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Teste psicológico para avaliar a sintomatologia psicopatológica

Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI)

O Brief Symptom Inventory (BSI) desenvolvido por Derogatis em 1982, foi validado para a
população portuguesa, por Maria Cristina Canavarro em 1999, como Inventário de
Sintomas Psicopatológicos.

Aspetos gerais

É uma escala de autorrelato constituída por um conjunto de afirmações para as quais deve
ser assinalada a resposta que melhor descreve o grau em que a pessoa se sentiu perturbada
com cada um dos sintomas ou problemáticas apresentadas. Este inventário de autorresposta
é constituído por 53 itens, em que a resposta é dada numa escala ordinal de 5 pontos,
referindo-se à frequência com que os problemas afetaram o sujeito nos 7 dias anteriores.

Acrescendo à finalidade de avaliação clínica, o Inventário de Sintomas Psicopatológicos


pode também ser utilizado para fins de investigação científica em Psicologia. Desta forma,
pode aplicar-se também à população geral ou não clínica.

O inventário de sintomas psicopatológicos (BSI), apresenta como finalidade a avaliação


dos sintomas psicopatológicos apresentadas pela pessoa, sendo por isso utilizado no
contexto da psicologia clínica. Permite assim ao psicólogo clínico conhecer a configuração
de sintomas e o mal-estar psicológico/distress associado à experiência destes, podendo
auxiliar na configuração de perturbações psicológicas, quando assim se verifica.

Dimensões avaliadas

Este inventário permite assim avaliar diversos sintomas, através de nove dimensões, sendo
elas:

Somatização (S), (inclui 7 itens) - reflete o mal-estar resultante da percepção do


funcionamento somático, compreendendo queixas relacionadas com os sistemas
cardiovasculares, gastrointestinal, respiratório ou outro qualquer sistema com clara
mediação autonómica. Esta dimensão, também engloba as dores localizadas na musculatura
e outros equivalentes somáticos da ansiedade;
Obsessões-compulsões (OC), (inclui 6 itens) - abrange os sintomas identificados com o
síndroma clínico do mesmo nome. Esta dimensão abrange ainda as cognições, impulsos e
comportamentos persistentes e aos quais o indivíduo não consegue resistir, embora sejam
ego-distónicos e de natureza indesejada. Encontram-se incluídos nesta dimensão, também
comportamentos que indicam uma grande dificuldade cognitiva mais geral.

Sensibilidade interpessoal (SI), (inclui 4 itens) - foca-se nos sentimentos de inadequação


pessoal e inferioridade, particularmente na comparação com outras pessoas. As
manifestações características desta dimensão são a auto-depreciação, a hesitação, o
desconforto e a timidez durante as interações sociais;

Depressão (D), (inclui 6 itens) - esta dimensão inclui os itens que refletem o grande
número de indicadores de depressão clínica, onde se incluem os sintomas de afeto e humor
disfórico, a perda de energia vital, a falta de motivação e de interesse pela vida;

Ansiedade (A), (inclui 6 itens) – esta dimensão engloba os indicadores tais como o
nervosismo e a tensão, bem como são contemplados sintomas de ansiedade generalizada e
de ataques de pânico. Incluem-se também componentes cognitivas que envolvem apreensão
e alguns correlatos somáticos da ansiedade;

Hostilidade (H), (inclui 5 itens) - esta dimensão engloba pensamentos, emoções e


comportamentos característicos do estado afetivo negativo da cólera;

Ansiedade fóbica (AF), (inclui 5 itens) - reflete uma resposta de medo persistente (em
relação a uma pessoa, local ou situação específica) que sendo irracional conduz ao
comportamento de evitamento. Os itens desta dimensão centram-se nas manifestações do
comportamento fóbico mais patognomónicas e disruptivas;

Ideação paranóide (IP), (inclui 5 itens) – esta dimensão representa o comportamento


paranóide fundamentalmente como um modo perturbado de funcionamento cognitivo,
marcado por projecções, hostilidade, suspeição, grandiosidade, egocentrismo, medo da
perda de autonomia e delírios;

Psicoticismo (P), (inclui 5 itens) – esta dimensão é entendida como uma dimensão contínua
da experiência humana. Inclui itens indicadores de isolamento e de estilo de vida
esquizóide, assim como sintomas primários de esquizofrenia como as alucinações e o
controlo de pensamentos. A escala fornece um contínuo graduado, desde o isolamento
interpessoal ligeiro à evidência dramática da psicose.

Para além das referidas dimensões, o inventário conta ainda com três índices que de um
modo geral ponderam a intensidade do mal-estar psicológico, isto é, quão perturbador é a
sua experiência para a pessoa, assim como o número de sintomas apresentados.

De acordo com Canavarro (2007), os três índices calculados são:

 Índice Geral de Sintomas (IGS), que se refere a uma pontuação combinada que
pondera a intensidade do mal-estar experienciado com o número de sintomas
assinalados;
 Índice de Sintomas Positivos (ISP), que se relaciona com a média da intensidade de
todos os sintomas que foram assinalados; e
 Total de Sintomas Positivos (TSP), que representa o número de queixas
sintomáticas apresentadas.

Estudos de Fiabilidade

Estes estudos foram realizados através da análise de consistência interna do BSI,


nomeadamente do comportamento dos itens na escala a que pertencem e dos índices
globais de fiabilidade das escalas. Ao examinar as correlações obtidas entre cada item e a
nota global da escala, quando esta contém o próprio item e quando este é excluído, os
autores verificaram que estas variam entre .29 e .79. O valor mais baixo encontrado para a
correlação quando esta não contém o item é de .29 (para o item 43). Tendo como referência
alguns autores, que defendem que as correlações devem ter valores superiores a .20, pode
afirmar-se a homogeneidade dos itens constituintes das diversas escalas (Canavarro, 2007).

Estudos de Validade

Este é um constructo que procura avaliar em que medida os resultados do teste são
indicativos dos constructos teóricos subjacentes, ou seja, das dimensões que o instrumento
procura medir. Os contributos dos estudos de validade de constructo incluíram a análise de
consistência interna, nomeadamente na análise das correlações entre os itens e a nota
global. Os autores avaliaram também a capacidade de o instrumento distinguir os
indivíduos, reconhecer que, para todas as escalas do BSI e para os três índices globais, os
indivíduos perturbados emocionalmente apresentavam valores mais elevados de sintomas
psicopatológicos, do que indivíduos da população geral, tal como avaliado pelo
instrumento. (Canavarro, 2007).

Chave para interpretação

A pontuação total obtida em cada dimensão é calculada a partir da média aritmética dos
valores obtidos nos respetivos itens, isto é, somam-se os valores obtidos nos respetivos
itens correspondentes a cada dimensão e divide-se pelo número de itens pertencentes a essa
dimensão (Canavarro, 2007). Para a obtenção dos índices, quanto ao Índice Geral de
Sintomas deverão somar-se as pontuações de todos os itens e seguidamente dividir-se pelo
número total de respostas. Quanto ao Total de Sintomas Positivos, este é obtido somando o
número de itens assinalados com resposta positiva e por último, o Índice de Sintomas
Positivos.

Para diferenciar indivíduos perturbados emocionalmente daqueles que não se encontram


perturbados emocionalmente, a autora definiu como ponto de corte do ISP (Índice de
Sintomas Positivos) 1.7, ou seja, com valores acima deste, podem encontrar-se
perturbações emocionais, enquanto valores abaixo, encontram-se indivíduos da população
geral (Canavarro, 1999).
Referências Bibliográficas

Canavarro, M. C (2007). Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI). Uma revisão


crítica dos estudos realizados em Portugal. In M. R. Simões, C. Machado, M. M.
Gonçalves, & L. S. Almeida (Eds.), Avaliação Psicológica: Instrumentos validados para a
população portuguesa (vol. III). Coimbra: Quarteto.

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