (1ª
tópica que foi explanada) e sociologia Freudiana. O trauma decorrente que pela libertação dos afectos
recalcados possibilitaria a cura. Dá entrada a uma 2ª tópica: Id, Ego, Superego.
Modelo do afecto-trauma, reportando aquilo que foi a primeira grande “descoberta” da psicanálise: a etiologia
sexual das neuroses e o trauma decorrente que, pela libertação dos afectos recalcados, possibilitaria a cura.
Modelo topográfico instaura sistemas de funcionamento mental, de acordo com os processos serem primários ou
secundários, quer dizer mais inconscientes ou mais conscientes. Este modelo topográfico fazia recurso à teoria
do instinto que permitia o deslocamento da anterior posição de experiências reais e precoces traumáticas, para
uma construção de uma realidade interna e inerente aos indivíduos.
Continuadores
Anna Freud
O seu pensamento, que se vai construindo a partir de 1922, centrado numa primeira fase na psicanálise de
crianças com que tivera um contacto privilegiado, pode ser articulado em três grandes eixos:
Um primeiro, sempre presente na sua obra e na sua vida, e que se pode afirmar como sendo o da defesa
e continuidade das ideias de Freud e daquilo que se pode designar como a ortodoxia Freudiana.
Um outro, particularmente polémico e referido ao grande momento do inicio da psicanálise de crianças;
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Finalmente, um outro, eventualmente o mais importante do ponto de vista teórico, que remete para o
aprofundamento do conceito de Ego e para os mecanismos de defesa deste.
O Modelo Kleiniano
A vida pulsional assume como pressuposto que o lactente, desde sempre, activa uma polaridade e
conflitualidade pulsional entre, por um lado as pulsões de vida e as de morte, e por outro com o mundo externo,
simultaneamente ameaçador e gratificante.
Surge assim um mundo fantasmático, em que se supõem implicitamente funções e processos desenvolvimentais,
diferenciados consoante o sexo e que, através das suas vicissitudes (bons e maus objectos internos e externos)
poderiam explicar a génese dos processos psicopatológicos como se o ponto de partida fosse sempre o auto
relacionamento psicótico em evolução possível para uma neurotização desejável porque socializada.
Como resultado das análises que entretanto vai levando a cabo, Klein postula não só a existência de um Super-
ego precoce mas também, e por extensão conceptual em relação às anteriores concepções Freudianas, um Édipo
precoce (já que o Super-Ego seria o herdeiro da situação Edipiana). Descreve, ainda a existência de fases de
desenvolvimento, que designa como "posições" e que na prática, recobrem e reconstroem a anteriormente
considerada "fase oral". São estas posições e os mecanismos aí jogados, as mais relevantes de todo o
desenvolvimento.
Designa a primeira posição como de esquizo-paranóide e fá-la corresponder aos primeiros três, quatro meses de
vida. A segunda, referida aos restantes meses do primeiro ano de vida é chamada de posição depressiva. Do seu
ponto de vista, a resolução dessa posição depressiva, será possível pela activação de defesas maníacas e pela
reparação.
Essa outra metapsicologia, que na prática, passou a deter um enorme espaço de influência, propiciava
simultaneamente um alargamento da psicanálise a personalidades que não as neuróticas e uma valorização dos
vínculos estabelecidos pelas crianças nas suas fases mais precoces de desenvolvimento, abrindo portas à
valorização das relações de objecto.
O modelo das relações de objecto, tem como grande linha condutora o deixar de pensar a evolução do sujeito de
acordo com sucessivos reordenamentos da relação pulsional e sexual com o objecto e, passar-se a procurar
mostrar como se organiza estruturalmente a actividade fantasmática precoce, conforme os tipos de relações
objectais.
O modelo culturalista
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A primeira geração de psicanalistas que se instalaram nos Estados Unidos como Karen Horney (1885-1952) ou
naturais de lá como Henry Stack Sullivan (1892-1949) foram pioneiros, nos anos 40, de um movimento
designado como “Culturalista”, e que atingiu vinte anos depois a sua maior audiência e impacto.
Este movimento, em que alinharam sociólogos, antropólogos e filósofos como Kardiner, Margaret Mead, Ruth
Benedict, Froom ou Marcuse, destacou a importância dos factores culturais e sociais na etiologia, mas também
na terapêutica, das perturbações mentais e do mal – estar civilizacional de que falava Freud. Este movimento
veio a facilitar a mais importante corrente psicanalítica actual: A Psicologia do Eu.
O modelo da psicologia do eu
Valoriza especialmente as funções desta instância psíquica, na relação com as outras (Id. e super-ego) e com a
realidade. O trabalho percursor da Psicologia do Eu é habitualmente considerado como sendo um texto
intitulado “ Psicologia do Eu e o problema da adaptação”
O ponto de partida deste trabalho é o de adaptação, entendida como uma relação biunívoca entre o organismo e
o seu ambiente
Seguidores
A psicanálise Lacaniana é uma produção singular de um espirito brilhante : Lacan, apesar de todos os seus
méritos não sobreviveu condignamente ao seu autor.
O inconsciente e a linguagem
“ A fala institui-se como tal na estrutura do mundo semântico que é o da linguagem. A fala nunca tem um
sentido único, nem a palavra só um emprego. Qualquer fala tem sempre um além, sustenta várias funções,
envolve vários sentidos. Por detrás do que diz um discurso, há o que ele quer dizer, e por detrás do que ele quer
dizer há ainda um outro querer-dizer e nunca nada será esgotado – a não ser que se concluia que a fala tem
função criadora e faz surgir a própria coisa, que não é mais do que o conceito.” (Lacan, 1986, p. 318).
“ O dilema que os clínicos têm de enfrentar é o de ser essencial um enquadramento teórico firme, especialmente
no início da carreira, no sentido de uma prática eficaz; paralelamente, é pouco provável que qualquer modelo
por si só detenha a chave do funcionamento da mente e da motivação humana. Na prática, a maioria dos
analistas recorre a uma mistura de diferentes teorias, mesmo se têm uma filiação básica a determinada escola .”
(Bateman & Holmes)
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PSICANÁLISE FREUDIANA: A CURA TIPO
Aspectos teóricos
Psicanálise é aquela técnica que, empregada por um analista neutro, resulta no desenvolvimento de uma
neurose de transferência regressiva e a resolução última desta neurose unicamente pela técnica da
interpretação. (Gill, 1854).
Objectivos
O objectivo de uma psicanálise é a “cura” que se funda essencialmente sobre a transferência, ou seja da
projecção na pessoa do analista, nas condições particulares da cura, de sentimentos irracionais geralmente
ligados a situações de conflitos infantis com os pais.
Desenvolvimento terapêutico
O setting
“O propósito das regras é estabelecer a ordem. O setting analítico é ordenado para que possa ser ou conter um
processo. A alteração deste enquadramento é uma técnica activa que interrompe o processo subjacente e que se
possível deveria ser evitada”. Bateman & Holmes, 1997
O processo
Modalidades práticas
As sessões de psicanálise têm uma duração e frequência fixas, previamente combinada (50 minutos, 4
vezes por semana, durante alguns anos, habitualmente próximos dos 10)
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O terapeuta mantém-se invisível, querendo com isto dizer que se deve manter em posição sentada, fora
do ângulo de visão do cliente (habitualmente, senta-se num maple ou cadeira atrás da cabeceira do
divã).
A posição do paciente é deitada num sofá longo, o famoso divã.
A atitude do terapeuta
Neutralidade e pela abstinência. A atitude neutral significa, na prática, a evitação de conselhos de julgamentos e
de atitudes valorativas. Em Psicanálise, a neutralidade tem sido classicamente considerada no sentido que Freud
a expôs na célebre metáfora do espelho em que afirmava a necessidade do psicanalista ser opaco para os seus
pacientes, devolvendo apenas o que lhe era mostrado (Freud, 1913).
E ainda:
Fora do contexto psicanalítico, os psicanalistas são exortados à ausência de relações pessoais com os seus
analisandos de forma a não contaminar o processo transferencial com excessivos aspectos do real de ambos.
A atenção flutuante. De acordo com o postulado de Freud de 1912 a comunicação entre analista e analisando
deveria ser de “inconsciente a inconsciente” implicando isto uma atitude de atenção flutuante do terapeuta em
contraposição à livre associação do paciente.
As indicações
Bastante restritas e atendem não só a dimensões psicopatológicas mas também a parâmetros de personalidade,
assim:
Uma discussão interessante é a da indicação da histeria para psicanálise ortodoxa, uma vez que a Psicanálise
nasceu e desenvolveu-se a partir da Histeria mas que, de facto, a labilidade, sugestionabilidade, erotização e
dramatização destes quadros facilitam “actin-out”, “ acting-in” e “drop-out”, pelo que, muitos analistas
consideram que não são quadros de primeira escolha.
Do ponto de vista da organização da personalidade são ainda as organizações do tipo neurótico as com
maior indicação para Psicanálise. São ainda condições as que se referem à idade (menos de 50 anos);
As contra-indicações
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“ Ausência de um ego razoavelmente integrado e cooperativo (psicóticos, transtornos severos de
personalidade, dependentes químicos, deficientes mentais), na presença de problemas de natureza aguda e que
exigem solução urgente, em situações de vida que não podem ser modificadas, e em pessoas adultas com mais
de cinquenta anos, critério que vem sendo modificado”. Cordioli, 1993.
Teorias
As mesmas referências teóricas e a mesma formação dos terapeutas que nas Psicanálises.
Objectivos
Aos objectivos enunciados para a Psicanálise, junta-se agora o conceito de “máximo beneficio terapêutico”, o
que na prática, se constitui como uma prioridade, o que significa, plasticidade técnica em função da situação
especifica.
Desenvolvimento terapêutico
Modalidades Práticas
A duração do processo é normalmente mais curto (3/4 anos); Tendo uma frequência de 1 /2 sessões semanais; e,
usando-se mais frequentemente do que o divã, a posição face a face.
Atitude do terapeuta
Sem porem de parte o rigor da neutralidade e abstinência do terapeuta, exigem geralmente uma atitude mais
suave, gratificante e activa e centrada sobre o real que uma psicanálise.
Indicações
As indicações são muito mais extensas que a psicanálise clássica, cobrem todas as neuroses; muitas doenças
psicossomáticas e personalidades borderline; e, com algumas reservas (sobre a experiência do terapeuta) vão até
as psicoses.
Contra- indicações
Todas as situações em que seja impossível o estabelecimento de uma aliança terapêutica, ou seja, a relação
racional e não neurótica que o paciente é capaz de estabelecer com o terapeuta. Ainda, Estrutura de
personalidade anti-social; Ganho secundário que exceda o sofrimento; Relutância ou incapacidade de
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comparecer nas sessões; Graves perturbações de comunicação verbal; QI muito baixo; Acting out do tipo auto
destrutivo sem apoio social; e, Mitómanos.
Objectivos
Restabelecer rapidamente o equilíbrio psicológico do individuo; Obter a máxima melhoria sintomática; Reforçar
as defesas; e, melhorar a adaptação ao meio
PSICOTERAPIAS BREVES
Com rigor o “pai” das Psicoterapias Breves pode ser considerado Sandor Ferenczi (1873-1933), um dos
discípulos directos e dilectos de Freud.
Aspectos teóricos
Alexander e French (1946) propuseram o conceito de “experiência emocional correctiva” que, anos
volvidos Lemgruber (1987) considerava que, melhor fora, chamar-se de “experiência relacional
correctiva” uma vez que para que a experiência correctiva aconteça é necessário um contexto
relacional.
O conceito de foco
O conceito foi introduzido por Stekel (1959) e de acordo com Small (1974) é inerente ao conceito de “terapia
sectorial” e à ideia de que uma psicoterapia de curto prazo pode ser praticada quando os sintomas podem ser
identificados como alvo de uma intervenção terapêutica concentrada. (Wolberg, 1965, Deutsh, 1949).
Lemgruber define foco como: “o material e inconsciente do paciente, delimitado como área a se trabalhada no
processo terapêutico através de avaliação terapêutica e planeamento prévios”.
Stupp (1984) por sua vez, considera que o foco é um conjunto de acções humanas, interpessoais, organizadas
num padrão dinâmico e cíclico que recorrentemente são fontes de dificuldades. Neste sentido, muito amplo,
escolher um foco é antes de mais uma forma de restringir os problemas colocados pelo cliente.
Persegue-se o foco, guiando-se o paciente para o mesmo mediante: uma interpretação selectiva; uma atenção
selectiva; uma “negligência selectiva”.
Se o material admite mais do que uma interpretação, deve-se sempre escolher aquela que está em consonância
com o foco e negar-se a ser desviado do objectivo por material aparentemente não relacionado com o foco, por
mais tentador que este seja.
O conceito de crise
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A situação de crise, se é dolorosa para o indivíduo, é também um momento privilegiado já que na crise o
indivíduo está em condições de mobilizar toda a gama de recursos internos e externos para superar. De acordo
com diferentes autores assim se pode e deve optar por uma estratégia de alívio dos sintomas e retorno ao estado
de equilíbrio anterior (através do uso e técnicas de controlo activo, securização, aconselhamento, etc.), quer por
uma estratégia mais agressiva e desencadeadora de outras ansiedades com o objectivo de atingir um equilíbrio
mais estável que o anterior.
Objectivos
Desenvolvimento terapêutico
Modalidades práticas
Psicoterapias Breves são contratadas por um tempo previamente fixado, ou por um número de sessões
combinadas logo na primeira sessão. Noutras situações, entretanto, não existe nenhum tipo de contrato
temporalmente fixado.
A duração das sessões é habitualmente de 50 min, havendo literatura que aponta entre os 15 e os 60 min.
Também não existem indicações específicas sobre a periocidade das sessões, podendo ser de várias sessões por
semana, em situações de crises, até sessões semanais ou quinzenais.
A atitude do terapeuta
De cuidada selecção dos pacientes para este tipo de intervenção; Do esclarecimento do tipo de contrato
terapêutico; A atitude do terapeuta breve além de manter a neutralidade e abstinência próprias de todas as
psicoterapias é eminentemente activa e por vezes mesmo confrontativa.
Indicações
Estruturas neuróticas, situações de crise, contextos institucionais
Contra-indicações
Egos muito frágeis que lidam mal com a perda em consequência da limitação temporal
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Capítulo 3
A Psicoterapias existenciais
Diferentemente da Psicanálise, que se foi estruturando como teoria da prática clínica e fora do quadro de
qualquer filosofia – mesmo que depois se possa considerar que existem no paradigma psicanalítico encontros,
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uns felizes outros nem tanto com dimensões filosóficas de relevo – as psicoterapias existenciais decorrem
directamente, de concepções do homem preexistentes e filiadas filosoficamente em autores que pouco ou nada
sabiam de psicoterapias.
A argamassa unificadora de um movimento que para uns radica mais uma concepção de privilégio da existência
(existencialismo) e para outros na centração da questões no homem concreto (humanismo) é para alguns, um
mesmo olhar, sobre o homem, a sua existência e a sua própria condição humana.
DA FILOSOFIA À PSICOTERAPIA
Estas concepções são elas próprias frutos do tempo, uma vez que, vão variando em função da história, dos
direitos de cidadania e de individualidade que vão sendo outorgados. Muitos dos conceitos utilizados pelas
psicoterapias existenciais se reportam ao pensamento de autores filosoficamente empenhados.
Existencialismo
O existencialismo afirma o primado da existência em relação à essência, o que prefigura uma radical
descontinuidade epistemológica em relação às filosofias Primado da existência em relação à essência. Até ao
séc. XX as teorias existencialistas eram dominantes: Existencialismo Teológico, Conceptualista e Husserliano.
Kierkgaard, é considerado o pai do Existencialismo. Considera a existência humana trágica - “infelicidade da
consciência”. Contra os grandes sistemas de ideias, Keirkgaard propôs uma filosofia do sujeito. Nietzsche,
defende que o homem deve ser dominado pela sua própria vontade. As suas considerações vão de encontro com
os critérios de Keirkgaard, considerações de intrínseca solidão humana e da responsabilidade individual.
Husserl, dotou a “nova” filosofia de uma metodologia: Fenomenologia.
Fenomenologia
Fenomenologia é o estudo dos fenómenos. A célebre afirmação de Husserl, de que a consciência é sempre
consciência de qualquer coisa, abre caminho a uma metodologia e a uma concepção do homem.
Uma metodologia que passa por dois momentos: A análise intencional, visa destrinçar entre sujeito e objecto ou
consciência e o mundo; A redução fenomenológica, a partir desta clarificação que é no campo de consciência
que esse desdobramento é possível.
Resulta um mundo igual a si mesmo, e não, um mundo em si mesmo. Um mundo acessível ao consciente do
sujeito. Nesta perspectiva pode-se dizer que os indivíduos não podem ter uma verdadeira consciência da
situação real, mas uma consciência dos seus objectos conscientes.
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Nesta perspectiva poder-se-à dizer que os indivíduos não podem ter uma verdadeira consciência da sua situação
real, mas apenas consciência dos seus objectos conscientes. O método Husserliano, não explica o mundo,
descreve o vivido.
O humanismo
Defendia a ideia da liberdade da pessoa humana. Sartre, afirmava que a palavra humanismo tinha dois sentidos
muito diferentes: um que ele rejeitava linearmente, e que torna o homem como fim e como valor superior. E o
seu sentido, o homem está fora de si mesmo, e é ao projectar-se para fora de si que faz existir o homem.
Existencialismo humanista, o homem não está fechado em si mesmo mas sempre presente num universo
humano. O homem procura fora de si um fim – que é a libertação, a realização particular – que o homem se
realizará como ser humano.
Há uma tónica que é colocada no sentido. Procura-se assim, determinar a qualidade e o grau de falta de
significado que o sujeito atribui a si mesmo, à sua vida, ou ao problema que o aflige. O cerne do existencialismo
é de fácil apreensão, mas as várias teorias aplicadas à Psicologia e à Psicoterapia que se aproximam de uma
concepção Existencial, já não são tanto. As propostas que consideramos, que fizeram mais “escola”, são: a
análise Existencial de Biswanger, Logoterapia de Frankl, a terapia da Gestalt de Fritz e a terapia centrada na
pessoa de Carls Rogers.
A ANÁLISE EXISTENCIAL
A análise existencial, tal como foi proposta dor Biswanger, deve ser devidamente relativizada, e considerado
sobretudo o ponto de vista do seu interesse histórico, uma vez que, se alguns dos pressupostos teóricos e
conceptuais se mantém actuais e pertinentes, muitos contributos posteriores de outros autores, transformaram a
técnica e a teoria.
As Origens
Ludwing Biswanger, é considerado o pai da análise existencial. Teve influência da psicanálise, e teve uma
relação privilegiada com Freud. Alguns anos mais tarde chegou à conclusão que a psicanálise convinha apenas a
alguns pacientes e que por isso mesmo era uma possibilidade terapêutica entre outras. Tinha grande interesse
pela filosofia e estabelecia contacto com importantes figuras do pensamento europeu, nomeadamente a
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fenomenologia de Husserl. Guiando-se para a “Daseinanalyse”, que ilustrou com o caso de “Suzan Urban”, um
estudo sobre a esquizofrenia. O termo “Daseinanalyse” (analise existencial) é uma criação de outro psiquiatra,
que assim designou as propostas de Biswanger
Um outro nome habitualmente referido como promotor da análise existencial, é Medard Boss, primeiro
psicanalista e a partir de 1946 e de uma relação privilegiada com Martin Heidegger, um dos nomes grandes da
psicologia existencial.
Aspectos Teóricos
A análise existencial defende uma atitude mais “compreensiva”, diferente da que considera a Psicanálise.
As posições teóricas da psicologia existencial conduzem-na à abordagem de alguns temas recorrentes como: a
vontade e a decisão, sendo que a terapia não deve aumentar a passividade do paciente mas sim o seu campo de
liberdade. Contra as teses atomistas, a Psicologia Existencial privilegia a unidade do ser e o desenvolvimento e
potencial humano.
Desenvolvimento Terapêutico
O objecto da abordagem terapêutica não é nem o sintoma, nem a doença, nem a estrutura, mas como
diria Rollo May, duas pessoas existindo num mundo: o mundo, neste momento, representado pelo
consultório do terapeuta.
A análise existencial não é uma técnica terapêutica (a presença do terapeuta é a questão mais importante
e anterior a qualquer técnica).
È pretendida uma reconstrução das vivências e uma reconstrução mental da biografia anterior, trabalho
este que Biswanger considera como totalmente criativo quer para o terapeuta quer para o cliente e que é
essencialmente construído por actos bilaterais de experiência, compreensão e interpretação (Biswanger,
1971).
Modalidades Praticas
Sessões semanais, cara à cara, com uma duração aproximada de 50min, podendo prolongaram-se em função da
necessidade do cliente.
Atitude do Terapeuta
O terapeuta existencial não considera o paciente como uma soma de pulsões, fantasmas e mecanismos de
defesa, mas sim como uma pessoa viva procurando um significado para a sua existência. É a pessoa que dá
sentido aos mecanismos e não o inverso.
Indicações
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A tónica no “si mesmo” implica que esta proposta terapêutica se assuma como sendo útil para qualquer sujeito,
em qualquer situação, que a procure.
LOGOTERAPIA
A Logoterapia foi considerada como a 3ª Escola Vienense, posterior à psicanálise de Freud à psicologia
individual de Adler. O seu promotor foi Viktor Frankl, psiquiatra, de formação psicanalítica.
O Fundador
Interessou-se pelos trabalhos de Freud, mas depois ligou-se mais a questões da liberdade humana, juntando-se
com Alfred Adler (psicologia individual), ruptura com o pensamento Freudiano. Em 1939, ruptura com Adler.
Em 1938 formalizou o seu próprio pensamento, influenciado por Jaspers e Heidegger e também pela filosofia de
Max Scheler. Considerava a sua proposta a mais fidedigna, era muito mais que uma mera análise da existência,
era uma verdadeira “psicoterapia baseada no sentido, que dá ao paciente uma nova orientação”. Entre 1942 –
1945 foi preso, prisioneiro de diversos campos de concentração, tal como outros Judeus. Após a guerra,
reiniciou a sua vida. Licenciou-se em filosofia e escreveu sobre o que tinha passado, a sua experiência pessoal,
sobre aquilo que acreditava e sobretudo sobre o que se constitui hoje como como uma das mais interessantes
propostas psicoterapeuticas de base existencial:
Aspectos teóricos
Logoterapia é sinónimo de análise existencial, contudo existem diferenças entra as propostas terapêuticas de
Frankl e Biswanger. A análise existencial não é “análise de existência” A logoterapia assenta na logoteoria, isto
é, uma teoria “dos valores de criatividade, vivência e atitude” tem sempre em vista duas dimensões que Frankl
considera como características antropológicas fundamentais da existência humana: a autotrancedência (“a
existência humana sempre está indicando algo que não é ela mesma – algo ou alguém, isto é, ou um sentido a
ser comprido ou uma existência social que é enfrentada) e o auto distanciamento (“a capacidade que caracteriza
a existência humana como tal, isto é, como humana”).
Afasta-se por isso muito de outras correntes existenciais de pensamento e de psicoterapia, já que busca o sentido
da vida, e não um sentido qualquer.
Relação Terapêutica (Deve ser concebida como uma nova relação, aberta a novos horizontes e não uma relação
transferencial que repita o passado).
Kairós (Designa o ponto critico em que o paciente ao ser capaz de aceitar a terapia, pode mudar).
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Objectivos
Globalmente a Logoterapia tenta fazer com que o paciente procure dar à sua vida um sentido concreto e pessoal.
A Logoterapia promove o restabelecimento no paciente da capacidade de trabalhar e sentir, mas também
desperta nele a capacidade de sofrer, isto é, dando sentido possível à própria existência.
Desenvolvimento terapêutico
Aspectos técnicos
As técnicas base ou os métodos mais específicos da Logoterapia são: a intenção paradoxal (é uma prescrição de
sintomas cuja finalidade é provocar modificações no estado psiconoético do cliente, que tenha adoptado um
sistema neurótico de respostas) e a de-reflexão (deslocar a atenção do cliente da sua preocupação central ou do
seu sintoma). Para além destas técnicas, outras já clássicas e usadas noutros contextos foram importadas para o
arsenal de dispositivos técnicos da Logoterapia, nomeadamente:
O diálogo socrático:
O paciente discute a si mesmo e o terapeuta intervém de uma forma habitualmente provocatória, no sentido de
promover a maiêutica.
Tentativa de sincronização do terapeuta com o paciente, através da imitação subtil de características não
verbais. (ex. respiração) Não se trata de uma imitação em espelho, mas de uma resposta reflexa traduzindo uma
compreensão reflexiva.
A técnica de apelação
Segundo Gomes não é possível defini-la, só exemplificar. Mas ainda assim, é um apelo à criatividade do
terapeuta e do cliente, deitando a mão a um conjunto de recursos que passam pelo uso do psicograma, de
diferentes materiais gráficos ou artísticos para facilitar a emergência de sentimentos adormecidos e da
compreensão da existência no próprio.
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Atitude do Terapeuta
A atitude do Logoterapeuta rege-se pelo princípio da autenticidade, sendo suposto que seja sincero e mantenha a
coerência pessoal, não analisando nem aconselhando. O pressuposto de “encontro” implica que a relação
terapêutica seja considerada como da responsabilidade de ambos os participantes.
Indicações
Considera que existem neuroses noógenas, são a indicação especifica da Logoterapia. Como terapia inespecifica
a Logoterapia pode ser usada nas neuroses psicogéneas e nas pseudo neuroses somatógeneas.
Contra-indicações
A maioria das personalidades limite e todas as situações psicóticas não beneficiam deste tipo de abordagem.
A TERAPIA DA GESTALT
Os Criadores
A terapia da Gestalt foi criada pelo “grupo dos sete” - Isadore From, Paul Weisz, Sylvester Eastmen, Elliot
Shaphiro, Laura Perls e Frederick Perls, no inicio dos anos 50 séc. XX. Na década seguinte a terapia da Gestalt
começou a ser difundida a partir de Esalen.
Esalen
Foi um dos primeiros a oferecer a possibilidade de experiências terapêuticas e formações diversas, sobretudo em
grupo. Muitas das abordagens eram corporais e em pouco tempo o instituto Esalen transformou-se numa Meca,
onde se cruzavam muitas tendências heterodoxas em que hippies, velhos beatnicks e novos gurus tinham o seu
lugar.
Fritz Perls
Em 1946 vai para os EUA abandona a prática da psicanálise e inicia em conluio com o “grupo dos sete”, que
após uma longa discussão sobre o nome passa a designar-se Gestalt-thépie.
Gestalt
Designa simultaneamente a forma e estrutura. Por um lado em referência à psicologia da Gestalt de Kohler, e
por outro, e sobretudo, porque é uma abordagem psicoterapêutica que considera os fenómenos psíquicos na sua
totalidade, não se tenta dissociar os elementos constituintes do conjunto em que estão integrados.
As influências
Perls, interessa-se pelo pensamento Oriental e especialmente pelo Zen, aproveitando algumas técnicas
respiratórias mas sobretudo a ideia de um pensamento diferencial, em oposição ao clássico e Ocidentalíssimo
pensamento. De Kurt Goldstein, retira a teoria organísmica e de Kurt Lewin, a teoria de campo. De Salomon
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Friedlander e de Buber, aproveita alguns outros conceitos que proporcionaram essa perspectiva holística, e
alguns aspectos de fusão conceptual, que constitui hoje a Terapia da Gestalt.
Afiliação Filosófica
Esta proposta terapêutica, que se situa na corrente da psicologia existencial, é para muitos, uma das bases mais
bem estabelecidas da abordagem humanista.
“A fenomenologia é, sobretudo, um método alternativo ao método cientifico dominate: ela nem afirma nem
rejeita a existência de um mundo “físico externo”; simplesmente insiste que a investigação filosófica comece
com o mundo nos únicos termos pelos quais podemos conhecê-lo – tal como é apresentado à consciência.
Portanto a filosofia deve tornar-se o estudo da estrutura da experiência subjectiva imediata.
Bases Teóricas
O indivíduo é uma forma total (Gestalt), diferente das suas partes e do somatório delas. O home é uma
totalidade integrada no seu ambiente, actuante e interactivo.
A awereness (consciência ou conscientalizaçao), caracteriza-se pelo contacto, pelo sentir, pela
excitação e pela formação da gestalt. O seu funcionamento adequado é compatível com anoção de
psicologia normal e as suas perturbações podem ser consideradas como psicopatologia.
O contacto é outro conceito importante, que na literatura gestáltica tem três sentidos diferentes:
3. Uma sequência necessária de eventos psicológicos no processo de formação da gestalt. (Cardella, 2002). É
possível contacto sem awereness, mas para que haja awareness é necessário contacto.
O sentir determina a natureza do awarenss, quer ela seja distante (e.g. acústica), próxima (e.g. táctil) ou
proprioceptiva. Inclui-se também os sonhos e os pensamentos.
A noção de excitação inclui a excitação fisiológica mas também as emoções indiferenciadas. “Inclui a
noção freudiana de catexis, o élan vital de Bergson, as manifestações psicológicas do metabolismo, e
dá-nos uma base para uma teoria simples da ansiedade”.
O conceito de gestalt inacabada traduz um ciclo iniciado pelo desejo de satisfação de necessidades que
cria uma tensão geradora de uma excitação sensitiva e motora, que conduz finalmente à satisfação desse
desejo. Se a satisfação não é obtida, a tensão continua e a gestalt é inacabada.
Perls chama maturação ao processo pelo qual a criança encontra e desenvolve o seu próprio potencial
de satisfazer activamente as suas necessidades.
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Em princípio, o homem é um organismo que restabelece o seu próprio equilíbrio. Mas esse equilíbrio
fica ameaçado quando a auto-regulação dá lugar ai controlo exterior.
Objectivos
Desenvolvimento terapêutico:
O trabalho do terapeuta é em função da experiência vivida, na situação terapêutica, das suas gestalt inacabadas,
através de sentimentos de impasse, do que deseja e evita.
Procura-se que:
Modalidades Práticas:
Típica da Gestalt, em que o indivíduo desempenha todos os papéis. Pretende-se trabalhar diferentes aspectos
terapêuticos:
O trabalho do terapeuta nesta técnica é convidar o paciente a sentar-se frente a uma cadeira vazia e pedir-lhe que
a imagine ocupada por uma pessoa significativa. Convida-o depois a entrar num diálogo com essa pessoa
imaginada destacando os aspectos não resolvidos. O terapeuta vai estimulando esse diálogo imaginário.
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Terminada esta tarefa o paciente troca de lugar, vai para a cadeira vazia desempenhar o papel da outra pessoa.
Sucessivamente o paciente vai ocupando a sua cadeira e a cadeira vazia, desempenhando os dois papéis. O
terapeuta pode intervir no sentido de facilitar.
A designação de psicoterapia não directiva, consiste na recusa em imprimir no cliente uma direcção qualquer.
A psicoterapia centrada no cliente ou na pessoa, consiste numa serie de contactos directos com o indivíduo, com
o objectivo de lhe oferecer assistência na alteração das suas atitudes e comportamentos.
Há uma tendência para empregar a expressão “consulta psicológica”, mais para entrevistas acidentais
“psicoterapia” para contactos mais prolongados e intensos. O mais importante independente dos termos que se
usem é que o técnico tenha um papel mediador.
Carl Rogers
Bases Teóricas
Segundo o pressuposto de Rogers, o organismo é uma totalidade que interage com um todo, o ambiente, em que
as duas noções de tendência actualizante e de regulação do organismo funcionam como bases explicativas para
o facto do individuo ter o poder de dirigir-se a si próprio e reorganizar a sua concepção do Ego.
A tendência actualizante é vista por Rogers como uma força positiva de crescimento, é um processo em que o
indivíduo se liberta dos seus obstáculos para prosseguir na direcção do seu próprio desenvolvimento. O
indivíduo possui em si mesmo uma capacidade de auto-regulação.
Um outro conceito importante é o de self (si mesmo). O self é aqui visto no sentido de conceito de si mesmo, ou
autoconceito, uma espécie de mapa que cada um possui sobre si mesmo e que permite ou não, um adequado
entendimento do que se passa consigo. O ajustamento pessoal é, alias, resultado da aprovação, desaprovação ou
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ambivalência que cada um tem sobre o conceito de si mesmo. Assim, durante o processo de terapia é esperavel
que o autoconceito percebido mude significativamente e de forma mais nítida que o self ideal.
O conceito de “experiência”, Rogers considera que é tudo o que se passa no organismo e está disponível à
consciência. Do seu ponto de vista, o processo terapêutico facilita que sentimentos reprimidos sejam
experienciados, quer dizer, se tornem conscientes de forma plena e aceitável, permitindo mudanças
psicológicas, fisiológicas concominates e um novo estado de insight.
Rogers considerou ainda que uma personalidade sadia seria expressa em 3 características: A abertura à
experiência, oposta à atitude defensiva, o indivíduo tem capacidade de se ouvir a si mesmo e aos outros e
experiência os acontecimentos sem se sentir ameaçado; O viver de modo existencial, viver cada momento actual
de forma consciente; e ser um organismo confiante, o indivíduo faz aquilo que acha adequado sem se submeter
a guias exteriores ou a decisões de conveniência.
No oposto a uma personalidade sadia está a existência de comportamentos defensivos, perturbações emocionais
e mesmo Psicopatologia que, segundo Rogers, podem ser entendidos em função da quebra de consideração
positiva do individuo perante si mesmo; da imposição de condições de valor por outros significativos; pela
incongruência entre o experienciado e que é necessário manter em consideração positiva frente a si próprio.
Objectivos
Esta terapia facilita um processo de mudança espontânea própria do cliente. Esta facilitação de mudança traz ao
cliente, e de acordo com Rogers, modificações relativamente estáveis na personalidade, nomeadamente:
Maior congruência, assim o cliente torna-se menos defensivo e mais aberto à experiência
Percepção mais realista quer no que concerne ao mundo envolvente quer ao seu Eu-ideal
O sujeito torna-se mais flexível e assim mais criativo, adaptado e capaz de resolver os seus problemas
Maior acordo entre o eu e o Eu-ideal e entre o eu e a experiência = menos tensão física e psíquica
Mais consideração em relação a si próprio, considera-se como fonte de experiência
Mais amplitude e variabilidade comportamento, sentindo-se mais competente a este nível.
Desenvolvimento Terapêutico
Para que tudo isto possa acontecer e para que o processo terapêutico possa ter lugar é necessário as seguintes
condições:
1. Que duas pessoas estejam em contacto, i.e., que cada pessoa produza uma diferença implícita ou explicita no
campo experiencial da outra.
2. Que a Primeira pessoa, o cliente, esteja em estado de incongruência que se traduz pela vulnerabilidade e
ansiedade.
3. Que a Segunda pessoa, o terapeuta, esteja congruente na sua relação com a primeira. Que o terapeuta seja ele
mesmo e que esteja presente na relação, não seja defensivo com os seus próprios sentimentos
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4. Que o terapeuta dê valor positivo a todas as manifestações da personalidade do cliente.
5. Que o terapeuta experimente uma compreensão empática do quadro de referência interna do cliente.
(“estado de empatia” consiste em perceber o quadro de referencia interna, com exactidão e com as componentes
emocionais e respectivos significados).
6. Que o paciente perceba as duas condições precedentes: a atenção positiva incondicional e a compreensão
empática do terapeuta a seu respeito.
Modalidades Praticas
A terapia centrada na pessoa começou por ser uma terapia individual, de frente a frente, no pressuposto da
autenticidade e congruência do terapeuta com uma regularidade semanal ou bissemanal.
A paráfrase, é um tipo de intervenção que clarifica e reformula os conteúdos expressos, permitindo por um
lado que o terapeuta dê conta do seu grau de compreensão do que foi dito e, por outro lado, o paciente dê conta
dos conteúdos que exprimiu.
A exploração realiza-se através de questões que tem como objectivo não só a obtenção de informação mas
também a compreensão dos limites da problemática vivida. A terapia centrada no paciente evolui rapidamente,
para uma extensa gama de aplicações e settings. Como:
– counselling, foco na dificuldade de adaptação e relação dos estudantes recém chegados ao campus
universitário e nas dificuldades académicas e para-académicas.
– Acompanhamento individual ou grupal para fins de “desenvolvimento pessoal” Foram usadas técnicas
provenientes de outras terapias, mas que não contradigam o pressuposto de não directividade.
Atitude do Terapeuta
A perspectiva Rogeriana caracteriza-se pela confiança, respeito e centração do processo terapêutico no cliente.
O terapeuta tem uma atitude global e diferente de outras técnicas e relações estabelecidas. Dá importância ao
presente
Indicações:
Recurso a uma extensa gama de técnicas de todas as proveniências (relaxamentos, técnicas gestalticas, logo-
terápicas, análise bioenergética, etc.), integradas num mesmo quadro teórico.
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Capítulo 4
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TERAPIAS COMPORTAMENTAIS
Wolpe, propõe a sua teoria da inibição recíproca, a partir da qual se desenvolveria a dessensibilização
sistemática.
Bandura e os processos vicariantes (as aprendizagens feitas por imitação e depois reforçadas). Os processos de
modelagem (Bandura e colaboradores).
Miller e o Biofeedback.
Kanfer e Philips e o manejo de contigências. Kelly (1955), e a perspectiva de que cada um constituía a sua
própria realidade através de um processo de experimentação e significação dessa experiência.
Ellis (1962) prestou uma especial atenção ao papel das crenças irracionais nas perturbações neuróticas e propôs
mesmo uma terapia racional – emocional.
Objectivos
Fazer das terapias psicológicas, terapias idênticas a outras, inscritas no modelo médico em que o tratamento do
sintoma era, em si mesmo, o tratamento da doença.
__
A terapia comportamental considera que a aprendizagem (neste caso novas aprendizagens) podem
modificar condutas inadaptadas.
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A terapia comportamental estabelece objectivos terapêuticos específicos e bem definidos.
A terapia comportamental acentua e privilegia o interesse da obtenção de apoio empírico para as suas
diversas técnicas e métodos.
O Condicionamento Clássico
Estabelece que um estímulo neutro pode ser condicionado no sentido de desencadear a reacção própria de um
estímulo absoluto, quando estes dois estímulos são apresentados de forma contígua algumas vezes.
O Condicionamento Operante
Também designado por instrumental, estabelece que em presença de um estímulo descriminado se executa um
certo tipo de resposta que, uma vez reforçada, tenderá a tornar-se mais frequente. Se várias respostas reforçadas
não se acompanharem de um reforço adicional, tenderão a extinguir-se. O reforço positivo pode aqui ser
substituído pela punição com idênticas consequências. É importante que o reforço da resposta a seleccionar, ou
a punição da resposta a suprimir, sejam imediatos ou temporalmente sequenciais.
A Modelagem
O reforço negativo: Negative reinforcement means increasing the rate or strength of a response by the removal
of some source of pain or tension after the response.(Wolpe, 1973)
A generalização: Intervém quando um comportamento adquirido numa situação particular pode ser transferido
para outras situações.
A discriminação: Ao contrário da generalização, intervêm quando uma resposta é dada numa situação, e não
noutra, que lhe é próxima.
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A aprendizagem social por imitação de modelos: É usado para desinibir uma conduta, aprender um
comportamento novo ou suprimir a angústia que acompanhe uma situação determinada.
Objectivos
Modalidades práticas
Dirigem-se sobretudo ao que é sentido como sintomas (fobias, compulsões, distúrbios sexuais).
Em geral são concebidas como intervenções breves (20 sessões/6 meses), com algumas excepções como
sejam as neuroses obsessivas e as depressões.
Técnicas utilizadas
A dessensibilização sistemática ou contra condicionamento, tem sido usada, com grande sucesso em fobias, de
acordo com o protocolo que comporta: Aprendizagem de relaxação; Hierarquização de situações ansiogénicas;
Confrontação mental com cada um dos itens descritos, partindo do menos para o mais ansiogénico, em estado
de relaxação; Confrontação com o real.
O Flooding (imersão), proposto por Nunes, 1994 (1966) consiste na exposição maciça dos estímulos
ansiogénicos com prevenção da resposta de evitamento. Provoca um intenso e prolongado estado de
excitabilidade que é seguido por um período emocional refractário (efeito rebound). O período de exposição
dura de 1 a 2 horas e o número de sessões varia entre as cinco e as dez.
A aversão. Ao conjunto de técnicas destinadas a eliminar condutas consideradas indesejáveis por recurso à
punição, à fuga-evitamento e ao condicionamento clássico, chama-se habitualmente de terapias aversivas. Estas,
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começaram por ser estabelecidas no plano experimental por Pavlov em 1927, associando a apomorfina a um
som, criando reacções de náusea ao som.
O uso de químicos e de choques eléctricos como estímulos aversivos estiveram provavelmente na base de um
extenso conjunto de críticas a este tipo de técnicas que, mesmo se revelando eficazes, levantaram objecções.
Dentro do modelo comportamentalista, Skinner (1953), por exemplo, comentou as eventuais substituições de
sintomas e Johnson (1972) referiu os aspectos penosos e dolorosos experimentados pelos pacientes.
De acordo com diferentes posições teóricas, assim diferentes autores promoveram diferentes técnicas
conducentes ao treino de aptidões sociais e de maior assertividade. São assim utilizadas técnicas tão variadas
como as aversivas, a dessensibilização sistemática, o desempenho de papéis a partir das situações problemáticas,
através de “role-playing” e os métodos de modelagem.
Atitude do terapeuta
Indicações
Cada técnica tem, ou pode ter indicações precisas.
A dessensibilização sistemática, como vimos, usa-se predominantemente em fobias mas também em outras
situações em que a dimensão da ansiedade seja importante como pode ser o caso de alguns problemas sexuais,
obsessões, ou algumas situações de falta de assertividade.
O flooding e a implosão destinam-se a situações de fobias e obsessões.
As técnicas aversivas foram utilizadas sobretudo em situações de adição e de parafilias.
O treino de auto-afirmação é, indicado em casos de timidez, inibição social e medo de contactos.
De acordo com Neto e Andrade (1998) “A terapia comportamental é útil para tratamento de um comportamento
disfuncional observável, passível de definição operacional, predízivel e actual. Deve ser possível estabelecer
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objectivos claros de tratamento e o paciente deve compreender e concordar com as técnicas que são
adoptadas.”.
Contra-indicações
Não é possível atender a situações em que não existem sintomas ou comportamentos disfuncionais.
AS PSICOTERAPIAS COGNITIVAS
Mahoney situa com precisão a primeira revolução cognitiva em Setembro de 1956, data em que se realizou um
simpósio sobre teoria da informação no M.I.T., e afirma que “a primeira revolução cognitiva foi firmemente
estabelecida sobre os modelos e os métodos da cibernética e da ciência dos computadores. O Processamento de
Informação tornou-se um sinónimo da psicologia cognitiva e a computação era a metáfora preferida do
conhecimento.” (1991, p.85).
Depois dessa revolução cognitiva, surgiu uma outra (2º revolução cognitiva) que rejeitava os primeiros modelos
de computação e fazia apelo ao Conexionismo.
O Conexionismo deve aqui ser entendido como o herdeiro do Associacionismo clássico numa formulação de
neurociência computacional em que, abordagens da teoria dos sistemas, da computação e da inteligência
artificial se juntam para modelar as aprendizagens humanas e os seus processos cognitivos (perceptivos e
conceptuais).
Numa terceira revolução cognitiva, toma agora como objecto as propriedades auto-organizadoras de todos os
sistemas vivos. Mais importante do que mapear o mundo percebido pelo sistema nervoso, é perceber como este
sistema participa na criação das suas próprias experiências. Maturana, assumiu que todos os sistemas biológicos
possuem processos oponentes, quer dizer, processos dinâmicos e complementares, que são autopoiéticos
(literalmente significando autocriação ou autoprodução).
Um sistema autopoiético é, de acordo com Varela (1979), um tipo particular de organização, que pode ser
definida como unidade, em que uma rede de processos de produção, asseguram que os seus componentes
através de interacções e transformações permanentes, concretizem e regenerem a própria rede que os produz.
O facto de se considerar que todos os sistemas vivos são auto-referenciais; Que são inerentemente adaptados ou
adaptativos; Que são organizacionalmente fechados e nesse sentido tendem a manter a sua identidade; Que são
estruturalmente determinados; Aquilo que o sistema vivo faz, e o que um observador considera que esse sistema
faz, são duas enunciações deveras diferentes.
Mahoney (1991) destaca aquilo que, do seu ponto vista, é o contributo da teoria autopoiética:
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A importância da integridade da coerência ou da organização sistémica para a sobrevivência dos seres
vivos;
A rejeição do representacionismo;
A importância dada à linguagem e aos símbolos como meio primordial da interacção humana;
Se são muitos os percursores de uma psicologia cognitiva experimental e de uma psicologia social cognitiva, no
campo restrito das psicoterapias, Mahoney (1987) referia que em 1970 só se podia falar com rigor de três
terapias cognitivas: A Terapia dos Constructos Pessoais de Kelly, A terapia Racional Emotiva de Ellis e A
Terapia Cognitiva de Beck.
Em 1955 é publicado “The psychology of personal constructs” em que Kelly explana a “metáfora prodigiosa”
entre o comportamento científico e o comportamento do cidadão comum.
Da mesma forma que os cientistas formulam teorias, geram hipóteses, levam a cabo experiências e vão
ajustando a sua teoria à experiência; as pessoas comuns constroem a sua própria realidade, têm em relação a ela
expectativas e antecipações, comportam-se de acordo com essas expectativas e vão aperfeiçoando a sua
compreensão da realidade com base nas suas experiências.
BASES TEÓRICAS
Corolário da construção: Uma pessoa antecipa os acontecimentos quando constrói as suas reproduções exactas;
Corolário da experiência: O sistema de construção de uma pessoa varia à medida que sucessivamente constrói
as reproduções exactas dos acontecimentos;
Corolário da dicotomia: O sistema de construção de uma pessoa é composto por um número finito de
constructos dicotómicos;
Corolário da organização: De forma característica, cada pessoa desenvolve um sistema de construção que
engloba relações específicas entre os constructos;
Corolário da categoria: Um constructo é conveniente para a sua antecipação exclusivamente para uma
categoria finita de acontecimentos;
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Corolário da modulação: A variação do sistema de construções de uma pessoa está limitada à permeabilidade
dos constructos, dentro dos quais se encontram as características de conveniência;
Corolário da selecção: Uma pessoa selecciona ou escolhe, para si, uma alternativa de um constructo dicotómico
através do qual pode antecipar uma maior possibilidade de abrangência e definição do seu sistema;
Corolário da individualidade: As pessoas diferem umas das outras nas construções dos acontecimentos;
Corolário da globalidade: Sempre que uma pessoa utiliza uma construção de experiências similares à utilizada
por outra, os seus processos psicológicos serão parecidos com os dessa pessoa;
Corolário da fragmentação: Uma pessoa pode usar sucessivamente uma construção de subsistemas, sendo estes
hipoteticamente incompatíveis com o resto;
Corolário da socialização: A partir do momento em que uma pessoa constrói os processos de construção de
outra, esta pode ter um papel nos processos sociais que envolvem a outra pessoa.
OBJECTIVOS
Do ponto de vista terapêutico a proposta de Kelly é a de utilizar estratégias, com o objectivo da reconstrução de
constructos que se mostram inadequados e não permitam nem antecipações nem posteriores ajustamentos.
MODALIDADES PRÁTICAS
A técnica mais destacada por Kelly a “fixed-role therapy” consiste na proposta ao cliente de uma auto-
descrição realizada na terceira pessoa, a chamada “busca do carácter”.
É-lhe depois solicitado que descreva uma outra pessoa imaginária ou pretendida, a chamada “busca do
papel fixo”.
De acordo com as premissas teóricas de Kelly, os novos constructos produzidos seriam independentes
dos originais apesar de se referirem à mesma categoria de elementos.
O treino dos desempenhos dessa nova personagem era feito em consultório através de “role-playing”.
Seguidamente era solicitado ao cliente o desempenho permanente, por um prazo de uma ou duas
semanas, desse novo papel.
Findo esse período, reiniciava-se o processo, desta vez com uma outra figura imaginária.
Ellis foi levado a concluir que muitas das perturbações psicológicas dos seus clientes radicavam nas
interpretações falsas ou irracionais que estes faziam a propósito dos seus comportamentos e dos outros.
Dedicou-se assim à análise das distorções cognitivas que foi encontrando na sua prática clínica. As que se
referiam à necessidade de aprovação constante, as dificuldades de lidar com insucessos específicos sem passar a
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generalizações, as hetero atribuições descomprometedoras e desresponsabilizantes, a auto justificação em
função da própria biografia, etc.
BASES TEÓRICAS
A terapia emocional-racional postula que o principal elemento do distúrbio psicológico se encontra associado a
uma avaliação irracional que o sujeito faz da realidade da situação que o rodeia. Essa avaliação é produto de
uma atitude dogmática e de exigências absolutas que o sujeito exerce sobre si mesmo, os outros e a própria vida,
em lugar de atitudes do tipo probabilísticas (Caballo, 1996).
São exactamente essas ideias absolutistas e dogmáticas que boicotam os objectivos e metas pessoais, gerando
comportamentos e emoções que, em vez de os facilitar, os dificultam ou bloqueiam, provocando os dois tipos de
perturbações psicológicas mais comuns:
As perturbações do Eu, em que o individuo se auto condena como resultado das suas exigências
absolutistas;
As perturbações do desconforto, em que o patamar de exigências traduz as crenças do individuo (o
“deve ser”).
Do pensamento irracional, considera Ellis que surgem três inferências, que a terapia racional-emocional
combate:
Ellis considera que, para lá destas inferências, existem um conjunto de distorções comuns quando o indivíduo
está perturbado, nomeadamente:
O pensamento do tipo “tudo ou nada”;
O pensamento centrado nos aspectos negativos;
O pensamento do “sempre e do nunca”;
O raciocínio emocional;
A rotulação e a super-generalização;
A personalização;
O perfeccionismo.
OBJECTIVOS
Sobreviver e manter-se vivo; Ser relativamente feliz; Viver com sucesso dentro do grupo social a que pertence;
Experienciar relações significativas com um ou mais indivíduos; Trabalhar de forma produtiva e criativa.
DESENVOLVIMENTO TERAPÊUTICO
42
Ellis propôs um método terapêutico destinado exactamente a corrigir estas crenças irracionais, através de uma
reestruturação racional operada com a ajuda do terapeuta e que passou a ser conhecida como o modelo ABC.
De acordo com este modelo. O acontecimento activante (A) não produz directamente as consequências (C) que
podem ser emocionais (Ce) e/ou comportamentais (Cc), o que permite a pluralidade de respostas verificadas
perante os mesmos estímulos.
A consequência (C) é antes produzida pela interpretação que se dá ao acontecimento activante (A), ou seja,
pelas crenças (B- Beliefs) que geramos sobre determinada situação. Se a crença (B) é lógica, funcional e
empírica, considera-se racional (rB), se não o é, considera-se irracional (iB) (Caballo, 1996).
Este modelo tem um conjunto de premissas simples mas de extensas consequências, nomeadamente que:
MODALIDADES PRÁTICAS
Pelo facto de tentar cobrir as dimensões comportamentais, emocionais e racionais, as técnicas usadas
foram, ao longo dos anos, sendo sucessivamente ampliadas, incorporando toda a gama de contributos
considerados úteis para o fim em vista.
Destacamos, pela sua originalidade, o processo de debate que inicia e pontua toda a intervenção
terapêutica.
Este debate, que pode ser empírico, filosófico ou socrático, consoante se centra nas inferências
irracionais, no pensamento dogmático ou no questionamento e refutação de qualquer tipo de crenças,
tem sempre como objectivo final a aquisição de crenças racionais.
A Terapia racional-emocional usa praticamente todas as formas de terapia individual e de grupo
ATITUDE DO TERAPEUTA
O processo terapêutico racional-emotivo é directivo, activo e com uma componente educacional forte, muito ao
jeito do próprio Ellis.
“Rational-emotive therapists generally do not spend a great deal of time listening to the client’s history,
encouraging long tales of woes, sympathetically getting in tune with emotionalizing, or carefully and incisively
reflecting feelings. They may at times use all these methods; but they usually make an effort to keep them short,
since they consider most long-winded monologues of this nature a form of indulgence therapy, in which the
43
client may be helped to feel better but rarely aided in getting better. Even when these methods work, they
considered highly inefficient, sidetracking, and often unhelpful.” (1979, p.205).
BASES TEÓRICAS
Beck, escreveu, “Os pressupostos gerais nos quais se baseia a terapia cognitiva incluem os seguintes”:
1. A percepção e a experiência, em geral, são processos activos, que compreendem tanto dados de inspecção
como de introspecção.
2. As cognições do paciente representam uma síntese de estímulos internos e externos.
3. A maneira como uma pessoa avalia uma situação geralmente se evidencia em suas cognições (pensamentos e
imagens visuais).
4. Essas cognições constituem a “corrente de consciência” ou campo fenomenal da pessoa, que reflecte a
configuração que a pessoa tem de si mesma, seu mundo, seu passado e seu futuro.
5. Alterações no conteúdo das estruturas subjacentes da pessoa afetam seu estado afectivo e seus padrões
comportamentais.
6. Através da terapia psicológica um paciente pode tomar conhecimento de suas distorções cognitivas.
7. A correcção desses constructos disfuncionais falhos pode levar à melhoria clínica.
Beck começou por considerar que as cognições se organizam em esquemas, esquemas esses que por um lado
acabam por ser padrões habituais da abordagem do real e por outro se constituem como unidades próprias do
funcionamento cognitivo.
Mais tarde (Beck & Clark, 1988) passou a designar estes esquemas por estruturas ou proposições cognitivas e
juntou-lhe duas outras categorias, aceitando as propostas de Ingram e Kendall (1986): As operações ou
processos cognitivos e os produtos cognitivos.
O resultado destes disfuncionamentos, ao nível dos produtos cognitivos, traduz-se em pensamentos automáticos.
OBJECTIVOS
O protocolo terapêutico proposto por Beck, visa assim a avaliação das estruturas, processos e produtos
cognitivos com vista à transformação das dimensões disfuncionais, a partir de:
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Estratégias cognitivas, que buscam a reestruturação do pensamento; Estratégias imagéticas, que trabalham a
alteração das imagens distorcidas do cliente; Estratégias emocionais que vão no sentido da aceitação das suas
diferentes emoções e na sua discriminação cuidada; Estratégias comportamentais, que implicam o confronto
das novas aquisições com novas e mais complexas situações;
MODALIDADES PRÁTICAS
A primeira entrevista recolhe informação biográfica e informação sobre o sintoma; deve avaliar o risco de
suicídio (no caso de depressão); deve avaliar sobre a motivação para a terapia e deve ainda dar algum feedback
do encontro.
Na segunda entrevista são completados os dados em falta, são fornecidas algumas informações sobre o processo
terapêutico e é atribuída uma tarefa (trabalhos de casa) para a entrevista seguinte, habitualmente recolher ideias
anteriores a uma sensação desagradável.
O processo terapêutico decorre depois, implicando o treino de tarefas de auto-registo, o uso de estratégias de
activação do comportamento, o treino de identificação de cognições, a focalização de crenças valorizadas e a
exploração dos pressupostos subjacentes e finalmente, a preparação para o fim da terapia e o evitar de recaídas.
O condicionamento coberto refere-se a processos simbólicos (cobertos) inerentes àquilo que Skinner descrevera
como condicionamento operante (reforços positivo e negativo, extinção, estimulação aversiva, perda de reforço,
e modelagem). Não se constitui, por isso, como uma efectiva novidade mas, tão só, como a assumpção de que
por comportamento se deve entender as manifestações observáveis tais como actividades motoras ou verbais e
também as manifestações não directamente observáveis como sejam o pensamento, as emoções, as imagens
mentais e as crenças.
Homme (1965) propôs que os pensamentos humanos pudessem ser considerados como operantes cobertos, ou
seja, respostas internas que ainda que não observadas, operavam no ambiente e que, portanto, obedecem aos
mesmos princípios do comportamento, sendo por isso passíveis de manejo contingencial e de estratégias de
controlo. Assim, poder-se-ia falar de reforço positivo coberto, de reforço negativo coberto, de extinção coberta,
sensibilização coberta, modelagem coberta, controle coberante e paragem de pensamento.
Desenvolvimento terapêutico:
definição operacional dos comportamentos;
avaliação das relações de contigência;
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avaliação da capacidade imagética;
conceptualização terapêutica;
apresentação do racional;
treino de imaginação;
emparelhamento entre imaginação das respostas e imaginação das consequências;
prática independente.
avaliação
O paradigma do autocontrolo
O paradigma do autocontrolo rompe, de facto, com a clássica ideia de que o comportamento é função do meio e
assume que o inverso é igualmente verdadeiro, ou seja, de que o meio pode ser função do comportamento. No
cerne fica portanto, o indivíduo, não só como “dono” de processos internos capazes de inferir relações
contingenciais, mas também como protagonista dos seus próprios comportamentos.
O controlo ambiental consiste em acções que o sujeito desenvolve previamente ao comportamento que quer
alterar.
Neste modelo tenta-se igualmente reduzir o efeito das alterações temporárias nas variáveis biológicas e
ambientais, no comportamento do sujeito, implicando-o a impor-se objectivos consistentes ao longo do tempo e
das diversas situações.
A auto administração é importante quando uma sequência comportamental tem que ser aprendida, quando é
preciso fazer escolhas sobre respostas alternativas e quando as respostas habituais não são eficazes. Neste
processo sublinha-se uma sequência de estádios, operados pelo próprio sujeito:
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O Modelo de Auto-Regulação de Bandura (1986)
Neste modelo a auto-regulação é definida como um mecanismo interno de controlo que assenta em três fases
distintas e complementares de um mesmo processo:
Desenvolvimento terapêutico
O protocolo terapêutico deve assim respeitar uma sequência dos seguintes aspectos:
auto-observação ( como instrumento de auto diagnóstico, como instrumento auto-motivacional);
discriminação;
registo;
avaliação e estabelecimento de objectivos;
controlo dos estímulos;
alteração do contexto físico;
alteração do contexto social;
alteração da função discriminativa dos estímulos;
controlo das consequências;
selecção das consequências apropriadas;
definição das contigências;
aplicação do programa;
procedimentos de verificação e revisão;
avaliação.
Os objectivos do paradigma das aptidões de confronto são: a aquisição de variadas aptidões de confronto; a
utilização dos recursos do meio ( ambiente e recursos físicos); uma atitude positiva e criativa face à realidade
que se traduzem, do ponto de vista dos programas terapêuticos e de acordo com Larson (1984):
47
na identificação de aptidões específicas de confronto;
no uso de métodos sistemáticos de ensino dessas aptidões;
no desenvolvimento de programas de dissiminação das aptidões de confronto.
“Para o paradigma da reestruturação cognitiva a etiologia das perturbações psicológicas terá de ser encontrada
na forma como os indivíduos conceptualizam a realidade, bem como nos mecanismos de processamento de
informação que lhe estão associados. De igual modo, a modificação desses processos cognitivos, ainda que
facilitada por metodologias de natureza comportamental ou mesmo emocional, deverá ser privilegiadamente
procurada no recurso a técnicas, também elas, cognitivas. Por outras palavras, com o paradigma da
reestruturação cognitiva quer o objectivo quer a metodologia do processo terapêutico passam a ser
predominantemente cognitivos”. (Gonçalves,1993).
Consiste em “ identificar, modelar e ensaiar com o cliente as cognições consideradas mais adaptadas para as
diferentes situações problemáticas” de acordo com o protocolo: identificação de auto-verbalizações adaptativas;
modelagem cognitiva; instruções externas abertas; auto-instruções abertas; auto-instruções esbatidas; auto-
instruções cobertas; aplicações e seguimento.
48
pessoal significativas.
Nível de intervenção Atenção aos processos do self, estruturas de Dramatização de relacionamentos
papéis centrais, constructos ou premissas íntimos, questões circulares, prescrição de
familiares rituais.
Estilo de terapia Pessoal ao invés de autoritário; entendimento Abordagem ingénua, adopção de uma
empático da perspectiva do cliente como base abordagem de “não-saber”, elaboração de
de negociação metáfora ou história
Abordagem em relação à É entendida como uma tentativa legítima de “aceitação” da resistência, externalização
resistência proteger os processos profundos de ordenação; do problema, identificação dos ganhos
modulação do ritmo de mudança. específicos.
Abordagens estratégicas
Destaca o papel do terapeuta. Kelly e a teoria dos constructos pessoais, Neymeyer. enfatizam a natureza
ficcional de qualquer teoria ou hipótese, o papel geralmente apaixonado, do conhecimento pessoal na
actividade científica e os paralelos entre os períodos de crise de desenvolvimento pessoal com as
transformações drásticas nos pressupostos básicos que determinam uma mudança de posição do paradigma
científico. (Neimeyer,1995).
É uma abordagem desenvolvimental em que, mais importante que as mudanças cognitivas e comportamentais
recentes, é a forma como as “regras pessoais de vida” e os “primeiros esquemas mal-adaptativos” e carregados
emocionalmente, sustentam problemas psicológicos actuais.
O self, do ponto de vista de Guidano (1991), é um processo dinâmico de construção e reconstrução da realidade,
capaz de tornar consistente a experiência contínua da organização individual. Nesta perspectiva, a terapia é
também um processo emocional de análise desenvolvimental em que se busca, na história do sujeito, sentidos
perseverados no seu self actual.
“ A concepção aqui proposta implica repensar o papel da narrativa no contexto do saber clínico. Primeiro, a
narrativa não é um processo evocativo mas sim um processo construtivo; o processo de evocar uma narrativa
é um direccionamento activo por si só potenciador da construção de realidades alternativas. Em segundo lugar,
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a evocação de uma história não reconstrói uma verdade histórica mas, bem pelo contrário, organiza-se em
redor de uma verdade narrativa indiciadora da natureza inerentemente criativa do acto de existir. Numa
palavra, a narrativa encerra em si própria todos os elementos de um acto criativo, e é da construção deste acto
criativo que se alimenta o sucesso terapêutico.” (Gonçalves,2000)
Próximos da terapia narrativa mas também de modelos mais sistémicos, está uma outra abordagem que entende
a conversação terapêutica como: “uma forma emocionalmente ressonante de troca simbólica ou performance,
muito mais que uma mera linha verbal de asserção totalmente distinta dos sentimentos e dos comportamentos”
(Neimeyer, 1995, p.26).
Aqui o terapeuta tem como objectivo, através da utilização de perguntas circulares, agir como gestor da
conversação e co-construtor de uma nova história para a família.
Psicoterapias de “terceira geração” da terapia comportamental e cognitiva
Visam: ajudar a lidar com o sofrimento associado a emoções e pensamentos problemáticos; o foco é o contexto
e função dos pensamentos e emoções, ou seja, não se trata tanto de mudar os pensamentos e as emoções, mas
sim de trabalhar a atitude ou relação com estes; esta mudança é conseguida através de estratégias essencialmente
experienciais e com incorporação de técnicas baseadas na meditação.
Mindfulness
Mindfulness, traduzido como Atenção Plena, é um estado de atenção do momento presente no qual se toma
consciência dos pensamentos, sensações físicas, emoções ou eventos quando estes ocorrem, sem reagir duma
forma automática ou habitual.
Esta abordagem permite escolher como responde ao que vai acontecendo e, consequentemente, ter uma vida
mais rica e preenchida, mesmo quando vivenciando circunstâncias difíceis.
Origens
O Mindfulness-Based Stress Reduction program de Jon Kabat-Zinn (1979) na University of Massachusetts para
o tratamento da doença crónica
Treino é eficaz na diminuição de problemas psicossomáticos (Grossman, Niemann, Schmidt & Walach, 2003),
dor crônica (Kabat-Zinn, Lipworth, Burney & Sellers, 1986), fibromialgia (Kaplan, Goldenberg & Galvin,
1993), transtornos de ansiedade (Kabat-Zinn et al., 1992; Roemer & Orsillo, 2002), psoríase (Kabat-Zinn et al.,
1998).
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Mindfulness na prevenção de recaída de depressão
Segal e Ingram (1994), Segal, Williams, Teasdale e Gemar (1996), Williams, Teasdale, Segal e Soulsby (2000)
e Teasdale et al. (2002).
A Terapia Comportamental Dialética é um programa desenvolvido por Linehan (1987), especificamente para o
transtorno de personalidade borderline. Linehan (1993) introduz o treino de mindfulness no princípio do treino
de habilidades sociais, uma das partes essenciais do programa.
A ACT (Acceptance and Commitment Therapy) foi desenvolvida a partir da releitura contextualizadas do
processo psicoterapêutico (Hayes, 1987). O modelo postula que os transtornos de ansiedade são decorrentes da
socialização da pessoa de acordo com contextos sócio-verbais patogênicos(Hayes, Pankey & Gregg, 2002).
Mindfulness nas terapias cognitivas e comportamentais. Luc Vandenberghe & Ana Carolina Aquino de Sousa .
Rev. Brasileira de terapias cognitivas, v.2 n.1 Rio de Janeiro jun. 2006.
51
Capítulo 6
Psicoterapias de grupo
As Psicoterapias de grupo constituem-se, na actualidade, como uma enorme, talvez mesmo maioritária parte,
das intervenções psicoterapêutica.
O sujeito tomado como indivíduo e os grandes grupos em que aparentemente a individualidade se dilui, existem
muitos outros, de dimensões e objectivos diversos, em torno dos quais as pessoas desenvolvem os seus trajectos
de vida. Os seus grupos de pertença, como sejam família, a etnia, a religião, os amigos de infância, de
actividades ou de aprendizagem, constituem importantes, mesmo definitivos, recursos não só sociais como
psicológicos. Esperamos deles, e sentimo-nos devedores num sistema de reciprocidade relativa, de apoio,
companhia, reconhecimento, afectos vários, ao longo de toda a vida.
52
A participação em grupos terapêuticos e psicoterapêuticos começou a ser valorizada como uma possibilidade de
ganho maior e acrescido, que nenhuma psicoterapia individual poderia permitir. É assim que hoje encontramos,
praticamente ligadas a quase todas as terias e modelos que explicam e orientam as práticas psicoterapêuticas
fórmulas grupais que, para lá de todos os seus conceitos, se debruçam também sobre essa entidade especifica e,
por vezes, de difícil apreensão designada “grupo”.
O GRUPO
Embora muita da investigação sobre grupos seja relativamente recente e se inscreva em interesses centrados nas
dinâmicas organizacionais, o reconhecimento de que um grupo é uma entidade diferente de qualquer dos seus
membros e do mero somatório de interacções é antigo, e produtor de muitos e diversos discursos sobre as
formas, qualidades, características e especificidades dos agrupamentos humanos.
O estudo dos grupos tem permitido sistematizar um conjunto de características específicas e mostrar as
diferenças e as semelhanças que diferentes formas de agrupamentos humanos têm habitualmente. É pretendido
perceber, o que se pode esperar de cada agrupamento particular em função de um conjunto de variáveis
importantes na vida em sociedade e na interacção social, nomeadamente no que se refere á estrutura que
desenvolvem, isto é, o grau de organização interna e diferenciação de papéis; aos tipos de relações que os
membros desenvolvem entre si; aos efeitos que essa pertença ou participação tem ao nível das crenças e das
normas; à consciência dos fins ou objectivos que perseguem ou estão em jogo e também, talvez sobretudo, às
acções comuns que cada tipo de agrupamento humano é capaz de encetar e desenvolver.
De todos os agrupamentos humanos são os grupos primários e secundários aqueles que mais nos interessam de
momento, por referências às psicoterapias. Os grupos primários caracterizam-se pelo baixo número de
participantes, permitindo relações próximas e ricas e tanto podem ser grupos naturais como sejam as famílias,
como grupos informais de amigos ou indivíduos partilhando interesses ou objectivos comuns. Por seu lado, os
grupos secundários, também designados como organizações, podem ter relações meramente funcionais e
possuírem bastantes mais elementos que os primeiros mas, em alguns casos, podem estruturar-se de forma a
alcançar objectivos relevantes.
De acordo com Rattner existem um conjunto de “leis” da interacção grupal, sendo as mais relevantes
resumidas da seguinte forma:
Interacções frequentes entre as mesmas pessoas tendem a criar simpatias entre elas e a respectiva
expressão, para lá do convencional.
A maior interacção entre os membros de um grupo implica uma maior comunhão de actividades e
sentimentos e uma maior semelhança entre elas (do que as que tem com outros sujeitos menores
interacções).
Os discursos individuais entre indivíduos de um mesmo grupo sobre um mesmo tema, tendem a ser
semelhantes mesmo que as práticas individuais difiram.
53
Quanto maior destaque um dos membros tiver, num grupo, maior será a sua conformidade às normas
desse grupo e mais interacções terá, o que significa também que, quanto mais conforme o individuo
estiver em relação às normas do grupo, maior é a probabilidade de ser destacado pelo grupo e de ser
procurado por mais membros para mais interacções.
Para além dos fenómenos que o grupo promove nos sues membros destacou-se o chamado “comportamento
grupal” e de acordo com Davis (1969) considerou-se que este é função de três variáveis: individuais
(personalidade, capacidade, motivação); as ambientais (que dizem respeito ao contexto em que ocorre e decorre
o grupo); as de tarefa ou objectivos (relacionadas com as razões pelas quais o grupo se forma e eventualmente
se mantém.
As classificações de grupos dependem, em muito, da definição escolhida. Ainda assim, pode-se chegar a uma
definição de grupo que tenha em atenção diferentes parâmetros e características, nomeadamente “um grupo é
um conjunto de sistemas mutuamente interdependentes de sistemas comportamentais que não apenas exercem
influência mútua, mas também respondem a influências externas. A noção de grupo podem parecer menos
misteriosa, se for imaginada como composta, em primeiro lugar de um conjunto de pessoas e, em segundo, de
uma colecção de pessoas interdependentes” (Davis, 1969)
Seja qual for a definição que se escolha, pode-se afirmar que o grupo é uma entidade única, nascida da
interacção de vários indivíduos, sobre a qual foi descobrindo que tinha, em si, virtualidades utilizáveis em
contextos terapêuticos e psicoterapêuticos.
Os grupos de auto-ajuda
Um eixo importante dos primórdios da conceptualização das teorias de grupo tem a ver com os chamados, e
hoje muito divulgados, grupos de ajuda. Estes, começaram por se desenvolver nos EUA, por volta de 1935 e em
torno de uma problemática específica, o alcoolismo. Apareceram assim os Alcoólicos Anónimos que se
constituíram como grupos de pares, por referência a uma problemática comum, sem grandes ideias nem outros
objectivos que não fossem a comunhão e partilha de vivências de todos conhecidos, eventuais aprendizagens
decorrentes e o suporte correlativo à própria situação. Lieberman (1993) considera que: “Esses grupos
partilham três elementos básicos: a intensidade da necessidade expressa por aqueles que se lhes juntam; a
exigência de compartilhar com o grupo algo pessoal, por banal que seja, e a semelhança real ou percebida em
seu sofrimento”.
No entanto, a característica absolutamente diferenciada deste tipo de grupos de outros que se pretendem com
equivalentes dimensões terapêuticas, é o facto de não existir um terapeuta ou líder formal.
Os grupos de auto-ajuda geram um forte sentimento de pertença que é ainda mais acentuado pelo facto de haver
uma problemática comum estigmatizante e, por consequência, uma enorme coesão. Diz Lieberman (1993): “O
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alto nível de coesão, a semelhança percebida e a percepção de que os membros são diferentes dos outros
situados fora do refúgio do grupo influenciam o relevo de ser um participante. O grupo assume características
de um grupo primário; ele se torna semelhante à família e serve de novo grupo referencial. Estas condições
grupais dão aos membros um senso de apoio, aceitação e normalização de suas aflições percebidas”.
A posição habitual dos técnicos de saúde mental (psicoterapeutas, psicólogos e psiquiatras) em relação a estes
grupos que, ostensivamente, os dispensam e aos seus saberes e fazem do vivido experiencial a questão central
de pertença e de mudança é, inevitavelmente, pouco entusiástica. Sustentam que estes grupos funcionam
catarticamente não promovem um verdadeira autonomia.
Ainda assim é comum, em contextos de saúde, a utilização de grupos de auto-ajuda, inaugurados e dinamizados,
num primeiro momento, por técnicos responsáveis e de seguida entregues a participantes seniores. Estes grupos
de características abertas, quer dizer permitindo a entrada de novos membros e a eventual saída de outros que
vão encontrando recursos para lidar com as situações e circunstâncias, têm em comum, habitualmente uma
patologia ou um acontecimento de vida (e.g. mulheres mastectomizadas, pais de crianças com um dada doença,
entre outros)
Nestes contextos pretende-se que as pessoas que partilham experiências comuns, habitualmente dolorosas e de
consequências extensas, possam perceber que não são as únicas e que outros indivíduos com problemas
semelhantes encontraram, ou estão em vias de encontrar soluções ou formas mais ajustadas de lidar com
problemáticas idênticas. O grupo torna-se num factor de suporte considerável, muitas vezes promotor de
importantes mudanças de atitudes individuais e de desenvolvimento de acções comuns.
Os grupos conhecidos mundialmente como T-Grupo ou Training-Group foram um outro movimento, com
características muito diferentes dos grupos de auto-ajuda, mas igualmente permitindo um contributo muito
importante para as actuais terapias grupais.
Kurt Lewis (1890-1947) foi o seu percursor. Destaca o conceito de “campo dinâmico” em que se refere
especificamente às pressões exercidas sobre o sujeito a partir de um muindo que o rodeia e que possui
características diferenciadas dos pontos de vista social, cultural, politico mas também psicológico, físico e
biológico. Natural é que tenha começado a interessar-se por estes sistemas de interacções e jogos de força, que
constituem os grupos.
Em 1983, interessa-se pelos problemas dos grupos e lança os fundamentos de uma “dinâmica de grupo”. De
seguida em 1945, aparece pela primeira vez a fórmula dos T-Grupo (training), ou seja, grupos centrados sobre si
próprios, em que o treino em vista é o da optimização relacional, da compreensão dos fenómenos de grupo e do
desempenho de cada um dos participantes nessa interacção dinâmica.
A ideia inicial, surgida ocasionalmente e em consequência de reuniões com professores, animadores, directores
de uma escola em que se instalou um clima de feedback permanente, era de reunir um grupo de indivíduos
55
(entre 8 e 15), na presença de um animador, apesar de tudo não actuante, e sem outra tarefa que não fosse pensar
no próprio grupo e as experiencias que iam acontecendo. Os objectivos eram os de:
Oferecer aos participantes uma experiência de grupo restrito, único âmbito no interior do qual se podem
estabelecer relações humanas de todos os membros numa base interpessoal.
Oferecer aos participantes uma experiência de grupo centrada na comunidade humana e nas suas
exigências de autenticidade.
Oferecer aos participantes uma experiência de grupo no decurso da qual as suas relações com as figuras
de autoridade pudessem evoluir e tornar-se mais autónomas, já que os conflitos com a autoridade são
considerados como a fonte mais frequente dos impedimentos e das filtragens de comunicação no
interior dos grupos humanos.
Os grupos de encontro
Os Grupos de encontro dos quais o principal promotor é Rogers, decorrem em grande parte do trabalho pioneiro
dos T-Grupo e, obviamente, das formulações pessoais decorrentes do conceito de não directividade.
Bases teóricas
Modalidades práticas
De uma forma mais pragmática deve ainda ser acrescentado que estes grupos que alastraram por todos os EUA e
que depois se expandiram para a Europa, constituíam-se por 10 a 20 participantes, convidados a exprimir
livremente os seus sentimentos, emoções e reacções em relação no “aqui e agora”. Estes grupos eram
moderados por dois animadores cujo papel era o de facilitação e que se implicavam também na vida do grupo.
Estas experiências, visando essencialmente o trabalho sobre a comunicação e a evolução pessoal de cada um,
eram habitualmente intensivas (três a seis dias consecutivos).
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Os grupos de encontro de relações interpessoais
Schutz considera que, uma vez satisfeitas as necessidades ligadas à sobrevivência, o individuo procura satisfazer
através das suas relações pessoais, três necessidades fundamentais:
A necessidades de inclusão quer dizer, o ser reconhecido como membro do grupo e nessa qualidade ser aceite e
integrado.
A necessidade de controlo, quer aqui significar a necessidade de compreender estatutos, papéis, hierarquias e
regras de forma a possibilitar aceitar ou partilhar responsabilidades. Numa palavra todo o individuo precisa de
não se sentir perdido e de ter algum controlo na situação em que está colocado.
A necessidade de afecto, no sentido não só de ter relações próximas mas de se sentir amado e insubstituível.
Considera, alias, que, praticamente toas as perturbações de personalidade têm na sua origem perturbações na
satisfação destas necessidades.
Os grupos de encontro são, do seu ponto de vista, excelentes oportunidades para aceder a um melhor
conhecimento das próprias potencialidades e necessidades ao mesmo tempo que servem para exprimir emoções
e sentimentos num clima de grande honestidade. Mais importante que falar dos problemas que se sente, Schutz
privilegia a experiencia de reconhecimento e contacto do que de facto se sente.
Daí que os seus grupos de encontro tenham, além dos habituais níveis de comunicação verbal, um conjunto de
exercícios que visam facilitar a comunicação verbal e a abertura a relações mais autênticas.
Os grupos maratona
Os grupos maratona, tal como o seu nome indica é um grupo de encontro que dura vários dias sem interrupção,
portanto em regime de internato. O objectivo é o enfraquecimento das defesas pela exposição constante ao
contacto grupal.
Jacque Durand-Dassier (1973), defende que deve poder ser mais terapêutico que catártico e com esse fim propor
que decorra uma noite por semana e um fim-de-semana por mês durante um ano. Propõe ainda que o animador e
grupo se centrem sucessivamente sobre cada um dos membros do grupo em cada encontro.
De entre o muito que há a dizer da situação da Grupanálise alguns conceitos devedores do contributo de Foulkes
e Antohony (1967) merecem destaque. Em primeiro lugar, aquilo a que eles designaram como a fenomenologia
da situação de grupo.
57
De facto, com o desenvolvimento da formação do grupo surgem fenómenos que contribuem especificamente
para a terapêutica em grupos, e que não são observáveis em situação de psicoterapia individual. Existem
igualmente outros que, decorrem da própria intervenção terapêutica. Nomeadamente:
A teorização
Corresponde às diferentes ficções a que cada sujeitos se referencia na tentativa de se explicar e explicaar a sua
presença naquele dado grupo. É o inicio de qualquer grupo.
O apoio
Corresponde simultaneamente a uma necessidade de tolerância que, por um lado reforça a auto-estima e abre as
portas à possibilidade de exposição pessoal mas, por outro, implica a diminuição da responsabilidade individual,
servindo de indício para as correntes emocionais em actividade no grupo.
Os subagrupamentos
Na maioria dos grupos, a subdivisão feita de alianças pontuais ou respondendo a tensões grupais, é um
fenómeno frequente e espera-se que seja ocasional, até porque quando se torna estável e permanente
compromete o normal funcionamento do grupo.
Os silêncios
São característicos de grupos jovens e nos grupos antigos pontuam sequencias comunicacionais e/ou relacionais
habitualmente importantes.
O bode expiatório
Ocorre em todos os grupos e a selecção depende, por um lado de factores presentes no grupo e, por outro lado,
das características dos seus membros. Representa um deslocamento da agressividade e escolhe indivíduos com
diferenças específicas ou características particulares. Num grupo, maduro, a função de bode expiatório pode ser
bastante rotativa aproveitando-se então aspectos menos óbvios ou da situação actual do sujeito. Esconde os
elementos fortemente investidos emocionalmente.
O estrangeiro
A reacção do grupo ao surgimento de um novo elemento é uma constante em todos os agrupamentos humanos.
Verifica-se que o grau de assimilação é bastante variável em função quer das características de novo membro,
quer em função das características do grupo.
O historiador
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referencia para o grupo, se constitui como memória colectiva, repositório de um continuo de acontecimentos
que não só preenche uma função dinâmica importante como funciona como factor de coesão.
O líder
Num grupo psicoterapêutico o líder é sempre é o terapeuta, já que o gruo se forma por referencia à sua
existência. Nessa medida é para além de mais um importante factor de coesão grupal, a figura transferencial por
excelência e o catalisador privilegiado das tensões grupais.
Ritmos e tensões
Todos os grupos desenvolvem ritmos característicos e específicos na base da existência de forças integradoras e
dis-ruptivas que actuam alternadamente. Nos grupos estes ritmos e tensões devem ser entendidos na base da sua
função autogeradora.
Os fenómenos de espelho
Que confrontam cada sujeito com vários aspectos da própria imagem, permitindo um conhecimento ou
reconhecimento genético-evolutivo.
Os fenómenos de condensador
Que permitem que, na ausência de relações causais conscientes, ocorram descargas súbitas de material profundo
como resultado da acumulação de ideias associadas.
O fenómeno de ressonância
Os fenómenos de cadeia
Que possibilitam que, através da livre discussão circulante, haja uma condensação colectivamente liberta,
permitindo um aprofundamento da comunicação e o crescimento do grupo.
Embora Foulkes e Anthony (1967) tenham procedido a esta caracterização dos fenómenos de grupo em
contextos de Grupanálise é nossa opinião que eles, e eventualmente outros não arrolados, fazem parte da vida de
qualquer grupo face a face, estavelmente constituído e com interacções regulares. O reconhecimento destes
fenómenos de grupo, só pode ser uma ajuda preciosa no campo da intervenção psicoterapêutica grupal.
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Deve-se igualmente a esta dupla de autores a classificação dos grupos em:
Grupos de actividade: Designando os grupos centrados numa qualquer actividade e em que os eventuais efeitos
terapêuticos surgem secundariamente.
Grupos terapêuticos: Referindo-se àqueles grupos que se constituem com fins terapêuticos, organizando-se no
entanto em torno de uma actividade. Esta é no entanto secundarizada em função do agente terapêutico essencial
que é a participação no grupo.
Grupos psicoterapêuticos: São grupos que se baseiam na comunicação verbal e têm como objectivo assumido o
tratamento de indivíduos, constituindo.se o próprio grupo como o principal agente terapêutico.
No que concerne à entrada e saída de membros, os grupos podem ser classificados em:
Grupos fechados: Grupos constituídos sempre pelas mesmas pessoas. Quer dizer, grupos que se iniciam com os
mesmos elementos. Estão neste caso muitos grupos de actividade e, em certas circunstancias, grupos
terapêuticos resistentes à entrada de novos membros.
Grupos abertos: São grupos em que é permitida uma flutuação significativa dos seus membros como acontece,
por exemplo, nos grupos de auto-ajuda usados de forma terapêutica.
Grupos lentamente abertos: Grupos habitualmente considerados como os mais interessantes para psicoterapias
em profundidade e em que as mesmas pessoas se mantêm largos períodos de tempo, embora episodicamente
alguns entrem ou saíam.
Rattner (1977) por seu turno considera que a pertença a um grupo terapêutico implica um extenso conjunto de
fenómenos individuais que devem ser tomados em linha de conta pelo terapeuta e dos quais sublinha:
A catarse
Que, como está sobejamente descrito, permite a sensação de alivio pela verbalização e permite que “as
deformações das percepção, do pensar, do sentir, da fantasia, etc., quando comunicadas perdem pelo menos uma
parte da sua força patogénica”.
Que acontece na sequencia de revelações que o próprio considera vergonhosas, secretas e inaceitáveis pelos
outros, A reacção habitual de não rejeição por parte do grupo, suscita uma aprendizagem de tolerância, auto e
hétero. Rattner afirma mesmo que os grupos terapêuticos são cursos superiores de tolerância.
A compreensão
O trabalho dos grupos terapêuticos permite chegar a patamares elevados de compreensão, não só da própria
história e estilo de vida como também a dos outros. Rattner considera que a conquista da compreensão se faz
pelo esforço comum de interpretação da história de vida de cada um dos membros do grupo, no afrofundamento
das suas motivações e das suas razões inconscientes, tornadas acessíveis muito mais frequentemente pelos
60
outros elementos do grupo que pelo próprio terapeuta. Aliás, considera que uma das vantagens dos grupos é,
exactamente, essa acessibilidade interpretativa proveniente dos pares, pelo menos para aqueles que lidam com
dificuldade com figuras de autoridade.
Em principio muito do trabalho terapêutico, pelo menos o que assenta em bases psicanalíticas, assume o
princípio de eliminar ou diminuir os habituais mecanismos de defesa dos pacientes. A razão desta estratégias
decorre de pressuposto que alguém que procura uma psicoterapia é porque se sente suficientemente
desconfortável com as suas estratégias que encontra para lidar com a realidade e consigo mesmo. Ou seja, que
os seus mecanismos de defesa se tornaram ineficazes.
O grupo, com maior facilidade que o próprio terapeuta, desmascara, esvazia e liquida racionalizações e
vergonhas, medos e recalcamentos.
O fortalecimento do Eu
Do ponto de vista de Rattner, a situação grupal facilita aquilo que ele designa como o “tónus do Eu”, quer dizer,
favorece a plasticidade, a verbalização, a sociabilidade, o desejo de partilha, a aprendizagem da escuta e a
assimilação do mundo circundante. Nesse sentido considera que a terapia grupal é um instrumento de eleição
para o fortalecimento do Eu.
A partilha de intimidade, e de histórias de vida plurais e diversas nem sempre conforme o socialmente desejável,
acarreta necessariamente um treino de reflexão sobre os muitos adquiridos e os muitos “deve ser” que alguns
sujeitos transportam toda a vida. Também nisso o grupo tem um papel destacado.
O esclarecimento
Aqui o esclarecimento quer significar informação e elaboração cognitiva com consequências também do ponto
de vista emocional. Rattner considera que habitualmente, e independentemente do sofrimento sentido, se recorre
a uma “superestrutura ideológica” capaz de responder a quase todas as dúvidas e alimentar quer o sofrimento
quer o círculo vicioso. A situação grupal, pela sua interactividade e participação dos diferentes membros tende a
dissipar estes mitos privados.
A diminuição da angústia
Todos os agrupamentos humanos, em particular os mais abertos e tolerantes como costumam ser os grupos
terapêuticos, ajudam os indivíduos a tolerar melhor as suas angústias mais arcaicas e os seus medos enunciáveis
pela partilha dos mesmos e pelo efeito ampliador da força grupal.
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A experiência do “nós”
Muitas vezes a experiência de um “Eu” solitário é solitária e dolorosa. Num grupo coeso a existência deste Eu,
integrado pela comunicação e interacção num sentimento mais vasto – o “nós” –, torna-se numa experiência
emocionalmente gratificante e terapêutica em si mesmo.
Correcções na percepção
Rattner considera que a diversidade de personalidades e experiências que se encontram num grupo terapêutico,
ajuda a estabelecer um saudável realismo e, por consequência, a aumentar as capacidades de cada um dos seus
membros de lidar melhor com a realidade e corrigir as percepções erróneas sobre as quais assentam alguns dos
problemas que apresentam.
Uma das dificuldades habituais encontradas em pacientes neuróticos, e não só, é o enclausuramento relacional
em pequenos círculos com sistemas de resposta relativamente estereotipados. A pertença a um grupo permite
desfazer convicções e crenças estabelecidas sobre a forma como os outros são e, também, ter acesso a um nível
de conhecimento aprofundado dos diferentes indivíduos que constituem o grupo.
A maioria das pessoas que começa uma psicoterapia tem alguns adquiridos sobre si mesma, que sofrem
sucessivos ajustamentos na confrontação com os outros. Assim, ao mesmo tempo que se vão modificando as
percepções sobre si, de acordo com o feedback grupal, vai-se reconstruindo uma outra imagem de si mesmo em
função de novos conhecimentos que se vão obtendo. Rattner sublinha que se trata de um processo de
aprendizagem em que muitas coisas se desaprendem para que os outras possam ser aprendidas.
Mudança
Decorre de tudo o que anteriormente está dito, a possibilidade de mudança, primeiro dentro do grupo e depois
(como se de um processo de generalização se tratasse) fora do grupo, alastrando a quase todos os aspectos das
relações e do estilo de vida.
Se o processo terapêutico funcionou de facto permitindo um fortalecimento do Eu, a diminuição das angústias e
eliminação de mecanismos de defesa desajustados então o individuo estará mais livre para ser mais espontaneop
e criativo , inclusive para se sentir com mais capacidades afectivas e cognitivas uma vez que o seu campo
experiencial foi alargado.
Maturidade e responsabilidade
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Como todo o trabalho de crescimento é também de autonomização e de junção entre diferentes níveis de
contributos para as atitudes e comportamentos (afectivos, cognitivos, sensoriais, mas também éticos e estéticos)
Rattner defende que o trabalho terapêutico de grupo conduz, não só a uma maior maturidade e responsabilidade
individuais como também, a um certo sentido espiritual.
Bion (1961), por seu turno, a partir das experiências realizadas com grupos de militares, extrai alguns princípios
que usa depois para a terapia de grupo. Considera que, na formação dos grupos, ocorrem três atitudes
fundamentais:
A dependência: consiste na expectativa de todo o grupo na pessoa do terapeuta. “Os membros de um grupo num
estado de espirito dependente acham que as suas experiências são insatisfatórias. De qualquer modo, seu estado
de animo contrasta com aquele que experimentam quando, havendo jogado todas as suas preocupações sobre o
líder, sentam-se e ficam esperando que ele solucione todos os seus problemas”.
A formação de pares: Que tanto de pode referir a pares amorosos como a subagrupamentos de simpatias
particulares.
Também De Maré (1972) propôs uma trindade definidora dos grupos que, do ponto de vista que defende, deve
sempre ser considerada em todos os grupos. A saber: a estrutura, o processo e o conteúdo.
A estrutura
Refere-se aos aspectos espaço-temporais, do onde, como, quando e com que, do grupo. Os aspectos
relacionados com a selecção o tamanho, a proximidade, a frequência, a duração, etc., deve aqui ser entendida
como a forma de relação dentro de um grupo.
O processo
Dá conta das inter-relações estabelecidas no grupo e refere-se aos aspectos dinâmicos que são activados dentro e
entre essas estruturas. Refere-se por isso a aspectos dinâmicos que são activados dentro e entre essas estruturas.
Refere-se por isso a aspectos verbais e não-verbais que possibilitam que a acção se desenvolva na interacção e
na comunicação e se estabeleça em atitudes e relações.
O conteúdo
Refere-se aos significados, às mensagens circulantes e à informação transmitida também pela estrutura e pelo
processo.
O PSICODRAMA
Embora com características muito específicas, o Psicodrama e Moreno (1892-1974), o seu primeiro e grande
promotor, constituem até aos dias de hoje uma fortíssima contribuição para o movimento da terapia de grupo.
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Aspectos teóricos
A catarse de integração (reconhecimento que o desempenho de papéis pode, ele próprio, servir como mediador
de mudanças comportamentais, fora do espaço cénico) é um dos conceitos fundamentais da sua proposta e
significa a aquisição que o indivíduo, no decurso da sua psicoterapia, vai fazendo de diferentes e dispersos
níveis de conhecimentos e percepções, que se unificam num dado momento, possibilitando uma diferente e
melhor percepção global de si mesmo e do que o rodeia.
O Psicodrama, enquanto proposta terapêutica assenta assim directamente sobre este conceito de libertação
catártica e de um outro: a procura de espontaneidade.
Aqui a espontaneidade, ou factor E, é considerado como a capacidade que o individuo possui de dar respostas
adequadas a novas situações e ainda de poder dar também respostas novas e adequadas a situações antigas. É
igualmente o impulso que nos move, um para o outro ou para a acção; a inspiração, a audácia que permite a
criatividade; o que permite a livre expressão de personalidade.
O Psicodrama dirige-se exactamente para um aumento significativo desta espontaneidade, muitas vezes,
bloqueada. Para lá destes conceitos fundamentais, a extensão da obra de Moreno, permite o desenvolvimento de
muitos outros.
O papel, querendo significar, à semelhança daquilo que acontece no teatro, o desempenho encontrado pela
personalidade como via de comunicação com o meio-ambiente. O facto de ser necessário desempenhar um
grande número de papéis enquanto ser social (pai, filho, patrão, empregado, marido, etc.), não deve, entretanto,
conduzir à confusão e à desagregação mas antes constituir a unidade cultural da conduta. Um das técnicas
amplamente conhecidas desenvolvidas pelo Psicodrama é, aliás, a inversão de papéis que Moreno considera
aumentar a força e estabilidade do ego (entendido como identidade consigo mesmo) entre muitas outras
funções.
Um outro conceito que mereceu uma ampla discussão é o de Tele, compreendida como sendo a capacidade do
individuo perceber a outra pessoa sem distorções. Este conceito inscreve-se numa frontal oposição ao de
transferência (dominante na época) já que está é considerada como uma patologia da Tele. Uma boa relação
Télica, entre cliente e paciente seria assim, a do encontro entre duas pessoas e não a revivescia de sentimentos
passados.
A ideia directora dos Psicodrama é, pois, a utilização do jogo dramático espontâneo como técnica terapêutica e
meio de enriquecimento pessoal.
Desenvolvimento terapêutico
É uma prática de grupo colocando um protagonista em cena, sob a direcção de um terapeuta (Director do
Piscodrama) e em frente a um Público.
O lugar: A acção é encenada num ambiente próximo do teatral, em média durante 1h30m.
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O protagonista: De acordo com Moreno, não se trata de transformar os pacientes em actores, mas de os levar a
ser no palco aquilo que eles vão verdadeiramente, se forma ainda mais profunda e clara do que na vida real.
A réplica: É dada por egos-auxiliares (alter-egos) habitualmente profissionais em formação que fazem o
comentário do que o protagonista vai dizendo.
O auditório: Lembra o coro do teatro antigo e é um elemento essencial. É ele que no fim da dramatização
intervirá para se pronunciar sobre o que sentiu, que ecos e emoções foram evocados, etc.
O director: É o terapeuta que em última análise dirige toda a acção. É ele que introduz no grupo a dramatização,
que a termina, que movimenta o público (o coro) e dirige os alter-egos.
A proposta de Moreno, foi de todas as propostas terapêuticas da sua época a que mais se desenvolveu e mais se
espalhou mundo fora e a que mais facilmente foi integrada por outras práticas e outras propostas terapêuticas,
provavelmente pelo facto de ser pouco teórica e tecnicamente muito rica.
Das muitas e diferentes utilizações que têm sido feitas do Psicodrama, vale a pena referir:
O Psicodrama Triádico, uma propots de Anne Ancelin-Schutzenberg (1970) em que associa às propostas de
Morenianas, a Dinâmica de Grupo Lewiniana e a Sociometria.
O Psicodrama Psicanalítico (Levovici, 1946; Bernudez, 1957) que abandona os métodos catárticos e opta por,
do ponto de vista teórico, funcionar com formulações psicanalíticas.
O Psicodrama Moreniano, propriamente dito, que passa a ser muito utilizado em formação, para lá da vertente
terapêutica propriamente dita.
A GRUPANÁLISE
Em 1956, Eduardo Luís Cortesão, depois de concluir a sua análise com Foulkes, deu início ao movimento
grupanalítico em Portugal, que conduziu à coração do Grupo de Estudos em Grupanálise de que foi fundador em
1958.
A Grupanálise é um processo terapêutico que tem as suas origens na Grupo-Análise tal como. Foulkes a propôs
é a discorreu em vários trabalhos, integrando um extenso conjunto de contributos do movimentos da
Psicoterapia Psicanalítica de grupo e algumas especificidade que teremos a oportunidade de sublinhar.
Bases teóricas
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E os fenómenos de grupo, na senda dos trabalhos de Kurt Lewin e destacando depois, alguns contributos
como sejam os de Bion e os do grupo Tavistock Clinic e os de Foulkes e Anthony, que os tentaram
sistematizar e destacar. Cortesão (1989) define-a assim:
"O processo grupanalitico, tal como o tenho vindo a definir de há cerca d vinte anos a esta parte (cortesão,
1971) inclui compreensivelmente toda a teoria Psicanalítica e pressupõe, deste modo, o manejo técnico e
clinico - desde as formulações metapsicológicas até às minúcias das relações - numa situação especifica, de
grupo. Situação diferente ainda que não contraditória da situação dual da psicanálise" (1989, p.36)
O conciliar dos aspectos psicanalíticos e dos aspectos grupais não é uma conciliação nem óbvia nem sequer
fácil.
De facto, a existência de um grupo, com os seus fenómenos e factores específicos tem um conjunto extenso de
consequências, compatíveis coma designação deste processo grupal como sendo de Psicoterapia de Inspiração
Psicanalitica, mais incompatível com o trabalho psicanalítico mais ortodoxo.
É nesse sentido que Foulkes vai, não tentar mostrar as semelhanças entre Psicanálise e Grupanálise
considerando-as, esquematicamente, como segue.
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Anonimato e passividade em Relativa realidade do analista de
Transferência; relação ao analista; grupo e das relações entre
Neurose de transferência membros;
estabelecida; Neurose de transferência não
Problema de dependência e de plenamente estabelecida;
fixação em relação ao analista; Menos problemas de dependência;
Nenhuma manipulação da situação de transferência
Processos e princípios terapêuticos Ênfase sobre a introspecção e
Ênfase sobre a introspecção e contraste entre passado e presente;
contraste entre passado e presente; Ênfase sobre a reacção e
experiência na situação presente
(aqui e agora);
Treino do Eu em acção.
Os aspectos técnicos mais sublinhados na Grupanálise são:
A matriz grupanalítica
Foulkes definiu: "a teia hipotética de comunicação e relação num dado grupo. É o terreno partilhado em
conjunto que, em ultima instância, determina o sentido é a significação de todos os acontecimentos, e no qual
se integram todas as comunicações e interpretações, verbais e não-verbais." (1967, p.32)
Ou seja, o conceito de matriz grupal retoma os conceitos de De Maré para considerar que esta é o processo
dinâmico da estrutura e do conteúdo de um grupo. Esta relação dinâmica que existe entre os vários elementos do
grupo, leva em linha de conta, não só as produções dos elementos actuais do grupo mas também os do passado,
quer dizer, pessoas que estiveram no grupo e entretanto o deixaram mas que o grupo recorda e cujas produções
passam a fazer parte da matriz.
Maria Leal (1968, 1971) considera que pará-la desta matriz grupal se deve também considerar uma Matriz
relacional interna, inerente a cada indivíduo e construída através de um fenómeno de espelho, no confronto
com a matriz dos diferentes grupos pelos quais o individuo vai passando.
O padrão grupanalítico
Adentro da matriz grupanalítica, a atitude do grupanalista inclui, para la das regras bases de neutralidade e
abstinência, as específicas da sua própria individualidade é que surgem nas comunicações verbais e não-verbais
e que marcam um padrão. Cortesão diz a propósito:
"Existem qualidades mais específicas na atitude grupanalítica que se traduzem essencialmente pelo padrão
grupanalítico que o analista transmite ao grupo. Este é o único e ele é também o único componente do grupo
que o pode perfazer. Por outro lado um tal procedimento está condicionado e é relativo porque o analista
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transmite o padrão em resposta ao grupo, constituindo-se num elo transmissor, inserido num processo
dialéctico de equilíbrio e movimentação dinâmica que entretanto se estabelece" (1989, p.112)
Pa existência de um grupo implica, necessariamente, que a comunicação não se faça apenas entre cliente e
terapeuta mas antes que todos os membros do grupo participem activamente num espaço comunicacional que se
estabelece e recria permanentemente. Assim, diferentemente da situação Psicanalítica mais ortodoxa, criam-se,
não só novos e diferentes níveis de comunicação como também se deve considerar de acordo com Cortesão
(1989) algumas particularidades nas interpretações transferenciais.
Cortesão considerava como absolutamente inadequado o uso sistemático da interpretação na transferência, quer
na situação Psicanalítica, quer na situação grupanalítica. Um contínuo de interpretações implicaria, do ponto de
vista que defendia, uma tentativa de anulação de qualquer distância entre paciente e analista.
A interpretação mutativa é ainda, esclarece cortesão, uma interpretação na transferência, embora nem todas as
interpretações na transferência sejam mutativas. O termo mutável que cortesão usa para designar os níveis de
experiência, comunicação e interpretação que acontecem em Grupanálise, pretende dar conta do "modo como a
interpretação é forjada e transmitida. Para tal contribui necessariamente a impregnação, na matriz
grupanalítica, pela indução do padrão grupanalítico” (1989, p. 207)
Os níveis de comunicação, considerados por Cortesão, não são mais do que as diferentes possibilidades que os
membros de um grupo têm de comunicar entre si é com o grupanalista.
Um primeiro nível de comunicação, considerado e designado como de experiência subjectiva singular, refere-se
a qualquer enunciação feita por um único membro do grupo sobre si mesmo, uma sua experiência ou
sentimento.
A experiência subjectiva plural é o nível da comunicação seguinte em que uma experiência inicialmente de nível
1 é partilhada e comunicada por vários elementos, permitindo um diálogo a várias vozes sobre experiências
análogas.
O terceiro nível considerado, o da comunicação associativa, designa as livres associações circulantes que se
geram a partir de qualquer dos níveis de comunicação anteriores.
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4- Nível interpretativo genético-evoluiria (desenvolutivo, de significação e de criatividade)
Neste nível de comunicação surge já uma interpretação. O terapeuta, ou o grupo responde à comunicação de um
ou vários membros do grupo relacionando-a com a história passada.
Este nível é exclusivo do terapeuta e trata-se de uma interpretação na transferência, relacionando-a com a
situação que se vive no momento.
Considera-se ainda um nível de interpretação comutativa quando se passa de qualquer um dos níveis para o
nível 5.
Objectivos
A cura através do estabelecimento da neuros de transferência
Nesta perspectiva, a possibilidade de ocorrência de uma verdadeira neurose de transferência é o objectivo da
terapia. Mesmo estando presentes outros elementos no grupo, e consequentemente se gerarem transferências
laterias e cruzadas, e havendo uma relação face a face, classicamente considerada como menos facilitadora, é
como o terapeuta que se estabelece uma relação privilegiada e, nessa medida, é com ele que se estabelece, ou
pode estabelecer a neurose de transferência. Esta possibilidade decorre mais das características de personalidade
do que de qualquer outro elemento.
Modalidades práticas
As sessões de Grupanálise decorrem durante alguns anos (mais de cinco) reunindo-se os diferentes membros do
grupo, que podem ir até nove, com o terapeuta três ou quatro vezes por semana. As sessões decorrem em face a
face, sentando-se os diferentes membros do grupo e o terapeuta em círculo. Cada sessão dura 1h15 a 1h30.
Os grupos são lentamente abertos o que, quer dizer, que mesmo começando um dado grupo num mesmo dia e
com um dado número de elementos, estes vão saindo em diferentes momentos do seu percurso pessoal, sendo
substituídos por novos elementos.
Um grupo de Grupanálise pode assim, atravessar várias décadas de actividade do terapeuta, incluindo diferentes
gerações de membros.
Aspectos técnicos
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Abstinência e neutralidade do terapeuta;
O padrão grupanalítico;
A matriz do grupo;
Os níveis de comunicação;
Indicações individuais
Inteligência média;
Insight (capacidade de mergulhar em si mesmo);
Força do Ego (um ego minimamente estruturado);
Indicações psicopatológicas
Neuroses;
Algumas perturbações borderline;
Contra-indicações
Psicoses;
Perversões;
Algumas neuroses de carácter.
A TERAPIA FAMILIAR
Por banal que nos pareça hoje a designação de Terapia Familiar, e por razoável que consideremos na actualidade
tomar como objecto de intervenção, grupos específicos e previamente interactivos, como são as famílias
(também chamados de grupos naturais), foi necessário um conjunto de circunstancias precisas para que
emergisse e se expandisse uma tal ideia.
Historicamente, o movimento da terapia familiar iniciou-se nos EUA, um pouco por todo o lado, a partir dos
anos 50, portanto no período a seguir à II Guerra Mundial.
Bases teóricas
A introdução da comunicação na relação terapêutica marca a ruptura com o paradigma psicanalítico;
investigação relativamente à comunicação verbal/Não verbal e à ligação comunicação-relação. Teoria sistêmica-
sistema que é definido como um todo complexo e organizado com diferentes funções e actividades e mesmo
assim é reconhecido como uma unidade. Refere-se também à noção de partes, já que se estabelece que o todo
reúne características próprias não existentes em cada parte isoladamente.
Ao intervir na família deve haver mudanças em todos os membros da família incluindo um paciente identificado
com uma determinada psicopatologia.
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Homeostase familiar: membro de uma família podia ser neutralizado pelo comportamento dos outros membros
ou que outro membro podia transtornar-se se o que estava em tratamento melhorava. Estas observações sobre
os sistemas homeostáticos sugeriam que a família forma um sistema dinâmico deste tipo.
Podem ser coisas internas ou externas a obrigar uma família a alterar-se. Extrasistémico.
O terapeuta sistémico tem em conta não só aquele núcleo, mas o sistema que está à volta. O sistema pode incluir
várias gerações. A história do sistema deve incluir outras gerações e conseguimos perceber uma espécie de
hereditariedade de comportamentos.
Hipótese sistémica: guia para a actividade do terapeuta que é uma hipótese para o funcionamento da família e
que inclui todos os elementos da família. É desejavelmente construída antes da primeira sessão. Pode ser
necessário explicar às pessoas o setting da terapia.
Interrogatório circular: a técnica de entrevista em terapia familiar sistémica e visa obter a opinião de diferentes
membros da família sobre as mesmas questões. Ajuda-nos a definir o problema, a hierarquizar as prioridades, a
estudar as atribuições que são feitas na família, a perspectivar o futuro, a criar novas hipóteses sistémicas,
aumenta a complexidade da informação, evita a ideia de que é o terapeuta que tem a resposta para tudo. Com o
interrogatório conseguimos construir a sequência diferencial de comportamentos (quando o problema ocorre).
Outras formas de obter informação é solicitar informação às pessoas, não em termos de sentimentos e
comportamentos, mas em termos de interacções específicas.
No final da 1ª entrevista fechamos o contrato terapêutico, fazemos comentários e prescrições (positivas – pôr o
casal a contratualizar que um dia saem juntos sem filhos, ou ficam sozinhos apenas; negativa – deixar tudo
como está sem mexerem em nada – quando a homeostase está na iminência de ser quebrada; paradoxais – pedir
para aumentar o sintoma). O terapeuta faz um comentário que deve ser securizante, contentor da família e que
crie uma expectativa positiva. A próxima sessão é logo marcada para dali a 15 dias.
Objectivos
O objectivo é a modificação dos sistemas de interacções no seio familiar de uma família, e não só, o de curar ou
transformar o individuo membro da família e designado como paciente. E ainda, a mudança no sistema familiar
deve resultar numa alteração em todos os membros da família, incluindo o desaparecimento do sintoma ou
comportamento indesejável no individuo-problema.
Modalidades Práticas
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Caracteristicamente a terapia familiar usa técnicas muito activas e confrontativas, prescrições de tarefas e
rituais. São utilizados o role-playing, modelagens e esculturas, “a cadeira vazia”, mapas e genogramas
familiares (1).
(1)Genograma
É uma das modalidades práticas quando falamos em terapias familiares, para alem do role-playing; modelagens;
esculturas; “cadeira vazia” e mapas.
Conseguimos colocar imensa informação sobre o sujeito na folha. À direita estão os homens e à esquerda as
mulheres. Por cima de cada pessoa (tal árvore genealógica) coloca-se a data do nascimento e a data da morte.
Em termos de idades está organizado da esquerda para a direita. Paciente identificado é reforçado com círculos
ou quadrados à volta. Um risco significa separação, dois riscos significa divórcio.
O genograma reúne as coisas principais do paciente. É interessante ter as várias gerações porque existem coisas
geracionais.
No início da intervenção o genograma apresenta uma coisa e no fim apresenta outra, em termos de interacção.
Três linhas significa relação forte; linha a tracejado significa relação isolante; linha zigue zague significa relação
de conflito; linhas sobrepostas (em zigue zague e três linhas) significa relação disfuncional.
Usam-se cores diferentes no genograma, para representar os tipos de relações que são mantidas entre as várias
situações.
Desenvolvimento terapêutico
De facto, se se pode procurar e encontrar nas teorias sistémicas um denominador comum e explorado
praticamente por todos os terapeutas familiares, verifica-se que esta se vai conceptualizando e umas vezes
aproximando-se da Psicanálise (Bowen, Boszormeny-Nagy, Whitaker) outras, afastando-se o mais possível em
direcção a modelos comportamentais (Haley, Selvini-Palazzoli, Grupo de Palo Alto) outras ainda mantendo a
72
primazia de um paradigma sistémico com alianºças estratégicas e perspectivas estruturalistas
(Minuchin,Andolfi).
O objectivo último é de uma mais eficaz e funcional adaptação da família aos seus papéis e da aquisição e
manutenção de novos códigos reguladores mais saudáveis.
Nesta perspectiva, as relações intrafamiliares e a própria relação terapêutica são consideradas enquanto relações
de poder sendo os sintomas individuais e as disfunções relacionais consideradas manifestações directas de
regras homeostáticas subjacentes.
A tarefa do terapeuta consiste em identificar e anular estas regras, frequentemente por recurso a prescrições
paradoxais.
Considera e destaca o comportamento e a aprendizagem- O terapeuta tem como função num primeiro momento:
detectar o comportamento sintomático do membro da família tido como paciente identificado é atribuído e
reforçado pelos outros. Seguidamente explora-se em sessão, através de exercícios de modelagem, alternativas
comportamentais, com vista a novas e mais adequadas aprendizagens.
Destaca as chamadas relações “verticais”, estendendo a diferentes gerações e a membros da família ausentes e,
às vezes, distantes da família nuclear, a intervenção no pressuposto de que as relações transgeracionais
desempenham um papel mais importante no sentido de mudança de que as relações ditas “horizontais” (casal,
fratria).
73
Nesta abordagem, Boszormenyi-Nagy, numa orientação dita contextual, destaca e explora o que considera
serem as quatro dimensões fundamentais, das relações: a existencial, a psicodinâmica, transaccional e ética,
caracterizando-se o trabalho terapêutico por uma importante implicação do ou dos terapeutas de acordo com um
principio que ele designa como de parcialidade multidireccional.
Bowen, por seu turno, tendo em conta os processos de propagação transgeracional de irracionalidades. Dá
atenção às configurações triangulares e às suas instabilidades emocionais e à forma como passam de um
triangulo para outro.
O papel do terapeuta é, neste caso, o de favorecer as confrontações entre membros, evitando ele próprio ser
“apanhado” nesta configuração.
Modalidades práticas
Ainda assim, poder-se-á dizer que existe uma pragmática de intervenção que implica que, seja qual for o quadro
teórico privilegiado, seja necessário:
Num primeiro momento, o confronto dos membros da família entre si, na presença do terapeuta; em seguida
uma acção directa sobre as interacções no seio da família a partir do reconhecimento dos padrões de
funcionamento e disfuncionamento; finalmente, o reforço das competências da família no sentido de utilizar os
seus próprios recursos no confronto com novos problemas que surgir.
As sessões são habitualmente semanais com a duração de uma hora e pelo menos ao longo de seis meses.
Habitualmente também, as sessões são feitas por um único terapeuta ou em co-terapia (dois terapeutas
preferencialmente de géneros diferentes). Idealmente as salas destinadas a este tipo de intervenção teriam um
espelho unidireccional com fins de formação e de supervisão.
Mas para além dos quadros teóricos e dos destaques que diferentes modelos e terapeutas concedem a aspectos
mais específicos da intervenção em famílias, o desenvolvimento da Terapia Familiar foi-se estendendo em
diversas direcções, a partir deste núcleo central de família.
Mais complexa do que a clássica Terapia Familiar com a família nuclear, o alargamento faz-se habitualmente às
duas famílias de origem, muitas vezes convocadas separadamente.
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A mobilização de diferentes níveis intergeracionais é considerada, no entanto, como muito eficaz e com
resultados frequentemente duradouros.
Terapia de casal
Também chamada de terapia conjugal, tem como objecto os padrões relacionais do casal e tem sido considerada
como uma terapia específica e diferente da terapia familiar.
Terapia de rede
Abrange a família mas também um dado grupo de actores significativos nas interacções de um dado sujeito que
faz o pedido e conectados com uma dada problemática, por exemplo, professores.
Terapia multifamiliar
Terapia multiconjugal
Com os mesmos pressupostos da terapia Multifamiliar, a terapia Multiconjugal centra-se agora sobre os casais e
as suas problemáticas do âmbito mais especifico da conjugalidade.
Existe finalmente:
Na medida em que a orientação sistémica e familiar é um quadro teórico, em si mesmo, que permite leituras
significativas da realidade dos sujeitos, tem-se verificado um incremento importante de terapias individuais.
Indicações
As indicações da terapia familiar são extensas e, de maior aderência quando propostas por instituições
assistenciais de saúde, educação ou reinserção social. Destaca-se:
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Fobias escolares;
Anorexias;
Esquizofrenias;
Toxicodependências;
Alcoolismo;
Prevenção primária em saúde mental.
76
Capítulo 8
A RELAXAÇÃO
77
Hoje em dia, as técnicas de relação são adquiridas por muitas práticas psicoterapêuticas. Os métodos de
relaxação têm o objectivo de combater a ansiedade, utilizam-se como técnica de recurso para lidar com stress
quotidiano, como introdução à aplicação de técnicas específicas como acontece nas terapias comportamentais e
cognitivas ou como parte integrante de diferentes psicoterapias. Os contributos que ainda hoje são referidos
como os percursores das técnicas de relaxação são diversos, de diferentes origens e centrados muito mais sobre
os efeitos pragmáticos alcançados que sobre teorizações complexas. Um contributo importante vem da hipnose,
muito em voga nos finais do século XIX, que independentemente de outros efeitos, provocava nos pacientes a
ela sujeitos uma sensação de descontracção. Na prática trata-se de implicar o paciente na consciência das suas
impressões sensoriais das mais simples como sejam o tacto ou a audição até às mais sofisticadas, como sejam a
respiração e depois ao controlo das imagens mentais e de uma verdadeira reeducação da vontade. Pretendem-se
suscitar um estado de consciência (e não propriamente de conhecimento) que permite ao paciente primeiro, um
estado de descontracção, depois, um estado de receptividade às sensações que lhe chegam e que ele torna
conscientes e, finalmente, um estado de emissividade, em que é o próprio indivíduo que dirige e investe a sua
energia psíquica com o objectivo de lhe parecer mais adequado.
O princípio do método é de obter uma “autodescontracção concentrativa”, quer dizer a descontracção a partir da
primeira concentração, através do abandono das representações e das sensações corporais. Este abandono, que
poderíamos chamar auto-sugestão deverá ser conseguido com a prática de seis exercícios focados,
sucessivamente, nos músculos, no sistema vascular, no coração, na respiração, no abdómen e na cabeça, em
duas etapas de treino: o básico e o complementar.
O ciclo superior
Schultz propõe para depois do ciclo de relaxação inferior um outro ciclo, dito superior, esse já de cariz
propriamente psicoterapêutico. Considerava que uma vez adquirido este primeiro estádio de obtenção
automática de descontracção, se deveria prosseguir numa terapia verbal de base psicanalítica.
Verifica-se na prática que, muitas terapias, que não especificamente, as psicanalíticas, se têm interessado pela
obtenção deste estado de relaxamento, promovendo-o como fase inicial de aplicação de diversas técnicas, na
forma descrita ou com algumas alterações.
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O método de regulação do tónus muscular de Jacobson
O método de regulação do tónus muscular de Jacobson pretendeu ser uma abordagem puramente fisiológica do
tónus muscular. Contrariamente a outras abordagens com preocupações psicoterapêuticas, nomeadamente de
Schultz, Jacobson desenvolveu um método de relaxação progressiva cuja finalidade é conduzir o individuo a
sentir progressivamente a tensão e depois o relaxamento e a detectar tensões cada vez menores, portante,
conhecer o seu corpo cada vez melhor. Privilegiando uma abordagem da neurofisiologia muscular, Jacobson, ao
verificar que as emoções provocam processos de contracção no sistema muscular e visceral e, portanto, um
aumento do tónus muscular, altamente correlacionado com a tensão e a ansiedade, pretendeu no essencial,
desenvolver uma técnica destinada a diminuir a excitabilidade cerebral e por essa via os seus efeitos em termos
de ansiedade.
A sua técnica baseia-se assim, na ideia de que as respostas do organismo à ansiedade provocam pensamento e
actos que comportam tensão muscular que, por sua vez, aumenta a sensação subjectiva de ansiedade e de que
um relaxamento profundo do tónus muscular, implicam uma sensação de bem-estar incombatível com a
ansiedade.
O método propõe uma educação na sensibilidade proprioceptiva e cinestésica, permitindo o domínio do tónus, e
por isso mesmo é indicado para todas as pessoas de todas as idades.
Modalidade prática
Uma a três sessões semanais e exercícios diários efectuados pelo sujeito sozinho durante vários meses (até um
ano).
O terapeuta
Intervém para mostrar os exercícios; verifica o estado de descontracção; abstêm-se de qualquer intervenção do
tipo psicológico.
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Caracterizam-se por uma procura de descontracção, harmonia, consciência corporal e bem-estar, através do
movimento. O facto de também ser denominado por ginásticas doces, prende-se com a ideia de que cada um
trabalhe no próprio ritmo sem excessos e utilizando melhor os seus potenciais. Em rigor, as ginásticas doces não
podem nem devem ser consideradas como psicoterapias, uma vez que os benefícios a esse nível são
secundários. Antes, devem ser consideradas como métodos de educação psico-motora, embora de interesse
notório em algumas situações específicas de intervenção psicológica.
T’ai-Chin-C’huan
Os seus objectivos principais são os de proporcionar uma vida mais prolongada na Terra, estabelecendo um elo
espiritual mais forte com o Espirito Supremo. Procuram realizar esses objectivos aceitando cada dia e cada
acontecimento como se apresentam, compreendendo e seguindo as leis infinitas do Universo e do Tao.
Ou seja, esta prática, é muito mais que os reconhecidos movimentos muito belos, lentos e estilizados, que se
praticam na posição de pé, em grandes grupos de indivíduos. São cinco os níveis de estudo desta prática
milenar, que é suposto fazer parte das rotinas diárias de toda a vida e em que para lá de uma primeira dimensão
física, existe uma outra mental, uma terceira respeitante à respiração, uma quarta dirigida ao poder da vitalidade
(Sheng Chi) e uma última macrocósmica (Chin Sheng Li).
Na versão mais ocidental e despida das dimensões mais transcendentais esta prática combina numa síntese de
movimentos-base, um trabalho sobre a respiração, todo o corpo, as articulações, implicando uma grande
concentração, uma consciência fina do corpo e um enorme equilíbrio.
O Yoga
O Yoga inscreve-se na mais antiga tradução ndiana, remetendo para um estilo de vida global e mesmo
transcendental, contudo as bases do Hatha-Yoga, que pode em si mesmo ser considerado como relaxação activa,
incidem:
Na aprendizagem de tipos de respiração consciente ou dirigida. A respiração sempre ser feita pelo nariz, pode
ser classificada em alta, média, baixa, completa.
A respiração alta ou clavicular é a mais habitual na respiração automática, francamente indesejável do ponto de
vista yogi, já que só emprega a parte superior do peito e dos pulmões implicando por isso a absorção de
pequenas quantidades de ar e uma relação esforço/benefício desproporcionada.
A respiração média ou intercostal é ainda considerada como muito pobre, embora melhor que a anterior, visto
que já há movimento do diafragma e do abdómen.
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A respiração baixa, também chamada de abdominal, profunda ou diafragmática consiste em inspirar o ar pelo
nariz e a conduzi-lo até ao abdómen, expulsando depois muito lentamente. É a forma indicada nos exercícios de
relaxação.
Na aprendizagem e execução de posturas (Âsanas). Existem provavelmente centenas de âsanas mas as mais
praticadas são cerca de 90 posturas, algumas muito acessíveis. Cada postura tem ume feito específico sobre uma
parte do corpo ou uma função orgânica e devem ser trabalhadas sob a supervisão de um professor.
Mas para lá destes métodos mais clássicos, emergiram diferentes métodos que cabem sob esta designação
genérica de relaxamentos dinâmicos, e dos quais vale a pena salientar:
Do ponto de vista de Felderkrais é necessária uma consciência precisa do funcionamento do próprio corpo ao
invés da repetição maquinal de movimentos estereotipados. A imagem do Eu compõe-se de quatro elementos
que participam de cada uma das nossas actividades: o movimento, a sensação, o sentimento e o pensamento.
Esses componentes do Eu são parte integrante de qualquer acção e nenhum deles existe sem os outros. O seu
método, centrado sobre o movimento e habitualmente desenvolvido em exercícios realizados no solo, pretende
ser uma espécie de revelador de toda a organização do esquema corporal no sentido de, nesse trabalho de
pesquisa e consciência sensorial podendo chegar a criar novos circuitos nervosos e novos reflexos. Acredita por
isso que a verdadeira transformação se faz a nível cerebral.
O método de Alexander foi batizado como de entonia (harmonia da tonicidade) e tinha como objectivo o
retomar dos movimentos com o mínimo de dispêndio de energia e consta essencialmente de um processo de
utilização da mente de maneira consciente, tendo em vista a orientação eficaz do corpo para que este se
mantenha o mais liberto possível de tensões. Propõe, para o efeito, um cuidado controlo da postura corporal e
doze exercícios práticos para a alcançar, sendo sete deles referidos à posição sentada e cinco à posição de é,
sempre através de lentidão da execução e da procura constante de relaxamento.
A biodinâmica
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Trata-se de uma forma de relaxação dinâmica que consiste em trabalhar sobre as diversas tensões. Tensões
musculares que podem estar ligadas a dificuldades anteriores, mas também tensões psicossomáticas que se
manifestam por alterações orgânicas. Estas diferentes formas de tensão são tratadas por exercícios de relaxação
e massagem, e por um trabalho sobre a respiração abdominal profunda. Este trabalho é acompanhado, muitas
vezes, do despertar de reacções emocionais e de cenas traumáticas que estão na origem das tensões em questão.
Este método auto denomina-se de “relaxamento fisiológico” e tem como principal objectivo o controlo ou a
extinção da tensão corporal a partir da própria vontade do sujeito. Para a obtenção deste efeito, Mitchell propõe
um treino da consciência das articulações e da pele, já que considera que uma “ordem” dada a uma articulação
produz a relaxação do grupo muscular adjacente. Este treino que incide por ordem aos braços, pernas,
respiração, corpo, cabeça e rosto e incide no cumprimento de “ordens”, como sejam: move e sinta; pare; sinta.
Uma vez aprendida a técnica pode ser auto-aplicada e eventualmente terminar com uma fase de relaxamento
mental por evocação de imagens felizes ou agradáveis.
Os relaxamentos mentais
A partir dos anos 60 e das grandes modificações sociológicas e de mentalidades a que então se assistiu, estavam
criadas as condições que vieram a permitir a recuperação de velhas técnicas terapêuticas caídas em desuso
(como foi o caso da hipnose) ou mal conhecidas (como as práticas ancestrais da India, da China ou do Japão).
O Zen
O Zen é o termo utilizado para designar simultaneamente o processo de meditação e o resultado dessa
meditação na consciência. O Zen inscreve-se em rigor numa tradição Budista que Watts (1956) descreve assim:
“O Budismo Zen é uma maneira de viver e de encarar a vida que não se integra em qualquer uma das categorias
formais do pensamento moderno ocidental. (…) Não é uma psicologia nem um tipo de ciência. (…)”
O Za Zen (Zen sentado) é a parte específica referida à meditação, com as suas componentes: atitude do corpo,
respiração e atitude mental. Pratica-se na posição de lótus invertido sobre uma almofada redonda (o Zafu),
individualmente ou em grupo, olhos abertos mas sem ver, e tem como objectivo último a aquisição de uma
qualidade única de consciência chamada de “satori” ou iluminação.
A finalidade do Zen é o desenvolvimento do conhecimento inuitivo e absoluto, para lá dos esquemas racionais.
Ou seja, em última análise pode ser uma experiência mística que procura a unidade cósmica, a dissolução do Eu
e o sentimento de felicidade.
A meditação
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É uma técnica que visa o “repouso do funcionamento mental” semelhante à relaxação, e não como se apresenta
ao senso-comum como uma forma de reflexão. A meditação ocasiona uma relaxação profunda; um abaixamento
do metabolismo e do ritmo cardíaco e um desconectar com o ambiente. Existem diversas técnicas de meditação.
As mais comuns trabalham com posições de sentado (lótus ou seiza), com exercícios respiratórios e a repetição
de uma mantra e são o grau “superior” e esperado da manutenção de práticas, como o Yoga ou o Zen.
Numerosos terapeutas da corrente humanista preconizam a meditação como actividade paralela e/ou
prolongamento de uma abordagem terapêutica. A visão filosófica e espiritualista (geralmente budista) na
transposição para o Ocidente sofreu, obviamente, muitas vicissitudes, promovendo um conjunto de seitas sem
interesse para as psicoterapias.
É importante sublinhar a importância que a Meditação Transcendental teve em todo o mundo. Sendo o método
mais conhecido o de Maharishi e Mahesh Yogi, que distingue “fonte de pensamento” e “causa de pensamento”.
De acordo com o mesmo, o estado de consciência transcendental é diferente dos habitualmente considerados e
de acordo com o quadro seguinte.
Níveis de consciência
Acordado Adormecido
Com coisas na consciência Vigília sonho
Sem coisas na consciência Estado transcendental Sono profundo
A técnica de meditação transcendental deve ser praticada cerca de 20 minutos 2x ao dia, uma de manha e outra à
noite.
A iluminação intensiva
O método seminários de “iluminação intensiva” foi concebido nos anos 60 por Charles Berner e continuam,
embora com modificações e adaptações a serem utilizados um pouco por todo o lado sobretudo com objectivos
de formação.
Pratica-se sobre a forma de seminários residenciais de quatro/cinco dias com uma quinzena de pessoas e em
completo corte com o exterior. Os participantes têm um plano de actividades muito rigoroso. As sessões
iniciam-se com a formação de um grupo e continuam nos dias seguintes em sessões de 40min onde os
participantes falam, dois a dois, sobre “Quem sou eu?”. Estes seminários constituem-se como uma experiência
de desenvolvimento pessoal dirigidos a todos os que desejam fazer uma exploração de si próprios.
A SOFROLOGIA
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“ o estudo cientifico da consciência humana, (…) uma filosofia activa, uma disciplina existencial, uma escola
médica terapêutica e um método de tratamento da personalidade pelo principio da acção positiva (auto-
sugestão)”. (Descamps, 1992, p122)
Os métodos passivos
Os métodos passivos centram-se na designada sofronização de base que consiste numa relaxação
simultaneamente física e mental. A relaxação física decorre a partir da posição deitada e de olhos fechados.
O objectivo é a descontração de todo o corpo, a partir de uma consciência corporal e em particular dos
músculos, progressivamente em relaxamento. A relaxação mental procura, de forma semelhante às técnicas
Orientais e com o mesmo objectivo, chegar a um nível de consciência intermedia entre a vigília e o sono.
Depois dos exercícios deve seguir-se um diálogo que consiste numa tentativa de verbalização ajudada pelo
terapeuta das sensações e impressões experimentadas na sessão.
Os métodos activos
Os métodos activos ou dinâmicos são assim designados por corresponderem a situações de relaxamento obtidas
através da execução de movimentos. São habitualmente descritos:
De resto, todas as técnicas têm, como objectivo, atingir este estado sofroliminal ou zona X que é um estado da
consciência modificado muito perto do sono. Supõem-se que este nível de consciência, pela sua proximidade do
inconsciente, permita diversas e uteis utilizações, quer pedagógicas quer terapêuticas. As mais trabalhadas pelos
terapeutas são a sofroamnese e sofroamnésia, que permitem, respectivamente, a reconstrução da própria
história e a possibilidade de trazer ao consciente elementos dispersos e até aí esquecidos, muitas vezes
angustiantes ou traumáticos
Outras técnicas habituais e já de cariz terapêutico em sintomas ou sinais específicos apresentados pelos clientes
são:
A sofroaceitação progressiva que implica a aceitação positiva de uma experiência anteriormente descrita
como desagradável;
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A Sofrocorrecção serial que permite através de um processo de hierarquização de estímulos considerados
aversivos ou angustiantes, ir corrigindo, em cada sessão, a forma de lidar com eles.
A sofrosubstituição sensorial que promove a substituição de uma sensação, habitualmente desagradável,
como seja por exemplo a dor, por outra, mais agradável como seja, por exemplo, o calor.
As técnicas podem então ser classificadas em função dos objectivos pretendidos em terapias de “cobrimento” ou
de “descobrimento”, sendo que as terapias de cobrimento aspiram um grau de autonomia e de auto-
responsabilização do sujeito e as terapias de descobrimento, utilizam predominantemente as técnicas de
sofroamnese e sofromnésia, aproximam-se no diálogo pós sofrónico a sessões de psicoterapia de base
psicanalítica.
A HIPNOSE
A hipnose corresponde a uma prática antiga e envolta em algum mistério. Segundo, Jean-Martin Charcote, os
múltiplos sentidos do que é, ou do que pode ser, a hipnose resumem-se em quatro grandes perspectivas que,
ainda que não sejam mutuamente exclusivas, são bem diferenciadas:
A hipnose é um estado de relaxamento intenso, tanto físico como mental, e em consequência de híper-
sugestão.
A hipnose não é uma psicoterapia nem uma terapia. É apenas uma técnica que visa situar o sujeito num nível de
consciência, que ainda que natural e experimentada quotidianamente em situações de devaneio, por indução de
mensagens publicitárias, por contágio emocional de um orador convicto ou de um contexto de massas, pode ser
activamente procurada. Esta procura pode ser auto-induzida, como acontece na meditação ou no uso de técnicas
de relaxação, ou pode ser induzida por uma outra pessoa: o hipnotizador. Mesmo aí, existe alguma discussão já
que há quem considere que toda a hipnose é auto-hipnose, pois todo o potencial de mudança reside no sujeito e
não no terapeuta.
A indução hipnótica
Aquilo que se designa habitualmente como hipnose é a indução deste estado a partir de um hipnoterapeuta. As
técnicas de indução mais usadas são:
Indução pela fixação: consiste em chamar a atenção para um ponto determinado no qual o sujeito concentra a
sua atenção.
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Indução rápida: produz um estado de alfa muito rapidamente e é obtida por comandos curtos, concisos e
rápidos. Está associada a situações de hipnose-espetáculo e a sujeitos com graus de sugestionabilidade muito
elevados.
Indução por relaxação progressiva: é a mais utilizada em contextos terapêuticos e como o próprio nome indica
é conseguida a partir de um processo de relaxação deste tipo. Neste tipo de indução a posição não deve ser
deitada e pela sensação subjectiva de descontração ser mais notória quando se mantém o eixo vertical da postura
corporal.
A sugestão
É uma proposição relativa a uma crença ou a uma acção que num estado de grande relaxação ou hipnose tende a
ser absorvida mais facilmente pelo sujeito e mesmo a tornar-se numa crença ou acção do próprio.
O processo
Uma vez que a hipnose é apenas uma técnica, o contexto da mesma deve ser terapêutico e bem estabelecido do
ponto de vista teórico e técnico. O interesse estratégico da hipnose, lado a lado com outras técnicas como o
humor, o paradoxo ou a metáfora, é o de facilitar e privilegiar os funcionamentos inconscientes que estão na
base da criatividade e se constituem como recursos que podem ajudar o paciente a ultrapassar as suas
dificuldades, nascidas muitas vezes da tentativa nefasta da consciência de controlar processos que são de facto
de natureza inconsciente. O terapeuta não faz mais do que ajudar a suspender mecanismos irrelevantes ou
inadequados de funcionamento, abrindo as portas à activação de funções inconscientes que trazem em si mesmo
contributos importantes para a resolução dos problemas do paciente.
Indicações
A hipnoterapia tem sido ensinada e utilizada extensamente em contextos de saúde (quer em doença e dor
crónica que como promotor de mudança de comportamentos e estilos de vida pouco saudáveis). Nas
psicoterapias de base humanista, a hipnose continua a ser usada, lado a lado com outras técnicas.
A VISUALIZAÇÃO
Refere que os acontecimentos que são imaginados de forma nítida e clara, produzem uma enervação nos
músculos que é semelhante, ainda de que menor magnitude, à produzida pela execução física e real dos
acontecimentos.
Proposta por Sackett, considera que todas as nossas acções são primeiro codificadas no SNC, o que faz com que
possuamos um esquema ou plano mental para o que realizamos. A visualização funciona como um sistema de
codificação para ajudar as pessoas a compreenderem e adquirirem padrões para as actividades que realizam,
tornando-as mais familiares e automáticas.
A visualização possui duas funções: uma cognitiva e outra motivacional, podendo ambas ser caracterizadas por
níveis gerais e específicos. A função cognitiva da visualização, no nível mais geral deve ser utilizada em fins
estratégicos e, no nível mais específico em competências comportamentais. A função motivacional da
visualização, no seu nível mais geral, envolve os sentimentos associados aos sucessos ou fracassos imaginados
dos objectivos pretendidos. No seu nível mais específico implica a representação simbólica de diversas
situações comportamentais sendo fórmulas orientadas para objectivos.
Esta teoria analisa a visualização mental em termos dos mecanismos cerebrais de processamento de informação
e considera que uma imagem é uma serie finita e funcionalmente organizada de proposições arquivadas pelo
cérebro, contendo descrições e características, quer dos estímulos, quer das respostas. Quando a visualização
acontece, surgem igualmente as proposições relativas aos estímulos e às respostas. De acordo com Lang, autor
da proposta, para que a visualização influencie efectivamente as competências, deve ser dado um destaque
especial às proposições de resposta, para que uma vez activas sejam sujeitas a alterações ou revisões no sentido
do comportamento desejado.
O BIOFEEDBACK
O termo biofeedbacck está associado ao conceito de feedback, e refere-se ao método de controlo de qualquer
sistema pelo retorno de informação sobre os resultados da acção executada, ao sufixo bio. Deste modo, é um
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sistema de controlo de qualquer acção ou produção humana conforme o pressuposto de Weiner de que os
organismos têm capacidade de auto-regulação e procuram o seu equilíbrio.
Baseia-se na ideia de que podemos aprender a desempenhar uma dada resposta quando recebemos feedback
sobre as consequências do que acabámos de fazer e a partir daí somos capazes de adequar melhor o nosso
comportamento aos objectivos pretendidos. Consta de uma técnica que visa, através da visualização ou audição
de sinais biofisiológicos relacionados com o que se está a passar no corpo, que o individuo seja capaz de
controlar voluntariamente o seu estado.
O biofeedback é um processo de treino que permite modificar nos seus limites biológicos, funções ou episódios
viscerais fisiológicos que, habitualmente, são inconscientes, involuntários enautomáticos, utilizando-se
aparelhagem electrónica para detectar e medir os parâmetros fisiológicos e dando um feedback sensorial. É
então uma técnica de treino comportamental, explicada pelo modelo do condicionamento operante, levado a
cabo através da utilização do reforço gradual dentro do objectivo de moldar a resposta. A informação directa,
precisa e constante recebida pelo sujeito é imprescindível para a persecução dos objectivos. Considerando que o
biofeedback é uma técnica e não uma terapia é suposto que a sua utilização terapêutica seja estabelecia em
função:
AS MASSAGENS
A massagem enquanto técnica de despertar sensorial ou de técnica relacional tem sido muito usada pela
Psicologia Humanista.
A massagem californiana. Tem como objectivo uma tomada de consciência sensorial. Na mesma linha e como
técnicas indutoras, quer de relaxamento, quer de auxílio terapêutico a zonas de tensão, a partir dos anos 60
divulgou-se na Europa e nos EUA.
As massagens orientais. As massagens orientais mais divulgadas passam por o Doin, o Shiatsu e a
automassagem com base na acupunctura.
A massagem reichiana. É uma técnica que parte da noção de couraça muscular e tende a trabalhar sobre o
corpo, as zonas de tensão e de bloqueio, de forma a restabelecer a livre circulação do fluxo energético.
O rolfing
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É um método de massagem profunda que visa agir sobre a musculatura do individuo, de forma a alterar a
própria estrutura do corpo, já que esta pode ser modificada quer em função da plasticidade o tecido conjuntivo
quer por o corpo pode ser considerado como um verdadeiro campo energético em constante mutação.
O objectivo da massagem é o de conseguir que o centro e gravidade de cada uma as massas esteja perfeitamente
alinhado em relação as outras numa valorização e noçao de equilíbrio.
A integração postural. Os resultados para serem duráveis, não se poderia modificar a estrutura corporal sem
modificar ao mesmo tempo a imagem que o individuo faz de si próprio.
Actualmente como parte de um protocolo terapêutico em que se pretende obter através de contacto físico a
facilitação da relação e a vinculação, bem como a inibição de medos e angustias e ainda efeitos benéficos em
muitas funções e situações medicas numa extensa faixa etária, testa se o uso de massagens em bebes, gravidas,
doentes com dor ou doença crónica e também em doenças terminais.
A maioria dos terapeutas pela arte faz questão de sublinhar que aquilo que promovem é terapêutico e não
psicoterapêutico, deixando esta segunda designação para as intervenções específicas dos psicólogos e dos
psiquiatras, e considerando que a designação de terapia tem actualmente um sentido alargado e referido a uma
concepção positiva da saúde, em que muito mais importante que os diagnósticos e as nosologias está bem-estar
físico, psicológico e social.
A musicoterapia
Na prática, e com todas as variações decorrentes quer das metodologias utilizadas, quer das necessidades dos
sujeitos, a musicoterapia consiste na aplicação controlada de actividades musicais que são especialmente
propostas e organizadas com vista à expansão do sujeito. Dos muitos métodos em uso, habitualmente diferencia-
se a musicoterapia em função do quadro teórico em que se inscreve, o facto de ser uma actividade individual ou
grupal e sobretudo de utilizar técnicas receptivas ou activas.
A musicoterapia receptiva
São as técnicas em que o sujeito é submetido a audições musicais. O paciente é submetido num primeiro
momento à audião de um trecho musical que corresponda ao seu estado emocional actual (lento e dramático se
estiver deprimido ou rápido e alegre se estiver maníaco) e no momento seguinte é conduzido na exploração de
outros e diferentes estados emocionais e psicológicos através da escuta de outros trechos de diferentes
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conotações (musica fortemente ritmada endossando para a esfera instintiva; música alegre ou triste remetendo
para a esfera do humor, etc.).
A musicoterapia activa
Tem como objectivo a participação directa do sujeito no processo de criação musical e dessa forma a música é
utilizada como modo de expressão e meio de desenvolvimento de criatividade.
Indicações
É habitualmente usada nos hospitais psiquiátricos como forma de restabelecer a comunicação ntre
pacientes e entre estes e pessoal de saúde.
Tem muito bons resultados na abordagem de crianças autistas.
É habitualmente coadjuvante na reeducação de handicaps físicos e sensoriais.
Benezon (2002) dá exemplos concretos da utilização da musicoterapia em doentes oncológicos terminais
e doentes em coma.
A dança-terapia
A dança terapia é o uso psicoterapêutico do movimento como um processo que promove a integração física e
psíquica do individuo.
De acordo com Stanton-Jones são no entanto, cinco os princípios teóricos essências para a dança-terapia:
O corpo e a mente estão em constante interacção reciproca
O movimento codifica características essenciais da personalidade, incluindo processo do
desenvolvimento, expressões de subjectividade e modelos da relação interpessoal.
A importância da relação dança-terapeuta. paciente, espelhando, sincronizando, amplificando e
interagindo com os movimentos produzidos.
O movimento, tal como os sonhos, os lapsos, os desenhos e as livres associações são uma evidência do
inconsciente
O acto de criar um movimento através da improvisação é inerentemente terapêutico.
Actualmente o desenho, a pintura e a modelagem mas também de outras técnicas plásticas, como sejam as
marionetas, a linoleogravura, as colagens, a carbonografia ou as mascaras por exemplo são recursos possíveis
a que os terapeutas pela arte fazem apelo no trabalho, já não só com doentes mentais e com pessoas com
problemas desenvolvimentos, mas também com crianças de qualquer tipo de patologia.
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