Você está na página 1de 8

Registro de pensamentos disfuncionais (RPD)

A elaboração de um diário para registro dos pensamentos disfuncionais é uma das


técnicas usadas em terapia cognitiva comportamental.
O objetivo do RPD é proporcionar a consciência das conexões entre:
 Emoções que experimentamos,
 Pensamentos automáticos que nos ocorrem,
 Comportamentos e posturas que adotamos.
O Registro Diário de Pensamentos Disfuncionais, também conhecido como RPDP, é
uma ferramenta utilizada no tratamento de diversos pacientes. Seu foco não é apenas
identificar os pensamentos automáticos, mas ajudar o paciente a contestá-los.
A proposta da técnica é instigar o paciente a pensar em respostas mais positivamente
adaptativas frente às cognições negativas que possam surgir no dia-a-dia. Dessa forma,
é possível que ele consiga, ainda que pouco a pouco, se posicionar de forma saudável
frente às situações que vivencia.
É por meio dela que o paciente consegue, gradativamente, identificar quais são os
pensamentos responsáveis por potencializar o sofrimento mental.
Para realizar o exercício, você pode criar uma planilha, dividida em colunas, na qual
devem constar os seguintes campos a preencher:
1. Dia e hora.
2. Situação:descreva onde você estava, com quem estava, o que fazia na ocasião,
quais eram as conversas que aconteciam — e outros detalhes do ambiente que
você puder lembrar.
3. Pensamentos: procure recuperar, da melhor forma possível, quais raciocínios e
ideias passaram pela sua cabeça naquele momento. É interessante que você
avalie, também, o quanto acredita que o pensamento que te ocorreu é válido e
faz sentido. Portanto, considerando uma escala de 0 a 100, responda: quão
convencido você está de que aquele pensamento é um fato incontestável?
4. Emoções, sentimentos ou sensações: como você se sentiu na ocasião? Triste,
irritado, inquieto?
5. Comportamento: o que você fez, como reagiu, que atitudes tomou?
A partir desses apontamentos, você pode avançar para o próximo tópico: descobrir
respostas alternativas ao evento.
Ou seja, uma vez que você tem condições de enxergar o quadro geral — onde fica
nítida a relação entre seus pensamentos e reações — o próximo passo é buscar
possibilidades que não te ocorreram na hora.
Como fazer o registro de pensamentos disfuncionais
“Escrever é pensar. É mais do que viver, pois é ter consciência de viver. ” Anne
Morrow Lindbergh
Escrever é um exercício de autoconhecimento impressionante.
E não precisa ser algo complicado, que exija muito tempo.
Anotações breves e até uso de símbolos — para representar o que queremos dizer —
já servem para revelar conexões entre nossos comportamentos, sentimentos. E os
insuspeitos pensamentos automáticos que os alimentam.

Como fazer o registro de pensamentos disfuncionais


O primeiro passo para realizar o registro de pensamentos disfuncionais é construir
uma tabela que contenha os principais pontos a serem trabalhados. Existem alguns
modelos disponíveis de forma online e nós preparamos um para te ajudar
Com a tabela em mãos, o terapeuta deverá orientar o paciente a preencher da
seguinte forma:
 1ª coluna: anotar sempre o dia que a situação ocorreu;
 2ª coluna: descrever situação causadora de desconforto. É importante que seja
anotado, também nesse tópico, o local, momento, com quem estava, o que
fazia, o que falavam e quaisquer detalhes relevantes acerca da situação;
 3ª coluna: especifique as emoções, sentimentos ou sensações (ex.: raiva,
medo, tristeza, irritação, taquicardia, falta de ar, suor repentino…) para,
posteriormente, avaliar a intensidade através da escala de 0 a 100;
 4ª coluna: faça uma lista dos pensamentos que emergiram da situação, da
maneira como apareceram em sua mente. Em seguida, defina o grau de sua
convicção para cada pensamento seguindo a escala de 0 a 100;
 5ª coluna: reflita e faça anotações sobre as respostas alternativas para os
pensamentos registrados na coluna anterior. Analise racionalmente cada uma,
buscando respostas para perguntar como “que provas tenho da veracidade de
cada pensamento? Qual é a pior coisa que pode acontecer a mim? Qual efeito a
situação teria sobre mim se eu mudasse o pensamento? Se um amigo estivesse
passando pela mesma situação, o que poderia dizer a ele?” É fundamental que
seja avaliado o quanto você acredita em cada resposta, seguindo uma escala de
0 a 100;
 6ª coluna: analise mais uma vez e reavalie o grau de convicção em cada
pensamento e emoção descritos. Então, se faça algumas perguntas para
potencializar a reflexão, como: quanto você acredita agora em cada
pensamento (0-100)? Qual é a emoção que sente agora? O que é possível ser
feito agora diante da situação, considerando novas possibilidades e
interpretações?.
Qual é a importância de realizar o registro?
O Registro Diário de Pensamentos Disfuncionais é extremamente importante para o
desenvolvimento do tratamento do paciente. Isso porque consegue possibilitar a
maior autonomia e autoconhecimento por parte da pessoa.
O terapeuta precisa ter uma escuta bem ativa para entender qual é o melhor
momento para incluir essa tarefa nas atividades propostas para o paciente ao longo do
treinamento. Sendo assim, essa técnica se mostra eficaz para o tratamento de casos de
depressão, ansiedade e diversos outros.
Por meio do RDPD, o paciente consegue ter uma visão mais macro de si mesmo,
conseguindo identificar os gatilhos que possam estar potencializando o sofrimento
mental. Além disso, a técnica é fundamental para ajudar o paciente a se
responsabilizar pelos seus próprios comportamentos, devolvendo a ele a função de
protagonista da própria vida.

Lista de pensamentos
disfuncionais
O psiquiatra David D. Burns — conhecido por ter popularizado a terapia cognitivo
comportamental — documentou uma lista com as crenças disfuncionais mais comuns.

Essa lista, publicada no livro Feeling Good Handbook, é uma ótima referência para você
passar a enxergar estilos de pensamentos disfuncionais que te ocorrem.

E também passar a ver essas distorções cognitivas nas pessoas com as quais convive.

Em resumo, David Burns propõe que você preste atenção nos seguintes padrões:

1. Pensamento de tudo ou nada (ou


pensamento dicotômico)
Ocorre sempre que você pensa as coisas em termos de “8 ou 80”.

Como se não houvesse possibilidade de meio termo.

2. Supergeneralização
Se refere ao péssimo hábito de interpretar uma situação isolada — ou uma única
experiência — como verdade estabelecida.

Quem pensa assim, julga que um resultado negativo é suficiente para invalidar novas
tentativas.

3. Filtro mental
Equivale à tendência de focar em falhas, erros ou aspectos negativos de um
acontecimento.

Quando você usa a filtragem mental como critério, os detalhes desagradáveis ou


constrangedores costumam ser tudo o que você lembra de uma situação.

4. Desqualificação do positivo
Consiste em perceber que eventos positivos aconteceram, de fato. Porém, em função da
distorção cognitiva, a pessoa os considera obra do acaso.

Ou seja, não reconhece a experiência positiva como algo de valor, algo que conte como
evidência de uma habilidade, por exemplo.

5. Leitura mental
É uma armadilha que nos faz acreditar que podemos adivinhar o que os outros pensam.

Tudo com base em suposições.

Seria o mesmo que tirar conclusões precipitadas, presumindo que as intenções das outras
pessoas são exatamente aquelas que você “decidiu” como verdades.

6. Adivinhação
Também parte do pressuposto que você tem alguma espécie de bola de cristal.

Essa distorção aparece quando você faz previsões sobre o futuro (cria desdobramentos
em sua cabeça), se fixando em hipóteses pouco prováveis.
7. Catastrofização

Entenda os pensamentos disfuncionais


É um tipo de pensamento disfuncional que te faz ampliar ou minimizar o significado,
importância ou probabilidade de certas coisas acontecerem.

Por essa lente, o pior cenário ou desfecho imaginável ganha ares de consequência lógica.
Mesmo que isso desafie a própria lógica!

8. Raciocínio emocional
Significa avaliar as emoções e sentimentos como se fossem fatos.

Ou seja, a pessoa assume que a forma como ela se sente sobre uma situação traduz a
verdade.

Quando permitimos que uma emoção ganhe esse status (ciúmes, por exemplo),
ignoramos argumentos razoáveis que poderiam nos mostrar outra perspectiva.

9. Declarações do tipo “deveria” ou “eu devo”


São pensamentos disfuncionais relacionados às nossas expectativas de como as
coisas deveriam ser ou acontecer.

O problema é que essas “declarações de dever” são idealizações.

E a realidade, dificilmente, é perfeita.

Resultado? Nos sentimos culpados ou envergonhados quando as coisas não saem como
pensamos.

Ou ficamos ressentidos, com raiva e decepcionados quando os outros não agem como
acreditamos que eles deveriam agir.
10. Rotulação
Equivale a atribuir rótulos negativos a si mesmo (ou aos outros) em função de incidentes
isolados.

Por exemplo, quando um amigo não te ajuda numa situação e você o julga egoísta.

Ou quando você se autointitula incompetente, porque não conseguiu realizar uma tarefa
de trabalho.

Nesses casos, a rotulagem está distorcendo suas avaliações.

11. Personalização
É um erro cognitivo que consiste em levar tudo para o lado pessoal.

Em outras palavras, é o mesmo que assumir a culpa ou responsabilidade pelas atitudes e


humores de outras pessoas

Outros pesquisadores complementam a lista de pensamentos automáticos disfuncionais


incluindo estes tópicos:

12. Atribuição de culpa


Ao contrário da personalização, essa distorção faz com que você transfira a culpa de seus
problemas para as outras pessoas.

Como se fosse uma vítima das circunstâncias. Isenta de responsabilidade nos


acontecimentos desagradáveis.

13. Estar sempre certo

“Um longo hábito de não pensar que algo está errado dá uma aparência superficial de
estar certo.” — Thomas Paine
É um grande empecilho para construção de um relacionamento saudável.
Por essa ótica, a pessoa compreende suas opiniões como fatos — incontestáveis.

Logo, fará de tudo para mostrar que o que ela pensa é o correto.

E, por consequência, buscará invalidar tudo o que for contra sua convicção.

Ou seja, o espaço para um real diálogo e empatia não tem vez.

14. Falácia de controle externo


Consiste em imaginar que sua vida é controlada pelo destino.

Não há nada que possa fazer para mudar o que “está escrito” para você.

É uma maneira de isentar seus comportamentos prejudiciais das consequências que eles
trazem.

15. Falácia do controle interno


Oposto à falácia do controle externo, esse tipo de pensamento disfuncional te transforma
no “centro do universo”.

Você acredita que são exclusivamente as suas ações que determinam todo seu entorno.

O excesso de autorresponsabilidade o impede de considerar fatores externos — e a


própria liberdade de escolhas alheia — como elementos independentes que interferem nos
resultados.

16. Falácia de justiça


Pode ser traduzida como apego à ideia de “lei do retorno”.

A pessoa pressupõe que todos os seus esforços devam ser reconhecidos. E retribuídos
em igual medida.

Da mesma forma, quando ocorrem eventos negativos, os vê como um castigo pelos erros
que cometeu.

Porém, a realidade não obedece esse equilíbrio 100% das vezes…

17. Falácia da recompensa do céu


Semelhante à falácia da justiça, essa crença disfuncional faz com que a pessoa guie seus
atos esperando uma retribuição divina.

Ela é capaz de abrir mão de seus sentimentos e interesses, na expectativa de que seu
sacrifício resulte em recompensas.

Como o retorno nem sempre acontece, alguém com esse tipo de pensamento pode
mergulhar em amargura e frustração.

18. Falácia da mudança


É típica de relacionamentos abusivos.

A pessoa acredita que pode mudar o outro, se pressionar o suficiente.

E faz isso pois acredita que sua felicidade depende da mudança idealizada na outra
pessoa.

Você também pode gostar