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Avaliação e

Conceitualização em
Terapia do Esquema

Profa. Me. Isabela Pizzarro Rebessi


Isabela Pizzarro Rebessi
•Psicóloga pela FFCLRP – USP (CRP 06/141115)
•Mestre no Programa de Psicologia da Saúde e do Desenvolvimento –
FFCLRP/USP
•Formação em Terapia do Esquema pelo LaPICC-USP
•Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo CETCC
•Supervisora Monitora do Estágio de TCC em Grupos e Individual – LaPICC –
USP
Conceitos centrais
• Esquemas iniciais desadaptativos

• Necessidades emocionais básicas

• Modos esquemáticos
Necessidades básicas
Vínculo
seguro

Expressão
assertiva e Autonomia e
escolhas competência
espontâneas

Validação Limites
emocional realistas
Esquemas iniciais desadaptativos
• Abandono/Instabilidade
• Privação Emocional
• Desconfiança/Abuso
• Defectividade/Vergonha
• Isolamento social/Alienação
• Dependência/Incompetência
• Vulnerabilidade ao dano ou à doença
• Emaranhamento
• Fracasso
Esquemas iniciais desadaptativos
• Arrogo/Grandiosidade
• Autocontrole/Autodisciplina insuficientes
• Subjugação
• Autossacrifício
• Busca de aprovação/Busca de reconhecimento
• Negativismo/Pessimismo
• Inibição emocional
• Padrões inflexíveis
• Postura punitiva
Por quê avaliar?

• Vínculo com o paciente


• Entendimento completo da demanda
• Elaboração do plano terapêutico
• Diagnóstico
Avaliação
• Identificação dos sintomas atuais
• Ampla compreensão da origem da
sintomatologia
• Compreensão de padrões cognitivos
enraizados
• Dinâmica familiar
Não é suficiente a identificação apenas
racional dos EIDs; é preciso que o indivíduo
os vivencie emocionalmente.
Avaliação
• O paciente pode ativar estratégias de enfrentamento
desadaptativas como forma de proteção para não sentir
as dores advindas das necessidades emocionais não
atendidas
• Terapeuta deve desativar
• Utilizando hipercompensação e evitação, mascaram
seus esquemas nucleares
Avaliação
• É comum que esquemas fortes
tenham pontuação insignificante
nos inventários

• Emoções incongruentes
Caso de emoções incongruentes
• Paciente contando da briga dos pais

• Paciente relatando estupro que sofreu

• Paciente falando da filha e da sobrecarga


Múltiplos recursos além dos inventários

• Avaliação cognitiva
• Vivencial
• Comportamental
• Relação terapêutica
• Reações emocionais expressas pelo paciente na
sessão
A aliança terapêutica
• Investir para diminuir resistência
• O que o paciente ativa em sessão, provavelmente ativa
fora
• Postura atenta, calma, compreensível e empática
• Ativação esquemática é muito difícil e dolorosa, então o
paciente deve ser respeitado e validado em suas
necessidades
Aliança terapêutica
• Respeitar o tempo do paciente
• Adequar a técnica ao paciente, e nunca o contrário

• Feedbacks em sessão
• “Percebo que é muito desconfortável pra você falar
disso, e realmente é algo muito difícil e doloroso”
Aliança terapêutica
• “Talvez ainda seja difícil pra você fazer esse exercício
de imagem mental com essa cena...não se preocupe,
deixaremos para outro momento”

• “Por favor, me diga se algo que perguntei ou fiz te


deixou desconfortável em algum momento. Dessa
forma podemos construir uma relação terapêutica
saudável”
Aliança terapêutica
• O acesso aos EIDs se torna mais fácil quando o
paciente estiver se sentindo seguro, aceito e
compreendido. O terapeuta deve expressar empatia e
validar o conteúdo trazido, não somente por meio das
intervenções verbais, mas também de detalhes como o
tom de voz, postura e expressões faciais

• Sintonia que estimule a autoaceitação


Aliança terapêutica
• Evocar as emoções e as necessidades não atendidas
naquele momento

• Conectar as queixas do paciente a um padrão de


funcionamento esquemático, ressaltando sempre o
papel adaptativo do desenvolvimento dos EIDs
Análise situacional e automonitoramento
• Também se utiliza automonitoramento na TE

• EIDs são ativados no cotidiano e envolvem padrões de


pensamentos disfuncionais e emoções que não ajudam

• Uso maciço da flecha descendente para que se chegue


à emoção e às crenças nucleares
Flecha descendente
• Se isso fosse verdade, o que diria sobre
você?
• O que aconteceria se isso fosse verdade?
• Qual seu medo caso isso se torne
realidade?
• “Se isso fosse verdade (pensamento
automático), o que significa para
você?”
Análise situacional
• Podemos entender mais a fundo a frase “às vezes é
difícil quando não tenho reconhecimento das pessoas?”

• Pode me dar um exemplo de quando sente isso?

• Existem outras situações recentes nas quais você


pensou a mesma coisa ou se sentiu de forma
parecida?
Análise situacional
• Identificar os comportamentos que o paciente tem
frente a determinadas situações para entender os
padrões de enfrentamento

• Identificar as funções das estratégias comportamentais


e a quais EIDs estão “servindo” também é importante
no entendimento do caso.
Análise situacional
• O que você faz quando se
sente dessa forma?

• Você faz alguma coisa para


prevenir que essas
situações aconteçam?
Análise situacional
• O que você busca com esse comportamento?

• É essencial que o terapeuta fique atento a toda ativação


emocional, uma vez que emoções em grande intensidade
podem significar ativação esquemática (dentro e fora de
sessão)

• Emoção enquanto pista para o EID ativado


Análise situacional
• Pacientes começam a observar influência dos EIDs na
sua vida, ainda que não consigam modifica-los

• Isso pode ativar ainda mais algumas emoções difíceis,


como culpa

• Diário de esquemas (RPD da TE)


Identificação pela história de vida
• Busca da origem dos esquemas (orientação ao passado)

• Os esquemas atuais e as estratégias de enfrentamento devem


sempre estar relacionados às queixas atuais do paciente, porém é
indispensável entender suas origens

• Escuta atenta e empática sobre a história de vida e atenção às


emoções ativadas
Identificação pela história de vida
• Validação e acolhimento ao paciente

• Tom de voz afetivo e suave, aberto à escuta

• Fazer perguntas abertas sobre a história de vida e ir aprofundando


em situações

• “Eu entendo que isso tenha sido muito desagradável de se viver.


Como se sente quando lembra disso?”
Identificação pela história de vida
• Alguns objetivos de retornar às origens dos esquemas para
entende-los:

• Identificação dos EIDs e necessidades não atendidas


• Identificação das estratégias de enfrentamento
• Histórias importantes da infância
• exposição das emoções conectadas às experiências infantis
• Vínculo com o terapeuta
Identificação pela história de vida
• Para pacientes evitativos, é importante que a
identificação dos EIDs comece com as queixas atuais
e vá se aprofundando até as histórias centrais da
infância

• Feedbacks em sessão sobre a evitação


Identificação pela história de vida
• Para pacientes que hipercompensam, é necessário que
o terapeuta dê feedbacks sobre o que ele entende que
esteja acontecendo

“Você está me contando essa situação dessa forma, e eu


fico pensando sobre isso...acredito que seria muito
doloroso passar por tudo isso”
https://www.youtube.com/watch?v=_t9fcjZgIK8
INVENTÁRIOS
Inventários
• Fornecem informações clínicas relevantes
• Auxiliam o terapeuta na formulação de suas hipóteses
• Os resultados são quantitativos, mas a compreensão deve
ser qualitativa e complementada pelos outros métodos de
avaliação comentados anteriormente
• É a porta de entrada para formulação do caso
JAMAIS DEVEM SER UTILIZADOS
DE FORMA ISOLADA
Questionários
• Medidas autoavaliativas

• Escala likert de pontuação do quanto se identificam com cada


premissa (1-6)

• É comum o uso de estratégias evitativas

• Pacientes não evitativos tendem a sofrer grandes ativações


Questionários
• O terapeuta deve apresentar algumas instruções aos pacientes:

✓ As questões podem ativar emoções desconfortáveis


✓ As respostas devem ser respondidas de forma mais emocional do
que racional (ou seja, não é necessário racionalizar muito)
✓ Preencher em um local com poucos estímulos
✓ Anotar dúvidas e levar para a sessão
Questionário de Esquemas de
Young - YSQ
• Pressupostos típicos de cada EID

• Versão mais longa é mais aprofundada, porém cansativa


• Versão reduzida conta com 90 questões que avaliam os 18 EIDs
• Estudos de validação apontam consistência interna
Correção do YSQ
• Média de cada esquema (sendo superior a 4,5)

• Deve-se fazer avaliação qualitativa das frases de maior


escore

• Caso apresente três ou mais escores altos (5 ou 6 de


pontuação), provavelmente o paciente tem o referido
esquema
Correção YSQ
• Correção interpretativa, ou seja, o terapeuta observa a
relevância da pontuação das questões de acordo com
a história de vida do paciente e com as técnicas de
avaliação realizadas previamente

• Busca de padrões cognitivos e emocionais


• Checar possível evitação esquemática
• Avalia ativações daquele momento
Correção qualitativa
• “De que forma isso aparece na sua vida atual? E na
sua história?
• Pode me descrever em quais momentos se sentiu
dessa forma?

Cuidado com falsos resultados

https://www.youtube.com/watch?v=sVDjsSwUG1c
Inventário Parental de Young - YPI
• Complementar ao YSQ

• Objetivo de identificar a origem dos EIDs por


meio de lembranças da infância com
cuidadores primários
Correção YPI
• Terapeuta e paciente discutem todos os escores altos (5 ou
6), buscando exemplos de situações e entendendo como tais
estilos dos pais podem ter influenciado das necessidades não
atendidas e, consequentemente, nos EIDs

• Alinhamento com o YSQ; EID com respostas altas em ambos


os questionários indica valência do esquema em questão
Correção YPI: cuidados
• Maior facilidade para preenchimento do que o YSQ

• Pouca crítica sobre os cuidadores (culpa)

• Validação das necessidades emocionais não atendidas


Inventário de Modos esquemáticos (SMI)
• Interação com o mundo a partir dos EIDs e seus estilos
de enfrentamento

• SMI é a versão reduzida do YAMI e possui 124 itens


avaliando 14 modos esquemáticos
Correção do SMI
• Média de cada modo (sendo superior a 4,5)

• Deve-se fazer avaliação qualitativa das frases de maior


escore

• Compreensão dos gatilhos de ativação de cada modo


Correção SMI – qualitativa
• Auxiliar o paciente a falar sobre seus modos e
quando eles são ativados

• “Em que momentos isso é visível? Quando


começou a agir dessa forma?”
Inventário de Evitação de Young-Rygh
(YRAI)
• Composto por 41 itens que buscam avaliar as
estratégias de evitação do paciente

• Compreensão das estratégias emocionais, cognitivas e


comportamentais que o paciente utiliza para fugir do
desconforto emocional
Correção YRAI
• Todos os escores altos (5 ou 6) são levados em
consideração como estratégias de evitação

• Terapeuta deve questionar a função de cada


uma dessas estratégias
Inventário de Compensação de Young
(YCI)
• Composto de 48 itens que buscam avaliar
estratégias de hipercompensação

• Sua correção é idêntica ao YRAI e o terapeuta


deve buscar quais sentimentos são encobertos
pela hipercompensação
AVALIAÇÃO POR IMAGEM MENTAL
Avaliação por imagem mental
• Deve ser feita somente após boa vinculação e relação
terapêutica, além da compreensão cognitiva

• Compreensão emocional é via de acesso necessária


para o tratamento em TE

• Objetivo da técnica na avaliação é permitir que o


paciente vivencie seu modo criança para compreender
a origem dos EIDs e suas emoções associadas
Avaliação por imagem mental
• A verbalização pode se tornar difícil em alguns
momentos, aumentando a importância da ativação
emocional por meio de imagens

• Possibilita a conexão entre sensação da ativação


esquemática e os problemas atuais do paciente

• A imagem mental é amplamente utilizada na fase de


intervenção, além da avaliação
Orientações fundamentais
• Terapeuta deve explicar com clareza o exercício
• Especial atenção ao esquema de desconfiança/abuso
• Caso haja medo ou desconforto do paciente,
terapeuta pode propor que ele abra os olhos durante
o exercício
• Sempre iniciar e terminar com o lugar seguro
Orientações fundamentais
• Fazer no início da sessão para que haja tempo
suficiente de discussão da experiência
• Sempre relacionar a experiência da emoção
desagradável com as questões atuais do paciente
• Atenção plena
• Contato posterior do terapeuta
Variações possíveis
• Imagem desagradável da infância e logo após
imagem desagradável da situação atual
relacionada
• O caminho inverso também é possível
• “Eu gostaria de propor um exercício para que
possamos entender de forma mais
aprofundada o esquema X”
Passo a passo
1. Fechar os olhos e relaxar o máximo possível
2. Solicitar imagem de um lugar seguro
3. Detalhes visuais e sensoriais desse lugar
4. Sair do lugar seguro e buscar imagem de situação incômoda
5. Solicitar detalhes físicos, sensações, pensamentos e
sentimentos infantis
6. O que a criança gostaria que o familiar fizesse diferente na
cena?
Passo a passo
7. Solicitar que ela diga isso ao familiar
8. Focar na sensação infantil
9. Solicitar uma imagem da vida atual que traga o mesmo
sentimento
10. Focar na imagem atual agora (primeira pessoa)
11. Apagar a imagem e voltar para o lugar seguro
12. Abrir os olhos
13. Discutir a experiência
AVALIAÇÃO PELA RELAÇÃO
TERAPÊUTICA
Relação terapêutica
• Conteúdos significativos que aparecem em sessão
• Entender reações emocionais e estratégias de
enfrentamento como manifestações dos EIDs
• Sempre dar feedback das percepções
• Cuidado com a ativação dos EIDs do próprio
terapeuta
EIDs Comportamentos típicos na sessão

Privação Emocional Faltar à terapia ou minimizar problemas; exigir


grande amparo emocional
Abandono Abandonar a terapia, dificuldade em tolerar
ausências; contatos repetidos fora da sessão
Defectividade/Vergonha Dificuldade no contato visual, grande
desconforto, não mostram erros
Desconfiança/Abuso Dificuldade no vínculo, hipervigilância
Isolamento social Dificuldade no vínculo; intimidade exagerada
Dependência/incompetência Questionamentos constantes
Fracasso Displicência; dificuldade com críticas
EIDs Comportamentos típicos na sessão

Vulnerabilidade ao dano Não faz tarefas com medo de possíveis


catástrofes; medo de algumas emoções
Emaranhamento Busca de mais intimidade com o terapeuta

Arrogo/Grandiosidade Tratamento especial, postura de ataque

Autodisciplina/Autocontrole insuficientes Atrasos frequentes, não cumpre o contrato

Subjugação Concordar com tudo para agradar

Autossacrifício Preocupação com necessidades do terapeuta

Busca de aprovação/reconhecimento Omissão dos fracassos e foco nas realizações


pessoais; tentativa de impressionar
EIDs Comportamentos típicos na sessão

Negativismo/Pessimismo Não acredita na eficácia do tratamento;


despertam desesperança no terapeuta
Postura punitiva Quando frustrado, pune o terapeuta

Inibição emocional Não acessa os conteúdos emocionais,


excessivamente racionalizado
Padrões inflexíveis Questionam condução da terapia e tentam
impor ideias
Conclusões
• Avaliação é multifacetada

• Vínculo é fundamental

• Questionários sozinhos não bastam

• Ativação emocional

• https://www.youtube.com/watch?v=BLOaWuTm8iU&t=989s
Referências
• CAZASSA, M. J.; OLIVEIRA, M. S. Terapia focada em esquemas: conceituação e pesquisas. Archives of Clinical Psychiatry
(São Paulo), v. 35, p. 187-195, 2008. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rpc/a/HXwQxZGBzFj3LJTFkBgnvVb/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 06 de fevereiro de 2022.
• CECERO, John J.; YOUNG, Jeffrey E. Case of Silvia: A schema-focused approach. Journal of Psychotherapy Integration, v. 11,
n. 2, p. 217-229, 2001. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1023/A:1016657508247>. Acesso em: 06 de
fevereiro de 2022.
• HOFFART, A. The Case Formulation Process in Schema Therapy of Chronic Axis I Disorder (Affective/Anxiety Disorder).In: Van
Vreeswijk, M., Broersen, J., & Nadort, M. The Wiley-Blackwell handbook of schema therapy: Theory, research, and practice.
Chichester, West Sussex: John Wiley & Sons, 2012.
• PAIM, K.; COPETTI, M. E. K. Estratégias de avaliação e identificação dos esquemas iniciais desadaptativos. Em: WAINER, R.,
et al. Terapia cognitiva focada em esquemas. Porto Alegre: Artmed, 2016.
• SOUZA et al. (2020). Adaptação Brasileira do Questionário de Esquemas de Young - Versão Breve (YSQ-S3). Avaliação
Psicológica, 19(4), 451-460. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
04712020000400012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 06 de fevereiro de 2022.
• YOUNG, Jeffrey E.; KLOSKO, Janet S.; WEISHAAR, Marjorie E. Terapia do esquema: Guia de técnicas cognitivo-
comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.
OBRIGADA!

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