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Bruno Borine
Docente do curso de graduação de Psicologia e do curso de graduação de Direito das
faculdades integradas de Cacoal (UNESC). Mestre em Psicologia na área de construção
e avaliação de instrumentos de medidas psicológicas e Graduado e Licenciado em
Psicologia pela Universidade São Francisco (USF).
Resumo
A presente pesquisa visou buscar evidências de validade baseada na relação com outras
variáveis para a Escala de Depressão - EDEP com a Bateria Fatorial de Personalidade -
BFP. Participaram 212 pessoas, ambos os sexos, com idade mínima de 17 e máxima de
58 anos, estudantes universitários. Neste estudo, foi verificada por meio do teste de
correlação de Pearson alta correlação positiva entre a EDEP e o fator Neuroticismo e
correlações negativas moderadas e baixas para a EDEP e os fatores Extroversão,
Realização e Socialização da BFP. Este estudo encontrou evidências de validade
baseada na relação com outras variáveis para a Escala de Depressão- EDEP.
Abstract
This research aimed to find evidence of validity based on the relationship with other
variables for Escala de Depressão - EDEP with Bateria Fatorial de Personalidade - BFP.
The study participants were 212 people, men and women, aged 17 and maximum of 58
years, college students. In this study, was verified by means of the Pearson correlation
high positive correlation between the EDEP and Neuroticism factor and a negative and
moderate to low EDEP and the factors Extraversion, Achievement and Socialization of
BFP. This study found evidence of validity based on the relationship with other
variables for Escala de Depressão - EDEP.
Resumen
Esta investigación tuvo como objetivos buscar pruebas de validez basada em la relación
com otras variables para la Escala de Depressão – EDEP com la Bateria Fatorial de
Personalida - BFP. En este estudio participaron 212 personas, ambos sexos, con edad
mínima de 17 y máxima de 58 años, los estudiantes universitarios. En este estudio, se
verificó por la alta prueba de correlación de Pearson alta correlación entre EDEP y de lo
factor neuroticismo y correlaciones negativas moderada y bajas para la EDEP y los
factores de extraversión, realización y socialización de la BFP. Este estudio encontró
pruebas de validad basada en la relación con otras variables para la Escala de
Depreción.
Introdução
crescimento de casos no mundo nas últimas décadas, sendo estimado que esse aumento
seja intensificado, despertando para ações deliberadas para enfrentar esta demanda
APA, 2014) são descritos os sintomas que caracterizam um Episódio Depressivo Maior,
tais como, humor deprimido na maior parte do dia, interesse ou prazer diminuídos por
todas ou quase todas as atividades, perda ou ganho significativo de peso sem estar em
tentativa de suicídio ou plano específico para cometê-lo, sendo que os eles devem ser
depressão pode ser desencadeada em qualquer faixa etária, tanto em homens quanto em
mulheres, sendo responsável por altos custos de tratamentos, o que gera grandes
prejuízos tanto para o governo como também para a sociedade. Estima-se que existam
masculino e 3,2% no sexo feminino. Em geral, a depressão afeta de 15% a 20% das
ocupa uma parcela grande das pessoas que se afastam das atividades educacionais e
Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (ECA) demonstra que as
mulheres apresentam cerca de duas vezes mais depressão do que homens, não somente
pelos aspectos endócrinos, mas também pelo ambiente e suporte social na maioria das
Cunha, Bastos e Del Duca (2012) relataram que os fatores socioeconômicos também
aparecem como fator de risco para depressão, sendo que pessoas com baixa
situação conjugal, a depressão parece ser mais frequente entre pessoas divorciadas ou
fatores como falta de esposo (a), isolamento social, e falta de uma pessoa confidente
muito comum. Sintomas físicos múltiplos como dor, fadiga, insônia e alterações
(Michelon, 2006). Desta forma, a depressão está associada a vários fatores de risco e
comorbidades, sendo que instrumentos desenvolvidos para rastrear esse transtorno são
do funcionamento humano, proporcionando assim, algum tipo de escore que possa ser
1.676 participantes de diferentes grupos, tais como: pessoas com depressão, pacientes
psiquiátricos, universitários, hospitalizados por doença física, dentre outros, sendo que
índices médios de ajuste infit e outfit (1,05 e 1,06) se mostraram adequados e a escala
meio da evidência de validade baseada na relação com outras variáveis. Este tipo de
instrumento com outras variáveis externas e, essas medidas externas devem incluir
medidas de alguns critérios que o instrumento se propõe a medir, podendo ser outros
Hutz, 2002). A Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), que é nacional e foi construída
Clinical multiaxial Inventory-III. Como previsto, as análises revelaram que pessoas com
cognitivo para a depressão. A pesquisa foi realizada em uma amostra de 349 estudantes
esperado, o risco cognitivo e ruminação foram relacionados com a patologia do eixo II,
dependente e obsessivo-compulsivo.
evidências genéticas são cada vez mais convincentes. Os autores acreditam que existem
diferentemente aos dois tratamentos. Outro resultado da pesquisa foi que indivíduos
A, não clínico), sendo 71% do sexo feminino, com idades entre 18 a 55 anos (M=25,24)
maior parte da amostra do sexo feminino (79,3%) e idades entre 25 a 67 anos (M=46).
mulheres (M=45,37).
diferenças entre o grupo ambulatorial dependente e o grupo não dependente, sendo que
EFN quanto para os outros dois inventários, sendo que apenas no fator depressão não
hospitalar foi realizada por Dias (2008). Foram aplicados a Escala de depressão
grupo clínico composto por 100 pessoas com um tipo específico de doença inflamatória
p<0,01), uma vez que correlações entre medidas de Neuroticismo e depressão têm sido
fatores Extroversão (r= -0,32; p<0,01), Socialização (r= -0,23; p<0,01), Realização (r=
-0,15; p<0,01) e do fator geral de Abertura com a EDEP, mas em menor magnitude.
do modelo dos CGF, além de correlação entre depressão e neuroticismo (Bagby et al.,
2008; Dias, 2008; Nunes, 2000). Estes achados estão sendo discutidos na literatura, já
que pessoas que possuem características predominantes destes fatores tendem a ter
Método
Participantes
Participaram deste estudo 212 pessoas com idades entre 17 e 58 anos (M= 25;
DP= 8,2), ambos os sexos, sendo 57 (26,9%) do sexo masculino e 155 (73,1%) do sexo
Paulo.
Instrumentos
como, sexo, idade, estado civil, curso acadêmico em que o sujeito está inserido, nível de
descritores baseados nos preceitos da Terapia Cognitiva de Beck (Beck, Rush, Shaw, &
itens em formato tipo Likert de cinco pontos. A pontuação mínima para o teste é zero e
variando de 0,67 a 0,68 entre a EDEP e o BDI, em uma amostra de 165 universitários,
mesmo após o controle de variáveis tais como sexo e idade. A EDEP, atual Escala
aprovada e publicada em sua nova versão, contendo 45 itens divididos em duas frases
por item, no formato Likert de 4 pontos, variando de zero a três, com pontuação mínima
Bateria Fatorial de Personalidade BFP (Nunes et al., 2008): a escala tem como
finalidade a avaliação da personalidade por meio dos traços. As respostas dadas aos
itens da BFP são registradas em uma escala tipo Likert de concordância, de sete pontos,
sendo que esta pontuação vai flutuar dependendo da identificação do sujeito com a frase
modelo dos cinco grandes fatores adequados para o Brasil (Hutz et al., 1998). Faz-se
necessário ressaltar que o CGF é uma versão moderna e atual dos modelos gerados
Procedimentos
coletiva, em salas de aula com até 40 alunos, sendo que o tempo de aplicação variou em
Resultados
BFP por meio de correlação de Pearson. As correlações dos fatores gerais da BFP com
a EDEP, em sua grande maioria foram significativas, com exceção do fator Abertura a
Tabela 1.
Correlação de Pearson entre a EDEP e os fatores gerais da BFP.
Bateria Fatorial de Personalidade
com a EDEP, portanto, pessoas com sintomas depressivos podem interagir menos com
O fator Socialização teve associação baixa e negativa com a EDEP, demonstrando que
pessoas com sintomas depressivos podem ter uma qualidade de interações sociais baixas
também teve correlação negativa e baixa com a EDEP. Esta associação demonstra que
com pouco controle e motivação para alcançarem seus objetivos. A Tabela 2 mostra as
Tabela 2.
Correlação de Pearson entre a EDEP e as facetas da BFP
Facetas BFP EDEP
E1 Comunicação -0,30(**)
E2 Altivez 0,05
E3 Dinamismo -0,54(**)
E E4 Interações Sociais -0,40(**)
S1 Amabilidade -0,14(*)
S2 Sociabilidade -0,15(*)
S3 Confiança -0,17(*)
R1 Competência -0,44(**)
R2 Ponderação -0,12
R3 Empenho -0,08
A1 Idéias -0,07
A2 Liberalismo -0,11
A3 Novidades -0,01
Nl Vulnerabilidade 0,40(**)
N2 Instabilidade 0,49(**)
N3 Passividade 0,40(**)
N4 Depressão 0,66(**)
** Nível de significância de p<0,01
* Nível de significância de p<0,05
envolvida com a percepção da pessoa sobre suas capacidades não teve correlações
e baixa, indicando que pessoas com sintomas depressivos são menos comunicativas; a
sua vida e, por fim, a faceta E4 (interações sociais) que apresentou correlação negativa e
moderada, podendo ser interpretada que pessoas com sintomas depressivos tendem a
negativas e nulas com a EDEP. A faceta S1(amabilidade) indica que pessoas com
transgressões a leis ou regras sociais, apresentando uma postura fechada com os demais,
chegando a pressionar e induzir os outros a realizar algo que não queiram. A faceta S3
(confiança) pode representar que pessoas com pontuação maior na EDEP não confiam
com a EDEP, ou seja, a faceta R2 (ponderação) que está relacionada com situações que
alto nível de exigência pessoal com a qualidade das tarefas realizadas. A faceta
consciência de que é preciso fazer alguns sacrifícios pessoais para se obter os resultados
esperados.
faceta N4 (depressão) que teve a maior correlação entre as facetas do BFP, com
associação positiva e alta, estando relacionada com a expectativa que a pessoa tem em
Discussão
(Widiger et. al., 2002). De fato, os modelos em fatores têm subjacente a ideia da
Neuroticismo é o que mais apresenta correlações com o quadro depressivo, este traço da
personalidade indica uma maior propensão para os indivíduos à depressão (Craigie et al.,
2007; Nunes, 2000; Santor, Bagby, & Joffe, 1997; Bighetti, Alves, & Baptista, 2014).
sendo que as pessoas que sofrem de depressão clínica tendem a pontuar alto neste fator,
quanto maior o grau de sintomas depressivos, mesmo que estes sejam abaixo da
geralmente apresentam alto grau de Neuroticismo, mas nem todas as pessoas que
apresentam alto nível de Neuroticismo são depressivas (D. P. Schultz & S. E. Schultz,
2002).
Joffe (1997) demonstrou que o estado depressivo pode influenciar os escores resultantes
dos medicamentos. Portanto, pessoas que tiveram uma melhora no quadro depressivo
Extroversão, sendo que esse resultado vai ao encontro de pesquisas que foram
facetas do fator Extroversão que se destacaram com associações negativas com o fator
apresentarem suas opiniões claras às pessoas. Ainda em seu trabalho Nunes (2005), a
comparado a pessoas que não estão apresentando um quadro depressivo (Bagby et al.,
2008; Dias, 2008; McCrae & Costa, 2003, Nunes & Hutz, 2007; Nunes, 2005).
curiosidade intelectual. Este fator tende a apresentar menos relações com os transtornos
depressivos nessa amostra não estavam diretamente relacionados a este fator, o que vem
a corroborar com a literatura encontrada, que apresenta o fator como não sendo uma
dimensão muito associada ás patologias em geral (Nunes et al., 2008; Widiger et al.,
2002).
Considerações finais
encontrando mais uma evidência de validade para o instrumento base, ou seja, a EDEP.
Socialização da BFP, semelhantes a alguns estudos desenvolvidos nesta área (Bagby &
et al., 2008; Craigie & et al., 2007; Dias, 2008; Nunes, 2000; Nunes, 2005; Nunes,
2007; Santor, Bagby, & Joffe, 1997; D. P. Schultz & S. E. Schultz, 2002). Constituem
limitações da presente pesquisa a amostra restrita, de apenas dois cursos, com maior
número de participantes do sexo feminino e de uma única Universidade, que podem ter
Referências
Bagby, R. M., Quilty, L. C., Segal, Z. V., McBride, C. C., Kennedy, S. H., & Costa, Jr. P.
Brasil.
Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, F. B., & Emery, E. (1982). Terapia Cognitiva da
Bighetti, C. A., Alves, G. A. S., & Baptista, M. N. (2014). Escala Baptista de Depressão
1170.
Cunha, R. V., Bastos, G. A., & Del Duca, G. F. (2012). Prevalência de depressão e
(trad: Maria Ignez Rocha e Silva, Maria Alice de Campos Rodrigues e Maria
Hutz, C. S., Nunes, C. H., Silveira, A. D., Serra, J., Antón, M., & Wieczonek, L. S.
modelo dos cinco grandes fatores. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11(2) 395-410.
Personality and Depression. Jounal of Personality and Social Psychology. 73(6) 1354-
1362.
Schultz, D. P., & Schultz, S. E. (2002). Teorias da Personalidade. São Paulo: Thomson
Learning.
Word Health Organization (2012). Depression: a global crisis. Mental Health Day.
Disponível em
http://www.who.int/mental_health/management/depression/wfmh_paper_depres
sion_wmhd_2012.pdf.
Widiger, T. A., Trull, T. J., Clarkin, J. F., Sanderson, C., & Costa, P. T. (2002). A
Association, 2, 89-102.
Submissão: 14/03/2016
Última revisão: 02/12/2016
Aceite final: 22/12/2016