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Capítulo 2 – A Psicanálise

Psicanálise (Cura-Tipo) Psicoterapias de Inspiração Psicanalítica Psicoterapias Breves


(P.I.P.)
Objectivos Cura pela transferência, ou seja, pela Máximo benefício terapêutico, o que • Experiência emocional correctiva;
projecção da pessoa no analista e nos significa plasticidade técnica em função • Superação da crise.
sentimentos irracionais geralmente da situação específica.
ligados a situações de conflitos
infantis com os pais.
Desenvolvimento Transferência é o elemento motor do • Possui métodos mais simples, • Assumpção por parte do paciente
Terapêutico tratamento (neurose de transferência). orientados sobre as necessidades de do problema emocional relevante;
Esta neurose de transferência é eficácia imediata; • A proposta do terapeuta de um foco
instalada a partir do setting e do • Controla-se e limita-se à transferência, psicológico subjacente à
processo: centrando-se as trocas no material problemática expressa;
• Setting: é ordenado para que possa psíquico mais significativo; • O trabalho terapêutico conjunto, no
ser ou conter um processo e, a • Limita-se às regressões em pacientes sentido da correcção dessa
alteração deste é uma técnica activa com Eu muito frágil ou rígido. experiência traumática ou
que interrompe o processo subjacente desorganizadora;
e, como tal, deve ser evitado; • Adopção de intervenções
• Processo: possibilidade do paciente terapêuticas adaptadas à situação e
associar livremente. que podem ser desencadeadoras ou
supressoras de ansiedade.
Modalidades • Duração e frequência fixas • Duração de 3 ou 4 anos de • Tempo: previamente fixado ou
Práticas previamente combinadas: psicoterapia; número de sessões combinadas na
- 50 minutos; • Frequência semanal de uma ou duas primeira sessão ou não há tempo
- 4 vezes por semana; sessões; fixado;
- Duração de alguns anos (≈ 10 anos) • Posição frente-a-frente ou face-a-face. • Duração: ≈ 50 minutos ou variam
-Terapeuta fora do angulo de visão do entre 15 a 60 minutos;
paciente, que se encontra deitado no • Sem indicações específicas de

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divã. periodicidade das sessões: podem ser
várias semanais ou, em situações de
crise, sessões semanais ou
quinzenais.
Atitude do Neutralidade e abstinência, bem como Neutralidade e abstinência e, também, • Cuidada selecção dos pacientes
Terapeuta não deve ter relações pessoais com os uma atitude mais suave, gratificante, para este tipo de intervenção;
pacientes fora das sessões e ter uma activa e centrada sobre o real. • Esclarecimento do tipo de contrato
atenção flutuante. terapêutico;
• Neutralidade e abstinência e,
também, eminentemente activa
podendo por vezes ser confrontativa.
Indicações • Psicopatologia: neurose (angústia, • Todas as neuroses; • Estruturas neuróticas;
fóbica, obsessiva, sendo que a • Doenças psicossomáticas; • Úteis em situações de crise e em
histérica não é quadro de primeira • Personalidades borderline; situações institucionais.
escolha); • Com algumas reservas (sobre a
• Organizações da personalidade: do experiência do terapeuta), psicoses.
tipo neurótico:
• Idade ≤ 50 anos;
• Ego suficientemente forte e
estruturado.
Contra-indicações • Ausência de Ego integrado e • Situações onde haja a impossibilidade • Indivíduos com Ego muito frágil,
cooperativo (e.g. psicóticos); do estabelecimento da aliança de que não lidem bem com a perda,
• Problemas de natureza aguda que trabalho; abandono ou a rejeição devido à
requerem solução urgente; • Estrutura de personalidade anti-social; limitação temporal assumida neste
• Situações de vida que não podem ser • Ganho secundário que exceda o tipo de terapia.
modificadas; sofrimento;

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• Idade ≥ 50 anos. • Relutância ou incapacidade para
comparecer regularmente às sessões;
• Graves perturbações da comunicação
verbal;
• Q.I. muito baixo;
• Pacientes cujo acting out sistemático
seja do tipo autodestrutivo e cujo meio
não seja apoiante;
• Pacientes mitómanos.

Capítulo 3 – As Psicoterapias Existenciais


Análise Existencial Logoterapia Terapia da Gestalt Terapia Centrada na Pessoa
Objectivos • Tenta fazer com que o • Combater as falhas de Facilitar o processo de
paciente procure dar à sua personalidade para conduzir mudança espontânea própria
vida um sentido concreto e o indivíduo à soa totalidade; do cliente:
pessoal; • Reintegrar o potencial - Maior congruência, assim
• Promove o restabelecimento bloqueado pelos papéis o cliente torna-se menos
no paciente da capacidade de sociais; defensivo e mais aberto à
trabalhar e sentir, mas • Estar em relação consigo experiência;
também desperta nele a próprio e com a realidade - Percepção mais realista do
capacidade de sofrer, isto é, (consciência do self); mundo envolvente do Eu-
dando sentido possível à • Drenar o sistema da ilusão ideal;
própria existência. a zona intermédia, o Eu, os - O sujeito torna-se mais
complexos, e pôr essa flexível e criativo, adaptado

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energia à disposição do self, e capaz de resolver os seus
para que o organismo possa problemas;
crescer e utilizar o seu - Maior acordo entre o Eu e
potencial de forma o Eu-ideal, tal como entre o
adequada. Eu e a experiência → menos
tensão física e psíquica;
- Mais consideração em
relação a si próprio;
- Mais amplitude e
variabilidade de
comportamento, sendo mais
competente a este nível.
Desenvolvimento • O objecto da abordagem • Primeiro momento: • O trabalho do terapeuta é • Condições necessárias e
Terapêutico terapêutica é duas pessoas logodiagnóstico, através de em função da experiência suficientes:
existindo num mundo, ou técnicas fixas e vivida, na situação - Contacto de duas pessoas,
seja, o mundo é o preestabelecidas como o pil- terapêutica, das suas gestalt e que cada pessoa produza
consultório do terapeuta; test, ou perguntas de sentido inacabadas, através de uma diferença implícita ou
• A análise existencial não logoterapêutico. sentimentos de impasse, do explícita no campo de
é uma técnica terapêutica: Posteriormente, são que deseja e evita; experiência de outra;
a presença do terapeuta é a recolhidos dados de avaliação • Procura-se que: - Que o cliente esteja em
questão mais importante e geral e eventuais avaliações - Os conflitos sejam estado de incongruência que
anterior a qualquer técnica; psicológicas disponíveis; actualizados no “aqui e se traduz na vulnerabilidade
• É pretendida uma • Relação começa pela análise agora”; e ansiedade;
reconstrução das vivências existencial e evoluiu para a - Que o paciente - Que o terapeuta seja
e uma reconstrução mental logoterapia, no caso de se compreenda o “como” do congruente, que seja ele
da biografia anterior, tratar de uma neurose seu estar físico e mesmo e que esteja presente
sendo um trabalho noógena (provocada por psicológico; na relação, não seja
totalmente criativo para o problemas éticos, existenciais - Dá-se grande importância defensivo com os seus

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terapeuta e paciente, sendo ou espirituais). ao trabalho corporal e nesse próprios sentimentos;
essencialmente construído sentido o terapeuta vai - Que o terapeuta dê valor
por actos bilaterais de constantemente perguntando positivo a todas as
experiência, compreensão o que o paciente sente em manifestações da
e interpretação; cada momento; personalidade do cliente;
• A análise existencial é - A atitude do terapeuta - Que o terapeuta
uma experiência catártica, pretende ser encorajante e experimente uma
em que a pessoa afronta os responsabilizante de todos compreensão empática do
conflitos interiores e tenta, os “vividos” e “sentidos” no quadro de referência interna
com a ajuda do terapeuta, decorrer da sessão do cliente;
alargar a sua consciência terapêutica. - Que o paciente perceba as
de si própria e o seu duas condições precedentes:
próprio funcionamento. a atenção
incondicionalmente positiva
e a compreensão empática
do terapeuta a seu respeito.
Modalidades • Sessões semanais; • A técnica da cadeira vazia: • Terapia individual;
Práticas • Face-a-face; - Confrontação de • Face-a-face, amigável e
• ≈ 50 minutos, podendo polaridades opostas coloquial;
prolongar-se em função da presentes na pessoa ou nos • Técnicas: paráfrase e
necessidade do paciente. sentimentos de exploração, podendo
ambivalência; também ser utilizadas outras
- O diálogo com uma pessoa técnicas desde que não
ausente ainda que morta e contradigam o pressuposto
com quem o paciente tem a de não directividade.
“tarefa aberta”, quer dizer
problemáticas não
elaboradas e portanto não

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resolvidas.
Atitude do • O terapeuta considera a • O logoterapeuta rege-se • Confiança, respeito e
Terapeuta pessoa como uma pessoa pelo princípio da centração no processo
viva que procura um autenticidade, sendo suposto terapêutico do cliente;
significado para a sua que seja sincero e mantenha a • Atitude global do
existência; coerência pessoal, não terapeuta, diferente de
• O terapeuta funciona em analisando nem qualquer técnicas
termos de potencialidades aconselhando; enunciáveis e da
do paciente. • Relação terapêutica é importância da qualidade da
considerada como da relação estabelecida;
responsabilidade de ambos os • Importância concebida ao
participantes; presente.
• Terapeuta e paciente estão
em pé de igualdade, pois
ambos estão à procura de
sentido: o terapeuta encontra
o sentido da sua vida
ajudando outras pessoas a
encontrarem o sentido da vida
delas;
• Humanamente são iguais e
procuram a humanidade.
Indicações Tendo em conta que a • Neuroses noógenas, Praticamente todas as
tónica é posta no “si essencialmente; situações podem ser
mesmo”, esta terapia • Também pode ser usada nas consideradas como de
assume-se como sendo útil neuroses psicogéneas e nas indicação para as diferentes

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para qualquer sujeito em pseudoneuroses somatógenas. terapias que cabem neste
qualquer situação que a designação.
procure.
Contra-indicações • Personalidades limite;
• Situações psicóticas.

Capítulo 4 – Do Comportamento à Cognição: Modelos e Terapias


Terapias Comportamentais Terapias Cognitivas
Terapia dos Construtos Terapia Racional- Terapia Cognitiva de Beck
Pessoais de Kelly Emocional de Ellis
Objectivos • Extinção ou substituição de Utilizar estratégias com o • Sobreviver e manter-se Avaliação das estruturas,
sintomas; objectivo da reconstrução vivo; processos e produtos
• Mudança de comportamento; de construtos que se • Ser relativamente feliz; cognitivos com vista à
• Aplicação em terapia do mostram inadequados e • Viver com sucesso transformação das
método experimental. não permitem, nem dentro do grupo social a dimensões disfuncionais a
antecipações, nem que pertence; partir de estratégias de
posteriores ajustamentos. • Experimentar relações vários tipos:
significativas com um ou - Cognitivas: buscam a
mais indivíduos; reconstrução do
• Trabalhar de forma pensamento;
produtiva e criativa. - Imagéticas: trabalham a
alteração das imagens
distorcidas do sujeito;
- Emocionais: aceitação e

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discriminação das
emoções;
- Comportamentais:
confronto das novas
aquisições com novas e
mais complexas situações.
Desenvolvimento Modelo ABC (A –
Terapêutico Acontecimento activante;
B – Beliefs racional ou
irracional; C - Crenças)
que diz que o sujeito é
responsável pelas suas
acções e emoções e que
pode adquirir crenças mais
realistas e incorporá-las na
sua vida.
Modalidades Dirige-se, sobretudo, ao que é • Técnica de fixed role Processo de debate que • Primeira entrevista:
Práticas sentido como sintoma (e.g. therapy: propor ao cliente inicia e pontua toda a - Recolher informação
fobias, compulsões, distúrbios que faça uma intervenção terapêutica e biográfica e informação
sexuais): autodescrição na terceira que tem sempre com o sobre o sintoma;
• Intervenções breves, ou seja, pessoa, ou seja, “busca de objectivo final a aquisição - Avaliar o risco de
20 sessões/6 meses, com carácter”, depois era de crenças racionais. Uso suicídio (casos de
excepções como neuroses solicitado que descrevesse de todas as formas de depressão);
obsessivas e as depressões; uma outra pessoa terapia individual e de - Avaliar a motivação para
• Utilização de técnicas (e.g. imaginária ou pretendida, grupo, praticamente. a terapia;
dessensibilização sistémica, “busca do papel fixo” a - Dar algum feedback do
flooding, implosão, aversão e partir de role playing em encontro.
treino de auto-afirmação). consultório e, por último,

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era solicitado o • Segunda entrevista:
desempenho permanente, - Completar os dados em
durante uma ou duas falta;
semanas, desse novo - Fornecer algumas
papel. Posteriormente, informações sobre o
reiniciava-se o processo processo terapêutico;
com outra figura - Atribuir uma tarefa para
imaginária. a entrevista seguinte,
habitualmente recolher
ideias anteriores a uma
sensação desagradável.
• Processo terapêutico:
- Treino de tarefas de auto-
registo;
- Uso de estratégias de
activação do
comportamento;
- Treino de identificação
de cognições;
- Focalização de crenças
valorizadas e a exploração
dos pressupostos
subjacentes;
- Preparação para o fim da
terapia e o evitar de
recaídas.

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Atitude do • Mais directivo e activo que em Directiva, activa e com
Terapeuta qualquer outra terapia; uma componente
• Define com precisão e com o educacional forte.
paciente o problema, propõe uma
hipótese de trabalho que serve
simultaneamente de contrato e
de predição dos resultados;
• Centra-se sobre o aqui e agora,
tenta criar um clima relacional
positivo;
• Tenta avaliar tão rigorosamente
quanto possível os efeitos do
processo terapêutico.
Indicações Cada técnica tem as suas
indicações específicas:
• Dessensibilização sistemática –
fobia, problemas sexuais,
obsessões ou falta de
assertividade;
• Flooding e implosão – fobias e
obsessões;
• Aversão – Situações de adição
e parafilias;
• Treino da Auto-afirmação –
casos de timidez, inibição social,
medo de contactos, sentimento

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de inferioridade.
Contra-indicações Situações em que não existem
sintomas ou comportamentos
disfuncionais.

Capítulo 6 – Psicoterapias de Grupo


T-Grupos Grupos de Encontro Grupanálise Terapia Familiar
Objectivos • Oferecer aos • A cura através do • Modificação do sistema
participantes uma estabelecimento da de interacção no seio de
experiência de grupo neurose de transferência; uma família, e não só, o de
restrito, único âmbito no • O “ego training in curar ou transformar o
interior do qual se podem action”, ou seja, um indivíduo membro da
estabelecer relações aumento significativo de família e designado como
humanas de todos os competências relacionais e paciente;
membros numa base mesmo afectivas e de • da mudança no sistema
interpessoal; insight, dos elementos do familiar devem resultar
• Oferecer aos grupo que, também por alterações em todos os
participantes uma características de membros da família,
experiência de grupo personalidade não incluindo o
centrada na comunicação conseguem aceder a uma desaparecimento do
humana e nas suas genuína neurose de sintoma ou
exigências de transferência. comportamento
autenticidade; indesejável no indivíduo-
• Oferecer aos problema.

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participantes uma
experiência de grupo no
decurso da qual as suas
relações com as figuras de
autoridade pudessem
evoluir e tornarem-se mais
autónomas.
Desenvolvimento • Terapia familiar
Terapêutico estrutural;
• Terapia familiar
estratégica;
• Terapia familiar
psicanalítica;
• Terapia familiar
comportamental;
• Terapia familiar
transferacional.
Modalidades Práticas • Grupo de indivíduos • 10 a 20 participantes; • Duração ≥ 5 anos; É necessário:
entre os 8 e os 15; • 2 animadores; • Até 9 membros; - Um primeiro momento
• Presença de um • Experiências intensivas, • 3 ou 4 vezes por semana; de conforto dos membros
animador, não actuante. de 3 a 6 dias consecutivos. • Sessão dura entre 1h15 e da família entre si, na
1h30; presença do terapeuta;
• Grupo lentamente - Uma acção directa sobre
abertos. as interacções no seio da
família a partir do
reconhecimento dos
padrões de funcionamento

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e disfuncionamento;
- Reforço das
competências da família
no sentido de utilizar os
seus próprios recursos no
confronto com novos
problemas que surgirão
posteriormente.

• Sessões semanais;
• Duração de 1h ao longo
de, pelo menos, 6 meses;
• Terapeuta e/ou co-
terapeuta;
• Salas com espelho
unidireccional;
• Técnicas utilizadas
depende do quadro teórico
e dos objectivos
específicos do terapeuta:
- Técnicas activas e
confrontativas;
- Prescrições de tarefas e
rituais e prescrições
paradoxais;
- Role-playing,

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modelagens, esculturas, a
“cadeira vazia”, mapas e
genogramas familiares.
Atitude do Terapeuta Abstinência e neutralidade
do terapeuta.
Indicações Indicações individuais:• Quando no todo ou em
• Inteligência média parte a família está
• Insight; envolvida num problema
• Força do Ego
psicossocial;
(minimamente • Perturbações emocionais
estruturado). da infância e da
adolescência (neuróticas
Indicações ou psicóticas);
Psicopatológicas: • Dificuldades relacionais
• Neuroses; do casal;
• Algumas perturbações • Fobias escolares;
borderline. • Anorexias;
• Esquizofrenias;
• Toxicodependências;
• Alcoolismo;
• Prevenção primária em
saúde mental.
Contra-indicações • Psicose;
• Perversões;
• Algumas neuroses de
carácter.

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