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e,1ªEdi
ção2020
COMANDANTE-GERAL DO CBMMG
CEL BM EDGARD ESTEVO DA SILVA

CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO CBMMG


CEL BM ERLON DIAS DO NASCIMENTO BOTELHO

AUTORES
MAJ BM MOISÉS MAGALHÃES DE SOUSA
CAP BM GUSTAVO MORAES FALCÃO
CAP BM DILSON VELOSO DIAS JUNIOR
CAP BM PAULO HENRIQUE CAMARGOS FIRME
1º TEN BM JOÃO GUSTAVO DE SOUZA CRUZ
1º TEN BM IGOR CÉSAR GRANDI
1º TEN BM ÁGATHA IOLANDA VIDAL E SILVA
1º TEN BM WEYBER SILVA NEVES
1º TEN BM ELEN ROBERTA COSTA CARVALHO
2º SGT BM FABRÍCIO SOUZA LOPES
2º SGT BM GUILHERME AUGUSTO OLIVEIRA DE ANDRADE
3º SGT BM VINÍCIUS FERREIRA MARCELINO COSTA

MANUAL DE BOMBEIROS MILITAR – COMBATE A INCÊNDIO URBANO


(MABOM – CIURB)

BELO HORIZONTE
1ª EDIÇÃO, 2020
Todos os direitos reservados ao CBMMG.
É permitida a reprodução por fotocópia para fins de estudo e pesquisa.

CRÉDITOS
Revisão Técnica/Metodológica: Cap BM Cristiano Antônio Soares, Cap BM Vinícius
Bonfim Fulgêncio, Cap BM Shirley Carvalho Neves, 1º Ten BM Marcelo Venesiano
Bosco, 1º Ten BM Manoel de Jesus Braga, 1º Ten BM Davi Braga Linke, 2º Ten BM
Alexandre Augusto Martins Boreli, 3º Sgt BM Thiago Otávio Oliveira Perpétuo.
Revisão de texto/gramatical: 1º Ten BM Flávio Anderson de Brito, 2º Ten BM Raul
Souza dos Santos, 3º Sgt BM Maria Luciana de Oliveira.
Revisão de arte gráfica: 2º Sgt BM Gilmar Luis Pinto, Cb BM Márcio José Pereira.
Diagramação: Cap BM Gustavo Moraes Falcão.
Capa: Cabo BM Pedro Daniel Corrêa Nunes.
Ilustrações: Cap BM Gustavo Moraes Falcão, 1º Ten BM Elen Roberta Costa
Carvalho, 2º Sgt BM Gilmar Luis Pinto.
Fotografias: Cb BM Márcio José Pereira, Manoel Freitas Reis.
Fotografias de entrada de capítulos: Cb BM Márcio José Pereira.
Colaboradores: Cap BM Cristiano Antônio Soares, 1º Ten BM Manoel de Jesus
Braga, Al BM Laércio Rodrigues Leite, 2º Sgt BM Lázaro Manoel Santos Rodrigues,
2º Sgt BM Luiz Alexandre Nascimento Maia, 2º Sgt BM Elismá Pereira, 3° Sgt BM Luiz
Eduardo Freitas Pimentel, 3º Sgt BM Eudes Marques da Rocha, 3º Sgt BM Clayton
Pereira, Cb BM Alex Almeida Andrade, Cb BM Idael Emiliano Gomes Silva, Cb BM
Márcio José Pereira, Sd David Souza Lima, Sd BM Eduardo Araújo Caixeta, Sd BM
Stella Rodrigues Bernardes, Sd BM Felipe Souza de Jesus, Sd BM Joao Carlos
Cordeiro Santos.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C 787

Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais.


Manual de Bombeiros Militar: Combate a incêndio urbano. (MABOM-
CIURB) 1.ed. Belo Horizonte: CBMMG, 2020.

540 p. il.

1. Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais. 2. Manual de Bombeiros


Militar 3. Incêndio urbano. 4. CIURB. 5. Combate a incêndio urbano.
I.Sousa, Moisés Magalhães de. II. Falcão, Gustavo Moraes. III. Dias Jr.,
Dilson Veloso. IV. Firme, Paulo Henrique Camargos. V. Cruz, João Gustavo
de Souza. VI. Grandi, Igor César. VII. Vidal e Silva, Ágatha Iolanda. VIII.
Neves, Weyber Silva. IX.Carvalho, Elen Roberta Costa. X. Lopes, Fabrício
Souza. XI. Andrade, Guilherme Augusto Oliveira de. XII. Costa, Vinícius
Ferreira Marcelino.
CDD 363.37

Ficha catalográfica elaborada por Andreia Júlio CRB6/2095

Versão digital.
https://drive.google.com/drive/folders/1p-r2e6qokJUmrlBCStC1K8lXCm7ABFza?usp=sharing
PREFÁCIO

O Combate a Incêndio Urbano e a história dos Corpos de Bombeiros


Militares se entrelaçam de forma indissociável. Como missão, desde os primórdios da
civilização, é a atividade que melhor nos identifica frente à sociedade, tornando-se
justamente a razão primeira da nossa existência.

Embora o trabalho que adiante se vê não seja o marco que inaugura a


discussão sobre o tema, é nítido o resultado do esforço de vários profissionais, pois a
obra busca impulsionar a capacitação técnica dos militares da ativa; alicerçar o
conhecimento do futuro bombeiro; e materializar o sucesso de cada um dos veteranos
que, com suor e esforço, edificaram a doutrina de combate a incêndio urbano e
estrutural do CBMMG.

Ao longo dos seus capítulos apresenta-se ao leitor o atual estado da arte


dessa atividade que nos é tão cara e importante. Com vistas a oferecer o que há de
mais moderno e aplicável à realidade mineira, pretende-se disseminar os
conhecimentos de diversas fontes teóricas, nacionais e internacionais. Foram
realizados ensaios específicos para atualizar e melhor compreender cada uma das
técnicas abordadas.

Reforçando a busca pelo aprimoramento constante da vida profissional dos


combatentes do fogo, espera-se que a obra se torne referência para cursos de
formação e aperfeiçoamento. E, nesse sentido, concito toda tropa a debruçar-se sobre
os temas tratados no presente manual; a procurar adaptar-se às evoluções técnicas
e retroalimentar as práticas profissionais com sugestões e avaliações relevantes e
produtivas.

Por fim, ressalto que este não é o livro que esgota o assunto. Que em
virtude das mudanças tecnológicas e do avanço das pesquisas científicas, ele sempre
carecerá de atualizações que visem aprimorar o trabalho de combate a incêndio
urbano, demonstrando o quão viva e instigante é a matéria, como as chamas de uma
combustão!

EDGARD ESTEVO DA SILVA, CORONEL BM


COMANDANTE-GERAL DO CBMMG
SUMÁRIO POR CAPÍTULOS

CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO ........... 6

CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E


RESPIRATÓRIA .............................................................................................. 97

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO


URBANO........................................................................................................ 141

CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE


ESTABELECIMENTOS ................................................................................. 165

CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO .......................... 206

CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO EM AMBIENTE


DE INCÊNDIO ............................................................................................... 223

CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS .................................................. 239

CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO ......................................... 288

CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA ...................................................... 325

CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS ......................... 364

CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE ........ 412

CAPÍTULO 12 – INCÊNDIO EM GLP ........................................................... 434

CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO ............................... 444

CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA


INCÊNDIO E PÂNICO ................................................................................... 486

CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE


DANOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ..ATINGIDAS POR
INCÊNDIO ...................................................................................................... 523
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 6
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 7

CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO


Autor – Cap Falcão

SUMÁRIO

1 CONCEITUAÇÃO BÁSICA ........................................................................ 10

1.1 Fogo, Incêndio e Chama .......................................................................... 10

1.2 A ciência do Fogo ..................................................................................... 12

2 TRIÂNGULO DO FOGO............................................................................. 14

2.1 Calor........................................................................................................... 14

2.1.1 Propagação do Calor ................................................................................ 16

2.1.2 Efeitos do Calor ........................................................................................ 22

2.2 Combustíveis ............................................................................................ 24

2.2.1 Sólido ......................................................................................................... 24

2.2.2 Líquidos ..................................................................................................... 27

2.2.3 Gases ......................................................................................................... 30

2.2.4 Temperaturas notáveis de combustíveis................................................ 33

2.3 Comburente ............................................................................................... 38

2.4 Limites de Explosividade ou Inflamabilidade ......................................... 41

3 TETRAEDRO DO FOGO............................................................................ 45

4 COMBUSTÃO ............................................................................................ 48

5 TIPOS DE CHAMA ..................................................................................... 52

5.1 Chama pré-misturada ............................................................................... 53

5.2 Chama difusa ............................................................................................ 53


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 8

5.3 Chama turbulenta ..................................................................................... 55

5.4 Chama laminar .......................................................................................... 55

5.5 Chamas estacionárias e propagantes..................................................... 56

6 ANÁLISE DA COMBUSTÃO EM UMA VELA ........................................... 56

7 COMBATE/CONTROLE DO INCÊNDIO .................................................... 62

7.1 Abafamento ............................................................................................... 62

7.2 Resfriamento ............................................................................................. 62

7.3 Retirada ou controle de material ............................................................. 63

7.4 Quebra da reação em cadeia ................................................................... 63

8 AGENTES EXTINTORES........................................................................... 64

8.1 Água ........................................................................................................... 64

8.2 Pó para extinção de incêndio .................................................................. 66

8.3 CO2 (Dióxido de carbono ou Gás carbônico) ......................................... 68

8.4 Espuma ...................................................................................................... 68

8.5 Compostos halogenados (Halocarbonos) .............................................. 68

9 CLASSES DE INCÊNDIO .......................................................................... 71

9.1 Classe A..................................................................................................... 71

9.2 Classe B..................................................................................................... 71

9.3 Classe C..................................................................................................... 72

9.4 Classe D..................................................................................................... 72

9.5 Classe K..................................................................................................... 74

10 DESENVOLVIMENTO DO INCÊNDIO ....................................................... 75

10.1 Incêndio Ventilado (Incêndio Limitado pelo Combustível – ILC) ......... 80


CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 9

10.2 Incêndio Subventilado (Incêndio Limitado pela Ventilação – ILV) ....... 83

11 CONCEITOS E DEFINIÇÕES COMPLEMENTARES ................................ 88

11.1 Plano neutro .............................................................................................. 88

11.2 Ghost Flames (chamas fantasmas) ......................................................... 89

11.3 Rollover ..................................................................................................... 89

11.4 Feedback radiativo (radiação de retorno)............................................... 91

11.5 Balanço térmico ........................................................................................ 91

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 93
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 10

1 CONCEITUAÇÃO BÁSICA

Inicialmente, para a compreensão mais adequada de alguns termos que


serão largamente tratados neste manual, é importante definir três expressões
básicas que serão adotadas nesse documento: o conceito de Fogo, Incêndio e
Chama.

1.1 Fogo, Incêndio e Chama

Ao pesquisarmos em livros de física ou química, encontraremos que o


processo sinônimo de fogo é Combustão. Em manuais de bombeiros, a combustão
também é geralmente tratada como Fogo. Percebe-se, portanto, que essas palavras
são sinônimas.

Combustão é uma reação química de oxidação rápida, na qual ocorre a


liberação de calor, ou liberação de luz e calor, entre alguma substância e
o oxigênio1. Há combustão sem chama, que ocorre entre substâncias nas
quais há pouco carbono. (FARADAY, 2003; FRIEDMAN, 1998; TURNS,
2013).

Fogo é uma reação de combustão utilizada como ferramenta para


execução de diversas tarefas, como aquecer alimentos e ambientes, além de ser
utilizado em processos industriais, dentre outras. Enquanto essa reação está
absolutamente sob o nosso controle, recebe o nome de fogo. Durante o preparo de
um café com aquecimento de água em uma caneca, basta girar a válvula do fogão
para acender ou apagar o fogo, até que a água atinja a temperatura necessária para
a produção do alimento desejado. Até esse momento, absolutamente controlada
pela válvula de um fogão, a reação é denominada fogo. Suponha, porém, que um
pano de prato foi esquecido próximo à chama do fogão, e se aqueceu até incendiar.

1Nem sempre uma chama pode ser vista na reação de combustão. Por exemplo, uma chama de
combustão do gás hidrogênio (H2) seria transparente para o olho e não seria facilmente vista. Ainda,
uma chama pode ser tornada adiabática e, portanto, o calor não é liberado (QUINTIERE, 2006).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 11

Esse pano de prato, agora em chamas, propaga o calor para o armário ao lado,
para o exaustor plástico sobre o fogão, para a toalha sobre a mesa, e essa reação
já não pode mais ser controlada pelo simples manejo de válvulas ou botões. Ela
requer uma abordagem técnica específica. A essa reação fora de controle, com
potencial de causar lesões, morte e danos materiais, damos o nome de Incêndio.

Incêndio é a reação de combustão fora de controle, com potencial de


causar morte, lesões e danos materiais.

A diferença, portanto, entre fogo e incêndio é que fogo é uma combustão


controlada, e incêndio é uma reação fora de controle, que requer abordagens e
técnicas específicas para debelá-lo. Posto isso, é justamente a área de trabalho e
estudo dos Corpos de Bombeiros do Brasil e do mundo. E será, também, o foco dos
estudos apresentados neste manual.

A chama é a manifestação visual dessa reação, é a luz liberada na


combustão2. A chama pode ter diferentes cores e formatos característicos,
dependendo do tipo de combustível que estiver queimando, do comburente
envolvido, da proporção entre esses reagentes ou do ambiente onde a combustão
está ocorrendo. Estudaremos mais detalhadamente a chama a seguir neste manual.

A chama é a manifestação visual da reação de combustão, é a luz liberada


no processo de queima.

A cor da chama nos dá uma informação sobre o seu nível energético; na


cor azul, a chama possui maior energia do que quando está avermelhada ou
amarelada (figura 1.1).

2 Há reações de combustão que não possuem chamas, como é o caso da combustão do gás
hidrogênio.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 12

Figura 1.1 – Cores de chamas: de 1 para 4, do menos energético ao mais energético

Fonte: Arnalich, 2015

1.2 A ciência do Fogo

A ciência do fogo exigiu o desenvolvimento da descrição matemática dos


processos que compõem a combustão. Quintiere (2006) organizou uma linha do
tempo com os estudos mais relevantes para a ciência do fogo, iniciando pelas leis
do movimento, propostas no século XVII por Isaac Newton, passando pelos
problemas de transferência convectiva de calor e massa. Depois que os princípios
gerais de conservação e as relações constitutivas foram estabelecidos, os
problemas do fogo não exigiram novas descobertas científicas profundas. No
entanto, o fogo está entre os processos de transporte mais complexos e exigiu
formulações matemáticas estratégicas para a solução. Requeria um conhecimento
profundo dos processos subjacentes para isolar seus elementos dominantes, a fim
de descrever e interpretar efetivamente os experimentos, e criar soluções
matemáticas gerais. A tabela 1.1 apresenta a linha do tempo elaborada por
Quintiere.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 13

Tabela 1.1 – Estudos pioneiros para a ciência do fogo


Época Evento Idealizador
Segunda Lei de Newton (princípio fundamental da
~1650 Isaac Newton
dinâmica)
Relação entre a pressão e velocidade em um
1737 Daniel Bernoulli
fluido

Primeira Lei da Termodinâmica (Conservação da


~1750 Rudolph Clausius
Energia)

1807 Equação da condução de calor (Lei de Fourier) Joseph Fourier

1827 Navier
Equações do movimento de fluidos viscosos
1845 Stokes

História química de uma vela – Palestras para a


~1850 Michael Faraday
Royal Society

1855 Equação da difusão de massa (Lei de Fick) A. Fick

Taxa de reação química dependente da


1884 S. Arrhenius
temperatura

~1900 Radiação térmica e transferência de calor Max Planck

1928 Solução de uma chama de difusão em um duto Burke e Schumann

~1930 Semenov

~1940 Cinética das equações de combustão Frank-Kamenetskii

~1950 Zel’dovich

H. Emmons, D.B.
~1950 Soluções para queimas convectivas
Spalding

~1960 Soluções para fenômenos do fogo P.H. Thomas

Liderança nos Estados Unidos de programas de


~1970 R. Long, J. Lyons
pesquisa de incêndio
Fonte: Quintiere, 2006
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 14

2 TRIÂNGULO DO FOGO

A teoria do triângulo do fogo surgiu como fruto dos diversos estudos da


ciência da combustão e auxilia, didaticamente, no processo de compreensão dessa
reação. A teoria apresenta que são necessários três requisitos (em concentrações
específicas) para que haja uma reação de combustão. Esses três requisitos são o
combustível, o comburente e o calor (figura 1.2).

Figura 1.2 – Triângulo do fogo

Fonte: Autor

2.1 Calor

Para melhor compreensão dos conteúdos que serão abordados à frente


e preliminarmente à definição de calor, é importante relembrar alguns conceitos
básicos de termologia. As moléculas ou partículas possuem uma carga interna de
movimento, denominada, por ora, de “grau de agitação”. Quanto mais agitada uma
partícula, maior será sua energia, e quanto maior sua energia, maior também será
sua temperatura.

Energia térmica é uma energia interna que consiste na energia cinética e


na energia potencial associadas aos movimentos aleatórios dos átomos,
moléculas e outros corpos microscópicos que existem no interior de um
objeto (HALLIDAY, RESNICK e WALKER, 2013).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 15

Temperatura é a medida da maior ou menor agitação das moléculas ou


átomos que constituem um corpo. Quanto maior a temperatura, maior
será a energia cinética de suas moléculas. Um corpo mais quente possui
mais energia que um corpo mais frio (MÁXIMO e ALVARENGA, 1993).

Quando dois ou mais corpos, com diferentes temperaturas, entram em


contato, a tendência natural é que eles busquem um estado de equilíbrio térmico,
caracterizado pela uniformidade da temperatura dos corpos (MÁXIMO e
ALVARENGA, 1993). Para que o equilíbrio ocorra, será necessário haver
transferência de energia. Aquele corpo que tem uma energia maior (temperatura
maior) irá ceder energia para o corpo com energia menor (temperatura menor). Essa
energia transferida de um corpo mais quente para outro menos quente recebe o
nome de Calor (figura 1.3).

Figura 1.3 – Transferência de calor entre corpos de diferentes temperaturas

Fonte: Autor

Calor é a energia térmica em trânsito, que flui de um ponto mais


energético para outro menos energético, buscando encontrar o equilíbrio
térmico. A energia térmica é transferida de um corpo para outro em
virtude, unicamente, de uma diferença de temperatura entre eles
(MÁXIMO e ALVARENGA, 1993).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 16

2.1.1 Propagação do Calor

Sabe-se, até agora, que o calor fluirá de um ponto mais energético a


outro menos energético. Aqui serão apresentadas as formas como esse calor flui
de um ponto a outro, ou seja, como ocorre a propagação do calor.

2.1.1.1 Condução

Um material aquecido em um ponto absorve energia e aumenta sua


temperatura. Os elétrons e átomos desse material vibram intensamente por causa
da alta temperatura a que estão expostos. Essas vibrações, e a energia associada,
são transferidas ao longo do material através de colisões entre os átomos, sem que
esses átomos sofram translação ao longo do material. Dessa forma, uma região de
temperatura crescente se propaga pelo material (HALLIDAY, RESNICK e WALKER,
2013).

A propagação por condução ocorre quando, por exemplo, colocamos a


ponta de uma colher metálica em contato com uma chama. A ponta da colher irá se
aquecer e suas partículas aumentarão seu grau de agitação, ampliando as colisões
entre as partículas adjacentes, induzindo a elevação da temperatura e resultando
no aquecimento do cabo da colher (figura 1.4).

Figura 1.4 – Condução em uma barra metálica

Fonte: Autor
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 17

2.1.1.2 Convecção

A convecção é o método de propagação do calor que ocorre em meios


fluidos (gases e líquidos) e verticalmente para cima. O fluido, depois de aquecido,
diminui sua densidade relativa, passando a ficar mais leve e tendendo, em regra 3,
a “subir”. Enquanto essa camada aquecida sobe, ela propaga o calor verticalmente
para cima, aumentando a temperatura dos terços superiores de uma edificação em
chamas.

Um fluido, ao contrário de um sólido, é uma substância que pode escoar.


Um fluido é uma substância que escoa porque não resiste a tensões de
cisalhamento, embora muitos fluidos, como é o caso dos líquidos,
resistam a tensões compressivas (HALLIDAY, RESNICK e WALKER,
2013).

Densidade é a quantidade de matéria que ocupa um determinado espaço.


Em um sistema fluido, se tivermos uma determinada quantidade de
matéria e esta for aquecida, ela ocupará um espaço maior, ficando
relativamente menos densa ou “mais leve” que o ar em suas imediações.
A densidade de um fluido é inversamente proporcional a sua
temperatura, isso significa dizer que para o mesmo material: quanto mais
quente, menos denso (FRIEDMAN, 1998; MÁXIMO e ALVARENGA, 1993).

A convecção pode ser verificada, por exemplo, em uma panela contendo


água que é levada ao fogo (figura 1.5). A água, no terço inferior da panela, em
contato mais próximo com a chama (fonte de calor), quando aquecida, aumenta o
grau de agitação de suas moléculas e diminui sua densidade relativa, tornando-se
“mais leve” que a água presente na parte superior da panela. Por consequência,
essa água aquecida irá subir, e a água fria, relativamente mais densa e “pesada”,
irá descer. Caso haja continuidade desse aquecimento será estabelecida uma

3Embora a tendência do fluido seja subir, essa camada poderá caminhar horizontalmente, devido
ao formato do ambiente no qual se encontra. O fluido não possui formato definido, podendo amoldar-
se de acordo com o ambiente.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 18

corrente de convecção, pois a água fria, que agora se localiza nos terços inferiores,
passará a absorver energia da chama e se aquecer, tendendo a subir para o topo
da panela. Já a água localizada nos terços superiores irá ceder calor para o
ambiente, resfriando-se, tornando-se relativamente mais densa e, por
consequência, voltará ao fundo da panela.

Figura 1.5 – Convecção em um recipiente com água

Fonte: Autor

O ar, por ser fluido, quando é aquecido também fica “mais leve” e tende
a se posicionar nos terços superiores de uma edificação no caso de incêndio. Nos
incêndios confinados, estruturais ou compartimentados, que são aqueles que
possuem obstáculos que impedem a exaustão dos gases quentes, produtos da
combustão, os terços superiores do cômodo em chamas tendem a concentrar as
maiores temperaturas (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO
FEDERAL, 2012; GRIMWOOD, 2008).

Dessa forma, é possível compreender que nas ações de combate a


incêndio, quanto mais alto o bombeiro estiver posicionado, maiores serão as
temperaturas às quais estará exposto, motivo pelo qual, por vezes, a atividade é
realizada pelos combatentes na posição de joelhos.

Estima-se que cerca de 70% da energia propagada na fase crescente de


um incêndio ocorra por convecção (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 19

ESPÍRITO SANTO, 2014). A tabela 1.2 apresenta uma comparação entre o


percentual da energia de combustão propagada por radiação e convecção por
diversas chamas difusas de gases.

Tabela 1.2 – Percentual teórico de propagação do calor


Gás Radiação Convecção Não propagado
Hidrogênio 9 91 0
Metano 18 81 1
Etano 20 79 1
Propano 27 68 5
Etileno 32 59 9
Propileno 39 50 11
Fonte: Friedman, 1998

A convecção também exerce um importante papel de propagação de


incêndios em edifícios verticais (figura 1.6), justamente por ter a tendência de
alcançar os níveis superiores com maior velocidade. Esse processo de ascensão
traz como consequência a elevação de temperatura de outros materiais e potenciais
combustíveis que estejam no caminho.

Figura 1.6 – Propagação do calor em edificação vertical

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 20

2.1.1.3 Radiação

Todos os corpos aquecidos emitem radiação térmica, que ao ser


absorvida por outro corpo, provoca nele uma elevação de temperatura. A radiação
térmica se dá por meio da propagação de ondas eletromagnéticas (FRIEDMAN,
1998; HALLIDAY, RESNICK e WALKER, 2013; MÁXIMO e ALVARENGA, 1993).

Diferente da condução e da convecção, a radiação não depende de


nenhum meio físico para se propagar. Um exemplo da propagação por radiação é
o aquecimento do planeta pelos raios do sol, mesmo que haja um vácuo entre os
dois (figura 1.7). Nesse caso, não há nenhum meio físico para que esse calor se
propague por condução ou convecção.

Figura 1.7 – Radiação térmica da energia do Sol na Terra

Fonte: Autor

Nesse sentido, enquanto a condução segue o caminho imposto pela


localização das moléculas, como no exemplo da colher metálica, e a convecção,
um fluxo vertical para cima nos meios fluidos; a propagação por radiação não segue
um caminho específico, pois o calor ocorre uniformemente em todas as direções. A
figura 1.8 demonstra os três tipos de propagação do calor.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 21

Figura 1.8 – Métodos de propagação do calor

Fonte: Autor

A propagação por radiação exerce um papel importante no


desenvolvimento do incêndio. As paredes, tetos e a camada de fumaça que nele
acumula, quando estão muito quentes, emitem uma quantidade suficiente de
radiação térmica (feedback radiativo) (figura 1.9) capaz de criar condições para que
materiais combustíveis, ainda não queimados, se tornem inflamáveis
simultaneamente, ocasionando comportamentos extremos do fogo, como a ignição
súbita generalizada (flashover) que será estudada mais à frente.

Figura 1.9 – Radiação de retorno (feedback radiativo) em ambiente incendiado

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 22

2.1.2 Efeitos do Calor

Para as atividades de combate a incêndio existem também outros efeitos


importantes a serem estudados. O primeiro deles, e mais importante, é o efeito
sobre os combustíveis. Depois da propagação do calor e da elevação da
temperatura, os combustíveis sólidos e/ou líquidos vão passar por mudanças de
estado físico e/ou químico ocasionadas pela elevação do grau de agitação das
moléculas induzida pelo calor.

Estado físico da matéria (estado de agregação, ou fase) está relacionado,


também, ao grau de agitação de suas moléculas. Quando fornecemos
calor a um corpo, sua temperatura se eleva, ocorre um aumento da
energia de agitação de seus átomos. Esse aumento faz com que a força
de ligação entre os átomos seja alterada, podendo acarretar
modificações na organização e separação desses átomos. Em outras
palavras, a absorção de calor por um corpo pode provocar nele uma
mudança de fase.
No estado sólido, os átomos ou moléculas do material formam uma
estrutura rígida através de sua atração mútua. No estado líquido, os
átomos ou moléculas têm mais energia e maior mobilidade. Formam
aglomerados transitórios, mas o material não tem uma estrutura rígida e
pode escoar em um cano ou se acomodar à forma de um recipiente. No
estado gasoso, os átomos ou moléculas têm uma energia ainda maior,
não interagem a não ser através de choques de curta duração, e podem
ocupar todo o volume de um recipiente (HALLIDAY, RESNICK e
WALKER, 2013; MÁXIMO e ALVARENGA, 1993).

Outro efeito do calor que também se aplica às atividades de combate a


incêndio é o que ocorre nos materiais das estruturas, a exemplo da ação do incêndio
sobre uma edificação em concreto armado4. Quando as estruturas passam por uma

4
Concreto armado é um elemento estrutural elaborado com concreto, cujo comportamento estrutural
depende da aderência entre concreto e armadura, e no qual não se aplica alongamentos iniciais das
armaduras antes da materialização dessa aderência (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2013).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 23

intensa elevação de temperatura, os materiais tendem a aumentar seu volume pelo


efeito da dilatação. Porém, cada material possui o próprio coeficiente de dilatação
e se comportam de maneiras diferentes quando expostos à mesma elevação de
temperatura. Essa dilatação causa uma movimentação estrutural, que pode resultar
no desabamento da edificação. As movimentações estruturais são perceptíveis por
meio de trincas, fissuras e rachaduras nas paredes, vigas e pilares (figura 1.10).

Figura 1.10 – Trincas, fissuras e rachaduras pós-sinistro

Fonte: Autor

Dilatação é o aumento das dimensões de um corpo devido ao aumento


de sua temperatura. Salvo algumas exceções, todos os corpos se
dilatam, quando sua temperatura aumenta. Quando a temperatura do
sólido é aumentada, há um aumento na agitação de seus átomos,
fazendo com que eles, ao vibrarem, se afastem mais da posição de
equilíbrio. O coeficiente de dilatação é uma constante de
proporcionalidade que varia em cada tipo de material, e que representa
as facilidades ou dificuldades que determinado material tem de aumentar
seu volume devido às elevações de temperatura (HALLIDAY, RESNICK e
WALKER, 2013; MÁXIMO e ALVARENGA, 1993)
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 24

Quanto às pessoas afetadas por um incêndio, além de queimaduras, há


outros efeitos fisiológicos perceptíveis no organismo dos bombeiros e das eventuais
vítimas expostas ao incêndio. O corpo humano quando inserido em um meio
aquecido e sujeito à transferência de energia térmica tende a elevar sua
temperatura. Em um ambiente incendiado, que pode chegar a temperaturas
próximas a 1000ºC, o corpo absorve energia do meio, ficando mais quente.

O peso dos equipamentos de proteção individual, bem como dos


equipamentos hidráulicos, somado à natureza desgastante da atividade de combate
a incêndio contribuem também para a elevação da temperatura corporal. Por se
tratar de seres homeotérmicos5, o corpo trabalha intensamente para compensar e
impedir a elevação de temperatura. Esse trabalho acaba sendo traumático para o
organismo, o que resulta em algumas consequências fisiológicas, como
desidratação, exaustão, câimbras, náuseas, vômitos, desmaios, doenças
cardiovasculares, dentre outros efeitos (BRAGA, NETO e SALAZAR, 2016;
QUINTAL, 2012).

2.2 Combustíveis

Combustível é o material que queima, isto é, que sofre transformações


físicas e/ou químicas no processo de combustão.

Existem três tipos de combustíveis: sólidos, líquidos e gases.

2.2.1 Sólido

Combustíveis sólidos são exemplificados por materiais como madeira,


papel, plástico, etc. Quando submetidos aos efeitos do calor, elevando-se a
temperatura dos mesmos, eles aumentam o grau de agitação de suas moléculas.
Primeiramente os materiais sofrem uma desidratação, e toda a água de seu
conteúdo passa para o estado de vapor. Existe um determinado ponto em que o
grau de agitação molecular é tão grande que as moléculas sofrem uma quebra em

5 Homeotérmicos são seres que tem uma temperatura média constante.


CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 25

sua estrutura, passando a liberar um gás com potencial combustível, que contribui
para a reação de combustão. O nome desse processo de quebra molecular que
ocorre no combustível sólido é pirólise.

Pirólise é um processo em que o material sólido é decomposto, ou


quebrado em compostos moleculares mais simples, devido ao calor.
Pirólise normalmente precede a combustão (NATIONAL FIRE
PROTECTION ASSOCIATION, 2004). A temperatura em que a maioria dos
sólidos sofre pirólise está na faixa de 250ºC a 450ºC (FRIEDMAN, 1998).

Cabe complementar que não é apenas o fogo o responsável pela


elevação de temperatura de combustíveis sólidos. Existem outros exemplos de
fontes de energia que fazem com que a temperatura de um determinado
combustível aumente, como o atrito, reações químicas, eletricidade, dentre outros.

É curioso notar que nos combustíveis sólidos, que sofrem a quebra da


estrutura molecular, o material é dividido basicamente em duas grandes partes: uma
parte que “queima”, que contribui com a reação de combustão, e outra parte que
“não queima” geralmente denominada de resíduos ou cinzas.

Outra característica dos combustíveis sólidos é que eles queimam em


razão de superfície e profundidade. Sabe-se que todo o material que tiver condições
ideais para participar da reação de combustão irá sofrer a queima. As condições
ideais são as concentrações mínimas dos três requisitos: combustível, comburente
e calor.

Materiais que queimam tanto em razão de superfície quanto


profundidade são aqueles constituídos de espaços suficientes em seu interior que
permitam a participação dos três elementos para iniciar a combustão. Um bloco de
madeira, por exemplo, cuja superfície está em contato com o ar e com uma fonte
de calor irá sofrer a combustão. Mas a madeira não é hermeticamente fechada, há
espaços “vazios” em seu interior que contém ar. Por isso, mesmo na profundidade
desses materiais, é possível encontrar condições ideais de concentração dos três
requisitos para que haja uma combustão.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 26

Um sólido pode estar na forma de pó, de uma fina folha (como o papel)
ou de um bloco espesso (como um tronco de árvore). A combustão se espalha mais
rápido quanto mais finas estiverem as partículas de combustível. Dependendo das
condições em que se encontram sólidos pulverizados, com partículas suspensas no
ambiente, poderá ocorrer uma deflagração desse material, em um fenômeno
conhecido como explosão de poeira (dust explosion) (FRIEDMAN, 1998;
GRIMWOOD e DESMET, 2003).

Se em um ambiente com alta concentração de poeira combustível não


for possível enxergar as mãos quando os braços estão estendidos, o
risco de explosão é muito grande (GRIMWOOD e DESMET, 2003).

Combustíveis, sejam sólidos ou líquidos, irão se incendiar mais


facilmente dependendo da superfície de contato que tiverem disponível para reagir
com o ar. Dessa forma, sólidos particulados ou líquidos pulverizados queimam com
maior facilidade do que blocos espessos, ou líquidos concentrados (TURNS, 2013).

Uma demonstração da possibilidade de ignição em partículas


pulverizadas pode ser realizada por meio da produção de uma “bola de fogo”
soprando um punhado de amido de milho sobre uma fonte de ignição (figura 1.11).

Figura 1.11 – Demonstração de ignição em amido de milho

Fonte: Autor
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 27

A tabela 1.3 apresenta alguns dados de materiais sólidos que, em


suspensão, ficam sujeitos a explosão.

Tabela 1.3 – Dados de alguns materiais sólidos sujeitos a explosão de poeira


Energia Temperatura
Mínima
mínima de
Concentração Pressão máxima
Material para autoignição
inflamável de explosão (psi)
ignição da nuvem
(g/m³)
(J) (ºC)
Pó de café 85 0.16 410 44
Amido de milho 45 0.04 400 95
Grãos mistos 55 0.03 430 115
Soja 35 0.05 520 99
Açúcar 35 0.03 350 91
Trigo 55 0.06 480 103
Amido de trigo 25 0.02 380 105
Farinha 50 0.05 380 95
Carvão 55 0.06 610 83
Fonte: National Fire Protection Association, 2008

2.2.2 Líquidos

Diferente dos combustíveis sólidos, os materiais líquidos, quando


aquecidos, não vão sofrer uma decomposição de sua estrutura química. Líquidos
passam por um rearranjo molecular: a mudança do estado físico (TURNS, 2013).

Líquidos inflamáveis, quando aquecidos, passam para o estado de vapor,


em um processo que recebe o nome de Vaporização. No estado de vapor, assumem
o potencial inflamável, e basta o contato com o ar, a uma temperatura mínima
específica, para que se conclua a reação de combustão.

Como nos líquidos inflamáveis a transformação é física, conseguirá


reagir todo o seu conteúdo que passar para o estado de vapor e ao final da reação
de combustão não haverá resíduos ou cinzas dessa queima.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 28

Diferentemente dos sólidos, que sofrem pirólise, os líquidos sofrem


vaporização. A vaporização é um processo de transformação física da
matéria, e, portanto, é reversível, ou seja, o vapor de um líquido, caso
não tenha reagido, se for resfriado, voltará a sua condição líquida. Já nos
combustíveis sólidos, a transformação é uma mudança do estado
químico da matéria devido a seu aquecimento. Ocorre uma “quebra” da
estrutura molecular, que é irreversível e não poderá ser desfeita, nem
mesmo se houver resfriamento desses gases antes da reação de
combustão.

Sobre a definição de líquido inflamável, algumas literaturas divergem


quanto à nomenclatura específica entre combustível e inflamável. A Resolução da
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) – 5232/2016 define que
líquidos inflamáveis são líquidos, misturas de líquidos ou líquidos que contenham
sólidos em solução ou suspensão (por exemplo, tintas, vernizes, lacas, etc.,
excluídas as substâncias que tenham sido classificadas de forma diferente, em
função de suas características perigosas) que produzam vapor inflamável a
temperaturas de até 60°C, em ensaio de vaso fechado, ou de até 65,6°C, em ensaio
de vaso aberto, normalmente referidas como ponto de fulgor.

Já a Norma Regulamentadora 20 do Ministério do Trabalho especifica


que se o ponto de fulgor do líquido for menor do que 60ºC é considerado um líquido
inflamável. Se o ponto de fulgor estiver entre 60ºC e 93ºC será um líquido
combustível (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978).

A velocidade de evaporação de um líquido é tanto maior quanto maior for


a área de sua superfície livre (MÁXIMO e ALVARENGA, 1993). Por isso, os líquidos
inflamáveis queimam apenas em razão de superfície. Já a profundidade do líquido
inflamável não reagirá no processo de combustão por dois motivos: a substância
está na forma líquida (e a combustão é um processo que ocorre entre gases) e
também não há comburente no interior do conteúdo líquido, requisito sem o qual
não haverá combustão.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 29

2.2.2.1 Slop-Over e Boil-Over

Em primeira análise, quando comparado com sólidos que queimam tanto


em razão de superfície quanto de profundidade, pode ser erroneamente concluído
que os líquidos inflamáveis são combustíveis mais seguros de se realizar o combate
a incêndio, mas é justamente o oposto. Por queimarem apenas em razão de
superfície, qualquer perturbação na mesma poderá resultar em fenômenos que
podem propagar subitamente um incêndio em um líquido: o slop-over e o boil-over.

Slop-over é uma perturbação súbita da superfície de um líquido


inflamável, ocasionada geralmente quando se tenta combater um incêndio em
líquido inflamável utilizando água. A água, ao entrar em contato com o líquido muito
aquecido, imediatamente passa para o estado de vapor em um processo
instantâneo e violento. Um litro de água no estado líquido, quando passa para o
estado de vapor, ocupa um espaço de 1700 litros instantaneamente (NATIONAL
FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2008; GRIMWOOD e DESMET, 2003).

Quando se aplica água na superfície de um líquido inflamável muito


aquecido a mudança brusca de estado líquido para vapor empurra a superfície do
líquido inflamável fazendo com que ele transborde do seu recipiente (figura 1.12).
Cada gotícula do líquido inflamável que transbordou possui uma superfície própria,
que em contato com o ar conclui a reação de combustão. Por isso quando se utiliza
água na superfície de um líquido inflamável, na verdade o incêndio aumenta ao
invés de diminuir, pois a vaporização violenta desse agente extintor causa o
aumento da superfície de contato do líquido com potencial inflamável.

Figura 1.12 – Slop-Over - esquema didático

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 30

O Boil-over (ebulição turbilhonar) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE


NORMAS TÉCNICAS, 2000) é um fenômeno característico de incêndios em
grandes tanques de líquidos inflamáveis. Esse evento requer que uma quantidade
de água esteja depositada no fundo do tanque (figura 1.13). Após a água receber
energia da onda de calor do combustível em chamas, aumentar sua temperatura e
passar para o estado de vapor, atuará como um êmbolo, que empurra o líquido
inflamável, fazendo com que este transborde, aumentando sua superfície de
contato e ampliando, por consequência, a magnitude desse incêndio (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DE GOIÁS, 2017; FRIEDMAN, 1998).

Figura 1.13 – Boil-Over - esquema didático

Fonte: Autor

Em resumo, a principal diferença entre o Slop-Over e o Boil-Over está no


ponto em que ocorre a perturbação da superfície do líquido inflamável. Enquanto no
Slop-Over a perturbação é instantânea, causada pelo contato direto da água com a
superfície, no Boil-Over a perturbação ocorre gradativamente e a partir da base do
recipiente, pois a água que evapora a partir do fundo do tanque empurra o líquido
inflamável causando seu transbordamento.

2.2.3 Gases

Com poucas exceções6, uma reação de combustão é uma reação que


ocorre entre substâncias no estado gasoso, sejam os gases combustíveis liberados

6
A combustão de metais pirofóricos é resultado de uma reação exotérmica dos materiais no estado
sólido com o oxigênio presente no ar.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 31

dos materiais sólidos, ou os vapores inflamáveis liberados dos líquidos. A reação


de combustão só se processará entre substâncias gasosas. Os gases inflamáveis,
como o gás liquefeito de petróleo (GLP) ou gás natural veicular (GNV), portanto, já
estão na condição ideal para que iniciem a reação e é justamente por isso que
tendem a queimar com maior facilidade.

2.2.3.1 BLEVE

Um fenômeno muito perigoso relacionado a incêndio em tanques que


contenham gases ou líquidos inflamáveis é o BLEVE (Boiling Liquid Expanding
Vapor Explosion), cuja tradução livre é a explosão do vapor expandido pelo líquido
em ebulição. Suponha o seguinte cenário: um caminhão tanque contendo 20 mil
litros de gasolina sofre um acidente na rodovia, vem a tombar e se inicia um incêndio
em suas imediações. O contato da chama desse incêndio com o costado do tanque
fará com que a gasolina líquida aumente sua temperatura, passando
gradativamente para o estado de vapor (figura 1.14-a). A gasolina no estado de
vapor aumenta seu volume e, portanto, começa a exercer pressão nas paredes
internas do costado do tanque.

Caminhões-tanque possuem válvulas de alívio que equalizam a pressão


interna do tanque por meio da liberação do excesso de pressão, impedindo sua
ruptura explosiva. Dessa maneira, logo após a ação, o dispositivo volta a se fechar,
contendo o restante do material em seu interior (figura 1.14-b). Esse procedimento
se repete várias vezes, sempre que o vapor de gasolina exerce uma pressão
suficiente para acionar a válvula de alívio. Porém, para cada vez que o mecanismo
é acionado, parte do conteúdo de gasolina é liberada para o ambiente externo, o
que permite que mais gasolina líquida passe para o estado de vapor no interior do
tanque, diminuindo, gradativamente, o volume de gasolina líquida.

Enquanto a chama do incêndio externo consegue transferir calor para a


gasolina líquida, induzindo sua vaporização, tem-se um processo relativamente
controlado. Porém, com a diminuição da quantidade de gasolina líquida em
condições de absorver o excesso de energia produzida pela chama, o costado do
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 32

tanque passa a ficar mais quente, o que ocasiona a dilatação e fragilização de sua
estrutura.

Como o vapor de gasolina está permanentemente no interior do tanque


exercendo pressão em sua parede interna, em determinado momento a pressão
será forte o suficiente para romper a parede do tanque (figura 1.14-c). Essa ruptura,
quando ocorrer, será explosiva e induzirá imediatamente a combustão de todo vapor
ainda não incendiado, que no momento terá contato com o comburente, e ainda irá
projetar os materiais sólidos em diversas direções, podendo causar grandes
acidentes (figura 1.14-d).

Figura 1.14 – Processo de evolução de um BLEVE

Fonte: Autor
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 33

2.2.4 Temperaturas notáveis de combustíveis

Há uma relação que se pode estabelecer entre combustíveis e calor, na


qual é possível perceber alguns fenômenos característicos. São os pontos notáveis
de temperatura de combustíveis. Há três pontos notáveis que se aplicam aos
diversos tipos de combustíveis (sólidos, líquidos e gases).

2.2.4.1 Ponto de Fulgor

É uma característica dos líquidos inflamáveis ou combustíveis.


Representa a menor temperatura na qual o líquido libera vapores que tem condições
de se inflamar momentaneamente em contato com o ar. Como a reação de
combustão nesse ponto não gera energia suficiente, devido à baixa concentração
de vapores inflamáveis como reagentes, caso seja retirada a fonte direta de calor
(chama, fagulha), a reação irá cessar (figura 1.15) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2000, 2014; FRIEDMAN, 1998; GRIMWOOD e DESMET,
2003; MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978; NATIONAL FIRE
PROTECTION ASSOCIATION, 2004; QUINTIERE, 2006; STAUFFER, DOLAN e
NEWMAN, 2008).

Figura 1.15 – Esquema demonstrando o ponto de fulgor

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 34

2.2.4.2 Ponto de Combustão

É uma característica dos líquidos inflamáveis7 ou combustíveis.


Representa a menor temperatura na qual o líquido, após liberar vapores em
condições inflamáveis e esses vapores reagirem com o ar, produzirá uma
combustão com energia suficiente para vaporizar mais líquido, manter a combustão,
e se sustentar, mesmo após a retirada da fonte direta de calor (chama, fagulhas).

O ponto de combustão (figura 1.16) geralmente se situa poucos graus


acima do ponto de fulgor, de 5ºC a 15ºC. Há, ainda, combustíveis cujo ponto de
combustão e de fulgor são os mesmos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2000; FRIEDMAN, 1998; GRIMWOOD e DESMET, 2003; NATIONAL
FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2004; QUINTIERE, 2006; STAUFFER,
DOLAN e NEWMAN, 2008). Os valores dos pontos de combustão são difíceis de
serem mensurados, pois oscilam de acordo com uma série de variáveis relativas a
cada combustível, como o tamanho da fonte de ignição, o tempo de exposição do
líquido a essa fonte, a proporção e eficiência do fluxo de calor e influências do
movimento de ar sobre o líquido.

Figura 1.16 – Esquema demonstrando o ponto de combustão

Fonte: Autor

7 Existem raros exemplos de sólidos que possuem pontos de fulgor e combustão, como a naftalina
e a cânfora, em que o sólido passa diretamente ao estado de vapor (sublimação). Há ainda alguns
combustíveis, como a parafina (da cera da vela, por exemplo) que são sólidos, mas, primeiro passam
para o estado líquido, em seguida ao estado de vapor e, então, queimam. Esses sólidos, que
‘queimam como líquidos’, também possuem pontos de fulgor e combustão (QUINTIERE, 2006;
FRIEDMAN, 1998).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 35

2.2.4.3 Temperatura de ignição

Para quaisquer tipos de combustíveis, sólidos, líquidos ou gases, a


temperatura de ignição (também tratada como temperatura de autoignição) é a
temperatura mínima em que a substância, exposta ao ar, deverá ser aquecida por
uma fonte direta de calor (chamas, fagulhas) para iniciar uma reação de combustão
(figura 1.17) (FRIEDMAN, 199; GRIMWOOD e DESMET, 2003; NATIONAL FIRE
PROTECTION ASSOCIATION, 2004, 2008; QUINTIERE, 2006; STAUFFER,
DOLAN e NEWMAN, 2008). Algumas temperaturas de ignição de sólidos
combustíveis estão apresentadas na tabela 1.4.

Figura 1.17 – Esquema demonstrando ponto de ignição

Fonte: Autor

Tabela 1.4 – Temperatura de ignição de alguns sólidos combustíveis


Sólidos Temperatura de ignição (°C)
PVC 470
Nylon 450
Polietileno 350
Poliestireno 490
Poliuretano 420
Policarbonato 570
Teflon 600
Madeira 250-350
Papel 200-350
Feno 230
Palha 240
Lã 570
Fósforos 160-180
Carvão 140-300
Algodão 300-400
Fonte: Grimwood e Desmet, 2003
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 36

2.2.4.4 Autoignição

Vê-se que a temperatura de ignição de um combustível é definida como


a temperatura mínima em que se inflama. Essa ignição pode ser alcançada pelo
uso de fontes externas, como uma faísca ou uma chama (ignição pilotada). A
temperatura de ignição e de autoignição de um combustível possuem o mesmo
valor, sob as mesmas condições. No entanto, o termo autoignição é usado quando
não há fonte de ignição externa direta. Tais condições podem ocorrer devido à
radiação térmica em combustíveis não inflamados no interior de edificações
expostas a um incêndio; pelo aquecimento do óleo em uma panela até que
subitamente entre em ignição pelo contato com o ar; dentre outros exemplos.
(DAVID SCHOTTKE, NFPA, IAFC, 2014; FRIEDMAN, 1998; GRIMWOOD e
DESMET, 2003; NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2004, 2008;
QUINTIERE, 2006; STAUFFER, DOLAN e NEWMAN, 2008).

É importante entender que todo combustível deve atingir sua temperatura


de autoignição para queimar. Mesmo no caso de uma ignição pilotada quando, por
exemplo, um isqueiro é aplicado a um pedaço de papel, uma pequena porção do
papel é trazida para sua temperatura de ignição para que o fogo seja iniciado. No
entanto, seria possível acender o mesmo papel colocando-o em um forno e
elevando a temperatura até a ignição do papel, ponto em que ele se autoinflamaria
(STAUFFER, DOLAN e NEWMAN, 2008). A temperatura de ignição (ou
autoignição) é um ponto notável dos combustíveis. Já, a autoignição, é um
processo de queima sem contato com fonte direta de ignição.

A autoignição merece importante destaque, pois é nesse processo em


que ocorrem alguns dos comportamentos extremos do fogo, como o Flashover e o
Backdraft, que serão estudados nos capítulos seguintes.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 37

Para o exemplo que será apresentado agora, suponha que o ponto de


fulgor de um líquido inflamável seja 10ºC, seu ponto de combustão seja 25ºC e sua
temperatura de ignição (ou autoignição) seja 460ºC.
Quando um líquido é aquecido até seu ponto de fulgor ou ponto de
combustão e nenhuma fonte externa de ignição é levada para dentro da nuvem de
vapor, não ocorrerá ignição. Por exemplo: o etanol geralmente é armazenado em
temperaturas significativamente acima de seu ponto de fulgor e combustão, mas
não se inflama. Nesse caso, se uma fonte de calor alcançar o interior dos vapores,
elevando a temperatura para sua temperatura de ignição, ocorrerá a combustão.
Neste ponto, se o líquido estiver em seu ponto de fulgor, os vapores queimarão
como um flash momentâneo, mas a combustão não será sustentada (figura 1.18).
Figura 1.18 – Ponto de fulgor

Fonte: Autor

No entanto, se o líquido estiver em seu ponto de combustão, a


combustão irá se sustentar (figura 1.19).

Figura 1.19 – Ponto de combustão

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 38

Se nenhuma fonte de ignição externa é trazida à nuvem, e se a


temperatura ambiente for aumentada, superando o ponto de combustão dos
vapores, poderá ser alcançada a temperatura de ignição. Nesse caso, mesmo sem
uma fonte direta de ignição (chamas, fagulha, etc.), os vapores irão se incendiar
em um processo denominado autoignição (figura 1.20) (STAUFFER, DOLAN e
NEWMAN, 2008).

Figura 1.20 – Autoignição

Fonte: Autor

Na figura 1.20, o aquecimento do ambiente interno da edificação pelo


incêndio que está do lado de fora já foi suficiente para incendiar os vapores
combustíveis que estavam no seu interior, sem que houvesse contato direto das
chamas externas com esses vapores.

2.3 Comburente

Comburente é o outro gás que reage com o gás combustível ou vapor


inflamável concluindo a reação de combustão. O principal comburente está
presente no ar: é o oxigênio. E já que o oxigênio é o comburente mais comum na
reação de combustão dos incêndios urbanos, detalharemos um pouco mais sobre
a influência da concentração de oxigênio no processo de combustão.

O Ar é composto por 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de outros


gases (figura 1.21).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 39

Figura 1.21 – Diagrama de distribuição dos gases na atmosfera

Fonte: Autor

Especificamente sobre a concentração do oxigênio, que é o nosso


comburente de interesse neste momento, dividiremos didaticamente8 sua
concentração em três terços de sete (figura 1.22): de 0 a 7%, de 7 a 14% e de 14 a
21% (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012; CORPO
DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO, 2014; CORPO DE BOMBEIROS
MILITAR DE GOIÁS, 2017; GRIMWOOD, 2008).

Figura 1.22 – Demonstração didática do comportamento da combustão nas diferentes faixas de


concentração de Oxigênio

Fonte: Autor

8 A divisão da concentração de oxigênio em três faixas distintas não pode ser tratada com a
uniformidade apresentada no texto. De acordo com cada tipo de combustível, haverá uma
concentração de oxigênio que permitirá a ocorrência de queima viva, lenta, ou que não permitirá a
combustão. A exemplo, para o monóxido de carbono (CO), mesmo a concentrações de oxigênio de
5% (mistura rica), ocorreria a combustão (FRIEDMAN, 1998; TURNS, 2013).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 40

Entre 21% e 14% a reação de combustão terá uma característica de


“queima viva”, ou seja, irá produzir calor e será possível visualizar luz, por meio da
chama produzida nessa reação. Caso a concentração de oxigênio esteja entre 14%
e 7% a queima será “lenta”, a combustão estará na fase de incandescência, que
produz pouco calor e pouca luz e não será visualizada uma chama viva e, sim,
brasas. Entre 7% e 0% não haverá reação alguma de combustão, por insuficiência
do comburente oxigênio (figura 1.23).

Figura 1.23 – Queima viva (a) e queima lenta (b)

(a) (b)
Fonte: Todamatéria, 2019

Existem, porém, condições raras em que a concentração de oxigênio


poderá estar acima dos 21% naturalmente encontrado na atmosfera. Isso ocorrerá
em locais em que haja armazenamento deste gás, como hospitais, centrais de
carregamento de oxigênio, oficinas com uso de oxi-acetileno, usuários de oxigênio
em domicílio, dentre outros. Se houver vazamento desse gás durante um incêndio,
haverá a queima denominada “muito viva”. A intensidade das chamas será
aumentada e a quantidade de calor produzido será maior, aumentando, por
consequência, os riscos das operações de bombeiros nesses ambientes.

Embora seja o mais comum, o oxigênio não é o único comburente


disponível. Há outros gases que reagem com o combustível em reações químicas,
como aqueles encontrados no grupo 17 (VII-A) da tabela periódica (Halogênios),
que são os elementos mais eletronegativos9, como Flúor, Cloro e Bromo. Algumas

9Eletronegatividade é a predisposição que um determinado átomo tem em atrair elétrons para si em


uma reação química. Quanto mais eletronegativo, maior será sua tendência em reagir com outros
gases.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 41

das reações desses comburentes podem ser tão, ou mais violentas que a reação
do combustível com o oxigênio, podendo resultar em chamas intensas, mesmo na
ausência de ar, por exemplo:

𝐻2 + 𝐶𝑙2 → 2𝐻𝐶𝑙 + 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟

3 1
𝐶𝐹3 𝐵𝑟 [𝐻𝑎𝑙𝑜𝑛 1301∗ ] + 2𝑀𝑔 → 𝑀𝑔𝐹2 + 𝑀𝑔𝐵𝑟2 + 𝐶(𝑓𝑢𝑙𝑖𝑔𝑒𝑚) + 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟
2 2
𝑁2 𝐻4 [𝐻𝑖𝑑𝑟𝑎𝑧𝑖𝑛𝑎] → 𝑁2 + 2𝐻2 + 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟

𝐶2 𝐻2 [𝐴𝑐𝑒𝑡𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜] → 2𝐶 + 𝐻2 + 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟

*Agentes extintores de compostos halogenados reagem violentamente com metais


pirofóricos, que serão estudados mais à frente (FRIEDMAN, 1998).

2.4 Limites de Explosividade ou Inflamabilidade

A reação de combustão não requer simplesmente a participação de três


requisitos no processo, ela também exige que esses requisitos estejam dentro de
concentrações específicas para que a reação possa ocorrer. Verifica-se, ao estudar
o comburente, que o oxigênio a baixas concentrações, reagirá de forma diferente
com o combustível, podendo, inclusive, não reagir.

Outro fator que interfere na combustão é a concentração de


combustíveis. Existem determinados combustíveis que se estiverem em
concentrações muito baixas, não irão reagir com o comburente. Mas também, se
estiverem em concentrações relativamente muito altas (que varia para cada
combustível), vão fazer com que a concentração de comburente diminua, impedindo
uma combustão. A esse conceito damos o nome de limites inferior e superior de
inflamabilidade ou explosividade.

Limite inferior de explosividade ou inflamabilidade (LIE) é a concentração


mínima de combustível necessária para que haja uma reação de
combustão. Abaixo do LIE não haverá ignição.
Alguns equipamentos do CBMMG fazem a leitura desse índice em inglês,
e registram LEL (lower explosive limit).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 42

Limite superior de explosividade ou inflamabilidade (LSE) é a


concentração máxima de combustível que ainda permitirá uma reação de
combustão. Uma vez superado o LSE não haverá reação de combustão.
Alguns equipamentos do CBMMG fazem a leitura desse índice em inglês,
e registram UEL (upper explosive limit).

Cada um dos combustíveis possui um valor diferente para o seu LIE e


LSE. Entre os limites de explosividade tem-se a faixa de explosividade e
aproximadamente no meio dessa faixa tem-se a reação considerada como mistura
ideal, ou seja, aquela em que haverá a maior liberação de luz e calor, caso haja
uma ignição (figura 1.24).

Figura 1.24 – Diagrama dos Limites de explosividade

Fonte: Autor

O aumento da temperatura interfere diminuindo o limite inferior de


explosividade (TURNS, 2013).

O gás de cozinha é, basicamente, uma mistura de propano (C 3H8) e


butano (C4H10), cujo limite inferior de explosividade é aproximadamente 2%, e o
limite superior é aproximadamente 9%. Para efeitos de demonstração, calcularemos
apenas a combustão do propano, cujo limite inferior de explosividade é 2,1% e o
superior é 9,5% (PETROBRÁS DISTRIBUIDORA, 2018).

Imagine um compartimento contendo 4% de gás propano por volume, e


96% de ar, completamente misturados. Como o ar contém 21% de oxigênio por
volume e 21% de 96% é 20, o compartimento deve conter 20% de oxigênio por
volume (FRIEDMAN, 1998). O volume percentual de um gás é o mesmo que o
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 43

percentual molar. Portanto, a razão entre mols10 de oxigênio no compartimento e


mols de propano é de 20 mols de oxigênio para 4 mols de butano, perfazendo a
razão de 20:4, ou 5:1 (razão estequiométrica). Caso haja uma fagulha nesse
compartimento, surgirá uma chama, que consumirá todo o combustível, resultando
na produção de luz e calor, e deixando como produtos CO2 e água.

Sabe-se que a razão estequiométrica da reação de combustão do


propano é 5, conforme demonstrado pela equação abaixo, devidamente
balanceada.

𝐶3 𝐻8 + 5𝑂2 → 3𝐶𝑂2 + 4𝐻2 𝑂 + 𝒄𝒂𝒍𝒐𝒓

A partir dessa reação, percebe-se que são necessários 5 mol de oxigênio


para concluir uma reação completa com 1 mol de Propano. Valores maiores ou
menores para essa razão produzirão reações incompletas.

A razão estequiométrica de oxidante é simplesmente a quantidade


necessária para queimar completamente certa quantidade de
combustível. Se uma quantidade de oxidante maior do que a
estequiométrica é fornecida, diz-se que a mistura é pobre em
combustível, ou simplesmente, pobre; fornecer uma quantidade de
oxidante menor que a estequiométrica resulta em uma mistura rica em
combustível ou, simplesmente, rica (TURNS, 2013).

A tabela 1.5 apresenta algumas concentrações de propano, ar e oxigênio


a temperatura ambiente e, por meio dela, pode-se perceber que ocorre um
afastamento da razão estequiométrica à medida em que são alteradas as
concentrações do combustível. A tabela 1.6 apresenta os limites de explosividade
de combustíveis mais comuns.

10Mol é uma unidade de medida utilizada para expressar a quantidade de matéria microscópica,
como átomos e moléculas. É um termo que provém do latim mole, que significa quantidade. A
quantidade de matéria presente em um mol é de: 6,02.10²³ entidades (HALLIDAY, RESNICK e
WALKER, 2013).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 44

Tabela 1.5 – Comportamento do gás propano em diferentes concentrações na combustão


Razão
Concentração de %
% Propano % Oxigênio estequiomé Combustão
combustível Ar
trica
Muito pobre 1,00 99,00 20,79 20,79 Não haverá
Pobre 2,10 97,90 20,56 9,79 Incompleta
Ideal 4,03 95,97 20,15 5,00 Completa
Rica 9,50 90,50 19,01 2,00 Incompleta
Muito rica 15,00 85,00 17,85 1,19 Não haverá
Fonte: Autor

Quanto mais afastadas da razão estequiométrica ideal para a


combustão, menor será a quantidade de luz e calor liberados e maior será a geração
de produtos de uma combustão incompleta. Os produtos de uma combustão de
hidrocarboneto podem ser CO2; CO; H2O; H2; C (fuligem); CH (FRIEDMAN, 1998;
QUINTIERE, 2006). Em determinados pontos (fora dos limites de explosividade),
sequer haverá reação de combustão.

Tabela 1.6 – Limites de explosividade de combustíveis


Temperatura de
Ponto de LIE LSE
Combustível autoignição
fulgor (ºC) (%) (%)
(ºC)
Gasolina aditivada (Grid) < -43 1,3 7,1 >250
Gasolina comum C <0 1,3 7,1 >250
Etanol 15 3,3 19 400
Metanol 199 2,7 19 370
Propano < -56 2,1 9,5 410 - 540
Butano -60 1,8 8,4 346
Acetileno -17,8 2,3 100 305
Acetona 7 3,3 19 423
Diesel S 500 ou S 10 38 nd nd >225
Querosene 40 0,7 5 210
Querosene de aviação 40 0,7 5 238
GNV gás 6,5 17 482 – 632
1,9 – 8,5 –
GLP gás nd
2,1 9,5
Hidrogênio gás 4 77 566
Monóxido de Carbono gás 12,5 74 605
Nd: não disponível
Fonte: Petrobrás Distribuidora, 2019; White Martins, 2019
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 45

3 TETRAEDRO DO FOGO

Uma vez apresentados os três requisitos necessários para que haja a


reação de combustão, que representam a teoria do Triângulo do Fogo, é importante
incrementá-la com estudos mais recentes, realizados durante o processo de
verificação das formas de combate a um incêndio ou extinção das chamas (CORPO
DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO, 2014). Foi verificado que, uma
vez estabelecida, a reação só é mantida caso haja um quarto elemento, que é a
reação em cadeia. A inclusão da reação em cadeia no Triângulo do Fogo
incrementou a Teoria do triângulo para a teoria do Tetraedro do Fogo (figura 1.25).

Para que a combustão se inicie são necessários três componentes


(requisitos): calor, combustível e comburente [triângulo do fogo].
Enquanto a combustão se processa, podemos constatar a presença de
quatro componentes (elementos): os três anteriores acrescidos da
reação em cadeia [tetraedro do fogo] (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR
DO ESPÍRITO SANTO, 2014).

Figura 1.25 – Tetraedro do fogo

Fonte: Autor

Para compreender a reação em cadeia, suponha a combustão do gás


metano (CH4) apresentada abaixo pela fórmula química devidamente balanceada.

𝐶𝐻4 + 2𝑂2 → 𝐶𝑂2 + 2𝐻2 𝑂 + 𝒄𝒂𝒍𝒐𝒓


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 46

A combustão é um processo que irá demandar que a molécula de CH 4


seja “quebrada” para que possa se unir às moléculas de O 2 no processo de
combustão. Para que haja a quebra do metano, e sua consequente reação com o
O2, será necessário o fornecimento de uma quantidade de energia mínima (energia
de ativação). No caso do metano, sua energia de ativação é 250 KJ/mol, ou seja,
um mol de metano precisa absorver 250 KJ para poder reagir com 2 mol de oxigênio
(em uma equação já balanceada).

Após a reação, porém, será liberada uma quantidade de calor de


aproximadamente 890 KJ/mol (figura 1.26), que é suficiente para induzir uma nova
ativação em pelo menos outros três mols de metano e, assim, sucessivamente, em
uma reação em cadeia. Esse processo ocorrerá ininterruptamente, até que se
encerre a disponibilidade de combustível ou de comburente.

Figura 1.26 – Caminho da reação do Metano

Fonte: F.M.Olinda, 2016

Energia de ativação é a energia mínima necessária para que os reagentes


iniciem a reação química (TURNS, 2013).

De forma ampliada, ainda, suponha que uma chama se inicia em um


pedaço de madeira e que esse material já está no ponto de ignição (ou seja, em
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 47

chamas). O produto dessa combustão é a liberação de luz e calor. Porém, esse


calor também é capaz de induzir uma nova reação de combustão, pois ele eleva a
temperatura da madeira adjacente, que passa a desprender gases inflamáveis após
sofrer pirólise. Esses gases reagem com o comburente e iniciam uma nova reação
de combustão, que aquece a madeira adjacente e assim, sucessivamente (figura
1.27), tem-se estabelecida uma reação em cadeia que manterá a combustão ativa.

Figura 1.27 – Reação em cadeia – macro

Fonte: Autor

A nível molecular, a reação em cadeia também pode ser exemplificada.


As moléculas instáveis, como o OH, CH, CH2 e CH3, são chamadas de radicais
livres. Certos tipos de átomos (por exemplo: hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, flúor,
cloro), que normalmente formam moléculas diatômicas estáveis (H2, O2, N2, F2, Cl2,
respectivamente) são chamados de átomos livres quando estão em uma forma não
ligada (H, O, N, F, Cl).

Átomos livres também são instáveis, de forma que rapidamente se


combinam entre si ou reagem com outras moléculas disponíveis. Átomos livres e
radicais livres são extremamente importantes pois têm um papel fundamental nas
combustões de alta temperatura, principalmente pela participação na reação em
cadeia. Durante o processo de combustão são liberados radicais livres e átomos
livres que são muito instáveis e reativos. Buscando reagir, eles induzem uma nova
quebra em uma molécula, que liberará outros radicais livres e, assim,
sucessivamente (FRIEDMAN, 1998).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 48

Reações em cadeia envolvem a produção de espécies químicas radicais


que subsequentemente reagem produzindo outro radical. Esse radical,
por sua vez, reage produzindo ainda outro radical. Essa sequência de
eventos, ou reação em cadeia, continua até que uma reação envolvendo
a formação de moléculas estáveis a partir de dois radicais quebre a
cadeia (TURNS, 2013).

4 COMBUSTÃO

Uma vez apresentados os três elementos necessários para criação do


fogo: combustível, comburente e calor, bem como a característica responsável pela
manutenção constante da combustão: a reação em cadeia, abordaremos agora os
diferentes tipos de combustão.

Anteriormente notou-se uma definição geral de combustão: “Uma reação


química que libera luz e calor”. Essa reação, quanto à qualidade e quantidade dos
reagentes e produtos envolvidos, poderá ser do tipo completa ou incompleta.
Quanto à velocidade, poderá ser denominada queima muito viva, viva ou lenta.
Poderá, ainda, ser uma combustão espontânea, ou até uma explosão.

Combustão completa é aquela em que foram consumidos todos os


reagentes e cujos produtos serão gases não inflamáveis e não reagentes, como
dióxido de carbono (CO2) e água.

Na combustão completa do gás metano, verifica-se que todos os


reagentes foram consumidos e que o produto da reação não é inflamável.
𝑪𝑯𝟒 + 𝟐𝑶𝟐 → 𝑪𝑶𝟐 + 𝟐𝑯𝟐 𝑶 + 𝒄𝒂𝒍𝒐𝒓

A combustão incompleta ocorrerá quando a proporção entre


comburente e combustível não for suficiente para consumir todos os reagentes, ou
quando houver perturbação da zona de reação. Dentre os produtos da reação
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 49

incompleta estão o monóxido de carbono (CO) e a água, ou carbono elementar


(fuligem) e água (figura 1.28).

O monóxido de carbono é um produto inflamável e pode se incendiar,


sendo inclusive um dos responsáveis (junto com outros gases não incendiados,
produtos da combustão incompleta) por outro comportamento extremo do fogo,
denominado ignição explosiva ou backdraft que será estudado mais à frente
(LAMBERT, 2014).

Na Combustão incompleta do gás metano, verifica-se que o produto da


reação poderá ser um material ainda inflamável.
𝟑
𝑪𝑯𝟒 + 𝑶 → 𝑪𝑶 + 𝟐𝑯𝟐 𝑶 + 𝑪𝒂𝒍𝒐𝒓
𝟐 𝟐
𝟏
𝑪𝑶 + 𝑶𝟐 → 𝑪𝑶𝟐 + 𝑪𝒂𝒍𝒐𝒓
𝟐
Ou
𝑪𝑯𝟒 + 𝑶𝟐 → 𝑪(𝒇𝒖𝒍𝒊𝒈𝒆𝒎) + 𝟐𝑯𝟐 𝑶 + 𝑪𝒂𝒍𝒐𝒓
𝑪 + 𝑶𝟐 → 𝑪𝑶𝟐 + 𝑪𝒂𝒍𝒐𝒓*
*A queima do carbono elementar confere a cor amarelada e brilhante à
chama de uma vela (FARADAY, 2003; TURNS, 2013).

Figura 1.28 – Produtos da combustão

Fonte: Stauffer, Dolan e Newman, 2008


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 50

A produção de carbono livre (carbono elementar) ou fuligem em uma


combustão incompleta pode ser exemplificada com um fato cotidiano:
quando o gás do botijão de cozinha começa a acabar em nossas casas,
verificamos que a chama em contato com o fundo da panela deixa-o
enegrecido. Isso acontece porque a quantidade de combustível é
insuficiente para uma reação completa com o comburente, conforme foi
programado pelo sistema do fogão. Quando a quantidade de combustível
é suficiente para que haja uma mistura adequada com o comburente, o
resultado será uma chama azul e combustão completa, que não deixará
resíduos. Porém, caso haja falta de oxigênio ou de combustível, essa
combustão será incompleta, a chama será amarelada, e irá gerar outros
produtos indesejados, dentre eles, o carbono elementar, que escurece os
fundos das panelas.

A Combustão viva ou queima viva é aquela em que há presença de


chamas. A queima lenta ou incandescência é aquela na qual não há ocorrências
de chamas, apenas brasas. Já a queima muito viva, quando há grandes
concentrações de comburente, se produzirá de maneira rápida, e a taxa de
liberação de luz e calor serão maiores e mais intensas que a queima viva
(FRIEDMAN, 1998).

Outro tipo de combustão é a combustão espontânea. Estudada


especialmente no ramo da biologia, é a que ocorre em materiais que, por meio de
reações químicas internas, aumentam sua própria temperatura até que atinjam o
ponto de ignição. O termo autoaquecimento também é usado para descrever esse
processo. Como discutido anteriormente, a temperatura de ignição é a condição que
um material deve atingir para se inflamar de maneira sustentada, sem necessidade
de permanência de uma chama pilotada.

Para materiais sólidos, a ignição espontânea pode se manifestar tanto


em combustão lenta, como em combustão viva. Exemplos comuns de ignição
espontânea incluem pilhas de feno úmidas, panos de algodão oleosos, óleos
vegetais ou o fósforo branco (figura 1.29). Nesse último caso, ocorre uma reação
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 51

do material pirofórico com o oxigênio do ar, que resulta no surgimento de chamas e


a conclusão da combustão.

Repare que, diferente da autoignição em combustíveis comuns, o


processo da combustão espontânea ocorre devido ao autoaquecimento do material,
que independe de uma fonte externa de calor, seja direta ou indireta (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012; QUINTIERE, 2006;
STAUFFER, DOLAN e NEWMAN, 2008).

Figura 1.29 – Ignição espontânea do fósforo branco

Fonte: Autor

Por fim, a combustão de alta velocidade poderá ser explosiva. Se a sua


velocidade de reação for maior que a velocidade do som (340 m/s), será uma
detonação. Se for uma velocidade menor que a do som, será uma deflagração.
Backdrafts e explosões ambientais em um ambiente com GLP enquadram-se em
explosões do tipo deflagração. A explosão é caracterizada pela expansão repentina
e violenta de um combustível gasoso, podendo gerar uma onda de choque (na
detonação) e causar lesões ou até um colapso estrutural (CORPO DE BOMBEIROS
MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012; GRIMWOOD e DESMET, 2003;
LAMBERT, 2014). Os efeitos dessa onda de choque estão dispostos na tabela 1.7.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 52

Tabela 1.7 – Demonstração dos efeitos de uma onda de choque causada por explosão
Pressão
exercida pela
Efeito da onda de choque
explosão
(psi)
Quebra do vidro de janelas 0,15-0,22
Janelas estilhaçadas, gesso rachado; pequenos danos a
0,51-1,09
alguns edifícios
Pessoas são derrubadas 1,02-1,45
Falha do revestimento de madeira ou amianto para casas
1-2
convencionais
Falha de paredes construídas de blocos de concreto
2-3
convencionais
Ruptura de tanques de armazenamento de óleo 3-4
Danos graves a edifícios com estrutura de aço estrutural 4-7
Ruptura do tímpano 5-15
Estruturas de concreto armado severamente danificadas 6-9
Vagões de trem derrubados 6-9
Provável destruição total da maioria dos edifícios 10-12
Danos nos pulmões 29-73
Letalidade 102-218
Formação de cratera em solo médio 290-435
Fonte: Kinney e Graham, 1985

5 TIPOS DE CHAMA

No exemplo de uma vela acesa, a luz liberada no processo de combustão


é denominada chama. Ela representa a fina zona de reação na qual os gases
combustíveis e comburentes se encontram para reagir liberando energia (TURNS,
2013).

Chamas podem ser categorizadas como pré-misturadas ou difusas. Elas


ainda podem ser laminares ou turbulentas, bem como estacionárias ou
propagantes. Vê-se que qualquer combinação é possível, mas a chama de um
incêndio é difusa, turbulenta e propagante (FRIEDMAN, 1998).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 53

5.1 Chama pré-misturada

Em uma chama pré-misturada o comburente é misturado ao gás


combustível antes que ocorra a elevação de temperatura e conclusão da reação.
Por isso a reação de combustão na chama pré-misturada tende a ser uma reação
de combustão completa. Um identificador visual para uma reação de combustão
completa na chama é a cor característica azulada (figura 1.30), como se pode
perceber na trempe de um fogão, que realiza a pré-mistura do ar com GLP antes do
aquecimento desses gases.

Figura 1.30 – Chama pré-misturada de um maçarico

Fonte: Autor

5.2 Chama difusa

A chama difusa é formada quando combustível e comburente são


misturados após o contato com a fonte de calor, em um local denominado zona de
reação. Por ser uma mistura mais pobre entre reagentes do que em uma chama
pré-misturada, a reação de combustão será incompleta. Dentre os produtos de uma
reação incompleta de combustão está o carbono livre, cuja incandescência confere
a cor amarelada para a chama (figura 1.31).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 54

Figura 1.31 – Chama difusa

Fonte: Todamatéria, 2019

A chama difusa também pode ser encontrada no topo da chama da vela


(figura 1.32). A vela contém em sua chama os dois tipos, a pré-misturada e a difusa.
A partir do estudo da queima de uma vela é possível entender todo o processo de
combustão que nos interessa na atividade de combate a incêndio.

Figura 1.32 – Chama de uma vela (pré-misturada na base e difusa no topo)

Fonte: Autor

A cor de uma chama depende também do nível de energia emitido na


queima. Baixa produção energética produz uma coloração que tende ao
espectro do vermelho, já alta emissão de energia tende ao espectro do
azul. As chamas mais quentes possuem uma aparência esbranquiçada
(GRIMWOOD, 2008).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 55

5.3 Chama turbulenta

Chamas grandes e volumosas, geralmente são turbulentas (figura 1.33).


Isto é, a velocidade e a temperatura variam em diferentes pontos da chama. O
percurso de qualquer partícula se movendo pela chama é errático, com muitas
mudanças de direção e significativas variações de temperatura ao longo do
percurso (FRIEDMAN, 1998).

Figura 1.33 – Chama turbulenta de um incêndio

Fonte: Portal G1, 2018

5.4 Chama laminar

Por outro lado, pequenas chamas, como as chamas de velas ou do fogão


a gás doméstico, geralmente são laminares, ou seja, as linhas de transmissão são
suaves e as flutuações de temperatura estão ausentes ou são consideravelmente
pequenas.

Como uma regra geral, uma chama difusa maior que 30 cm será
turbulenta, e uma chama de difusão menor do que 10 cm será laminar, a não ser
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 56

que haja um fluxo de alta velocidade envolvido nessa queima. Por isso, as chamas
de um ambiente incendiado são difusas e turbulentas (FRIEDMAN, 1998).

5.5 Chamas estacionárias e propagantes

Chamas podem ser estacionárias, como a chama de uma vela, em que


o vapor de parafina evapora pelo pavio e, em seguida, encontra o oxigênio para
concluir a combustão. Chamas pré-misturadas, como a chama de um fogão,
também podem ser estacionárias, pois o suprimento constante de combustível pré-
misturado ao oxigênio, que sobe por um duto, é consumido inteiramente na
combustão (FRIEDMAN, 1998).

Entretanto, a chama propagante é aquela que “caminha” durante o


processo de consumo do combustível na reação. Por exemplo: o incêndio em um
líquido inflamável derramado, a ignição em uma nuvem de vapores inflamáveis, ou
o consumo de combustíveis sólidos no interior de uma edificação incendiada. A
chama propagante é aquela que segue uma rota determinada pelo combustível
disponível (FRIEDMAN, 1998).

6 ANÁLISE DA COMBUSTÃO EM UMA VELA

Em 1861, Michael Faraday compilou uma série de palestras que


ministrou sobre o estudo da combustão, em uma obra denominada: A História
Química de uma Vela – As Forças da Matéria.

Faraday citava em suas palestras que “não existe lei pela qual seja regida
qualquer parte do Universo que não entre em ação e não seja abordada nesses
fenômenos. Não há porta melhor nem mais aberta para que os senhores possam
iniciar o estudo da filosofia natural do que o exame dos fenômenos físicos de uma
vela” (FARADAY, 1861/2003).

Alguns dos estudos realizados por Faraday ainda servem para a melhor
compreensão dos fenômenos que ocorrem nas atividades de combate a incêndio.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 57

O ESTUDO DA COMBUSTÃO EM UMA VELA

Inicialmente é importante citar aqui a composição desse material. A


vela é feita de parafina que envolve um pavio de algodão. A parafina é um
curioso líquido inflamável que se encontra no estado sólido. Isso significa que
apesar do estado sólido, quando sofre aquecimento, primeiro passa para o
estado líquido, e à medida que continua sendo aquecida, passa para o estado
de vapor (não sofre pirólise), que reage com o comburente na reação de
combustão. Ao acender um isqueiro e aproximar a chama do pavio, verifica-
se que o pavio se incendeia. Nesse curto momento, é o cordão que se queima.
Mas logo em seguida, essa chama transfere calor para a parafina sólida, que
passa para o estado líquido e, logo em seguida, para o estado de vapor. O
vapor de parafina então é que dá continuidade a essa chama acesa da vela.
Constantemente a chama da vela aquece a parafina, que permanece
mudando de estado físico, e retroalimentando a combustão. O pavio, então,
deixa de queimar, pois a chama sequer tem contato com ele. O pavio é usado
apenas como um fio condutor, que, por capilaridade11, consegue fazer subir a
parafina líquida e facilitar o seu contato com a fonte de energia e a sua
transformação para o estado de vapor (figura 1.34).

Figura 1.34 – Radiação de calor e vaporização da parafina

Fonte: Autor

11Capilaridade: a tendência que algumas substâncias apresentam de subirem ou descerem por


paredes de tubos finos (tubos capilares) ou de se deslocar por curtos espaços existentes em
materiais porosos, como tecidos de algodão ou esponjas (FARADAY, 2003).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 58

Ao observar a chama de uma vela de perto, vê-se que ela tem um


formato específico, que lembra a ponta de uma flecha. Esse formato está
ligado aos efeitos do empuxo12 e da gravidade. Como visto anteriormente, por
convecção todo fluido mais quente tende a subir e o menos quente a descer.
Em torno da vela existe um constante fluxo de convecção que projeta esse ar
quente verticalmente para cima. Essa corrente de ar constante, vertical e para
cima, dá a forma característica de flecha à vela. É possível perceber também
que a chama possui pelo menos duas cores muito características: na sua base
a chama é azul; no topo, a chama é amarela (figura 1.35). Como visto
anteriormente, as chamas pré-misturadas, ou seja, aquelas em que a
combustão tende a ser mais completa, possuem uma cor azulada. Já, aquelas
em que a combustão é incompleta, nas quais há liberação de carbono livre
que lhes confere uma cor amarelada, são chamadas difusas.

Figura 1.35 – Chama de uma vela

Fonte: Autor

Se aproximarmos uma tela metálica, de forma que ela ocupe


metade da chama (como se quiséssemos cortá-la ao meio), e observarmos
essa chama por cima, veremos que a chama na verdade é oca (figura 1.36).
No interior dessa chama, haverá apenas o vapor de parafina, ainda não
reagido, por não haver comburente naquele local. O comburente está na parte
externa da chama, e ao se encontrar com o combustível, concluirá a reação
de combustão. A esse ponto de encontro do combustível com o comburente
dá-se o nome de zona de reação (figura 1.37).

12Empuxo: Empuxo é o nome dado à força exercida por um fluido sobre um objeto mergulhado total
ou parcialmente nele. O empuxo sempre apresenta direção vertical e sentido para cima (HALLIDAY,
RESNICK e WALKER, 2013).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 59

Figura 1.36 – Tela metálica sobre a chama de uma vela

Fonte: Autor

Figura 1.37 – Zona de reação

Fonte: Autor

Dependendo da posição da tela metálica, haverá uma produção de


fumaça diferente. Se for posicionada no topo da chama amarela, haverá
produção de uma fumaça negra (figura 1.38), o carbono elementar; mais
fuligem será produzida, pois mais perturbada estará a reação e mais
incompleta será a combustão, liberando, portanto, cada vez mais carbono
livre.

Se a tela metálica for posicionada próximo à chama azul (figura


1.39), vê-se que haverá a produção de uma fumaça branca. Essa fumaça
branca na verdade é o vapor de parafina. A tela metálica atua dispersando a
energia térmica necessária para ignizar esse vapor, e faz com que ele seja
lançado ao ar mais frio e, portanto, com mais dificuldade de reagir.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 60

Figura 1.38 – Perturbação no topo da vela Figura 1.39 – Perturbação na base da vela

Fonte: Autor Fonte: Autor

Se aproximar um isqueiro aceso a essa fumaça branca, vê-se que


ela irá ignizar novamente (figura 1.40), comprovando que se trata de um vapor
inflamável. Por outro lado, se aproximar um isqueiro aceso da fumaça negra
que é produzida quando se posiciona a tela no topo da vela, o isqueiro irá
apagar (figura 1.41), porque a quantidade de carbono livre disponível, que é
um material não reagente, irá, por abafamento, afastar o contato do
combustível com o oxigênio, impedindo a combustão desse isqueiro.

Figura 1.40 – Reignição do vapor de parafina

Fonte: Autor
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 61

Figura 1.41 – Abafamento da chama de um isqueiro

Fonte: Autor

Se apagar uma vela rapidamente, nota-se que é liberada uma


fumaça branca, que ainda não havia sido queimada na reação. Caso
aproximar um isqueiro aceso dessa fumaça, será possível ignizar essa fumaça
branca e reacender a vela (figura 1.42).

Figura 1.42 – Reignição do vapor de parafina

Fonte: Autor

Um questionamento comum ao final da experiência de combustão


da vela é o motivo pelo qual, mesmo a parafina sendo um “líquido inflamável”,
restar ainda uma parte de cera não queimada após o consumo da vela. O fato
se explica pelos diferentes hidrocarbonetos presentes na cera, sendo uns mais
inflamáveis que outros. Como a temperatura da chama não é suficiente para
queimar os menos voláteis, eles simplesmente derretem.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 62

7 COMBATE/CONTROLE DO INCÊNDIO

Uma vez compreendidos os fundamentos das teorias do triângulo e


tetraedro do fogo, fica claro que para encerrar a reação de combustão basta retirar
algum dos quatro elementos presentes na reação: combustível, comburente, calor
ou reação em cadeia.

Partindo desse princípio, as técnicas de combate a incêndio visam atacar


alguma das faces do tetraedro do fogo para que haja sucesso no combate a
incêndio. Existem, portanto, quatro princípios básicos de combate a incêndio:
abafamento, retirada ou controle de material, resfriamento e quebra da reação em
cadeia.

7.1 Abafamento

O combate a incêndio por abafamento ataca o comburente, impedindo


que ele entre em contato com o combustível e conclua a reação (figura 1.43).

Figura 1.43 – Abafamento

Fonte: Autor

7.2 Resfriamento

O resfriamento atua no calor, retirando energia da reação, impedindo que


ela tenha continuidade (figura 1.44).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 63

Figura 1.44 – Resfriamento

Fonte: Autor

7.3 Retirada ou controle de material

A retirada de material interfere diretamente no combustível. Consiste no


afastamento físico dos combustíveis próximos que ainda não sofreram o
aquecimento pelo calor e, portanto, permite o controle do incêndio. Os aceiros
construídos em incêndios em vegetação são um exemplo comum da aplicação
dessa técnica (figura 1.45).

Figura 1.45 – Retirada de material

Fonte: Autor

7.4 Quebra da reação em cadeia

Nota-se que uma reação de combustão libera radicais livres que


participam das reações em cadeia. Alguns compostos halogenados, quando
adicionados às chamas, reagem com esses radicais e reduzem sua concentração,
extinguindo a reação de combustão (FRIEDMAN, 1998).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 64

8 AGENTES EXTINTORES

Para se debelar um incêndio ou princípio de incêndio podem ser


empregados diversos agentes extintores, que variam de acordo com o tipo de
combustível e volume do incêndio.

8.1 Água

A água é uma das ferramentas mais eficientes e largamente utilizada nas


ações de combate a incêndio. Isso ocorre devido às suas características de
resfriamento e abafamento. Um litro de água líquida, quando absorve energia do
ambiente (atuando por resfriamento), muda para o estado de vapor. Nesse
momento, a água aumenta seu volume em 1700 vezes (figura 1.46), passando a
atuar por abafamento (FRIEDMAN, 1998; GRIMWOOD e DESMET, 2003;
QUINTIERE, 2006).

Figura 1.46 – Expansão do volume da água líquida ao passar para o estado de vapor

Nota: as gotas representam uma escala aproximada de volume de 1:1700


Fonte: Autor

A água possui um elevado calor específico, ou seja, para que aumente


sua temperatura em um grau, um grama de água precisa absorver muita energia
térmica (1 caloria).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 65

Calor específico representa a quantidade de calor que 1 g de determinado


material precisa absorver para elevar sua temperatura em 1ºC (MÁXIMO
e ALVARENGA, 1993).

Assim, no processo de elevação de temperatura da água, ela absorverá


muita energia do ambiente. Para passar para o estado de vapor ela precisa absorver
uma quantidade maior de calor. Seu calor latente de vaporização equivale a 540
cal/g, processo esse que resfria o ambiente com relativa facilidade (tabela 1.8). Em
seguida, estando na condição de vapor, a água tende a ocupar o máximo possível
do volume interno do cômodo incendiado, e isso “empurra” os gases combustíveis
e comburentes, impedindo que eles reajam entre si.

Calor latente é a energia que uma substância precisa absorver ou liberar


para mudar de estado físico (MÁXIMO e ALVARENGA, 1993).

Tabela 1.8 – Alguns calores específicos e de vaporização de substâncias conhecidas


Calor Calor latente de
Substância
específico vaporização
Sólidos elementares cal/g (ºC) cal/g (ºC)
Chumbo 0,0305
Tungstênio 0,0321
Prata 0,0564
Cobre 0,0923
Alumínio 0,215
Outros Sólidos
Latão 0,092
Granito 0,19
Vidro 0,2
Gelo (-10ºC) 0,53
Líquidos
Mercúrio 0,033 65
Etanol 0,58 204
Água doce 1 540
Fonte: Halliday, Resnick e Walker, 2013; Máximo e Alvarenga, 1993
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 66

Importante observar, porém, que é necessário buscar a máxima


eficiência na aplicação de água. Sabendo-se que a absorção de energia para sua
passagem para o estado de vapor é 540 vezes maior do que a energia necessária
para que ela eleve a sua temperatura em 1 grau, é preciso garantir que essa água
aplicada no combate a incêndio confinado consiga efetivamente passar para o
estado de vapor, o que resultará em maior absorção de energia do meio. Sendo
assim, é necessário aplicar técnicas específicas com os esguichos, de forma a
impedir que a água permaneça no estado líquido após sua aplicação.

Conclui-se, portanto, que a permanência de muita água no estado líquido


após as ações de combate a incêndio demonstra, na verdade, um
desperdício desse agente extintor.

Embora seja um excelente agente extintor, a água não pode ser aplicada
em qualquer tipo de incêndio. Os principais riscos estão associados a incêndios
elétricos, em líquidos inflamáveis e em metais pirofóricos.

Devido a suas características (alto calor específico, alto calor latente de


vaporização e grande volume de expansão entre líquido-vapor), estima-
se que 38 a 68 litros de água sejam suficientes para controlar um
incêndio em um cômodo de 28 m². Estudos no Reino Unido mostram que
a maioria dos incêndios típicos em compartimentos foram extintos com
uso de 60 a 360 litros de água (GRIMWOOD, 2008).

8.2 Pó para extinção de incêndio

Também conhecido como pó químico seco (PQS) ou pó químico especial


(PQE), o pó para extinção de incêndio reúne um conjunto de produtos inibidores
(agentes extintores). Seus componentes são formados por bicarbonato de sódio,
bicarbonato de potássio ou fosfato de monoamônico (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2014).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 67

Os pós para extinção de incêndio possuem diferentes tonalidades para


facilitar a identificação quanto ao produto inibidor de sua composição, conforme
tabela 1.9.
Tabela 1.9 – Características dos pós para extinção de incêndio
Cor de Fórmula Classe
Produto inibidor
identificação química recomendada
Bicarbonato de sódio Branca NaHCO3 B-C
Bicarbonato de potássio Púrpura KHCO3 B-C
Fosfato de monoamônico Amarela NH4H2PO4 ABC
Fonte: Associação Brasileira De Normas Técnicas, 2014; INMETRO, 2014

Os extintores de incêndio com carga de pó atuam pelas seguintes


propriedades extintoras: inicialmente promovem um abafamento da reação de
combustão, pois impedem o contato do comburente com gás combustível. Ainda,
quando o pó é aquecido, ele sofre uma quebra de sua estrutura molecular, liberando
dióxido de carbono, que contribui no abafamento. Além do dióxido de carbono, o pó
para extinção de incêndio também é decomposto em produtos que reagem com os
gases combustíveis, dificultando ou impedindo a continuidade da combustão,
atuando, portanto, na quebra da reação em cadeia.
Extintores de incêndio especiais, designados para incêndios em
materiais pirofóricos (classe D) possuem uma composição variada (tabela1.10),
pois cada combustível irá reagir de forma particular. O extintor para a classe D é
composto de sais, que ao terem contato com as chamas, se compactam, formando
uma camada que isola o material do ar atmosférico, atuando por abafamento. No
entanto, há um metal em especial, o lítio, cujo único agente extintor capaz de
debelar suas chamas é um composto à base de cobre, que atua pelo mesmo
princípio dos demais, cobrindo a superfície do material e abafando o incêndio.
Tabela 1.10 – Metais pirofóricos e seus agentes extintores
Metal pirofórico Base do agente extintor
Titânio (Ti), Magnésio (Mg), Alumínio (Al), Zircônio (Zr), Cloreto de sódio, Carbonato de
Sódio (Na), Potássio (K), Bário (Ba), Cálcio (Ca), Zinco (Zn) Sódio, Grafite granulado.

Pó de cobre.
Lítio (Li)
Fonte: Houck, 2015
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 68

8.3 CO2 (Dióxido de carbono ou Gás carbônico)

Sua principal forma de atuação é por meio do abafamento. O dióxido de


carbono é um gás inerte (não tem tendência para reagir com nenhum outro gás),
incolor e inodoro. Quando propelido sobre uma reação de combustão, impedirá o
contato do comburente com o combustível, atuando por abafamento.

O gás carbônico não é um agente extintor eficiente em combustíveis de


classe A (sólidos), pois sua atuação por resfriamento é muito precária, quando
comparada à eficiência da água. Em materiais elétricos energizados, porém,
apresenta grande eficácia, por ser um gás que não deixa resíduos e atua
exclusivamente no combate ao incêndio sem provocar danos secundários nos
materiais, pois não precisa ser retirado após as ações de combate ao princípio de
incêndio.

8.4 Espuma

A extinção também pode ser alcançada pela introdução de uma barreira


entre a superfície do combustível e a chama, por exemplo, providenciando um
cobertor de espuma aquosa. A espuma não apenas resfria a superfície do líquido,
dificultando que a radiação de calor vaporize o combustível, como também impede
o contato do comburente com os vapores inflamáveis (FRIEDMAN, 1998).

Antes de iniciar a aplicação de espuma, é importante ter acumulado uma


quantidade suficiente de galões de Líquido Gerador de Espuma (LGE) para a
execução da tarefa. Nada será alcançado apagando apenas uma parte do incêndio
na superfície de um tanque e, em seguida, acabar o suprimento de espuma, pois o
incêndio irá retornar a sua mesma magnitude caso não seja contido por completo
(FRIEDMAN, 1998).

8.5 Compostos halogenados (Halocarbonos)

É sabido que os halogênios, elementos do grupo 17 (VII A) da tabela


periódica, são os elementos mais eletronegativos encontrados na natureza, e que
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 69

a eletronegatividade é a tendência que os átomos possuem de atrair elétrons em


uma reação química. Partindo desses princípios, foram elaborados agentes
extintores com base em compostos halogenados.

O composto halogenado (halocarbono) é um agente que consiste em um


ou mais átomos de carbono ligados a um ou mais átomos de halogênio dos
elementos flúor, cloro, bromo e/ou iodo (NATIONAL FIRE PROTECTION
ASSOCIATION, 2012).

Armazenados em sistemas fixos ou em extintores portáteis, os agentes


extintores de compostos halogenados atuam por resfriamento, retirando calor do
sistema, e também por quebra da reação em cadeia, uma vez que, decompostos
pelo calor, passam a reagir com os radicais livres, impedindo a reação do
combustível com o comburente (FRIEDMAN, 1998; GRIMWOOD e DESMET, 2003;
QUINTIERE, 2006).

O princípio de extinção dos compostos halogenados pode ser


demonstrado no processo simplificado de decomposição do Halon 1211
(bromoclorodifluormetano):

𝑪𝑩𝒓𝑪𝒍𝑭𝟐 + 𝑪𝒂𝒍𝒐𝒓 → 𝑩𝒓 ∙ + ∙ 𝑪𝑪𝒍𝑭𝟐 } 𝒓𝒆𝒔𝒇𝒓𝒊𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐

𝑩𝒓 ∙ + ∙ 𝑯 → 𝑯 − 𝑩𝒓
Quebra da reação em cadeia
∙ 𝑪𝑪𝒍𝑭𝟐 + ∙ 𝑹 → 𝑹 − 𝑪𝑪𝒍𝑭𝟐

Em que •H e •R, representam os radicais e átomos livres (gases


combustíveis) liberados em uma reação de combustão (HAM, JANSSEN
e SWART, 1993).

Os compostos halogenados, porém, passam por uma importante revisão


mundial de seu emprego, devido ao potencial de dano ambiental que representam.
Face aos efeitos nocivos que essas substâncias provocam na camada de ozônio,
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 70

países signatários do Protocolo de Montreal (inclusive o Brasil) se comprometeram


a reduzir gradativamente a utilização destes gases.

Dentre as suas características danosas é observado o índice de potencial


de aquecimento global13 (PAG) que, via de regra, é elevado em agentes extintores
com essa composição.

No entanto, compostos mais modernos tem buscado alcançar a mesma


eficiência no combate ao incêndio com índices bastante reduzidos de PAG, a
exemplo dos compostos de fluorcetonas (FK14), como o NOVECTM 1230.

A tabela 1.11 apresenta exemplos de agentes extintores com compostos


halogenados comparados com o índice do potencial de aquecimento global do
dióxido de carbono.

Tabela 1.11 – Exemplos de compostos halogenados


Nome
Agente Nome químico Fórmula química PAG
Comercial
--- --- Dióxido de carbono CO2 1
Halon
Halon Bromoclorodifluormetano CBrClF2 1750
1211
HFC-
FE 36® Hexafluorpropano CF3CH2CF3 8060
236fa
HFC-
FM 200® Heptafluorpropano CF3CHFCF3 3350
227ea
NOVECTM Perfluoro-2-metil-3-
FK-5-1-12 CF3CF2C(O)CF(CF3)2 <1
1230* pentanona
Fonte: National Fire Protection Association, 2012; Bréon, Collins, et al., 2013

13O PAG, Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential - GWP) foi desenvolvido para
permitir comparações dos impactos do aquecimento global de diferentes gases. Especificamente, é
uma medida da quantidade de energia que as emissões de 1 tonelada de gás irão absorver ao longo
de um determinado período de tempo, em relação às emissões de 1 tonelada de dióxido de carbono
(CO2). Quanto maior o GWP, mais um determinado gás aquece a Terra comparado ao CO2 durante
esse período de tempo. O período de tempo normalmente usado para os GWPs é de 100 anos
(Understanding Global Warming Potentials, 2017).
14 Agentes Halocarbonos: exemplos são hidrofluorocarbonos (HFCs), hidroclorofluorocarbonos

(HCFCs), perfluorocarbonos (PFCs or FCs), fluoroiodocarbonos (FICs), e fluorocetonas (FKs)


(NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2012).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 71

9 CLASSES DE INCÊNDIO

As classes de incêndio apresentam um resumo da teoria da combustão


aplicada ao combate a incêndio. No Brasil são consideradas quatro classes de
incêndio: A, B, C, e D.

9.1 Classe A

A classe de incêndio do tipo A é composta por combustíveis sólidos que


queimam em razão de superfície e profundidade, como madeira, papel, plástico,
etc. Como já explicado anteriormente, por sofrerem uma quebra de sua estrutura
molecular (pirólise), os combustíveis de Classe A deixam resíduos após a
combustão. A melhor forma de combater um incêndio em classe A é por
resfriamento, retirando o calor da reação. O agente extintor ideal para essa classe
é a água. O extintor de incêndio mais adequado para essa tarefa é o extintor de
água pressurizada.

9.2 Classe B

A classe B de incêndio é representada pelos líquidos e/ou gases


combustíveis ou inflamáveis. Sua razão de queima é em superfície, o que os deixa
suscetíveis aos fenômenos de slop-over e boil-over. Por sofrerem vaporização
quando aquecidos (apenas uma mudança de estado físico), todo o combustível
reage no processo de combustão e, portanto, não haverá resíduos após a queima.
A melhor forma de combate a incêndios em líquidos inflamáveis é por abafamento,
ou seja, impedir o contato do comburente com os vapores inflamáveis. Os agentes
extintores mais adequados para essa tarefa são os de pó químico seco (PQS),
espuma, ou dióxido de carbono (CO2).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 72

9.3 Classe C

Os combustíveis da classe C são os materiais e equipamentos


energizados. Via de regra, os equipamentos, quando estão desenergizados,
pertencem à Classe A, como transformadores, computadores, capacitores, dentre
outros. Contudo, o fato de passar por eles uma corrente elétrica faz com que se
tornem da classe C, pois a eletricidade requer cuidados especiais no combate ao
incêndio. Sua razão de queima e liberação de resíduos vai variar de acordo com o
material de origem. Se originalmente pertence à classe A, como um computador,
ele queimará em razão de superfície e profundidade e deixará resíduos. Se
originalmente pertence à classe B como o óleo mineral encontrado no interior dos
transformadores, ele queimará apenas em razão de superfície e não deixará
resíduos.

A melhor forma de combate a incêndio para combustíveis da classe C é


o abafamento e os extintores de incêndio mais adequados para essa tarefa são os
de dióxido de carbono (CO2) ou pó químico seco (PQS). Recomenda-se, porém,
que sejam utilizados extintores de dióxido de carbono (CO2), uma vez que esse gás,
quando propelido, não causará danos secundários para outros equipamentos
elétricos, como faria o extintor de pó químico seco. Também é importante ressaltar
que nos combustíveis de classe C não é recomendado o emprego de água, por ser
boa condutora de eletricidade e, portanto, haver o risco de eletrocussão para quem
estiver envolvido na operação de combate a essa chama.
Em operações de combate a incêndio que envolvam combustíveis da
classe C é fundamental adotar procedimentos preliminares de corte/desligamento
do suprimento de energia elétrica, atentando-se para os materiais que, mesmo após
desligados, por possuírem capacitores, armazenam ainda um pouco de eletricidade.

9.4 Classe D

Os incêndios de classe D são aqueles que ocorrem em metais


pirofóricos. Metais pirofóricos possuem duas características básicas: queimam-se
espontaneamente em contato com o ar e reagem violentamente com a água durante
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 73

um incêndio. Os metais pirofóricos queimam em razão de superfície e deixam


resíduos após a sua combustão.

A melhor forma de combate é por meio do abafamento, e o extintor mais


adequado é o de pó químico especial (PQE) ou pó químico seco (PQS). É
importante ressaltar que os metais pirofóricos, durante a reação de combustão,
quando têm aplicada sobre si a água, irão reagir de forma violenta. A energia
liberada na queima de um metal pirofórico é capaz de induzir a hidrólise da molécula
de água. Uma vez que a molécula de água sofre a quebra, são liberados dois gases:
o hidrogênio, que é um combustível altamente inflamável, e o oxigênio, que é um
comburente. O hidrogênio, altamente instável e reativo, tenta realizar novas
ligações com o oxigênio, resultando em uma reação de efeito visual intensa, similar
a um efeito pirotécnico de fogos de artifício. São exemplos de metais pirofóricos:
Titânio (Ti), Magnésio (Mg), Alumínio (Al), Zircônio (Zr), Sódio (Na), Potássio (K),
Bário (Ba), Cálcio (Ca), Zinco (Zn), e Lítio (Li). Os metais pirofóricos são
encontrados mais comumente em peças de máquinas industriais ou veículos, como
em componentes de rodas e do painel.

A tabela 1.12 apresenta um resumo das classes de incêndio, suas


características e agentes extintores ideais para o combate.

Tabela 1.12 – Quadro resumo das classes de incêndio


AGENTE
CLASSE DE
TIPO CARACTERÍSTICAS EXTINÇÃO EXTINTOR
INCÊNDIO
IDEAL
Sólidos Queimam em razão de
A superfície e profundidade Resfriamento Água
e deixam resíduos
Líquidos Queimam apenas em
B razão de superfície e não Abafamento PQS
deixam resíduos
Materiais Conforme classe de
C Abafamento CO2
energizados origem
Queimam em razão de
D Metais superfície e deixam Abafamento PQE
pirofóricos resíduos
Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 74

9.5 Classe K

Nos Estados Unidos, por um motivo específico da necessidade de tentar


diminuir os acidentes domésticos, foi criada a classe K de combate a incêndio,
representada pelos óleos, graxas, banhas e gorduras, geralmente utilizados em
cozinhas (kitchen) e bastante suscetíveis aos fenômenos como slop-over. Para os
incêndios de classe K, o agente extintor é à base de acetato de potássio, com
prolongadores que aumentam a segurança do operador que for combater o eventual
princípio de incêndio. No Brasil, porém, a classe K ainda não é amplamente
reconhecida, embora já sejam comercializados extintores de incêndio específicos
para classe K (figura 1.47).

Figura 1.47 – Extintor Classe K

Fonte: Kidde Brasil Ltda., 2019

Como os extintores são construídos com o cilindro em aço inoxidável,


são dispensados da pintura vermelha no padrão Munsell 5R 4/14 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 75

10 DESENVOLVIMENTO DO INCÊNDIO

Uma vez apresentada toda a teoria do fogo e do processo de combustão,


abordaremos agora o processamento do incêndio em ambiente confinado ou
estrutural.

Um incêndio em ambiente confinado possui quatro fases distintas: Inicial,


Crescimento, Totalmente Desenvolvido e Decaimento.

Inicial: começa a partir da ignição de algum material combustível no


interior do ambiente. Nessa fase, o foco do princípio de incêndio ainda é pequeno.
Não se verifica aumento significativo de temperatura, existe ainda todo o suprimento
de combustível e comburente a serem consumidos no incêndio que está a se
desenvolver. Pode ser identificada por meio de um pequeno foco isolado, com
chama e uma escassa fumaça sendo produzida.

Crescimento: no início dessa fase ainda há considerável quantidade de


material combustível que, com a elevação da temperatura, liberará grande volume
de gases inflamáveis. Nessa etapa, a concentração de comburente permite a rápida
evolução do incêndio. Com o tempo, porém, após estabelecido o plano neutro15 e a
densa camada de fumaça aquecida, a disponibilidade de comburente passa a ficar
escassa, o que prejudica a reação de combustão e contribui para que mais
combustível seja produzido e permaneça no ambiente em condições de incendiar.
A elevação de temperatura segue uma progressão muito acelerada, podendo atingir
valores próximos a 600ºC em menos de 3 minutos. Em determinado ponto, todos
os combustíveis no interior do cômodo estarão sofrendo pirólise e,
simultaneamente, recebendo calor por radiação da fumaça, teto e paredes
(feedback radiativo). Nesse ponto, a maioria dos incêndios evolui para um
Flashover16, que marca o início da fase seguinte.

15 Plano Neutro: uma linha imaginária que separa a zona de alta pressão tomada por gases quentes
no terço superior do ambiente, da zona de pressão normal, localizada nos terços inferiores do
ambiente.
16 Flashover: um ponto de transição no desenvolvimento de um incêndio no compartimento em que

as superfícies expostas à radiação térmica atingem sua temperatura de ignição quase


simultaneamente e o fogo se espalha rapidamente por todo o espaço, resultando em envolvimento
total da sala ou envolvimento total do compartimento ou da área fechada (NATIONAL FIRE
PROTECTION ASSOCIATION, 2004).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 76

A figura 1.48 apresenta a relação da propagação de calor durante o


desenvolvimento de um incêndio, demonstrando que, em determinado ponto, a
propagação por radiação assume o protagonismo da transferência de calor.

Figura 1.48 – Relação das formas de propagação do calor em incêndio confinado

Fonte: Gorbett e Hopkins, 2007

Totalmente Desenvolvido: nessa fase ocorre o consumo de todo o


combustível disponível. O incêndio atinge seu ápice de produção de energia e a
temperatura pode atingir picos de mais de 1000ºC. O comburente, nesse ponto, já
não é suficiente para manter ativa toda a reação de combustão. Paralelamente, a
disponibilidade de combustível também começa a diminuir, pois as chamas já
consomem todo o material disponível. Tudo que se vê dentro do ambiente são
chamas vivas, turbulentas e volumosas (figura 1.49). Um olhar atento irá perceber
que nos terços inferiores desse cômodo ocorre um constante fluxo oscilante de
fumaça, que é o incêndio tentando absorver mais comburente, como se quisesse
respirar.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 77

Figura 1.49 – Incêndio totalmente desenvolvido

Fonte: ISTOÉ, 2019

Decaimento: Após o consumo da disponibilidade dos materiais, ou


escassez de comburente, o ambiente naturalmente entra em uma fase de liberação
do excesso de energia e natural queda da temperatura. Nesse momento, há ainda
forte presença da combustão incompleta e grande taxa de liberação de monóxido
de carbono que, se não se incendiar devido às baixas temperaturas, representa um
risco a qualquer um que respire esse ar sem um equipamento autônomo de
proteção respiratória (GRIMWOOD, 2008; LAMBERT e DESMET, 2009).

Na tabela 1.13 é apresentado um resumo das características de cada


uma das fases do incêndio.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 78

Tabela 1.13 – Características das fases do incêndio


Totalmente
Inicial Crescimento Decaimento
desenvolvido
Praticamente Quase a
Muito disponível e todo o totalidade já foi
Combustível Abundante em processo de combustível consumida no
pirólise disponível será processo. Atinge
consumido a queima lenta

Volta a ser
É insuficiente
Suficiente para o suficiente para a
para a atual
Comburente Abundante crescimento do manutenção de
demanda do
incêndio uma combustão
incêndio.
incompleta com
os combustíveis

Em poucos A energia térmica


minutos a é trocada com os
temperatura eleva A temperatura ambientes
Calor Imperceptível significativamente. atinge seu externos,
Ocorre radiação de maior pico. diminuindo
calor da fumaça e gradativamente a
do teto em direção temperatura
ao solo

Todo o
ambiente em
Foco isolado Aumenta a
chamas vivas, Permanência de
e início de produção e
Características turbulentas e fumaça rala e
produção de depósito de
no ambiente pulsantes, tóxica, cinzas e
fumaça fumaça,
tentando brasas.
visível estabelecendo o
absorver mais
plano neutro.
comburente do
exterior
Fonte: Friedman, 1998; Grimwood, 2008; Lambert e Desmet, 2009
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 79

A figura 1.50 apresenta a demonstração da curva teórica de


desenvolvimento de um incêndio compartimentado/estrutural, comparada com um
gráfico de uma medida apurada com sensores em um incêndio de proporções reais.

Figura 1.50 – Curva de desenvolvimento do incêndio

(a)

(b)
(a) Curva teórica (b) curva medida com sensores – onde “T” representa a altura do termopar
em relação ao solo.
Fonte: Boreli, 2018; Lambert e Desmet, 2009

O incêndio na fase de crescimento ainda pode se desenvolver de duas


formas distintas em um ambiente confinado: com comburente suficiente (limitado
pelo combustível) ou com deficiência de comburente (limitado pela ventilação).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 80

10.1 Incêndio Ventilado (Incêndio Limitado pelo Combustível – ILC)

Incêndio com o crescimento limitado pelo combustível (incêndio


ventilado) é aquele que consegue suprimento de oxigênio suficiente para sua
manutenção, ou seja, à medida que ele consome o comburente ocorre a reposição
desse oxigênio por meio de aberturas, como portas e janelas na edificação. Esse
incêndio irá durar enquanto houver combustível suficiente para a manutenção da
combustão.

Suponha uma temperatura ambiente inicial de 20ºC e que uma vela


acesa caiu sobre um sofá (figura 1.51). Inicialmente, por condução, a chama dessa
vela aquecerá a espuma e o tecido do sofá, fazendo com que esses materiais
elevem sua temperatura. Uma vez que a temperatura está elevada o suficiente, os
combustíveis sofrerão pirólise, passando a liberar gases combustíveis no ambiente.
Como esses gases estão aquecidos, existe um suprimento energético da chama da
vela e existe no ambiente o oxigênio, haverá então uma reação de combustão nesse
sofá. A reação de combustão, por consequência, passa a propagar essa energia
para as adjacências do sofá, para os demais tecidos e espumas.

Figura 1.51 – Desenvolvimento de um ILC – Fase Inicial

Fonte: Autor
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 81

Nesse processo, o ar que está em volta do sofá passa a ficar aquecido e


tende a ficar mais “leve” (menos denso) e, por convecção, sobe junto com a fumaça
produzida na combustão para os terços superiores do cômodo (figura 1.52). Por
estar em um ambiente considerado confinado (com alguma estrutura que contenha
a fumaça, impedindo-a de sair completamente para o ambiente externo), essa
fumaça fica depositada próxima ao teto e recebe, cada vez mais, aporte de fumaça
e ar quente sendo alocado nos terços superiores.

Figura 1.52 – Desenvolvimento de um ILC – Fase de Crescimento

Fonte: Autor

Essa fumaça, embora não consiga sair totalmente do ambiente,


consegue vagar por todo o limite do teto do cômodo e passa a irradiar calor para
outros combustíveis que ainda não tiveram contato com a chama. Esses outros
combustíveis, como uma mesa de canto, uma cortina, um telefone, um tapete,
passam a sofrer elevação da temperatura devido a essa radiação térmica (feedback
radiativo). Em determinado ponto, eles também sofrerão pirólise e passarão a liberar
gases combustíveis para o ambiente (figura 1.53).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 82

Figura 1.53 – Desenvolvimento de um ILC – Formação do plano neutro e feedback radiativo

Fonte: Autor

Nesse processo, a temperatura do ambiente como um todo vem sendo


elevada, fazendo com que os combustíveis sólidos passem a liberar gases
combustíveis. Como existe um suprimento suficiente de oxigênio, em determinado
momento, todos esses gases entrarão em ignição subitamente, o que caracteriza
um fenômeno conhecido como ignição súbita generalizada ou flashover.

O flashover é caracterizado por ser o ponto em que todos os


combustíveis expostos à radiação térmica atingem a temperatura de ignição quase
simultaneamente e o fogo se espalha rapidamente por todo o cômodo. A partir do
flashover o incêndio entra na fase denominada “Totalmente Desenvolvido” e passa
a consumir todo combustível disponível no processo de queima (figura 1.54).

Figura 1.54 – Desenvolvimento de um ILC – Flashover – Incêndio Totalmente Desenvolvido

Fonte: Autor
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 83

Com o passar do tempo, a disponibilidade de combustível começa a


diminuir. Não há mais sofás, mesas ou cortinas para queima e, por isso, menos gás
combustível é liberado para o ambiente. Assim, a reação entra naturalmente na fase
de Decaimento, que ocorre quando o incêndio não consegue mais produzir tanta
energia pela falta do combustível e, por consequência, terá a queda da sua
temperatura. Em determinado momento não haverá mais combustível algum e a
energia terá se dissipado, momento em que o incêndio poderá ser considerado
extinto.

Flashover: uma fase de transição no desenvolvimento de um incêndio


confinado em que as superfícies expostas à radiação térmica atingem a
temperatura de ignição quase simultaneamente e o fogo se espalha
rapidamente por todo o espaço, resultando em envolvimento total da sala
ou envolvimento total do compartimento ou espaço fechado (NATIONAL
FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2004).

10.2 Incêndio Subventilado (Incêndio Limitado pela Ventilação – ILV)

Incêndio com o crescimento limitado pela ventilação (subventilado) é


aquele em que o consumo do comburente ocorre a uma velocidade maior do que a
da sua reposição. Nesses casos, não há um suprimento adequado de oxigênio
geralmente devido à limitação das aberturas. Os incêndios limitados pela ventilação
irão durar o tempo suficiente para consumirem o comburente disponível. A grande
maioria dos incêndios confinados, mesmo que possuam portas e janelas abertas,
em qualquer uma das fases em que se encontrarem, poderão ficar limitados pela
ventilação.

Suponha agora que, diferente do exemplo anterior, ao invés de ter um


quarto ou uma sala com as portas e janelas abertas, que permitam a entrada do ar,
desta vez, as portas e janelas estarão fechadas. Isso fará com que a taxa de
oxigênio consumida pela reação de combustão seja maior do que a taxa de oxigênio
reposta pelo ambiente externo. Por isso, o incêndio terá características específicas
e outros riscos específicos.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 84

No mesmo cômodo exemplificado anteriormente, no mesmo sofá da sala,


que desta vez tem suas portas e janelas fechadas (figura 1.55), há uma vela
acesa. Essa vela cai sobre o braço do sofá e novamente, por condução, aquece a
espuma e o tecido adjacentes, que sofrem pirólise, liberam gases combustíveis que
entram em contato com o oxigênio disponível, concluindo a reação de combustão.

Figura 1.55 – Desenvolvimento de um ILV – Fase de Crescimento

Fonte: Autor

Porém, à medida que a reação se processa e o incêndio se propaga,


maior fica a demanda por oxigênio, que não é mais reposto com tanta facilidade,
pois as portas e janelas encontram-se fechadas. Em um determinado momento, a
reação precisa de mais oxigênio do que o disponível e, por isso, entra em um estado
de latência. Muito gás combustível ainda é produzido devido às altas temperaturas,
mas não há comburente suficiente para concluir a reação. Esses gases
combustíveis então ficam depositados no ambiente, aguardando as condições
ideais para que possam reagir (figura 1.56). A reação de combustão também se
torna cada vez mais incompleta, e libera para o ambiente mais quantidade de
monóxido de carbono (CO), que é um gás altamente inflamável.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 85

Figura 1.56 – Desenvolvimento de um ILC – Fase de Latência

Fonte: Autor

Suponha, nesse momento, que as portas e janelas não serão abertas.


Assim, naturalmente o incêndio perderá energia e tenderá a se extinguir. Porém,
caso aconteça alguma intervenção que forneça suprimento de ar para esse
incêndio, como a abertura de janelas ou portas, desabamento de paredes ou quebra
de vidros de janelas, o oxigênio entrará novamente nesse ambiente, reagindo com
aquele combustível que aguardava apenas as condições e os requisitos ideais para
tal.

Essa reação pode ser muito violenta e muito rápida. Poderá ocorrer tanto
um Flashover induzido pela ventilação, quanto uma Ignição Explosiva do ambiente,
denominada Backdraft. A figura 1.57 demonstra os momentos diferentes que podem
ocasionar a explosão no ambiente. No tempo 1 a porta é aberta e parte do gás
combustível acumulado sai do ambiente, ao mesmo tempo em que o comburente
adentra o recinto. Quando a mistura de gases atinge uma concentração mínima
explosiva, ocorre um comportamento extremo do fogo, como demonstrado no tempo
2 da figura 1.57.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 86

Figura 1.57 – Desenvolvimento de um ILC – Ignição Explosiva (Backdraft)

Fonte: Autor

A figura 1.58 demonstra a curva teórica de evolução de um incêndio


subventilado e que posteriormente recebe aporte de ar, aumentando subitamente
sua temperatura.

Figura 1.58 – Curva teórica da evolução de um Incêndio Subventilado

Fonte: Madrzykowski, 2013

Backdraft: uma deflagração resultante de uma súbita introdução de ar


em um espaço confinado contendo produtos de uma combustão
incompleta, suficientemente aquecidos e pobres em oxigênio (figura
1.59) (NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2004).
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 87

Figura 1.59 – Backdraft

Fonte: Lambert, 2014

Arnalich (2015) relaciona em sua obra a variação dos parâmetros de


temperatura, taxa de oxigênio, fluxo de calor e visibilidade entre os incêndios
ventilados e subventilados (figura 1.60). O autor ressalta que os incêndios
confinados se iniciam limitados pelo combustível e, em determinado momento,
passam a ser limitados pela ventilação.

Figura 1.60 – Variação de Visibilidade, Calor, Taxa de O2 e Temperatura

Onde T: temperatura; O2: taxa de oxigênio; Q: fluxo de calor


Fonte: Arnalich, 2015
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 88

11 CONCEITOS E DEFINIÇÕES COMPLEMENTARES

Durante o desenvolvimento do incêndio estrutural ou confinado, seja ele


ventilado ou subventilado, é possível perceber algumas ocorrências específicas de
fenômenos que auxiliam no diagnóstico da condição do incêndio.

11.1 Plano neutro

Uma vez que a fumaça aquecida, em conjunto com ar quente, deposita-


se nos terços superiores da edificação, é possível perceber uma linha que separa a
camada de fumaça localizada na porção superior, da camada de ar (em tese
respirável), localizada nas porções inferiores. Essa “linha” estabelece um plano no
ambiente entre as duas camadas e recebe o nome de plano neutro.

A variação de pressão resultante de acordo com a altura é demonstrada


na figura 1.61. Na janela, existe uma determinada altura “neutra” na qual a pressão
interna e externa são iguais. Acima dessa altura, a pressão é maior dentro do
cômodo e haverá um fluxo de saída de fumaça. Abaixo dessa altura, ocorrerá o
oposto: haverá um fluxo interno de entrada do ar externo, alimentando o incêndio.
Essa linha divisória da fumaça e do ar é o plano neutro. Acima dele é possível
perceber a ocorrência de dois fenômenos: as chamas fantasmas (Ghost Flames) e
o Rollover (FRIEDMAN, 1998).

Figura 1.61 – Plano neutro

Fonte: Autor
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 89

11.2 Ghost Flames (chamas fantasmas)

A fumaça no interior de um ambiente incendiado poderá conter diversos


gases combustíveis e radicais livres que ainda não reagiram em um processo de
combustão por falta do comburente. Há determinados pontos em que uma porção
de fumaça consegue encontrar quantidade suficiente de oxigênio e irá se inflamar,
apagando-se logo em seguida (figura 1.62). O efeito visual desse fenômeno é
similar ao de relâmpagos ocorrendo no interior de nuvens carregadas. A esse tipo
de chama no incêndio denominamos Ghost Flames ou chamas fantasmas, que
indicam que a fumaça apresenta condições inflamáveis, e que se houver inserção
de comburente nesse meio, haverá a ignição, podendo resultar em um
comportamento extremo do fogo (Flashover ou Backdraft) (FRIEDMAN, 1998).

11.3 Rollover

O Rollover (ou flameover) é um fenômeno que ocorre quando um teto


impede a formação característica da chama. A chama que inicia no sofá tenta atingir
as maiores alturas possíveis, porém, por haver um teto, essa chama não consegue
ser mais alta. Passa então a percorrer o teto da edificação como se tivesse sido
“dobrada” em uma língua de fogo que “lambe” o teto da edificação, consumindo a
fumaça combustível (figura 1.63). O rollover é um grande indicativo da iminência de
um flashover.

Figura 1.62 – Ghost Flames Figura 1.63 – Rollover

Fonte: Autor Fonte: Autor


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 90

A tabela 1.14 abaixo apresenta as principais características associadas


aos comportamentos extremos do fogo, eventualmente tratados em outras
literaturas como Incêndios de Progresso Rápido (IPR).

Tabela 1.14 – Características dos comportamentos extremos do fogo


IPR FLASHOVER BACKDRAFT
ORIGEM
Incêndios ventilados Incêndios subventilados
(Crescimento)

Alta duração de queima “Instantâneo” – explosivo

CARACTERÍSTICAS
Chamas intensas
Propaga ondas de choque
irradiando calor

Mais chamas do que


Ausência de chamas
fumaça
(combustão mais incompleta)

Todo o ambiente em Fumaça carregada de

IDENTIFICAÇÃO chamas combustível

Vidros de janelas impregnados


Chamas altas no de óleo e abafamento do som
ambiente interno devido à alta
densidade dos gases

Rollover, súbita Ghost flames, fumaça densa e


IMINENTE elevação de “pulsante”, volumosa e
QUANDO temperatura, pirólise marrom, brasas aumentam a
visível em combustíveis intensidade subitamente.
Fonte: Grimwood, 2008; Grimwood e Desmet, 2003; Gorbett e Hopkins, 2007; Lambert, 2014;
Lambert e Desmet, 2009
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 91

11.4 Feedback radiativo (radiação de retorno)

Como já citado, o feedback radiativo é o calor irradiado pela camada


aquecida da fumaça, das paredes e teto a outros combustíveis que não estão em
contato com chama. Esses combustíveis, se estiverem devidamente aquecidos,
sofrerão a autoignição, reagindo simultaneamente e subitamente, originando então
o fenômeno conhecido como ignição súbita generalizada (flashover). A figura 1.64
ilustra a radiação do calor em direção a combustíveis ainda não incendiados, o que
induz sua pirólise e combustão.

Figura 1.64 – Feedback radiativo (radiação de retorno)

Fonte: Gorbett e Hopkins, 2007

11.5 Balanço térmico

Em um ambiente confinado existe um gradiente de temperatura


denominado balanço térmico. Os terços superiores tendem a apresentar
temperaturas muito mais altas do que os terços inferiores, e é possível dividir essas
temperaturas em camadas. Durante a aplicação das técnicas de combate a incêndio
é importante observar o balanço térmico (figura 1.65). Perturbações do balanço
térmico ocorrerão quando o gradiente de temperatura entre o topo e a base do
cômodo for invertido. Quando isso ocorre, a temperatura ao nível do solo, onde os
bombeiros estão localizados, pode se tornar mais quente do que a temperatura do
teto.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 92

A principal forma de perturbação do balanço térmico é a aplicação


inadequada do ataque tridimensional17, sem prever o local onde a água passará
para o estado de vapor (GRIMWOOD, 2008).

Figura 1.65 – Demonstração do balanço térmico

Fonte: Autor

17Pulsos e ataques tridimensionais serão tratados especificamente no capítulo de técnicas de


combate a incêndio.
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS E COMPORTAMENTO DO FOGO 93

REFERÊNCIAS

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Determinação dos pontos de fulgor e de combustão em vaso aberto
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______. ABNT NBR 9695 - Pó para extinção de incêndio. Rio de Janeiro - RJ,
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______. ABNT NBR 12962 - Extintores de incêndio — Inspeção e


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MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 96

WHITE MARTINS. Praxair. Fichas de Informações de Segurança de Produtos


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CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 97
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 98

CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E


RESPIRATÓRIA
Autor – Cap Dilson

SUMÁRIO

1 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) ........................... 100

2 NORMAS REGULAMENTADORAS PARA EPI ...................................... 101

3 USO DO EPI E OS RISCOS DOS AMBIENTES DE INCÊNDIOS


URBANOS .......................................................................................................... 102

3.1 Lesões e efeitos do combate a incêndio sobre os bombeiros ........... 105

3.1.1 Lesão por inalação de fumaça............................................................... 106

3.1.2 Queimaduras ........................................................................................... 109

3.1.3 Choques Elétricos .................................................................................. 109

3.1.4 Estresse físico pelo calor....................................................................... 110

4 DESCRIÇÃO E FUNCIONALIDADES DOS EPI ...................................... 112

4.1 Capacete de combate a incêndio .......................................................... 112

4.2 Balaclava ................................................................................................. 114

4.3 Roupa de aproximação (jaqueta e calça de combate a incêndio) ...... 115

4.4 Luvas de combate a incêndio ................................................................ 118

4.5 Botas de combate a incêndio ................................................................ 118

4.6 Equipamento de Proteção Respiratória (EPR) ..................................... 119

4.6.1 Autonomia do EPR ................................................................................. 125

4.6.2 Inspeção e recebimento do material ..................................................... 128


CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 99

5 EQUIPAGEM E DESEQUIPAGEM DO EPI ............................................. 130

REFERÊNCIAS................................................................................................... 139
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 100

1 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)

A profissão bombeiro militar é reconhecidamente classificada como uma


ocupação de alto grau de risco, conforme publicações constantes em pesquisas de
saúde do trabalho e, eventualmente, nos noticiários espalhados pelo mundo,
quando ocorrem acidentes com bombeiros em operação. Os riscos são os mais
diversos, podendo incluir lesões mecânicas, químicas, elétricas, biológicas e
psicológicas, nos graus mais leves, e até mesmo a morte do combatente em casos
extremos (SOUZA, VELLOSO e OLIVEIRA, 2012).

A partir do contexto citado, o tema abordado neste capítulo apresenta


grande importância para o sucesso de qualquer trabalho operacional desenvolvido
no Corpo de Bombeiros, mais especificamente nas operações de busca,
salvamento e combate a incêndios, temas deste manual.

Historicamente, a atividade de combate a incêndio é que dá origem aos


primeiros Corpos de Bombeiros no mundo. Embora a constituição das edificações,
dos materiais e dos próprios equipamentos de combate a incêndio tenha mudado
bastante ao longo dos anos, muitas características dos incêndios ainda são
semelhantes, como as altas temperaturas dos ambientes, a presença de fumaça, o
risco de colapso estrutural, entre tantos outros que podem ser mencionados.

Nessa perspectiva, os antepassados podiam enfrentar o fogo apenas


defensivamente, de fora da edificação, tentando evitar que o incêndio se alastrasse
para outras áreas indesejadas, sendo bastante comum a perda total das
edificações. Com o avanço do conhecimento e uso de tecnologias, foi possível a
criação de materiais que promovessem a proteção dos bombeiros frente às
ameaças ambientais encontradas no cenário de ocorrências de incêndio. Esses
materiais são denominados Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e
possibilitam redução e controle dos riscos ambientais aos quais os bombeiros são
expostos, viabilizando, assim, que em certos momentos, adentrem o ambiente
sinistrado e realizem ações de busca, salvamento e combate de maneira muito mais
segura e eficiente, se comparado com outros momentos da história. (CORPO DE
BOMBEIRO MILITAR DE SANTA CATARINA, 2018).
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 101

2 NORMAS REGULAMENTADORAS PARA EPI

No Brasil, a Norma Regulamentadora (NR) n° 6 conceitua EPI como “todo


dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à
proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”.
Considerando a finalidade desses equipamentos, faz-se necessário o
estabelecimento de rigorosa normalização das características, propriedades e
níveis de segurança que cada item do EPI deve fornecer ao seu usuário.

Consideradas a finalidade e a importância para a segurança do


trabalhador, o EPI deve obrigatoriamente ter a certificação dos órgãos competentes,
a fim de que seja atestado o cumprimento de todos os requisitos de proteção a que
são propostos. No nosso país, embora não haja regulamentação específica voltada
aos EPIs para atuação dos Corpos de Bombeiros, é necessário o atestado CA
(Certificado de Aprovação), determinado pela citada NR 6 (MINISTÉRIO DO
TRABALHO, 2009).

Como as normas brasileiras não estabelecem especificamente padrões


mínimos de características e propriedades dos materiais e segurança para os EPI
de combate a incêndio, faz-se necessária a complementação com outros
parâmetros normativos internacionais, que garantam aos equipamentos os
requisitos mínimos para que os bombeiros tenham a devida proteção durante sua
atuação em ocorrências de busca, salvamento e combate a incêndio. As normas
internacionais mais comuns utilizadas como referência são a NFPA (National Fire
Protection Association) e a EN (Normas Europeias).

A NFPA é uma associação norte-americana dedicada a produzir normas


específicas para as atividades de bombeiro e demanda níveis de exigência muito
sofisticados aos equipamentos, a exemplo das NFPA 1971 e 1981, que são
referências no que tange à proteção de roupas para combate a incêndio e aos
equipamentos de proteção respiratória. As EN também apresentam padrões de
exigência específicos para EPI de combate a incêndio, e os equipamentos com o
certificado CE (Conformité Européenne) foram aprovados nos testes específicos
estabelecidos em norma. Os equipamentos que preenchem os requisitos das NFPA
e EN, e possuam CE são indicados para aquisição e uso pelos bombeiros.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 102

3 USO DO EPI E OS RISCOS DOS AMBIENTES DE INCÊNDIOS URBANOS

Os incêndios urbanos possuem diversas características e peculiaridades


que podem variar de acordo com alguns fatores, como o desenho e estrutura da
edificação incendiada, tipo e quantidade de carga incêndio presente no local, dentre
outros. Independente dessas variantes, algumas características são comuns à
maioria dos incêndios urbanos, devendo os bombeiros se prepararem para
enfrentar:

a) altas temperaturas, que podem superar os 1.000°C;


b) redução da concentração de oxigênio no ambiente;
c) presença de gases tóxicos, asfixiantes e partículas suspensas na
fumaça;
d) riscos estruturais (colapso, fiações eletrificadas, arestas cortantes,
etc).

Ao explorar um cenário com esse perfil, verifica-se uma enorme


quantidade de ameaças. Não há como tornar o ambiente de atuação um local isento
de riscos. Nessas circunstâncias, deve-se realizar o controle e redução desses
riscos, a ponto de haver segurança ocupacional para os bombeiros. Tal objetivo é
obtido a partir da padronização dos procedimentos operacionais e por meio da
utilização dos EPI projetados para a atuação específica (MINISTÉRIO DO
TRABALHO, 2009).

Nesse contexto, é necessário o engajamento institucional e pessoal


daqueles que atuam nas operações de incêndio, a fim de que seja instituída uma
cultura organizacional para o uso do EPI em qualquer tipo de ocorrência. A
utilização do EPI é obrigatória e imprescindível para a segurança pessoal dos
bombeiros e, consequentemente, para o sucesso da operação.

O EPI para salvamento e combate a incêndio urbano é projetado para


conferir segurança ao usuário contra altas temperaturas, choques mecânicos,
cortes, perfurações e também proteção respiratória contra os gases presentes no
ambiente (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012).
Como já citado, embora a utilização do EPI seja indispensável, e somente a partir
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 103

do seu uso seja possível o trabalho em ambientes incendiados, não se pode falar
em proteção total do combatente contra todos os riscos ambientais. Cabe a cada
bombeiro conhecer os procedimentos operacionais padrão, as suas limitações
pessoais e as especificidades do seu equipamento, a fim de que não haja exposição
desnecessária a riscos evitáveis ou a situações nas quais o EPI não oferecerá a
devida proteção.

Também é importante frisar que nenhuma parte do corpo poderá ficar


exposta ao ambiente e mesmo o uso incorreto ou ausência de alguma das peças
do EPI poderá acarretar graves problemas ao bombeiro, conforme descrito na
tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Lesões ocasionadas pela falta de uso do EPI


A FALTA DO
PODE OCASIONAR
EQUIPAMENTO
Traumatismo de cabeça, face e pescoço – por ação de
Capacete
instrumento cortante ou contundente.
Balaclava Queimadura na cabeça, face, orelhas e pescoço.
Queimaduras nas mãos;
Luvas
Ferimentos por cortes, arranhões ou perfurações.
Queimaduras nos pés;
Botas
Ferimentos por perfurações nos pés e pernas.
Queimaduras graves na pele;
Roupa de Golpe de calor;
Aproximação Ferimentos por ação de instrumentos cortantes ou
perfurantes.
Intoxicação por fumaça;
Equipamento de
Asfixia;
Proteção
Queimaduras de face e das vias aéreas;
Respiratória
Dificuldade de visão.
Fonte: CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 104

Devido à própria composição e atributos exigidos para que cada peça


cumpra bem sua função de promover segurança, o uso do EPI confere algumas
restrições e dificuldades ao seu usuário. Assim, cabe ao bombeiro conhecer e se
adaptar aos equipamentos, a ponto de suprimir essas dificuldades e executar bem
os trabalhos de salvamento e combate. Apesar dessas limitações impostas, é
importante ressaltar que o uso do EPI completo é fundamental para a atuação
segura em todas as ocorrências de incêndio.

O Manual Básico de Combate a Incêndio do Corpo de Bombeiros Militar


do Distrito Federal (2012) identifica como aspectos dificultadores e limitantes do
EPI:

a) a redução significativa do tato, visão e audição;


b) dificuldade e restrição de movimentos;
c) aumento significativo do desgaste físico e;
d) desidratação.

O EPI acaba retendo muito calor do próprio usuário, dificultando o


processo de resfriamento natural do corpo pela transpiração, o que deixa o
bombeiro suscetível a um colapso, quando em trabalhos de longa duração em
ambientes muito quentes. O peso do EPI também é um dificultador do trabalho,
sendo que, completo, pode variar de 22 a 27 Kg (figura 2.1), dependendo da
composição do cilindro, exigindo adaptação corporal do bombeiro para o bom uso
do equipamento (DE CARLI e OLIVEIRA, 2012). A adaptação ao EPI pode ser
obtida a partir do seu uso frequente durante a rotina de trabalho operacional e
através da realização de treinamentos constantes como equipagem/desequipagem,
simulados de atuação entre outros.
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 105

Figura 2.1 – Variação do peso de peças de uniforme e EPI/EPR

Fonte: Autor

3.1 Lesões e efeitos do combate a incêndio sobre os bombeiros

Conhecer as principais lesões e riscos físicos mais comuns enfrentados


pelos bombeiros que trabalham em locais incendiados é de grande valia para que
haja conscientização por parte dos próprios bombeiros da importância de se
dominar os procedimentos operacionais, bem como atentar para a segurança ampla
no cenário, de modo que toda ação sempre vise à prevenção contra acidentes e
práticas inseguras no teatro de operações.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 106

O atendimento pré-hospitalar (APH) propriamente dito não é o foco de


estudo deste manual, portanto as práticas e condutas específicas para cada tipo de
lesão devem ser abordadas conforme os manuais de APH vigentes na Corporação.

3.1.1 Lesão por inalação de fumaça

Contrariando o senso comum, a maior causa de morte em incêndios não


ocorre em virtude de lesão térmica, mas sim pela inalação de fumaça tóxica1. Todo
incêndio, seja em ambiente aberto ou fechado, apresenta uma atmosfera
potencialmente tóxica, considerando a presença de fumaça que carrega consigo
todos os produtos da combustão.

Todo indivíduo exposto a um incêndio em ambiente fechado, deve ser


considerado como um potencial paciente com lesão por inalação. Os sinais e
sintomas que indicam esse tipo de lesão incluem confusão ou agitação,
queimaduras no rosto ou tórax, sobrancelhas e pelos nasais chamuscados, fuligem
no escarro e rouquidão. Cabe salientar que a ausência desses sinais e sintomas
não exclui uma possível lesão por inalação, considerando que alguns desses
indicativos podem se manifestar tardiamente, dias após o evento¹.

Os danos que podem ser causados pela inalação de fumaça podem ser
divididos em três vertentes: lesão térmica, asfixia e lesão pulmonar tardia.

A lesão térmica pode ser identificada a partir da presença de feridas,


bolhas, inchaço ou vermelhidão na face, indicando possíveis lesões nas vias aéreas
superiores. Por ser um mau condutor de calor, a inalação do ar seco dificilmente
causa a lesão térmica das vias aérea abaixo do nível das cordas vocais. Por
conduzir melhor o calor, a inalação de vapor é muito mais danosa, e o risco de
queimadura das vias aéreas é muito grande, podendo afetar até os bronquíolos
distais do indivíduo. Os danos causados aos tecidos respiratórios não podem ser

1 NAEMT – PRE HOSPITAL TRAUMA LIFE SUPPORT, 2017


CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 107

revertidos pela inalação de ar fresco, devendo o tratamento ser intra-hospitalar, com


transporte urgente da vítima2.

O processo de asfixia pode ocorrer pela redução progressiva da


concentração de oxigênio em incêndios confinados, que segundo pesquisas podem
chegar a menos de 15% (SOUZA, JARDIM, et al., 2004), ou pelo aumento da
concentração de monóxido de carbono (CO) e cianeto de hidrogênio (HCN), gases
que são os mais importantes causadores de morte celular por hipóxia. O monóxido
de carbono é capaz de se ligar à hemoglobina com mais afinidade que o oxigênio,
impedindo uma boa oxigenação dos tecidos.

O cianeto de hidrogênio é o produto da queima de plásticos ou


poliuretano. Esse resultado ataca os processos celulares de geração de energia,
impedindo o uso do oxigênio pelas células do corpo, o que pode levar à morte,
mesmo com boas quantidades de oxigênio no sangue². Os sintomas em ambos os
casos podem variar de uma leve dor de cabeça, até coma e morte, passando por
alterações de consciência, tontura, taquicardia, taquipneia, náuseas e sonolência.

O uso de oxímetro de pulso não é recomendado para avaliação desse


tipo de paciente, pois a leitura desses aparelhos ocorre por análise colorimétrica e,
no caso do monóxido de carbono, a leitura será equivocada, pois a análise é
enganada pela coloração similar da carboxiemoglobina. O paciente deve ser
imediatamente retirado do cenário e receber administração de oxigênio².

Diferentemente das lesões citadas, os sintomas da lesão pulmonar


tardia ou lesão pulmonar induzida por toxinas, normalmente não se apresentam por
vários dias, dando a falsa impressão de estabilidade da vítima. A gravidade desse
tipo de lesão está diretamente ligada à composição da fumaça inalada e do tempo
de exposição. Os produtos químicos presentes na atmosfera do incêndio reagem
com a mucosa das vias aéreas e dos pulmões, lesionando os tecidos que os
revestem. As células afetadas morrem após alguns dias e acabam se acumulando
junto com os detritos da fumaça. Como resultado, há o aumento de secreção, risco
de entupimento das vias aéreas e aumento da taxa de pneumonia com risco de
morte (NAEMT - PRE HOSPITAL TRAUMA LIFE SUPPORT, 2017).

2 NAEMT - PRE HOSPITAL TRAUMA LIFE SUPPORT, 2017.


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 108

Além dos riscos e lesões citadas, a fumaça presente nos incêndios pode
transportar diversos outros produtos da combustão, que também merecem ser
mencionados, conforme tabela 2.2 a seguir.

Tabela 2.2 - Gases e seus efeitos sobre o organismo

EFEITOS
GÁS ORIGEM
TOXICOLÓGICOS
Não é tóxico, diminui o
Dióxido de carbono (CO2) Produto comum em combustão
oxigênio respirável

Monóxido de carbono (CO) Produto comum em combustão Veneno asfixiante

Óxidos de nitrogênio (NO2 e Combustão de materiais à base de


Irritante respiratório
NO) nitrato, celulose e têxtil
Nylon (poliamida), poliuretano,
Ácido cianídrico (HCN) Veneno asfixiante
poliacrilonitrila, borracha, seda
Compostos contendo enxofre, óleo Tóxico, com cheiro
Ácido sulfídrico (H2S)
cru, lã repugnante
Cloreto de polivinil, alguns materiais
Ácido clorídrico (HCl) Irritante respiratório
retardantes ao fogo

Ácido bromídrico (HBr) Alguns materiais retardantes ao fogo Irritante respiratório

Ácido fluorídrico (HF) Polímeros que contenham flúor Tóxico e irritante

Dióxido de enxofre (SO2) Materiais que contenham enxofre Irritante muito forte

Isocianatos Polímeros de poliuretanos Irritante respiratório

Acroleína e outros aldeídos Produto comum em combustão Irritante respiratório

Borracha, seda, nylon, normalmente


Amônia (NH3) em baixa concentração em incêndios Irritante
em edifícios
Hidrocarbonetos aromáticos
Produtos comuns na combustão Cancerígeno
(benzeno e seus derivados)
Fonte: Grimwood e Desmet, 2003
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 109

3.1.2 Queimaduras

As queimaduras podem ter origens diversas. Embora etimologicamente


a lesão térmica seja a mais comum, as queimaduras podem ser causadas por
produtos químicos, radiação, eletricidade, dentre outros. As queimaduras
normalmente são classificadas considerando-se a profundidade e o tamanho, com
mensuração a partir de regras percentuais da área afetada (NAEMT - PRE
HOSPITAL TRAUMA LIFE SUPPORT, 2017).

A prevenção contra esse tipo de lesão se dá primordialmente com o uso


correto do EPI, bem como na adoção dos procedimentos previstos neste manual,
direcionados a tática e técnica de salvamento e combate a incêndios.

Para os casos de queimadura em bombeiros ou terceiros, devem ser


adotados os procedimentos de APH, conforme legislação em vigor.

3.1.3 Choques Elétricos

Em locais incendiados, é comum ocorrerem danos à rede elétrica da


edificação, a exemplo da exposição de fios energizados. Fios elétricos partidos
podem funcionar como fonte de nova ignição ou atingir bombeiros que
ocasionalmente entrem em contato com os mesmos.

A exposição à eletricidade pode gerar diversas lesões, variando de


pequenos formigamentos, até a morte, seja direta ou indiretamente, por algum
material condutor que entre em contato com o indivíduo. Sempre que possível, a
rede elétrica da edificação deve ser desligada antes da entrada das guarnições
em cena e nunca se deve tocar em fiações elétricas expostas no local sinistrado
(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2017).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 110

3.1.4 Estresse físico pelo calor

Estudos ergonômicos apontam que a temperatura é fator relevante no


desempenho profissional e impacta de maneira considerável os níveis de fadiga do
trabalhador (SILVA, PASCHOARELLI e ORGS, 2010). O trabalho do bombeiro em
incêndios lida inevitavelmente com condições de alta temperatura, seja pelo uso do
EPI ou também pelo acesso ao local incendiado.

Indivíduos expostos a trabalhos em altas temperaturas tendem a sofrer


redução do seu vigor físico e mental. Consequentemente a resposta motora também
diminui com o passar do tempo de exposição, podendo acarretar o aumento dos
riscos de acidentes, devido à queda nos níveis de atenção e resposta corporal.
Mesmo que não ocorram lesões por inalação da fumaça ou queimaduras, caso haja
exposição prolongada a altas temperaturas, o bombeiro poderá apresentar quadro
de intensa fadiga.

O Comandante das operações deve ficar atento para o tempo de trabalho


dos bombeiros, de modo a promover o revezamento dos combatentes para que não
haja prejuízo ao ritmo dos trabalhos, nem negligência à segurança, que pode ficar
comprometida com o aumento do cansaço físico dos bombeiros.

Os principais tipos de estresse físico oriundos do calor são as cãibras, a


exaustão pelo calor e o golpe de calor3.

A cãibra pode ser definida como uma contração muscular súbita


involuntária, localizada, contínua e com dor. As cãibras podem ocorrer em diversos
momentos, sendo comum surgirem durante ou após a execução de atividades
físicas intensas. Embora incerta, a causa mais aceita para explicar esse fenômeno
é o desequilíbrio eletrolítico temporário no músculo afetado, ocasionando o
espasmo.

Durante o combate a incêndio o bombeiro perde muito líquido através do


suor, além de exercer atividade física vigorosa. Assim, o aparecimento de cãibras
pode ser prevenido com hidratação constante: antes, durante e após os trabalhos;

3 CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012.


CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 111

manutenção de um bom condicionamento físico dos bombeiros e adaptação ao uso


do EPI³.

A exaustão pelo calor é um quadro mais severo e ocorre quando se


perde muito líquido e eletrólitos, normalmente pelo suor excessivo sem reposição
adequada. Pode evoluir para um choque hipovolêmico moderado. Nesse quadro há
alteração no ritmo cardíaco e contração involuntária de alguns músculos. Outros
sintomas que podem surgir são: tontura, náuseas, dor de cabeça, estado febril e
pele fria. A vítima deve ser conduzida com urgência ao hospital, com inalação de
oxigênio, hidratação e retirada do excesso de roupa4.

Mais raro que as demais lesões, o golpe de calor é apresentado na


literatura como uma enfermidade grave que acomete o indivíduo quando o corpo
perde sua capacidade de regulação térmica em decorrência da exposição ao calor.
Os principais sintomas são: pele vermelha, quente e seca; febre acima de 40 °C;
vômitos; convulsões; alterações respiratórias e no pulso; pupilas dilatadas; baixa ou
nenhuma transpiração; além de contrações musculares involuntárias. A exaustão
pelo calor pode evoluir para o golpe de calor, sendo uma emergência grave. A vítima
deve ser conduzida imediatamente ao hospital4.

As lesões citadas nesse capítulo são passíveis de prevenção para os


bombeiros. Em condições de trabalho árduo, os bombeiros podem perder até 1,8
litro de água em apenas uma hora. A substituição dos fluidos corporais perdidos
durante a transpiração é a maneira mais importante para controlar o estresse
térmico e manter os bombeiros em forma, alertas e seguros. A hidratação deve ser
constante de modo a minimizar o risco de lesão por calor, colocando menos pressão
sobre o sistema cardiovascular e evitando quedas de desempenho (GRIMWOOD e
DESMET, 2003).

Outro ponto importante a se observar é que as lesões mencionadas


nesse capítulo podem acometer tanto as vítimas iniciais do incêndio quanto os
próprios bombeiros, sendo importante haver a presença de viatura de resgate em
ocorrências de incêndio, a fim de que seja prestado rápido e adequado atendimento
às vítimas.

4 CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012.


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 112

4 DESCRIÇÃO E FUNCIONALIDADES DOS EPI

As peças do EPI de combate a incêndio possuem características


específicas para conferir proteção adequada para cada tipo de risco. Dividem-se
em: capacete, balaclava, roupa de aproximação, luvas, bota e equipamento de
proteção respiratória (EPR). Um bombeiro completamente equipado pode ser
visualizado na figura 2.2.

Figura 2.2 - Bombeiro Militar completamente equipado

Fonte: Autor

4.1 Capacete de combate a incêndio

Um dos riscos dos incêndios confinados são os choques mecânicos por


quedas de objetos. Considerando isso, a cabeça do bombeiro é tratada como uma
zona de proteção especial. Caso seja atingido na cabeça por algum objeto ou sofra
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 113

um trauma por queda, existe grande probabilidade de lesões incapacitantes graves


e, consequentemente, o insucesso da operação, até mesmo com perda de
combatentes (CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 2006).

A cabeça, por ser o ponto mais alto do corpo, é uma das regiões mais
expostas às altas temperaturas no incêndio. Considerando esses aspectos, o
capacete deve fornecer proteção integral do crânio e da face contra choques
mecânicos, chamas, calor irradiante e eletricidade; além de possuir viseiras e
proteção para a nuca, conforme as especificações da legislação vigente.
Atualmente, os capacetes do CBMMG são parametrizados pelas seguintes normas:

a) casco do capacete: EN 443 e NFPA 1971;


b) viseiras: EN 166, EN 170, EN 171 e EN 14.458.

Os capacetes possuem uma série de ajustes, a fim de que sejam


confortáveis ao usuário, não saiam da cabeça em caso de queda do bombeiro e
permitam o uso concomitante da balaclava e EPR (CORPO DE BOMBEIROS
MILITAR DE SANTA CATARINA, 2018). O capacete deve ser identificado
individualmente, conforme o padrão existente nas normas logísticas da corporação.

São padronizados nas cores branca para oficiais, vermelha para


subtenentes e sargentos e na cor amarela para cabos e soldados (figura 2.3).

Figura 2.3 - Capacete de combate a incêndio

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 114

4.2 Balaclava

A balaclava visa fornecer isolamento térmico à região da cabeça e


pescoço, com atenção especial às áreas cartilaginosas, como as orelhas, que são
muito sensíveis ao calor e têm difícil regeneração em caso de lesões.
Confeccionada a partir de tecido resistente à chama, normalmente à base de
aramida, deve cobrir todo o couro cabeludo, orelhas, pescoço e possuir
preferencialmente abas longas, a fim de não permitir que nenhuma área fique
exposta ao calor (figura 2.4). Essa peça do EPI deve atender aos parâmetros da EN
13.911 (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA, 2018).

Durante e após seu uso, alguns cuidados devem ser tomados para
manutenção e correta higienização da peça (CORPO DE BOMBEIROS DA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006), a saber:

a) deve ser guardada sempre limpa e seca, em local arejado e afastado


de umidade;
b) evitar o contato com objetos cortantes, a fim de que não haja prejuízo
ao tecido;
c) a limpeza deve sempre ser feita com água e sabão neutro.

Figura 2.4 – Balaclava

Fonte: Autor
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 115

4.3 Roupa de aproximação (jaqueta e calça de combate a incêndio)

A roupa de aproximação é composta por jaqueta e calça (figura 2.5). É


projetada com o intuito de fornecer proteção aos membros inferiores, membros
superiores, tronco e pescoço dos bombeiros expostos a incêndios, principalmente
contra o calor, as chamas e lesões abrasivas ou penetrantes (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012).

Figura 2.5 - Jaqueta e calça de combate a incêndio

Fonte: Autor

A proteção contra o calor do ambiente se dá a partir do isolamento


térmico obtido através do ar existente entre as camadas de tecido da roupa de
aproximação. A maneira mais funcional de se obter a melhor proteção é usando
uma configuração multicamadas, na qual, cada uma delas, realiza parte do trabalho.

O isolamento altamente eficiente pode ser obtido através da criação de


espaços de ar muito finos entre as camadas de tecido. É importante que nenhum
desses espaços aéreos individuais exceda 1,8 cm de espessura. Da mesma forma,
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 116

caso o ar entre as camadas seja substituído por água, haverá um risco muito grande
para o usuário, pois se comparado ao ar, a água é um melhor condutor de calor5.

Conhecendo o princípio de funcionamento da roupa de aproximação, fica


explícito que a prática de molhar o EPI antes de adentrar o incêndio é equivocada,
pois elimina o princípio de proteção que o equipamento fornece ao seu usuário. O
bombeiro pode se queimar mesmo com a roupa de aproximação, visto que o
equipamento molhado perde boa parte do seu poder de isolamento térmico ou,
ainda, caso a água retida no EPI venha a se evaporar, poderá causar sérias lesões
ao bombeiro5.

Outra situação muito comum que pode ocasionar queimaduras é a


compressão da roupa de aproximação. Ao se encostar em alguma superfície ou
durante a realização de alguns movimentos, como se ajoelhar por exemplo, o
bombeiro pode deslocar o isolamento de ar dentro da própria roupa e facilitar a
condução do calor com a diminuição da camada de ar entre os tecidos 5. Essa
circunstância pode e deve ser evitada por meio da eliminação dos pontos de
compressão com a criação de bolsões de ar no EPI pelo próprio bombeiro durante
sua atuação.

A roupa de aproximação amplamente utilizada no CBMMG é composta


por três camadas, usualmente conhecidas como barreiras, denominadas de barreira
exterior, barreira de umidade e barreira térmica. As barreiras de umidade e térmica
normalmente são costuradas juntas, constituindo o forro interno do EPI, removível
apenas para inspeção e limpeza, não devendo em qualquer hipótese ser retirado
durante o uso comum do equipamento. Cabe ainda destacar que existem diversos
modelos de roupa de aproximação, podendo ocorrer variações em suas
especificações.

As camadas de proteção apresentam as seguintes características:

a) 1ª Camada (barreira externa): provavelmente é a barreira com


maior exigência de especificações para os tecidos de sua

5 GRIMWOOD e DESMET, 2003.


CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 117

composição, devendo apresentar duas características básicas:


resistência ao contato direto das chamas e proteção das demais
camadas contra cortes ou rasgos. Sua constituição é baseada em
fibras resistentes à chama, com alto desempenho de proteção contra
calor e fogo. Cabe frisar, que a proteção contra chamas não é total,
e que o tecido deve ser retirado da fonte de calor direta para evitar
danos. O tecido também deve ser resistente à tração e abrasão, para
que não haja avarias em contato com arestas, durante arrastes ou
eventual rastejo. (GRIMWOOD e DESMET, 2003);
b) 2ª Camada (barreira de umidade): primordialmente, essa barreira
deve manter as características protetoras do EPI, evitando que a
água externa entre nos espaços de ar entre as camadas da roupa de
aproximação. O sistema seco é mais seguro, leve e eficiente. Um
bom EPI fornece proteção contra água e alguns líquidos perigosos,
mas permite a respiração de dentro para fora, e o isolamento de fora
para dentro. Barreiras altamente respiráveis evitam que uma grande
quantidade de umidade e calor corporal sejam presos pelo próprio
EPI (GRIMWOOD e DESMET, 2003);
c) 3ª Camada (barreira térmica): é a barreira mais interna do EPI, que
entra em contato com o corpo do bombeiro. A proteção térmica do
EPI é fornecida principalmente por essa camada que é
confeccionada a partir da junção de tecidos de fibras antichamas,
unidos de modo a criar espaços de ar que fornecem a proteção
térmica desejada (GRIMWOOD e DESMET, 2003).

A higienização da roupa de aproximação deve ser periódica, de acordo


com o uso. A utilização de alvejantes a base de cloro ou de amaciantes não é
recomendada, devendo ser utilizado sabão neutro na limpeza. Recomenda-se
também que a lavagem do EPI ocorra separadamente, para se evitar possíveis
contaminações de outras peças. A secagem deve ser feita à sombra, e o
armazenamento, preferencialmente, deve ocorrer na Unidade de lotação do militar.

A roupa de aproximação deve atender aos parâmetros especificados


pelas normas NFPA 1971 e EN 469.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 118

4.4 Luvas de combate a incêndio

As luvas de combate a incêndio são equipamentos destinados a proteção


das mãos e pulsos do bombeiro, protegendo-o de ferimentos cortantes, abrasivos,
perfurantes e de queimaduras oriundas do contato direto ou indireto com o calor das
chamas e do ambiente.

As luvas de combate incêndio devem ser compostas por camadas


sobrepostas, revestidas externamente de material resistente à temperatura, cortes
e abrasão. As melhores luvas possuem uma membrana impermeável e respirável
entre o forro interno e externo6.

Figura 2.6 - Luvas de combate a incêndio

Fonte: Autor

As peças, depois do uso, devem ser limpas, secas e guardadas em local


arejado e longe de umidade. Para a limpeza, utilizar somente água e sabão neutro 6.
As luvas para combate a incêndio devem atender aos parâmetros especificados
pela EN 659 e NFPA 1971.

4.5 Botas de combate a incêndio

As botas de combate a incêndio visam proporcionar proteção para os


pés, tornozelos e pernas do bombeiro contra queimaduras, cortes, perfurações,

6 CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006.


CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 119

choques elétricos ou contato com possíveis substâncias químicas que estejam


presentes no ambiente de atuação (figura 2.7).

O equipamento deve possuir palmilha e biqueira de aço, solado e salto


de borracha reforçada com desenho antiderrapante, sem diminuir a capacidade de
movimentação do bombeiro no terreno (NATIONAL FIRE PROTECTION
ASSOCIATION, 2000).

Figura 2.7 - Botas de combate a incêndio

Fonte: Autor

As botas de combate a incêndio devem atender aos parâmetros


especificados pela EN 345 e NFPA 1971.

4.6 Equipamento de Proteção Respiratória (EPR)

Um dos principais fatores de insegurança em operações de incêndio é a


condição do ar atmosférico, que é drasticamente alterado pelos resíduos da fumaça,
redução dos níveis de oxigênio e temperatura do ar. Dessa forma, a utilização de
EPR viabiliza a permanência temporária dos bombeiros nas áreas sinistradas.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 120

O EPR tem por objetivo primário proteger a respiração do bombeiro


quando houver risco de contaminação do ar ou a concentração de oxigênio for
inadequada para permanência no local (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO
DISTRITO FEDERAL, 2012).

O EPR comumente utilizado pelos Corpos de Bombeiros é do tipo


equipamento autônomo de respiração de circuito aberto (figura(2.8), em que o ar
circula na máscara e é expelido para o exterior. Existem diversos tipos de
equipamentos de proteção respiratória: por filtro, por linha de ar e os autônomos (de
circuito aberto e fechado). Os equipamentos autônomos se diferenciam por expelir
o ar consumido (sistema aberto) ou por reciclar o ar sem expeli-lo (sistema
fechado)7.

Figura 2.8 - Exemplo de modelo de EPR

Fonte: Autor

De maneira autônoma ao meio externo, o equipamento fornece ar do


cilindro ao bombeiro utilizando o sistema de pressão positiva, que gera pressão
maior no interior da máscara facial em comparação à pressão atmosférica,

7 CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2012.


CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 121

impedindo a entrada do ar externo no interior da máscara facial. O EPR deve ser


utilizado em todas as ocorrências de incêndio, independente da gravidade da
ocorrência atendida, em ambientes abertos ou fechados, e em todas as fases do
incêndio, inclusive no rescaldo7.

Existem EPR de diversas marcas e modelos, possuindo suas


peculiaridades, mas são compostos basicamente das seguintes peças:

Figura 2.9 - Partes de um EPR

01 Manômetro luminescente 09 Manômetro do cilindro

02 Alarme de baixa pressão tipo apito 10 Cilindro

03 Tirantes de ombro 11 Tirantes abdominais ou Tirantes de cintura

Regulador de respiração ou Válvula de


04 Suporte dorsal ou Backplate 12
demanda
Mangueiras ou Dutos do sistema
05 Engate carona ou saída carona 13
pneumático

06 Conexão tipo CGA 14 Correia de retenção do cilindro

Conjunto redutor de pressão ou


07 15 Registro do cilindro
Válvula de primeiro estágio

08 Batente do cilindro - -

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 122

A capacidade de armazenamento e peso dos cilindros podem variar de


acordo com o material de sua constituição. Os de aço, que normalmente têm volume
interno de aproximadamente 7 L, trabalham com pressão nominal de 200 bar e
pesam aproximadamente 12,5 Kg. O cilindro de “composite” é construído
internamente de alumínio, sem solda e revestido por resina, trabalha com pressão
nominal de até 300 bar e tem peso médio de 5,5 Kg.

Outra opção são os cilindros de fibra de carbono, que também são


construídos internamente de alumínio sem solda, mas revestidos por fibra de
carbono. Esses trabalham com pressão nominal de até 310 bar e tem peso médio
de 4,0 Kg (CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2006).

O suporte dorsal fixa o cilindro de ar nas costas do bombeiro de forma


ergonômica. Os tirantes de ombro são ajustáveis e adaptam o equipamento ao
corpo do bombeiro, enquanto os tirantes abdominais visam equilibrar o peso do
equipamento nas costas e quadris.

O EPR possui manômetro luminescente que mostra a pressão de ar


existente no cilindro. O equipamento conta ainda com alarme sonoro, apito que é
acionado sempre que a pressão no sistema alcança valor inferior a 50 bar.

O ar respirável oriundo do cilindro percorre a mangueira da válvula de


demanda e passa para o interior desta válvula, realizando o fechamento da mesma
através de um diafragma de neoprene. Quando o movimento respiratório é realizado
pelo bombeiro, a pressão interna da máscara diminui, liberando o fluxo de ar para
seu interior. Quando a pressão é estabilizada durante o próprio movimento
respiratório, o diafragma é fechado novamente, criando um fluxo contínuo de
suprimento de ar a partir da pressão positiva do sistema.

A válvula de demanda pode ser dividida pelos seguintes itens,


apresentados na figura 2.10:
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 123

Figura 2.10 - Válvula de demanda

Botão de trava da válvula de


01 03 Botão de bloqueio do fluxo de ar
demanda

02 Engate rápido com O-ring 04 Botão bypass de regulação de fluxo

Fonte: Autor

A máscara facial é composta pelo visor panorâmico, tirantes de cabeça,


borracha seladora, mascarilha e orifício de conexão da válvula de demanda,
conforme figura 2.11, e tem como função proteger o bombeiro contra queimaduras
no rosto e nas vias respiratórias, impedindo o contato com o ar atmosférico. O visor
panorâmico pode ser feito de acrílico, vidro laminado ou policarbonato de alta
resistência. Deve ser bem cuidado para se evitar arranhões no armazenamento ou
durante o uso, fato que pode diminuir a vida útil do equipamento, bem como
prejudicar as condições de visibilidade durante o trabalho no incêndio (CORPO DE
BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 124

Figura 2.11 – Máscara facial panorâmica

01 Visor panorâmico 04 Mascarilha

02 Tirantes de cabeça 05 Orifício de conexão da válvula de demanda

03 Borracha seladora 06 Alça de transporte

Fonte: Autor

A realização correta da higienização do equipamento é um importante


processo para a sua manutenção e preservação da durabilidade. Ao finalizar o uso,
o EPR deve ser limpo e higienizado, especialmente a máscara facial. Devem-se
adotar os seguintes procedimentos:
a) desmontagem da máscara facial, retirada do diafragma, da
membrana das válvulas, a válvula de demanda e quaisquer outras
partes recomendadas no manual de cada fabricante;
b) lavar e enxaguar bem os componentes de borracha com solução
aquosa de detergente neutro com água morna, ou com solução
recomendada pelo fabricante. Usar escova de cerdas macias na
limpeza;
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 125

c) a peça pode ser desinfetada com solução de 50 ppm de cloro. Obtida


a partir da mistura de 1 ml de água sanitária em 1 litro de água;
d) enxaguar bem a peça com água corrente, prevenindo possíveis
dermatites no bombeiro pela ação do desinfetante, além de proteger
a borracha;
e) as partes devem ser secas com uso de pano de algodão e
posteriormente remontadas e testadas.

Embora não seja sua finalidade principal, em casos emergenciais o EPR de


incêndio pode ser empregado em meio líquido, e o bombeiro conseguirá
respirar normalmente até a profundidade aproximada de 5 metros. Cabe
ressaltar que a máscara facial não possibilita o pinçamento do nariz para
realização da manobra de compensação, devendo a mesma ser realizada
através do movimento de mandíbula, engolindo o ar ou com a introdução da
mão dentro da máscara.
É importante que o EPR seja testado previamente em um ambiente controlado,
sob supervisão, para que possa ser usado em situações emergenciais onde
não haja equipe de mergulho no momento. Após o uso, o equipamento deve
ser seco, limpo e testado novamente fora d’água (CORPO DE BOMBEIROS DA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006).

4.6.1 Autonomia do EPR

A autonomia do EPR pode ser estimada matematicamente a partir dos


dados da pressão do ar, do volume do cilindro e da atividade desempenhada pelo
bombeiro, sendo utilizada a seguinte fórmula:

Tempo de Autonomia = Pressão (Bar) x Volume (L)


Consumo (L/min)

Para calcular o consumo, por exemplo, o bombeiro deve se equipar com


EPI e EPR e realizar um trabalho desgastante (correr, carregar uma vítima, subir
escadas, etc) e cronometrar o tempo gasto para acabar com todo o volume de ar
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 126

do cilindro. Então serão obtidos os dados necessários para se calcular o consumo


esperado.

Um cilindro de 7 litros, carregado a 300 bar e sendo executados alguns


trabalhos com um consumo médio de 50 l/min, estimamos que:

Tempo de Autonomia = 300 Bar x 7 L = 42 minutos


50 L/min

A tabela 2.3 expressa aproximadamente os valores médios de consumo


por tipo de atividade desempenhada.

Tabela 2.3 - Nível de esforço e consumo médio

Classificação Volume
Nível de minuto Exemplos de atividades e trabalhos
esforço (L/min)
Média da jornada total, incluindo tempos de parada.
Sentado confortavelmente: trabalho manual leve (escrever, digitar,
desenhar, costurar, escrituração contábil); trabalhos com mãos e
braços (pequenas ferramentas de bancada, inspeção, seleção ou
Trabalho
20 montagem de materiais leves); trabalhos com braços e pernas (dirigir
Leve
veículos em condições normais, acionar chaves ou pedais com os
pés; em pé com furadeira – peças pequenas – ou com retífica manual
– peças pequenas – enrolar bobinas; operar máquinas de baixa
potência).
Média da jornada total, incluindo tempos de parada.
Trabalho contínuo com mãos e braços (bater pregos, desbastar, limar,
lixar); trabalhos com braços e pernas (operação de caminhões fora de
estrada, tratores ou equipamentos de construção); trabalho com
Trabalho
35 braços e tronco (com marteletes pneumáticos, montagem de tratores,
Moderado
rebocar paredes, movimentação intermitente de materiais
moderadamente pesados, capinar, colher frutas ou legumes, puxar ou
empurrar cargas leves ou carrinhos de mão, forjar peças, caminhar a
uma velocidade até 5,5 km/h).
Média da jornada total, incluindo tempos de parada.
Trabalho intenso de braços e tronco (carregando materiais pesados,
trabalho com pá, com marreta, serrar, trabalhos com plaina manual
Trabalho
50 ou formão em madeira dura, com cortadores de grama manual, cavar,
Pesado
puxar ou empurrar carretas e carrinhos de mão pesadamente
carregados, raspar e aparar peças fundidas, assentar blocos de
concreto).
Continua
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 127

Conclusão
Classificação Volume
Nível de minuto Exemplos de atividades e trabalhos
esforço (L/min)
Média da jornada total, incluindo tempos de parada.
Trabalho Atividade muito intensa a um ritmo acelerado (trabalhos Conclusão
com
Muito 65 machado, cavar ou trabalhar intensamente com pá, subir degraus,
Pesado rampas ou escadas, caminhar rapidamente com pequenos passos,
correr, caminhar a uma velocidade superior a 5,5 km/h).
Trabalho contínuo de até 2 horas sem interrupção. Continua
Trabalho de resgate com equipamentos pesados e/ou equipamentos
Trabalho de proteção individual; escape de minas ou túneis; indivíduos em boa
Muito Muito 85 condição física exercendo 50% – 60% de sua capacidade aeróbica
Pesado máxima; caminhar rápido ou correr com equipamentos de proteção
individual e/ou ferramentas ou materiais; caminhar a 5 km/h em rampa
com 10% de elevação.
Trabalho contínuo de até 15min sem interrupção.
Trabalho de combate a incêndio e resgate de alta intensidade;
Trabalho
indivíduos em boas condições físicas e bem treinados exercendo 70%
Extremament
105 – 80% de sua capacidade aeróbica máxima; inspeção em espaços
e
confinados; rastejar e escalar obstáculos; remover
Pesado
escombros/entulhos; carregar mangueira; caminhar a 5 km/h em
rampa com 15% de elevação.
Trabalho contínuo inferior a 5 min sem interrupção.
Trabalho de resgate e combate a incêndio na intensidade máxima;
Trabalho indivíduos em boas condições físicas e bem treinados exercendo 80%
135
Máximo – 90% de sua capacidade máxima de trabalho físico; subir degraus e
escadas em alta velocidade; remover e transportar vítimas; caminhar
a 5 km/h em rampa com 20% de elevação.
Fonte: Torloni, 2016

Os valores citados são tidos como médios e aproximados, sendo


necessário que o bombeiro conheça seu consumo individual de ar antes de atuar
no cenário de ocorrência. Cabe salientar que além do trabalho desempenhado,
diversos outros fatores interferem no nível de consumo de ar do EPR, como o grau
de domínio que o bombeiro tem do equipamento, a sua condição física e o seu
estado emocional durante o uso. Todos esses fatores podem ser minimizados com
bom condicionamento físico do militar e o uso frequente do EPR (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2017).

Durante todo o trabalho, o bombeiro deve sempre estar atento à


quantidade de ar disponível em seu cilindro. Em caso de atuação dentro de uma
edificação incendiada, deve-se estimar com segurança o tempo que será gasto para
saída, a fim de que não fique dentro do ambiente sinistrado sem ar respirável.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 128

4.6.2 Inspeção e recebimento do material

Ao assumir o serviço, o bombeiro deve realizar o recebimento minucioso


dos materiais operacionais. O EPI e EPR estão incluídos nesse rol e de maneira
alguma devem ser negligenciados, pois como já tratado neste capítulo, são as
ferramentas que possibilitam o acesso e trabalho dos bombeiros em locais de
incêndio.

Em relação ao recebimento do EPR, inicialmente deve-se realizar uma


inspeção visual rigorosa do equipamento, a fim de se identificar possíveis
irregularidades. O bombeiro deve observar:

a) presença de avarias e/ou vazamentos nas conexões e mangueiras;


b) funcionamento da válvula de demanda (acoplagem, abertura e
fechamento);
c) avarias e regulagem dos tirantes;
d) se há alguma obstrução do alarme sonoro;
e) o funcionamento do manômetro;
f) avarias no registro, manômetro e corpo do cilindro;
g) danos na máscara facial.

Os cilindros devem ser recebidos com no mínimo 200 bar de pressão


para garantia de boa autonomia para o combatente. Caso seja verificado algum
problema no equipamento, o mesmo deve ser direcionado a Seção de Apoio
Operacional da Unidade, ou equivalente, para anúncio e correção do problema. Os
EPR reservas também devem ser inspecionados periodicamente para que sempre
estejam em boas condições de uso.

Em seguida, devem ser realizados os testes de média e alta pressão, do


alarme sonoro e de vedação da máscara, que serão detalhados no próximo tópico.
Nesse momento, o equipamento já deve ser ajustado para o uso do bombeiro em
ocorrência, pois, em caso de acionamento, não haverá tempo hábil para realização
dos ajustes e verificações citadas, portanto todos esses procedimentos devem ser
adotados logo no recebimento do serviço.
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 129

A não observância desse aspecto pode ocasionar em risco à segurança


do combatente ou incapacidade de atuação na ocorrência, visto que o EPI e EPR
podem não atender à demanda operacional. Toda guarnição de bombeiro já deve
chegar ao local de ocorrência utilizando EPI completo, pronto para atuar. Entretanto,
ressalta-se que o capacete de combate a incêndio não deve ser utilizado
durante o deslocamento em viaturas, para minimizar as eventuais lesões que
possam ser causadas por um efeito chicote em caso de acidente com a viatura.

4.6.2.1 Testes do EPR

Os testes do EPR devem ser realizados diariamente, junto com a


inspeção do EPR no recebimento do serviço.

Teste de vedação de alta e média pressão: esse teste tem por objetivo
verificar a estanqueidade do sistema e, consequentemente, a presença de
vazamentos que possam comprometer seu desempenho:

a) monte todo o EPR;


b) acione o botão de bloqueio do fluxo de ar da válvula de demanda
para que haja o fechamento do fluxo de ar;
c) pressurize o sistema com a abertura do registro do cilindro;
d) verifique a pressão no manômetro;
e) feche a válvula do cilindro;
f) verifique novamente a pressão no manômetro para identificar
vazamentos.

O equipamento é considerado vedado se a pressão não cair mais do que


10 bar no período de 01 minuto.

Teste do alarme sonoro tipo apito: esse teste tem por objetivo verificar
se o alarme sonoro é acionado dentro de uma faixa de segurança (ideal 50 bar,
aceitável entre 45 e 55 bar), de maneira a oportunizar tempo suficiente para
evacuação do local sinistrado:
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 130

a) ainda com o sistema pressurizado pelo teste de média e alta pressão,


aproveite o ar presente no sistema pneumático e segure a válvula de
demanda tampando com a mão a saída de ar no engate rápido;
b) pressione o botão by pass para liberação suave e controlada do fluxo
de ar;
c) quando o manômetro indicar a pressão de 50 bar, o alarme sonoro
deve ser acionado.

Teste de conexão e vedação da máscara: esse teste tem por objetivo


verificar se existe alguma deficiência na vedação da máscara facial no rosto do
bombeiro, para que não haja perda de ar no sistema e redução da autonomia de
trabalho:

a) acople a válvula de demanda na máscara facial até o “click” indicativo


do encaixe, depois exerça leve força na tentativa de desacoplar a
válvula de demanda. Verificado o correto travamento, retire a válvula
de demanda pressionando o botão de destravamento;
b) coloque a máscara facial no rosto ajustando-a para uso;
c) em seguida, conecte a válvula de demanda na máscara facial com o
sistema despressurizado (certifique-se que a acoplagem foi
executada corretamente);
d) inspire, sem tocar na máscara facial. Caso ela venha de encontro ao
rosto na inspiração, a selagem da máscara está satisfatória. Para
finalizar o processo, libere a válvula de demanda pressionando o
botão de destravamento da máscara.

5 EQUIPAGEM E DESEQUIPAGEM DO EPI

O processo de equipagem (quadro 2.1) deve ser automatizado ao


máximo pelo bombeiro. Pois quanto mais metódico for esse processo, menor será
o tempo gasto nele. A sequência que será indicada adiante é a que tem apresentado
melhor desempenho nos cursos de especialização dos últimos anos. Mas por ser
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 131

um processo pessoal, o bombeiro poderá fazer adaptações pontuais de modo que


o resultado final seja igual ao proposto neste manual.

Quadro 2.1 – Preparação do EPI, equipagem e inspeção

1. Monte o EPR, afrouxando


os tirantes de ombro e
abdômen, e deixando o
sistema pressurizado com a
válvula de demanda travada,
mas sem estar acoplada
com a máscara facial.

Preparação do 2. Deixe as botas


EPI e EPR
posicionadas dentro das
pernas da calça.

3. Disponha as demais
peças à sua frente para fácil
visualização.

4. Calce a bota e vista a


calça, ajustando o
Equipagem
suspensório. Feche o botão
e o velcro ou zíper da calça.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 132

5. Vista a balaclava, ajustando


as abas no pescoço e ombros.

6. Vista a capa de incêndio, não


se esquecendo da colocação
do dedal, fechamento do zíper
Equipagem
e velcro.
*A jugular não deve ser
fechada nesse momento.

7. De joelhos, posicione o EPR


à sua frente com o suporte
dorsal virado para cima e a
base do cilindro voltada para
você.
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 133

8. Pela alça rígida do suporte


dorsal, vista o EPR,
introduzindo os braços dentro
dos tirantes de ombro e o EPR
passando sobre a cabeça.

9. Faça os ajustes necessários


nos tirantes de ombro e
abdominais.

10. Coloque a máscara facial,


ajustando os tirantes de
cabeça. O ajuste deve ser feito
na sequência de baixo para
cima, com cuidado,
direcionando-os para trás, pois
alguns tirantes de cabeça são
feitos de borracha e podem se
romper com o uso de força
excessiva.
*A alça de transporte da
máscara deve ser colocada
dentro da capa.
*Atentar para a vedação da
máscara.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 134

11. Ajuste a balaclava na


cabeça, de modo que não haja
sobreposição do visor
panorâmico, nem seja deixada
nenhuma parte da face ou
couro cabeludo sem proteção.
Feche o velcro da jugular.

12. Coloque o capacete,


deixando a proteção de nuca
fora da capa de aproximação,
depois prenda o encaixe do
capacete, devendo o mesmo
ficar sob o queixo.
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 135

13. Calce as luvas, de forma


que não fique exposta
nenhuma parte do pulso.

14. Faça a conexão da válvula


de demanda na máscara facial.
*Esse procedimento deve ser
verificado com muito cuidado,
pois caso a válvula venha a se
desconectar durante o
combate, o bombeiro aspirará
fumaça e ar quente, podendo
se tornar vítima no incêndio.

1. Ao final da equipagem, a
dupla deverá verificar se há
tirantes ou pontas soltas; se a
balaclava está colocada de
Inspeção maneira adequada; se o EPI
está bem posto e fechado, sem
nenhuma área do corpo
exposta; e se a válvula de
demanda está bem conectada.

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 136

Quadro 2.2 – Processo de desequipagem

1. A roupa de aproximação
não deve ser retirada
imediatamente com o
encerramento dos
trabalhos. Deve-se
aguardar a equalização da
temperatura corporal do
bombeiro com o ambiente.

Desequipagem

2.Acione simultaneamente
o botão de destravamento
da válvula de demanda e o
botão de bloqueio do fluxo
de ar. Faça então a
desacoplagem da válvula
de demanda.
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 137

3. Retire o capacete.

4. Retire as luvas.
*As luvas não devem ser
retiradas antes dessa
etapa, pois o EPI ainda
pode estar quente e causar
queimaduras ao bombeiro
no processo de
desequipagem.

5. Retire a balaclava.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 138

6. Afrouxe os tirantes de
cabeça de cima para baixo
e retire a máscara facial.

7. Desconecte o tirante
abdominal, afrouxe os
tirantes de ombro e retire o
EPR.

Fonte: Autor
CAPÍTULO 2 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E RESPIRATÓRIA 139

REFERÊNCIAS

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA. Manual de


capacitação em incêndio estrutural. 1ª. ed. Florianópolis: [s.n.], v. I, 2018.

______. Coletânea de manuais técnicos de Bombeiros: manual de


equipamentos de proteção individual e respiratória. 1ª. ed. São Paulo: [s.n.], v. 17,
2006.

______. Coletânea de manuais técnicos de Bombeiros: manual de operações


de mergulho. 1ª. ed. São Paulo: 2006, v. 27, 2006.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual básico de


combate a incêndio. 2°. ed. Brasília: [s.n.], 2012.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS. Manual Operacional


de Bombeiros: Combate a Incêndio Urbano. Goiânia: [s.n.], 2017.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Manual


básico de Bombeiro Militar. Rio de Janeiro: [s.n.], v. I.

DE CARLI, A. G.; OLIVEIRA, R. S. Efeito do uso dos equipamentos de proteção


individual e respiratória sobre o VO2 máx. dos integrantes do 16º Grupamento
de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Revista Brasileira de
Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo, v. 6, p. 501-505, Set/Out 2012.

GRIMWOOD, P.; DESMET, K. Tactical firefighting: A comprehensive guide to


compartment firefighting & live fire training (CFBT). 1. ed. Manchester - UK: [s.n.], v.
1, 2003.

MINISTÉRIO DO TRABALHO. Norma regulamentadora do trabalho e emprego.


NR 6 - Equipamento de proteção individual. Brasília: [s.n.], 2009.

NAEMT - PRE HOSPITAL TRAUMA LIFE SUPPORT. PHTLS Atendimento Pré-


hospitalar ao Traumatizado. 8ª. ed. [S.l.]: [s.n.], 2017.
NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 1971 - Standard on
Protective Ensemble for Structural Fire Fighting. Quincy - MA: [s.n.], 2000.

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ergonomia no mundo e seus pioneiros [online]. São Paulo: UNESP, 2010.

SOUZA, K. M. O. D.; VELLOSO, M. P.; OLIVEIRA, S. S. A profissão de bombeiro


militar e a análise da atividade para compreensão da relação trabalho-saúde:
revisão da literatura. [S.l.]: SEMINÁRIO DE SAÚDE DO TRABALHADOR, v. 8,
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SOUZA, R. et al. Lesão por inalação de fumaça. Jornal Brasileiro de Pneumologia,


São Paulo, Nov/Dez 2004.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 140

TORLONI, M. (Coord.). Programa de proteção respiratória: recomendações,


seleção e uso de respiradores. 4ª. ed. São Paulo: Fundacentro, 2016.
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 141
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 142

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO

Autor – 2º Sgt Oliveira

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 144

2 MATERIAIS HIDRÁULICOS .................................................................... 144

2.1 Mangueiras .............................................................................................. 145

2.2 Esguicho regulável tipo pistola ............................................................. 147

2.3 Chaves de mangueira ............................................................................. 149

2.4 Martelo de borracha................................................................................ 149

2.5 Divisor de 3 bocas (Derivante) .............................................................. 150

2.6 Coletor ..................................................................................................... 150

2.7 Redução Storz de 2 ½” para 1 ½” ......................................................... 151

2.8 Adaptador rosca fêmea de 1 ½” e 2½” ................................................. 151

2.9 Adaptador rosca macho de 2 ½” ........................................................... 151

2.10 Chave de tampão de hidrante ................................................................ 152

2.11 Chave de registro de hidrante ............................................................... 152

2.12 Nips ou luvas de hidrante ...................................................................... 153

2.13 Mangote ................................................................................................... 153

2.14 Ralo para mangote.................................................................................. 154

2.15 Chave de mangote .................................................................................. 155

2.16 Arruelas de borracha para vedação de mangote ................................. 155

2.17 Aparelho proporcionador de espuma (entrelinhas ou edutor) ........... 155


CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 143

2.18 Esguicho proporcionador de espuma .................................................. 156

2.19 Galões de LGE ........................................................................................ 157

3 FERRAMENTAS MANUAIS ..................................................................... 157

3.1 Croque ..................................................................................................... 157

3.2 Enxada ..................................................................................................... 157

3.3 Pá de bico ................................................................................................ 158

3.4 Gadanho (Forcado de 4 dentes) ............................................................ 158

4 MATERIAIS DE ARROMBAMENTO........................................................ 158

4.1 Alavanca Halligan ................................................................................... 159

4.2 Pé de cabra .............................................................................................. 159

4.3 Malho de 10 kg ........................................................................................ 160

4.4 Ferramenta corta-a-frio (corta-vergalhão) ............................................ 160

5 MATERIAIS ISOLANTES DE ELETRICIDADE ....................................... 160

5.1 Bastão isolado (vara de manobra) e luvas de borracha isolante ....... 161

6 MATERIAIS DE VENTILAÇÃO ................................................................ 161

6.1 Ventilador de combate a incêndio ......................................................... 161

7 MATERIAIS DIVERSOS........................................................................... 162

7.1 Lanterna para combate a incêndio do tipo cotovelo ........................... 162

7.2 Câmera térmica ....................................................................................... 162

7.3 Extintores de incêndio ........................................................................... 163

REFERÊNCIAS................................................................................................... 164
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 144

1 INTRODUÇÃO

No serviço operacional, a viatura específica para atendimento de


ocorrências de incêndio urbano é a Auto Bomba Tanque (ABT). Além do
atendimento aos diversos tipos de incêndio urbano, essa viatura também é acionada
para atender ocorrências de incêndios em veículos, incêndios em vegetação,
explosões, vazamentos de gás, perigo de derrapagem, perigo de eletrocussão,
dentre outras. Com isso, o ABT deverá conter materiais específicos para atender
diversas naturezas de ocorrências.

Equipa-se a viatura com materiais hidráulicos, ferramentas manuais,


materiais de arrombamento, de salvamento, equipamentos de proteção respiratória,
materiais de ventilação forçada, de iluminação, materiais isolantes, sacos com
serragem e equipamentos de primeiros socorros.

As unidades operacionais do CBMMG deverão ter em suas viaturas Auto


Bomba um mapa-carga o mais próximo possível do ideal, de acordo com sua
disponibilidade logística, contendo os itens e suas quantidades para a conferência.

Para a conferência dos materiais, deve-se atentar para o disposto na ITO


01 (Padronização do Serviço Operacional). Os materiais deverão estar dispostos no
chão sobre uma lona ou cobertor, para que a ala que esteja entrando de serviço
possa realizar o devido recebimento, verificando-se, conforme mapa-carga, a
quantidade e a boa condição de uso dos mesmos.

2 MATERIAIS HIDRÁULICOS

Compostos tanto por estruturas flexíveis quanto conectores rígidos, os


materiais hidráulicos são peças essenciais para as operações de combate a
incêndio. Adiante serão apresentados os materiais que são comumente
encontrados nas viaturas do CBMMG.
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 145

2.1 Mangueiras

São materiais responsáveis pelo transporte de água do corpo de bomba


ou hidrante até a ponta de um esguicho (figura 3.1). São compostas por um tubo de
borracha sintética no seu interior, reforçado com fios de poliéster de alta tenacidade
e revestido externamente com PVC. Suas extremidades são compostas por peças
metálicas de junção, chamadas Juntas Storz, que servem para conectar as
mangueiras entre si, ao corpo de bombas do caminhão e aos demais materiais
hidráulicos.

Figura 3.1 – Mangueiras de combate a incêndio

(a) Mangueira de 1 ½” enrolada da forma aduchada e (b) mangueira de 2 ½” enrolada em


espiral

Fonte: Autor

Existem diversos tipos de mangueiras para combate a incêndio.


Atualmente, o CBMMG utiliza mangueiras de diâmetro de 1 ½” (38 mm) e de 2 ½”
(63 mm), ambas com 15 metros de comprimento.

Antes das mangueiras chegarem à corporação, são submetidas a testes


de estanqueidade, pressão e conexão das juntas storz. Nos testes de pressão
devem resistir às seguintes pressões mínimas:

a) pressão de trabalho – 14 kgf/cm²;

b) pressão mínima de prova – 28 kgf/cm²;

c) pressão mínima de ruptura – 42 kgf/cm².


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 146

A mangueira é o principal equipamento para o transporte da água,


elemento que assegura a vida de um bombeiro dentro do incêndio. Porém, o seu
rompimento no interior de um ambiente incendiado pode criar uma situação muito
perigosa. Considerando isso, é necessário tomar alguns cuidados para que as
mangueiras não sejam danificadas:

a) armazenar as mangueiras em local arejado, longe da umidade e


protegido dos raios solares;

b) desenrolar periodicamente mangueiras que estão sendo pouco


usadas, para evitar o ressecamento;

c) não arrastá-las sobre materiais perfurocortantes, superfícies com


altas temperaturas ou produtos corrosivos;

d) não deixar veículos passarem por cima delas, estando pressurizadas


ou não;

e) não deixar as juntas caírem ou sofrerem pancadas, pois podem


amassar e impedir seu acoplamento;

f) lavar as mangueiras com água e sabão neutro, utilizando esponjas


ou escovas com pelos macios.

No CBMMG também é utilizado outro tipo de mangueira, denominado


mangotinho (figura 3.2). Normalmente encontrados nas viaturas de combate a
incêndio, os mangotinhos são mangueiras semirrígidas, com diâmetro de 25mm,
cujo manejo é mais fácil, pois apresenta diâmetro e vazão menores que o
convencional. No entanto, por apresentarem limitações de distância e de regulagem
de jatos, são utilizados para trabalhos mais simples nas operações de combate a
incêndio.

Figura 3.2 – Mangotinho de viatura

Fonte: Autor
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 147

2.2 Esguicho regulável tipo pistola

Os esguichos reguláveis do tipo pistola são conectados às mangueiras.


Possuem entrada de dois diâmetros: de 1 ½” e de 2 ½” e são os responsáveis pela
regulagem e direção do jato (figura 3.3).

O esguicho regulável de 1 ½” possui diversas configurações de


regulagem, possibilitando o seu uso em diferentes tipos de técnicas para as diversas
situações que possam ser encontradas em um incêndio. São elas: a regulagem de
angulação do jato, regulagem de vazão e a manopla de abertura e fechamento do
esguicho.

Figura 3.3 – Esguicho regulável do tipo pistola

(a) Esguicho de 2 ½” (b) Esguicho de 1 ½”

Fonte: Autor

A regulagem de angulação possibilita a saída do jato entre 0º e 120º. Na


ponta do esguicho, existe uma parte chamada “cabeça defletora” que, movida pela
regulagem, vai para frente ou para trás, fazendo com que angulação mude. Quando
se aumenta a angulação, essa cabeça defletora se arrasta para frente, comprimindo
a saída da água, mudando sua angulação e ao mesmo tempo fazendo com que
saia como uma película mais fina.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 148

Ao redor desta cabeça defletora existe o difusor com dentes rotativos.


Quando o ângulo do esguicho começa a ser aberto, em torno de 30°, a água atinge
este difusor que, então, começa a girar, fragmentando-a em pequenas gotículas.
Isso faz com que a superfície de contato da água aumente e, com isso, tenha maior
poder de absorção do calor. A figura 3.4 demonstra partes do esguicho.

Figura 3.4 – Ilustração indicativa das partes do esguicho

Fonte: Autor

A regulagem de vazão determina o volume de água a ser expulso pelo


jato. A unidade de medida utilizada é Galões Por Minuto (GPM) ou Litros Por Minuto
(LPM); e sabe-se que 1 GPM é igual a 3,78 LPM. O esguicho de 1 ½” empregado
no CBMMG tem as opções de 30 GPM (115 LPM), 60 GPM (230 LPM), 95 GPM
(360 LPM) e 125 GPM (475 LPM). É de extrema importância citar que essas vazões
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 149

são obtidas quando a pressão residual na ponta do esguicho é de 100 PSI1. Assim,
aumentando-se a regulagem de vazão no esguicho, a abertura para a passagem de
água existente na cabeça defletora também aumenta, expulsando um volume
maior.

Existe também a opção de regulagem FLUSH, que serve apenas para


realizar a limpeza do esguicho. Ela proporciona a abertura total da saída de água,
fazendo com que sejam liberadas quaisquer impurezas que possam ter ficado
retidas no interior do esguicho. Serve também para enxaguá-lo, quando a espuma
for utilizada como agente extintor. Vale alertar que o modo flush não deve ser
utilizado em combate a incêndio.

A manopla de abertura e fechamento regula tanto a quantidade de água


a ser aplicada, quanto a distância que o jato vai atingir. Pode ser usada com abertura
contínua, ou com abertura e fechamento rápidos, na forma de pulsos.

O esguicho regulável de 2 ½” possui os mesmos três tipos de regulagem


que o esguicho de 1 ½”. Contudo, as regulagens de vazão que são empregadas
atualmente no CBMMG podem ser de 95 GPM (360 LPM), 125 GPM (475 LPM),
150 GPM (570 LPM), 200 GPM (760 LPM), 250 GPM (945 LPM) ou FLUSH.

2.3 Chaves de mangueira

Ferramenta utilizada para acoplar e desacoplar os materiais hidráulicos


que possuem a junta storz de 1 ½” e de 2 ½” (figura 3.5).

2.4 Martelo de borracha

Utilizado para auxiliar quando houver dificuldades no desacoplamento de


juntas storz, batendo-se lateralmente nelas. Pode ser usado também no
desacoplamento das juntas do mangote, batendo-se nos pinos (figura 3.6).

1 Pounds per Square Inch, ou libras por polegada.


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 150

Figura 3.5 – Chave de mangueira Figura 3.6 – Martelo de borracha

Fonte: Autor Fonte: Autor

2.5 Divisor de 3 bocas (Derivante)

Material utilizado no estabelecimento para receber, por meio da boca


admissora, água de uma adutora (mangueira conectada à boca expulsora do corpo
de bomba da viatura ou a um hidrante) e dividi-la para até três linhas de ataque das
suas bocas expulsoras (figura 3.7). Com o seu uso, as linhas de ataque podem
trabalhar de forma independente, pois cada boca expulsora possui alavanca de
registro própria, que abre e fecha a saída de água.

2.6 Coletor

Material utilizado para receber, por meio de sua boca admissora, água
de duas mangueiras de diferentes adutoras, distribuindo-a com maior vazão para a
linha de ataque. Seu uso se dá no estabelecimento em paralelo (figura 3.8).
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 151

Figura 3.7 – Divisor de três bocas Figura 3.8 – Coletor

Fonte: Autor Fonte: Autor

2.7 Redução Storz de 2 ½” para 1 ½”

Peça formada por conexões storz de 2 ½” e de 1 ½” em lados opostos.


Sua função é unir materiais hidráulicos de diâmetros diferentes (figura 3.9).

2.8 Adaptador rosca fêmea de 1 ½” e 2½”

Material utilizado para adaptar a conexão rosca macho com a conexão


storz. Um exemplo de utilização do adaptador de 1 ½” é a conexão de uma
mangueira de 1 ½” em um hidrante interno de uma edificação. E para o adaptador
de 2 ½” é a conexão de uma mangueira de 2 ½” em um hidrante de abastecimento
de água (figura 3.10).

2.9 Adaptador rosca macho de 2 ½”

Material utilizado para adaptar a conexão rosca fêmea com a conexão


storz (figura 3.11).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 152

Figura 3.9 – Redução de 2 ½” para 1 ½” Figura 3.10 – Adaptador de rosca fêmea

(a) Adaptador de 1 ½” (b) Adaptador de


2 ½”
Fonte: Autor Fonte: Autor

Figura 3.11 – Adaptador de rosca macho de 2 ½”

Fonte: Autor

2.10 Chave de tampão de hidrante

Peça que realiza a abertura do tampão de um hidrante de abastecimento


de água (figura 3.12).

2.11 Chave de registro de hidrante

Chave do tipo “T” que se encaixa no registro do hidrante, permitindo sua


abertura e liberação de água para abastecimento do reservatório da viatura (figura
3.13).
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 153

Figura 3.12 – Chave de tampão de hidrante Figura 3.13 – Chave de registro de hidrante

Fonte: Autor Fonte: Autor

2.12 Nips ou luvas de hidrante

Material utilizado para adaptar a chave de registro de hidrante aos


diferentes tamanhos de registros existentes (figura 3.14).

Figura 3.14 – Nips ou luvas de hidrante

Fonte: Autor

2.13 Mangote

São tubos de borracha reforçados com anéis de aço e revestidos


externamente de poliuretano. São usados para realizar a sucção de água de
mananciais para o interior do reservatório de água da viatura. Como a sucção é feita
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 154

por pressão negativa, os anéis de aço são extremamente importantes, pois


impedem que o mangote venha a colabar durante o abastecimento. Destaca-se
ainda que a sua utilização deve ser precedida da instalação do ralo, a fim de se
evitar a entrada de corpos estranhos no interior do corpo de bomba da viatura (figura
3.15).

2.14 Ralo para mangote

Acessório que se acoplada ao mangote para prevenir possíveis danos ou


desgaste excessivo dos componentes da bomba, em decorrência da entrada de
corpos estranhos no seu interior. O ralo possui uma válvula de retenção fazendo
com que o fluxo da água tenha apenas um sentido (figura 3.16).

Figura 3.15 – Mangote Figura 3.16 – Ralo para mangote

(a) Ralo de 5” (b) Ralo de 2 ½”


Fonte: Autor Fonte: Autor
Figura 3.17 – Chave de Mangote

Fonte: Autor
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 155

2.15 Chave de mangote

Material utilizado para acoplar e desacoplar o mangote da boca


admissora do corpo de bomba da viatura, e também para conectar o ralo na outra
extremidade do mangote (figura 3.17).

2.16 Arruelas de borracha para vedação de mangote

São utilizadas nas juntas do mangote para realizar a vedação completa,


evitando-se entradas de ar que venham atrapalhar a sucção (figura 3.18).

Figura 3.18 – Arruelas de borracha para vedação de mangote

Fonte: Autor

2.17 Aparelho proporcionador de espuma (entrelinhas ou edutor)

Material utilizado na linha de espuma. Possui a entrada e saída para


mangueiras de 2 ½”. No interior do aparelho proporcionador de espuma há um
afunilamento que provoca o aumento da velocidade de passagem da água e gera o
efeito de arrasto, o qual induz uma queda de pressão no tubo pescante causando a
sucção do LGE. Para atingir este poder de sucção, a pressão do corpo de bomba
deverá estar acima de 75 PSI ou 5 kgf/cm². Após a sucção, ocorrerá a pré-mistura
(água + LGE). Essa mistura pode ser na proporção de 1%, 3% ou 6% de LGE, que
pode ser regulado no seletor de proporção de LGE (figura 3.19).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 156

2.18 Esguicho proporcionador de espuma

Esguicho utilizado na linha de espuma. Possui junta storz para conectar-


se a uma mangueira de 2 ½”. A pré-mistura, que é produzida no aparelho
proporcionador de espuma, chega ao esguicho proporcionador de espuma com
uma velocidade capaz de produzir um efeito de arrasto, sugando o ar através de
aberturas existentes próximo a junta storz; com isso, ocorre a aeração da pré-
mistura, formando a espuma. Também é imprescindível ressaltar, sob pena de não
ocorrer a produção da espuma, a necessidade de compatibilidade entre o esguicho
e o aparelho proporcionador de espuma (figura 3.20).

Figura 3.19 – Aparelho Figura 3.20 – Esguicho proporcionador de espuma


proporcionador de espuma

Fonte: Autor Fonte: Autor

Figura 3.21 – Galões de LGE

Fonte: Autor
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 157

2.19 Galões de LGE

Armazenam o líquido gerador de espuma para a utilização na linha de


espuma (figura 3.21).

3 FERRAMENTAS MANUAIS

Empregadas principalmente nas ações de rescaldo, as ferramentas


manuais são largamente utilizadas nas operações de combate a incêndio.

3.1 Croque

A ferramenta possui um gancho em sua extremidade que auxilia o


bombeiro na atividade de remoção de obstáculos, criação de acessos ou aberturas
para ventilação natural, entre outras (figura 3.22).

3.2 Enxada

Ferramenta importante a ser empregada durante o rescaldo, quando


houver necessidade de revirar os materiais para extinção completa do incêndio
(figura 3.23).

Figura 3.22 – Croque Figura 3.23 – Enxada

Fonte: Autor Fonte: Autor


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 158

3.3 Pá de bico

Ferramenta utilizada na fase de rescaldo para retirada de material


acumulado, auxiliando na extinção total do incêndio. Em ocorrências de perigo de
derrapagem, também serve para aplicação e remoção de serragem na pista de
rolamento (figura 3.24).

3.4 Gadanho (Forcado de 4 dentes)

Ferramenta utilizada na fase de rescaldo para retirada de materiais


(figura 3.25).

Figura 3.24 – Pá de bico Figura 3.25 – Gadanho

Fonte: Autor Fonte: Autor

4 MATERIAIS DE ARROMBAMENTO

Ferramentas muito versáteis que atendem tanto às demandas de


entradas forçadas como de realização de ancoragens emergenciais para ações de
salvamento.
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 159

4.1 Alavanca Halligan

Ferramenta com múltiplas funções. Essa alavanca possui em uma das


suas extremidades uma ponteira, uma cunha e superfícies achatadas para receber
pancadas, que auxiliam no encaixe da ferramenta no local em que se deseja realizar
o trabalho. Na outra extremidade possui um garfo. Com a ponteira pode-se realizar
perfurações, trincas, remoções de cadeados, etc. Com a cunha pode-se realizar
aberturas forçadas de portas e janelas. E com o garfo pode-se realizar alavancas,
arrombamentos e aberturas. Em incêndios veiculares pode ser utilizada para abrir
a tampa do motor e porta-malas (figura 3.26).

4.2 Pé de cabra

Utilizada para arrombamentos, aberturas e remoção de materiais. Em


uma das extremidades possui uma ponta achatada que pode ser usada para abrir
portas, janelas, caixas, tampa de motor de carro, porta malas, dentre outros. Na
outra extremidade possui a ponta curvada e com dois dentes, muito útil para
remover pregos grandes (figura 3.27).

Figura 3.26 – Alavanca Halligan Figura 3.27 – Pé de cabra

Fonte: Autor Fonte: Autor


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 160

4.3 Malho de 10 kg

Ferramenta de impacto, utilizada para quebra de materiais pesados


como pedras e concretos, auxiliando na criação de acesso para os bombeiros
(figura 3.28).

4.4 Ferramenta corta-a-frio (corta-vergalhão)

Ferramenta do tipo alicate. Utilizada para corte de correntes, cadeados,


grades, vergalhões, entre outros (figura 3.29).

Figura 3.28 – Malho de 10 kg Figura 3.29 – Corta-a-frio

Fonte: Autor Fonte: Autor

5 MATERIAIS ISOLANTES DE ELETRICIDADE

É comum em operações de combate a incêndio as guarnições lidarem


com materiais elétricos energizados, que requerem um aparato específico para lidar
com tais particularidades.
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 161

5.1 Bastão isolado (vara de manobra) e luvas de borracha isolante

A ferramenta é composta por um tubo de fibra de vidro isolante


preenchido com espuma de poliuretano (figura 3.30 a). Usado no afastamento de
fios de média e baixa tensão, possui um gancho na sua extremidade para auxiliar
no manejo. O bastão isolado ou vara de manobra deve ser manuseado com luvas
de borracha isolante (figura 3.30 b) e, quando não estiver em uso, deve sempre
estar guardado dentro de sua capa para evitar ranhuras que podem prejudicar o
isolamento elétrico.

Figura 3.30 – Materiais isolantes

(a) Bastão isolado (b) Luvas de borracha isolante

Fonte: Autor

6 MATERIAIS DE VENTILAÇÃO

Uma das abordagens táticas das operações de combate a incêndio


envolve a interferência forçada e planejada dos fluxos de ar do ambiente sinistrado.
Os equipamentos mais adequados para essa finalidade são os ventiladores de
incêndio.

6.1 Ventilador de combate a incêndio

É um equipamento utilizado para inserir grande quantidade de ar no


interior do ambiente sinistrado, direcionando o fluxo de gases para uma abertura
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 162

predeterminada. Existem vários tipos (figura 3.31), com motores elétricos,


hidráulicos ou movidos a combustão. Vale lembrar que os ventiladores elétricos
dependem de uma extensão para o seu uso, e que os movidos a combustão,
necessitam de óleo de motor e combustível adequados.

Figura 3.31 – Ventiladores de combate a incêndio

Fonte: Svensson, 2020

7 MATERIAIS DIVERSOS

7.1 Lanterna para combate a incêndio do tipo cotovelo

Além de ser leve e resistente a impactos, o equipamento deve possuir


luz direcionada em ângulo reto e capaz de penetrar a fumaça (figura 3.32).

7.2 Câmera térmica

O equipamento capta a radiação térmica e mostra uma imagem com


diferentes cores nos pontos em que haja diferenças de temperatura. Em geral, onde
estiver mais frio terá a cor cinza e onde estiver mais quente, a cor vermelha.

É utilizado para indicar a temperatura de um ambiente incendiado e


fornecer melhores imagens de locais escuros, tomados pela fumaça. Dessa forma,
propicia aos bombeiros a visualização de potenciais vítimas e do ponto exato do
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS BÁSICOS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 163

foco do incêndio (figura 3.33). O instrumento também é capaz de acusar o


aquecimento típico de pré-flashover e backdraft (com gases a mais de 600ºC). Além
disso, pode indicar o fluxo de gases e o posicionamento dos bombeiros,
especialmente os que estiverem fazendo buscas no ambiente.

Figura 3.32 – Lanterna para combate a Figura 3.33 – Câmera Térmica


incêndio

Fonte: Autor Fonte: FLIR, 2020

7.3 Extintores de incêndio

Aparelho portátil de acionamento manual para combate a princípios de


incêndio. Existem extintores de incêndio específicos para cada classe de incêndio,
sendo eles: o extintor de água, de pó químico seco, pó químico especial, dióxido de
carbono e de espuma (figura 3.34).

Figura 3.34 – Extintor de incêndio

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 164

REFERÊNCIAS

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual básico de


combate a incêndio: Técnicas de Combate à Incêndio. 2ª. ed. Brasília: [s.n.], v. I,
2012.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO. Manual técnico:


Teoria de incêndio e técnicas de combate. 1ª. ed. Vitória - ES: [s.n.], v. I, 2014.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS. ITO 01: Padronização


do Serviço Operacional. 2ª. Ed. Atualização de 2015.

FLIR. Veja através da fumaça a partir de todos os ângulos, 2020. Disponivel


em: <https://www.flir.com.br/instruments/firefighting/>. Acesso em: 20 de janeiro de
2020.

SVENSSON, S. Fire Ventilation. Karlstad: DanagårdLiTHO, 2020.


CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 165
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 166

CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE


ESTABELECIMENTOS
Autores – Cap Falcão – 2º Sgt Oliveira – 3º Sgt Vinícius

SUMÁRIO

1 DEFINIÇÕES .................................................................................................. 168

1.1 Ajudante de linha .......................................................................................... 168

1.2 Chefe de linha ............................................................................................... 168

1.3 Condutor e Operador de Viatura (COV) ...................................................... 168

1.4 Comandante de guarnição ........................................................................... 169

1.5 Boca admissora da auto bomba .................................................................. 169

1.6 Boca admissora do divisor ou coletor ........................................................ 169

1.7 Boca expulsora da auto bomba ................................................................... 169

1.8 Boca expulsora do divisor ou coletor ......................................................... 169

1.9 Boca hidrante do caminhão ......................................................................... 170

1.10 Canhão monitor ............................................................................................ 170

1.11 Escorva .......................................................................................................... 170

1.12 Estabelecimento ........................................................................................... 171

1.13 Guarnição ...................................................................................................... 171

1.14 Linha adutora ou Ligação ............................................................................ 171

1.15 Linha de ataque............................................................................................. 171

1.16 Linha de espuma........................................................................................... 172

1.17 Linha de proteção/arrefecimento ................................................................ 172

1.18 Linha direta.................................................................................................... 172

1.19 Mangotinho.................................................................................................... 172


CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 167

2 ACONDICIONAMENTO DE MANGUEIRAS .................................................. 173

2.1 Espiral ............................................................................................................ 173

2.2 Aduchada....................................................................................................... 175

2.3 Zigue-zague ................................................................................................... 176

2.4 Aduchada em “O” ......................................................................................... 178

3 MONTAGEM DOS ESTABELECIMENTOS ................................................... 181

3.1 Estabelecimento padrão .............................................................................. 181

3.2 Estabelecimento da linha de espuma ......................................................... 186

3.3 Estabelecimento em paralelo....................................................................... 188

3.4 Estabelecimento em série ............................................................................ 189

3.5 Estabelecimento vertical .............................................................................. 191

3.6 Estabelecimento aéreo (Auto Plataforma Escada) .................................... 191

4 SISTEMA DE HIDRANTES DA EDIFICAÇÃO ............................................... 192

5 ESCADA ......................................................................................................... 195

6 IÇAMENTO DE MANGUEIRAS ..................................................................... 196

6.1 Içamento da(s) linha(s) de ataque ............................................................... 196

6.2 Içamento da adutora (içamento de ligação) ............................................... 197

7 PROCEDIMENTOS PARA DESARMAR O ESTABELECIMENTO ............... 198

7.1 Abastecimento de água na viatura .............................................................. 199

8 MANUTENÇÃO FINAL .................................................................................. 200

9 PERDA DE CARGA ....................................................................................... 200

9.1 Elevação do sistema ..................................................................................... 202

9.2 Curvas e dobras nas mangueiras................................................................ 203

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 205
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 168

1 DEFINIÇÕES

Para melhor compreensão da terminologia adotada nas operações de


combate a incêndio urbano são apresentados os conceitos mais usuais da atividade.

1.1 Ajudante de linha

É o militar que fornece o apoio imediato ao chefe de linha, devendo


permanecer a uma distância que permita mobilidade a ambos e, ao mesmo tempo,
uma comunicação efetiva entre eles.

1.2 Chefe de linha

É o militar que assume o esguicho na linha de ataque (figura 4.1).

Figura 4.1 – Chefe de linha e ajudante de linha de pé (a) e de joelhos (b)

(a) (b)
Fonte: Autores

1.3 Condutor e Operador de Viatura (COV)

É o militar que conduz o caminhão de combate a incêndio, realiza os


procedimentos de transferência de força para o corpo de bomba e regula a pressão,
conforme demanda apresentada pelas linhas de ataque.
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 169

1.4 Comandante de guarnição

É o militar de maior antiguidade (Posto ou Graduação) entre os militares


que compõem a guarnição. É responsável pela coordenação do trabalho da equipe
no teatro de operações e pela disciplina da GU BM durante todo o serviço operacional.
O termo Chefe de Guarnição também pode ser utilizado para designar o Comandante
de Guarnição (CBMMG, 2015).

1.5 Boca admissora da auto bomba

Tubulação de passagem que permite a entrada de água no corpo de bomba


do caminhão, vinda de um hidrante, manancial ou de outra auto bomba.

1.6 Boca admissora do divisor ou coletor

Tubulação de passagem que permite a entrada de água que vem pela


mangueira até o divisor ou coletor para a linha de ataque.

1.7 Boca expulsora da auto bomba

Tubulação de passagem que permite a saída de água do corpo de bomba


para a mangueira.

1.8 Boca expulsora do divisor ou coletor

Tubulação de passagem que permite distribuir a água vinda da(s) boca(s)


admissora(s) para a linha de ataque. Para efeitos de padronização, denomina-se, da
esquerda para a direita, olhando de frente para as bocas expulsoras, os nomes das
linhas de ataque que serão montadas em cada uma das saídas do divisor, conforme
a figura 4.2.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 170

Figura 4.2 – Denominação padronizada das bocas do divisor

Fonte: Autores

1.9 Boca hidrante do caminhão

Tubulação de passagem que permite a entrada de água diretamente no


tanque no caminhão, vinda de um hidrante, manancial ou de outro corpo de bomba.

1.10 Canhão monitor

Equipamento de combate a incêndio que proporciona maior vazão e


alcance do jato de água. Pode ser fixo na viatura (ou em instalações de combate a
incêndio) ou portátil.

1.11 Escorva

Consiste na retirada do ar contido no interior de uma bomba e tubulação de


água. Usualmente empregada no processo de sucção de uma bomba com uso de
mangote, seja para abastecimento de um tanque ou retirada de água acumulada em
local indevido.
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 171

1.12 Estabelecimento

Arranjo com mangueiras, esguichos e demais materiais hidráulicos que


propicia a aplicação das técnicas de combate a incêndio (figura 4.3).

1.13 Guarnição

Guarnição é a menor unidade tática Bombeiro Militar para atendimento de


ocorrências e tripulação de viaturas, sendo indivisível para o empenho operacional e
possuindo comando próprio (CBMMG, 2015).

1.14 Linha adutora ou Ligação

Trata-se de uma ou mais mangueiras de 2 ½” acopladas entre si, partindo


da bomba/hidrante e terminando na boca admissora do divisor, coletor ou aparelho
proporcionador de espuma (para linhas de espuma).

1.15 Linha de ataque

É constituída por mangueiras que saem da boca expulsora do divisor ou


coletor e conduz a água até o esguicho.

Figura 4.3 – Exemplo de um estabelecimento montado (AB, adutora, divisor, ataque )

Fonte: Autores
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 172

1.16 Linha de espuma

É constituída por mangueiras que saem da boca expulsora do aparelho


proporcionador de espuma (também denominado edutor ou aparelho entrelinhas) e
conduz a água misturada com o líquido gerador de espuma (LGE) até o esguicho
proporcionador de espuma.

1.17 Linha de proteção/arrefecimento

Composta por mangueiras que saem da boca expulsora de um caminhão


ou divisor e tem a finalidade de arrefecer uma outra linha de ataque ou uma equipe
de salvamento durante a realização de alguma atividade com alta exposição térmica.

1.18 Linha direta

É constituída por mangueiras que saem da boca expulsora do caminhão ou


do hidrante e conduz água direto para o esguicho sem passar por um divisor. Em
alguns casos será necessário adaptar a boca expulsora com a Redução Storz de 2 ½”
para 1 ½”. O emprego da linha direta é vedado nas operações de 1º Socorro 1, uma
vez que a equipe deve estar preparada para uma eventual evolução do sinistro e, com
isso, ter condições de ampliar a quantidade de linhas de ataque, aumentar lances de
mangueira, etc.

1.19 Mangotinho

Mangueira semirrígida conectada a um esguicho e acoplada em uma


viatura Auto Bomba ou em instalações fixas de edificações que pode ser empregada
para debelar pequenos incêndios com maior agilidade.

1 Serão considerados como chamados de 1º Socorro aqueles em que, na área de incêndios, as


circunstâncias prenunciem ameaça maior à incolumidade de pessoas e bens (CBMMG, 2015).
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 173

2 ACONDICIONAMENTO DE MANGUEIRAS

As mangueiras acondicionadas nas viaturas, hidrantes internos e seções


de apoio operacional das diversas unidades do CBMMG devem ser enroladas de
forma que permitam o seu pronto emprego. Dentre as várias formas de se enrolar a
mangueira de combate a incêndio, podemos citar: espiral, aduchada, zigue-zague e
aduchamento em “O”.

2.1 Espiral

O método de enrolar a mangueira em espiral serve para acondicionar as


mangueiras novas que ficam armazenadas nas unidades para suprir demandas das
alas operacionais e no teatro de operações, quando uma mangueira é danificada
(figura 4.4).

Figura 4.4 - Mangueira de 2 ½” - reserva na unidade

Fonte: Autores

Quando for detectada uma mangueira danificada durante ocorrência, deve-


se dar um nó na sua extremidade para identificá-la e, quando houver a desmobilização
de materiais, enrolá-la em espiral conforme apresentado na figura 4.5.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 174

Figura 4.5 - Mangueira danificada no teatro de operações

Fonte: Autores

A forma de se enrolar em espiral deve ser executada por um militar a partir


de uma das extremidades da mangueira (figura 4.6). Atentar para a necessidade de
se evitar quedas ou outros choques mecânicos nas juntas de conexão storz, fato que
pode causar deformidades na junção, dificultando o encaixe entre as mangueiras.

Figura 4.6 - Processo de enrolar mangueira em espiral

Fonte: Autores
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 175

2.2 Aduchada

O método de enrolar a mangueira na forma aduchada consiste em garantir


uma efetiva rapidez no momento da montagem do estabelecimento de combate a
incêndio e melhor organização e acondicionamento dentro da viatura.

A mangueira pode ser enrolada por um bombeiro a partir do meio (seio) ou


por dois bombeiros se auxiliando (figura 4.7), e sempre tendo cuidado de não deixar
cair as juntas storz para não danificar as conexões.

Para desenrolar a mangueira, deve-se fixar a junta storz externa (com o pé


preferencialmente) e lançar à frente a mangueira, empunhando a junta storz interna,
de modo que o corpo da mangueira abra totalmente (figura 4.8).

Figura 4.7 - Processo de enrolar mangueira do tipo aduchada

Fonte: Autores
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 176

Figura 4.8 - Lançamento de mangueira do tipo aduchada

Fonte: Autores

2.3 Zigue-zague

O processo de enrolar a mangueira em zigue-zague é utilizado na maioria


dos estabelecimentos montados pelos bombeiros militares, sendo recomendado que
as mangueiras da linha adutora, ou seja, aquelas de 2 ½” ou 64mm, sejam
acondicionadas nesse método na viatura de combate a incêndio, permitindo a
montagem mais ágil do estabelecimento (figura 4.10).

A quantidade de mangueiras utilizada na linha adutora do estabelecimento


de combate poderá sofrer variação de acordo com a necessidade do local da
ocorrência. As mangueiras já devem estar conectadas, sendo desenroladas de acordo
com a técnica e tática escolhida pelo chefe das operações.

O método de enrolar consiste em colocar a mangueira estendida no solo,


aproximar-se de uma das juntas e medir, de joelhos, o tamanho desejado e enrolar a
mangueira dentro do tamanho das alças preestabelecidas, de forma que as juntas
storz das extremidades fiquem em lados opostos (figura 4.9).

O processo de enrolar a mangueira em zigue-zague permite um desenrolar


rápido. Contudo, esse método proporciona maior dificuldade no seu transporte.
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 177

Figura 4.9 – Processo de enrolar mangueira em zigue-zague

Fonte: Autores

Figura 4.10 - Exemplos de acondicionamento da mangueira para montagem rápida

Fonte: Autores

Os exemplos de acondicionamento da mangueira para montagem rápida


devem considerar o projeto original da viatura, o desgaste da mangueira por
ressecamento e a segurança do acessório, considerando a eficácia de sua
amarração em face do risco de queda ou outros imprevistos durante o
deslocamento e a movimentação da viatura.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 178

2.4 Aduchada em “O”

O processo consiste em enrolar a mangueira em um formato semelhante à


letra “O”, com a finalidade de facilitar o transporte e a montagem do estabelecimento
(figura 4.11). Outra vantagem é que a mangueira não precisa ser desenrolada para
ser pressurizada e, por isso, ela ocupa um pequeno espaço no interior de edificações
incendiadas (figura 4.12).

Figura 4.11 – Processo de enrolar mangueira em “O”

Fonte: Autores
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 179

Figura 4.12– Mangueira em “O” pressurizada em patamar de escada

Fonte: Autores

A mangueira aduchada em “O” facilita a montagem do estabelecimento,


porém algumas considerações são importantes:

a) as mangueiras no formato em “O” já devem estar enroladas antes do


deslocamento para a ocorrência para não atrasar a montagem do
estabelecimento;
b) para manter a mangueira enrolada da forma correta devem ser feitas
amarrações nas extremidades e no meio, pois o arranjo pode se
desfazer. Deve-se utilizar materiais que sejam fáceis de arrebentar
para soltar a mangueira de forma rápida no teatro de operações, como
por exemplo: fita zebrada, barbante, tirantes com engate rápido não
mais utilizáveis em pranchas longas, etc (figura 4.13);
c) o esguicho regulável de 1 ½” deve estar pré-conectado à mangueira na
junta storz localizada na parte interna, que também deve ser amarrada;
d) pode-se associar duas mangueiras de 1 ½” no aduchamento em “O” e
utilizar mangueiras em zigue-zague caso seja necessário maior avanço
em relação ao divisor.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 180

Figura 4.13 – Mangueira enrolada em “O” para ser acondicionada na viatura

Fonte: Autores

O transporte da mangueira em “O” é feito nos ombros do militar ou sobre o


equipamento de proteção respiratória, deixando as mãos do bombeiro livres para
realização de outras atividades (figura 4.14).

Figura 4.14 - Transporte da mangueira enrolada em “O”

Fonte: Autores
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 181

3 MONTAGEM DOS ESTABELECIMENTOS

A montagem dos diversos tipos de estabelecimento para o atendimento de


ocorrências inclui critérios que irão desde o acondicionamento das mangueiras nas
viaturas de combate a incêndio, até a forma como as mangueiras foram preparadas
para sua utilização no teatro de operações.

A escolha de qual estabelecimento será montado no teatro de operações


irá depender da avaliação do Comando da Operação, que também irá decidir o melhor
lugar para o posicionamento da viatura e o local ideal para que seja montado o
estabelecimento.

A montagem de um estabelecimento deve ser sempre rápida e correta, e


para isso, deve ser alvo de treinamentos constantes. Para todos os procedimentos de
montagem de qualquer tipo de estabelecimento, todos os bombeiros deverão estar
munidos de chave de mangueira, para eventuais situações em que as juntas storz não
conectarem manualmente.

Os tipos de estabelecimentos empregados pelo CBMMG serão


apresentados a seguir.

3.1 Estabelecimento padrão

O Estabelecimento Padrão é composto pela Linha Adutora, Divisor de duas


ou três bocas e Linha(s) de Ataque. Para que a montagem do estabelecimento seja
feita de forma ágil, cada um dos bombeiros deverá ter em mente qual a sua função,
previamente determinada. Essa divisão de tarefas dependerá da quantidade de
bombeiros presente na guarnição.

Ao estacionar a viatura (que deverá ser calçada), o Condutor e Operador


de Viatura (COV) deverá realizar a transferência de força para o corpo de bombas,
enquanto os bombeiros combatentes preparam os materiais necessários para a
montagem.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 182

O bombeiro que portar a mangueira de 2 ½” deverá conectá-la na boca


expulsora do caminhão indicada pelo COV e conduzi-la até o divisor, posicionado em
local estratégico, conforme determinado pelo chefe da guarnição.

É expressamente vedado o transporte do divisor pelas alavancas de


registro. Essa ação pode danificar o acessório, anulando seu emprego na cena e
prejudicando sobremaneira a resolução da ocorrência e o combate ao incêndio.

O divisor deverá estar com todos os seus registros das bocas expulsoras
fechados, pois, dessa forma, logo após a conexão da linha adutora na admissão do
divisor, e sob anúncio de “Pronto! Linha pressurizar”, o COV já poderá pressurizar a
rede e liberar a água até este, mesmo sem a linha de ataque estar conectada. Para
isso, o bombeiro responsável pelo divisor, deverá segurá-lo, pressionando-o no solo,
de forma que, quando a água chegar até ele, não ocorra a movimentação do divisor.
Caso haja mais de uma mangueira na linha adutora, os bombeiros devem distribuir
adequadamente os materiais a serem carregados até o divisor.

Cabe ao Chefe da Guarnição coordenar as ações, definir a quantidade de


mangueiras, de linhas, posicionamento da viatura, do divisor, enfim, promover o
controle das ações relativas às atividades desempenhadas.

Se a guarnição for composta por quatro ou mais bombeiros, enquanto a


linha adutora estiver sendo montada, outro bombeiro deverá pegar a quantidade de
mangueiras de 1½” e esguichos necessária para a ocorrência, conduzindo-os até o
divisor. Chegando, deverá desenrolar a(s) mangueira(s) para trás ou para os lados do
divisor (a fim de evitar avançar em direção ao fogo sem que as linhas estejam
pressurizadas), e conectar a mangueira à boca expulsora do divisor. Por fim, conectar
o esguicho à linha de ataque. Se a guarnição for reduzida, essa tarefa deverá ser
realizada pelo bombeiro que levou a linha adutora, após a conexão desta ao divisor.

Uma conduta interessante é manter o esguicho pré-conectado às


mangueiras destinadas às linhas, ganhando tempo durante a montagem do
estabelecimento.

Após o posicionamento do ajudante de linha, o chefe da linha deverá


comunicar que está em condições, para que a água seja liberada no divisor, e possa
iniciar o combate. Antes da aplicação dos jatos e abertura do esguicho, deve-se
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 183

verificar a regulagem de angulação e de vazão. Deve-se, ainda, abrir lentamente o


esguicho, a fim de retirar o ar do sistema de mangueiras.

A figura 4.15 demonstra um estabelecimento montado.

Figura 4.15 – Estabelecimento montado com duas mangueiras na adutora e uma linha de ataque com
duas mangueiras

Fonte: Autores

3.1.1.1 Aumentar ou diminuir o lance de mangueiras

É de suma importância dizer que durante o combate às chamas em


operações consideradas pequenas ou de grande vulto, a dinâmica da ocorrência pode
sofrer a interferência de vários fatores, como por exemplo: vento, chuva, número
restrito de militares, a existência de vítimas ou não durante o atendimento, ou seja,
fatores que alteram as primeiras informações recebidas na avaliação inicial efetuada.

Ao se deparar com a necessidade de aumentar o lance de mangueira, o


chefe da linha e o ajudante de linha irão recuar até um local seguro, no qual possam
permanecer sem água. O ajudante de linha deverá retornar até o divisor, fechar o
respectivo registro da linha, e levar uma nova mangueira de volta até o chefe de linha,
para conexão e extensão da linha de ataque. Em seguida, o militar mais próximo ao
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 184

divisor (podendo ser o COV em casos de guarnições reduzidas), irá realizar a abertura
do divisor, permitindo o avanço da linha de ataque (figura 4.16).

Figura 4.16 – Aumentar lance de mangueira

Fonte: Autores
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 185

Caso a necessidade seja de diminuir o lance de mangueiras, o chefe e o


ajudante de linha recuam até o início da mangueira que desejam retirar da linha de
ataque, desde que esse local seja fora do incêndio e seguro, sinalizam e comunicam
para quem estiver mais próximo do divisor (poderá ser o próprio ajudante,
dependendo do caso) para que realize o fechamento do registro do divisor. Em
seguida, o chefe e o ajudante desconectam o esguicho da mangueira que desejam
retirar e desconectam essa mangueira da linha de ataque. Por fim, conectam o
esguicho na junta storz da nova extremidade da linha de ataque, sinalizando estarem
em condições, para que o bombeiro no divisor possa liberar novamente a água.
Ressalta-se que procedimento análogo pode ser realizado para a substituição de
mangueira danificada durante o combate (figuras 4.17 e 4.18).

Figura 4.17 - Diminuir lance de mangueira – passo 1 e 2

Fonte: Autores
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 186

Figura 4.18 – Diminuir lance de mangueira – passo 3

Fonte: Autores

3.2 Estabelecimento da linha de espuma

Em ocorrências nas quais seja necessário o combate com o agente extintor


espuma, o estabelecimento será montado com linha adutora, aparelho proporcionador
de espuma, galão de LGE, linha de espuma e esguicho proporcionador de espuma
(figura 4.19).

Ao estacionar a viatura em local seguro e estrategicamente privilegiado


conforme o terreno, promovendo sempre o calçamento diagonalmente oposto dos
pneus, o COV deverá realizar a transferência de força para o corpo de bombas,
enquanto os bombeiros combatentes pegam os materiais necessários para a
montagem.

Um dos bombeiros deverá pegar a mangueira adequada para a adutora do


estabelecimento de espuma, que poderá ser de 2½ ou 1½”, conforme diâmetro da
boca admissora do proporcionador de espuma.

A guarnição deve ter em mente que a escolha do diâmetro bem como da


quantidade de mangueiras deve estar baseada nas considerações quanto à perda de
carga devido à distância, assunto discorrido mais adiante no subtítulo 9 (PERDA DE
CARGA). Quanto maior for a quantidade de mangueiras utilizadas nesse
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 187

estabelecimento, maior será a perda de carga, e maior será a possibilidade de não


haver arraste do LGE para formação de espuma.

Figura 4.19 – Estabelecimento de Linha de Espuma

Fonte: Autores

Conectar a linha de mangueira(s) na boca expulsora do caminhão e


conduzi-la até o local de posicionamento do aparelho proporcionador de espuma.
Enquanto isso, outro bombeiro deverá pegar o aparelho proporcionador de espuma e
o(s) galão(es) de LGE necessários e posicioná-los no local mais adequado. Logo
após, deverá conectar a linha adutora na boca admissora do aparelho proporcionador
de espuma.

Se a guarnição for composta por 4 ou mais bombeiros, no momento em


que a linha adutora estiver sendo montada, o 4º bombeiro, pegará a mangueira para
compor a linha de espuma, bem como os galões de LGE conforme estimativa inicial
de uso e o esguicho proporcionador de espuma, e os conduzirá até o aparelho
proporcionador.

Se a guarnição for reduzida, o bombeiro que conduziu a linha adutora, após


a conexão desta, retorna ao caminhão para providenciar o transporte desses itens.
Logo após, conectará uma das juntas storz da linha de espuma na boca expulsora do
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 188

aparelho proporcionador de espuma e a outra junta storz no esguicho proporcionador


de espuma.

Quando o sistema estiver pronto, o chefe de linha deverá sinalizar para que
o COV libere a água e aumente a pressão do corpo de bombas, até atingir a pressão
de trabalho do aparelho proporcionador de espuma (considerando a perda de carga
da adutora até ele), momento em que se comunicará com o bombeiro que estiver
posicionado no aparelho proporcionador de espuma para introduzir o tubo pescante
no galão de LGE, dando condições para início do combate.

Nos Estabelecimentos de Linha de Espuma é importante considerar que a


energia liberada pelos incêndios em líquidos inflamáveis é muito alta, e há esguichos
que não conseguem lançar a espuma a grandes distâncias. Dessa maneira, para se
evitar o risco de exposição térmica da linha de espuma, recomenda-se a montagem
de uma linha de proteção/arrefecimento com uma mangueira de 1 ½” e jato neblinado
amplo para segurança dos bombeiros envolvidos.

3.3 Estabelecimento em paralelo

Em determinadas circunstâncias pode ser necessário aumentar a vazão no


sistema, seja pela necessidade de aumentar o volume do fluido empregado na cena
ou para compensar a baixa de pressão ocasionada por problemas na bomba de
incêndio. Nessas situações pode ser utilizado o recurso denominado Estabelecimento
em Paralelo (figura 4.20).

O Estabelecimento em Paralelo é constituído por duas linhas adutoras,


saindo de duas fontes de água, em direção a um coletor ou canhão monitor. Para a
montagem desse estabelecimento, serão necessárias duas guarnições de Auto
Bomba.

Ao estacionar as viaturas, os dois COV’s, deverão realizar a transferência


de força dos respectivos corpos de bomba; enquanto isso, os combatentes das duas
guarnições pegam as mangueiras de 2 ½” das linhas adutoras, conectam nas bocas
expulsoras dos seus respectivos caminhões e, logo após, conduzem ao local onde
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 189

estiver posicionado o coletor ou canhão monitor (que foi levado por outro bombeiro),
e então, as conectam nas bocas admissoras deste.

Os demais bombeiros deverão pegar a(s) mangueira(s) de 2 ½” da linha de


ataque e o esguicho de 2 ½” ou o esguicho canhão e posicioná-los no local adequado.
Para montagem de uma linha de ataque, devem conectar uma das juntas storz da
mangueira na boca expulsora do coletor e a outra no esguicho. Quando todo
estabelecimento estiver pronto, devem sinalizar e comunicar aos dois COV’s para que
pressurizem a rede.

A utilização do Estabelecimento em Paralelo deve considerar aporte extra


de água, tendo em vista o alto consumo produzido por esta técnica.

Figura 4.20 – Estabelecimento em Paralelo

Fonte: Autores

3.4 Estabelecimento em série

Em decorrência da altura ou da distância a ser vencida pela linha de ataque,


ou a necessidade de manter o chefe e ajudante de linha a uma distância maior do
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 190

foco, ou mesmo pela dificuldade de aproximação dos combatentes do incêndio, há


ocasiões em que é necessário aumentar a pressão exercida pela bomba. Nesses
casos, pode-se fazer o emprego do Estabelecimento em Série (figura 4.21).

O Estabelecimento em Série consiste na conexão de uma linha adutora na


viatura 1, cuja boca expulsora, por meio de uma mangueira, alimenta a boca
admissora da viatura 2, a fim de aumentarem a pressão residual na ponta da linha.
Da viatura 2 deverá sair uma nova linha adutora em direção a um coletor, canhão ou
divisor. Para a montagem desse estabelecimento, serão necessárias pelo menos duas
guarnições de Auto Bomba.

Ao estacionar as viaturas, o dois COV’s deverão realizar a transferência de


força para os respectivos corpos de bomba, enquanto os combatentes das duas
guarnições pegam as mangueiras de 2 ½” das linhas adutoras e as conectam nas
bocas expulsoras dos seus respectivos caminhões. Em seguida, devem conectar a
respectiva adutora à boca admissora da viatura 2 e ao coletor, canhão ou divisor,
dependendo da estratégia adotada pelo comandante da operação. Por fim, deverão
ser conectadas as linhas de ataque (de 1 ½” ou 2 ½”) com os respectivos esguichos.
O chefe da linha deverá sinalizar aos COV’s, que deverão pressurizar a rede para o
combate.

Figura 4.21 – Estabelecimento em série

Fonte: Autores
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 191

3.5 Estabelecimento vertical

O Estabelecimento Vertical pode ser realizado de várias formas: utilizando


o sistema de hidrantes da edificação, utilizando uma escada, fazendo o içamento de
mangueiras pela fachada da edificação ou utilizando a Auto Plataforma Escada (APE).

Deve-se evitar a utilização das escadas enclausuradas de saídas de


emergência para a passagem das linhas de ataque, tendo em vista que a posição
semiaberta das portas eliminará o efeito de proteção característico desse elemento
de segurança, impedindo que haja evacuação de vítimas ou de bombeiros por ali.

3.6 Estabelecimento aéreo (Auto Plataforma Escada)

Na montagem do Estabelecimento Aéreo, nos incêndios em que a Auto


Plataforma Escada (APE) estiver presente, a adutora deverá partir da boca expulsora
de um caminhão em direção à boca admissora do APE, que conduzirá a água por um
sistema próprio até o esguicho posicionado na ponta da escada. A figura 4.22
demonstra o emprego de um estabelecimento aéreo no CBMMG.

Figura 4.22 – Estabelecimento Aéreo com APE

Fonte: Acervo CBMMG


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 192

4 SISTEMA DE HIDRANTES DA EDIFICAÇÃO

Em ocorrências de incêndio em edificações altas, os bombeiros podem


utilizar o sistema de hidrantes do prédio, caso exista. O esquema básico do sistema
de água destinada ao combate a incêndio em edifícios é dado conforme figura 4.23 a
seguir:

Figura 4.23 – Esquema básico do sistema de combate a incêndio em edifícios

Fonte: ew7, 2020

Ao chegar ao local, o COV deverá estacionar a viatura próximo ao hidrante


de recalque da edificação e fazer a transferência de força para o corpo de bombas.

Um dos bombeiros combatentes deverá pegar uma mangueira de 2 ½”,


para conectar a linha adutora na admissão do hidrante de recalque (caso não seja
encontrado o hidrante de recalque, utilizar o hidrante interno mais acessível –
normalmente o do térreo), e logo após, munido de uma chave de registro de hidrante,
abrir o registro.

Enquanto isso, os outros bombeiros deverão pegar, a mangueira de 2 ½”,


divisor e adaptador de rosca (macho e fêmea), mangueira de 1 ½” aduchada em “O”
com o esguicho para a linha de ataque, além de chaves de mangueira, redutor,
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 193

material para arrombamento, lanterna e material para salvamento. Munidos desses


materiais, deverão subir no prédio até o andar determinado e conectar a mangueira
de 1 ½” no hidrante de parede. Quando a linha de ataque estiver em condições,
deverão, através de um rádio, comunicar ao COV para pressurizar a rede. A figura
4.24 apresenta os seguintes materiais: Materiais: mangueira de 2 ½”, divisor de 3
bocas, chave de mangueira, alavanca Halligan, redução de 2½” para ½”, adaptador
de rosca, mangueira de 1 ½” aduchada em “O” com esguicho.

Figura 4.24 – Materiais para incêndios verticais

Fonte: Autores

Figura 4.25 – Estabelecimento utilizando hidrante da edificação

Fonte: Autores
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 194

É importante ressaltar os cuidados a serem tomados durante o recalque da


rede interna de uma edificação:

a) deve-se lembrar que a tubulação da rede interna da edificação poderá


ser seca ou alagada (podendo, a alagada, estar seca se tiver alguma
alteração, falha ou negligência). Isso significa que parte da água do
caminhão será usada só para encher a tubulação, inviabilizando a
estratégia se a viatura utilizada for de pequeno reservatório;
b) hidrantes internos têm saída de 2 ½”, com adaptadores para as
mangueiras de 1 ½” que são seus acessórios. Considerando-se isto,
pode-se remover tal adaptação e utilizar mangueiras de 2 ½” no
estabelecimento que foi montado internamente, caso seja interessante
para a estratégia da equipe;
c) pode ser necessária a inspeção interna na edificação para casos de
perda de pressão ou outras alterações que indiquem a existência de
hidrantes internos abertos;
d) outra alteração que pode acarretar em perda de pressão da bomba é
ausência da válvula de retenção ou ineficácia da mesma (vide figura
4.23), que fica na base da caixa d’água. Essa alteração faz com que a
água entre para a caixa, em vez de pressurizar o sistema.

Para fins de segurança, o estabelecimento poderá ser montado um andar


abaixo do pavimento incendiado, conforme o caso.

Elevadores comuns de edificações incendiadas não deverão ser acessados


para fins de transporte ou locomoção. Caso o comando da operação entenda
ser necessário e possível o emprego de qualquer elevador para qualquer
finalidade, é essencial que haja uma análise adequada dos riscos envolvidos
no emprego desse elemento.
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 195

5 ESCADA

As escadas de bombeiro podem ser utilizadas para acessar o local de


combate em incêndios verticais. Para empregá-las corretamente, devem ser
observados os seguintes aspectos:

a) a escada deve ser retirada e conduzida ao local designado de forma


correta e segura por, no mínimo, dois bombeiros;
b) ainda o chão, deve ser montada uma linha de vida com uma corda,
para garantir a segurança do bombeiro quando estiver sobre ela;
c) as pontas das sapatas da escada deverão estar voltadas para a
edificação no momento de se arvorá-la;
d) um bombeiro deve pisar sobre a sapata da escada, enquanto o outro a
arvora até a altura desejada;
e) por fim, deve encostá-la na parede e proceder a amarração da linha de
vida no degrau.

Após o posicionamento da escada, a guarnição montará o estabelecimento


padrão no plano horizontal, calculando o número de mangueiras necessárias para se
percorrer pela escada e acessar o local de combate.

Com o estabelecimento montado, o bombeiro – devidamente equipado –


fará sua ancoragem na linha de vida e subirá com a mangueira despressurizada, sobre
o ombro ou passada em seu EPR.

Figura 4.26 - Estabelecimento com uso de escada

Fonte: Autores
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 196

Ao tomar a posição segura (figura 4.26), o chefe da linha sinaliza e


comunica para que o COV possa pressurizar a rede. Para evitar trancos e
movimentações da escada, a abertura da manopla do divisor para essa linha de
ataque deve ser gradual.

6 IÇAMENTO DE MANGUEIRAS

Quando na edificação incendiada não for possível utilizar o sistema de


hidrante interno ou realizar a montagem do estabelecimento para combate por meio
das escadas, poderá ser realizado o içamento das mangueiras pela fachada da
edificação ou pelo vão de escadas. Poderão ser içadas as linhas de ataque ou a
adutora.

Há que se pesar o içamento de mangueiras pela caixa de escada destinada


à evacuação de vítimas do incêndio (se houver), considerando-se a perda da
funcionalidade de escadas enclausuradas e a locomoção/retirada das vítimas.

6.1 Içamento da(s) linha(s) de ataque

Primeiramente, a guarnição deverá montar o estabelecimento padrão no


plano horizontal. Logo após, o chefe e o ajudante de linha sobem as escadas do prédio
até o andar determinado e, munidos de uma corda, arremessam-lhe abaixo a ponta
para que iniciem as amarrações do içamento.

O bombeiro que estiver embaixo faz um nó fiel rente à junta storz da


mangueira e passa uma alça pela manopla do esguicho (figura 4.27). Ao terminar,
dará o comando para que o chefe e o ajudante de linha possam puxar a corda, e a
guiará pela própria mangueira, a fim de se evitar a colisão com obstáculos.
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 197

Figura 4.27 - Amarrações para içamento de mangueira

Fonte: Autores

Após o içamento, a linha deverá ser ancorada no patamar com a utilização


de um cabo solteiro. Essa técnica visa evitar o escorregamento vertical para baixo da
linha ou outros acidentes correlatos ao deslocamento involuntário das mangueiras
durante o combate.

Quando o chefe e o ajudante de linha estiverem com a linha de ataque em


condições, comunicarão ao COV para pressurizar a rede.

6.2 Içamento da adutora (içamento de ligação)

Após identificar a quantidade de mangueiras necessárias para alcançar o


pavimento desejado, a guarnição deverá montar a adutora no plano horizontal. Logo
após, o chefe e o ajudante de linha sobem as escadas munidos do divisor, esguichos,
mangueiras da(s) linha(s) de ataque e demais equipamentos. Além disso, estarão
munidos de corda suficiente para que, arremessada, a ponta chegue abaixo e o
bombeiro que estiver próximo à viatura possa fazer as amarrações na junta da
adutora.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 198

Ao terminar, dará o comando para que o chefe e o ajudante de linha


possam puxar a corda, e a guiará pela própria mangueira, a fim de se evitar a colisão
com obstáculos.

Ao atingir o pavimento desejado, a mangueira deverá ser ancorada (com


amarrações feitas preferencialmente nas juntas storz), fixando-a ao local mais
adequado no pavimento com a utilização de cabos e, caso necessário, deverão ser
acrescentadas mais mangueiras até o divisor.

As amarrações junto às conexões storz são úteis também para a elevação


do lance de mangueiras através dos pavimentos da edificação.

Quando o chefe e o ajudante de linha estiverem com a linha de ataque em


condições, comunicarão ao COV para pressurizar a rede.

7 PROCEDIMENTOS PARA DESARMAR O ESTABELECIMENTO

Concluídos os trabalhos de combate, a guarnição deverá desacoplar todos


os materiais hidráulicos e realizar o desalagamento das mangueiras, para retirar a
água residual de seu interior e acondicioná-las (figura 4.28).

Figura 4.28 - Desalagamento de mangueira

Fonte: Autores
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 199

7.1 Abastecimento de água na viatura

Após qualquer ocorrência de incêndio, a viatura deverá se deslocar até o


hidrante mais próximo para abastecer o reservatório de água, garantindo as condições
de pronto atendimento, caso de imediato seja necessário.

Para realizar o abastecimento, a guarnição deverá estar munida de uma


chave de tampão de hidrante, chave de registro de hidrante, nips, adaptador rosca
para storz e mangueira de 2 ½”.

O primeiro procedimento a ser feito será a “sangria”, que consiste em


desprezar-se a porção de água suja, existente na terminação do hidrante (figura 4.29).
Para isso, deverá ser retirado o tampão e aberto o hidrante, deixando toda a água suja
sair, para que não haja danos ou contaminação do tanque e do corpo de bombas da
viatura.

Figura 4.29 - Sangria do hidrante

Fonte: Autores

Após a sangria, deve-se fechar o registro, conectar o adaptador no hidrante


e acoplar a mangueira de 2 ½” no hidrante e na boca admissora ou boca hidrante do
caminhão. Após terminar o abastecimento, deve-se fechar o registro, o tampão e
realizar o desalagamento da mangueira.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 200

Em situações de emergência, poderá ser utilizada a água do reservatório


da edificação para abastecer a viatura através do hidrante de recalque. O
procedimento deverá seguir o disposto nos parágrafos anteriores, no que couber. Vale
ressaltar que deverá ser relatado no respectivo Registro de Evento de Defesa Social
(REDS) a quantidade de água retirada do reservatório, a fim de subsidiar o
ressarcimento pelo respectivo órgão de fornecimento de água ao condomínio.

8 MANUTENÇÃO FINAL

Finalizadas as atividades de combate a incêndio, todos os materiais


utilizados devem ser devidamente higienizados, com o objetivo de prolongar a sua
vida útil.

9 PERDA DE CARGA

As informações presentes neste subtítulo devem permear todo o arcabouço


de conhecimento que ajudará a guarnição (principalmente o chefe da guarnição e o
COV) a tomar decisões não só quanto ao emprego de técnicas e táticas, mas também
quanto à formação de estratégias de combate. Portanto, sua compreensão é
fundamental para o bombeiro em ocorrências de incêndio.

A partir do momento em que a água sai da boca expulsora do caminhão e


passa por todos os elementos hidráulicos necessários, a força da pressão que foi
aplicada nela, inicialmente, se dissipa. Ou seja, a pressão com que a água sai pelo
esguicho será menor que a pressão no momento em que ela saiu da boca expulsora
da viatura.

Quando o COV pressuriza o corpo de bombas e o acelera até atingir a


pressão desejada, temos a pressão nominal, que é a pressão registrada no
manômetro e é a pressão com que água sairá pela boca expulsora. Após a água
passar por todo o sistema e sofrer a perda de carga, ela sairá pelo esguicho com a
pressão menor, chamada de pressão residual.
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 201

São fatores que provocam a perda de carga no sistema:

a) Características das partes internas das mangueiras ou dutos metálicos,


que costumam ser rugosas e ásperas, o que aumenta e torna irregular
sua própria superfície, por conseguinte, ampliando o atrito e
ocasionando perda de carga;

b) Diâmetro da mangueira, onde uma mangueira de 1 ½” ou 38 mm


provoca mais perda de carga do que uma mangueira de 2 ½” ou 63
mm;

c) Número de linhas utilizadas no estabelecimento;

d) Comprimento do estabelecimento, ou seja, quanto maior for o número


de mangueiras utilizadas, maior será a perda de carga por atrito.

Considerando que a maioria das técnicas de combate a incêndio


empregadas nesse manual utilizam a vazão de 115 LPM, ou 30 GPM, para cada lance
de mangueira de 1½” ou 38 mm, perde-se 1,08 PSI, ou 0,07 BAR, ou 0,08 Kgf/cm².
Já cada mangueira de 2 ½”, com 15 metros de comprimento, desse estabelecimento,
perde 0,09 PSI, ou 0,01 BAR, ou 0,01 Kgf/cm², conforme descrito nas tabelas 4.1 e
4.2.

Tabela 4.1 – Perda de carga em mangueiras de 1 ½ " ou 38 mm e 15 m de


comprimento
Vazão
Vazão LPM PSI BAR Kgf/cm²
GPM
10 38 0,12 0,01 0,01
20 76 0,48 0,03 0,03
30 114 1,08 0,07 0,08
40 151 1,92 0,13 0,13
50 189 3 0,21 0,21
60 227 4,32 0,30 0,30
70 265 5,9 0,41 0,41
80 303 7,7 0,53 0,54
90 341 9,7 0,67 0,68
100 379 12 0,83 0,84
110 416 14,5 1,00 1,02
120 454 17,3 1,19 1,22
130 492 20,3 1,40 1,43
140 530 23,5 1,62 1,65
150 568 27 1,86 1,90
160 606 30,7 2,12 2,16
Fonte: Waterous, 2017
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 202

Tabela 4.2 – Perda de carga em mangueiras de 2 ½ " e 15 m de comprimento


Vazão Vazão
PSI BAR Kgf/cm²
GPM LPM
10 38 0,01 0,00 0,00
20 76 0,04 0,00 0,00
30 114 0,09 0,01 0,01
40 151 0,16 0,01 0,01
50 189 0,25 0,02 0,02
60 227 0,36 0,02 0,03
70 265 0,49 0,03 0,03
80 303 0,64 0,04 0,04
90 341 0,81 0,06 0,06
100 379 1 0,07 0,07
110 416 1,21 0,08 0,09
120 454 1,44 0,10 0,10
130 492 1,69 0,12 0,12
140 530 1,96 0,14 0,14
150 568 2,25 0,16 0,16
160 606 2,56 0,18 0,18
170 644 2,89 0,20 0,20
180 681 3,24 0,22 0,23
190 719 3,61 0,25 0,25
200 757 4 0,28 0,28
210 795 4,41 0,30 0,31
220 833 4,84 0,33 0,34
230 871 5,3 0,37 0,37
240 908 5,75 0,40 0,40
250 946 6,25 0,43 0,44
260 984 6,75 0,47 0,47
270 1022 7,3 0,50 0,51
280 1060 7,85 0,54 0,55
290 1098 8,4 0,58 0,59
300 1136 9 0,62 0,63
Fonte: Waterous, 2017

9.1 Elevação do sistema

Se o esguicho estiver localizado em um plano mais alto que a posição do


caminhão, além dos fatores citados anteriormente, perde-se carga também pela ação
da gravidade. A cada 10 metros de altura há uma perda de carga de 1 kgf/cm² ou 15
PSI. Se considerar o valor aproximado de 3 metros em um pé direito de cada andar
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 203

de uma edificação padrão, haverá perda de carga de 0,3 kgf/cm² ou 5 PSI por
pavimento devido à altura (tabela 4.3).

Tabela 4.3 – Perda de carga por elevação


ELEVAÇÃO PSI Kgf/cm²

10 m 15 1

1 pavimento (~3m) 5 0,3

Fonte: CBMES, 2014

9.2 Curvas e dobras nas mangueiras

Sabendo dos fatores que provocam a perda de carga, deve-se evitar ao


máximo curvas e dobras nas mangueiras, visando reduzir a grande influência na
pressão residual. Deve-se montar o estabelecimento com o número de mangueiras
limitado a apenas o necessário para o combate, evitando que o seu comprimento seja
desnecessariamente grande. Deve-se também estender a linha adutora o máximo
possível, pois sabe-se que a mangueira de 2 ½” ou 63 mm provoca menor perda de
carga que a linha de 1 ½” ou 38 mm.

Nos combates em edifícios altos deve-se priorizar a utilização da tubulação


metálica do sistema de prevenção, tendo em vista a menor perda de carga a que o
sistema submeterá a pressão residual. Isto se deve ao fato da maior previsibilidade
da perda de carga na estrutura fixa, em detrimento ao arranjo de mangueiras, que
pode apresentar variações significativas em função da qualidade de seu
estabelecimento.

Para que não haja ruptura dos elementos do estabelecimento o COV


deverá considerar também a pressão de trabalho da bomba e das mangueiras (em
especial aquelas mais próximas da bomba, que sofrem maior pressão). Como
referência, temos os dados constantes da NBR 11861, apresentados na Tabela 4.4.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 204

Tabela 4.4 – pressão em kgf/cm² por tipo de mangueira

Pressão
Tipo kPa (Kgf/cm²)
Trabalho Prova Ruptura Dobramento
1 980 (10) 2060 (21) 3430 (35) 2060 (21)
2, 4, 5 1370 (14) 2745 (28) 4120 (42) 2350 (24)
3 1470 (15) 2940 (30) 4900 (50) 2350 (24)
Fonte: ABNT, 1998

Com base na tabela acima, verifica-se que o tipo da mangueira está


diretamente ligado aos diversos limites de pressão. E considerando a segurança e o
embasamento técnico, o CBMMG adota como limite para atuação a pressão de
trabalho.

Sabe-se que, conforme a NBR 11861, as mangueiras do tipo 2 são


normalmente destinadas aos “edifícios comerciais e industriais ou Corpo de
Bombeiros, com pressão máxima de trabalho de 1370 kPa (14kgf/cm²)” e as
mangueiras do tipo 3 são destinadas “a área naval e industrial ou Corpo de Bombeiros,
onde é desejável uma maior resistência a abrasão e pressão máxima de trabalho de
1470 kPa (15kgf/cm²)”.

Ao pressurizar o sistema o COV deverá considerar a perda de carga para


que a pressão residual seja satisfatória para a utilização das técnicas de combate a
incêndio, bem como estar ciente dos limites dos equipamentos, visando evitar danos
ou acidentes com as guarnições.
CAPÍTULO 4 – MANOBRAS COM MANGUEIRAS E MONTAGEM DE ESTABELECIMENTOS 205

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ( ABNT). NBR 11861 -


Mangueira de incêndio - Requisitos e métodos de ensaio. ABNT. Rio de Janeiro
- RJ, p. 18. 1998.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO (CBMES). Manual


técnico: Teoria de incêndio e técnicas de combate. 1ª. ed. Vitória - ES: [s.n.], v. I,
CBMES, 2014.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS (CBMMG). Instrução


Técnica Operacional 01 - Padronização do Serviço Operacional. Belo Horizonte:
[s.n.], 2015.

EW7. Cálculo da reserva técnica de incêndio - RTI. Disponível em:


http://ew7.com.br/hidrossanitario/index.php/artigos/2-calculo-da-reserva-tecnica-de-
incendio-rti. Acesso em 23 de abril de 2020.

WATEROUS. Waterous Tech Tool, 2017. Disponivel em:


<https://www.waterousco.com/>. Acesso em: 04 de janeiro de 2020.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 206
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 207

CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO


Autor – 2º Sgt Oliveira

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 208

2 TIPOS DE ATAQUE ..................................................................................... 208

2.1 Ataque Direto .............................................................................................. 208

2.2 Ataque indireto ou Tridimensional ............................................................ 209

2.3 Ataque Combinado ..................................................................................... 209

2.4 Ataque Envolvente...................................................................................... 209

2.5 Ataque Transicional.................................................................................... 209

3 REGULAGEM DO ESGUICHO .................................................................... 210

3.1 Jato Compacto - 0° ..................................................................................... 210

3.2 Jato Neblinado Estreito - 30° ..................................................................... 211

3.3 Jato Neblinado Amplo - 60° ....................................................................... 212

3.4 Jato Neblina - 120° ...................................................................................... 212

4 TÉCNICAS COM ESGUICHO ...................................................................... 213

4.1 Pacote D’água ............................................................................................. 213

4.2 Jato Mole ..................................................................................................... 214

4.3 Pulso Atomizado ......................................................................................... 214

4.4 Pulso Longo de Alta Vazão (ZOTI) ............................................................ 216

4.5 Jato de Proteção ......................................................................................... 218

4.6 Jato de Penetração - Para Salvamento ..................................................... 219

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 221

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 222
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 208

1 INTRODUÇÃO

Já foi apresentado em capítulos anteriores que a água é o agente extintor


mais comum, mais abundante e mais utilizado pelo Corpo de Bombeiros Militar de
Minas Gerais. A forma como a água é aplicada nas operações de combate a
incêndio influencia diretamente no resultado que a guarnição alcança.

A água deve ser usada de maneira racional e por meio do emprego de


técnicas adequadas. Seu uso excessivo pode causar danos aos bens e patrimônios
que não foram atingidos pelo incêndio, trazendo prejuízos desnecessários ao
proprietário. Pode ocorrer, ainda, o seu acúmulo no ambiente de forma a causar
uma sobrecarga estrutural na edificação, devido ao peso da coluna d’água. Um
combate a incêndio ideal deve garantir a menor quantidade possível de água
residual, ou seja, presente no local após a finalização dos trabalhos.

2 TIPOS DE ATAQUE

A forma como se combate o incêndio pode variar de acordo com a


disponibilidade de materiais, das características do incêndio, condições de acesso,
dentre outras.

2.1 Ataque Direto

O ataque direto consiste em aplicar água diretamente na base do foco do


incêndio, com objetivo de fazer com que a temperatura do material combustível fique
abaixo de seu ponto de ignição e interrompa o processo de pirólise.

No incêndio estrutural, o ataque direto é feito por meio das técnicas do


Pacote D’água e Jato Mole. Em incêndios abertos, por ocorrerem ao ar livre, o
ataque direto é a única alternativa, pois, não há que se atacar a fumaça. O combate
deve ser direto à base do foco. São exemplos de incêndios abertos aqueles em
amontoados de lixo, em caçambas, lotes vagos, entre outros.
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 209

2.2 Ataque indireto ou Tridimensional

O Ataque Indireto ou Tridimensional consiste em aplicar água nas


camadas quentes de fumaça do ambiente, visando diminuir sua temperatura para
estabilizar o local. Realiza-se este tipo de ataque quando não é possível combater
as chamas diretamente na base do foco.

O incêndio não fica restrito à superfície de um material em chamas


(bidimensional). A fumaça e gases que preenchem o volume do ambiente
(tridimensional) também são fatores de risco e podem causar comportamentos
extremos do fogo. Com este tipo de ataque busca-se valorizar o potencial que a
água tem de agir por abafamento ao passar para o estado de vapor.

2.3 Ataque Combinado

É o tipo de ataque que combina as técnicas de Pulso Atomizado e Pacote


D'água. Será utilizado quando houver necessidade de realizar resfriamento da
camada aquecida de fumaça (pulsos atomizados) e quando, simultaneamente, for
possível visualizar e atacar o foco do incêndio (pacotes d'água).

2.4 Ataque Envolvente

O ataque envolvente consiste em aplicar água utilizando duas ou mais


linhas de ataque, visando combater o incêndio por diversas frentes.

2.5 Ataque Transicional

O ataque transicional consiste na aplicação de um jato compacto de água


de fora da edificação, mirando um alvo estático, no teto de um cômodo em que seja
visível o incêndio na fase denominada Totalmente Desenvolvido (LAMBERT, 2014).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 210

Essa técnica objetiva reduzir a temperatura do ambiente incendiado,


através de um ataque externo que suaviza a situação do incêndio, possibilitando
uma transição para a parte interna em um cenário com um incêndio enfraquecido
pelo jato aplicado externamente. Para ser empregada, o chefe de linha deve ser
capaz de ver o ambiente com incêndio na fase Totalmente Desenvolvido. Em
seguida, deve regular o esguicho para o tipo de jato compacto e aplicá-lo em direção
ao teto do cômodo, mantendo o jato estático. O tempo da aplicação deve variar de
10 a 20 segundos e, se entender necessário, o chefe de linha pode aumentar
progressivamente a vazão do esguicho ao longo da sua utilização. Imediatamente
após o emprego do ataque transicional, uma equipe deve adentrar o ambiente para
a realização do combate ofensivo, caso haja segurança para tal.

3 REGULAGEM DO ESGUICHO

O esguicho regulável do tipo pistola, atualmente empregado no Corpo de


Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), oferece algumas angulações
utilizadas em diferentes técnicas. As principais são descritas a seguir.

3.1 Jato Compacto - 0°

Utiliza-se esse jato com o esguicho totalmente fechado com formato


cilíndrico. Quando o esguicho está regulado em 0°, a coroa dentada não gira, e com
isso, o jato não é fragmentado. Tem grande alcance e sua área de abrangência é
reduzida. Nesse caso, o poder de absorção do calor será menor, devido à falta de
fragmentação e ao fato de atingir uma área pequena na superfície em combustão
(figura 5.1). Não se deve confundi-lo com o Jato “Sólido”, que é produzido pelo
esguicho agulheta. O Jato Sólido é totalmente preenchido por água, enquanto o Jato
Compacto é “oco”.
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 211

Figura 5.1 – Jato Compacto

Fonte: Autor

3.2 Jato Neblinado Estreito - 30°

Ao começar a abrir o regulador da angulação do esguicho atinge-se os


30°, ponto em que a água é expulsa em formato cônico (figura 5.2). A água passa a
atingir o difusor com dentes rotativos, que começa a girar, fragmentando-a,
dividindo-a em pequenas partículas. Essa divisão da água em gotículas faz com que
a sua superfície de contato aumente, e proporcionalmente amplie o seu poder de
absorção do calor, melhorando sua capacidade de passar para o estado de vapor e
agir por abafamento no incêndio. O jato neblinado estreito tem seu alcance
diminuído em relação ao jato compacto, mas a área de abrangência é aumentada.

Figura 5.2 – Jato Neblinado Estreito

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 212

3.3 Jato Neblinado Amplo - 60°

É um jato que possui os mesmos objetivos e características do Jato


Neblinado Estreito. Também possui o formato de um cone, porém mais amplo (figura
5.3). Com isso, terá um alcance ainda menor, mas uma área de abrangência maior.

Figura 5.3 – Jato Neblinado Amplo

Fonte: Autor

3.4 Jato Neblina - 120°

Jato com o esguicho totalmente aberto. Não tem alcance significativo,


mas sua área de abrangência é grande (figura 5.4). É mais utilizado para proteção
dos bombeiros que estão combatendo o incêndio.

Figura 5.4 – Jato Neblina

Fonte: Autor
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 213

4 TÉCNICAS COM ESGUICHO

Combinando a angulação do jato, com as regulagens de vazão e de


abertura do esguicho, é possível aplicar diversas técnicas para contornar cada
situação específica.

4.1 Pacote D’água

O pacote d'água é um tipo de ataque direto e consiste em aplicar porções


de água na base do foco do incêndio. A abertura e fechamento da manopla devem
garantir, apenas, que seja lançada a quantidade de água necessária para chegar até
o foco, da maneira mais suave possível, atuando por resfriamento, e impedindo que
haja projeção dos materiais sólidos após um eventual impacto mais forte com a água
lançada (figura 5.5).

A regulagem de abertura é do tipo Compacto, vazão mínima (30 GPM ou


115 LPM), e o tempo de abertura varia, conforme a distância entre o foco e o
operador.

Figura 5.5 – Pacote D’água

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 214

4.2 Jato Mole

É um tipo de ataque direto que consiste em aplicação de pouca água,


sem abertura total da manopla do esguicho e com a vazão mínima (30 GPM ou 115
LPM). É aplicado quando o operador está a uma pequena distância do foco e tem o
objetivo de garantir a não reignição do incêndio naquele material (figura 5.6).
Simultaneamente pode ser realizada a movimentação do material combustível, para
garantir que a água seja depositada em toda a superfície aquecida, interrompendo o
processo de pirólise.

Assim como no Pacote D'água, o Jato Mole visa aplicar água na


superfície sem projetar materiais sólidos para outros pontos. Por isso, precisa ser
realizado com cuidado.

Figura 5.6 – Jato Mole

Fonte: Autor

4.3 Pulso Atomizado

O pulso atomizado é uma técnica empregada no ataque indireto


(tridimensional). Deve ser utilizada para resfriar a camada aquecida de fumaça
acima do plano neutro.
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 215

É realizada por meio da rápida abertura e fechamento da manopla do


esguicho, como se estivesse "espirrando água" na camada aquecida de fumaça, na
forma similar à de um spray. Dessa maneira, a água pulverizada absorverá energia
do meio, passará para o estado de vapor e causará o resfriamento do ambiente. Se
for corretamente aplicado, ao mesmo tempo em que a água aumenta de volume ao
passar para o estado de vapor, a camada aquecida de fumaça irá contrair em
volume, garantindo o equilíbrio do balanço térmico.

Porém, se o pulso atomizado for aplicado muito alto, atingindo o teto, a


água irá se evaporar por ter absorvido, em vez da fumaça, a energia térmica do teto
quente. Assim, ela passará para o estado de vapor e a fumaça não se contrairá,
sendo empurrada em direção ao solo, ocasionando a perturbação do balanço
térmico.

O Pulso Atomizado pode ser aplicado com angulação de Jato Neblinado


Amplo, para menores alcances (figura 5.7), ou Neblinado Estreito (figura 5.8), para
atingir maior alcance. A vazão empregada será a mínima (30 GPM ou 115 LPM) e,
para atingir maior eficiência na pulverização da água, a pressão residual na ponta do
esguicho deve ser de 100 psi, ou 7 Kgf/cm².

Figura 5.7 – Pulso Atomizado Amplo

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 216

Importante ressaltar que para atingir a melhor eficiência da água na


absorção de calor e passagem para o estado de vapor, deve-se evitar a aplicação
de um segundo pulso atomizado na mesma porção de fumaça imediatamente após
a aplicação do primeiro, pois caso o operador o realize, impedirá que o primeiro
pulso absorva energia com o máximo do seu potencial.

Figura 5.8 – Pulso Atomizado Estreito

Fonte: Autor

4.4 Pulso Longo de Alta Vazão (ZOTI)

O Pulso Longo de Alta Vazão, conhecido como ZOTI, deverá ser utilizado
quando houver um incêndio que esteja na fase Totalmente Desenvolvido ou até em
situação de Flashover. Nessas condições, a temperatura estará muito elevada, o
que determinará que o bombeiro efetue o combate ao incêndio de uma posição
distante do foco. A técnica consiste em aplicar um Jato Neblinado Estreito, com a
vazão mais alta do esguicho (125 GPM ou 475 LPM), abrindo totalmente a manopla
do esguicho e desenhando a letra “T” sobre a face do incêndio.
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 217

Um incêndio Totalmente Desenvolvido ou em Flashover está no ápice de


sua temperatura. Quando se aplica um pulso com a vazão máxima, uma grande
quantidade de água é liberada, sendo capaz de absorver grande quantidade de calor
no ambiente incendiado. Dessa forma, esse agente extintor estará atuando por
resfriamento. Além de que, ao absorver o calor, muito vapor d’água será produzido,
fazendo com que ele também atue, secundariamente, por abafamento.

Em uma experiência realizada em um cômodo de 20m² e pé direito de


2,5m, com volume de 50m³, foi induzida uma combustão do gás metano,
caracterizado por liberar grande quantidade de energia quando comparado a outros
gases. O gás foi devidamente misturado a proporções ideais de inflamabilidade com
o ar. Foi realizada a aplicação de água pulverizada no interior desse ambiente até
que ocorresse a extinção completa do incêndio.

Verificou-se, ao final, que apenas 13 litros de água pulverizada foram


suficientes para que houvesse a absorção da energia térmica produzida nesse
incêndio, e que, em seguida, após passar para o estado de vapor, a água ocupou
cerca de 45% do volume interno do cômodo, interferindo diretamente, também, na
concentração de gases, por abafamento (LAMBERT, 2018).

Para aplicar a técnica da forma correta, a letra deve ser sempre iniciada
por cima, percorrendo horizontalmente o “corte” da letra “T”, de um lado até o outro e
voltando no meio, para então, descer o jato finalizando o formato da letra (figura
5.9).

Figura 5.9 Pulso Longo de Alta Vazão (ZOTI)

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 218

Após a aplicação do primeiro Pulso Longo de Alta Vazão, com a criação


de grande quantidade de vapor, as chamas se apagarão. Porém, após a saída de
todo o vapor, poderá haver reignição, devido a inserção de comburente na reação.
Se as chamas retornarem em grande volume, deve-se aplicar outro ZOTI, até
diminuí-las consideravelmente e finalizar o combate com Pacotes D’água e Jato
Mole. Como essa técnica gera muito vapor d’água, após o planejamento de uma rota
de fuga, o bombeiro deverá combater, preferencialmente, da porta do cômodo
incendiado.

É recomendado a utilização do ZOTI em áreas de até 50m². Em áreas


acima de 50m², deve-se aplicar mais de um ZOTI, sendo um em cada lado.

4.5 Jato de Proteção

Em um incêndio confinado, no momento em que os bombeiros estiverem


progredindo, podem ocorrer incidentes que acarretem comportamentos extremos do
fogo. Um exemplo seria o rompimento de uma janela de vidro, ocasionando a
entrada de ar e a ignição da fumaça e, possivelmente, um Flashover. Nesse
momento, a dupla de bombeiros deve agir rapidamente e utilizar a água como sua
proteção.

Ao identificar visualmente a iminência de um comportamento extremo do


fogo, deverão ser aplicados pulsos atomizados, concomitantemente ao recuo da
dupla. Percebendo a ineficiência dos pulsos atomizados e a iminente progressão do
incêndio, o chefe de linha deverá abrir totalmente a manopla do esguicho para fluxo
contínuo de água e aumentar sua angulação de abertura para 120º (neblina); em
seguida, deverá deitar-se no chão, de frente para seu ajudante, com a mangueira
entre eles; aumentar a vazão do esguicho para a máxima (125 GPM ou 475 LPM),
esticar o braço do esguicho para cima, de forma que fique perpendicular ao solo, e
voltar o rosto para o chão (figura 5.10).
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 219

Figura 5.10 – Jato de Proteção

Fonte: Autor

4.6 Jato de Penetração - Para Salvamento

Há ocasiões em que é necessário avançar em direção a uma vítima sob o


risco de chamas de forma a protegê-la do calor irradiado pelo incêndio e,
paralelamente, permitir sua evacuação do local, como o interior de um cômodo,
interior de um veículo em chamas, dentre outros.

O Jato de Penetração deve ser realizado com um esguicho na abertura


de Neblina (ou neblinado amplo, cabendo essa decisão ao chefe de linha) e vazão
máxima do esguicho (125 GPM ou 475 LPM). Deve ser aplicado continuamente
enquanto a equipe progride em direção à vítima a ser evacuada e deve continuar
sendo aplicado até que a vítima seja colocada em local seguro (figura 5.11).

Figura 5.11 - Jato de Penetração

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 220

Figura 5.12 – Configurações e técnicas de esguicho

ABERTURA DO ESGUICHO TÉCNICA PRESSÃO VAZÃO EMPREGO


30 GPM Ataque direto
Jato contínuo 100 PSI ou 7
JATO COMPACTO ou 115
(direto) kgf/cm² Transicional
LPM
30 GPM Ataque direto
100 PSI ou 7
Pacote d’água ou 115 com menos
kgf/cm²
LPM água
Passagem de
30 GPM porta/ resfriar
100 PSI ou 7
ou 115 combustíveis
kgf/cm²
LPM durante
Jato Mole
progressão
30 GPM
Pressão
ou 115 Rescaldo
mínima
LPM
Longo alcance
JATO NEBLINADO ESTREITO (mezanino)/
Pulso 30 GPM
100 PSI ou 7 Passagem de
Atomizado ou 115
kgf/cm² Porta (acima
(0,5 seg.) LPM
do chefe e
ajudante)
Passagem de
30 GPM
Pulso longo 100 PSI ou 7 Porta ( para
ou 115
(2 seg.) kgf/cm² dentro do
LPM
ambiente)
Incêndio
125 GPM totalmente
Pulso Longo 100 PSI ou 7
ou 475 desenvolvido
de Alta Vazão kgf/cm²
LPM ou Flashover

Pulso 30 GPM Resfriar


JATO NEBLINADO AMPLO 100 PSI ou 7
atomizado ou 115 camadas
kgf/cm²
(0,5 seg.) LPM aquecidas
Incêndio em
30 GPM veículo por
100 PSI ou 7
Jato contínuo ou 115 meio do
kgf/cm²
LPM ataque
envolvente
30 GPM
Ventilação 100 PSI ou 7 Retirar
ou 115
hidráulica kgf/cm² fumaça
LPM

JATO NEBLINA
125 GPM Proteger
100 PSI ou 7
Proteção ou 475 contra
kgf/cm²
LPM Flashover

Penetração
125 GPM
100 PSI ou 7
ou 475 Salvamento
kgf/cm²
LPM

Fonte: Autor
CAPÍTULO 5 – TÉCNICAS DE COMBATE A INCÊNDIO URBANO 221

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora tenham sido tratadas neste manual abordagens específicas de


vazão e regulagem do esguicho (figura 5.12), há que se considerar que a
interpretação do cenário realizada pelo chefe de linha durante a aplicação das
técnicas é o diferencial para o sucesso em uma operação de combate a incêndio.
Poderá haver momentos em que o chefe entende ser necessário aumentar ou
diminuir a vazão do esguicho para valores diferentes dos padronizados aqui. O
mesmo poderá ocorrer com a regulagem do esguicho. Aqui apresentamos
fundamentos e princípios norteadores que devem servir como base para alcançar o
sucesso nas ações de combate a incêndio, mas não podem ser considerados
engessados e inflexíveis, pois cada cenário pode apresentar peculiaridades que
demandem adaptação de uma guarnição experiente.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 222

REFERÊNCIAS

CASTRO, Carlos Ferreira de; e ABRANTES, José M. Barreira. Combate a


Incêndios Urbanos e Industriais. 2a edição, revista e atualizada. Escola Nacional
de Bombeiros: Sintra, 2005.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual básico de


combate a incêndio: Técnicas de Combate à Incêndio. 2ª. ed. Brasília: [s.n.], v. I,
2012.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO. Manual técnico: Teoria


de incêndio e técnicas de combate. 1ª. ed. Vitória - ES: [s.n.], v. I, 2014.

LAMBERT, Karel. Transitional attack - CFBT-BE - Version 28/02/2014 translation:


Almeida, Dias, Figueiredo – 2016

______. Steam as an extinguishing medium - CFBT-BE, 2018.


CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 223
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 224

Página deixada intencionalmente em branco


CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 225

CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE


INCÊNDIO
Autor – 2º Sgt Oliveira

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 226

2 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS NA PASSAGEM DE PORTA ............. 226

2.1 (P) Posicionamento ...................................................................................... 226

2.2 (OR) Observação Rotativa............................................................................ 227

2.3 (T) Tateamento da porta ............................................................................... 228

2.4 (A) “Aguar” a porta ...................................................................................... 229

2.5 Preparação para entrada .............................................................................. 230

2.6 Entrada no ambiente .................................................................................... 231

3 TIPOS DE PROGRESSÃO NO AMBIENTE .................................................. 233

3.1 Dois apoios – de pé ....................................................................................... 233

3.2 Três apoios – ponta do pé, joelho no chão e planta do outro pé .............. 234

3.3 Quatro apoios – pontas dos dois pés e os dois joelhos no chão ............. 235

3.4 Regras que devem ser seguidas durante a progressão ............................ 236

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 238
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 226

1 INTRODUÇÃO

Conforme tratado anteriormente, ao abordar um ambiente sinistrado é


necessário resguardar com procedimentos seguros a guarnição envolvida, a fim de
evitar a indução de algum comportamento extremo do fogo por abordagem
equivocada.

A porta de acesso à edificação deverá ser, preferencialmente, aquela que


estiver mais afastada do foco, uma vez que a progressão no ambiente incendiado
deve ocorrer da parte não queimada em direção à parte queimada. No entanto, a
escolha de uma porta mais próxima da viatura, ou a mais fácil de ser arrombada,
pode ser levada em consideração pelo chefe de guarnição, mesmo que não seja a
mais afastada do foco. Porém, é importante frisar que o deslocamento deve se
iniciar, sempre que possível, na parte não queimada.

Escolhido o local de acesso, os procedimentos para a abordagem segura


devem ser os seguintes:

2 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS NA PASSAGEM DE PORTA

Para a abordagem de um ambiente sugere-se a memorização do


acrônimo PORTA, que resume cada uma das ações a serem adotadas:

P – Posicionamento

OR – Observação Rotativa

T – Tateamento

A – “Aguar” a porta

2.1 (P) Posicionamento

O primeiro passo para realizar a abordagem é o chefe e o ajudante de


linha tomarem as posições corretas diante da porta. Deverá ser verificado para qual
sentido a porta abre. Se a porta abre para o lado de dentro do ambiente, o chefe de
CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 227

linha deverá se posicionar ao lado da dobradiça da porta. Se a porta abre para o


lado de fora do ambiente, o chefe deverá se posicionar ao lado da fechadura.

Dessa forma, independente do sentido de descerramento da porta, o


chefe ficará frente à abertura para executar os jatos dentro do ambiente e o ajudante
de linha ficará sempre do lado oposto (figura 6.1). Após tomar as posições corretas,
o chefe de linha, munido do esguicho, efetuará as regulagens de vazão: para 30
GPM (115 LPM) e de tipo de jato: Jato Compacto.

Posição do chefe de linha – “DD-FF”


Se a porta abre para Dentro, na Dobradiça
Se a porta abre para Fora, na Fechadura.
*Se você consegue ver a dobradiça, a porta abre para fora.

Figura 6.1 - Posicionamento

Fonte: Autor

2.2 (OR) Observação Rotativa

No segundo passo, a dupla deverá realizar uma inspeção visual em toda


sua volta (figura 6.2), à procura de sinais indicativos de comportamentos extremos
do fogo, como a saída de fumaça sob pressão pelas frestas das portas, ruídos de
aspiração de ar, vidros de janelas manchados de fuligem ou impregnados de óleo,
portas de madeira pirolisando, pintura da porta danificada pela ação do calor, dentre
outros.

Na fase de observação, também é muito importante verificar se há


rachaduras que indiquem risco de colapso da estrutura.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 228

Figura 6.2 – Observação Rotativa

Fonte: Autor

2.3 (T) Tateamento da porta

Nesse procedimento, a dupla deverá avaliar a situação da porta


observando a sua integridade; se há necessidade de realizar entradas forçadas e se
existe algum risco dela sair do lugar ou cair (figura 6.3). Havendo necessidade de
arrombamento, o ajudante de linha deverá usar uma fita ou cabo solteiro para
amarrar na maçaneta, pois caso haja uma abertura brusca da porta, ela deverá ser
fechada rapidamente, evitando-se a entrada excessiva de oxigênio no ambiente
incendiado.

ATENÇÃO: Se durante a análise da integridade da porta, ou durante o


processo de entrada forçada, ela vier a se romper, haverá uma entrada não
programada de comburente no ambiente incendiado, que poderá induzir a
um flashover ou backdraft. Se os indicativos visuais obtidos na etapa da
observação rotativa tiverem apontado para a possibilidade de um
comportamento extremo do fogo, caso a porta venha a cair, deverá ser
aplicado imediatamente um pulso longo de alta vazão (ZOTI) a fim de
resguardar a guarnição contra possíveis lesões indesejadas.
CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 229

Figura 6.3 – Tateamento da porta (a) e verificação para entrada forçada (b)

(a) (b)
Fonte: Autor

2.4 (A) “Aguar” a porta

Em seguida, a dupla deverá aplicar o Jato Mole, a fim de resfriar a porta e


manter a sua integridade por um tempo maior (figura 6.4). A evaporação da água na
porta é um indicativo de alta temperatura no interior do ambiente, portanto, deverá
ser observada pela dupla envolvida na abordagem, pois o local marcado pelo início
da possível evaporação, pode sugerir, de forma aproximada1, a altura do plano
neutro.

Figura 6.4 – Aguar a porta

Fonte: Autor

1 Ao verificar o ponto de evaporação da água na porta deve-se levar em conta a condutividade


térmica do material com que é feita. As portas metálicas (boas condutoras) tenderão a ficar mais
quentes e a água irá se evaporar em uma linha provavelmente mais baixa que a do plano neutro.
Portas de madeira, más condutoras de calor, tenderão a iniciar a evaporação da água em uma linha
mais alta que a do plano neutro.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 230

2.5 Preparação para entrada

Antes da dupla entrar no ambiente e progredir para realizar o combate,


deverá diminuir a temperatura do cômodo sinistrado, aplicando água no seu interior.
Contudo, se tiver sido observado na abordagem de porta que não há indicadores de
risco e que a temperatura não é considerável, não será necessário aplicar esta
técnica.

Para a aplicação de água no interior do cômodo, antes da entrada, o


chefe da linha modificará a configuração do esguicho para o Neblinado Estreito,
enquanto o ajudante toma posição para abrir a porta. O chefe de linha aplicará dois
Pulsos Atomizados sobre a dupla, a fim de manter uma nuvem de gotículas de água
em condições de absorver calor da fumaça que eventualmente possa sair durante a
abertura da porta.

Logo após aplicar os pulsos de neblina sobre suas cabeças, o ajudante


abrirá a porta, o suficiente para o jato neblinado estreito poder ser projetado para o
interior do cômodo, e o chefe aplicará um pulso atomizado de 2 segundos dentro do
ambiente. Encerrado o jato, o ajudante imediatamente fecha a porta, evitando-se o
fornecimento de comburente para o ambiente (figura 6.5).

Figura 6.5 – Preparação para entrada

Fonte: Autor
CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 231

Na primeira abertura, o chefe e o ajudante deverão observar as condições


internas, como a altura do plano neutro, existência de chamas visíveis, sinais de
vítimas e potenciais riscos existentes.

O ambiente não será seguro se for observado que:

a) a água lançada evaporou rapidamente;

b) saiu fumaça quente ou chamas na parte superior após abertura da


porta;

c) houve aspiração forte de ar na parte inferior.

Sendo constatado que o ambiente ainda não se encontra seguro para o


acesso, deverá ser repetido o procedimento de aplicação de pulsos sobre a dupla, e
de aplicação do pulso atomizado no interior do cômodo. Vale lembrar que deve
haver um intervalo de pelo menos 5 segundos entre uma aplicação e outra de pulso
dentro do ambiente.

Durante a aplicação das técnicas, deverá ser realizado o Teste de Teto,


que consiste em observar se a água lançada atinge o teto e não vaporiza, pingando
em gotas. Pois quando a água não passa para o estado de vapor, significa que a
temperatura naquele ponto está relativamente segura para o progresso da dupla.

A qualquer momento, de acordo com a análise do chefe de linha, poderá


ser repetido todo o procedimento de observação rotativa, tato e aplicação de água
para verificação das condições do ambiente e da porta.

2.6 Entrada no ambiente

Quando a dupla decidir entrar no ambiente, deverá estabelecer uma


comunicação entre si, confirmando que, após a próxima aplicação de pulso no
cômodo, adentrarão o local. Sendo assim, o chefe aplicará, pela última vez, pulsos
atomizados sobre a dupla e o pulso longo no interior do cômodo e, ao final, a dupla
entrará.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 232

Após a passagem pela porta, o chefe deverá alterar a regulagem do


esguicho para Neblinado Amplo (se for necessário maior alcance dos pulsos
atomizados, poderá manter o Jato Neblinado Estreito), enquanto o ajudante de linha,
após entrar no ambiente, puxa o lance de mangueira para dentro do cômodo e fecha
a porta atrás de si, para evitar a entrada de ar. O ajudante de linha deverá
permanecer segurando a porta fechada, fornecendo a mangueira ao chefe de linha,
quando necessário. O ajudante só deixará a porta quando não for mais possível
estabelecer contato visual com o chefe de linha ou quando for necessário realizar a
passagem de uma nova porta encontrada.

No caso de se encontrar uma nova porta fechada durante a progressão,


deverá ser realizada outra abordagem de porta, para evitar que a dupla seja
surpreendida por algum comportamento extremo.

A forma como a dupla progride, se é de pé ou de joelhos irá variar de


acordo com a temperatura do ambiente sinistrado. Dessa forma, a progressão irá
variar de acordo com cada situação. As principais técnicas aplicadas na progressão
são os Pulsos Atomizados e Pacotes D'água. Porém o pulso longo de alta vazão
também pode ser necessário se houver indicativos que requisitem tal técnica.

Sempre que houver necessidade de resfriar a camada aquecida de fumaça


será aplicado um pulso atomizado, com jato neblinado amplo ou estreito,
dependendo da distância a ser alcançada. Já quando for possível visualizar
um foco de incêndio, serão aplicados pacotes d’água. Havendo necessidade
e possibilidade, os pulsos e pacotes serão aplicados de forma alternada,
configurando o ataque do tipo combinado (pulsing pencilling). A aplicação
deve ser feita com moderação e cuidado, em intervalos, para não provocar
grandes perturbações no plano neutro e no balanço térmico do ambiente.
Quando a dupla estiver próxima o suficiente de um combustível que ainda
esteja aquecido ou sofrendo pirólise, deverá aplicar o Jato Mole para resfriá-
lo.
CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 233

À medida em que a dupla progride pelo ambiente, deve-se realizar o


fechamento das portas dos cômodos não atingidos, a fim de confinar o incêndio no
seu foco principal, evitando a sua propagação para outras áreas.

3 TIPOS DE PROGRESSÃO NO AMBIENTE

No momento em que a guarnição de bombeiros acessa um ambiente


incendiado, pode se deparar com diversas situações que irão dificultar o seu
deslocamento até encontrar o foco do incêndio.

Esse deslocamento pode ser feito de três maneiras:

a) técnica de 02 Apoios;

b) técnica de 03 Apoios;

c) técnica de 04 Apoios.

3.1 Dois apoios – de pé

Em locais incendiados que tenham abertura pela qual a fumaça possa


escoar, não ocorrendo seu acúmulo, e nos quais as chamas sejam pequenas, não
havendo grande irradiação de calor, ou ainda, em incêndios estruturais que já
estejam a baixas temperaturas, a progressão pode ser realizada de pé (figura 6.6).

Figura 6.6 – Progressão De Pé (2 Apoios)

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 234

Durante o deslocamento, o chefe de linha caminha normalmente com a


mangueira, e o ajudante de linha se posiciona à sua retaguarda, no lado oposto ao
da mangueira, podendo, a qualquer momento, sair da sua posição para retirá-la de
algum obstáculo ou desfazer dobras que porventura venham a se formar no
equipamento.

Para recuar, o ajudante se posiciona no seio da mangueira e a recolhe


em direção à saída, enquanto o chefe, com o esguicho na mão, recua de costas,
sempre observando o foco para controlar qualquer situação adversa que possa
surgir.

3.2 Três apoios – ponta do pé, joelho no chão e planta do outro pé

Em incêndios confinados nos quais haja escombros, escadas, piso


desnivelado e com o plano neutro rebaixado, o deslocamento será com um dos
joelhos no chão (figura 6.7).

Figura 6.7 – Progressão de Joelhos (3 Apoios)

Fonte: Autor

Durante o deslocamento, o chefe se posiciona no esguicho e o ajudante


no lado oposto ao da mangueira. Ao avançar, um dos joelhos toca o chão e a outra
CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 235

perna auxilia no deslocamento. A qualquer momento o ajudante pode sair da sua


posição para retirar a mangueira de algum obstáculo ou desfazer dobras que
porventura surgirem. No instante em que for aplicar algum jato, deve-se colocar o
outro joelho no chão para obter maior estabilidade. O posicionamento para aplicação
é sentado sobre os calcanhares e inclinando o corpo para trás.

Para recuar, o ajudante se posiciona no seio da mangueira, em 3 Apoios,


e a recolhe em direção à saída, enquanto o chefe, com o esguicho na mão, recua de
costas, mantendo-se também em 3 Apoios, e sempre observando o foco para
controlar qualquer situação adversa que possa surgir.

3.3 Quatro apoios – pontas dos dois pés e os dois joelhos no chão

Em incêndios confinados, com piso nivelado, plano neutro rebaixado e


com risco de comportamento extremo do fogo, o deslocamento será com os dois
joelhos no chão (figura 6.8).

Figura 6.8 – Progressão de Joelhos (4 Apoios)

Fonte: Autor

Durante o deslocamento, o chefe se posiciona no esguicho e o ajudante


no lado oposto ao da mangueira. Ao avançar, a dupla anda com um joelho de cada
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 236

vez e, sempre que for necessário, o militar deve abaixar sua silhueta para se
proteger do calor. No momento em que for aplicar algum jato, o posicionamento será
sentado sobre os calcanhares e inclinando o corpo para trás.

Para recuar, o ajudante se posiciona no seio da mangueira, em 4 Apoios


(dois joelhos e dois pés), e a recolhe em direção à saída, enquanto o chefe, com o
esguicho na mão, recua de costas, mantendo-se também em 4 Apoios, e sempre
observando o foco para controlar qualquer situação adversa que possa surgir.

3.4 Regras que devem ser seguidas durante a progressão

Para o aumento da eficiência da técnica e proporcionar maior segurança


à equipe, algumas regras devem ser observadas:

a) dentro do ambiente, a comunicação entre o chefe e o ajudante deverá


ser por meio do toque no capacete, no cilindro do EPR ou na bota.
Deve-se evitar tocar sobre o roupão de aproximação, pois removerá
as camadas de ar existentes entre as barreiras do EPI, podendo
ocasionar queimaduras;

b) se houver necessidade do deslocamento do ajudante para retirar a


mangueira de obstáculos ou retirar alguma dobra, deverá ser
comunicado ao chefe que, por sua vez, permanecerá parado onde
estiver e aplicará quaisquer técnicas de combate necessárias, até o
retorno do ajudante;

c) se forem observados objetos próximos pirolisando, deve-se regular o


esguicho para o jato mole e aplicá-lo sobre esses, evitando-se a
propagação do fogo em áreas distintas;

d) realizar a antiventilação/confinamento do incêndio, fechando as portas


de cômodos não atingidos pelo fogo;

e) se encontrar alguma vítima, o ajudante fará o salvamento, enquanto o


chefe aplica as técnicas de esguicho necessárias;
CAPÍTULO 6 – PASSAGEM DE PORTA E PROGRESSÃO NO AMBIENTE DE INCÊNDIO 237

f) ficar atento à possibilidade de ignição da fumaça. Ocorrendo chamas


na camada aquecida de fumaça, antes de continuar a progressão no
ambiente, deverão ser aplicadas as técnicas de controle adequadas,
conforme apresentado anteriormente;

g) não utilizar água em excesso, a fim de evitar a criação de muito vapor


e a consequente alteração do balanço térmico;

h) estabelecer uma rota de fuga para casos extremos, podendo ser um


cômodo não atingido, que tenha porta ou janela com acesso para o
lado externo do ambiente ou, alternativamente, seguir a mangueira
em direção à saída da edificação, retornando ao local de origem;

i) havendo casos extremos, iniciar o recuo aplicando pulsos atomizados.


Se não houver tempo para esse procedimento, tomar posição e
aplicar o Jato de Proteção;

j) o ajudante de linha deve permanecer o tempo todo observando o


comportamento do ambiente, bem como as eventuais alterações que
possam ocorrer durante a aplicação das técnicas de combate .
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 238

REFERÊNCIAS

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual básico de


combate a incêndio: Técnicas de Combate à Incêndio. 2ª. ed. Brasília: [s.n.], v. I,
2012.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO. Manual técnico: Teoria


de incêndio e técnicas de combate. 1ª. ed. Vitória - ES: [s.n.], v. I, 2014.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 239
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 240

Página deixada intencionalmente em branco


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 241

CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS


Autor – 1º Ten Grandi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 244

2 CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS ANTES DE ADENTRAR O


AMBIENTE INCENDIADO ...................................................................................... 245

2.1 O que deve nortear a decisão do bombeiro durante a entrada forçada em


incêndios urbanos ................................................................................................ 246

2.1.1 Comportamento extremo do fogo ............................................................. 246

2.1.2 Necessidade de entrada forçada ............................................................... 246

2.1.3 Existência de vítimas localizadas ............................................................. 247

2.1.4 Probabilidade de vítimas não localizadas ................................................ 247

2.1.5 Dinâmica do incêndio ................................................................................. 247

2.2 The Irons – quantas e quais ferramentas podem ser utilizadas durante o
emprego das técnicas de entrada forçada. ......................................................... 248

2.2.1 Machado de cabeça chata.......................................................................... 248

2.2.2 Alavanca Halligan ....................................................................................... 249

2.3 Elementos comuns aos mais variados tipos de esquadrias .................. 251

2.3.1 Quanto à anatomia de seus elementos..................................................... 251

2.3.2 Quanto às formas de abertura ................................................................... 252

2.3.3 Quanto à natureza de seus materiais de construção .............................. 252

2.3.4 Fechadura.................................................................................................... 252

2.3.5 Dobradiças .................................................................................................. 253


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 242

3 TÉCNICAS DE ENTRADA FORÇADA ........................................................ 253

3.1 Alavanca Halligan e machado ................................................................... 254

3.2 Portas que abrem para dentro ................................................................... 255

3.2.1 Criação de espaço ...................................................................................... 255

3.2.2 Emprego do conjunto ................................................................................. 255

3.2.3 Emprego da força ....................................................................................... 259

3.3 Técnicas alternativas/complementares .................................................... 260

3.3.1 Abertura de espaço (introduzindo a ponteira entre a porta e o portal).. 260

3.3.2 Introduzir o garfo com o bisel voltado para o batente. ........................... 261

3.3.3 Abater a porta ............................................................................................. 262

3.3.4 Destruir portais fracos ............................................................................... 262

3.3.5 Calçamento alternado ................................................................................ 263

3.3.6 Colapsar a fechadura ................................................................................. 264

3.3.7 Golpear o garfo requadrado ...................................................................... 265

3.4 Portas que abrem para fora ....................................................................... 266

3.4.1 Criação de espaço ...................................................................................... 266

3.4.2 Emprego do conjunto ................................................................................. 266

3.4.3 Emprego da força ....................................................................................... 267

3.5 Técnicas alternativas.................................................................................. 267

3.5.1 Emprego do garfo da Halligan ................................................................... 267

3.5.2 Para portas obstruídas em corredores sem espaço para o movimento de


emprego de força .................................................................................................. 269

3.5.3 Acesso pelas dobradiças ........................................................................... 271


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 243

3.5.4 Acesso através da fechadura .................................................................... 272

3.5.5 Acesso a portas ou janelas cujo material de construção é vidro (placas,


laminado ou temperado). ...................................................................................... 274

3.5.6 Acesso a locais trancados por cadeados ................................................. 274

3.5.7 Acesso através de portas metálicas de abertura vertical (de enrolar)... 276

3.5.8 Acesso através de portas ou janelas com grades ................................... 281

4 ORIENTAÇÕES GERAIS ............................................................................. 282

4.1 Escoramento emergencial ......................................................................... 283

4.2 Marcação dos instrumentos ...................................................................... 283

4.3 Requadrar o garfo ....................................................................................... 284

4.4 Entalhe da cunha ........................................................................................ 285

4.5 Entalhe de encaixe do machado ............................................................... 285

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 286

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 287
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 244

1 INTRODUÇÃO

Este capítulo objetiva elencar princípios, métodos e técnicas de entrada


forçada aplicada ao socorro/salvamento em incêndios, bem como promover a
uniformidade do treinamento.

Quando se trata de entrada forçada em ambiente compartimentado sabe-


se que, normalmente, tal técnica será empregada em uma esquadria. Esquadrias são
elementos arquitetônicos que ligam diferentes compartimentos de uma edificação,
podendo ser portas, janelas, portões, venezianas e quaisquer outras aberturas como
essas (figura 7.1). Há muita variedade de esquadrias, sendo que elas se diferem pelo
material de construção, pela densidade e pelo tipo de abertura (bem como o sentido
da abertura). Tais diferenças vão facilitar ou dificultar a entrada forçada, conforme o
treino e a experiência das equipes permitam conhecer a diversidade de elementos
existentes.

Figura 7.1 – Tipos de esquadrias

Fonte: Veicol, 2019

Além de separar ambientes de trabalho ou de convivência, conforme a


finalidade da edificação, a compartimentação também visa impedir o alastramento de
chamas durante um incêndio. Os elementos construtivos podem oferecer maior ou
menor segurança nesses casos, dependendo da natureza de seus materiais (madeira,
gesso, metal, alvenaria, vidro, etc).
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 245

Em situação de incêndio, realizar salvamentos, buscas ou progredir em


uma edificação compartimentada, muitas vezes apresenta um elemento adverso ao
avanço das guarnições: a necessidade de realizar entrada forçada ou arrombamento.

Figura 7.2 – Bombeiro adentrando esquadria

Fonte: Lavastre Cécil, 2016

Adentrar domicílio em caso de socorro, sem permissão do proprietário ou


sem portar mandado, é amparado pelo elemento da excludente de ilicitude, tratando-
se de estado de necessidade típico de uma situação de incêndio, na medida em que
a ação do arrombamento visa atender determinado bem jurídico em detrimento de
outro, nos termos da legislação vigente:

Art. 5º [...]

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar


sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação
judicial. (CF, 88 – grifo nosso).

2 CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS ANTES DE ADENTRAR O


AMBIENTE INCENDIADO

Antes mesmo da tomada de decisão por realizar uma entrada forçada, é


importante que a guarnição analise algumas condições do ambiente, disponibilidade
de materiais, características das esquadrias, dentre outras, como adiante se
apresenta.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 246

2.1 O que deve nortear a decisão do bombeiro durante a entrada forçada em


incêndios urbanos

Várias são as técnicas que podem ser empregadas para viabilizar a entrada
por esquadrias através de um ambiente. A entrada forçada abrange o emprego de
ferramentas para romper a resistência de trancas ou trincos, possibilitando a entrada
do bombeiro a fim de promover o socorro. Será utilizada conforme os seguintes
critérios:

a) salvar vítimas em incêndios;

b) combater as chamas mediante tática de combate ofensivo em ambiente


compartimentado;

c) buscar vítimas em incêndios.

Algumas técnicas consideram a intervenção com ferramentas delicadas de


ação direta nas fechaduras. Estas, bem como as ações mais lentas e menos
destrutivas, indicadas para casos de menor urgência, não serão abordadas neste
manual, visando objetividade, a aplicabilidade dos conceitos à situação de incêndio e
a eficácia para cada situação específica.

Antes de se promover o arrombamento de portas ou janelas durante o


combate, busca e salvamento, há que se analisar os seguintes fatores:

2.1.1 Comportamento extremo do fogo

A abertura brusca promovida por uma entrada forçada pode perturbar de


forma significativa o balanço térmico e a dinâmica do incêndio, produzindo
comportamentos extremos e ampliando o risco na operação.

2.1.2 Necessidade de entrada forçada

Apesar de óbvio, faz-se necessário frisar a necessidade de verificação de


trancamento de portas ou janelas, para que se evite perda de tempo com técnicas
desnecessárias. Muitas vezes não haverá visibilidade suficiente para que o óbvio
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 247

assim se pareça. É necessário também que se parta sempre do princípio do menor


dano possível, isto é, deve-se graduar os métodos empregados, partindo-se daquele
em que não há necessidade do emprego de danos até o método com maior
destrutibilidade, visando à entrada forçada.

2.1.3 Existência de vítimas localizadas

A existência de vítimas localizadas tende a conduzir todas as ações para a


entrada forçada em ambientes em que ela se faça necessária. A possibilidade de
comportamento extremo sempre deverá ser levada em consideração.

2.1.4 Probabilidade de vítimas não localizadas

Vítimas possíveis são alvos de busca após, ou ao mesmo tempo em que


ocorre o combate. A dinâmica do incêndio, intensidade do combate, riscos existentes,
comportamento extremo e probabilidade de existência de vítima em cada
compartimento da edificação devem sempre ser avaliados, para que a entrada forçada
busque o máximo de critério possível, com foco na eficácia das buscas. Deve-se
lembrar que o procedimento demanda certo tempo e desgasta as equipes, bem como
aumenta o consumo de ar dos EPR.

2.1.5 Dinâmica do incêndio

A dinâmica do incêndio é a leitura que deve ser feita no sentido de entender


o avanço do incêndio pelo interior das edificações. O foco é evitar intervenções
desnecessárias, bem como ações com um nível alto de risco para as guarnições.
Ressalta-se que a melhor maneira de salvar uma vítima, cuja posição é desconhecida,
é combatendo o incêndio.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 248

2.2 The Irons – quantas e quais ferramentas podem ser utilizadas durante o
emprego das técnicas de entrada forçada.

Conjunto de arrombamento (The Irons, Los Hierros ou bem-casados)

Figura 7.3 – Conjunto de Arrombamento (The Irons)

Fonte: Firefighter Nation, 2019

Como dito anteriormente, existe uma infinidade de ferramentas disponíveis


para que se promova a entrada forçada. Porém, em uma situação emergencial, em
que o bombeiro já estará desgastado pela carga extra do EPI/EPR, linhas de
mangueira, chaves de mangueira, adaptadores, esguichos, deslocamentos por áreas
de difícil acesso ou por diversos pavimentos acima, limitar as técnicas às ferramentas
mais elementares do combate a incêndio parece ser a estratégia mais acertada.
Sendo assim, o conjunto conhecido como “bem-casados”, composto por um machado
longo de cabeça chata e uma alavanca multiuso (Halligan), deve ser explorado, em
sua vasta gama de possibilidades, como aparato de arrombamento padrão no
combate a incêndio (figura 7.3).

2.2.1 Machado de cabeça chata

Este machado oferece uma grande superfície de impacto para ser utilizado
também como marreta quando necessário (figura 7.4). O modelo mais aceito é bem
balanceado e desenhado para golpear pequenas áreas com precisão e maior
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 249

segurança. O fio de aço recozido propicia maior longevidade do corte e o cabo de fibra
de vidro assegura maior leveza, baixa condutibilidade térmica, não apodrecimento,
força mecânica, isolamento elétrico, incombustibilidade, higiene (não é poroso), dentre
outros. Existem diversas variações no mercado (aço comum, sem superfície de
impacto, cabo de madeira, etc). É conhecido também como Fire Axe ou machado de
Bombeiro, em tradução livre.

Figura 7.4 – Sledgehead axe (Machado de cabeça chata)

Fonte: Firefighter Nation, 2019

2.2.2 Alavanca Halligan

Desenhada pelo bombeiro norte americano, Hugh A. Halligan (figura 7.5),


na década de 1940, com objetivo de alavancar, perfurar, cortar, torcer e golpear, a
alavanca Halligan - em referência ao nome de seu criador - é forjada em uma única
peça, de cerca de 4kg, em aço carbono tratado termicamente e zincado (objetivando
não produzir faísca durante impactos), podendo variar de 45cm a 140cm, misturando
os conceitos de pé de cabra (garfo), alavanca, um pique ou ponteira levemente
curvado e o adz ou adze (mais conhecido no Brasil como cunha) (figura 7.6). Existem
variações de desenhos e nomes comerciais disponíveis, porém se assemelhando
sempre ao conceito original da ferramenta.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 250

Figura 7.5 – Chief Hugh Halligan inspecionando sua criação

Fonte: Firerescue 01, 2019

Figura 7.6 – Partes da barra Halligan

Fonte: Public Safety Store

Procurou-se descrever as técnicas utilizando o menor número de itens


possível. Contudo, algumas situações certamente exigirão o uso de ferramentas
adicionais, que serão mencionadas adiante.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 251

2.3 Elementos comuns aos mais variados tipos de esquadrias

Para que se entenda o desafio que representa forçar uma porta ou janela,
deve-se ter em mente seus elementos comuns e pontos fracos a serem explorados.

Não obstante a grande variedade de esquadrias, alguns elementos lhes


são comuns, como fechaduras e dobradiças, constituindo-se em pontos fracos, os
quais devem ser explorados durante as ações de uma entrada forçada.

2.3.1 Quanto à anatomia de seus elementos

Folha, batente ou portal, guarnição ou alizares, maçaneta, dobradiça,


trincos e linguetas, conforme demonstrado na figura 7.7.

Figura 7.7 – Anatomia de uma esquadria (Porta)

Fonte: ABNT: NBR 15930-2:2018


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 252

2.3.2 Quanto às formas de abertura

Batente (de abrir), basculante, pivotante, deslizante (de correr).

2.3.3 Quanto à natureza de seus materiais de construção

Madeira (sólida, sarrafeada, compensados, etc), metálica, de vidro, etc.

2.3.4 Fechadura

Elemento, geralmente metálico, que trava a porta no portal com emprego


de linguetas e trincos. A fechadura mais comum é constituída de diversos elementos.
Os que mais vão nos interessar são: o cilindro ou tambor, parafuso do tambor, trinco
e lingueta (figura 7.8).

As fechaduras podem ser forçadas por ação de alavanca até o limite do


desencaixe da lingueta/trinco do portal. Seu tambor pode ser deslocado por ação
mecânica, visando romper o parafuso de fixação, o que libera o trinco para ser
recolhido manualmente.

Figura 7.8 – Esquema gráfico de uma fechadura comum

Fonte: Fazfácil, 2019


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 253

2.3.5 Dobradiças

Elemento metálico que pode ocorrer em números variáveis (normalmente


duas ou três), e conectam as folhas às guarnições nas esquadrias (figura 7.9).
Normalmente são fixadas com parafusos, mas também podem ser usados pregos ou
outros materiais, como pinos de segurança.

Figura 7.9 – Tipos de dobradiças

Fonte: FVM, 2019

Podem ser cortadas pelo garfo da ferramenta Halligan, deslocadas por


ação de alavanca ou desmontadas pelo desencaixe do pino. Serão acessadas,
normalmente, em caso de portas com abertura para fora, ou de outro tipo de abertura
que lhes exponha.

A seguir serão discutidas as técnicas, táticas e estratégias que envolvem a


atividade de entrada forçada.

3 TÉCNICAS DE ENTRADA FORÇADA

As técnicas de entrada forçada abordadas neste manual visam limitar o


conjunto de ferramentas com fulcro na praticidade e eficiência, bem como elencar
pontos fracos comuns observados nos diversos tipos de esquadrias.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 254

3.1 Alavanca Halligan e machado

Essa técnica, mais tradicional e versátil, envolve uma dupla de militares,


sendo que, por vezes, pode haver necessidade de ser empregada por apenas um
bombeiro. Deve-se optar pela sua utilização toda vez que a velocidade for um fator
decisivo na operação, na qual os princípios da alavanca empregados com técnica
podem viabilizar a entrada forçada pelos mais diversos tipos de porta. Seu sucesso
dependerá de treinamento e experiência (figura 7.10).

Figura 7.10 – Dupla de Bombeiros em entrada forçada convencional

Fonte: FDNY, 2006

Os procedimentos básicos para tentar abrir portas se iniciam com métodos


convencionais: checar se a porta está destrancada, verificar a sua resistência e a
localização das fechaduras ou trincos. Pode-se bater levemente com a extremidade
da Halligan no local em que se vislumbre haver resistência causada pela presença de
fechaduras ou dobradiças. Se o local não se deslocar, provavelmente ali haverá os
elementos citados anteriormente. Também é importante sempre atentar para sinais
de comportamento extremo do fogo (temperatura alta da estrutura, deformações ou
sinais de fumaça sendo expulsa pela parte superior, ar sendo sugado pela parte
inferior da porta).

A utilização do conjunto de arrombamento (the irons) para a entrada


forçada será dividida, basicamente, em três passos:

a) criação de espaço;

b) emprego do conjunto;

c) emprego da força.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 255

3.2 Portas que abrem para dentro

As portas que abrem para dentro normalmente escondem suas dobradiças


e dispositivos extras de segurança, limitando a escolha de técnicas por parte do
bombeiro.

3.2.1 Criação de espaço

A cunha da ferramenta Halligan deve ser inserida próximo à fechadura ou


ao trinco percebido (cerca de 15cm acima ou abaixo, visando evitar atingir diretamente
a fechadura com o garfo posteriormente).

Se há dois tipos de fechadura ou trinco, a ferramenta deve ser inserida


entre as duas. Movimentar a Halligan para cima ou para baixo fará a cunha girar e
ampliar o espaço entre a porta e o batente (figura 7.11). Também poderá ser utilizada
a ponteira para tal manobra, porém, com menores resultados.

Figura 7.11 – Criação de espaço com a cunha da barra Halligan

Fonte: FDNY, 2006

3.2.2 Emprego do conjunto

Deverá ser inserido o garfo da Halligan no espaço criado (figura 7.12). A


parte convexa do garfo, voltada para porta, deverá ser completamente inserida na
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 256

abertura criada, ficando travada. Se a ferramenta ficar muito próxima à fechadura, ela
poderá atingi-la, impedindo que a mesma avance adequadamente pelo espaço criado;
se ficar muito longe, a porta irá fletir, dispersando a energia da alavanca.

Figura 7.12 – Utilização do garfo da Halligan para consolidar a abertura

Fonte: FDNY, 2006

Para o caso de múltiplas trancas ou fechaduras, deve-se posicionar a


ferramenta acima da mais elevada ou abaixo da última, sempre lembrando de mantê-
la cerca de quinze centímetros afastada da fechadura.

O bombeiro que força a alavanca deve estar entre a porta e a ferramenta,


ampliando seu espaço para empurrar a alavanca, bem como manter contato visual
com a abertura que se cria (figura 7.13).

Figura 7.13 – Posicionamento do bombeiro entre a porta e a ferramenta

Fonte: FDNY, 2006


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 257

Enquanto o garfo da Halligan é forçado para dentro da abertura criada, a


alavanca da ferramenta deve ser sempre forçada para fora, na direção do batente da
porta.

Quando a Halligan for posicionada até praticamente assumir posição


perpendicular em relação à porta (ponto em que deverá adquirir maior firmeza e
estabilidade), deve ser inserida com força pela abertura criada adentro. A ferramenta
estará adequadamente posicionada quando o arco de seu garfo encostar no batente
da porta, ou seu portal (figura 7.14).

Figura 7.14 – Arco do bisel encostando no portal da esquadria

Fonte: adaptado de FDNY, 2006

Durante o emprego da força, a coordenação entre os membros da equipe


deve ser constante para haver efetividade e segurança, conforme apresentado na
figura 7.15.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 258

Figura 7.15 – Ação coordenada entre bombeiros durante o emprego do conjunto

Fonte: FDNY, 2006

O bombeiro que segura a Halligan controla a operação. O outro, com o


machado deve golpear a Halligan perpendicularmente ao sentido da cunha e ponteira
(figura 7.16).

Figura 7.16 – Local adequado para as batidas do machado na Halligan

Fonte: FDNY, 2006


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 259

O bombeiro com o machado deve encontrar a melhor posição para golpear


a Halligan, que deve ser golpeada apenas quando for solicitado pelo bombeiro que a
segura. Os comandos de “bater” e “parar” devem ser padronizados entre os membros
da guarnição, devendo ser claros e previamente combinados. Para se manter o
controle das batidas, os golpes devem ser curtos e perpendiculares ao eixo da barra
(figura 7.17).

Figura 7.17 – Esquema indicativo da posição das batidas do machado

Fonte: FDNY, 2006

Conforme a ferramenta vai sendo inserida, passa a viabilizar golpes mais


fortes.

3.2.3 Emprego da força

Após o completo posicionamento da ferramenta, deve ser aplicada força à


mesma, viabilizando o efeito alavanca contra a porta ((figura 7.18).

Figura 7.18 – Emprego da força: empurrando a barra Halligan contra a folha da porta.

Fonte: FDNY, 2006


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 260

Nesse momento, o outro bombeiro deve manter o controle da porta,


segurando-a pela maçaneta ou por meio de amarrações, visando evitar uma abertura
repentina e indesejada da porta.

A Halligan deve ser empurrada subitamente, visando imprimir o máximo de


força pela barra. Ações em dupla podem agilizar o processo e evitar desgaste
excessivo do bombeiro (figura 7.19).

Figura 7.19 – Ação coordenada durante o emprego da força

Fonte: FDNY, 2006

Quando a porta abrir, o segundo bombeiro deverá permanecer no controle


dela.

Se notada presença de fogo durante a CRIAÇÃO DE ESPAÇO, manter uma linha


pressurizada em condições de emprego imediato para proteção.

3.3 Técnicas alternativas/complementares

O ambiente sinistrado pode oferecer uma ampla gama de dificultadores


para o bombeiro, exigindo que este saiba utilizar a ferramenta e o emprego das
técnicas de formas variadas, buscando a versatilidade que a situação exigir.

3.3.1 Abertura de espaço (introduzindo a ponteira entre a porta e o portal)

A abertura de espaço deverá ser precedida da introdução da ponteira entre


a porta e o portal, batendo a Halligan em um movimento vigoroso e único, ou a
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 261

introduzindo com auxílio do machado ou marreta, girando a ferramenta posteriormente


para auxiliar na criação de espaço (figura 7.20).

Figura 7.20 – Utilização alternativa da ponteira para a criação de espaço

Fonte: FDNY, 2006

3.3.2 Introduzir o garfo com o bisel voltado para o batente.

Essa técnica é utilizada para efetivar entrada forçada em portas de elevada


resistência, como de metal, nas quais haja dificuldade de introdução da ferramenta no
vão do batente. Também pode ser considerada para os casos de existir uma obstrução
que impeça a manobra anterior (figura 7.21).

Figura 7.21 – Introdução do garfo da Halligan com a parte convexa do garfo voltada para o portal

Fonte: FDNY, 2006


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 262

Para criar o espaço desejado, o bombeiro deve atentar para que o garfo
não seja introduzido somente no portal, em vez de entre a porta e o portal. Com essa
técnica o espaço para deslocamento da ferramenta Halligan será reduzido, uma vez
que a ponteira e a cunha tocarão a porta, restringindo o movimento.

3.3.3 Abater a porta

Trata-se de golpear com o garfo ou com o eixo entre a cunha e a ponteira


da Halligan o ponto mais fortalecido da porta, normalmente a fechadura (figura 7.22).
Batidas curtas e precisas devem produzir abertura de espaço, romper o tambor ou
abrir a fechadura pelo seu colapso como um todo. As batidas podem ser com a própria
Halligan, com o machado a golpear a região entre a cunha e a ponteira, ou com a
marreta, exercendo a mesma função do machado.

Figura 7.22 – Técnica do abatimento de porta

Fonte: FDNY, 2006

3.3.4 Destruir portais fracos

Se for notado que a porta foi assentada sobre um portal fraco, golpes no
portal, na região da fechadura, podem expor o trinco e a lingueta, promovendo o
desencaixe do dispositivo e a consequente abertura da porta (figura 7.23).
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 263

Figura 7.23 – Técnica para expor o trinco ou lingueta com golpes no portal

Fonte: FDNY, 2006

3.3.5 Calçamento alternado

Para os casos em que o deslocamento do trinco for insuficiente, pode-se


aumentar esse alcance pelo uso alternado do machado como calço, reposicionando
a Halligan para aprofundar o ponto de apoio (figura 7.24).

Figura 7.24 – Técnica do calçamento alternado entre Halligan e machado

Fonte: FDNY, 2006


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 264

O machado pode ser inserido no sentido da lâmina ou no sentido da área


de impacto (figura 7.25).

Figura 7.25 – Técnica alternativa de inserção do machado

Fonte: FDNY, 2006

3.3.6 Colapsar a fechadura

Para o caso de trancas internas fortes o bastante a ponto de não romperem


com o deslocamento da porta, o garfo da Halligan pode ser apoiado sobre a tranca,
visando soltá-la por meio de golpes (figura 7.26).

Figura 7.26 – Técnica do colapso da fechadura pela ação do garfo associado a golpes de machado

Fonte: FDNY, 2006


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 265

3.3.7 Golpear o garfo requadrado

O termo garfo requadrado se refere à adaptação opcional feita no ângulo


do garfo da ferramenta, explicada mais à frente. Essa adaptação visa criar uma nova
superfície na Halligan para receber golpes de machado ou marreta durante a criação
de espaço.

Para o caso de obstruções ou pouca visibilidade que prejudiquem a


CRIAÇÃO DE ESPAÇO por meio de golpes durante o EMPREGO DO CONJUNTO, a
técnica alternativa de escorregar o machado pela barra da Halligan, golpeando o
“ombro” do garfo, pode produzir efeito semelhante durante o posicionamento da
ferramenta entre a folha e o batente. Nesses casos, a parte convexa do garfo deverá
estar voltada para o portal, visando melhor ângulo de trabalho e de introdução do garfo
(figura 7.27).

Figura 7.27 – Técnica de golpes de machado nos ombros requadrados do garfo da Halligan

Fonte: FDNY, 2006

Para tanto, os “ombros” do garfo da Halligan devem ser requadrados, ou tal


técnica será ineficaz. Esse remodelamento pode ser produzido pelo uso de
ferramentas como a esmerilhadeira.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 266

3.4 Portas que abrem para fora

As portas que abrem para fora são aquelas que normalmente expõem
todos os seus pontos fracos à ação de entrada forçada, oferecendo ao bombeiro a
chance de optar pela manobra mais eficaz, dependendo do caso.

3.4.1 Criação de espaço

Utilizando a cunha, interposta entre a folha e o portal, cria-se o espaço


elevando e baixando a ferramenta (figura 7.28).

Figura 7.28 – Movimentação da barra Halligan após inserção da cunha entre a porta e o portal

Fonte: FDNY, 2006

3.4.2 Emprego do conjunto

A porta será forçada ao se puxar a barra Halligan para fora, tomando-se


cuidado para que a cunha não seja enterrada no portal (figura 7.29).

Figura 7.29 – Esquema tático do emprego do Conjunto (The Irons)

Fonte: FDNY, 2006


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 267

3.4.3 Emprego da força

A cunha é inserida cada vez mais no espaço criado, objetivando o ganho


progressivo de espaço e aumento do efeito alavanca (figura 7.30).

Figura 7.30 – Abertura da porta após efeito alavanca da barra Halligan

Fonte: FDNY, 2006

3.5 Técnicas alternativas

Diversos motivos podem levar o bombeiro a ter que empregar técnicas


alternativas, desde limitação arquitetônica até danos às ferramentas.

3.5.1 Emprego do garfo da Halligan

O garfo da Halligan é um dos pontos de maior versatilidade da ferramenta,


podendo ser empregado para tracionar, ancorar, alavancar, cortar e perfurar.

3.5.1.1 Criação de espaço

O garfo é inserido com o bisel para o portal, próximo à fechadura ou dobradiça (figura
7.31).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 268

Figura 7.31 – Inserção do garfo para criação de espaço

Fonte: FDNY, 2006

3.5.1.2 Emprego do conjunto

Puxando a Halligan, combinada com a ação dos golpes de machado, deve-se


apenas cuidar para que o portal não seja atingido pelo garfo (figura 7.32).

Figura 7.32 – Ação coordenada durante emprego do Conjunto (The Irons)

Fonte: FDNY, 2006

3.5.1.3 Emprego da força

Inserir o garfo pelo espaço criado, puxando a Halligan na direção oposta à


da porta. Este método demanda espaço suficiente para o movimento circular externo
da ferramenta (figura 7.33).
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 269

Figura 7.33 – Emprego da força em técnica alternativa (utilização do garfo)

Fonte: FDNY, 2006

3.5.2 Para portas obstruídas em corredores sem espaço para o movimento de


emprego de força

Figura 7.34 – Porta obstruída para ação de alavanca

Fonte: FDNY, 2006

Em casos como o apresentado na figura 7.34 sugere-se avaliar:

a) criação de uma abertura na parede para o movimento da Halligan;

b) criação de abertura na porta (conforme seu material de construção)


para a passagem do bombeiro.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 270

Quando a porta possui, por algum motivo, um intervalo apertado entre as


junções do portal e da folha, uma técnica que pode anteceder as citadas durante a
criação de espaço é introduzir a lâmina do machado na junção, batendo com a parte
chata da Halligan (figura 7.35).

Figura 7.35 – Criação de espaço em portas maciças ou de difícil deformação (machado + Halligan)

Fonte: FDNY, 2006

Introduzir a cunha da Halligan na junção, batendo com o machado ou


inclinando para cima e para baixo a ferramenta (figura 7.36).

Figura 7.36 – Criação de espaço em portas maciças ou de difícil deformação (Cunha + Machado)

Fonte: FDNY, 2006


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 271

3.5.3 Acesso pelas dobradiças

Durante uma entrada forçada, a estratégia de abordar primeiramente as


dobradiças não é a mais eficiente e só deve ser utilizada nos casos em que não seja
possível a ação através da fechadura ou quando as técnicas anteriores falharam.

Forçar as dobradiças pode implicar em perda de integridade da porta. As


técnicas envolvem basicamente a criação de espaço e acesso às dobradiças que
podem ser estouradas pela ação de tração com a barra Halligan, destruídas com
batidas de marreta ou colapsadas com ferramentas hidráulicas, dependendo do caso.

Figura 7.37 – Técnicas de manejo de dobradiças (Halligan, marreta e ferramenta hidráulica)

Fonte: adaptado de FDNY, 2006

Para o caso de portas nas quais as dobradiças já estiverem expostas (de


abertura para fora), essas podem ser cortadas pela ação conjunta do garfo da barra
Halligan e do machado trabalhando como marreta (figura 7.37).

O garfo também pode ser utilizado sem a ação do machado, mas


demandará o emprego da força para utilizar o efeito alavanca com a barra Halligan,
como pode ser visualizado na figura 7.38.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 272

Figura 7.38 – Corte das dobradiças com o garfo da Halligan

Fonte: FDNY, 2006

Nos casos em que o pino da dobradiça puder ser retirado, utilizar-se da


ponta do garfo da Halligan, associado à ação do machado ou marreta, ou então outras
ferramentas disponíveis (figura 7.39).

Figura 7.39 – Remoção do pino das dobradiças com o garfo da Halligan ou outra ferramenta

Fonte: FDNY, 2006

3.5.4 Acesso através da fechadura

Este método é empregado quando as condições de trabalho não impõem


uma urgência tal que possibilite a entrada com o mínimo de dano, utilizando para tanto
um tempo e cuidado maiores. Para alguns tipos de fechadura, esse método pode ser
o mais indicado e ágil, tendo em vista suas características técnicas.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 273

Fechaduras podem se romper facilmente (dependendo da qualidade), sem


que com isso o cilindro seja deslocado, o que pode exigir técnicas adicionais e demora
no processo de entrada forçada. Fechaduras tubulares também podem ser rompidas
através do uso da cunha da Halligan, associada ao machado (aqui utilizado como
marreta). Após isso, a lingueta deve ser puxada para trás, para liberação total (figura
7.40).

Figura 7.40 – Remoção do tambor da fechadura com o garfo da Halligan associado a batidas com o
machado

Fonte: FDNY, 2006

Após o cilindro ser removido, a fechadura ou a lingueta podem precisar ser


abatidas. Para tanto, pode-se utilizar a ponteira ou o garfo da Halligan (figura 7.41).

Figura 7.41 – Colapso da lingueta ou da fechadura após a remoção do tambor externo

Fonte: FDNY, 2006

Fechaduras tubulares também podem ser forçadas por chaves ajustáveis


(figura 7.42). Após ser ajustada, um quarto de volta no sentido anti-horário deve ser
suficiente para quebrar o parafuso de fixação e liberar a fechadura. Fechaduras de
encaixe ou que girem livremente poderão não ceder com a aplicação deste método.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 274

Figura 7.42 – Técnica alternativa de colapso do tambor externo (com uso de outras ferramentas)

Fonte: FDNY, 2006

3.5.5 Acesso a portas ou janelas cujo material de construção é vidro (placas,


laminado ou temperado).

Romper placas de vidro em portas ou janelas de edificações em chamas


pode ser extremamente perigoso, pois afetará as condições internas do incêndio,
podendo ocasionar comportamentos extremos do fogo. Secundariamente, o manejo
do vidro pode tornar o local perigoso tanto para a progressão dos bombeiros quanto
durante o emprego da técnica de acesso. Portanto, a utilização desta técnica deve ser
avaliada com cuidado e, se possível, optar por fazer manejo de fechaduras ou
dobradiças, antes do vidro.

3.5.6 Acesso a locais trancados por cadeados

Cadeados podem ser rompidos de diversas maneiras:

a) com utilização da barra Halligan, inserindo a ponteira e forçando o


efeito alavanca para romper seu arco;

b) a mesma técnica pode ser empregada com a utilização da Halligan


como apoio, fixando a ponteira dentro do arco do cadeado, e golpeando
com o machado (figura 7.43);
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 275

Figura 7.43 – Rompimento do arco de cadeados com utilização da ponteira da Halligan

Fonte: FDNY, 2006

c) com a utilização da ferramenta corta-a-frio (figura 7.44);

Figura 7.44 – Rompimento do arco de cadeados com utilização do corta-frio

Fonte: FDNY, 2006

d) com a utilização de equipamentos como motoabrasivos ou ferramentas


hidráulicas, dependendo do porte do cadeado. Vale ressaltar que o uso
de motoabrasivos carece de avaliação quanto à existência de
atmosferas explosivas (figura 7.45).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 276

Figura 7.45 – Utilização de moto-abrasivos

Fonte: FDNY, 2006

3.5.7 Acesso através de portas metálicas de abertura vertical (de enrolar)

Normalmente encontradas em edificações comerciais, embora também


sejam utilizadas em garagens, galpões e abaixo de edificações residenciais (figura
7.46).

Figura 7.46 – Portas metálicas de abertura vertical (de enrolar)

Fonte: FDNY, 2006

As portas fecham no sentido vertical para baixo e possuem trilhos que


encaixam em canais nos portais. Normalmente são ligadas a um tambor de
enrolamento, podendo ser seladas com um ou mais cadeados.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 277

O primeiro passo para a entrada forçada em portas de enrolar é localizar e


remover cadeados e demais dispositivos de segurança, como pinos, ferrolhos ou
fechaduras (figura 7.47).

Figura 7.47 – remoção de pinos, ferrolhos, travas e outros dispositivos de segurança

Fonte: adaptado de FDNY, 2006

A remoção pode ser realizada mais facilmente com a utilização do


motoabrasivo. É interessante lembrar que essa ferramenta também é muito útil para
criar acessos em portas metálicas, observando-se a utilização do disco de corte
adequado para cada material, bem como a utilização dos EPIs específicos.

Esteja sempre atento à existência de atmosfera explosiva, fato que pode


inviabilizar a utilização do motoabrasivo.

3.5.7.1 Corte triangular

Este acesso pode ser vantajoso para a equipe em caso de uma porta com
múltiplos dispositivos de tranca. O corte deve iniciar de cima, o mais alto possível,
descendo em ângulo (figura 7.48).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 278

Figura 7.48 – Técnica da abertura pelo corte triangular

Fonte: FDNY, 2006

Em seguida, outro corte, descendo no ângulo oposto, visando formar um


triângulo. Não é necessário fazer um terceiro corte; basta simplesmente forçar a porta,
“abrindo” o triângulo (figura 7.49).

Figura 7.49 – Abertura triangular feita com dois cortes

Fonte: FDNY, 2006

Não permitir que os cortes se encontrem no vértice, até que o segundo


corte esteja finalizado, garantindo a estabilidade da folha metálica até o momento da
efetiva remoção (figura 7.50).
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 279

Figura 7.50 – Detalhe do vértice do triângulo produzido, antes da finalização do segundo (e último)
corte

Fonte: FDNY, 2006

3.5.7.2 Corte-caixa

Essa técnica deve ser considerada em caso de necessidade de grande


acesso pela porta de enrolar, criando-se uma abertura quadrada. Porém, ela
demandará mais de um militar e mais tempo para ser executada. A porta de enrolar
também deve ser do tipo montada com “ripas” ou “réguas”.

Devem ser feitos três cortes verticais para baixo. Esse procedimento
deverá ser suave, pois contará com o auxílio da gravidade (figura 7.51).

Figura 7.51 – Esquema ilustrativo da técnica do corte-caixa

Fonte: FDNY, 2006


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 280

Os cortes devem iniciar acima do pino de travamento, visando expô-los


(figura 7.52);

Figura 7.52 – Produção dos cortes no sentido vertical para baixo

Fonte: FDNY, 2006

Com a ponteira da Halligan, comece a retirar as “réguas” ou “ripas” da porta


metálica de enrolar (caso não seja possível apenas com a Halligan, associe seu uso
ao machado – utilizado aqui como marreta) (figura 7.53).

Figura 7.53 – Técnica de remoção das réguas ou ripas da porta metálica

Fonte: FDNY, 2006

Conforme visto na figura 7.53, alguns modelos de portas de enrolar são construídos
por meio da montagem sucessiva de réguas ou ripas metálicas, encaixadas e presas
à estrutura lateral utilizando-se de rebites ou similares. A técnica consiste em
desestabilizar essa estrutura através dos cortes-caixas, isolando as réguas de seus
pontos de fixação, possibilitando então sua remoção após o corte e promovendo a
abertura necessária.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 281

3.5.8 Acesso através de portas ou janelas com grades

Muitas vezes o bombeiro pode se deparar com esquadrias que, ao serem


vencidas, ainda contam com grades que impedem sua progressão no ambiente,
constituindo-se um desafio adicional, demandando mais ações de entrada forçada,
dispêndio de energia e da reserva de ar de seu Equipamento de Proteção
Respiratória.

Barras e grades devem ser atacadas em seu ponto mais fraco, que é onde
se liga ao material de construção (comumente ao concreto). Rompendo o concreto
com o machado/marreta, elas poderão ser removidas manualmente ou com auxílio da
Halligan como alavanca (figura 7.54).

Figura 7.54 – Técnica da exposição das grades sob o material de construção

Fonte: FDNY, 2006

Também podem receber cortes transversais com a utilização da serra


sabre ou motoabrasivo, nos pontos indicados na figura 7.55.

Para o caso de grades ou barras parafusadas na parede, a entrada forçada


poderá ser realizada pela ação da barra Halligan como alavanca, apoiando com o
garfo ou com a cunha da ferramenta entre a estrutura da grade e a parede, forçando
o parafuso para o colapso ou sua remoção da parede (figura 7.56).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 282

Figura 7.55 – Técnica do corte nas barras transversais

Fonte: FDNY, 2006

Figura 7.56– Remoção de grades parafusadas

Fonte: FDNY, 2006

4 ORIENTAÇÕES GERAIS

Algumas ações de cunho empírico são desenvolvidas e adotadas pelos


diversos Corpos de Bombeiros ao longo dos anos, tendo sua eficácia e “vantagem
estratégica” sido observadas durante seu emprego e desenvolvimento. Serão listadas
algumas em caráter de conhecimento, sendo sua adoção e emprego critério da chefia
responsável.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 283

4.1 Escoramento emergencial

Portas que foram abertas e devem ser mantidas assim por motivos
estratégicos, podem ser escoradas com calços do tipo cunha ou até mesmo com o
machado, trabalhando improvisadamente como calço (figura 7.57).

Figura 7.57– Técnica da utilização do machado como calço

Fonte: FDNY, 2006

4.2 Marcação dos instrumentos

As alterações nos equipamentos, por mais valiosas que possam se


apresentar, devem ser discutidas com o Comando, visando atingir a maior eficácia
possível em resposta às ocorrências, bem como a não responsabilização da equipe
por ações sem cadeia de comando.

As sugestões de alterações levam em consideração a experiência de


bombeiros ao longo dos anos utilizando as ferramentas sem que sua intervenção lhes
comprometam a durabilidade e funcionalidade. Dessa maneira, cada adaptação
apresentada aqui carece de avaliação e de discussão entre a tropa e seus respectivos
Comandos.

Marcar a cunha e o garfo da Halligan em cerca de 3cm da extremidade para


o início é uma boa estratégia para dar ao bombeiro a noção de o quanto deve
aprofundar a ferramenta durante a técnica de entrada forçada. É uma técnica bastante
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 284

comum em alguns corpos de bombeiros. Essa marcação visa indicar o grau médio de
aprofundamento do garfo ou da cunha nas folhas das esquadrias, balizando as ações
do bombeiro quanto à necessidade de maior ou menor incisão da ferramenta durante
o emprego das técnicas de entrada forçada (figura 7.58).

Figura 7.58 – Marcação da cunha e garfo da Halligan

Fonte: FDNY, 2006

4.3 Requadrar o garfo

Requadrar o garfo da Halligan é bastante útil para que ele possa receber
os golpes do machado durante o emprego da técnica de inserção e ganho de espaço
em locais apertados ou com obstruções (figua 7.59).

Figura 7.59 – Requadramento dos “ombros” do garfo da Halligan

Fonte: FDNY, 2006


CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 285

4.4 Entalhe da cunha

Entalhar a cunha da Hallingan pode ajudar sobremaneira no corte de


tambores de cilindros de fechaduras, parafusos, pinos, etc. O entalhe e a afiação da
cunha da Halligan podem ser visualizados na figura 7.60.

Figura 7.60 – Entalhe (afiação) da cunha da Halligan

Fonte: FDNY, 2006

4.5 Entalhe de encaixe do machado

Entalhar um corte no machado vai propiciar que ele e a barra Halligan se


encaixem de forma justa (The Irons) e possam ser transportados com apenas uma
mão.

Observação: o entalhe deve ser apenas o suficiente para o leve encaixe do


garfo da ferramenta, pois um corte severo pode abalar a resistência mecânica e a
integridade do machado (figura 7.61).

Figura 7.61– Entalhe no machado para encaixe do garfo da Halligan

Fonte: FDNY, 2006


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 286

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução nos tipos de dispositivos de segurança empregados para


separar compartimentos em uma edificação é um desafio constante para a progressão
das equipes de bombeiros em um ambiente atingido pelo incêndio. Acompanhar o
desenvolvimento de tais dispositivos, bem como dos materiais de construção e
estratégias de reforço das esquadrias, pode ser uma tarefa complexa e que exige
cuidado especial quando se fala de instrução técnica de entrada forçada.

O objetivo dessas linhas foi abordar a maior quantidade possível de


técnicas, utilizando um número racionalizado de ferramentas empregadas em
situações de incêndio, onde o combate, a busca e o salvamento devem reger o grau
de urgência das ações, frente ao volume de apetrechos deslocados no cumprimento
das mesmas tarefas.
CAPÍTULO 7 – ENTRADAS FORÇADAS 287

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Portas de madeira para


edificações - Parte 2: Requisitos- NBR 15930. Rio de Janeiro, 2018.

Como colocar dobradiças e quais os principais tipos de dobradiças. Disponível


em: http://www.facavocemesmo.net/tipos-de-dobradicas-e-a-sua-colocacao/. Acesso
em: 15ago19.

Fechaduras, como funcionam. Disponível em: https://www.fazfacil.com.br/reforma-


construcao/fechaduras-funcionamento/. Acesso em 15ago19.

FDNY. Forcible entry reference guide – Techniques and Procedures. 2006. 177p.

How the Halligan tool changed the firefighting game. Disponível em:
https://www.firerescue1.com/firefighting-101/articles/155802018-How-the-Halligan-
tool-changed-the-firefighting-game/. Acesso em 15ago19.

Lavastre Cécil. Méthodes et techniques d’utilisation de la barre Halligan. 26p.


2016.

VEICOL Vidraçarias e esquadrias. Disponível em:


https://www.veicolvidracaria.com.br/fotos.html. Acesso em 15ago2019.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 288
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 289

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MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 290

CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO

Autor – Cap Falcão

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 292

2 ETAPAS DO SALVAMENTO ................................................................... 293

2.1 Dimensionamento ................................................................................... 294

2.2 Avaliação ................................................................................................. 294

2.3 Controle e diminuição de riscos ........................................................... 294

2.4 Priorização .............................................................................................. 294

2.4.1 Evacuação imediata................................................................................ 295

2.4.2 Combate preliminar ................................................................................ 295

2.5 Execução ................................................................................................. 295

2.6 Controle e monitoramento ..................................................................... 296

3 TIPOS DE BUSCA ................................................................................... 296

3.1 Busca Primária ........................................................................................ 296

3.1.1 Técnica de Busca (acesso por fora da edificação) – VEIS .................. 297

3.1.2 Técnica de Busca (acesso por dentro da edificação).......................... 300

3.1.3 Identificação de entradas – Padrão FEMA............................................ 303

3.2 Busca Secundária ................................................................................... 305

3.3 Formas de evacuação emergencial ...................................................... 306

3.3.1 Evacuação completa .............................................................................. 307

3.3.2 Alternativas para a evacuação completa .............................................. 307

4 TÉCNICAS DE SALVAMENTO ............................................................... 308


CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 291

4.1 Com uso de cordas................................................................................. 308

4.1.1 Rapel com vítima ..................................................................................... 309

4.1.2 Descida guiada ........................................................................................ 309

4.1.3 Tirolesa..................................................................................................... 310

4.1.4 Teleférico ................................................................................................. 311

4.2 Sem uso de cordas.................................................................................. 311

4.2.1 Rastejo de bombeiro ............................................................................... 311

4.2.2 Transporte tipo bombeiro ....................................................................... 312

4.2.3 Cadeira ..................................................................................................... 313

4.2.4 Retirada pela escada de mão ................................................................. 314

4.3 Salvamento com fitas.............................................................................. 316

4.4 Uso do respirador de fuga (Capuz de carona) ...................................... 317

5 SITUAÇÕES ESPECIAIS ......................................................................... 317

5.1 Autossalvamento .................................................................................... 318

5.1.1 Rapel emergencial .................................................................................. 318

5.1.2 Evacuação pela mangueira .................................................................... 319

5.1.3 Evacuação pela escada de mão ............................................................ 320

5.2 Salvamento de bombeiros acidentados ............................................... 322

6 EQUIPAMENTOS ESSENCIAIS PARA SALVAMENTO E


AUTOSSALVAMENTO ....................................................................................... 323

REFERÊNCIAS................................................................................................... 324
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 292

1 INTRODUÇÃO

O Salvamento em incêndio é uma importante fase tática e representa o


principal objetivo nas ações de bombeiro: a preservação de vidas. Para fins de
conceituação, inicialmente, há que se apresentar a diferença entre busca e
salvamento em ocorrência de incêndio.

Busca: ações realizadas para se encontrar possíveis vítimas em


situações nas quais não haja evidência da sua presença ou da sua provável
localização.

Salvamento: ações técnicas específicas realizadas pela guarnição de


bombeiros para evacuação de alguma vítima devidamente localizada ou quando
existe evidência da sua presença no interior de um ambiente sinistrado.

Ocorrências e operações de combate a incêndio possuem uma


característica intrínseca: o ambiente hostil aos bombeiros envolvidos. Conforme já
foi abordado no capítulo Tática de Combate a Incêndio, os riscos de um ambiente
ou operação devem ser devidamente gerenciados antes da tomada de qualquer
decisão, mesmo aquelas voltadas para o salvamento de vítimas. Ainda que haja a
evidência e a localização exata de uma vítima em um ambiente sinistrado, as ações
de gerenciamento de risco devem ser adotadas a fim de garantir que as operações
de salvamento sejam eficazes.

A NFPA 1500 (2018) apresenta em seu conteúdo uma definição


conhecida como Filosofia do Risco versus Benefício para conduta de bombeiros
empregados nas operações de combate a incêndio:

Arriscar muito apenas para salvar muito.


Arriscar pouco para salvar pouco.
Arriscar nada se nada puder ser salvo.

A National Fire Protection Association juntamente com a International


Association of Fire Chiefs e a Fire Engineering condensaram uma série de
orientações de segurança, denominadas “Regras de Engajamento do Combate ao
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 293

Incêndio” (DAVID SCHOTTKE, NFPA, IAFC, 2014; FIRE ENGINEERING, 2013;


NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2018):

Regras de engajamento para sobrevivência em uma operação de


incêndio:

1. Dimensione adequadamente a cena;


2. Determine os locais prováveis de localização dos ocupantes;
3. Não arrisque sua vida se outras vidas ou bens não puderem ser
salvos;
4. Aumente o risco aceitável para proteger bens e propriedades
possíveis de serem salvas;
5. Aumente o risco aceitável para permitir ações eficazes de
salvamento de vítimas;
6. Entre junto, permaneça junto, saia junto com seu dupla ou equipe;
7. Mantenha observação constante de seu suprimento de ar, sua
localização e condição do incêndio;
8. Constantemente monitore as comunicações via rádio para alertas
de emergência;
9. Informe à chefia direta quaisquer práticas e condições inseguras
que identificar. Pare, avalie, decida;
10. Abandone sua posição e evacue a área antes que condições
inseguras se tornem críticas e insustentáveis;
11. Declare sua situação de risco ou necessidade de apoio assim que
pensar que está em risco.

2 ETAPAS DO SALVAMENTO

Para maior eficiência na avaliação de riscos para operações de


salvamento, os seguintes passos devem ser seguidos:

a) dimensionamento;
b) avaliação;
c) controle e diminuição de riscos;
d) priorização;
e) execução;
f) controle e Monitoramento.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 294

2.1 Dimensionamento

O processo de dimensionamento da cena, como tratado em Tática de


Combate a Incêndio, consiste em verificar a localização da(s) vítima(s), ameaças,
riscos de colapsos estruturais, possíveis locais para acesso e rotas de fuga, com
seus respectivos obstáculos, dentre outros. Há que se verificar, ainda, a magnitude
do incêndio e taxa de progressão, buscando projetar o tempo que levará para atingir
os cômodos onde houver vítimas localizadas.

2.2 Avaliação

Consiste em verificar, diante de todas as ameaças e vulnerabilidades


identificadas, quais opções táticas e técnicas poderão ser empregadas nas ações
de salvamento, bem como quais os recursos disponíveis para tornar o risco
aceitável e a operação exequível.

2.3 Controle e diminuição de riscos

Consiste em adotar medidas que tornem o risco aceitável para os


militares envolvidos na operação de salvamento. Eventualmente pode ser
necessário realizar técnicas de ‘proteção contra Exposição’1 das edificações, ou
determinadas iniciativas de ventilação ou antiventilação, dentre outras, que
permitam acesso mais seguro ao ambiente sinistrado.

2.4 Priorização

Essa etapa consiste em duas frentes. Inicialmente há que se verificar


quais vítimas devem ser imediatamente salvas.

1 Exposição: é um termo adotado na atividade de prevenção e combate a incêndio e significa o efeito


do calor de um incêndio que possa causar ignição ou danos a edificações expostas ou a seus
conteúdos (NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION, 2017). As ações de proteção contra
exposição durante um combate a incêndio podem incluir aplicação de jatos neblinados entre
fachadas, aplicação de jatos moles em superfícies aquecidas, dentre outras.
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 295

2.4.1 Evacuação imediata

Considerando que os militares completamente equipados com EPI e


EPR não possuem condições de realizar uma triagem adequada de vítimas na zona
quente, é necessário que um plano de evacuação emergencial seja adotado. As
vítimas que conseguem se locomover sem ajuda devem ser orientadas a deixarem
a edificação (caso haja condições para tal). Em seguida, devem ser retiradas as
vítimas que estejam em situação na qual haja menores obstáculos ou menor
demanda de recursos logísticos para seu salvamento. Por fim, deve-se abordar as
vítimas que necessitarem de técnicas mais elaboradas e trabalhosas para sua
retirada. Essa iniciativa visa, objetivamente, preservar o maior número de vidas
possível em um ambiente sinistrado. As vítimas devem ser direcionadas à Área de
Concentração de Vítimas (ACV), onde uma triagem adequada deve ser realizada
para fins de tratamento e transporte, conforme ITO 23 (CBMMG, 2017).

2.4.2 Combate preliminar

Há casos, porém, em que a priorização das ações ocorrerá no sentido


de, preliminarmente, realizar o combate às chamas e, somente após a situação
contornada, iniciar o processo de evacuação. Cabe ao Comando da Operação,
devidamente assessorado por seu Staff, realizar um dimensionamento de cena
adequado, uma eficiente avaliação dos riscos e recursos disponíveis para, então,
decidir pela melhor abordagem que garanta maior chance de sobrevivência aos
ocupantes.

2.5 Execução

Consiste em colocar em prática o plano estabelecido, seja o de realizar


o salvamento de vítimas, seja o de priorizar o combate preliminar às chamas.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 296

2.6 Controle e monitoramento

O controle é estabelecido pelo Comandante da Operação e seu Staff e


visa manter a execução eficaz das ordens emanadas pelo Comandante e
progressiva redução das ameaças do ambiente. A todo momento o cenário deve
ser monitorado e as condutas adotadas devem ser reavaliadas. Havendo novas
ocorrências ou fatos que tragam riscos adversos à operação, o ciclo deve ser
reiniciado em uma nova avaliação e nova definição de estratégias.

3 TIPOS DE BUSCA

Há dois momentos em uma operação de incêndio quando devem ser


realizadas as buscas por vítimas. Para cada um desses momentos pode-se
empregar as técnicas conforme descrito adiante.

3.1 Busca Primária

Simultaneamente às ações de combate, ventilação ou proteção contra


exposições podem ser realizadas buscas que visem identificar, ainda que
preliminarmente, se há vítimas vivas para serem salvas. Embora as guarnições
devam realizar a busca da forma mais minuciosa possível, há que se considerar a
necessidade dessas ações serem realizadas com agilidade, a fim de não
comprometerem a eficiência do combate ao incêndio. Nos casos em que a
disponibilidade de efetivo permita a realização de ações simultâneas, a equipe de
busca poderá realizar sua tarefa de forma mais minuciosa, mas tendo sempre em
mente que o incêndio ainda não foi debelado e que o risco para as equipes de
salvamento envolvidas permanece considerável.

A varredura em um cômodo, caso haja pouca visibilidade, deve ser


realizada, no mínimo, em dupla. Nessa situação, um militar ficará posicionado na
porta do cômodo, com uma lanterna que auxiliará como referência, enquanto o outro
militar deverá guiar-se por uma parede, nunca perdendo o contato com a mesma,
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 297

tentando atingir a maior área possível do cômodo através do tato ou do emprego de


ferramentas para prolongamento do alcance. O militar deve avançar
progressivamente, até retornar para a mesma abertura que utilizou como entrada.

A busca deve ser direcionada para locais de maior probabilidade de


localização de vítimas, como debaixo de camas, dentro de armários, em banheiros,
sob amontoado de roupas, etc. Recomenda-se que durante a varredura os móveis
não sejam arrastados a longas distâncias para evitar a desorientação da equipe
(figura 8.1).

Figura 8.1 – Varredura em ambiente de incêndio

Fonte: Autor

3.1.1 Técnica de Busca (acesso por fora da edificação) – VEIS

A técnica de busca VEIS (Vent, Enter, Isolate, Search) consiste nas


seguintes etapas:

V (Vent - Ventilar) – consiste em providenciar uma abertura de ventilação


para saída de gases quentes do interior de um cômodo tomado por fumaça.
Geralmente são realizadas aberturas de janelas ou portas, pelas quais a equipe de
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 298

salvamento deverá entrar no ambiente (figura 8.2). Essa abertura deve ser realizada
imediatamente antes da entrada, para evitar ventilar o ambiente durante um período
não controlado.

Figura 8.2 – “V” (Vent) Ventilar o ambiente

Fonte: Autor

E (Enter – Entrar) – Consiste em realizar a entrada no ambiente. Deve


ser procedida com a devida segurança, verificando se não há vítimas ou obstáculos
imediatamente no piso de entrada, bem como verificar a integridade do piso no qual
o bombeiro irá se posicionar, para evitar acidentes com a guarnição envolvida no
salvamento (figura 8.3). Assim que um bombeiro entra no ambiente, outro militar
deve se posicionar na mesma entrada, devendo permanecer parado nessa
abertura, atuando como ponto de apoio àquele que realiza a busca.

Figura 8.3 – “E” (Enter) Entrar no ambiente

Fonte: Autor
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 299

I (Isolate – Antiventilar) – Uma vez que o bombeiro esteja no interior do


cômodo, deve-se, sem perder o contato com a parede, localizar a outra abertura
(porta, por exemplo) que esteja permitindo a entrada de fumaça e produtos da
combustão para o interior do cômodo. Localizada essa porta, ela deverá ser
imediatamente fechada, impedindo o fluxo de gases para aquele ponto. Caso o
acesso dos bombeiros a esse cômodo seja realizado por escada, é imprescindível
que haja, além do bombeiro na abertura servindo como ponto de apoio, outro militar
mantendo a escada estável (figura 8.4). Caso a escada esteja devidamente
ancorada, esse terceiro militar pode ser dispensado.

Figura 8.4 – “I” (Isolate) Interromper o fluxo de fumaça (antiventilar)

Fonte: Autor

S (Search – Buscar) – Com o cômodo devidamente antiventilado o


bombeiro deverá dar continuidade às ações de busca, tateando o solo com a mão
ou com alguma ferramenta (utilizando o cabo de um machado, por exemplo) a fim
de tentar localizar alguma vítima no interior do cômodo em questão (figura 8.5).
Caso seja localizada a vítima, a equipe de salvamento passará a adotar alguma
técnica de salvamento para evacuação segura do ambiente.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 300

Figura 8.5 – “S” (Search) Buscar por meio de varredura

Fonte: Autor

3.1.2 Técnica de Busca (acesso por dentro da edificação)

Fundamenta-se nos mesmos princípios da VEIS, com a diferença de que,


inicialmente, o militar e o seu dupla deverão entrar (E) no cômodo a ser buscado
(figura 8.6).

Figura 8.6 – Acesso por dentro do cômodo (E)

Fonte: Autor

Imediatamente, a porta transposta deverá ser fechada (I) para


interromper o fluxo de fumaça para o interior do cômodo a ser buscado (figura 8.7).
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 301

Figura 8.7 – Interrupção do fluxo de fumaça (I)

Fonte: Autor

Em seguida, deverá localizar uma janela e realizar sua abertura, a fim de


prover exaustão dos gases naquele cômodo, concluindo as ações de antiventilação
(V) (figura 8.8).

Figura 8.8 – Exaustão da fumaça (Antiventilação)

Fonte: Autor

A partir desse ponto, deverá ser realizada a varredura (S) no cômodo em


busca de vítimas, até percorrer toda a extensão do ambiente (figura 8.9).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 302

Figura 8.9 – Busca (S)

Fonte: Autor

Caso não haja visibilidade, o bombeiro não deverá soltar uma das mãos
da parede, para não perder sua orientação. Seu dupla deverá permanecer na porta
para servir de referência por meio da voz e luz de lanterna para seu colega.
Concluídas as ações de busca, a equipe poderá partir para um outro cômodo,
deixando a janela de saída da fumaça aberta e a porta do cômodo fechada.

Havendo disponibilidade desse equipamento, a câmera térmica deve ser


utilizada como suporte nas ações de busca. O padrão de visibilidade apresentado
pelas câmeras térmicas pode ser entendido na figura 8.10.

Figura 8.10 – Emprego da câmera térmica

Fonte: Bar Council, 2019


CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 303

3.1.3 Identificação de entradas – Padrão FEMA2

Em operações de maior vulto, com locais em que haja múltiplos cômodos


a serem examinados e buscados, para fins de melhor identificação e segurança dos
demais envolvidos, emprega-se a metodologia FEMA de marcação de portas, da
seguinte forma:

Antes de adentrar o ambiente, deve-se realizar uma marcação diagonal


e, se possível, indicar a data e hora de acesso e chefe de equipe (nesse exemplo,
Sargento Fulano – Sgt FLN3), como apresentado na figura 8.11.

Figura 8.11 – Marcação de entrada

Fonte: Autor

2 FEMA – Federal Emergency Management Agency.


3 Um método de identificação e abreviação de nomes tem sido atualmente utilizado no Batalhão de
Operações Aéreas do CBMMG. Ele consiste em utilizar três letras do nome de guerra do militar para
facilitar a velocidade de comunicação e identificação do bombeiro. A partir desse método, o nome:
Sgt Fulano pode ser resumido a Sgt FLN, por exemplo. Para o emprego dessa metodologia de
abreviação, porém, os demais integrantes da equipe devem estar treinados e familiarizados com os
nomes.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 304

Ao terminarem as ações de busca, deverá ser realizada uma outra


marcação diagonal, concluindo um “X”, com a identificação de que aquele local já
foi primariamente varrido. Se possível, deve ser colocada a data e hora de saída
(figura 8.12).

Figura 8.12 – Marcação de saída

Fonte: Autor

Havendo disponibilidade e tempo para tal, a dupla que realizou a busca


pode complementar as informações na marcação da porta quando sair, indicando
riscos diversos e situação de vítimas encontradas. A figura 8.13 apresenta como
indicações de exemplo: 4 – L significa quatro vítimas vivas (live) e 0 – D significa
nenhuma vítima morta (dead). Se nenhuma vítima for encontrada, deverá realizar a
inscrição “0”, apenas.
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 305

Figura 8.13 – Informações complementares

Fonte: Autor

Na sequência de imagens apresentadas acima, a equipe do ‘Sgt Fulano’


(SGT FLN) entrou no cômodo às 07h15min, do dia 17 de junho de 2019, e saiu às
07h32min; encontrou, como riscos, cacos de vidro quebrados no chão; e quatro
vítimas foram encontradas vivas e nenhuma vítima morta.

3.2 Busca Secundária

A busca secundária deve ser efetuada após as ações de combate ao


incêndio, podendo ser realizada simultaneamente com as ações de rescaldo, caso
haja efetivo para tal. Na busca secundária o objetivo é garantir que todos os pontos
da edificação sejam minuciosamente observados, a fim de confirmar a inexistência
de vítima naquele ambiente.

Por se tratarem de ações mais detalhadas, conjugar iniciativas de


ventilação pode facilitar a visibilidade do local para os militares envolvidos nas
buscas. Preferencialmente, para minimizar os “vícios” da busca no ambiente, as
equipes que realizam as buscas secundárias devem ser diferentes daquelas que
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 306

realizam as buscas primárias, não deixando nenhum ponto sem uma cuidadosa
observação.

Ainda seguindo a metodologia de identificação FEMA, quando uma nova


busca for realizada no cômodo, a marcação anterior deve ser riscada em forma de
cruz (figura 8.14) e deve ser realizada uma nova inscrição, seguindo os mesmos
passos anteriores (FEMA, 2006).

Figura 8.14 – Marcação de busca secundária finalizada

Fonte: Autor

3.3 Formas de evacuação emergencial

A evacuação de um ambiente sinistrado é a primeira e crucial etapa que


garante um efetivo salvamento de vítimas. Há que se considerar, porém, que em
alguns casos não será possível realizar a retirada de todos os ocupantes antes de
ser realizado o combate/controle do incêndio, uma vez que a própria rota de fuga
poderá estar em chamas, o que torna a evacuação total da edificação uma
alternativa inviável.
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 307

Diante desse possível cenário, o Comandante da Operação (CO) precisa


ter o seguinte objetivo em mente: cada ocupante da edificação precisa chegar e
permanecer em algum ponto seguro, que não venha a ser atingido pelo incêndio,
ou que não cause lesões significativas pelo contato com as chamas, fumaça ou
outros produtos da combustão.

3.3.1 Evacuação completa

É a forma ideal de retirada das vítimas de um ambiente sinistrado. Nesse


tipo de evacuação todos os ocupantes da edificação serão retirados do ambiente
sinistrado, devendo ser devidamente alocados na Área de Concentração de
Vítimas, instalada na Zona Fria (fora de riscos) do incidente. Para a evacuação
completa, o Comandante da Operação deve realizar uma avaliação do tempo de
propagação de chamas, condições de saída, obstruções das rotas de fuga, dentre
outras já citadas.

A evacuação de vítimas em incêndios deve buscar sempre utilizar as


rotas de fuga já existentes na edificação, como rampas, acessos e escadas. Na
impossibilidade dessas, devem ser empregadas rotas de fuga alternativas ou mais
elaboradas, como as técnicas de rapel ou tirolesa.

Elevadores comuns não devem ser utilizados para acesso de bombeiros,


tampouco para evacuação de pessoas. No início da operação de combate a
incêndio eles devem ser posicionados no andar térreo da edificação, com as portas
travadas abertas e, se possível, com a alimentação de energia cortada.

3.3.2 Alternativas para a evacuação completa

Em casos em que não seja possível conduzir uma evacuação completa,


o Comandante da Operação poderá adotar alguma destas alternativas:

Realocação: depois de realizada a avaliação e dimensionamento da


cena, uma área de relativa segurança deve ser escolhida para realocação das
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 308

vítimas até que as ações de combate e controle atinjam o sucesso em debelar o


incêndio.

Permanência no ambiente: aplicada nos casos em que a


movimentação de vítimas apresenta grande dificuldade, como em hospitais. A
permanência de vítimas em um ambiente só poderá ser realizada se for
devidamente conjugada com técnicas de antiventilação e efetiva proteção do
ambiente onde as vítimas permaneçam, até que as ações de combate e controle do
incêndio permitam a evacuação adequada desses ocupantes.

Evacuação progressiva: a evacuação progressiva pode ser realizada


de diversas formas e deve ser muito bem alinhada com mecanismos de controle do
pânico dos ocupantes. Uma priorização pela evacuação dos andares mais próximos
ao atingido pelo incêndio permitirá um fluxo mais dinâmico de movimentação do
pessoal, minimizando os danos oriundos de processos de evacuação violentos,
como o pisoteamento, dentre outros.

Assim, como quaisquer outras formas de evacuação, essa também deve


estar devidamente alinhada com técnicas eficientes de combate e controle do
incêndio, acompanhada de uma constante avaliação das mudanças do cenário.

4 TÉCNICAS DE SALVAMENTO

Uma vez que os riscos estejam devidamente controlados a ponto de


permitirem o início de ações de salvamento, os militares poderão adotar algumas
das técnicas adiante apresentadas:

4.1 Com uso de cordas

Em seguida serão apresentadas técnicas mais comuns de salvamento


com uso de cordas.
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 309

4.1.1 Rapel com vítima

Havendo condições para o estabelecimento de um ponto de ancoragem


confiável e equipamentos de salvamento em altura suficientes para montagem de
uma rota de fuga segura, o rapel com vítima poderá ser realizado (figura 8.15).

Figura 8.15 – Rapel com vítima

Fonte: Autor

4.1.2 Descida guiada

A fim de dinamizar o processo de evacuação de vítimas em edificações


verticais, poderá ser utilizada a rota de fuga para a descida guiada de vítimas, sem
o acompanhamento de um bombeiro como socorrista. Tal técnica pode ser
visualizada na figura 8.16.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 310

Figura 8.16 – Descida guiada

Fonte: Autor

4.1.3 Tirolesa

Assim como a descida guiada, a tirolesa pode ser estabelecida como


uma rota de fuga rápida para evacuação de uma quantidade maior de vítimas (figura
8.17). Para quaisquer formas de evacuação por meio de salvamento em altura é
importante que sejam oferecidos os devidos equipamentos de proteção individual
às vítimas.

Figura 8.17 – Tirolesa

Fonte: Autor
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 311

4.1.4 Teleférico

Similar à tirolesa, porém sem a necessidade de realizar o tensionamento


da corda para a montagem do sistema. Seus elementos estão dispostos na figura
8.18.

Figura 8.18 – Teleférico

Fonte: Autor

4.2 Sem uso de cordas

Em edificações horizontais, ou até que se atinja o ponto da rota de fuga


em edificação vertical, técnicas de transporte de vítimas, como as definidas abaixo,
poderão ser adotadas

4.2.1 Rastejo de bombeiro

Considerando que o ambiente incendiado possui maiores temperaturas


e concentração de gases aquecidos nos terços superiores, a evacuação por meio
do rastejo aumenta a possibilidade de sobrevivência de vítimas que não possuam
sistemas autônomos de respiração ou equipamentos de proteção individual. Deve-
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 312

se amarrar os punhos da vítima com nó de algema (figura 8.19) e, em seguida, o


socorrista deverá passar a cabeça por dentro da alça formada pela união dos braços
da vítima e iniciar o rastejo (figura 8.20).

Figura 8.19 – Nó de algema Figura 8.20 – Rastejo de bombeiro

Fonte: Autor Fonte: Autor

4.2.2 Transporte tipo bombeiro

Técnica utilizada quando é necessário desenvolver maior velocidade de


evacuação da vítima, e em cenários nos quais os terços superiores por onde
passarão as vítimas não estejam superaquecidos ou com concentração de gases
tóxicos produtos da combustão (figura 8.21).

Figura 8.21 – transporte tipo bombeiro

Fonte: Autor
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 313

4.2.3 Cadeira

Técnica utilizada por uma dupla de bombeiros para retirada de vítimas


conscientes, mas com dificuldades de locomoção (figura 8.22). Na sua execução
devem ser levadas em conta as possíveis adversidades como riscos de queimadura
ou intoxicação por gases tóxicos produtos da combustão presentes na rota de fuga.

Figura 8.22 – Técnica da cadeira

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 314

4.2.4 Retirada pela escada de mão

Em edificações verticais, que permitam alcance da escada das viaturas,


as vítimas poderão ser assistidas por um bombeiro durante o processo de descida
de uma escada posicionada em uma sacada ou janela da edificação (figura 8.24).

Essa mesma técnica pode ser utilizada para casos de vítimas


inconscientes (figuras 8.25 e 8.26), desde que haja apoio de outro militar para o
devido posicionamento da vítima nos braços do bombeiro socorrista. É importante
ressaltar a necessidade de ancoragem da escada ou suporte por outro bombeiro,
caso não haja possibilidade de ancoragem (figura 8.23).

Figura 8.23 – Suporte da escada e acesso à vítima

Fonte: Autor
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 315

Figura 8.24 – Retirada com apoio pela escada – vítima consciente

Fonte: Autor

Figura 8.25 – Retirada pela escada - vítima inconsciente

Fonte: Autor

Figura 8.26 – Retirada pela escada - vítima inconsciente

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 316

4.3 Salvamento com fitas

Anéis de fitas tubulares ou, na falta desses, cabos solteiros, podem ser
utilizados para amarração emergencial de uma vítima para que possa ser
transportada até o ponto da rota de fuga. O processo de passagem de fita está
apresentado na figura 8.27.

Figura 8.27 – Salvamento com fitas

Fonte: Autor
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 317

4.4 Uso do respirador de fuga (Capuz de carona)

A NBR 12543 define como respirador de fuga o que atualmente tem sido
tratado como capuz de carona pelo CBMMG. É o equipamento que protege uma
eventual vítima durante a evacuação contra a inalação dos produtos tóxicos
liberados em um incêndio (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2017).

O sistema é ativado de forma rápida e simples, por meio da colocação


do capuz na cabeça da vítima e o acoplamento da mangueira ao EPR do bombeiro,
liberando desta forma, o fluxo de ar para a pessoa que será resgatada (figura 8.28).

Figura 8.28 – Respirador de Fuga (Capuz de carona)

Fonte: Autor

5 SITUAÇÕES ESPECIAIS

Há situações em que poderá ser necessário proceder a um abandono


emergencial de área sinistrada ou, ainda, empregar técnicas de salvamento nos
próprios membros da equipe que se encontrem encurralados. Para esses casos,
sugere-se as abordagens apresentadas a seguir.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 318

5.1 Autossalvamento

Em ambientes sinistrados os bombeiros envolvidos no combate podem


se encontrar em situações em que fiquem encurralados pelo fogo ou por novas
condições de risco apresentadas pelo ambiente, momento em que devem iniciar um
processo de autossalvamento para garantirem sua integridade física.

Em edificações horizontais, o autossalvamento será realizado por meio


do rápido deslocamento para alguma rota de fuga, fechando as portas atrás de si
para retardar a propagação das chamas. A mangueira da linha de ataque é um
referencial para o deslocamento até o ambiente exterior, caso não tenha sido
montada uma linha com uso de hidrante interno.

Caso a equipe se encontre encurralada em edificações verticais, poderá


adotar algumas das seguintes técnicas:

5.1.1 Rapel emergencial

Munidos de equipamentos mínimos de salvamento, os militares podem


providenciar uma ancoragem emergencial para realização da rota de fuga. A figura
8.29 demonstra uma ancoragem emergencial realizada apenas com alavanca
Halligan.

Figura 8.29 – Exemplo de ancoragem emergencial com Halligan

Fonte: Autor
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 319

Figura 8.30 – Rapel emergencial

Fonte: Autor

É importante salientar que, uma vez tensionada, como demonstrado na


figura 8.30, a corda não deve ser afrouxada, sob risco de ocorrer acidentes.

5.1.2 Evacuação pela mangueira

Caso haja algum ponto na edificação que permita uma ancoragem


emergencial da mangueira, ela poderá ser utilizada como suporte para que os
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 320

militares evacuem o ambiente escorregando pela mangueira, cruzando braços e


pernas para evitar acidentes no percurso, como demonstrado na figura 8.31.

Figura 8.31 – Evacuação pela mangueira

Fonte: Autor

5.1.3 Evacuação pela escada de mão

Se uma escada estiver devidamente posicionada e ancorada ou apoiada


por outro militar em um ponto que permita a fuga, os bombeiros poderão utilizá-la
como rota de fuga, posicionando um dos braços entre os primeiros degraus e
girando o corpo, para assumirem uma rápida posição de fuga. Em seguida, podem
escorregar pela escada, para agilizar a saída e a liberação da rota para outros
bombeiros, como demonstrado na figura 8.32.
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 321

Figura 8.32 – Evacuação pela escada de mão

Fonte: Autor

Destaca-se que todas as técnicas de aqui apresentadas, tanto de


salvamento quanto autossalvamento, são complexas e devem ser empregadas
apenas em situações extremas. Devem ser intensamente treinadas pelos
bombeiros e utilizadas apenas quando outras formas mais seguras de evacuação
não puderem ser adotadas.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 322

5.2 Salvamento de bombeiros acidentados

Nos casos em que os próprios bombeiros empenhados na operação


necessitem de salvamento, uma equipe de intervenção rápida4 deve ser alocada
para essa finalidade. A equipe que se desloca para um salvamento de um bombeiro
deve estar munida de ferramentas como alavancas, machados e machadinhas para
conseguir retirar eventuais escombros que estejam sobre o militar. Devem possuir,
ainda, equipamentos de salvamento que permitam o rápido transporte do
acidentado, como fitas tubulares ou cabos solteiros, além de equipamentos de
comunicação e, se possível, cilindro extra de ar comprimido.

Há roupas de aproximação que possuem uma alça de arraste


emergencial, pela qual um bombeiro em perigo pode ser arrastado para fora de uma
zona de risco (figura 8.33).

Figura 8.33 – Alça de transporte da roupa de aproximação

Fonte: Autor

4Equipe de Intervenção Rápida – é uma equipe estabelecida com o único propósito de realizar o
salvamento de outros bombeiros acidentados em um ambiente de incêndio (DAVID SCHOTTKE,
NFPA, IAFC, 2014). Em grandes operações de incêndio, sempre que possível, uma dupla de
militares deve ser designada especificamente para essa função, devendo permanecer em condições
de emprego, sem realizar outras ações (combate, abastecimento, etc.).
CAPÍTULO 8 – SALVAMENTO EM INCÊNDIO 323

Caso o bombeiro acidentado esteja com pouco suprimento de ar, deverá


ser realizado o acoplamento de sua válvula de demanda no carona do socorrista.

6 EQUIPAMENTOS ESSENCIAIS PARA SALVAMENTO E


AUTOSSALVAMENTO

Para a garantia de execução de tarefas mínimas de salvamento e


autossalvamento, a equipe deve dispor de ao menos uma alavanca de aço
(Halligan, por exemplo), e cada militar dessa equipe deve possuir, no mínimo, os
seguintes itens, todos devidamente homologados e certificados para trabalhos de
salvamento:

a) duas fitas tubulares de, pelo menos, cinco metros cada. Uma para
confecção de um assento emergencial, caso seja necessário, e outra
para amarrações diversas, tanto em vítimas quanto em pontos de
ancoragem emergencial;
b) dois mosquetões;
c) um freio descensor (oito, stop, ID, etc).

Além dos materiais acima citados, devem ser providenciados


equipamentos específicos de acordo com cada técnica de salvamento adotada,
como cordas, polias, anéis de fita, cordins, macas, dentre outros.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 324

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12543:


Equipamentos de proteção respiratória - Classificação. ABNT. Rio de Janeiro -
RJ, p. 38. 2017.

BAR COUNCIL. FLIR K2 — RUGGED, RELIABLE, 2019. Disponivel em:


<https://bangladeshbarcouncil.org/2019/06/flir-k2-rugged-reliable/>. Acesso em: 04
de dezembro de 2019.

DAVID SCHOTTKE, NFPA, IAFC. Fundamentals of Fire Fighter Skills. 3ª. ed.
Quincy, MA: NFPA, 2014.

FEMA. National Urban Search & Rescue (US&R) Response System - RESCUE
FIELD OPERATIONS GUIDE. Washington - DC: Federal Emergency Management
Agency (FEMA), 2006.

FIRE ENGINEERING. Fire Engineering's handbook for firefighter I & II - Skill


Drills. 2013 update. ed. Tulsa, Oklahoma: [s.n.], v. I & II, 2013.

NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 1500, Standard on Fire


Department Occupational Safety, Health, and Wellness Program. NFPA.
Quincy - MA, p. 134. 2018.

NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 80 A, Recommended


Practice for Protection of Buildings from Exterior Fire Exposures. NFPA.
Quincy - MA, p. 23. 2017.
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 325
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 326

Página deixada intencionalmente em branco


CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 327

CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA


Autor – 2º Sgt Lopes

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 328

2 ATMOSFERA ............................................................................................... 329

3 NATUREZA DA VENTILAÇÃO .................................................................... 331

4 FUMAÇA ...................................................................................................... 334

5 VENTILAÇÃO TÁTICA ................................................................................ 335

5.1 Ventilação natural ....................................................................................... 338

5.2 Ventilação vertical ...................................................................................... 339

5.3 Ventilação horizontal .................................................................................. 342

5.4 Ventilação forçada ...................................................................................... 344

5.4.1 Ventilação por Pressão Negativa (VPN) mecânica .................................. 345

5.4.2 Ventilação por Pressão Negativa (VPN) hidráulica .................................. 347

5.4.3 Ventilação por Pressão Positiva (VPP) mecânica .................................... 348

5.4.4 Sequência para aplicar VPP ....................................................................... 352

5.5 Tamanhos de aberturas de entrada e saída na ventilação...................... 353

6 ANTIVENTILAÇÃO ...................................................................................... 356

7 CUIDADOS NA VENTILAÇÃO .................................................................... 360

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 362
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 328

1 INTRODUÇÃO

Ventilação é o processo de renovação do ar atmosférico no interior de


edificações. É um processo natural e necessário para manter a qualidade e conforto
dos ocupantes das edificações e seu processo baseia-se no fluxo das correntes de ar
nos planos horizontal e vertical. O fluxo de ar que entra ou sai do edifício depende da
diferença de pressão do ar entre os ambientes internos e externos, da resistência ao
fluxo de ar oferecida pelas aberturas e obstruções internas e, ainda, de uma série de
implicações relativas à incidência do vento e forma do edifício (RODRIGUES, 2018).

Via de regra, as edificações possuem condições estruturais propícias à


ventilação, seja pela existência de janelas, torres de circulação de ar, ou até
complexos sistemas de ventilação artificial através de dutos. O fato é que em toda
construção, em regra, ocorre ventilação, seja natural ou mecânica.

O princípio fundamental da ventilação em incêndios consiste em tentar,


ativamente, modificar as condições de pressão existentes em uma edificação em
chamas com o objetivo de exaurir os gases provenientes do incêndio, promovendo
uma retirada sistemática da fumaça, através de um caminho na edificação que não
cause maiores danos ou propagação do incêndio (SVENSSON, 2005 e GOMES,
2005, apud BORELI, 2018).

O ar quente, fumaça e produtos resultantes de um incêndio, devem ser


removidos do interior de um edifício, dados os riscos que implicam para os seus
ocupantes, possibilidade de propagação do incêndio e as dificuldades adicionais para
as operações de salvamento e ataque ao incêndio (GOMES, 2005). O caminho
adotado para o fluxo desses gases, porém, precisa ser determinado pela guarnição
de bombeiros no local, buscando promover a extração desses de uma maneira que
traga o menor prejuízo possível à edificação e o menor risco possível de propagação
do incêndio (GRIMWOOD, 2008 apud BORELI, 2018).
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 329

2 ATMOSFERA

Condições atmosféricas influenciam os processos de ventilação.


Independente do sistema de ventilação utilizado, tais condições são determinantes na
escolha do melhor processo. Por exemplo, o processo de ventilação natural em uma
construção baixa possui comportamento diverso do utilizado em uma construção alta,
devido à condição da diminuição da pressão atmosférica e aumento da intensidade
das correntes de vento com o ganho de altitude (figura 9.1). Ademais, a fachada da
edificação que recebe a corrente de vento (barlavento1) possui maior pressão que o
lado oposto ao fluxo (sota-vento).

Figura 9.1 – Forças dos ventos em edificações

Fonte: Watanabe, 2018

1 Barlavento e Sota-vento são termos de origem náutica que se referem ao lado da embarcação de
onde e para onde sopra o vento, respectivamente. Este termo é incorporado em engenharia para
direcionamento no estudo dos ventos.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 330

Por definição, considerando o caminhamento do fluxo de ar, a


ventilação será do tipo unilateral, cruzada ou por “efeito chaminé”.

A ventilação cruzada é a circulação do ar através de aberturas situadas


em lados opostos de um ambiente.

A ventilação unilateral é aquela que ocorre através de aberturas situadas


em um único lado de um ambiente.

Já no “efeito chaminé” a ventilação é feita considerando apenas as


diferenças de pressão originadas das diferenças de temperatura do ar interno e
externo ao edifício. Os ganhos de calor a que um edifício está submetido ocasionam
a elevação de temperatura do ar contido no seu interior. O ar aquecido torna-se menos
denso e com uma tendência natural à ascensão. Se um recinto dispuser de aberturas
próximas ao piso e próximas ao teto ou no teto, o ar interno, mais aquecido que o
externo terá a tendência de sair pelas aberturas altas, enquanto o ar externo, cuja
temperatura é inferior à do interno, encontrará condições de entrar pelas aberturas
baixas (RODRIGUES, 2018).

Os diversos tipos de ventilação estrutural estão dispostos na figura 9.2.

Figura 9.2 – Tipos de ventilação estrutural

Fonte: Lamberts e Triana, 2006 apud Rodrigues, 2008


CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 331

3 NATUREZA DA VENTILAÇÃO

O fenômeno da ventilação em edificações pode ser conhecido através de


um processo simplificado. Os edifícios são projetados para comportar pessoas e
objetos em seu interior. Pessoas e objetos, em condições normais, trocam calor com
o ambiente que, ao ser aquecido faz com que o ar do compartimento absorva essa
energia, e como consequência aumente sua temperatura.

Dos conceitos físicos, tem-se que a matéria, ao receber energia térmica,


sofre dilatação, aumentando seu volume e diminuindo a densidade. Naturalmente,
devido à diferença de temperatura, o ar aquecido é menos denso que o ar fresco,
ocasionando um fluxo de convecção contínuo até ocorrer o equilíbrio térmico dentro
do compartimento.

Gases possuem a característica do livre fluir. Não possuem forma definida,


permitindo ocupar todos os espaços livres de um recinto quando confinados. O fluido
aquecido e com maior volume, devido à dilatação, exerce maior força nas paredes do
compartimento, resultando no aumento da pressão interna. Sob influência do
ambiente de maior pressão, o fluido tende a se deslocar para um ambiente de menor
pressão, justificado pela busca natural do equilíbrio entre os ambientes. Existindo uma
abertura que permita o escoamento desse fluido aquecido para um ambiente com
menor pressão, este fluirá, provocando uma baixa pressão na zona próxima do piso,
forçando o deslocamento de uma nova massa fluida do exterior para o interior do
compartimento. Dessa forma, haverá fornecimento de ar fresco para o interior, num
fluxo que renovará o ar respirável no ambiente (figura 9.3).

Pode-se intuir que a dinâmica da ventilação, nesse caso, decorre das


diferenças de pressão entre a edificação, seus espaços internos e o ambiente ao seu
redor.

Dinâmica similar ocorrerá no caso de incêndio em edificações, porém, com


grande incremento de energia térmica. A queima do combustível libera gases quentes
que, pelo processo de empuxo, sobem, criando uma zona de baixa pressão próxima
ao foco do incêndio, “sugando” para a zona de reação mais ar fresco. Esse processo
cria um fluxo convectivo. Os gases quentes provenientes da combustão sobem até o
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 332

teto e passam a percorrer horizontalmente o compartimento até encontrarem as


delimitações das paredes.

Figura 9.3 – Ciclo de convecção do ar em edificação

Fonte: Ministério do Meio Ambiente, 2020

Como exemplo, em edificações com ambientes compartimentados, as


diferenças de pressão ocorrem entre os diferentes compartimentos do edifício e
também entre o seu interior e exterior, como resultado das diferenças na temperatura
dos gases de combustão. Se a fumaça encontrar um caminho de saída, ela seguirá o
fluxo natural de maior para menor pressão, saindo do compartimento e abrindo
passagem para a entrada de mais ar fresco que sustentará a queima (figura 9.4).

Figura 9.4 – Diferenças de pressão em cômodos incendiados

Nota: na figura pode-se visualizar que acima do foco de incêndio a pressão é maior, devido à expansão
dos gases no ambiente fechado, espalhando-se ao longo do teto do compartimento. De forma oposta,
mais próximo ao piso encontra-se uma zona de menor pressão. Note que a linha diagonal simboliza o
ponto de equilíbrio de pressão no compartimento.

Fonte: Adaptado de Botta, 2011


CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 333

Fisicamente, esse processo dinâmico que envolve os fluidos (fumaça, ar


fresco e vapor d’água) decorrentes do fogo e das operações de extinção se justificam
basicamente em duas causas (ARNALICH, 2015):

a) flutuabilidade;
b) diferenças de pressão entre o interior e o exterior do compartimento
incendiado.

A flutuabilidade de um fluido está diretamente ligada à sua densidade. Um


fluido menos denso que a massa de fluido que o rodeia recebe na parte inferior uma
pressão maior do meio circundante do que recebe na parte superior, razão pela qual
tende a flutuar. Já as diferenças na densidade podem ser devidas a dois motivos:
composição química diferente e temperatura diferente (ARNALICH, 2015).

O fluxo de gás tenderá a equalizar as pressões criadas pelas diferenças de


densidades, temperatura e agentes externos, tais como correntes de ar, ventiladores
de pressão positiva ou exaustores, que afetam as aberturas do compartimento para o
exterior. No entanto, esse movimento dos fluidos para áreas de menor pressão
também é condicionado pelo efeito de flutuação dos gases (efeito chaminé e
caminhamento horizontal no teto).

Se o movimento dos gases simplesmente obedecesse aos diferenciais de


pressão, as camadas superiores da fumaça (a pressão mais alta) tentariam se
deslocar para as áreas inferiores abaixo do plano neutro (pressões mais baixas). Isso,
na realidade, não ocorre devido ao efeito flutuante dos gases de combustão em alta
temperatura e, portanto, dotados de baixa densidade (ARNALICH, 2015).

O uso de ventiladores de pressão positiva ou exaustores envolverá a criação


de um diferencial de pressão. Os fluidos passarão de áreas de maior pressão
para áreas de menor pressão seguindo o caminho mais curto.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 334

4 FUMAÇA

Conforme visto anteriormente, o fogo produz e aquece os gases, fazendo


com que eles subam devido ao empuxo. Em ambientes confinados esses gases se
acumulam no teto e se espalham horizontalmente pelo compartimento até o limite das
paredes. Não encontrando qualquer saída, os gases irão tomar todo o recinto vindo a
comprimir o restante do ar em direção ao solo. Esses gases oriundos do processo de
combustão são denominados fumaça.

A fumaça tornou-se uma preocupação nos incêndios estruturais, pois


estudos constataram que ela, por suas características específicas, é um fator de
grande influência na dinâmica do incêndio (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO
DISTRITO FEDERAL, 2012).

Atribui-se à fumaça cinco características: quente, opaca, móvel, inflamável


e tóxica, como se explica a seguir (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO
SANTO, 2014):

Quente: sendo um produto da combustão, a fumaça possui alta energia


térmica;

Opaca: seus produtos, principalmente a fuligem, permanecem suspensos


na massa gasosa, dificultando a visibilidade para bombeiros e vítimas;

Móvel: a fumaça é um fluido quente em expansão. Devido ao empuxo a


fumaça sofre o efeito de convecção. O deslocamento desse fluido pode levar os
produtos da combustão bem como a energia térmica para outros ambientes,
propagando o incêndio para novos compartimentos;

Inflamável: em incêndios estruturais prevalece a combustão incompleta,


proporcionando produtos instáveis ainda capazes de reagir com o oxigênio. Assim, a
fumaça é combustível, podendo queimar ou até explodir;

Tóxica: os produtos decorrentes da combustão, tais como Monóxido de


Carbono (CO), Dióxido de Carbono (CO2), Ácido Cianídrico (HCN) dentre outros,
possuem propriedades asfixiantes e irritantes, prejudicando a respiração, podendo
causar morte de bombeiros e vítimas em poucos minutos.
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 335

Figura 9.5 – Características da Fumaça

Fonte: Autor

5 VENTILAÇÃO TÁTICA

De forma análoga ao sistema de ventilação estrutural, a ventilação tática


consiste no processo de retirar os produtos da combustão do interior da edificação,
substituindo-os por ar limpo e fresco. É uma ação coordenada, planejada e sistemática
que almeja promover a retirada da fumaça, num encaminhamento que não cause
maiores danos ou a propagação do incêndio na edificação sinistrada. Requer a
atenção no planejamento de intervenção desde o início do atendimento, pois é uma
ferramenta auxiliar no controle do incêndio, sendo utilizada inclusive no rescaldo.

Fazer uma ventilação tática adequada significa atingir os objetivos táticos


propostos pelo plano de ação desenvolvido, resultando em eficiência nas operações
de salvamento e extinção.

Paul Grimwood (2003 e 2008) elenca os seguintes objetivos ou razões para


ventilar:

a) ventilar pela vida: focado em proporcionar maior segurança nas ações


de busca e salvamento;

b) ventilar pelo fogo: focado no controle do fluxo de gases provenientes


do incêndio;

c) ventilar pela segurança: focado em garantir condições seguras para o


desempenho das ações de combate a incêndio.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 336

De acordo com Svensson (2005), a ventilação pode ser usada para:

a) redução da temperatura no interior da edificação, trazendo ar fresco e


maior sobrevida às potenciais vítimas;

b) maior controle do incêndio e redução de danos;

c) maior controle sobre o fluxo da fumaça, podendo inclusive direcioná-la,


atendendo as opções táticas do combate;

d) redução da velocidade de propagação, quando utilizada a


antiventilação ou o confinamento do fogo;

e) aumento da visibilidade, trazendo maior segurança nas operações de


busca e salvamento.

A ventilação tática controla o volume do fluxo de entrada e saída, direção e o


caminho que a fumaça e o ar fresco fazem dentro do edifício sinistrado.

A ventilação poderá ser realizada antes, durante ou ao final do combate,


dependendo da tática empregada pelos bombeiros. Porém, em qualquer caso, o
procedimento deverá ser realizado com cuidado, tendo em vista que o processo
de ventilação no local sinistrado acarreta fornecimento de ar limpo e fresco ao
incêndio.

Naturalmente, a ventilação tática fornecerá mais ar ao incêndio, trazendo


como consequência o aumento da intensidade do fogo. No entanto, se corretamente
aplicada, a ventilação tática tem um efeito positivo sobre os resultados de um incêndio.

Já no caminho inverso, manter o local confinado num processo chamado


de antiventilação, também pode proporcionar bons resultados no controle do incêndio
(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO, 2014; SVENSSON,
2005).

Nesse direcionamento, qualquer adentramento na edificação e


planejamento do uso da ventilação como ferramenta de combate e controle do
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 337

incêndio deverá ser pensado de forma que os trabalhos minimizem o agravo do


incêndio (figura 9.6).

Figura 9.6 – Abertura fornecendo ar fresco ao incêndio

Fonte: Autor

A ventilação pode ser classificada quanto à direção de fluxo do fluido,


vertical ou horizontal, e quanto ao método empregado, natural ou forçada (artificial).
Poderá, ainda, ser induzida por pressão positiva (utilizando-se ventiladores de
incêndio para injetar ar fresco no ambiente, ou pressão negativa (utilizando-se
exaustores ou linhas de mangueira “sugando” a fumaça do interior do ambiente). A
figura 9.7 apresenta de forma sintética os diferentes tipos de ventilação tratados no
combate a incêndio urbano ou estrutural.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 338

Figura 9.7 – Tipos de ventilação

Fonte: Autor

5.1 Ventilação natural

A Ventilação Natural é aquela que se utiliza dos acessos existentes na


edificação, tais como janelas, portas ou condutos de ventilação, ou ainda criando
acessos de forma a aproveitar o fluxo de ar existente no ambiente externo ao
compartimento (figura 9.8). Ela pode ser horizontal ou vertical e até a combinação dos
dois fluxos.

Figura 9.8 – Ventilação Natural

Fonte: Autor
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 339

Ao empregar ventilação natural, a direção do vento deverá ser observada,


para que a abertura de entrada do ar fresco seja a abertura que recebe o fluxo de ar
(barlavento), ficando a saída preferencialmente na direção oposta (sota-vento) (figura
9.9).

Figura 9.9 – Influência do vento em um incêndio

Fonte: Watanabe, 2018

A Influência do vento em um incêndio com aberturas para o exterior tem


grande relevância. A fachada de barlavento está sujeita a pressão em toda a sua
superfície, enquanto a fachada a sota-vento sofre uma redução na pressão.

5.2 Ventilação vertical

Quando se utiliza o processo convectivo para proporcionar a saída da


fumaça dos compartimentos das edificações pelas aberturas em cobertura ou
telhados emprega-se a Ventilação Vertical.

Sempre que possível, deve-se utilizar a tática de ventilação vertical, pois,


devido ao empuxo, o caminho vertical é a via natural percorrida pela fumaça.

Pode-se aproveitar os dispositivos já instalados na construção, tais como


claraboias, dutos de ventilação, portas de acesso à cobertura, dentre outros (figura
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 340

9.10). Medidas protetivas, tais como escadas protegidas e sistemas de controle de


fumaça, previstas pelo CBMMG na Instrução Técnica nº 08 – Saídas de emergência
em edificações e na Instrução Técnica nº 41 – Controle de fumaça, são de grande
valia tática na aplicação da ventilação. Não havendo, admite-se efetuar aberturas na
estrutura, assegurando-se somente a realização de aberturas imprescindíveis ao
andamento da operação, evitando-se danos desnecessários à edificação.

Figura 9.10 – Ventilação vertical com uso de dispositivos estruturais

Fonte: CBMPESP, 2006

Preferencialmente, as aberturas de dispersão da fumaça deverão ser


confeccionadas logo acima do foco, aproveitando ao máximo o empuxo e evitando
que a fumaça percorra caminhos na edificação ainda não atingidos pelo incêndio
(figura 9.11).

A ventilação tática vertical possui elevado grau de perigo, devendo ser


efetuada com a guarnição devidamente protegida (EPI/EPR completos), no mínimo
em dupla e em constante comunicação com as equipes externas e internas à
edificação. Sendo possível, deve-se utilizar linhas de proteção.

É necessário ter cautela nos acessos à cobertura, avaliar constantemente


tanto as condições da estrutura, quanto a resistência e tempo de exposição ao
incêndio. É importante considerar o uso de escada e plataformas elevatórias para
fazer as aberturas, se possível.
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 341

Figura 9.11 – Acesso superior nas estruturas

Fonte: Autor

Utilizar as linhas de mangueiras paralelamente ao plano da cobertura


(figura 9.12) proporciona maior velocidade na extração da fumaça (Efeito Venturi),
além de arrefecer a coluna de calor e extinguir possíveis chamas nas aberturas
(GOMES, 2005).

Figura 9.12 – Ventilação em telhado

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 342

Com relação a incêndios em subsolos ou porões deve-se observar se


possui sistemas de ventilação, como basculantes, janelas e portas. Considerar o
acesso ao subsolo até o nível de descarga como um condutor natural do fluxo de ar.
Em muitos casos o acesso será a única via de saída dos gases, num sistema típico
de ventilação unilateral.

Em edificações altas, deve-se considerar a existência de sistemas


preventivos de dutos de fumaça. Não sendo possível utilizar-se desses sistemas, ou
sendo somente de uso parcial, deve-se considerar o uso de combinação de ventilação
vertical com horizontal. Observar que os compartimentos de escadas são condutores
verticais “naturais” nas edificações, bem como dutos de ventilação de claraboias e
banheiros (figura 9.13).

Figura 9.13 – Edificação vertical com condução de fumaça pela escada

Fonte: Gomes, 2005

5.3 Ventilação horizontal

Da mesma forma que a ventilação vertical, a ventilação horizontal destina-


se à remoção de fumaça dos compartimentos incendiados, utilizando janelas, portas
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 343

ou qualquer outra abertura no sentido longitudinal do compartimento. É uma tática de


maior uso em edificações térreas ou de pouca altura.

Com predominância de caminhamento horizontal através da flutuação


horizontal, deve-se levar em conta que a fumaça removida para o ambiente externo
poderá estar no mesmo plano que bombeiros no teatro de operações.

Nesse tipo de ventilação, a guarnição deve se posicionar de forma


protegida, observando a direção do vento (vento pelas costas), bem como estacionar
as viaturas em locais afastados do alcance dos gases quentes. Outro fator de
segurança é observar o direcionamento desejado da fumaça, procurando proteger as
edificações adjacentes ao local do sinistro.

Vale ressaltar que efetuar ventilação cruzada (figura 9.14) resulta em maior
eficiência para a ventilação horizontal natural, tendo em vista as diferenças de pressão
aplicadas nas fachadas pelas correntes de ar. Por outro lado, em situações de pouco
deslocamento de ar a ventilação horizontal natural perde eficiência (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO, 2014; ARNALICH, 2015).

Figura 9.14 – Ventilação Horizontal Cruzada

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 344

As aberturas de dispersão da fumaça deverão ser confeccionadas


preferencialmente mais próximas do foco, aproveitando assim o empuxo e a
concentração de gases no próprio compartimento incendiado, evitando que a fumaça
percorra caminhos na edificação ainda não atingidos pelo incêndio.

Ao efetuar a ventilação tática horizontal deve-se assegurar que as demais


possíveis saídas de ar sejam fechadas, ficando somente uma saída para os gases,
preferencialmente no mesmo recinto que o foco e mais próxima do teto do
compartimento. Esse procedimento reduzirá as perdas de fluxo de ar. Da mesma
forma, não se deve deixar qualquer obstrução entre a abertura de entrada de ar e a
de saída da fumaça.

5.4 Ventilação forçada

A Ventilação Forçada é aquela realizada por sistemas artificiais que


proporcionam um aumento do fluxo de ar através de equipamentos mecânicos de
ventilação e exaustão, ou através de linhas de mangueiras, processo conhecido como
ventilação hidráulica.

Essa técnica otimiza os sistemas de ventilação e exaustão construtivos da


edificação, aumentando o fluxo de saída da fumaça e entrada de ar limpo e fresco nos
compartimentos sinistrados, permitindo redução das temperaturas do compartimento
e uma boa visualização.

Quando o processo de ventilação natural demonstra ser ineficaz ou inviável


de ser aplicado, o uso de ventilação forçada é recomendado. Ainda nesse diapasão,
sempre que se dispor de equipamentos e guarnições treinadas em ventilação forçada
devemos efetuá-la.

Ademais, a ventilação forçada possui a vantagem de ser mais previsível


que a ventilação natural. Por outro lado, seu uso inadequado poderá aumentar
rapidamente a intensidade do incêndio, além da necessidade de haver equipamentos
disponíveis para sua aplicação.
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 345

Assim como na ventilação natural, na ventilação tática deve-se observar o


direcionamento da saída dos gases, evitando que o fogo se propague para edificações
vizinhas.

De acordo com a função tática a ser implementada, pode-se caracterizar a


ventilação forçada como ofensiva ou defensiva.

Na ventilação ofensiva (figura 9.15 a) o fluxo de gases atravessa o foco


ou o recinto incendiado, promovendo um aporte de ar fresco ao incêndio,
necessitando ser uma tática aplicada em conjunto com linhas pressurizadas e equipes
de combate bem treinadas (ARNALICH, 2015).

Já na ventilação defensiva (figura 9.15 b) o fluxo de gases (ar fresco)


gerado não atravessa o foco ou o recinto incendiado, de modo que não se aporte o
fogo, melhorando o ar nos demais recintos e aumentando a sobrevida de possíveis
vítimas (ARNALICH, 2015).

Figura 9.15 – Ventilação Ofensiva (a) e Ventilação Defensiva (b)

(a) (b)
Fonte: Autor

5.4.1 Ventilação por Pressão Negativa (VPN) mecânica

A Ventilação por Pressão Negativa Mecânica é um tipo de ventilação


forçada que objetiva extrair a fumaça do interior do compartimento através de
exaustores colocados nas aberturas do compartimento, sendo uma forma de
ventilação defensiva.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 346

Os exaustores devem ser colocados para sota-vento, tendo o cuidado para


não ocorrer a reentrada da fumaça que sai do equipamento por arrastamento. Devido
à zona de baixa pressão criada no interior do compartimento, o ar sugado para o
interior arrasta a fumaça na saída do exaustor. Pode-se evitar esse arrastamento, por
exemplo, posicionando o exaustor afastado da saída, se este dispuser de luva, ou
com o uso de cortinados ou outro objeto que dificulte o retorno da fumaça pela
abertura de saída.

Uma das inconveniências do uso dos exaustores é o fato de que eles


deverão ser posicionados suspensos, pelo intuito de alcançar maior eficiência, o que
nem sempre é possível. Dessa forma, o uso de barras nas aberturas ou ganchos se
fará necessário à composição da armação dos equipamentos.

O emprego de exaustores exige que o equipamento seja intrinsecamente


seguro (antideflagrante), pois, pela característica de funcionamento dos exaustores, a
fumaça passa pelo seu interior, podendo vir a deflagrar, se houver um centelhamento
durante o funcionamento do aparelho (figura 9.16).

Exaustores com luva podem ser uma alternativa para o direcionamento de


camadas de fumaça para o exterior sem que esta tenha “contato” com outros
compartimentos.

Figura 9.16 - Exaustor com Luva (esquerda). Exaustor sem Luva (direita)

Fonte: Fire End, 2019


CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 347

5.4.2 Ventilação por Pressão Negativa (VPN) hidráulica

Realizada por guarnições de bombeiros responsáveis pela extinção do


incêndio, é efetuada por meio linhas de mangueira com jato neblinado direcionado à
abertura de saída do compartimento. O efeito de arrastamento extrai a fumaça do
interior do compartimento, criando uma baixa pressão que naturalmente sugará ar
fresco pela abertura de entrada. É uma forma de ventilação defensiva, sendo
realizada após o incêndio estar extinto. Possui o inconveniente de exigir um
bombeiro no interior da edificação incendiada, submetendo-o a correntes de fumaça.

Com a vantagem da permanente disponibilidade dos equipamentos


necessários para sua realização nas viaturas auto bombas, para alcançar melhor
eficiência, deverão ser seguidas as recomendações adiante:

a) o bombeiro se posiciona próximo da abertura, preferencialmente com


a mangueira sobre os ombros, com o jato na regulagem de compacto
e manopla ainda fechada, com a vazão mínima do esguicho (30 GPM
ou 115 LPM; pressão residual 100psi no esguicho);
b) verifica se há obstáculos que precisam ser removidos do fluxo a ser
criado e, se for necessário e possível, providencia a desobstrução;
c) abre-se a manopla do esguicho e regula-se o ângulo de abertura até
atingir o jato neblinado amplo (60°);
d) recua ou avança até que o cone de água obstrua cerca de 90% da
abertura (figura 9.17);
e) deve-se atentar para que o jato não alcance as bordas da abertura,
evitando assim, a obstrução do arraste dos gases e também o
desperdício de água;
f) quanto maior for a vazão do esguicho, maior será o efeito de arraste.
Porém, recomenda-se iniciar a aplicação com a vazão mínima e
aumentar apenas se o chefe de linha entender necessário.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 348

Figura 9.17 – Ventilação Hidráulica

Fonte: Autor

Ressalta-se que é um procedimento que requer maior disponibilidade de


água, o que pode ser empecilho em locais com dificuldades de abastecimento. Que
além do aporte hídrico, o uso excessivo de água aumenta os danos provocados pelo
uso do recurso, carecendo análise para a utilização da técnica.

Destaca-se que é um procedimento utilizado em qualquer abertura, como


por exemplo, uma porta, tendo o cuidado de fazer na metade superior quando se tratar
de abertura única.

5.4.3 Ventilação por Pressão Positiva (VPP) mecânica

A Ventilação por Pressão Positiva (VPP) Mecânica é uma técnica de


ventilação forçada que intensifica os trabalhos de retirada da fumaça do
compartimento incendiado utilizando ventiladores de grande volume de fluxo de ar.
Estes ventiladores podem ser alimentados por eletricidade, motor a combustão ou de
forma hidráulica, com o uso de linhas pressurizadas, sendo os dois últimos
comumente mais utilizados.
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 349

A VPP é normalmente utilizada ao nível do solo, tanto em ventilação


forçada horizontal quanto vertical, aproveitando alguma porta de acesso ao
compartimento como abertura. O ventilador deverá ser posicionado perante o acesso
de forma que o cone de ar gerado cubra a abertura em sua totalidade (GOMES, 2005).

O cone de ar pode variar de acordo com o modelo do ventilador utilizado.


Além disso, deve tentar obstruir o máximo possível da abertura de acesso, conforme
figura 9.18 (ARNALICH, 2015). A abertura a ser utilizada precisa ser adequadamente
escolhida, de forma que permita um eficiente arrastamento do ar exterior para
otimização da VPP.

Para reduzir os efeitos da pressão incrementada durante o uso da VPP


deve-se, preferencialmente, empregar a ventilação cruzada, procurando fazer com
que a abertura de saída esteja posicionada no compartimento incendiado, evitando-
se a propagação do incêndio para outros cômodos devido à circulação da fumaça em
outros ambientes.

Figura 9.18 – Cone de ar na VPP

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 350

Quando da aplicação de VPP, manter fechadas portas, janelas ou qualquer


outra abertura existente nos compartimentos adjacentes ao incendiado otimiza a
ventilação, acarretando a pressurização de um compartimento por vez (GOMES,
2005).

Sendo possível, efetuar o confinamento da edificação através do


fechamento de portas e janelas. Essa ação favorecerá o sistema, pois o fluido nos
compartimentos confinados sofre pressão hidrostática, que é maior que a pressão
dinâmica do fluido no caminho percorrido entre as aberturas de entrada e saída.

O escoamento dos fluidos é causado por diferenças de pressão.


Onde a velocidade de um fluido é alta, a pressão é baixa (BREITHAUPT, 2018).

Figura 9.19 – Distribuição de diferenciais de pressão e velocidades ao longo do fluxo de gases em um


ambiente fechado

Nota: considere uma condição na qual as pressões nos cômodos estão a 30 Pa. No sentido da
ventilação, por Efeito Venturi, tem-se uma queda da pressão nos pontos de maior velocidade no fluxo
de ar.
Fonte: Arnalich, 2015
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 351

Ventiladores podem ser organizados de forma a otimizar a eficiência da


VPP, como apresentado na figura 9.20.

Figura 9.20 – O arranjo de ventiladores em paralelo aumenta a eficiência da VPP

Fonte: Autor

5.4.3.1 VPP em Edificações Verticais

Ao efetuar VPP em edificações com mais de um pavimento, o ventilador


deverá ser posicionado na entrada do acesso do edifício. Dessa forma, o processo de
remoção da fumaça será efetivado aproveitando-se do fluxo convectivo, andar por
andar, iniciando pelo mais enfumaçado. Sendo possível, deve-se providenciar para
que os compartimentos não atingidos estejam com suas portas fechadas (figura 9.21).
Para esse trabalho as equipes deverão executar as ações bem coordenadas, para
que através de processos de aberturas e fechamento de portas seja efetuada a
remoção da fumaça por meio de janelas, escadarias ou sistemas preventivos
existentes na edificação (GOMES, 2005).

Em uma edificação vertical as escadas de acesso são as mais importantes


rotas de fuga; se forem usadas com essa finalidade, deve-se evitar seu
preenchimento com fumaça.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 352

Figura 9.21 – (a) Compartimentação vertical sem uso de VPP – edifício

(b) Compartimentação vertical com uso de VPP – edifício

(a) (b)

Fonte: Arnalich, 2015

5.4.4 Sequência para aplicar VPP

Conforme vimos, a VPP possui grandes benefícios nas operações de


combate a incêndios. Porém, seu uso inadequado traz riscos que podem ser evitados
se o momento de efetuar a ventilação for bem analisado.

É imperativo seguir os seguintes passos, em sequência, para aplicação da


VPP:

Passo 1 – certifique-se de que as linhas de ataque estejam posicionadas e


pressurizadas;

Passo 2 – localize o foco do incêndio;

Passo 3 – determine a abertura de saída mais próxima possível do foco.


Nesse momento, mantenha-a fechada (Obs.: abertura de saída com o dobro do
tamanho da entrada, se possível);

Passo 4 – posicione o ventilador na abertura de entrada de ar, ligue-o e


certifique-se que o cone de ar esteja cobrindo toda a entrada. Nesse momento,
mantenha esta porta ainda fechada;
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 353

Passo 5 – depois de ligado o ventilador, providencie a abertura mais


próxima do foco (vide item 3);

Passo 6 – em seguida, realize a abertura da porta para qual aponta o


ventilador (vide item 4);

Passo 7 – adentre o compartimento rapidamente e ataque o foco.

Figura 9.22 – Esquema da VPP

Nota: as aberturas de saída (FACE C) devem ser abertas antes da abertura de entrada (FACE A), e só
devem ocorrer após pressurizadas as linhas de ataque e o ventilador devidamente ligado, conforme
passo a passo explicitado acima. Nesse caso específico, se as aberturas da FACE D estiverem
fechadas, haverá maior eficiência da aplicação da VPP.
Fonte: Autor

5.5 Tamanhos de aberturas de entrada e saída na ventilação

Svensson (2005) descreve não ser possível especificar valores absolutos


quanto ao tamanho das aberturas, mas deve-se observar o cenário do incêndio e o
fluxo de gases de combustão a fim de conseguir o efeito desejado, implementando a
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 354

ventilação no momento e lugar certos em relação à localização, tamanho e


desenvolvimento do fogo.

Primeiramente, deve-se avaliar o tipo de ventilação empregada: natural ou


forçada. Em ambos os casos, deve-se manter pelo menos iguais em tamanho a
abertura de entrada e a abertura de saída. Contudo, é recomendado que, no caso de
ventilação natural e ventilação por pressão negativa (VPN), a abertura de entrada
tenha duas vezes a dimensão da abertura de saída (2:1) (figura 9.23). Já, para
ventilação por pressão positiva (VPP), a saída deverá possuir a relação inversa, ou
seja, a abertura de entrada deverá ser duas vezes menor que a abertura de saída
(1:2).

Figura 9.23 – Relação dos tamanhos de aberturas para entrada de ar e saída de fumaça em VPN e
ventilação natural (razão de entrada/saída).

Fonte: Svensson, 2005

Na ventilação natural ou Ventilação por Pressão Negativa (VPN), a eficiência


aumenta quanto maior for a abertura de entrada de ar fresco. Percebe-se que a
abertura de entrada deve possuir pelo menos o mesmo tamanho da abertura de
saída e deve ser, preferencialmente, duas vezes maior que a abertura de saída
da fumaça, onde a eficiência é cerca de 90% (SVENSSON, 2005).
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 355

Svensson (2005) pontua que há certa correlação entre o tamanho das


entradas (de ar) e o tamanho das saídas (da fumaça) e esta relação pode respeitar a
proporção 1:2 em VPP, ou seja, a abertura de saída da fumaça deve ter, pelo menos,
o dobro do tamanho da abertura de entrada de ar (figura 9.24).

Figura 9.24 – Eficiência da VPP de acordo com a proporção entre os tamanhos das aberturas (razão
entre saída/entrada).

Fonte: Svensson, 2005

Na Ventilação por Pressão Positiva (VPP) a eficiência aumenta, quanto maior


for a abertura de saída em relação à entrada. Na figura 9.24 verifica-se que a
abertura de saída da fumaça (outlet) deve ter pelo menos o mesmo tamanho da
abertura de entrada de ar (inlet), atingindo eficiência de cerca de 90% quando a
abertura de saída atinge pelo menos o dobro da abertura de entrada
(SVENSSON, 2005).

A quantidade de aberturas deverá ser avaliada de acordo com cada


incêndio e condições estruturais das edificações sinistradas. A preferência é pela
abertura única e grande, pois acarretará melhor fluxo da fumaça nas aberturas de
saída e entrada. Pequenas aberturas trazem maior resistência ao fluxo dos gases
(SVENSSON, 2005).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 356

6 ANTIVENTILAÇÃO

Sabe-se que o comburente é um dos requisitos para a conclusão da reação


de combustão. A fumaça e os produtos resultantes de um incêndio representam os
potenciais combustíveis que podem se inflamar sob as condições adequadas,
conforme tratado anteriormente. Dificultar o acesso do comburente e providenciar a
saída da fumaça, portanto, aumentam as chances de sucesso em uma operação de
combate a incêndio.

Porém, o caminho pelo qual essa fumaça será extraída precisa ser
planejado e realizado de forma com que os danos ocasionados pelo seu
deslocamento sejam os menores possíveis (GRIMWOOD, 2008).

A antiventilação é a técnica que consiste no emprego inteligente das


aberturas disponíveis na edificação, como portas e janelas, para que o fluxo de fumaça
no interior seja direcionado a um local predeterminado pela guarnição
simultaneamente ao impedimento da entrada de ar fresco.

Impedir que o ar flua em direção ao incêndio deve ser a estratégia principal


empregada, até que o comandante da operação identifique um objetivo viável ou
razão para criar aberturas (GRIMWOOD, 2007).

O mesmo autor (2007 e 2008), define que a antiventilação é indicada para


os seguintes cenários:

a) um incêndio demonstra condições para backdraft (caso em que deve


ser aliada a técnicas de prevenção ao backdraft, como a técnica de
passagem de porta, que será explicada posteriormente);

b) o estabelecimento ainda não foi montado e não há mangueiras ou


condições de atacar o foco;

c) as aberturas de ventilação permitirão a propagação do incêndio pelo


caminhamento da fumaça;
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 357

d) um incêndio limitado por ventilação pode evoluir ao flashover e a vazão


e pressão no esguicho podem não ser suficientes para lidar com tal
escalada;

e) um objetivo ou motivo claro para criar uma abertura de ventilação ainda


não foi identificado.

Em um cômodo incendiado, com porta e janela abertas, caso seja realizado


o fechamento de todas as aberturas, o incêndio será confinado, tendendo à extinção
natural. Há casos, porém, em que não é possível realizar o fechamento de todas as
aberturas de um cômodo2, apenas as exteriores, acessadas pela rua.

Confinamento se dá por meio do fechamento de todas as aberturas


imediatamente próximas ao foco do incêndio, interrompendo o aporte de
mais ar fresco para a combustão.

Em um estudo realizado no Centro de Treinamento de Uberaba/MG (2º


COB/8º BBM), foram simuladas diversas situações de abordagem a uma edificação
em chamas por uma equipe não munida de água para combate a incêndio. Verificou-
se ao fim do experimento, que o fechamento de todas as aberturas externas da
edificação contribuiu para a propagação do incêndio em direção a cômodos ainda não
atingidos pela casa, de forma que o simples fechamento dessas aberturas apenas
pelo exterior demonstrou-se ineficaz na tentativa de controle do incêndio (BORELI,
2018).

Suponha a chegada de uma guarnição à cena em uma viatura que não seja
específica para combate a incêndio, como o Auto Comando de Área, Auto
Salvamento, Moto Operacional, etc. Suponha, ainda, que foi possível realizar o
dimensionamento da cena, identificação dos riscos e localizar o foco do incêndio.

2Para o fechamento de aberturas pode-se utilizar dispositivos da própria construção ou objetos que
obstruam a passagem de ar (“Anti-Ventilation - wind control devices”).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 358

Se a equipe em cena tiver condições seguras de adentrar a edificação


incendiada, inclusive em relação aos devidos equipamentos de proteção individual e
respiratória, deve ser priorizado um acesso até o cômodo sinistrado e o fechamento
de sua porta.

No mesmo estudo realizado no Centro de Treinamento do 8º BBM, a


antiventilação demonstrou sua eficácia, apresentando duas abordagens
consideradas efetivas para guarnições que não sejam de combate a incêndio:

a) caso não seja possível adentrar a edificação e o foco do incêndio


tenha sido localizado, deve-se fechar todas as aberturas disponíveis,
exceto a janela do próprio cômodo em chamas, para que o fluxo de
gases quentes assuma uma rota em direção à saída da edificação e não
aos demais cômodos, eventualmente ainda não atingidos (figura 9.25);

Figura 9.25 – Antiventilação sem adentrar a edificação

Fonte: Autor
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 359

b) caso seja possível adentrar a edificação, deverá ser procedido o


fechamento das portas disponíveis, principalmente a porta do cômodo
sinistrado, pois isso impedirá a entrada de mais ar fresco para aquele
incêndio. A janela desse cômodo, nesse caso, também pode
permanecer aberta, para direcionamento do fluxo de gases; ou pode ser
fechada, concluindo o confinamento (figura 9.26).

Figura 9.26 – Antiventilação adentrando a edificação

(a) Antiventilação (b) Confinamento

Fonte: Autor

Nos dois casos citados houve o emprego da antiventilação. Por meio do


planejamento da direção do fluxo de gases, foram escolhidas aberturas específicas
para serem fechadas e outras mantidas abertas.

Durante as ações de combate a incêndio, realizadas por uma equipe


munida de água e com a aplicação das técnicas já abordadas anteriormente, a
antiventilação também se mostra eficaz.

À medida que uma equipe progride no interior da residência, deve manter


todas as portas atrás de si devidamente fechadas3, para dificultar a entrada de
comburente até o foco do incêndio. Havendo necessidade de realização de busca em

3Portando mangueiras é natural que as portas não fiquem totalmente fechadas. Nesses casos pode-
se portar cunhas para travar as portas, de modo que fiquem somente aberturas suficientes à passagem
das mangueiras, sem ocorrer o travamento destas.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 360

um determinado cômodo, o militar deverá também considerar a possibilidade de


realizar a exaustão da fumaça por meio da antiventilação, mantendo a porta do
cômodo fechada e realizando a abertura de uma janela para saída da fumaça
(conforme técnica VEIS abordada no capítulo de Salvamento em Incêndio).

7 CUIDADOS NA VENTILAÇÃO

Em que pese os diversos benefícios da ventilação, é necessário que sua


execução cumpra alguns requisitos, a saber:

a) a ventilação deve ser empregada corretamente, no lugar certo e no


momento certo, devendo ser coordenada com outras medidas táticas
de extinção das chamas e salvamento;

b) não usar ventilação tática se houver indícios de comportamentos


extremos do fogo;

c) nunca aplicar água de fora para dentro da edificação pela saída de


fumaça com jato neblinado. A pressão exercida pelo fluxo de água em
conjunto com o arrasto do ar dificulta e até interrompe o fluxo da fumaça
para o exterior, trazendo riscos para os bombeiros e vítimas que
estiverem no interior da edificação. Ademais, a alta temperatura contida
na fumaça vaporiza a água no interior, piorando as condições de
visibilidade;

d) não efetuar ventilação tática sem que haja linhas de ataque armadas,
pressurizadas e com os devidos militares designados para a extinção
de pronto emprego. Lembre-se: o emprego da ventilação acarretará o
incremento da combustão. Se não coordenada e realizada
corretamente, pode levar ao flashover do ambiente. A ventilação tática
traz benefícios se bem coordenada com as operações de extinção e
salvamento;
CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 361

e) independente da tática abordada, abertura de saída da fumaça


deverá ser efetuada primeiro, evitando assim o fornecimento precoce
de ar fresco ao foco do incêndio;

f) na ventilação natural ou forçada, com fluxo de fumaça tanto na vertical


quanto na horizontal, seja por pressão positiva ou negativa, as
aberturas de dispersão da fumaça deverão ser realizadas,
preferencialmente, logo acima do foco, aproveitando o empuxo e
evitando que a fumaça percorra caminhos na edificação ainda não
atingidos pelo incêndio;

g) é necessário considerar, em caso de ventilação natural, a possibilidade


de mudança no sentido dos ventos;

h) é importante zelar pela integridade de portas e janelas ou outro tipo de


saída de fumaça já existentes, mantendo um controle das aberturas,
pois elas podem ser fechadas novamente, se necessário, durante a
ventilação, se houver mudança de tática.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 362

REFERÊNCIAS

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devidas ao vento em edificações (antiga NB-5) - Cargas para o Cálculo de
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ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. -NBR 15220 – desempenho


térmico de edificações. Rio de Janeiro, 2005

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BREITHAPT, J.Física. 4ª Edição. LTC editora, 2018.

BORELI, A. A. M. Estudo de caso sobre a utilização da técnica de antiventilação


no combate a incêndios urbanos no âmbito do Corpo de Bombeiros Militar de
Minas Gerais. Belo Horizonte - MG: [s.n.], 2018.

BOTTA, N. A. Movimiento y Control de Humo. 1ª. ed. Rosario: Red Proteger,


2011.

FIRE END. Super Vac: Gas Powered Smoke Ejector, 2013. Disponivel em:
<https://www.fire-end.com/Super-Vac-GP164S-Gas-Powered-Smoke-Ejector>.
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CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO.


Coletânea de Manuais Técnicos de Bombeiros 14 - VENTILAÇÃO TÁTICA. 1ª.
ed. São Paulo: PMESP CCB, 2006.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual básico de


combate a incêndio: Tática de combate a incêndio. 2ª. ed. Brasília: [s.n.], v. I, 2013.

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GRIMWOOD, P.; DESMET, K. Tactical firefighting: A comprehensive guide to


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CAPÍTULO 9 – VENTILAÇÃO TÁTICA 363

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ofensivo. Revista FLAMMAE Seção 1 – Artigos Técnico Científicos Vol.02 Nº04 -
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MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 364
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 365

Página deixada intencionalmente em branco


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 366

CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS


Autora – 1º Ten Elen

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 368

2 CAUSAS DOS INCÊNDIOS EM VEÍCULOS ............................................... 368

3 GERENCIAMENTO DOS RISCOS .............................................................. 370

3.1 Equipamento de Proteção Individual (EPI) e Equipamento de Proteção


Respiratória (EPR) ................................................................................................. 371

3.2 Sinalização .................................................................................................. 372

3.3 Isolamento e perímetro de segurança ...................................................... 374

4 CIRCUNSTÂNCIAS DO INCÊNDIO ............................................................. 376

4.1 Foco localizado (pontual)........................................................................... 377

4.2 Foco envolvendo o veículo ........................................................................ 378

4.3 Foco em compartimento de carga ............................................................ 378

5 TÉCNICA DE COMBATE ............................................................................. 379

5.1 Ataque Envolvente...................................................................................... 379

6 SALVAMENTO DE VÍTIMAS ....................................................................... 383

7 RISCOS ESPECIAIS .................................................................................... 386

7.1 Veículos movidos a Gás Natural Veicular (GNV) ..................................... 386

7.1.1 Principais componentes da instalação de um sistema de GNV ............. 388

7.1.2 Como identificar um veículo movido a GNV ............................................ 389

7.1.3 Procedimentos no caso de incêndio......................................................... 389

7.2 Carros híbridos ou elétricos ...................................................................... 394


CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 367

7.2.1 Identificação ................................................................................................ 400

7.2.2 Estabilização/Imobilização......................................................................... 401

7.2.3 Desativação/Desarme ................................................................................. 402

7.2.4 Procedimento geral de combate ............................................................... 404

7.3 Metais pirofóricos ....................................................................................... 406

8 OUTRAS INOVAÇÕES ................................................................................ 407

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 409
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 368

1 INTRODUÇÃO

Considerados como chamado de 1º Socorro, os incêndios em veículo são


classificados em ocorrências cujas circunstâncias prenunciam ameaça maior à
incolumidade de pessoas e bens (CBMMG, 2015). Nesse sentido, a severidade desse
tipo de incêndio relaciona-se tanto ao volume de veículos em circulação e o
proporcional aumento das probabilidades de sinistros; quanto ao aumento da
complexidade dos cenários de ocorrência, em virtude da utilização de novas
tecnologias estruturais, a existência de fontes de energia alternativas, bem como a
diversidade desses materiais combustíveis nos veículos. Tais fatores reunidos
culminam na grande variabilidade da carga de incêndio, o que torna esse tipo de
ocorrência um desafio para os bombeiros.

2 CAUSAS DOS INCÊNDIOS EM VEÍCULOS

Os veículos dispõem cada vez mais de recursos que previnem e mitigam o


incêndio, destacando-se (CBMES, 2017; CBMSC, 2017):

a) painel corta-fogo, entre o compartimento do motor e o habitáculo1;


b) blindagem dos sistemas eletrônicos;
c) fios antichama;
d) corte inercial do combustível;
e) tanque de combustível colapsável.

A figura 10.1 demonstra os recursos preventivos e estruturais dos veículos.

1A célula de sobrevivência ou habitáculo é o compartimento de um automóvel destinado à acomodação


do condutor e demais ocupantes. A célula de sobrevivência é projetada para permanecer intacta em
uma colisão, protegendo, portanto, aqueles que nela se encontram. É isolada das principais áreas de
impactos, que são o compartimento do motor e o bagageiro (CBMDF, 2017).
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 369

Figura 10.1 – Recursos preventivos e estruturais dos veículos

Nota: A - Painel corta-fogo; B - Blindagem dos sistemas eletrônicos; C - Fios com revestimento
antichama; D - Corte inercial do combustível; E -Tanque de combustível colapsável.
Fonte: Autora

Mesmo assim, quando o incêndio se instala, o combate deve ser imediato


e agressivo, pois grande parte do veículo é composta de material combustível, com
potencial de geração de gases tóxicos. Logo, para que seja possível reduzir tais
incidentes, é necessário compreender suas origens (CBMES, 2017; CBMGO, 2017;
CBMSC, 2017).

É possível observar que as causas desses incidentes são diversas,


podendo ser classificadas em primárias ou secundárias. As causas primárias são
aquelas oriundas de falhas mecânicas, de conservação, uso e de funcionamento do
veículo, citando-se entre elas (NFPA, 2010):

a) superaquecimento do motor;
b) superaquecimento das lonas de freios;
c) falha no sistema de combustível e na galeria de distribuição
(vazamentos);
d) falha no sistema elétrico (curto-circuito).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 370

As causas secundárias, por sua vez, são geradas em consequência de


causas anteriores e externas, como um acidente automobilístico, a ação de
vandalismo incendiário ou um incêndio em uma edificação que pode ter sido
propagado para o veículo. Tendo em vista tais causas, primárias e secundárias, nota-
se a necessidade de desenvolver a conscientização e responsabilização
compartilhada dos proprietários no cuidado com a manutenção preventiva e corretiva,
bem como com as condições de direção, guarda, estacionamento e acondicionamento
do veículo.

3 GERENCIAMENTO DOS RISCOS

Cientes do número de incidentes apresentados, suas causas, e da


importância da prevenção do sinistro, é necessário tratar do gerenciamento dos riscos,
das medidas de segurança e dos procedimentos operacionais a serem adotados
durante o combate, de modo a mitigar ou extinguir as ameaças para vítimas,
socorristas ou terceiros, tornando a operação eficaz e eficiente.

É sabido que as ocorrências de incêndio veicular, por diversas vezes,


ocorrem em pistas de rolamento com grande trânsito de veículos e pessoas, como
rodovias e estradas. Em tais cenários, é necessário garantir a segurança de todos
envolvidos, de modo a controlar progressivamente ameaças e vulnerabilidades,
tornando o risco aceitável e a operação segura para as equipes. Por meio do controle
dos riscos individuais e coletivos, respectivamente ligados a atos inseguros por parte
do socorrista e condições inseguras existentes no ambiente, é possível potencializar
a efetividade das ações de salvamento e socorro.

No que concerne à atuação do socorrista, em primeiro plano, devem ser


garantidas as questões de segurança do militar, por meio da proteção do socorrista
através da utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Equipamento
de Proteção Respiratória (EPR). Quanto a aspectos de segurança coletiva, esses
serão garantidos por meio da execução do procedimento operacional modular e
flexível, tendo como ponto de partida crucial o dimensionamento e a organização de
cena, com o estabelecimento precoce da sinalização e do isolamento do local.
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 371

3.1 Equipamento de Proteção Individual (EPI) e Equipamento de Proteção


Respiratória (EPR)

O combate a incêndio em veículos pode ameaçar a integridade física das


equipes em diversos aspectos. Além dos componentes plásticos, borrachas, couros
e espumas que compõem o veículo e que, em contato com a chama, podem liberar
fumaça e gases tóxicos, cita-se a possibilidade da ruptura de estruturas ocas e
seladas do veículo que podem se pressurizar quando aquecidas, sendo projetadas
sob a ação do calor. Outro fator preocupante para a segurança dos militares é a
utilização de metais pirofóricos, que podem reagir violentamente com a água vindo a
atingir as equipes durante o combate (NFPA, 2013).

Nota-se, então, que EPI e EPR devem ser utilizados desde a chegada ao
local para o combate até o rescaldo/inspeção final, em virtude tanto da exposição ao
calor, quanto pela vulnerabilidade das equipes a diversos tipos de reações nocivas
dos materiais combustíveis existentes nos veículos às chamas.

Ainda, quanto ao uso de EPI, além da importância enquanto proteção física


dos militares no cenário de ocorrência, outro fator relevante é o relacionado à alta
visibilidade, uma vez que durante o período noturno e/ou em condições de baixa
visibilidade, os roupões de combate a incêndio, apresentam faixas reflexivas que
permitem a visibilidade facilitada das guarnições (figura 10.2).

Figura 10.2 – Alta visibilidade do EPI de combate a incêndio

Fonte: Autora
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 372

3.2 Sinalização

Durante o gerenciamento dos riscos em uma ocorrência, concomitante à


identificação e neutralização imediata de ameaças secundárias, como: queda de
árvores e postes; vazamentos de combustíveis; existência de produtos perigosos;
vítimas no interior do porta-malas; fenômenos naturais ou quaisquer ameaças,
destacam-se duas ações fundamentais para garantir a segurança da operação: o
isolamento e a sinalização (CBMERJ, 2012).

Em definição, “[...] o isolamento, para controle e restrição de espaço no


teatro de operações, e a sinalização, para controle e restrição do tráfego de veículos.”
(CBMDF, 2012). Sendo que, em qualquer ocorrência, seja em ambientes fechados
(no interior de garagens residenciais ou estacionamentos comerciais), seja em vias
públicas, a guarnição deve providenciar a identificação visual imediata do local
sinistrado.

Nos casos de incêndios em pistas de rolamento, os demais condutores


devem ser cientificados da incidência do sinistro antecipadamente, de modo a permitir
uma reação segura e prevenir a ocorrência de acidentes decorrentes do veículo
incendiado.

Essa visibilidade do cenário sinistrado é possibilitada pela sinalização, que


é a forma de indicação ou advertência quanto à existência de obstáculos ou riscos. É
realizada, na maior parte das vezes, pela disposição dos cones, definida em função
de diversos aspectos: fluxo de veículos registrado no local, velocidade permitida,
características e condições da via (tabela 10.1 e figura 10.3).

Como parâmetro de sinalização, a distância estabelecida deve atender às


seguintes recomendações:

a) em condições normais de visibilidade: durante o dia, tempo aberto


toma-se por base a distância equivalente à velocidade da via. Logo,
em uma pista reta, durante o dia, em uma via em que a velocidade é
de 100 km/h, a distância para se iniciar a sinalização a partir da zona
quente é de 100m. Na prática, essa distância será medida por meio de
passos longos. Sendo um passo longo, equivalente a um metro;
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 373

b) em condições anormais de visibilidade: durante o período noturno, ou


em caso de chuva, fumaça ou neblina, em uma via em que a velocidade
é de 100 km/h, a distância para se iniciar a sinalização a partir da zona
quente é de 200m, ou seja, o valor foi dobrado e o socorrista terá que
medir 200 passos longos de distância para o início da sinalização;
c) próximo a curvas, aclives e declives (considerados interrupções ou
obstáculos): numa pista sinuosa ou que há declive ou aclive, a
contagem iniciada a partir da zona quente deve ser suspensa nessas
interrupções (“obstáculos”), sendo retomada após sua passagem, uma
vez que o motorista precisa ter ciência do sinistro antes da curva,
subida ou descida. Retomada a contagem, deve-se contar o número
de passos mínimos equivalentes à velocidade e a condição de
visibilidade.

Tabela 10.1 – Distância de posicionamento dos cones em relação à velocidade da via durante a
sinalização
Velocidade Distância do 1º cone à viatura
Tipos de vias máxima Com visibilidade
Com pista seca
permitida comprometida
Vias locais 40 km/h 40 passos longos 80 passos
(chuva, longos
neblina,
Avenidas 60 km/h 60 passos longos 120 passos
fumaça e/ou longos
à noite,
Vias de fluxo rápido 80 km/h 80 passos longos 160 passos
etc.) longos
Rodovias 110 km/h 110 passos longos 220 passos longos
Fonte: CBMMG, 2017

Figura 10.3 – Sinalização de segurança em incêndios em veículo

Nota: Cada vez que o pé (ou direito ou esquerdo) toca o chão considera-se um passo
Fonte: adaptado de CBMMG, 2017
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 374

Cabe salientar que uma medida adicional de sinalização e, concomitante


ao isolamento, é o posicionamento da viatura, preferencialmente de grande porte,
como “barreira de sacrifício” a 45° em relação ao acidente (figura 10.3), direcionada
para fora do cenário e estacionada de maneira a garantir uma rápida partida da cena
e o máximo de segurança para a equipe, sem obstruir as possíveis rotas de fuga
estabelecidas pelas guarnições.

3.3 Isolamento e perímetro de segurança

Como pode ser verificado, a sinalização relaciona-se diretamente com o


Isolamento e com a consequente demarcação do perímetro de segurança ou Zonas
de Trabalho no Teatro de Operações2. As zonas de trabalho são áreas delimitadas
para garantir segurança, controlar riscos, promover a coordenação e controlar
recursos operacionais. São alteradas conforme evolução, tamanho e complexidade
da ocorrência, devendo todos os profissionais conhecerem as delimitações das Zonas
de Trabalho. São subdivididas em: Zona Quente, Zona Morna e Zona Fria. (CBMMG,
2015; CBMDF, 2017).

Além das zonas de trabalho, com base no modelo da ferramenta de gestão


de desastres denominada Sistema de Comando de Operações (SCO), amplamente
utilizada no CBMMG, poderá haver o estabelecimento de instalações e áreas
padronizadas3 como Posto de Comando (PC), Área de Espera (E) e Área de
Concentração de Vítimas (ACV), flexível e modularmente, a depender da dimensão
do sinistro. Algumas dessas delimitações são apresentadas na figura 10.4.

2Teatro de Operações: Termo utilizado para definir o local onde são desenvolvidas as operações de
bombeiros. O Teatro de Operações subdivide-se em Zonas de Trabalho (zona quente, zona morna e
zona fria) (CBMMG, 2015).

3 São seis as principais instalações padronizadas recomendadas pelo SCO: posto de comando (PC),
base de apoio, acampamento, centro de informações ao público, helibases e helipontos. E são duas as
principais áreas padronizadas recomendadas pelo SCO: área de espera ou estacionamento e área de
concentração de vítimas. A seguir uma breve explicação sobre as instalações e áreas mais
frequentemente instaladas nas Operações de Bombeiros:
- Posto de Comando (PC): local onde são desenvolvidas as atividades de comando da operação;
- Área de Espera (E): local onde os recursos operacionais são recepcionados, cadastrados e
permanecem disponíveis até seu emprego;
- Área de Concentração de Vítimas (ACV): local onde as vítimas são reunidas, triadas e recebem
atendimento inicial (OLIVEIRA, 2010, grifo nosso).
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 375

Figura 10.4 – Teatro de Operações Instalações Padronizadas (SCO)

Fonte: Autora

Zona quente: é a área onde está localizado o sinistro, onde existe o maior
risco e na qual as equipes trabalham, sendo o acesso restrito aos profissionais que lá
atuam.

Zona morna: é a área imediatamente próxima à Zona Quente onde os


socorristas transitam por corredores de acesso dispostos entre as duas zonas. Acesso
e circulação ainda restritos aos profissionais que atuam no sinistro, mas as condições
de risco são menores, sendo fisicamente demarcada (cones, fitas zebradas).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 376

Zona fria: é a área na qual será posicionado o Posto de Comando da


Operação (PC), a Área de Espera das Viaturas (E), Área de Concentração de Vítimas
(ACV) e as demais estruturas e instalações de suporte, também fisicamente
demarcadas. É considerada uma zona segura e de livre acesso aos envolvidos na
operação. Fora do limite da zona fria, é onde estarão transeuntes e o público em geral,
considerando a restrição de acesso à operação por terceiros (OLIVEIRA, 2010).

Como se pode notar, o isolamento e os perímetros têm como objetivo


garantir a atuação segura e concentrada das equipes, em conjunto com as ações de
sinalização, garantindo que somente os socorristas terão acesso aos locais restritos,
protegendo a área do incidente de curiosos e de outras interferências externas.

4 CIRCUNSTÂNCIAS DO INCÊNDIO

Após demarcação e restrição do Teatro de Operações, a depender da


localização e do estágio de desenvolvimento das chamas no veículo, o bombeiro irá
atuar de maneira específica. O Chefe de Guarnição e sua equipe deverão realizar um
Planejamento Mental, de modo a definir previamente a abordagem, desde o
acionamento, a partir da triagem realizada pelo Centro de Operações
(COBOM/SOU/SOF4), passando pela análise da segurança e pela tática de combate,
para só então iniciar o combate propriamente dito. Quanto à localização do foco do
incêndio em veículo, este poderá ser (CBMDF, 2017):

a) localizado (pontual);

b) envolvendo o veículo;

c) em compartimento de carga.

4Atribui-se três nomenclaturas para os locais que recebem as ligações telefônicas de emergência que
variam de acordo com o status da Unidade:

COBOM: Centro de Operações de Bombeiro


SOU: Sala de Operações da Unidade
SOF: Sala de Operações da Fração (CBMMG, 2015).
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 377

Cabe a ressalva de que, a despeito da localização do foco de incêndio, na


existência de vítimas, o salvamento será prioridade para a guarnição, mantidas as
condições de segurança. Para tal verificação, é indispensável um dimensionamento
da cena inicial criterioso a fim de descartar a existência de vítimas no interior do
veículo.

4.1 Foco localizado (pontual)

Nesse tipo de foco, o incêndio ainda está restrito à fase inicial. Por isso, é
caracterizado como um princípio de incêndio, podendo ser combatido com o uso de
um extintor de pó (ABC). Esse agente extintor atende a todas as classes de incêndio.
O pó é capaz de combater princípios de incêndios em materiais sólidos, líquidos
inflamáveis e equipamentos energizados. É o extintor sugerido para ser usado nos
veículos automotivos. Quanto à localização do foco pontual, este ainda poderá estar
(figura 10.5).:

Capô fechado: realiza-se uma pequena abertura, e utiliza-se o extintor na


base das chamas, não desperdiçando toda a carga, que poderá ser utilizada em caso
de reignição.

Capô semiaberto: utiliza-se a pequena abertura já existente, agindo da


mesma maneira que no caso do capô fechado.

Capô aberto: aplica-se o agente extintor diretamente

Figura 10.5 – Emprego do extintor de incêndio em veículo

Nota: A - Uso de extintor capô fechado ou semiaberto; B - uso de extintor capô aberto.
Fonte: Autora
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 378

Na falta do extintor ABC (cotidiano operacional), água poderá ser utilizada


como agente extintor para os focos localizados em princípios de incêndio, de maneira
semelhante.

4.2 Foco envolvendo o veículo

Nesse caso, o fogo já se espalhou pela estrutura do veículo e o bombeiro


deverá realizar o combate de maneira agressiva e rápida, de modo a minimizar os
danos às vítimas e ao patrimônio. Diferente do que ocorre no foco localizado, o
combate deverá ser realizado pela montagem de linhas de mangueiras e utilização de
água ou espuma como agentes extintores.

Tais indicações se dão em virtude da diversidade dos materiais


combustíveis, e suas respectivas cargas de incêndio, que podem compor o veículo e
agravar a dimensão do sinistro.

O detalhamento da técnica de combate para essa circunstância será


descrito mais adiante, na apresentação do Ataque Envolvente.

4.3 Foco em compartimento de carga

Nesse caso, além dos componentes da estrutura do veículo, a guarnição


terá que atentar, também, para a composição da carga, uma vez que, caso seja um
produto perigoso, poderá adicionar riscos para o combate.

O isolamento, principalmente em cargas lacradas, deverá seguir os critérios


estabelecidos pela ABIQUIM5, até que se identifique o material e seja possível agir
conforme as características e riscos específicos do produto.

5800 metros em todas as direções, se o tanque ou carga estiver envolvido pelo fogo, devido ao risco
de explosão.
100 metros em todas as direções, após a extinção do incêndio, na impossibilidade da identificação do
produto, até que possa ser identificado;
Distância prevista no Manual da ABIQUIM, na FISPQ, na ficha de emergência, em aplicativos para
celular ou noutra fonte de consulta confiável, após a identificação do produto (CBMMG, 2020).
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 379

Retirado o risco de produto perigoso, deve ser observado pela guarnição


se o compartimento está aberto, por exemplo, uma carroceria com carga exposta ou
fechada, como um caminhão baú lacrado.

Se ele estiver aberto, o combate deve ser feito normalmente, a depender


da característica do material. Já no caso do compartimento estar fechado, o combate
deverá ser procedido de forma análoga a um ambiente confinado.

O capítulo sobre incêndio em caminhões-tanque retrata mais


detalhadamente alguns procedimentos a serem seguidos em casos específicos.

5 TÉCNICA DE COMBATE

Além do combate realizado na fase inicial do incêndio por meio da utilização


do extintor, com o desenvolvimento das chamas e com o foco envolvendo o veículo,
abordagens mais efetivas devem ser utilizadas.

5.1 Ataque Envolvente

Após garantir a segurança de todos socorristas e ocupantes do veículo, as


ações de proteção do patrimônio serão implementadas. A guarnição deverá minimizar
os danos do incêndio, combatendo-o a fim de isolar o que ainda não foi atingido e sem
danificar, durante a extinção, o que está intacto (CBMGO, 2017).

Depois que as chamas já tomaram a estrutura interna e externa do veículo,


o ataque ao fogo deve ser agressivo e rápido, de modo a extingui-lo e minimizar os
danos.

No CBMMG, ao longo dos anos, foi desenvolvida a técnica Ataque


Envolvente para esse tipo de cenário em incêndio em veículos. Tal técnica, que se
mostrou empiricamente mais eficiente, já é amplamente aplicada em ocorrências reais
e é ensinada em cursos de formação e capacitação da corporação.

Essa técnica visa o Ataque Direto simultâneo com emprego do Jato


Neblinado Amplo nos dois lados do veículo. Tal abordagem apresenta grande
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 380

capacidade de abafamento e resfriamento do incêndio (figura 10.6). Os jatos aplicados


de maneira envolvente ainda conseguem projetar os produtos da combustão (fumaça
e gases tóxicos) na direção oposta à guarnição envolvida no combate, aumentando
sua segurança e evitando que haja a passagem e arrasto do ar, com a consequente
realimentação do incêndio durante o combate, o que ocorreria no caso do ataque
assimétrico feito apenas com uma linha.

Figura 10.6 – Esquema do Ataque Envolvente

Fonte: Autora

Logo ao receber o chamado, após triagem de informações e durante o


deslocamento o Comandante da Operação inicia o dimensionamento de cena, para
analisar as condições iniciais do sinistro, bem como verificar a necessidade de apoio.
No local do incêndio, deverá verificar e conflitar as informações recebidas com
aquelas que visualiza no teatro de operações, priorizando a segurança da cena e de
sua equipe, salvamento de vítimas, estabilização do cenário, extinção do incêndio, e
preservação do patrimônio e meio ambiente.

Os militares, já equipados com EPI e EPR, realizam a sinalização e o


isolamento do local. Simultaneamente, estaciona-se e calça-se a viatura; se for
possível, posicionando-a a montante (acima) ou no mesmo nível do foco de incêndio.
Inicialmente, até a confirmação que não se trata de veículo movido a GNV, deve se
manter a distância mínima de 50 metros do veículo incendiado. Excluída essa
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 381

possibilidade, a viatura poderá ser posicionada em distância segura do foco, mínima


de 15 metros, que poderá ser aumentada ou reduzida, a depender da gravidade da
ocorrência (NFPA, 2018).

Se for oportuno e seguro, o veículo em chamas também deve ser calçado.


Tais ações são realizadas para evitar incidentes, como:

a) o escorrimento de combustível;

b) a descida do veículo em chamas em direção à viatura ou a outros locais;

c) o calor do incêndio atingir a viatura pela proximidade com o foco.

Em seguida, a guarnição executa a montagem do estabelecimento por


meio de uma adutora e duas linhas de ataque (figura 10.7). A tal disposição podem
ser acrescidas mangueiras na necessidade de aumento do alcance das linhas de
ataque.

Figura 10.7 – Montagem de estabelecimento

Fonte: Autora
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 382

Outro aspecto a ser observado é a direção do vento, sendo que as linhas


devem ser montadas a favor do vento (com o vento pelas costas) para facilitar o
combate. Durante o processo de montagem do estabelecimento, calçar o veículo em
chamas, se possível e caso ainda não tenha sido feito. A figura 10.8 demonstra as
dificuldades de se conduzir uma operação com o vento contrário à ação.

Após a montagem do estabelecimento, estando ambos os militares com os


esguichos regulados para Jato Neblinado Amplo, a uma vazão de 30 GPM (115 LPM)
e a pressão no corpo de bombas da viatura no mínimo a 7 bar (100 psi), deverão
posicionar-se cada um em frente aos faróis dianteiros ou lanternas traseiras (a
depender do sentido de ataque) e avançarão, lado a lado, com a manopla do esguicho
aberta ao máximo, em direção ao lado oposto do veículo por onde começaram (capô
ou porta-malas).

Após reduzir a intensidade do calor e percorrer toda a estrutura incendiada,


passam a utilizar o jato mole, direcionado para o interior do veículo, de modo a
extinguir pequenos focos que ainda existirem. Em seguida, resfria-se o interior do
capô e realiza-se o rescaldo e a inspeção final para prevenir a reignição. Concluído o
combate, deve ser procedida, se possível, a desativação da bateria de 12 Volts e/ou
Baterias Elétricas e desativação de outros sistemas alternativos de abastecimento e
energização, caso existam. O procedimento está ilustrado na figura 10.9.

Figura 10.8 – Efeito do vento contrário à ação (prejudicial ao combate)

Fonte: Autora
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 383

Figura 10.9 – Técnica de Ataque Envolvente

Nota: se o veículo em chamas ainda não tiver sido calçado, simultaneamente ao combate, poderá o
Chefe da Guarnição proceder ao calçamento para evitar movimentações imprevistas.
Fonte: Autora

6 SALVAMENTO DE VÍTIMAS

As ações devem primar pela segurança de todos os envolvidos no sinistro;


primeiramente das guarnições BM que entraram no cenário, em seguida das pessoas
que ainda não foram afetadas pela emergência e, por fim, das vítimas ou pessoas
afetadas (CBMMG, 2015).

Nesse sentido, nota-se que o princípio da atuação é a preservação da vida.


Sendo que nas ocorrências de incêndio em veículo, a prioridade deverá ser a
verificação de existência de possíveis vítimas, devendo ser retiradas ou protegidas o
mais rápido possível, caso sejam identificadas. Todavia, a proteção dos ocupantes
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 384

dos veículos só será possível se cada militar cuidar de sua própria segurança e da
segurança dos outros componentes da guarnição.

Depois de garantida a segurança das ações e tendo em vista a


circunstância crítica da ocorrência de incêndio em veículo, caso existam vítimas, seu
salvamento é prioridade para guarnição, pela circunstância extrema da exposição às
chamas: risco de queimaduras cutâneas e de vias áreas, asfixia e morte. Nesse caso,
a atuação deverá ser dinâmica e rápida, tendo como diretriz o critério de transporte,
que será definido pelo comandante com base no estado da vítima.

As vítimas de um incêndio em veículo podem ser classificadas como


vítimas críticas6, devendo ser extraídas utilizando a técnica de retirada de emergência
(figura 10.11), denominada Chave de Rautek (CBMMG, 2017).

Nesse sentido, para garantir a segurança de ambos, vítima e socorrista, é


recomendável, ainda, que a linha esteja montada e que se faça um Jato de Penetração
(figura 10.10), com esguicho na abertura de neblina (ou Neblinado Amplo, cabendo
essa decisão ao chefe de linha) e vazão máxima do esguicho (125 GPM ou 475 LPM).
A aplicação do jato deve ser contínua, enquanto a equipe progride em direção à vítima
até que ela seja retirada com segurança.

Figura 10.10 – Retirada da vítima acompanhada de jato de penetração

Fonte: Autora

6 Vítimacrítica: vítima em parada respiratória, cardiorrespiratória ou condição ambiental que ofereça


risco iminente (CBMMG, 2017, grifo nosso).
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 385

Após o salvamento das vítimas e estabilização do cenário,


independentemente das características do veículo incendiado, ao final dos trabalhos,
a área deverá ser mantida em isolamento e entregue ao agente competente ou
policiamento local, juntamente com pertences achados no interior do veículo sinistrado
e os documentos do mesmo (caso sejam encontrados), para comprovação do
proprietário e demais dados (CBMERJ, 2012).

Figura 10.11 - Técnica de Retirada Emergencial Chave de Rautek

Fonte: Autora
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 386

7 RISCOS ESPECIAIS

Além dos riscos já citados envolvendo cargas de produtos perigosos, há


outras circunstâncias que também deverão ser observadas pelos militares para que a
segurança da operação seja garantida. São apresentados a seguir alguns dos riscos
especiais que poderão ser encontrados pelas guarnições.

7.1 Veículos movidos a Gás Natural Veicular (GNV)

O GNV é um gás inflamável e armazenado sob alta pressão em cilindros


de aço especial sem costura; sendo constituído por uma mistura de hidrocarbonetos
leves que, em condições normais de pressão e temperatura, permanece no estado
gasoso. É utilizado como combustível em automóveis, sendo o gás metano (CH4) o
seu componente predominante. As principais características do GNV são (CBMDF,
2017):

a) incolor, inodoro (odorizado para fins comerciais com mercaptanas,


assim como o GLP) e mais leve que o ar (diferentemente do GLP);

b) pressão máxima do abastecimento em postos de combustíveis é de


220 bar (normatizada pela ANP);

c) no interior de um cilindro de automóvel, o GNV se encontra no estado


gasoso, pois o metano não se liquefaz a 220 bar;

d) o transporte para os postos de abastecimento se dá no estado gasoso


quando em baixa pressão, por meio de gasoduto ou caminhões-tanque;
ou no estado líquido, por meio de caminhões-tanque;

e) para atingir o estado líquido, o gás passa por um processo de


resfriamento, cuja temperatura atinge -162 ºC, momento a partir do qual
se liquefaz, reduzindo o seu volume em 600 vezes;

f) no caso de ignição em ambiente fechado e com acúmulo de GNV, há


risco de explosão do cilindro, se exposto a altas temperaturas;
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 387

g) o fato de ser incolor e inodoro dificulta a identificação de eventual


vazamento, o que pode resultar em irritação nas vias aéreas, tosse, dor
de cabeça, náusea, vômito, sonolência, vertigem, confusão mental,
alteração na capacidade de julgamento, cianose, sensação de
desmaio, perda de consciência e, em elevadas concentrações, asfixia
e/ou morte;

h) por outro lado, o fato de ser mais leve que o ar facilita a execução das
ações em um incidente, haja vista a facilidade de sua dispersão.

Ao se falar na indústria de veículos movidos a GNV, em nosso país,


predomina a adaptação/conversão da frota para esse combustível, se comparado aos
veículos que já saem de fábrica com essa opção os veículos adaptados ficam
conforme apresentado na figura 10.12.

Figura 10.12 - Veículos adaptados para utilizar o GNV

Fonte: Toscanicar, 2014 apud Grandi, 2014

Nesse sentido, no caso da utilização do GNV como combustível para


veículos, o risco que se tem é a adaptação ou manutenção irregular dos cilindros e
válvulas de alívio. Um vazamento, conjugado ao aquecimento ou centelha no interior
do compartimento do veículo, poderá ocasionar um princípio de incêndio. A tal
circunstância, é adicionado o risco de explosão do vasilhame sob pressão, pelo
superaquecimento do GNV e enfraquecimento da sua estrutura.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 388

7.1.1 Principais componentes da instalação de um sistema de GNV

Assim, ao serem considerados os riscos relacionados a esse tipo de


veículo, nota-se a necessidade de uma identificação rápida, na ocorrência de um
sinistro. Um sistema de GNV possui diversos componentes de instalação (figura
10.13), que devem estar em conformidade com INMETRO7 e ABNT8. Desses
componentes, os que mais interessam ao combate a incêndio, por facilitarem a
identificação de que o veículo é movido a GNV, são:

a) válvula de abastecimento;

b) manômetro;

c) chave comutadora;

d) cilindro(s) de GNV e suporte de cilindro;

e) válvula do cilindro;

f) tubo de alta pressão;

g) redutor de pressão.

Figura 10.13 - Principais componentes de um sistema de GNV

Fonte: CBMDF, 2017

7 INMETRO: Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia.


8 ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 389

7.1.2 Como identificar um veículo movido a GNV

Além desses componentes que caracterizam os veículos movidos a GNV,


a guarnição ainda possui como itens que podem auxiliar na identificação deste tipo de
automóvel, o documento do veículo com a identificação do GNV como combustível e
o selo no para-brisa, apresentados na figura 10.14 (CBMDF, 2017):

Figura 10.14 – Documentos de identificação de veículos movidos a GNV

Fonte: Autora

7.1.3 Procedimentos no caso de incêndio

Contudo, pode não ser possível a identificação do veículo no caso de uma


colisão com deformação das estruturas ou mesmo de adaptação irregular do
automóvel. Dessa forma, não havendo a informação de que o veículo é convertido
para GNV, deverá considerar sempre essa hipótese (CBMES, 2017; CBMSC, 2017).
Assim, caso haja incêndio em veículo movido a GNV, a seguinte conduta deve ser
empregada pela guarnição:

Durante o gerenciamento de riscos, já equipados de EPI e EPR apropriados


para combate a incêndio, os militares deverão buscar informações para confirmar se
o veículo é movido a GNV. Se for possível a aproximação segura (em princípios de
incêndio distantes da parte traseira do veículo), a guarnição poderá, na
impossibilidade de proceder à abertura do porta-malas do carro, olhar por baixo do
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 390

veículo, entre a caixa de rodas, na tentativa de identificar o cilindro de gás natural


(CBMERJ, 2012).

Após o dimensionamento inicial da cena, a guarnição deve estacionar a


viatura a uma distância de, pelo menos, 50 metros9, calçando-a (essa distância poderá
ser maior conforme o vulto do incidente) e realizar o isolamento e a sinalização da
área, proporcionalmente a dimensão do sinistro, podendo o citado isolamento chegar
a 800m, em caso de risco de explosão. Se necessário, poderá haver a evacuação de
edificações que estejam dentro do raio de isolamento (CBMERJ, 2012;
CBMMG,2020).

Posicionar o aparato de combate, quando viável e se possível com o vento


pelas costas, pelo lado oposto ao compartimento de carga do veículo, local onde
normalmente é instalado o cilindro do GNV. Assim, utiliza-se parte da estrutura do
próprio veículo como meio de proteção no caso de eventual explosão do cilindro.

Realizar a montagem de adutora com duas linhas de ataque, sendo que


uma delas poderá atuar como linha de penetração. Em seguida, o chefe de guarnição
deverá calçar o veículo (caso ainda não tenha sido feito e tenha segurança para fazê-
lo) sempre protegido pelo jato de penetração e com silhueta baixa. A seguir, deve ser
iniciado o resfriamento da fonte de calor, bem como do cilindro de GNV.

A qualquer momento em que vítimas forem identificadas, essas deverão


ser removidas para um local arejado (conforme técnicas de salvamento de vítimas em
incêndio em veículo), resguardadas as condições de segurança.

Se for possível a aproximação, no máximo à distância 5 metros, agachado,


deitado ou protegido contra eventual projeção de chamas ou explosão, realizar o
resfriamento do veículo e/ou do cilindro, por meio de jato d’água Neblinado Estreito
em ambas superfícies.

9(...) a massa de GNV presente num cilindro de 15m³, numa onda de choque produzida por uma
explosão, poderá romper tímpanos a uma distância aproximada de cinquenta e cinco metros, lesionar
os pulmões de vítimas a cerca de vinte e cinco metros de distância e provocar a morte a uma distância
de cerca de treze metros ou menos. Esta avaliação não levou em consideração o uso de EPI ou
anteparos e barricadas (SILVA, 2007 apud GRANDI, 2014).
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 391

A depender do cenário, poderá ser utilizada uma maior distância desde que
o combate ao fogo seja efetivo. Para tanto, caso a distância para o combate não
permita a aplicação do jato neblinado, poderá ser utilizado o Jato Compacto, projetado
em “dilúvio” após passar pelo ponto de quebra10, alcançando as superfícies do veículo
já fragmentado (figura 10.15).

Quanto a isso cabe alertar que, em distâncias inferiores, não é indicado às


guarnições utilizarem o jato do tipo Compacto no cilindro de GNV, pois a ação desse
jato sobre o cilindro aquecido poderá resultar na perda de sua resistência mecânica e
ocasionar a ruptura do vasilhame.

Figura 10.15 – Ponto de quebra do Jato Compacto

Fonte: Autor

Se durante o combate ao incêndio não houver possibilidade de parar o


vazamento de GNV com segurança, não deverão ser extintas as chamas que saem

10 Ponto de quebra: é o ponto a partir do qual o jato perde a configuração de contínuo e passa a se
fragmentar em grandes gotas (CBMES, 2014).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 392

do cilindro ou da tubulação, haja vista a possibilidade de ocorrer uma reignição


explosiva, devendo ser mantido o resfriamento.

Ainda, quanto à tentativa de contenção do escape do gás natural (se isto


puder ser feito sem risco), as válvulas/registros (figura 10.16) nunca deverão ser
fechadas diretamente na saída de um cilindro em queima ou aquecido por irradiação,
pois sua pressão interna aumentará rapidamente, não conseguindo o alívio suficiente
através da válvula de segurança, o que pode provocar explosão do cilindro
(CBMERJ,2012).

Figura 10.16 – Localização das válvulas de fechamento do veículo

Fonte: Adaptado de CBMERJ, 2012

Portanto, quando o cilindro de GNV de um veículo estiver aquecido, a


interrupção do fluxo de gás não deverá ser procedida pelo fechamento do
registro/válvula do cilindro, mas pelo fechamento da válvula de abastecimento,
localizada junto ao motor do veículo. É importante salientar que, durante todo o
combate e mesmo após a extinção do incêndio, o resfriamento do cilindro deverá ser
prosseguido, prevenindo o risco de explosão. A figura 10.17 mostra as diferenças
entre as válvulas do cilindro e de abastecimento do motor.
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 393

Figura 10.17 - Válvulas de fechamento do veículo

Nota: A – registro/válvula do cilindro de GNV, B - registro/ válvula de abastecimento no motor


Fonte: adaptado de Grandi, 2014

Não sendo possível realizar as ações acima descritas, devido ao risco de


explosão (aumento do som do dispositivo de segurança do cilindro ou na hipótese de
mudança de cor ou deformação deste, indicativos do risco de BLEVE), as guarnições
deverão se afastar da área e deixar o veículo e o cilindro de GNV queimar. Nesta
situação, se praticável, poderão ainda utilizar o esguicho do tipo canhão monitor da
viatura ou portátil.

Outro cuidado que deve ser tomado pelos militares é o de não jogar água
diretamente no ponto de vazamento ou em dispositivos de segurança, pois pode
ocorrer congelamento e obstrução do fluxo de gás, podendo aumentar o risco de
explosão (ABIQUIM, 2015). Em caso de o sinistro ocorrer em um ambiente confinado,
os cilindros submetidos a chamas, após a estabilização do combate, deverão ser
removidos para um local arejado e mantidos sob resfriamento.

Por fim, acrescenta-se que os veículos a GNV, por serem bicombustíveis,


sempre estarão com os tanques abastecidos com gasolina ou álcool, com no mínimo
1/4 da capacidade, sendo essa mais uma circunstância a ser observada no local da
ocorrência (CBMES, 2017; CBMSC, 2017).

Diferente da adaptação e utilização de GNV como combustível automotor,


o uso no Brasil de GLP como combustível é proibido, exceto para empilhadeiras
(máquinas usadas para carregar e descarregar mercadorias).

O uso do GLP apresenta riscos tanto no armazenamento, quanto para o


transporte, em virtude da possibilidade de ocorrerem vazamentos que, conjugados a
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 394

centelhamentos, podem provocar explosões. A figura 10.18 demonstra o resultado de


uma adaptação irregular de veículo com uso de GLP.

Figura 10.18 – Veículo adaptado movido a GLP

Fonte: Brasil Postos, 2019

Tal proibição foi regulamentada pela Resolução CONTRAN Nº 673 de


21/06/2017 que dispõe sobre a proibição de instalação e de utilização do Gás
Liquefeito de Petróleo (GLP) como combustível nos veículos automotores (BRASIL,
2017).

7.2 Carros híbridos ou elétricos

Assim como a utilização do GNV, o uso da eletricidade como fonte


alternativa na geração de energia mecânica é uma realidade em diversos países.
Nesse mesmo ritmo, no Brasil, tem se observado uma tendência no aumento da frota
de veículos híbridos e elétricos, o que pode ser explicado por sua autonomia e
sustentabilidade, se comparados aos carros à combustão interna.

Nos Estados Unidos, assim como em outros países desenvolvidos, há uma


corrida para expansão da frota de híbridos e elétricos e, em virtude disso, verificou-se
a necessidade de conhecer e desenvolver procedimentos específicos para os
bombeiros nesse tipo de cenário.
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 395

A figura 10.19 apresenta o panorama de adoção de veículos elétricos por


diversas marcas tradicionais.

Figura 10.19 - Adoção dos veículos elétricos e híbridos por marcas tradicionais

Fonte: Moura, 2017

Incêndios em veículos elétricos são quase dez vezes menos propensos de


ocorrer do que em veículos convencionais, todavia, quando o sinistro ocorre, é
demandada a utilização de técnicas de resfriamento e combate específicas para
responder ao incêndio em elétricos e híbridos (NFPA, 2013).

Em face dos incidentes, constatou-se que os sinistros envolvendo híbridos


e elétricos acarretam fatalidades em potencial e ferimentos graves em cena para
socorristas e ocupantes do veículo, bem como a possibilidade de lesão pós-incidente,
morte ou danos a outros profissionais atuantes no cenário (equipe de resgate e
salvamento, peritos, policiais, operadores de guincho). Nesse cenário, os perigos
potenciais identificados incluem (NFPA, 2013):
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 396

a) energia residual em capacitores;

b) movimento silencioso inesperado do veículo;

c) gases tóxicos e inflamáveis emanados de bateria de alta tensão


danificada;

d) superaquecimento;

e) incêndios em bateria;

f) possibilidade de choque elétrico através de fios e componentes de alta


tensão expostos;

g) riscos relacionados às estações de carregamento (postos de recarga);

h) existência das baterias de lítio e níquel que podem reagir com a


aplicação direta de água.

Nesse sentido, é necessário compreender minimamente a classificação


dos veículos, pois a partir dela se poderá ter uma ideia inicial dos procedimentos a
serem adotados nos casos de sinistros. Quanto à classificação geral dos veículos,
essa pode ser categorizada conforme o tipo de fonte energética: convencional ou
alternativa que move o automóvel, que estão dispostas na tabela 10.2.

Quanto aos veículos elétricos híbridos, pontualmente, um critério de


classificação é o nível de hibridização do sistema, no que concerne a utilização
exclusiva ou não da eletricidade como fonte de energia, como se pode observar no
detalhamento na tabela 10.3, é estabelecida uma gradação da autonomia elétrica dos
veículos, indo de modelos de hibridação micro até os modelos plug-in, conforme suas
funcionalidades e abrangência do uso da eletricidade:
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 397

Tabela 10.2 – Classificação de veículos quanto ao tipo de fonte de energia


Tipo de veículo Descrição
São os veículos convencionais, movidos por motores a
ICE – Internal
combustão interna, abastecidos a gasolina/diesel.
Combustion Engine

Veículo Elétrico: utiliza energia elétrica, podendo ser


conectado em uma estação de carregamento, para
EV - Eletric Vehicle
recarga da bateria.

Veículo com motores a gasolina e um ou mais motores


elétricos (ou bateria), podendo os dois motores serem
HEV - Hibrid Eletric
usados ao mesmo tempo; não podem ser abastecidos só
Vehicle
com eletricidade;

Tem características de HEV e EV, pode ser abastecido


tanto com gasolina, quanto eletricidade. Podendo ser
PHEV – Plug Hibrid
conectado a uma fonte de energia como uma tomada
Eletric Vehicle
comum de parede.

Outro tipo de veículo híbrido, que não utiliza o motor a


combustão. Uma Célula de Combustível gera a energia
por meio da reação química entre oxigênio e hidrogênio.
FC – Fuel Cell Vehicle
Como não há combustão, os únicos subprodutos da
reação liberados no ambiente são calor e vapor d’água.

Automóveis que podem se movidos por diversos tipos de


GNC – Gaseous Fuel combustíveis gasosos alternativos, incluindo: GNV
Vehicles (liquefeito ou comprimido) e GLP.

Automóveis que podem ser movidos tanto pelos


BNC – BiFuel Vehicles combustíveis tradicionais (gasolina/diesel) ou pelas
fontes gasosas alternativas (GNV, GLP).
Fonte: NFPA, 2018
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 398

Tabela 10.3 – Classificação dos veículos híbridos pelo nível de hibridização


FUNCIONALIDADE MICRO MEIO COMPLETO PLUG-IN
Automobilisticamente liga/desliga o
motor a combustão conforme o veículo X X X X
anda/para.

Usa um motor elétrico para auxiliar no


X X X X
arranque do motor a combustão.

Funcionamento de freio regenerativo. X X X X

Usa motor elétrico para auxiliar o motor


X X X
a combustão na tração.

Em alguns momentos pode ser


X X
tracionado apenas com motor elétrico.

Recarrega a bateria através de uma


X
rede.
Fonte: adaptado de CBMDF, 2017

Além do conhecimento de qual tipo de veículo está sinistrado, quanto ao


tipo de combustível, outro aspecto indispensável para a atuação no cenário de
ocorrência é a identificação mínima das estruturas veiculares dos híbridos e elétricos,
bem como os riscos e procedimentos a serem adotados durante a ocorrência. Nesse
tipo de veículo, os maiores riscos estão relacionados à alta voltagem distribuída por
cabos de coloração laranja e pelas próprias baterias, que podem estar posicionadas
em locais diferentes, a depender do modelo do automóvel. A figura 10.20 apresenta a
estrutura de um veículo elétrico, com alguns de seus componentes.

Na tabela 10.4 pode-se verificar a relação entre cores de fiação e a


voltagem dos elementos.
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 399

Figura 10.20 - Estrutura de um veículo elétrico

Fonte: adaptado de NFPA, 2018

Tabela 10.4 – Código de cores de fiação por voltagem

CÓDIGO DE NÍVEL DE VOLTAGEM ILUSTRAÇÃO


CORES VOLTAGEM

Vermelho ou Preto Baixa Voltagem <30 Volts

Amarelo ou Azul Média Voltagem 30-60 Volts

Laranja Alta Voltagem >60 Volts

Fonte: adaptado de NFPA, 2018

Dessa forma, demonstra-se que os principais riscos para o bombeiro, no


caso de um incêndio, estão relacionados ao desconhecimento dessa nova estrutura,
bem como a possibilidade de existência de múltiplas baterias elétricas nesses
veículos. Ressalta-se que um dos maiores riscos existentes são aqueles relacionados
à eletrocussão pelo sistema energizado.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 400

Assim como ocorre nos veículos convencionais, as fontes de energia em


um veículo elétrico também deverão ser desativadas. Contudo, nesse caso, além da
bateria 12 Volts haverá também as baterias elétricas de alta tensão, que poderão ser
uma grande ameaça para as guarnições.

Quanto às ações existentes num combate a incêndio em veículo elétrico ou


híbrido, além de garantir a segurança e gerenciar riscos, a guarnição deverá atentar
para procedimentos específicos no local da ocorrência, relacionados a:

a) identificação do veículo híbrido ou elétrico;


b) estabilização/imobilização do veículo;
c) desarme/desligamento do veículo.

7.2.1 Identificação

Pode ser difícil fazer tal identificação após um acidente, ou mesmo se o


veículo estiver totalmente envolvido por chamas. Contudo, a seguir estão algumas
formas de identificação dos elétricos:

a) marcas inscritas sobre a capa do motor ou ao longo da lataria do


veículo;
b) cabos na cor laranja;
c) formato da boca de abastecimento;
d) consultas aos compêndios de modelos de veículos, com as
características construtivas e tecnológicas disponibilizados pelas
diversas montadoras.

O veículo elétrico ou híbrido também pode ser identificado internamente por


meio de verificação visual do seu painel de instrumentos, onde são inscritas palavras
e símbolos indicando a característica. Uma especificidade dos carros exclusivamente
elétricos é a inexistência de escapamento, por não serem movidos à combustão e,
portanto, não gerarem gases residuais (NFPA, 2018).

Existem diferentes formas de identificação dos elementos notáveis de um


veículo. Seja por inscrições presentes no próprio carro, ou por meio de análise de
fichas de resgate veicular, que podem ser encontradas em formato digital ou em
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 401

aplicativos para smartphones. Na figura 10.21 demonstra-se alguns dos elementos de


identificação dos veículos. Já a figura 10.22 indica um aplicativo que contém um
compêndio de fichas de resgate veicular, que apresentam os diversos elementos que
compõem os carros mais comuns a trafegarem no Brasil.

Figura 10.21 – Identificações de híbridos e elétricos

Fonte: CBMDF, 2017

Figura 10.22 – Aplicativo de compêndios de veículos

Fonte: CBPMESP, 2019

7.2.2 Estabilização/Imobilização

Assim como nos veículos convencionais a combustão interna, a colocação


de calços para impedir a movimentação do veículo durante as ações é fundamental.
Os elétricos e híbridos podem hibernar e; embora possa não ser óbvio que o motor
esteja funcionando (pois o funcionamento elétrico é silencioso), o veículo pode estar
pronto para se mover, assim que o acelerador for acionado. Nesse sentido,
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 402

acrescenta-se que somente calçar o veículo pode não impedir movimento se o


sistema de acionamento estiver engatado. Dessa maneira, caso seja possível e
seguro, o freio de emergência deverá ser acionado a fim de evitar movimentos
inesperados (NFPA, 2018).

7.2.3 Desativação/Desarme

São inúmeras as inovações tecnológicas apresentadas pela indústria


automobilística, inclusive nos mecanismos de ativação/desativação dos veículos. Nos
elétricos e híbridos, essa ativação é comumente feita pelo motorista no painel de
instrumentos por meio de botões e chaves.

Dessa forma, ao chegar ao local da ocorrência, a guarnição ao ter acesso


ao interior do veículo, poderá encontrar a chave na ignição posicionada em ligado
(on). Então, caso seja seguro realizar a aproximação, para desligar o veículo, a chave
deverá ser posicionada em desligado (off).

Há, ainda, alguns modelos que são acionados por uma chave com sensor
de presença, nesse caso, o carro é ativado quando a chave está no interior do veículo
(mesmo fora da ignição) ou até uma distância aproximada de 5 metros deste.

Logo, para garantir a desativação desses modelos, pressione os botões de


acionamento do painel, deixando-os na posição de desligado (off) e, em seguida,
remova a chave da ignição, colocando-a além do alcance de 5 metros do sensor.

Outro aspecto a ser considerado, é que esses veículos podem ter baterias
de baixa e alta voltagem localizadas em diversos pontos, e até possuir mais de uma
bateria, sendo que sua rápida identificação é extremamente importante para que
possam ser resfriadas, caso atingidas pelas chamas. Cabe salientar que as estruturas
das baterias de alta voltagem não devem ser cortadas ou abertas acidentalmente, em
virtude da exposição de cabos de alta tensão e do material constitutivo tóxico e
altamente reativo em contato com água.

A seguir, nas figuras 10.23 e 10.24, alguns dos possíveis pontos onde se
pode localizar as baterias de baixa voltagem e as de alta voltagem em híbridos e
elétricos.
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 403

Figura 10.23 – Localizações de baterias de baixa voltagem

Fonte: CBMDF, 2017

Sobre os riscos relacionados a baterias, verificou-se que mesmo


desativando a bateria de baixa voltagem não é garantido que a de alta voltagem
também será desativada. Logo, se possível, ambas deverão ser desconectadas.

Para desativar a bateria de baixa voltagem, deve-se desconectar primeiro


o cabo do pólo negativo, evitando assim que sejam produzidas centelhas e, em
seguida, pode-se desconectar o cabo do polo positivo (CBMDF, 2017).

Figura 10.24 – Localizações das baterias de alta voltagem

Fonte: CBMDF, 2017

Para desativar a bateria de alta voltagem, por sua vez, deve-se desconectar
o tampão de serviço ou acionar a função “Off” ou “Power” do interruptor, a depender
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 404

do modelo, checando o desligamento, por meio da desativação das luzes do painel.


A guarnição deve ter ciência, ainda, que o sistema pode ficar energizado
residualmente ao longo de 10 min.

Durante a desativação ou combate ao foco de incêndio na bateria de alta


voltagem, não se deve tentar abrir ou danificar as baterias, além de evitar cortar ou
perfurar a bateria de alta voltagem ou seus cabos, devido ao risco de choque elétrico.
No uso de ferramentas, como a Halligan, ao abrir o capô deve-se ter o cuidado para
não perfurar unidades de alta tensão instaladas no compartimento do motor.

Os Bombeiros devem ficar atentos quanto à possibilidade de reignição,


sobretudo se o veículo possuir bateria do tipo de íons de lítio (Li-ion), sendo que na
maioria dos veículos comercializados, as baterias de alta tensão são compostas por
hidreto metálico de níquel (Ni-MH) ou por íons de lítio (Li-ion). Para estes, a água pode
ser utilizada como agente extintor, desde que em grandes quantidades.

Quadro 10.1 – Síntese das ações específicas para veículos híbridos e elétricos

Fonte: CBMDF, 2017; NFPA, 2018

7.2.4 Procedimento geral de combate

Após as ações específicas para os sinistros envolvendo os veículos


elétricos e híbridos, passa-se à fase do combate que ocorrerá com o uso de técnicas
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 405

de combate a incêndio em veículo convencional, adicionadas ao monitoramento


constante dos riscos específicos da alta voltagem.

Quanto às baterias, embora montadoras instalem sensores de temperatura


na bateria de alta voltagem de seus veículos para o desligamento automático, em caso
de superaquecimento, colisão e curto-circuito, falhas podem acontecer, permitindo o
fluxo de eletricidade. Nesse sentido, quanto ao procedimento, o mais indicado é a
utilização de água, uma vez que não há o PQS/ PQE ou espuma disponível em
quantidade necessária para a extinção, depois do foco desenvolvido.

Cabe salientar que, caso a caixa de baterias de alta tensão esteja em


chamas, mais água será necessária. Em testes, foram necessários mais de 10.000
litros de água para extinguir as chamas. Dessa maneira, verificando tal cenário,
recomenda-se a mobilização de mais suprimento de água, bem como de cilindros de
ar comprimido extra para os EPRs (CBMDF, 2017; NFPA, 2018).

Deve-se ter em mente que as baterias de alta tensão não ficam expostas,
mas sim em locais de difícil acesso, como abaixo do assoalho do banco traseiro, do
porta-malas ou do console central (figura 10.23). Dessa maneira, como os bancos de
baterias são "caixas fechadas", pode ocorrer reignição horas depois de finalizado o
combate, caso o resfriamento não tenha sido adequado.

Nesse sentido, para avaliação dessa possibilidade de reignição, câmeras


térmicas podem ser utilizadas para medir a temperatura da bateria e ajudar a
determinar se está irradiando quantidade relevante de calor. Tal monitoramento será
útil para determinar a necessidade da manutenção do resfriamento e do isolamento
da área do sinistro.

Pode-se observar que o fogo envolvendo um híbrido ou elétrico, de maneira


geral, deve ser combatido da mesma maneira que em um veículo convencional,
sendo, contudo, adotadas as medidas preventivas citadas: identificação,
imobilização/estabilização e desarme do veículo, a fim de se evitar uma eletrocussão
em virtude da possibilidade de comprometimento dos itens de segurança do sistema
de alta tensão sob a ação do fogo.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 406

7.3 Metais pirofóricos

Especificamente, no que se refere ao combate às chamas em um


automóvel, uma dificuldade encontrada se dá em virtude da combinação e adição de
materiais que podem tornar perigosa a reação com os agentes extintores. Um
exemplo disso, é o acréscimo de materiais pirofóricos na composição de partes
diversas dos veículos, tais como as rodas de ligas de magnésio e colunas de reforço.

Quando em chamas, esses metais liberam grande quantidade de calor, e


em contato direto com a água, reagem de forma violenta, como já explanado
anteriormente.

De maneira geral, recomenda-se o uso de extintor classe “D” para esse tipo
de combustível. Contudo, rotineiramente e pela falta do agente específico, o combate
é realizado pelas guarnições com a aplicação de água, por meio de Jato Neblinado
no foco. Tal ação justifica-se na baixa concentração de magnésio e outros metais
pirofóricos na constituição dos veículos. Portanto, apesar do efeito pirofórico, durante
o combate não haverá risco de explosão, nem de acidentes envolvendo militares
devidamente equipados com EPI e EPR.

Outra estratégia utilizada é o abafamento por meio da adição de areia e


pelo isolamento com uma lona ou manta de supressão (fire blanket) (figura 10.25) ou
qualquer outro material que possa separar as chamas do ar ambiente (comburente).

Figura 10.25 - Manta de supressão em um incêndio em veículo

Fonte: Bridgehill, 2019


CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 407

8 OUTRAS INOVAÇÕES

Ao abordar a temática, pôde-se observar ao longo do tempo a introdução


de novas tecnologias estruturais e fontes alternativas de energia para veículos. Pode-
se notar, por exemplo, a evolução dos motores dos meios de transportes que já foram
movidos a vapor, passando a combustíveis fósseis, pelos elétricos, híbridos e,
atualmente, os movidos a hidrogênio, novidade no mercado (CBMDF, 2017).

O hidrogênio, inovação com grande tendência de expansão, detém o


potencial de revolucionar as fontes de combustível. Tal tecnologia, que está pronta
para ser inserida nos meios de transportes, tem como cerne as células de combustível
(Fuel Cells), tecnologia que pode converter a energia química de um combustível -
neste caso, o hidrogênio - em eletricidade.

Para apoiar a implantação desses veículos, estações de abastecimento de


hidrogênio (figura 10.26), sejam independentes ou integradas às instalações
convencionais de distribuição de combustível, serão necessárias.
Consequentemente, novos perfis de acidentes surgirão e procedimentos de respostas
deverão ser desenvolvidos para tal, pois o hidrogênio é um gás inflamável nas
condições atmosféricas e se difunde rapidamente no ar e, em concentrações de 4 a
75 %, forma uma mistura inflamável que requer apenas uma pequena quantidade de
energia para a ignição, queimando com uma chama quase invisível (NFPA, 2014).

Figura 10.26 - Preocupações de segurança: bombas de combustível de hidrogênio

Fonte: NFPA, 2014


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 408

Sua inflamabilidade é, em parte, o motivo pelo qual a implantação de


hidrogênio para uso comercial e público requer o desenvolvimento, disseminação e
implementação de normas e práticas de segurança específicas. Nos EUA, tais
necessidades já foram mapeadas em meados dos anos 2000 e seguem a pleno vapor.
No Brasil, por sua vez, tal movimento ainda necessita ser incentivado.
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 409

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA (ABIQUIM). Manual para


atendimento e emergência com produtos perigosos: Guia para as primeiras
ações em acidentes. 7ª. Ed. São Paulo. 2015. 344p.

BRASIL POSTOS. Parecer favorável a uso de gás de cozinha em veículos e a


incentivo fiscal ao GNV. Disponível em:
https://www.brasilpostos.com.br/noticias/legislacao-2/parecer-favoravel-a-uso-de-
gas-de-cozinha-em-veiculos-e-a-incentivo-fiscal-ao-gnv/. Acesso em 23 de outubro
de 2019.

BRASIL. Resolução n° 673, de 21 de junho de 2017. Dispõe sobre a proibição de


instalação e de utilização do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) como combustível
nos veículos automotores. Brasília, 2017. Disponível em:
https://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2017/junho/douinforme-26-06.2017. Acesso em: 10
de maio 2019.

BRIDGEHILL. Car Fire Blanket Eco-Friendly Fire Extinguisher Blanket.


Disponível em: https://www.thesuperboo.com/bridgehill-car-fire-blanket/. Acesso em
Acesso em 03 de maio de 2019.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE GOIÁS. Manual Operacional de


Bombeiros: Combate a incêndio urbano. Goiânia: CBMGO, 2017.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS. Instrução Técnica


Operacional 28. Atendimento a Ocorrências com Produtos Perigosos. 1ed. Belo
Horizonte: CBMMG, 2020. 104 p.

______. Instrução Técnica Operacional N.01 - Padronização do Serviço


Operacional. (Atualização 2015). Belo Horizonte: CBMMG, 2015.

______. Instrução Técnica Operacional N.23 - Protocolo de Atendimento Pré-


Hospitalar. Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais. 2ª. ed. Belo Horizonte,
2017. 191p.

______. Relatório Estatístico Mensal. Nr 04/2019. Belo Horizonte:


CINDS/CBMMG, 2019. Disponível em
http://intranet.bombeiros.mg.gov.br/units/0000000007/9986. Acesso em: 16 de maio
de 2019.

CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO.


Compêndio de fichas de Resgate Veicular – Rescue Sheets. Disponível em
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.pozzaniti.rescuesheet&hl=pt_BR.
Acesso em 07 de maio 2019.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Incêndio em


Veículos com GNV. Rio de Janeiro: CBMERJ, 2012.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 410

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA. Manual de


capacitação em combate a incêndio estrutural. 1ª. ed. Florianópolis: [s.n.], v. I,
2018.

______. Manual de Capacitação em Resgate Veicular. 1ª. ed. Florianópolis: [s.n.],


v. I, 2017, 142p.
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Curso de Resgate
Veicular. 3ª. ed. Brasília: [s.n.], v. I, 2017.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual básico de


combate a incêndio: comportamento do fogo. 2ª. ed. Brasília: [s.n.], v. I, 2012.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO. Apostila de Resgate


Veicular. Vitória - ES: [s.n.], 2017. 176 p.

______. Manual técnico: Teoria de incêndio e técnicas de combate. 1ª. ed. Vitória -
ES: [s.n.], v. I, 2014.

GRANDI, I. C. Ocorrências envolvendo veículos movidos a Gás Natural Veicular


(GNV). Análise de aspectos técnicos e proposta de Procedimento Operacional
Padrão. 2014. 107p. Trabalho de Conclusão de Curso de Formação de Oficiais do
CBMMG - Academia de Bombeiros Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ranking dos


Veículos por Estado no Brasil. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/pesquisa/22/28120?tipo=ranking. Acesso em
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MOURA, M. A disparada do carro elétrico. Revista Época, 2017. Dísponível em


https://epoca.globo.com/tecnologia/noticia/2017/10/disparada-do-carro-eletrico.html.
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NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION (NFPA) - Electric/Hybrid Vehicle


Safety Training for Emergency Responders. Quincy (usa), May 2013, 23p.

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______. All things Hydrogen. Quincy (usa), June 2014. Disponível em:
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de 2019.

OLIVEIRA, M. de. Livro Texto do Projeto Gerenciamento de Desastres - Sistema


de Comando em Operações – Florianópolis: Ministério da Integração Nacional,
CAPÍTULO 10 – COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS 411

Secretaria Nacional de Defesa Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Centro


Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, 2010. 82 p. Disponível em
http://www.gabinetemilitar.mg.gov.br/images/documentos/Defesa%20Civil/manuais/
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PORTAL DO GOVERNO DE MINAS. Conheça Minas: Rodovias. Disponível em:


https://www.mg.gov.br/conheca-minas/rodovias. Acesso em 03 de maio de 2019.
SUBCAPÍTULO 6.6 – INCÊNDIO EM CAMINHÃO TANQUE 412
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 413

CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE


Autora – 1º Ten Elen
Colaborador – Cap Soares

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 414

2 CAUSAS DOS INCÊNDIOS EM CAMINHÕES-TANQUE........................ 414

3 GERENCIAMENTO DE RISCOS ............................................................. 415

4 CIRCUNSTÂNCIAS DO COMBATE ........................................................ 419

4.1 Modos de atuação ................................................................................... 419

4.2 Agente extintor ........................................................................................ 420

5 PROCEDIMENTO DE COMBATE ........................................................... 421

5.1 “Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion” - BLEVE ........................ 421

5.2 Ações de combate a incêndio em caminhões-tanque e prevenção ao


BLEVE ................................................................................................................ 424

5.3 Ações de salvamento ou de aproximação de um tanque com risco de


BLEVE ................................................................................................................ 427

5.4 Combate a Incêndio em caminhão-tanque sem risco iminente de


BLEVE ................................................................................................................ 429

5.5 Ações Complementares.......................................................................... 430

REFERÊNCIAS................................................................................................... 432
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 414

1 INTRODUÇÃO

Segundo o Portal do Governo de Minas Gerais, o estado tem a maior


malha rodoviária do Brasil, equivalente a aproximadamente 16% do somatório de
rodovias estaduais, federais e municipais de toda a estrutura viária existente no país
(PORTAL DO GOVERNO DE MINAS, 2019). Por essas rodovias, é realizado o
transporte de diversos produtos acondicionados em caminhões-tanque. Dentre os
produtos transportados estão diversas cargas perigosas, como os gases liquefeitos
e os líquidos inflamáveis.

Incêndios ocorridos em caminhões-tanque carregados com produto


perigoso possuem um potencial de risco muito elevado, para vítimas, bombeiros,
bem como o meio ambiente (figura 11.1). Por isso, a importância de definir
procedimentos padronizados para atuação em caso de sinistro. Esse capítulo irá se
dedicar a trazer informações sobre os incêndios em caminhões-tanque carregados
com líquidos e gases inflamáveis e sobre o risco de BLEVE.

2 CAUSAS DOS INCÊNDIOS EM CAMINHÕES-TANQUE

Durante a manipulação, transporte e armazenamento de gases


liquefeitos e de líquidos inflamáveis, há suscetibilidade de graves intercorrências,
como vazamentos, incêndios, explosões, etc. Os vazamentos podem ocorrer por
enchimento excessivo, ruptura de tanque, falhas de operação, acidentes de trânsito
como capotamentos e tombamentos, ou mesmo por incêndios iniciados por
superaquecimento ou falhas mecânicas do veículo. Os incêndios, por sua vez,
podem estar ou não relacionados a vazamentos e podem ocorrer a partir do contato
do líquido ou gás inflamável com fontes de ignição: chamas, superfícies aquecidas,
fagulhas, centelhas e arcos elétricos. A adoção de medidas preventivas e
mitigadoras, como a instalação de válvulas de segurança1 e alívio2 e a manutenção

1 Válvula de segurança é o dispositivo automático de alívio de pressão caracterizado por uma


abertura instantânea (“pop”), uma vez atingida a pressão de abertura. Usada para líquidos
compressíveis.
2 Válvula de alívio é o dispositivo automático de alívio de pressão caracterizado por uma abertura

progressiva e proporcional ao aumento da pressão acima da pressão de abertura. Usada para


líquidos incompressíveis.
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 415

do veículo e do recipiente de armazenamento, são essenciais para redução dos


incidentes e seus danos (CBMGO, 2017).

Figura 11.1 - Incêndio em caminhão-tanque carregado com álcool e gasolina

Fonte: Portal G1, 2019

3 GERENCIAMENTO DE RISCOS

Devido à complexidade potencial do incidente, no recebimento de uma


chamada de incêndio em caminhão-tanque, deve-se coletar criteriosamente o maior
número de informações durante o deslocamento. Chegando ao local, as guarnições
devem continuar a busca por essas informações, e devem atualizá-las conforme a
dinâmica do sinistro para identificação do produto envolvido e da magnitude da
ocorrência. Exemplarmente, seguem algumas informações importantes que
deverão ser verificadas (CBMMG, 2020):

a) existência e quantidade de vítimas ou pessoas em risco;


b) características do caminhão envolvido, bem como do seu tanque:
tipo, dimensões e volume;
c) informações físico-químicas e toxicológicas do produto armazenado;
d) informações sobre a transportadora da carga, placa do veículo e
outras informações importantes para a solicitação de apoio;

Válvula de segurança e alívio [tipo de válvula a que se refere este manual] é o dispositivo
automático de pressão adequado para trabalhar como válvula de segurança ou válvula de alívio,
dependendo da aplicação desejada (IBP, 2017, grifo nosso).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 416

e) tipo de incêndio: incêndio na carga, incêndio na cabine, incêndio nas


rodas, incêndio generalizado;
f) se há sinais indicativos do risco de BLEVE: assobios característicos
de vazamento, acionamento da válvula de alívio (com ou sem
chamas), ou se há algum dano ou bloqueio nessa válvula;
g) circunstância do local do acidente: proximidade de casas, fluxo
interrompido ou não da via, relevo, cursos d’água para onde o líquido
possa escorrer;
h) necessidade de evacuação da vizinhança devido ao risco de
explosão ou à existência de gases tóxicos resultantes do incêndio;
i) condições meteorológicas (chuva, umidade, vento, temperatura,
etc.);
j) recursos necessários: viaturas, água, efetivo, LGE, aplicadores e
canhões monitores, EPIs, EPRs, abastecimento de cilindros,
recursos para contenção do líquido vazado, apoio de equipe
especializada, etc.;
k) tempo disponível para o combate seguro.

A figura 11.2 e o quadro 11.1 auxiliam na identificação das partes


notáveis de um caminhão-tanque.

Figura 11.2 – Partes notáveis de um caminhão-tanque

Fonte: Autora
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 417

Quadro 11.1 – Terminologia técnica e conceitual das partes notáveis de um caminhão-tanque


TERMINOLOGIA TÉCNICA CONCEITO
Abertura destinada a permitir o acesso ao
Boca de Visita ou Abertura de interior do tanque, podendo também ser
Inspeção utilizada como conexão para enchimento.

Fechamento estanque da seção transversal


Calota do Tanque de Carga do tanque, nas extremidades do mesmo.

Superfície do tanque excluindo as calotas


Costado do Tanque de Carga
(extremidades).
Recipiente fechado sob pressão
(pressurizado) ou não, isolado termicamente
ou não, com estrutura, proteção e acessórios,
Tanque de Carga construídos e destinados a acondicionar e
transportar produtos a granel no estado
líquido ou gasoso.

Dispositivo automático de alívio de pressão


Válvula de Segurança e Alívio com abertura da válvula quando atingida a
pressão de abertura.
Fonte: INMETRO, 2009

Após a coleta de informações, deve ser realizado o isolamento da área


de trabalho em zonas (quente, morna e fria), bem como as instalações iniciais do
SCO (Posto de Comando e Área de Espera) devem ser implementadas. Para tanto,
deverá ser considerado: a magnitude do evento, o isolamento de segurança
orientado por informações constantes no Manual da ABIQUIM3 ou na FISPQ4 e a

3 Manual da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) para atendimento de


emergência. Reúne informações que podem ajudar os envolvidos em situações de emergências com
produtos químicos no transporte terrestre (ABIQUIM, 2015).
4 A Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) fornece informações sobre

vários aspectos de produtos químicos (substâncias ou misturas) quanto à proteção, à segurança, à


saúde e ao meio ambiente. A FISPQ fornece, para esses aspectos, conhecimentos básicos sobre
os produtos químicos, recomendações sobre medidas de proteção e ações em situação de
emergência (ABNT, 2010).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 418

direção do vento (sempre que possível pelas costas), evitando-se posicionar o


aparato da operação em áreas abaixo do nível do local do acidente, para onde
possa haver escoamento do líquido em chamas e acúmulo de vapores/gases
inflamáveis (CBMGO, 2017). Ainda é importante salientar que se o tanque ou carga
estiver envolvido pelo fogo, a área deve ser isolada num raio de 800 metros
(CBMMG, 2020).

A primeira equipe a chegar ao local nem sempre será aquela que possui
condições adequadas para prestar o atendimento completo, todavia, deverá adotar
medidas com vistas a não agravar a situação, iniciando ações importantes para o
atendimento, com destaque para a identificação e o isolamento inicial do local e a
adoção de medidas de contenção e controle de vazamentos, desde que haja
segurança para isso (CBMMG, 2020). Acrescenta-se que essas ações, bem como
o levantamento inicial de informações, devem ser dinâmicas e, muitas vezes,
simultâneas.

Ações de salvamento de vítimas são prioritárias, porém deverá haver um


dimensionamento adequado da cena e uma avaliação das condições suficientes
para que o bombeiro as realize em segurança. Assim, devido à propagação da
fumaça e vapores inflamáveis, bem como o risco de explosão, qualquer
aproximação deve ser realizada com o uso de EPI de combate a incêndio completo
e EPR. A retirada emergencial de vítimas deve ser feita com uso de jato de
penetração5, conforme citado no capítulo de técnicas desse MABOM.

Nesse primeiro contato, as condições do tanque, do seu costado e


válvulas de segurança, deverão ser constantemente observadas, em virtude da
necessidade de resfriamento de superfícies expostas às chamas, prevenindo a
possibilidade de ruptura do tanque (CBMGO, 2017).

Uma vez que essas emergências podem ter como um dos resultados a
contaminação do meio ambiente, é importante o contato imediato junto ao Núcleo
de Emergências Ambientais – NEA, da Fundação Estadual do Meio Ambiente -

5
O Jato de Penetração deve ser realizado com um esguicho na abertura de Neblina (ou neblinado
amplo, cabendo essa decisão ao chefe de linha) e vazão máxima do esguicho (125 GPM ou 475
LPM). Deve ser aplicado continuamente enquanto a equipe progride em direção à vítima a ser
evacuada e deve continuar sendo aplicado até que a vítima seja colocada em local seguro.
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 419

FEAM, que poderá auxiliar no acionamento da transportadora e em outras medidas


de resposta à emergência. É importante que ao fazer o contato sejam repassadas
informações sobre o produto envolvido e a transportadora responsável pelo veículo,
para que o apoio seja efetivo.

Após esta verificação inicial, não sendo possível a identificação do


produto, deverá ser realizada a delimitação da Zona Quente, com o isolamento da
área no raio de:

a) 800 metros em todas as direções, se o tanque ou carga estiver


envolvida pelo fogo, devido ao risco de explosão;
b) 100 metros em todas as direções, após a extinção do incêndio, na
impossibilidade da identificação do produto, até que possa ser
identificado;
c) distância prevista no Manual da ABIQUIM, na FISPQ, na ficha de
emergência, em aplicativos para celular ou noutra fonte de consulta
confiável, após a identificação do produto (CBMMG, 2020).

Como observado, embora sinistros envolvendo caminhões-tanque


possam ocorrer com inúmeros produtos perigosos e riscos específicos diferentes,
neste capítulo serão abordadas ações envolvendo gases liquefeitos e líquidos
inflamáveis.

4 CIRCUNSTÂNCIAS DO COMBATE

Deve-se verificar algumas condições para o combate ao incêndio, que


envolve a definição do modo de atuação, relacionado a disponibilidade de recursos
para a tática adotada.

4.1 Modos de atuação

Definido o contexto de atuação, a partir da avaliação de risco do cenário


poderão ser adotadas ações ofensivas, quando houver recursos suficientes para
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 420

o combate direto (espuma, equipamentos, pessoas, água e viaturas) e a


aproximação segura, sendo possível realizar o ataque direto ao foco de incêndio,
combinado com o resfriamento do tanque.

No cenário de recursos insuficientes, ou que não seja possível a


aproximação devido ao risco iminente de explosão, buscando minimizar danos nas
proximidades do incêndio, podem ser realizadas ações defensivas que priorizam
o resfriamento de estruturas próximas e do próprio caminhão-tanque, e medidas de
contenção e controle de vazamentos, como a construção de desvios e diques.
Essas ações também podem ser utilizadas como fase de preparação para a ação
ofensiva.

Por fim, pode haver circunstâncias em que os recursos são insuficientes


para o combate, não existem bens significantes a serem protegidos e o risco de
explosão é iminente, havendo risco extremo para a execução de ações defensivas
ou ofensivas. Dessa forma, a única ação possível seria a ação passiva ou não
intervenção, baseada na evacuação e isolamento total para permitir a queima do
produto com segurança (CBMGO, 2017).

4.2 Agente extintor

Outro aspecto importante que reflete na estratégia de combate é a


definição e oferta do agente extintor. A água em geral é ineficiente quando se trata
de incêndio em líquidos inflamáveis. Ainda assim, pode ser usada para o combate
ao incêndio em outras estruturas do caminhão, resfriamento do tanque, para
proteção à distância, encharcamento de sólidos, resfriamento de superfícies
líquidas, emulsificação de óleo, proteção de pessoas e estruturas, diluição de
álcoois, dispersão de gases/vapores (dispersão ou dissolução) e absorção do calor.

As espumas, por sua vez, extinguem as chamas em líquidos inflamáveis


por meio de abafamento, da supressão da liberação de vapores, da separação das
chamas da superfície do combustível e do resfriamento da superfície do líquido. No
entanto, têm pouca ou nenhuma eficiência para gases liquefeitos, líquidos em fluxo
e substâncias que reagem com a água.
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 421

Deve-se considerar a taxa de aplicação de espuma e a quantidade de


LGE para que o combate seja eficiente e para que não falte líquido gerador durante
o combate (CBMGO, 2017).

Não é recomendado empregar a espuma em uma operação de combate a


incêndio se não tiver disponível no momento a quantidade suficiente para
debelar por completo esse incêndio. É mais inteligente aguardar a chegada de
quantidade suficiente, para evitar perder o recurso na primeira aplicação
efetuada.

5 PROCEDIMENTO DE COMBATE

Para o combate a incêndio envolvendo caminhão-tanque transportando


líquidos ou gases inflamáveis deve-se considerar dois cenários de atuação: o
incêndio com risco iminente de explosão (BLEVE) e o incêndio em caminhão-tanque
sem risco iminente de explosão, a exemplo de um incêndio que atinge a cabine do
caminhão sem que as chamas incidam sobre o tanque;

No caso de incêndio em caminhão-tanque, conhecidas as circunstâncias,


definida a tática e tendo em vista a dinâmica do cenário, diversas condutas devem
ser empregadas pela guarnição, desde o reconhecimento do risco, até a execução
de ações de salvamento, socorro e ações complementares, conforme apresenta-se
a seguir.

5.1 “Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion” - BLEVE

O BLEVE é o acrônimo da expressão em inglês Boiling Liquid Expanding


Vapor Explosion que em sua tradução significa Explosão do Vapor Expandido pelo
Líquido em Ebulição. Nesse conceito, existem alguns requisitos para que uma
explosão seja considerada BLEVE:

a) o recipiente que armazena o produto deve ser um vaso fechado, ou


seja, um tambor, cilindro, tanque, esfera, etc., podendo ter ou não
válvula(s) de segurança e alívio;
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 422

b) o produto envolvido deve estar armazenado na fase líquida, e pode


ou não ser inflamável.

O BLEVE é um processo físico que envolve o rompimento de um


recipiente pressurizado, provocado pela sua fragilização, em decorrência de
exposição a chamas ou danos mecânicos, com a liberação repentina de um líquido
ou gás liquefeito, expandido rapidamente.

Essa explosão pode gerar a projeção de fragmentos, a expansão


repentina do produto armazenado e a geração de uma sobre pressão (onda de
choque). Normalmente, os fragmentos são projetados na direção do eixo
longitudinal em um tanque cilíndrico, devido a isso, não é recomendada a
aproximação pela região das calotas de um tanque na posição horizontal. Os
fragmentos, também podem ser defletidos e mudarem de direção. Ainda, se a
substância envolvida for inflamável, no momento da explosão poderá ocorrer a sua
queima em contato com uma fonte de ignição, e devido à expansão do produto
(geralmente mais de 200 vezes o volume inicial) se formará uma bola de fogo
(HADDAD, 2009).

Pode ocorrer em recipientes de líquidos ou gases liquefeitos quando são


expostos ao fogo ou sujeitos a outro tipo de aquecimento. No caso de gases
liquefeitos também pode acontecer o BLEVE mecânico, sem a ocorrência de
aquecimento pelo fogo, ou seja, o metal é rompido por um objeto que cause um
dano mecânico.

Quando as chamas incidem abaixo do nível do líquido, a maior parte do


calor transmitido é absorvida pelo líquido, isso provoca o aumento da temperatura
e da pressão interna, na maioria das vezes, suportada pelo recipiente, ocorrendo,
geralmente, a abertura da válvula de segurança e alívio. Contudo, quando o
aquecimento é acima do nível do líquido, ou quando devido à evaporação do líquido
a chama passa a incidir nesse nível, além do aumento da pressão interna, tem-se
a diminuição da resistência da chapa metálica pela ação do calor, ocasionando a
ruptura (CBMGO, 2017).

Isso ocorre uma vez que temos uma baixa capacidade de absorção de
calor por parte do gás, em comparação com o líquido, na região onde a chama atua.
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 423

Esta parte do recipiente tem sua temperatura elevada rapidamente, o que contribui
para o aumento da sua fragilidade mecânica, e esse fator, combinado ao aumento
da pressão interna, pode levar o recipiente à ruptura, ocasionando o BLEVE.

Todos os esforços e cuidados são importantes para tentar evitar a


possibilidade do BLEVE, tendo em vista a gravidade dos riscos para as guarnições.
Sobre esse fenômeno é importante salientar que há duas circunstâncias que
contribuem para aumento da probabilidade de ocorrência de BLEVE:

a) quando há a incidência de uma chama pontual no costado do tanque.


Nessa situação a chama aquecerá o costado de forma pontual o que
pode gerar fragilização, comprometendo sua resistência mecânica;
b) quando o produto armazenado é um gás liquefeito. Nessas
circunstâncias, devido à baixa temperatura crítica6 dos gases
liquefeitos, com o rápido aquecimento, será atingida a sua
temperatura crítica, seguido de um aumento rápido da pressão
interna no recipiente com a passagem do produto para o estado
gasoso, o que pode levar o recipiente à ruptura, ocasionando o
BLEVE.

Alguns sinais evidenciam a iminente probabilidade de ocorrência de


BLEVE:

a) o aumento da chama ou do vazamento que saem pela válvula de


segurança e alívio, seguido de um assobio alto proveniente da
passagem rápida do vapor por essa válvula;
b) alteração da cor do tanque (pelo aquecimento exagerado) e;
c) deformações no tanque.

Nesse caso, todas as pessoas próximas ao local deverão ser evacuadas,


inclusive os bombeiros militares (CBMMG, 2020).

6 Temperatura crítica é a temperatura acima da qual a substância pode existir somente na forma
de gás. Acima dessa temperatura, um gás não pode ser liquefeito, por mais que a pressão do
sistema seja elevada (SONNTAG e BORGNAKKE, 2003).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 424

5.2 Ações de combate a incêndio em caminhões-tanque e prevenção ao


BLEVE

Os seguintes cuidados devem ser tomados para se prevenir a ocorrência


de BLEVE no combate a incêndio em caminhões-tanque, e para a proteção da
guarnição, caso essa explosão ocorra:

a) considerando o risco de BLEVE, proceder à evacuação das pessoas


e o isolamento de 800m em todas as direções;
b) estacionar a viatura no mesmo plano ou em local mais elevado do
que o caminhão, posicionando-a paralelamente ao tanque de
transporte do produto perigoso ou, quando isso não for possível, na
diagonal da cabine do caminhão. Deve ser evitada a aproximação e
o posicionamento no sentido das calotas do tanque;
c) a viatura deve ser estacionada a uma distância que ofereça o máximo
de segurança possível e que permita à equipe resfriar o tanque tendo
a viatura como barreira de proteção, para o caso de uma explosão.
Essa distância é limitada pela capacidade do corpo de bomba da
viatura em lançar a água a grandes distâncias; geralmente varia entre
30 e 50 metros, sendo que o aumento da vazão no esguicho
proporcionará um maior alcance do jato;
d) utilizar EPI de combate a incêndio e EPR para as ações de resposta;
e) resfriar o tanque aplicando água no seu terço superior em forma de
“dilúvio”, que é atingido após o ponto de quebra7 do jato compacto
(FIG. 3). NUNCA aplicar jato de água compacto a alta pressão
diretamente no costado do tanque, pois o resfriamento brusco
fragiliza a estrutura do aço que perde parte da sua resistência
mecânica, o que pode ocasionar a ruptura do tanque;
f) em virtude da distância de segurança (30 a 50m devido à limitação
do corpo de bomba), o uso do esguicho com jato neblinado não
possibilitará que a água alcance o terço superior do tanque. Então, o
jato deve ser lançado na forma compacta com uma angulação que

7
Ponto de quebra: é o ponto a partir do qual o jato perde a configuração de contínuo e passa a se
fragmentar em grandes gotas (CBMES, 2014).
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 425

permita que o jato perca sua continuidade por quebra em outras


gotas e chegue na forma de “dilúvio” ao tanque (Figura 11.3).
Todavia, em último caso, ao realizar a aproximação das linhas de
resfriamento e proteção para uma distância menor, pode ser
necessário que seja regulado para o jato neblinado para não gerar
dano na estrutura do tanque;
g) ainda, a uma distância segura, combater o foco de incêndio que
atinge o costado do tanque. Para a extinção desse foco pode ser
necessária a aproximação para a aplicação de espuma ou para o
fechamento de alguma válvula, o que deve ser feito apenas se o
cenário oferecer condições para isso e adotando ações que visem
aumentar a segurança;
h) considerado o risco de explosão, realizar o combate ao incêndio ou
o resfriamento do terço superior a uma distância segura, utilizando a
estrutura da própria viatura como proteção contra projeção de
chamas, sobre pressão ou estilhaços gerados em uma explosão,
podendo se posicionar debaixo ou atrás da viatura, ou mantendo a
silhueta baixa: agachado ou deitado, quando não for possível usar a
viatura como anteparo;

Figura 11.3 – Ponto de quebra do jato compacto

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 426

i) durante o combate ao incêndio, as chamas que saem sob pressão


da válvula de segurança e alívio do tanque, ou de alguma tubulação,
não deverão ser extintas se não houver possibilidade de se
interromper o vazamento com segurança, uma vez que estas
chamas cumprem um papel importante no cenário ao queimar o
combustível que é expelido do tanque, evitando assim que se forme
uma atmosfera explosiva na região;
j) no caso de haver algum ponto de vazamento de gás ou vapor em
uma tubulação ou em dispositivos de segurança e alívio, sem a
presença de chamas, podem ser usados jatos de água, neblinado
amplo ou estreito, para a dispersão ou dissolução dos gases ou
vapores liberados. Porém, não se deve jogar água diretamente nos
pontos de vazamento, se estiverem pressurizados, ou nos
dispositivos de segurança, pois pode ocorrer congelamento da
estrutura, interrompendo o fluxo do vazamento e gerando sobre
pressão (ABIQUIM, 2015);
k) evacuar o local imediatamente, inclusive os bombeiros, no caso de
aparecerem sinais iminentes do BLEVE, com o aumento repentino:
das chamas; do vazamento; do som do dispositivo de segurança do
tanque; ou a mudança de cor e/ou deformação do tanque devido à
ação do calor;
l) no caso de uma ruptura iminente que não permita à equipe evadir do
local com segurança, a dupla deve adotar o uso do jato de proteção8
para minimizar os efeitos da explosão, podendo este jato ter leve
inclinação na direção do tanque;
m) o uso do esguicho do tipo canhão monitor, de solo ou da viatura, pode
ser uma opção para diminuir os riscos para as equipes. Porém, é
importante considerar que estes esguichos exigem disponibilidade
de grande reserva de água.

8 Jato de Proteção: o chefe de linha deverá abrir totalmente a manopla do esguicho para fluxo
contínuo de água, aumentar sua angulação de abertura para 120º (neblina); em seguida, deverá
deitar-se no chão, de frente para seu ajudante, com a mangueira entre eles, aumentar a vazão do
esguicho para a máxima (125 GPM ou 475 LPM), esticar o braço do esguicho para cima, de forma
que fique perpendicular ao solo, e voltar o rosto para o chão.
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 427

Se não for possível realizar as ações acima descritas, abandonar a área


e deixar o caminhão-tanque e sua carga queimar (não atuação). Ações passivas,
como o resfriamento de edificações vizinhas e a criação de diques de contenção
para o produto vazado, também podem ser adotadas. (CBMES, 2014; CBMDF,
2017; CBMSC, 2018).

5.3 Ações de salvamento ou de aproximação de um tanque com risco de


BLEVE

Mesmo que o incêndio no caminhão-tanque apresente risco de BLEVE,


algumas situações exigirão das equipes uma aproximação, a qual deve ser
planejada de forma a não se constituir um risco desnecessário.

O salvamento de vítimas, por exemplo, e a necessidade de aplicar


espuma ou fechar alguma válvula para se extinguir o incêndio que atinge o costado
do tanque requerem a aproximação das equipes. Com relação a essas situações,
de acordo com o princípio da segurança, devem ser avaliado o seguinte:

a) verificar a existência de sinais iminentes do BLEVE, e se existirem,


não é recomendada a aproximação por parte das guarnições até que
a situação de risco seja minimizada;

b) no caso de aproximação para a extinção das chamas que incidem no


costado do tanque, só aproxime quando os sinais de BLEVE não
forem evidentes;

c) no caso de vítima(s), confirmar a sua existência e possibilidade de


salvamento com vida; avaliar sobre a iminência do BLEVE e a
possibilidade de salvá-la(s); e tomar a decisão.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 428

Figura 11.4: Combate a incêndio em caminhão-tanque (normal e tombado)

Fonte: Autora

Ao se decidir pela aproximação, devem ser adotadas ações para


diminuir a exposição ao risco de BLEVE, conforme abaixo descrito:

a) as equipes, ao procederem a aproximação, devem possuir o mínimo


necessário de bombeiros, com vista a expor o menor número de
bombeiros ao risco;
b) manter uma linha de mangueiras resfriando o terço superior do
tanque, prevenindo o risco de BLEVE (figura 11.4);
c) avançar com duas linhas de ataque, sendo que uma atuará como
linha de combate às chamas que incidem sobre tanque e a segunda,
como linha de penetração para salvamento de vítima(s) e proteção
da guarnição;
d) no caso das chamas que incidirem no costado do tanque serem
originadas de líquido inflamável, uma das linhas poderá ser de
espuma ou poderá ser acrescentada essa linha;
e) para o salvamento de vítima(s), além das linhas que avançam, deve-
se deslocar um bombeiro para proceder o resgate, utilizando a
técnica de retirada de emergência, conforme descrito no capítulo de
incêndio em veículo. Para a aproximação, o jato de penetração
deverá fazer a proteção do bombeiro. Em alguns casos, no momento
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 429

do salvamento, a linha que atua no combate às chamas poderá fazer


o jato de penetração para aumentar a segurança da equipe (figura
11.5). Assim que a(s) vítima(s) for(em) retirada(s) do local de risco,
as linhas devem recuar com a(s) mesma(s);
f) considerar o risco de explosão, e realizar os deslocamentos e o
combate ao incêndio mantendo a silhueta baixa e evitando-se “dar
as costas” para o tanque.

Figura 11.5 – Ações de salvamento e aproximação

Fonte: Autora

5.4 Combate a incêndio em caminhão-tanque sem risco iminente de BLEVE

Alguns incêndios em caminhão-tanque podem não apresentar um risco


de BLEVE, como é o caso de incêndios que atinjam a cabine do caminhão sem
incidir no tanque; princípios de incêndio nas rodas do caminhão, sem provocar
acionamento de válvulas de segurança e alívio; incêndio em caminhões-tanque de
líquidos inflamáveis que já estejam com as bocas de visita abertas, ou que já exista
alguma outra abertura considerável no tanque, etc.

Mesmo que o incêndio no caminhão-tanque não apresente, na chegada


da equipe, um risco de BLEVE, algumas ações deverão ser adotadas já prevendo
uma possível evolução do cenário:
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 430

a) considerar o risco de BLEVE, mesmo que não seja iminente, e


proceder o isolamento de 800m em todas as direções;
b) estacionar a viatura pensando na evolução do cenário e o possível
risco de BLEVE;
c) utilizar EPI de combate a incêndio e EPR para as ações de resposta;
d) manter uma linha de mangueiras resfriando o terço superior do
tanque, prevenindo o risco de BLEVE;
e) verificar a existência de vítimas, vazamentos, derramamentos e
fontes de ignição;
f) efetuar o combate às chamas na cabine, conforme orientado no
capítulo de incêndio em veículo;
g) no caso de incêndio originado por líquido inflamável, efetuar o
combate com uso de espuma (figura 11.6).

Figura 11.6 – Uso de espuma e água

Fonte: Autora

5.5 Ações Complementares

Antes mesmo do início de um incêndio em caminhão-tanque, caso seja


apenas um vazamento; na ocorrência do incêndio em si ou após ter sido controlado,
ações para o gerenciamento dos riscos devem ser tomadas pela guarnição,
conforme a Instrução Técnica Operacional N°28 de Atendimento a ocorrências com
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 431

produtos perigosos (CBMMG, 2020). Nesse contexto, destacam-se algumas ações


como:

a) proceder ao isolamento referente ao produto existente no tanque e


com base em informações constantes no Manual da ABIQUIM, na
FISPQ;
b) se ainda não tiver sido realizado, e se disponível, acionar equipe
especializada em atuação em emergências com Produtos Perigosos
do CBMMG para apoio na ocorrência;
c) realizar o monitoramento com detectores de gases ou explosímetro,
antes de liberar a via;
d) após o combate e extinção do incêndio, continuar o resfriamento do
tanque e a dispersão ou dissolução dos gases ou vapores liberados,
evitando a formação de atmosfera explosiva;
e) comunicar e solicitar apoio aos órgãos e empresas competentes,
lembrando que a transportadora é responsável por realizar as ações
de transbordo e retirada do veículo da via, podendo fazer através de
equipes contratadas, conforme previsão na Lei Estadual
22.805/2017;
f) ações de contenção e controle devem ser realizadas pelas equipes
BM no local, com vistas a minimizar o risco e os danos ambientais;
g) durante as ações de transbordo e destombamento do veículo, exigir
das equipes responsáveis e adotar ações para a prevenção dos
acidentes relativos ao risco de incêndio e explosão.

Sobre essas ações, é importante observar que elas extrapolam o tema


dos incêndios em caminhão-tanque e, por isso, devem ser aprofundadas em
manuais e instruções técnicas específicas.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 432

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA (ABIQUIM). Manual para


atendimento e emergência com produtos perigosos: Guia para as primeiras
ações em acidentes. 7ª. Ed. São Paulo. 2015. 344p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 14725-4:


Produtos químicos — Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente
Parte 4: Ficha de informações de segurança de produtos químicos (FISPQ).
Rio de Janeiro, 27 p. 2010. Disponível em: https://ww3.icb.usp.br/wp-
content/uploads/2019/11/Parte4_NBR_14725-4-2009.pdf. Acesso em 18 abr.
2020.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE GOIÁS. Manual operacional de


bombeiros: combate a incêndio urbano. Goiânia: CBMGO, 2017.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS. Instrução Técnica


Operacional 28. Atendimento a Ocorrências com Produtos Perigosos. 1ed. Belo
Horizonte: CBMMG, 2020. 104 p.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA. Manual de


capacitação em combate a incêndio estrutural. 1ª. ed. Florianópolis: [s.n.], v. I,
2018

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Curso de Resgate


Veicular. 3ª. ed. Brasília: [s.n.], v. I, 2017.

______. Manual básico de combate a incêndio: comportamento do fogo. 2ª. ed.


Brasília: [s.n.], v. I, 2012.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO. Manual técnico:


Teoria de incêndio e técnicas de combate. 1ª. ed. Vitória - ES: [s.n.], v. I, 2014.
HADDAD, Edson. BLEVE. Divisão de Gerenciamento de Riscos da CETESB.
Disponível em https://cetesb.sp.gov.br/emergencias-quimicas/wp-
content/uploads/sites/22/2013/12/bleve.pdf . Acesso em 20 abr.2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS (IPB).


Válvulas de segurança e alívio. Luiz Antônio Moschini de Souza (Organizador).
Rio de Janeiro: IBP, 2017. 55p.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE


INDUSTRIAL (INMETRO). Portaria N° 91 - Revisão dos Regulamentos
Técnicos da Qualidade da área de produtos perigosos e do "Glossário de
Terminologias Técnicas Utilizadas nos RTQ para o Transporte de Produtos
Perigosos" de 31 de março 2009. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 abr.
2009. Disponível em
http://www.inmetro.gov.br/legislacao/rtac/pdf/RTAC001434.pdf. Acesso em 18 abr.
2020.
CAPÍTULO 11 – COMBATE A INCÊNDIO EM CAMINHÃO-TANQUE 433

PORTAL DO GOVERNO DE MINAS (PORTAL). Conheça Minas: Rodovias.


Disponível em: https://www.mg.gov.br/conheca-minas/rodovias. Acesso em 03 de
maio de 2019. Site.

PORTAL G1. Desenvolvido por Portal G1 Sul De Minas: Caminhão-Tanque


carregado com 13.000 litros de combustível pega fogo na Fernão Dias.
Disponível em: https://g1.globo.com/mg/sul-de-
minas/noticia/2019/07/16/caminhao-tanque-carregado-com-13-mil-litros-de-
combustivel-pega-fogo-na-fernao-dias.ghtml Acesso em 30 de dez de 2019.

SONNTAG, Richard E.; BORGNAKKE, Claus. Introdução à termodinâmica para


engenharia. [Introduction to engineering thermodynamics (inglês)]. Tradução de
Luiz Machado, Geraldo Augusto Campolina França e Ricardo Nicolau Nassar
Koury. Rio de Janeiro: LTC, 2003. 381 p.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 434
CAPÍTULO 12 – INCÊNDIO EM GLP 435

CAPÍTULO 12 – INCÊNDIO EM GLP


Autor – 1º Ten Weyber

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 436

2 ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE ......................................................... 437

3 CENTRAL DE GLP ........................................................................................ 441

4 OCORRÊNCIAS DE BOMBEIRO ENVOLVENDO GLP DOMÉSTICO ......... 442

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 443
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 436

1 INTRODUÇÃO

O gás liquefeito de petróleo (GLP) é um combustível amplamente usado,


desde os grandes centros até os locais mais remotos, o que demonstra sua
importância no cenário dos Corpos de Bombeiros Militares. Os botijões de 13 kg são
os mais encontrados nas cozinhas da maioria das residências. Também pode ser
comercializado em recipientes menores (a partir de 2 kg) e muito maiores (como
aqueles utilizados no meio industrial, comercial e residencial), além das centrais de
GLP (PETROBRAS, 2019).

O GLP apresenta vantagens técnicas e econômicas, quando comparado a


outros combustíveis, o que justifica sua grande aplicabilidade no cotidiano. Como gás,
sua mistura com o ar é mais simples e completa, o que permite uma combustão limpa,
não poluente e de maior rendimento. Por estar liquefeito sob pressão (entre 4 kgf/cm 2
a 15 kgf/cm2) na temperatura ambiente, pode ser armazenado e transportado com
facilidade, inclusive em grandes quantidades (PETROBRAS, 2019).

O gás é derivado do petróleo e tem na sua composição, basicamente,


propano e butano, na proporção de aproximadamente 50% cada, podendo
apresentar-se em mistura entre si e com pequenas frações de outros hidrocarbonetos.
Ele não é corrosivo, poluente e nem tóxico, mas se inalado em grande quantidade
produz efeito anestésico. Também pode ser asfixiante (a exposição é principalmente
por via inalatória) quando em grande quantidade no ambiente, já que elimina o
oxigênio do ar (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO, 2014).

Tabela 12.1 – Propriedades do GLP


Propriedades Propano N-Butano
Peso Específico na Fase Vapor (kg/m³) 1,522 2,0008
Ponto de Fusão (°C) -187,7 -138,3
Ponto de Ebulição (°C) -42,1 -0,5
Limite Inferior de Explosividade em relação ao ar (%) 2,15 1,55
Limite Superior de Explosividade em relação ao ar (%) 9.6 8,6
Densidade Absoluta na fase vapor 0,508 0,584
Densidade Relativa na fase vapor (kg/m³) - ar = 1,0 1,522 2,006
Temperatura de autoignição no ar (°C) 480 420
Peso específico do gás à pressão atmosférica (kg/m³) 1,86 2,45
Fonte: Fogás, 2019
CAPÍTULO 12 – INCÊNDIO EM GLP 437

Conforme observado na tabela 12.1, o propano e o butano possuem


densidade relativa na fase vapor 1,522 kg/m³ e 2,006 kg/m³ respectivamente e,
portanto, são mais densos que o ar, que tem 1 kg/m³ de densidade. Dessa forma, se
houver vazamento do GLP, este não sofrerá uma rápida dispersão na atmosfera,
tendendo a se concentrar na parte inferior do ambiente com alto risco de
inflamabilidade. Por esta característica, é que se deve atentar para o risco de acúmulo
do GLP em galerias de esgoto, buracos e bueiros, o que pode causar um risco de
explosão (PETROBRAS, 2019).

A faixa de inflamabilidade do propano é de 2,1 a 9,5% em temperatura


ambiente e para o butano esta é de 1,8 a 8,4%. Ou seja, ao se atingir uma
concentração de cerca de 2% de GLP no ambiente, a combustão pode ser iniciada a
qualquer momento, desde que se tenha uma fonte de ignição (PETROBRAS, 2019).

O GLP é inodoro. Para facilitar a detecção de um possível vazamento do


gás é obrigatória, na sua produção, a adição de agentes odorizantes, tradicionalmente
compostos a base de enxofre, conhecidos como mercaptanas. Para se evitar o
acúmulo de GLP no ambiente, as regras de armazenamento e manipulação devem
ser rigorosamente seguidas (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO
FEDERAL, 2013).

2 ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE

O transporte e armazenamento do GLP é realizado em diferentes


recipientes, cuja fabricação é regulamentada por normas técnicas e de segurança.
Como citado anteriormente, quando o gás é submetido a maiores pressões, ele muda
para o estado líquido e, a partir daí, é armazenado nos cilindros. Dentro dos botijões,
encontra-se tanto no estado líquido quanto vapor, em uma proporção de 85% líquido
e 15% vapor, quando o cilindro estiver cheio (CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA
MILITAR DE SÃO PAULO, 2006) (figura 12.1).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 438

Figura 12.1 – Proporção das fases líquida (85%) e gasosa (15%) no cilindro de GLP

Fonte: LIQUIGÁS, 2019

Conforme mencionado, existem vários tipos de recipientes: 2kg, 5kg, 7kg,


8kg, 13kg, 20 kg (para empilhadeiras), 45kg, 90kg, entre outros (figura 12.2). O P-13
é o tradicional botijão de gás presente em quase todas as casas e supera 75% das
vendas totais no Brasil. Os recipientes com capacidade acima de 0,25 m 3 são
considerados estacionários; abaixo disso, são considerados transportáveis, podendo
ser abastecidos no local ou não (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO
FEDERAL, 2013). Os tipos de embalagem e aplicações comuns estão dispostos na
tabela 12.2

Figura 12.2 – Tipos de embalagens transportáveis de GLP

Fonte: ÁGUA BOA NEWS, 2016


CAPÍTULO 12 – INCÊNDIO EM GLP 439

Tabela 12.2 - Tipos de embalagens para armazenamento de GLP


Embalagem Capacidade, Kg Aplicação
P-2 2 Camping e ambulantes
P-5 5 Camping e ambulantes
P-7 7 Uso Residencial
P-8 8 Uso Residencial
P-13 13 Uso Residencial
P-20 20 Empilhadeiras
P-45 45 Condomínios
P-90 90 Restaurantes
Fonte: Comissão de Assistência Técnica Petrobras, 2019

Os botijões de 13 kg são projetados com pressão de ruptura de 86 kgf/cm2


e pressão máxima de trabalho admissível de 17,6 kgf/cm2, ou seja, o botijão explodirá
se for submetido a cerca de 5 vezes a sua pressão máxima de trabalho (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2017).

Tabela 12.3 - Características e particularidades dos recipientes transportáveis de GLP


Recipientes
Características Gerais Particularidades
Transportáveis
Opera sem regulador de pressão.
É o único recipiente que não
possui dispositivo de segurança
Peso: 2kg
destinado a aliviar a pressão
Volume: 4,8 litros
P-2 interna. Usados para fogareiro de
Comprimento: 24 cm
acampamentos, lampiões a gás e
Diâmetro: 21 cm
maçaricos para pequenas
soldagens.

A válvula de saída de gás é


Peso: 5 kg acionada por uma mola, que
Volume: 12 litros retorna automaticamente quando
P-5
Comprimento: 35 cm desconecta. Possui válvula de
Diâmetro: 33 cm segurança.

Continua
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 440

Conclusão
Recipientes
Características Gerais Particularidades
Transportáveis
São os mais usados pela
população. A válvula de saída de
Peso: 13 kg
gás é acionada por uma mola,
Volume: 31 litros
P-13 que retorna automaticamente
Comprimento: 46 cm
quando desconecta. Possui
Diâmetro: 36 cm
válvula de segurança.

Peso: 20 kg Usado em motores de veículos


Volume: 48 litros (empilhadeiras). É o único
P-20
Comprimento: 89 cm vasilhame de GLP que deve ser
Diâmetro: 31 cm utilizado na horizontal.

São indicados para instalações


centralizadas de gás. Servem
tanto para abastecer forno e
Peso: 45 kg e 90 kg
fogão, como para aquecimento
Volume: 108 L e 216 L
P-45 e P-90 de água e ambiente, refrigeração
Comprimento: 130 cm e
e iluminação. Possuem válvula
121 cm
de passagem de gás com
Diâmetro: 37 cm e 56 cm
fechamento manual. Também
são equipados com uma válvula
de segurança.
Fonte: CBMDF, 2013

Os cilindros P-5 e P-13 possuem uma válvula de segurança, o plugue


fusível (figura 12.3). Ele é fabricado com uma liga metálica de bismuto que derrete
quando a temperatura atinge 78º C. Esse mecanismo foi criado para evitar que o
recipiente, quando submetido a altas temperaturas, venha a explodir. Contudo, ainda
assim, é possível que haja uma explosão, caso essa exposição a elevadas
CAPÍTULO 12 – INCÊNDIO EM GLP 441

temperaturas permaneça por um período prolongado, podendo ocorrer um BLEVE


(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2017).

Figura 12.3 - Válvula de saída de gás e plugue fusível do vasilhame P13

CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO, 2006

3 CENTRAL DE GLP

As centrais de GLP são construídas para proporcionar a distribuição


canalizada de gás para locais que necessitam do uso em larga escala, seja em
instalações comerciais, residenciais ou industriais. Devem ser situadas no exterior das
edificações, em locais ventilados, assegurado por afastamentos mínimos das
edificações, conforme normas específicas (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO
DISTRITO FEDERAL, 2013).

A condução do GLP da central até os diferentes pontos de consumo se dá


através de um sistema canalizado de gás, que é um conjunto formado por tubulações,
acessórios e equipamentos. O objetivo das centrais de GLP é concentrar em um
ambiente externo toda a quantidade de gás que estaria em botijões no interior da
edificação. Com isso, em caso de ações das equipes de bombeiros em ocorrências
envolvendo o GLP, o corte do fornecimento do gás fica prático e seguro (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, 2013).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 442

O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais - CBMMG, através da


Instrução Técnica nº 23, estabelece as medidas de segurança contra incêndio para
os locais destinados à manipulação e armazenamento de GLP, incluindo as
instalações internas e centrais, atendendo ao previsto no Regulamento de Segurança
Contra Incêndio e Pânico das edificações e áreas de risco do Estado de Minas Gerais.

4 OCORRÊNCIAS DE BOMBEIRO ENVOLVENDO GLP DOMÉSTICO

O grande número de ocorrências envolvendo o botijão de 13 kg tem como


causas mais prováveis: o rompimento da mangueira ou do diafragma da válvula, o
mau fechamento da rosca da válvula, avarias no plugue fusível ou a corrosão do
botijão.

O controle do vazamento sem fogo deve ser feito com a dispersão do gás
através da ventilação do ambiente, atentando para não produzir faíscas ou centelhas.
Nesse caso, não se deve ligar nem desligar nenhum equipamento elétrico ou
interruptores. Deve-se providenciar o isolamento do local, com retirada das pessoas
e eliminar o vazamento (CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DE SÃO
PAULO, 2006).

O controle do vazamento de GLP com chamas deve ser feito com aplicação
de um jato neblinado para diminuição da quantidade de calor produzido pelo fogo. As
chamas só poderão ser extintas depois de cessado o vazamento, para evitar uma
eventual explosão. Nos locais com central de GLP, o corte do suprimento do gás da
edificação é feito através do fechamento do registro na própria central (CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS, 2017).

Para as ocorrências envolvendo o GLP as guarnições devem providenciar


o isolamento da área de risco, coletar informações, traçar o plano de ação e emitir
ordens claras e precisas. As guarnições, sempre que possível, devem abordar o
ambiente com o vento nas costas, seja nas ocorrências de vazamento com ou sem
fogo. As partes baixas do local (chão, porão, galerias subterrâneas, etc) devem ser
exploradas com muita atenção, levando-se em conta que a concentração de gás
nestes lugares tende a ser mais elevada (CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA
MILITAR DE SÃO PAULO, 2006).
CAPÍTULO 12 – INCÊNDIO EM GLP 443

REFERÊNCIAS

ÁGUA BOA NEWS. Você sabe o que é o GLP?, 2016. Disponivel em:
<http://www.aguaboanews.com.br>. Acesso em: 21 de setembro de 2019.

CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO. Coletânea de


Manuais Técnicos de Bombeiros: Emergência em Vasos Pressurizados. 1ª ed. V.
25, 2006.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS. Manual Operacional


de Bombeiros: Combate a Incêndio Urbano. Goiânia: [s.n.], 2017.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Manual básico de


combate a incêndio. Segurança contra Incêndio. Mod. V. 2°.ed. Brasília: [s.n.],
2013.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESPÍRITO SANTO. Manual técnico: Teoria


de incêndio e técnicas de combate. 1ª. ed. Vitória - ES: [s.n.], v. I, 2014.

FOGÁS. Propriedades do GLP, 2019. Disponivel em: <https://www.fogas.com.br>.


Acesso em: 21 de setembro de 2019.

LIQUIGÁS - PETROBRAS. GLP, 2019. Disponivel em:


<https://www.liquigas.com.br>. Acesso em: 22 de setembro de 2019.

PETROBRAS. Gás Liquefeito de Petróleo: Informações Técnicas, 2019. Disponível


em: http://sites.petrobras.com.br/minisite/assistenciatecnica. Acesso em: 15 de maio
2019.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 444
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 445

Página deixada intencionalmente em branco


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 446

CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO


Autores – Cap Firme e 1º Ten João Gustavo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 448

2 PREPARAÇÃO PARA O SOCORRO .......................................................... 448

3 OPERAÇÃO DE COMBATE A INCÊNDIO .................................................. 450

3.1 Prioridades táticas do incidente ................................................................ 450

3.2 Instalação do SCO ...................................................................................... 451

3.3 Planejamento de operação ........................................................................ 455

3.4 Objetivos táticos do combate a incêndio (RECEO-VS) ........................... 459

3.4.1 Salvamento.................................................................................................. 460

3.4.2 Proteção Contra Exposição ....................................................................... 461

3.4.3 Confinamento .............................................................................................. 462

3.4.4 Extinção ....................................................................................................... 463

3.4.5 Rescaldo ...................................................................................................... 466

3.4.6 Ventilação .................................................................................................... 467

3.4.7 Salvatagem .................................................................................................. 467

3.5 Sequência de ações para o combate a incêndio (SLICE-RS) ................. 470

3.5.1 Dimensionamento da cena (S - Size up) ................................................... 470

3.5.2 Localização do foco (L – Locate the fire).................................................. 478

3.5.3 Identificar e controlar o fluxo de fumaça (I - Identify Flow Path) ............ 478
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 447

3.5.4 Resfriar o interior estando em uma posição segura (C – Cool) ............. 479

3.5.5 Extinguir o incêndio (E – Extinguish) ....................................................... 480

3.5.6 Salvamento (R – Rescue) ........................................................................... 481

3.5.7 Salvatagem (S – Salvage)........................................................................... 481

4 DESMOBILIZAÇÃO E PROCEDIMENTOS PÓS-SINISTRO....................... 481

4.1 Procedimentos pós-sinistro ...................................................................... 482

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 484
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 448

1 INTRODUÇÃO

Tática de Combate a Incêndio é a forma com que o comando da operação


organiza e emprega os recursos disponíveis para atender à estratégia1 adotada
conforme as prioridades e objetivos determinados para o incidente.

O combate ao incêndio e sua estabilização, a segurança à vida e a


preservação do meio ambiente são prioridades das operações, pois o comandante
deve organizar e empregar os recursos da melhor forma possível seguindo as
diretrizes indicadas neste Manual.

Cada situação possui peculiaridades que devem ser consideradas no plano


de ação da operação durante o planejamento. Por isso, este capítulo é um instrumento
direcionador, que tem como intuito nortear as decisões e não ser algo inflexível, que
irá limitar as ações adotadas. Não há nenhuma regra máxima e imutável e a tática
adotada deve estar em conformidade, particularmente, com cada operação.

Entretanto, todos os Bombeiros Militares empregados devem conhecê-lo,


a fim de dominar os procedimentos aqui indicados e devem treiná-los visando à
correta execução.

2 PREPARAÇÃO PARA O SOCORRO

O ciclo de ações das ocorrências de incêndio compreende as fases de


preparação para o socorro, o combate ao incêndio e as ações pós-sinistro.

A etapa de preparação para o socorro corresponde às ações que são


realizadas antes do acionamento para a ocorrência, momento que se destina ao

1Estratégia é o plano geral ou curso de ação decidido pelo Comando da Operação a fim de alcançar
objetivos de combate a incêndios (JR., MCSWEENEY, NIGRO, & SUDNICK, 2019).
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 449

treinamento das técnicas de combate a incêndio, preparação dos recursos logísticos


e ao conhecimento sobre sua área de atuação.

O treinamento das técnicas de combate a incêndios urbanos é vital para o


sucesso na operação e, dessa forma, deve ser incorporado à rotina diária do
Treinamento Técnico em Serviço2 (TTS), em instruções intensivas e extensivas.

Os recursos logísticos destinados ao combate a incêndios são os


equipamentos e materiais utilizados durante as operações. No recebimento do
serviço, é obrigação do chefe de guarnição e dos combatentes a conferência dos
materiais, equipamentos e viaturas quanto às condições de uso.

Todo equipamento que estiver na viatura deve estar em condições


imediatas de uso, visando sempre à eficiência dos processos na operação e à eficácia
na obtenção dos resultados esperados. O acondicionamento e a organização dos
materiais devem propiciar agilidade para seu acesso, de forma a evitar o retrabalho
ou procedimentos desnecessários no teatro de operações.

Cada Unidade (até o nível de Posto Avançado) possui uma área específica
de atuação, que detém características e riscos peculiares (população, tipo de
edificações, carta de hidrantes, etc). Tais informações devem ser obtidas, analisadas
e, em seguida, deverá ser elaborado um diagnóstico de sua área de atuação,
buscando a eficiência na prestação do serviço por meio do conhecimento de suas
particularidades.

A Unidade deverá desenvolver uma rotina de elaboração/


acompanhamento de planos de ação emergenciais para locais que requeiram adoção
de procedimentos específicos. Dentre as fontes de interesse, exemplificam-se
hospitais, indústrias, estabelecimentos comerciais de grande porte, aglomerados
urbanos, entre outros, cuja capacidade habitual de resposta apresente-se ineficiente
ou que em um possível atendimento, por seus aspectos, representem uma dificuldade
para as operações.

2 O TTS tem por finalidade assegurar ao Bombeiro Militar conhecimentos básicos e condicionamento
físico necessários ao exercício de suas funções. É composto de treinamento técnico e treinamento
físico (CBMMG, 2018).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 450

3 OPERAÇÃO DE COMBATE A INCÊNDIO

Uma operação de combate a incêndio se inicia no momento da chamada


ou aviso do sinistro. Na central de operações (COBOM/SOU/SOF3) o teleatendente,
despachante e/ou rádio-operador devem buscar extrair o máximo de informações do
solicitante para repassá-las à equipe designada para o combate, a fim de que ela
possa se preparar mentalmente e projetar eventuais condutas e ações ainda durante
o deslocamento das viaturas.

No local da ocorrência, a equipe deve confrontar as informações recebidas


por rádio/telefone com aquelas que visualizar no local, durante o dimensionamento da
cena e, a partir daí, traçar um planejamento e execução de tarefas que visem salvar
e proteger vidas, estabilizar o cenário e preservar o meio ambiente e patrimônio.

Uma operação termina após a garantia do rescaldo, desmobilização das


equipes e a realização dos procedimentos pós-sinistro, como preservação/ isolamento
do local, reabastecimento da viatura, manutenção de equipamentos, dentre outros.

3.1 Prioridades táticas do incidente

Toda operação de combate a incêndio deve atender, basicamente, a três


prioridades na seguinte ordem (ANGULO, 2020):

Prioridade 1 - Segurança à vida.

Prioridade 2 - Estabilização do incêndio.

Prioridade 3 - Preservação do meio ambiente e propriedade.

A segurança à vida refere-se a todas as pessoas envolvidas no incidente:


vítimas, ocupantes da edificação, populares e os bombeiros. Em linhas gerais essa é

3O CBMMG atribui três nomenclaturas para os locais que recebem as ligações telefônicas de
emergência que variam de acordo com o status da Unidade:
COBOM: Centro de Operações de Bombeiro;
SOU: Sala de Operações da Unidade;
SOF: Sala de Operações da Fração (CBMMG, 2015).
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 451

a prioridade em todas as ocorrências de incêndio, sendo a base do pensamento tático


do bombeiro.

Contudo, é importante ressaltar que grande parte das ações que levam à
extinção do incêndio também implica a garantia de segurança à vida. Por isso, em
alguns casos, quando a realização de ações para retirada de vítimas for impossível
(devido à proporção do incêndio ou ao difícil acesso a elas), para que se garanta a
sobrevida dos ocupantes, a estabilização do incêndio poderá ser priorizada.

De forma geral, a estabilização do incêndio e a preservação da propriedade


ocorrem simultaneamente, embora a preservação da propriedade esteja elencada um
nível abaixo na escala das prioridades. Caso o comandante da operação não tenha
recursos suficientes para garantir as duas prioridades ao mesmo tempo, as medidas
de preservação da propriedade devem ser adiadas até que o incêndio tenha sido
controlado (WARD, 2020).

A estabilização do incêndio é direcionada, inicialmente, às ações que


evitem o aumento das proporções do sinistro, isto é, caso uma edificação já esteja
totalmente tomada pelas chamas, a proteção contra a exposição das edificações
vizinhas também faz parte da estabilização. Nesse caso, a edificação não poderá ser
salva, mas os bombeiros devem trabalhar para que o incêndio não se propague além
dela.

A preservação do meio ambiente e propriedade é direcionada à


prevenção para que nenhum dano adicional ocorra ao meio ambiente e à edificação
após a chegada dos bombeiros. Para a propriedade tais medidas incluem a utilização
racional da água, ações de salvatagem e de ventilação/antiventilação (GRIMWOOD,
2008).

3.2 Instalação do SCO

Essa fase compreende a chegada dos militares ao local do incêndio,


momento em que deverão ser realizadas as ações relativas à organização inicial da
operação. Todas elas são destinadas à instalação do Sistema de Comando em
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 452

Operações (SCO), isolamento da cena e retirada das pessoas das imediações do


local incendiado.

A instalação do SCO visa criar um ambiente organizado que facilitará o


desenvolvimento das ações posteriores destinadas à resolução da ocorrência.
Também é importante destacar que nessa fase os militares combatentes, já
equipados, devem permanecer próximos à sua viatura, realizando tarefas preliminares
e/ou aguardando as ordens do chefe de guarnição, enquanto este deve se apresentar
ao Comando da Operação.

Dessa forma, é possível evitar a execução de tarefas aleatórias no cenário,


bem como condutas incompatíveis com o plano de ação. Além disso, garante-se que
os combatentes não se coloquem em situação de risco que não fora anteriormente
dimensionada e/ou supervisionada pela sua chefia direta.

Um dos princípios do SCO é ter sido concebido para todos os riscos e


operações. Sua estrutura de planejamento deve ser organizada de maneira modular
e flexível. Dessa forma, o emprego de militares para compor funções de comando:
staff de comando4 e staff geral5, e a real necessidade de instalação de cada uma
delas, deve observar os recursos de pessoal e logísticos disponíveis, bem como a
proporção do sinistro (OLIVEIRA, 2010).

Grande parte das ocorrências de incêndio são combatidas em até três


horas de operação (Tabela 13.1). Dessa forma, é possível trabalhar com uma
estrutura enxuta de comando, que poderá ser ampliada caso necessário.

Também é importante ressaltar que o SCO deverá ser instalado pela


primeira equipe que chegar ao local. Nos casos em que houver o apoio de guarnições
com militares mais antigos, o comandante atual deverá proceder, de imediato, o

4 Staff de comando: é a estrutura de assessoria que apoia o comando nas funções de segurança,
ligações, informações ao público e secretaria.
5 Staff geral: constituído pelas seções responsáveis pelo desdobramento da estratégia, implementação
e execução das táticas definidas pelo comando. É composto pelas seções de operações, planejamento,
logística e administração/finanças (OLIVEIRA, 2010).
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 453

anúncio via rádio da presença do militar mais antigo, realizar a passagem de comando
pessoalmente e o novo comandante anunciará via rádio a assunção.

Tabela 13.1 – Duração das operações de combate a incêndio urbano/estrutural no CBMMG em 2018
e 2019

Duração em Horas Ocorrências Percentual


Até 1h 11.380 58%
Até 2h 5.522 28%
Até 3h 1.483 8%
Até 4h 500 3%
Até 5h 256 1%
Até 6h 148 1%
Mais de 6h 459 2%
TOTAL 19.748 100%
Fonte: elaborado pelos Autores, com base no banco de dados do Centro Integrado de Informações
de Defesa Social (CINDS)

As principais instalações do SCO em incêndios que devem ser


implementadas em todos os sinistros são:

a) PC - Posto de Comando (local onde são desenvolvidas as atividades


de comando da operação);
b) E - Área de Espera (local onde os recursos operacionais são
recepcionados, cadastrados e permanecem disponíveis até seu
emprego).

Outras instalações que são importantes, dependendo da proporção


do incêndio:

a) B - Base de apoio (local onde são desenvolvidas as atividades de


logística);
b) ACV - Área de Concentração de Vítimas (local onde as vítimas são
reunidas, triadas e recebem atendimento inicial);
c) área de hidratação (local onde os militares irão encontrar abrigo das
intempéries e se hidratar em caso de grande desgaste da tropa).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 454

Em operações maiores, pode-se empregar a simbologia padronizada para


identificação das áreas e instalações (figura 13.1). Em operações mais simples, ou na
falta de materiais de identificação, pode-se colocar um cone refletivo no teto de uma
viatura, chamando a atenção para o Posto de Comando.

Figura 13.1 – Simbologia das instalações do SCO

Fonte: Oliveira, 2010

Passos para a instalação do SCO pela primeira equipe a chegar à cena


(CBMDF, 2011):

Passo 1 - Informar ao Centro de Operações (COBOM/SOU/SOF) a


chegada ao local do incidente.

Passo 2 - Assumir e estabelecer o Posto de Comando da operação e


anunciar via rádio.

Passo 3 - Dimensionar a cena.

Passo 4 - Estabelecer perímetro de segurança (Zona Quente, Zona Morna


e Zona Fria).

Passo 5 - Estabelecer objetivos.

Passo 6 - Determinar estratégias e táticas.


CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 455

Passo 7 - Avaliar a necessidade de acionamento de recursos adicionais e


áreas/ instalações que devem ser implementadas.

Passo 8 - Preparar informações para transferir o comando.

Instalado o Sistema de Comando em Operações, todo recurso adicional


que chegar ao local do incêndio deve ser apresentado ao Comando da Operação
(diretamente ou pelo Encarregado da Área de Espera) para receber sua missão dentro
do plano de ação elaborado pelo staff de comando e staff geral.

O Posto de Comando poderá ser instalado em uma viatura estacionada em


local seguro ou, a depender da reduzida dimensão do sinistro, ser dinâmico e
representado basicamente pela figura do Comandante da Operação. Contudo, é de
grande importância que exista um local fixo para a referência da tropa ou que o
comandante da operação permaneça em local visível durante o desenvolver da
resposta.

3.3 Planejamento de operação

O desenvolvimento das ações em uma operação deve seguir a lógica da


administração geral. Desde o instante do acionamento, no qual são colhidas
informações, até o dimensionamento da cena, quando são realizadas as ações de
diagnóstico, logo na chegada das equipes. Elas visam identificar o problema que deve
ser resolvido, em termos de magnitude, complexidade e evolução.

Feito isso, é iniciada a fase de planejamento, que consiste em identificar as


ações que devem ser realizadas de acordo com as prioridades estabelecidas e os
riscos existentes. As ações devem ser selecionadas com base no relacionamento de
duas variáveis: objetivo da ação a ser realizada versus possíveis perdas e danos
humanos proveniente dela.

O bombeiro deve ter a sua segurança e a de sua equipe como prioridade,


embora a exposição a riscos seja inerente às atribuições da profissão. Com base
nessa afirmação a International Association Of Fire Chiefs (IAFC) apresenta as
seguintes “regras de engajamento”, que foram adaptadas neste Manual. Elas devem
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 456

servir como parâmetro para seleção das ações que devem ser realizadas
(GRIMWOOD, 2008):

Regra 1 - Nenhum edifício ou propriedade vale a vida de um bombeiro.

Regra 2 - Toda operação ofensiva envolve riscos inerentes a ela.

Regra 3 - Riscos são aceitáveis, sob um ponto de vista gerenciado e


calculado.

Regra 4 - Nenhum risco é aceitável quando não há potencial de salvar vidas


ou não há propriedade salvável.

Regra 5 - Bombeiros não devem ser empenhados em operações ofensivas


no interior de estruturas com risco de colapso estrutural.

Regra 6 - Todas as medidas possíveis devem ser tomadas para limitar ou


eliminar os riscos através da avaliação de riscos de um comandante qualificado.

Regra 7 - É responsabilidade do comandante da operação e de todos os


bombeiros envolvidos avaliar o nível do risco em todas as situações.

Regra 8 - A avaliação de riscos é um processo contínuo durante toda a


operação e o sistema de comando de operações deve garantir que isso ocorra desde
a chegada das equipes à cena.

Regra 9 - Se as condições mudarem e os riscos aumentarem, a estratégia


e a tática devem se adaptar.

Regra 10 - Nenhum edifício ou propriedade vale a vida de um


bombeiro.
Figura 13.2 – Modelo de sequência de comando

Fonte: Angulo, 2020


CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 457

Como forma de auxiliar a seleção da estratégia de combate a ser utilizada


bem como a elaboração do plano de ação, além do modelo de sequência de comando
apresentado na figura 13.2, é proposta a seguinte matriz de risco pela IAFC (tabela
13.2).

Tabela 13.2 – Matriz de análise de riscos

Probabilidade de ALTA BAIXA

salvamento
1 2 3 4 5

INICIAL TOTALMENTE
Estágio/fase do
DESENVOLVIDO
incêndio
1 2 3 4
5

Probabilidade de ALTA BAIXA

salvar propriedade
1 2 3 4 5

Risco aos BAIXO ALTO

bombeiros
1 2 3 4 5

4-9 10-14 15-20


Tática Operações
Ofensiva marginais* Defensiva

Nota: Operações marginais consistem em conduzir um ataque interior muito cauteloso, preparando-se
para uma ação exterior defensiva (OLIVEIRA, 2005).

Fonte: Grimwood, 2008

A cada item indicado na Tabela 13.2 deve ser atribuída uma nota de 1 a 5,
para determinar as possibilidades de salvamento e propriedade salvável (alta ou
baixa), estágio do incêndio (inicial ou totalmente desenvolvido) e risco às equipes (alto
ou baixo). Com base no somatório de notas encontra-se o resultado final, o qual serve
de parâmetro para a identificação das ações táticas que devem ser realizadas
(GRIMWOOD, 2008).A figura 13.3 relaciona os riscos com a possibilidade de sucesso.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 458

Figura 13.3 – Controle de riscos e ações nas operações de combate a incêndio

Segurança nas Alta Média Baixa


ações/probabilidade probabilidade de probabilidade de probabilidade de
de sucesso sucesso sucesso sucesso

Iniciar operação Iniciar operação Iniciar operação


ofensiva – ofensiva – ofensiva –
Baixo Risco continue a continue a continue a
monitorar os monitorar os monitorar os
fatores de risco. fatores de risco. fatores de risco.

Iniciar operação
Iniciar operação NÃO INICIE uma
ofensiva –
ofensiva – operação ofensiva
continue a
continue a – reduza os riscos
monitorar os
monitorar os para as equipes e
fatores de risco –
Médio Risco fatores de risco – persiga
e prepare-se para
empregue todas intensamente
passar para uma
as opções de todas as opções
operação
controle de riscos de controle de
defensiva caso o
viáveis. riscos.
risco aumente.

Só inicie uma
NÃO INICIE uma
operação ofensiva
operação ofensiva
caso haja Inicie apenas
que colocará
Alto Risco confirmação de operações
bombeiros sob
um potencial defensivas.
risco de ferimentos
realista de salvar
ou de morte.
vidas em perigo.

Fonte: Grimwood, 2008

Dimensionada a cena, analisados os riscos existentes, estabelecidas as


prioridades e os objetivos da operação, a fase de planejamento é formalizada quando
é elaborado o plano de ação.

A cada ação selecionada deve ser indicada a prioridade que ela atende,
quem irá realizá-la, em qual local ou setor será executada, em qual prazo (quanto
tempo vai durar), como será realizada (emprego de quais técnicas), o que vai ser gasto
para sua execução (quais recursos materiais serão empregados, quantos militares
serão empenhados e quanta água será gasta) e a situação na qual se encontra, se já
foi realizada ou não.
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 459

Para elaboração do plano de ação, recomenda-se a utilização do seguinte


modelo adaptado da metodologia 5W2H (NAKAGAWA, 2020), conforme figura 13.4:

Figura 13.4 – Modelo de plano de ação

5W 2H

What Why Who Where When How How much

O que vai
O que? Porque? Quem? Onde? Quando? Como?
gastar?

Com que tipo


Quando
Quais de materiais
Guarnição/ Local a iniciar e até
técnicas (mangueiras,
Ação Justificativa militar desempenhar quando
devem ser materiais de
responsável a ação executar a
empregadas salvamento,
tarefa
etc)

Fonte: adaptado de Nakagawa, 2020

À medida que as ações forem realizadas, o comandante da operação deve


acompanhá-las para avaliar se atingiram o objetivo proposto. E assim, com a evolução
da operação no tempo determinado pelo comandante, o plano de ação deve ser
avaliado sendo readequado para a resolução da ocorrência.

3.4 Objetivos táticos do combate a incêndio (RECEO-VS)

Diante da diversidade de cenários possíveis para a resposta às ocorrências


de incêndio urbano/estrutural, faz-se necessário que sejam empregadas ferramentas
padronizadas e utilizáveis em todos os eventos. Tal padronização busca, antes de
tudo, atender às Prioridades Táticas do Incidente, bem como garantir simplicidade
e dinamismo ao planejamento.

Para isso, serão definidos nesta seção os Objetivos Táticos do Combate


a Incêndio, que devem ser entendidos como princípios orientadores para o
estabelecimento de prioridades dentre as tarefas a serem realizadas no teatro de
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 460

operações. Assim, o acrônimo RECEO-VS, elaborado pelo chefe de bombeiros norte-


americano Lloyd Layman, na década de 1940, continua sendo um dos modelos mais
referenciados internacionalmente para a resposta em campo (WARD, 2020).

R - Rescue (Salvamento).
E - Exposure Protection (Proteção contra exposição).
C - Confinement (Confinamento).
E - Extinguishment (Extinção).
O - Overhaul (Rescaldo).
V - Ventilation (Ventilação)
S - Salvage (Salvatagem).

3.4.1 Salvamento
O salvamento de vítimas em situações de incêndio será sempre a
prioridade fundamental que norteará os objetivos do Plano de Ação do Incidente. O
comandante da operação deve considerar as possibilidades reais de executar o
salvamento, direcionar equipe específica para este fim e preparar os recursos
materiais para tanto.

Embora seja prioridade nas ações de bombeiro, o Salvamento só deve


ocorrer depois de contornados os obstáculos que ofereçam maiores riscos à vítima a
ser socorrida e aos bombeiros envolvidos no salvamento.

As ações de Salvamento, assim como as de Busca, foram tratadas


anteriormente em capítulo específico deste Manual. Entretanto, como princípio
norteador, vale ressaltar também nesta seção a relação risco versus benefício
apresentada na NFPA 1500 (2018).

Arriscar muito apenas para salvar muito.


Arriscar pouco para salvar pouco.
Arriscar nada se nada puder ser salvo.

Um exemplo relativo à filosofia de risco versus benefício é o de se arriscar


um salvamento na edificação em chamas com risco elevado aos bombeiros, para
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 461

salvar vítimas que estão confirmadas por testemunhas ou visualizadas no interior.


Porém, não se deve enviar bombeiros para buscas se não houver indicação correta
da existência de vítimas.

3.4.2 Proteção Contra Exposição

Exposição é um termo adotado nas atividades de prevenção e combate a


incêndio e significa o efeito do calor de um incêndio que possa causar ignição ou
danos a edificações expostas ou a seus conteúdos (NFPA, 2017). Para evitar,
portanto, que edificações adjacentes a um incêndio (edificação em exposição6) sejam
danificadas pela edificação expositora, é necessário realizar ações de Proteção
Contra Exposição.

Para tanto, a guarnição deve ter em mente que esse objetivo visa impedir
a ação do calor em áreas ou edificações adjacentes, o que pode ser alcançado por
meio do emprego de jatos neblinados entre as edificações, buscando impedir a
propagação por radiação e condução. Além disso, esguichos-canhão ou linhas com
jatos compactos também podem ser usados para esse fim, quando as distâncias
forem maiores, como de um prédio para a face de outro ou de um tanque ou caminhão
em chamas para outros, por exemplo.

Outra abordagem possível é por meio do resfriamento das áreas não


atingidas com uso do Jato Mole. Os tipos de jatos e suas melhores utilizações são
abordados em capítulo específico deste manual.

A figura 13.5 ilustra os efeitos da radiação de calor em uma edificação em


exposição. Já a figura 13.6 demonstra uma abordagem de proteção contra a
exposição em tanques de líquidos inflamáveis por meio da aplicação de jatos
compactos (após o ponto de quebra) em tanques adjacentes.

6 Edificação em exposição: construção que recebe a radiação de calor, convecção de gases quentes
ou a transmissão direta de chama.
Edificação expositora: construção na qual o incêndio está ocorrendo, responsável pela radiação de
calor, convecção de gases quentes e ou transmissão direta de chamas (CBMMG, 2017).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 462

Figura 13.5 – Efeitos da radiação de calor em edificação em exposição

Fonte: GSD Engenharia, 2019

Figura 13.6 – Ações de Proteção Contra Exposição em incêndio industrial

Fonte: Portal G1, 2018

3.4.3 Confinamento

As ações de Confinamento visam garantir que o incêndio fique restrito à


menor área possível dentro da própria edificação e impedir que ele se propague para
os cômodos adjacentes.
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 463

O confinamento também é obtido com a técnica da Antiventilação. Por


meio da abertura e fechamento de janelas e portas específicas é possível direcionar
o fluxo de fumaça e gases aquecidos para um local predeterminado pelo comandante
da operação. Assim, de forma segura e controlada, conforme tratado minuciosamente
no capítulo dedicado à Ventilação Tática, promove-se a exaustão natural desses
materiais, simultaneamente impedindo a entrada de ar fresco.

3.4.4 Extinção

Por extinção compreendem-se as ações que visam à completa eliminação


dos focos do incêndio. Essas ações são direcionadas ao resfriamento dos
combustíveis até que atinjam temperaturas inferiores ao ponto de fulgor e, alinhando-
se com as prioridades do incidente, consideram-se os materiais que já estão em
chamas como “totalmente perdidos”.

A definição do modo de ataque a ser empregado no sinistro deve ser


realizada pelo comandante da operação, bem como o correto alinhamento da resposta
tática com as técnicas que serão utilizadas por todos os militares durante a elaboração
do plano de ação inicial.

Os assuntos relativos aos modos de ataque e às técnicas de combate serão


abordados adiante.

3.4.4.1 Combate/Controle

O combate compreende as ações e tarefas indicadas no plano de ação do


incidente que serão realizadas pelas equipes destinadas a atingir o objetivo tático de
extinção total do incêndio.

Assim, o combate considerado neste Manual abrange as ações de:

a) proteção contra exposição;


b) antiventilação/confinamento;
c) ataque.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 464

Já as ações de controle ocorrem durante toda a operação. São inerentes


às demais fases, e consistem no acompanhamento do desenrolar das ações
realizadas. Possuem o objetivo de retroalimentar o comando da operação quanto ao
desenvolvimento eficaz das ações empregadas.

Para realizar a Proteção Contra Exposição e o Confinamento/


Antiventilação, devem ser verificadas todas as prioridades táticas do incêndio, seus
objetivos táticos, assim como as definições e orientações de itens e capítulos
específicos deste Manual.

O modo de ataque a ser empregado na tática de combate a incêndio varia


de acordo com a situação de cada sinistro. A decisão por um modo Ofensivo ou
Defensivo deve considerar, além dos itens descritos na figura 13.3 os seguintes
fatores, conforme quadro 13.1:

Quadro 13.1 – Fatores a serem observados durante a decisão pelo modo de ataque

Em cada fase do incêndio (Inicial, Crescimento, Totalmente


Desenvolvido e Decaimento) os riscos à guarnição envolvida nas
ações de combate são variáveis. O Comandante da operação, ao
Fase do Incêndio definir o modo de ataque, deve considerar que a prioridade é a
preservação das equipes de bombeiros, em seguida das vítimas,
o controle do incêndio e, por último, a preservação do patrimônio a
ser protegido.

O risco estrutural existente fundamentará a decisão de acesso e


Risco estrutural existente na progressão segura no ambiente. Entre outros fatores, devem ser
edificação observados: a probabilidade de colapso iminente e o risco de
explosão.

A disponibilidade de recursos condicionará a decisão do


comandante da operação e seu staff sobre o modo de ataque.
Recursos disponíveis Havendo limitação de agente extintor, equipamentos de proteção
individual, ou efetivo para emprego na operação, um combate
Defensivo apresenta-se como mais indicado.

Fonte: Grimwood, 2008; NFPA, 2018


CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 465

Frente aos critérios anteriormente indicados pode ser adotado pelo


comandante da operação e seu staff um dos seguintes modos de combate:

Combate Ofensivo: é o modo de ataque pelo qual a equipe de combate a


incêndio acessa o interior da edificação buscando o foco do incêndio e sua extinção.
As equipes devem acessar o local sinistrado, progredir no ambiente em conformidade
com as técnicas existentes e extinguir as chamas. Quando adotado modo de combate
ofensivo, o ataque, sempre que possível, deve ser feito da área não atingida em
direção à área atingida da edificação. Também é possível realizar o ataque exterior,
mas deve-se garantir que a água atinja diretamente o foco do incêndio, evitando o
desperdício do agente extintor, danos desnecessários ao patrimônio e à edificação,
além do sobrepeso da estrutura.

Combate Defensivo: é o modo de ataque no qual as equipes, por


limitações diversas (materiais, recursos humanos, segurança estrutural, etc), não
acessam o interior da edificação sinistrada e devem realizar o combate/controle pelo
lado de fora e sem entrar na edificação, buscando conter a propagação do incêndio
para edificações vizinhas e evitando o seu crescimento. A proteção contra exposição
é a técnica mais adequada para o combate defensivo.

Não Intervenção: é o modo em que somente ações de isolamento da área


devem ser implementados, de forma que todas as pessoas sejam evacuadas e
permaneçam em local seguro fora da área de risco do incêndio, incluindo as equipes
de bombeiros. Nesse caso, nenhuma ação que vise à extinção do incêndio deverá ser
adotada. Esse modo é utilizado quando há risco iminente de explosão de grande
volume de material combustível ou explosivo, que poderiam atingir com imenso poder
destrutivo uma grande área.

Durante o Combate Ofensivo, não se deve realizar simultaneamente o ataque


exterior e interior. Caso haja emprego de equipes no interior da edificação e
se inicie um combate de fora da edificação, haverá um significativo
incremento dos riscos para a equipe interna. Nos casos excepcionais em que
o comandante entender ser possível, viável e necessário empregar os ataques
de forma simultânea, deverá fazê-lo com muita cautela e coordenação,
atentando para a setorização das áreas.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 466

Relacionado ao modo de combate que pode ser adotado no incêndio, são


possíveis os seguintes tipos de ataque:

a) ataque direto;
b) ataque indireto/tridimensional;
c) ataque combinado;
d) ataque transicional;
e) ataque exterior.

Os tipos de ataque e técnicas de jatos adotadas em cada um deles foram


tratados no capítulo de Técnicas de Combate a Incêndio deste Manual.

3.4.5 Rescaldo

O rescaldo é a fase que se destina a eliminar todas as possíveis fontes de


reignição do incêndio, considerando-se que, após o combate, ainda podem restar
alguns pontos quentes e materiais que, pela exposição às condições do local, podem
voltar a entrar em combustão.

No rescaldo, os pontos ainda quentes no local incendiado devem ser


resfriados com jato mole. Os materiais e mobiliários devem ser removidos utilizando,
obrigatoriamente, equipamentos de proteção individual e equipamentos de proteção
respiratória (EPI/EPR) adequados, pois nessa fase há uma queima de natureza lenta
que implica intensa produção de gases tóxicos, bem como a suspensão de asbestos
que, quando inalados, causam câncer e outras doenças pulmonares.

Finalizadas as ações de rescaldo e extinto o incêndio, deve ser procedida


a Inspeção Final. Nela deve ser realizada a busca secundária no ambiente, bem
como serem verificadas as condições estruturais de toda a edificação, o levantamento
de possíveis pontos ainda pendentes de resfriamento, identificação de bens e
pertences de valor ou substâncias perigosas.
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 467

3.4.6 Ventilação

A ventilação tem como princípio a tentativa de modificação das condições


de pressão existentes na edificação em chamas, com o objetivo de exaurir os gases
provenientes do incêndio, promovendo a retirada sistemática da fumaça, através de
um caminho na edificação que não cause maiores danos ou propagação do incêndio
(SVENSSON, 2005).

Ao aplicar a ventilação, deve-se direcionar o fluxo de fumaça por um


caminho já atingido pelas chamas, buscando minimizar danos ao patrimônio.

A ventilação tática não deve ser empregada enquanto o foco não tiver sido
localizado e o ambiente estiver devidamente antiventilado.

Nunca se deve empregar a ventilação direcionando o fluxo de fumaça por


ambientes ainda não atingidos pelo incêndio ou direcionando para bombeiros
em operação.

Se utilizada de maneira adequada e com equipamentos corretos, a


ventilação poderá ser empregada em outros momentos do incêndio, inclusive
simultaneamente às ações de combate. Porém, há que se considerar que uma
ventilação inadequada realizada no incêndio poderá agravar a situação e trazer riscos
às guarnições envolvidas e a eventuais vítimas.

3.4.7 Salvatagem

A Salvatagem é a proteção de bens e da propriedade contra os danos que


poderiam ser causados pela ação direta do fogo, da fumaça ou pelo calor durante um
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 468

incêndio, bem como pela ação da água aplicada pelos bombeiros no combate e
demais intervenções necessárias.

É importante atentar para o fato de que a própria utilização racional da água


com o emprego das técnicas corretas durante a progressão e extinção, assim como a
execução da ventilação tática, também promovem a salvatagem no interior da
edificação.

Às vezes, ambientes muito danificados e seus conteúdos podem parecer


descartados. Contudo, alguns itens podem ser aproveitados e, inclusive, de grande
valor para os proprietários, não importando o grau de degradação. A visão do
bombeiro sobre a inutilidade de alguns objetos pode diferir da visão dos proprietários
dos bens. Dessa forma, não é razoável que sejam simplesmente jogados para fora
durante o rescaldo, sem o devido cuidado.

Quando for possível, algumas ações podem ser adotadas para garantir a
salvatagem:

a) antes de remover os telhados danificados ou o acabamento do teto,


proteger a maior quantidade de materiais possíveis;
b) de uma maneira geral é possível agrupar itens como tv, computadores
e aparelhos de som, e cobri-los com cobertores, toalhas ou lonas;
c) abrir as primeiras gavetas dos móveis e arrastar os bens que estiverem
em cima para dentro, depois fechá-las;
d) levantar as mangueiras antes de arrastá-las, pode evitar que objetos
sejam derrubados ou danificados no processo;
e) liberar as conexões entre as mangueiras do lado de fora da edificação
(em edifícios altos, dê preferência para que as desconexões sejam
realizadas nas escadas.

Embora a proteção à propriedade seja a terceira prioridade nos incêndios,


a salvatagem pode ser executada em áreas que possuam acesso seguro e que ainda
não tenham sido atingidas pelo incêndio.

Assim como a Ventilação Tática, os procedimentos de Salvatagem são


ações de oportunidade, podendo ser realizadas a qualquer momento durante a
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 469

operação, desde que haja segurança para tal, uma adequada coordenação e equipes
capacitadas e treinadas para a tarefa.

Ward (2020) resume em sua obra a relação entre prioridades do incidente


e os objetivos táticos da operação (RECEO-VS), conforme apresentado na figura 13.7.

Figura 13.7 – Prioridades do Incidente e Objetivos Táticos da Operação

Prioridades do Objetivos Táticos


Significado
Incidente (RECEO-VS)

Remover vítimas em situação que


Segurança à vida Salvamento
traga risco à vida.

Proteção Contra Proteger as estruturas ao redor


Exposição do local incendiado.
Estabilização do
Incêndio Confinar o incêndio em uma área
Confinamento específica ou evitar que outras
áreas sejam atingidas pelo fogo.

Extinção Completa extinção do incêndio.

Garantir que o incêndio tenha


Rescaldo
sido completamente extinto.

Remover a fumaça, calor e


produtos da combustão da
Conservação da edificação. Se aplicada
Propriedade Ventilação
ofensivamente e devidamente
coordenada, auxilia no processo
de extinção.

Remover ou proteger os bens da


propriedade que poderiam ser
Salvatagem
danificados durante o processo
de extinção ou rescaldo.

Fonte: Ward, 2020


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 470

3.5 Sequência de ações para o combate a incêndio (SLICE-RS)

O acrônimo SLICE-RS incorpora a metodologia comprovada de Lloyd


Layman e a aprimora com importantes dados de pesquisa apresentados pelo UL e
NIST7, em uma tentativa de prover um checklist compreensível de ações a serem
realizadas em uma operação de combate a incêndio:

S - Size Up (Dimensionamento da cena).


L - Locate the fire (Localização do foco).
I - Identify Flow Path (Identificar e controlar o fluxo de fumaça, se possível).
C - Cool (Resfriar o interior estando em uma localização segura).
E - Extinguish (Extinguir o incêndio).
R - Rescue (Salvamento).
S - Salvage (Salvatagem).

De acordo com a Sociedade Internacional de Instrutores de Serviço de


Incêndio (ISFSI)8 e a Associação Internacional de Chefes de Bombeiro (IAFC), a
sequência de ações proposta no acrônimo SLICE-RS é a ideal para os primeiros
bombeiros que chegam à cena, mantendo em mente as prioridades e objetivos táticos
do combate a incêndio (WARD, 2020).

3.5.1 Dimensionamento da cena (S - Size up)

Um plano de ação tático para a resposta ao incêndio deve ser idealizado,


comunicado aos militares envolvidos e implementado. Para isso, os militares que
primeiro chegarem ao local ou o Comandante da Operação são responsáveis por
realizarem o dimensionamento da cena.

7 UL: Underwriters Laboratories


NIST: National Institute of Standards and Technology
8 ISFSI: International Society of Fire Service Instructors
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 471

O dimensionamento da cena tem o objetivo de fornecer ao Comandante da


Operação toda informação possível e necessária para a definição clara e objetiva do
que deve ser feito. Ele se inicia ainda no chamado via 193, momento em que o
teleatendente e/ou despachante buscarão extrair todas as informações possíveis
sobre as características do incêndio e repassá-las ao chefe da guarnição de socorro,
ou ao Comandante da Operação.

De posse das informações colhidas anteriormente, o dimensionamento


deve ser prosseguido logo da chegada no local. Enquanto a equipe realiza ações
preliminares como isolamento da área externa, transferência de força para o corpo de
bombas, entre outras, o militar mais graduado da guarnição deve percorrer o entorno
(reconhecimento 360º), de forma que visualize todas as faces da edificação
incendiada, buscando observar características como:

a) presença de vítimas visíveis;


b) tipo de ocupação da edificação;
c) aspectos construtivos da edificação (altura, número de andares, idade);
d) sinais de colapso da estrutura como trincas, rachaduras, fendas ou
deformações de estruturas metálicas;
e) riscos diversos associados à operação (ligações elétricas clandestinas,
possibilidade de crimes, dentre outros);
f) local de controle do sistema elétrico;
g) aberturas da edificação que possibilitam a entrada e saída de ar;
h) locais de acesso ao interior da edificação;
i) localização do foco de incêndio e possível área já afetada;
j) fase de desenvolvimento do incêndio, característica das chamas;
k) características da fumaça (cor, volume, densidade e velocidade);
l) condições da rua e terreno para estacionamento das viaturas;
m) locais para suprimento de água;
n) proximidade de outras edificações.

O tempo investido para esse dimensionamento da cena será de acordo


com a proporção do incêndio, sem regra fixa para tal, sendo possível realizá-lo,
normalmente, entre 1 (um) e 5 (cinco) minutos, possibilitando ao Comando da
Operação obter informações cruciais para o sucesso da ocorrência logo no início.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 472

Essa ação poderá ser realizada pelo próprio comandante, mas


preferencialmente acompanhado dos demais chefes de guarnições, bem como poderá
ser delegada aos militares mais experientes na cena, que trarão as informações
necessárias ao Posto de Comando, visando ao ideal planejamento da operação.

Feito o reconhecimento do ambiente para o dimensionamento da cena,


outro ponto importante que deve ser analisado é a identificação dos acessos ao
interior da edificação sinistrada. Com isso, somando-se às informações que podem
ser colhidas com moradores e pessoas que conhecem a edificação, o Comandante
da Operação deve tentar projetar a possível planta interna do local, para então
setorizar as áreas a fim de facilitar o desenvolvimento e o controle das ações

Para mapeamento da edificação deve ser considerada sua divisão


horizontal e vertical. No momento em que for elaborado o plano de ação, a divisão de
equipes deve ser feita conforme a especialidade da tarefa bem como pela área na
qual será empenhada.

Os dados colhidos nessas ações devem ser reunidos com os demais já


obtidos. A partir da interpretação deles, o Comandante da Operação, com o apoio dos
militares escolhidos por ele, deve projetar o cenário provável para a ocorrência, isto é,
o que deve acontecer à medida que o tempo passar, como e para onde o foco do
incêndio poderá propagar.

3.5.1.1 Setorização de áreas

A setorização de áreas possibilitará aos bombeiros envolvidos melhor


compreensão sobre o incêndio e acompanhamento das ações efetivadas.

O primeiro ponto importante é a delimitação da área externa da edificação


que deve ser isolada. Em incêndios estruturais que não envolvem produtos perigosos
as áreas devem ser isoladas levando em consideração a restrição de acesso a locais
que podem oferecer risco às pessoas e para facilitar o acesso e trânsito de viaturas.

Ao se pensar na segurança das pessoas deve se projetar até que distância


podem ir materiais que venham a cair da edificação. No caso de edificações que
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 473

apresentem sinais de risco de colapso deve se isolada uma área maior proporcional
a, no mínimo, uma vez e meia a altura da edificação em todo o seu raio (CBMDF,
2013) (figura 13.8).

Figura 13.8 – Isolamento de segurança

Fonte: Autores

Operações de combate a incêndio que envolvam produtos perigosos e risco


de explosão devem seguir as distâncias de isolamento recomendadas no manual da
Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

O segundo parâmetro que deve ser utilizado para definição do isolamento


e fechamento de vias condiz com a necessidade de facilitar o acesso das viaturas que
cheguem ao local para apoio, bem como para o trânsito das viaturas ligadas ao
suprimento de água para combate e condução de vítimas às unidades hospitalares.

Uma vez exposta a necessidade do isolamento das áreas de risco para as


pessoas em geral, torna-se necessária a delimitação de áreas e controle de acesso
para os bombeiros militares envolvidos na operação.

Antes de ser iniciada a delimitação das áreas internas da edificação, cada


face da edificação, por padrão, recebe o nome de uma letra, o que facilita a
transmissão de informações e o controle de acessos. Para denominação deve ser
considerada a existência de acessos ao interior da edificação e sua utilização para a
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 474

entrada de bombeiros. A face em que estão a maioria dos acessos utilizados para
entrada e saída dos bombeiros deve ser identificada pela letra A (figura 13.9). Para as
demais, deve ser considerado o sentido horário e a ordem do alfabeto (KLAENE e
SANDERS, 2008).

Esse procedimento de identificação das faces da edificação deverá ser


realizado pela primeira equipe a chegar ao local. Além da padronização da delimitação
das faces da edificação em chamas, as eventuais edificações adjacentes e expostas
aos efeitos do incêndio recebem a mesma nomenclatura alfabética, com a definição
de “Exposição A, B, ou C”, por exemplo (NFPA, 2020).

Figura 13.9 – Faces de uma edificação em chamas - expositora e em exposição

Fonte: Autores

Feito o dimensionamento da cena com a identificação possível do foco de


incêndio, sua tendência de expansão e os locais ocupados pela fumaça, bem como a
identificação das faces da edificação sinistrada, deve ser iniciada a definição dos
setores internos.
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 475

Primeiro ponto é definir a área de maior risco dentro da Zona Quente 9,


denominada como área de fogo. Em edificações horizontais, deve ser considerada
toda a área confinada da edificação. Já nas edificações verticais que não apresentem
risco de colapso, ela compreende todas as áreas em que houver fumaça e presença
de focos de incêndio.

Ainda na Zona Quente, a segunda área que deve ser criada é a área de
busca. Em edificações horizontais, ela compreende toda área confinada da
edificação, bem como outros locais onde houver possibilidade da existência de
vítimas. Em edificações verticais, ela compreende o andar sinistrado bem como todos
os demais andares que estejam acima do incendiado. Essa área tem prioridade na
realização de buscas pelas equipes de bombeiros.

Tão logo seja possível, após a realização das buscas nessa área, os
demais pontos da edificação tanto horizontal como vertical devem ser vistoriados para
busca de vítimas. A priorização acima citada é feita apenas pela maior probabilidade
de encontro de pessoas que já sejam vítimas ou que estão fugindo do incêndio e não
encontraram as rotas de fuga da edificação, conseguindo caminhar para área segura
estando fora do risco.

Destaca-se que, em edificações horizontais, muitas vezes a área de fogo


será comum à área de busca, o que não traz nenhum prejuízo para as operações,
desde que ações de combate e de busca e salvamento ocorram de forma coordenada
e dentro dos parâmetros de risco aceitáveis.

Outro setor padronizado é a área de controle. Em edificações horizontais,


ela compreende o acesso ao interior da edificação que está sendo utilizado pelos
bombeiros. Recomenda-se que nos demais acessos não utilizados pelos bombeiros,
seja colocado algum item como um cone que sinalize seu impedimento para entrada.

A demonstração da delimitação de áreas está ilustrada na figura 13.10.

9 Na Zona Quente, somente poderão adentrar bombeiros com equipamento completo de proteção
individual e respiratória.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 476

Figura 13.10 – Delimitação de áreas em uma operação

Fonte: adaptado de Schottke, 2014

Considerando-se a execução de operações com guarnições cada vez


menores, o controle do acesso às edificações de forma presencial por bombeiros fica
dificultado. Por isso, é recomendada a utilização de itens de sinalização, tornando-se
a segurança uma atribuição de todos os envolvidos na operação.

Em edificações verticais padroniza-se como acesso a entrada do prédio,


desde que haja segurança para tal. Deve ser estabelecido mecanismo para controle
de acesso dos bombeiros. Assim, os militares que passarem dessa área devem
comunicar ao comandante da operação sua entrada e seguirem todas as regras de
segurança.

Em operações de combate a incêndio que possuam um grande número de


bombeiros envolvidos, é fundamental que sejam criados aparatos de controle de
acesso. Sugere-se que os militares portem uma tarjeta extra no EPI de combate a
incêndio, a fim de que possa ser utilizada como material de controle da sua entrada,
em um modelo similar ao apresentado na figura 13.11.
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 477

Figura 13.11 – Controle de acesso com tarjetas

Fonte: Autores

A segurança é responsabilidade de todos os bombeiros envolvidos e todos


devem auxiliar o comandante nessa missão.

Dependendo do tamanho da operação de combate a incêndio, poderá ser


estabelecida a área de apoio logístico. Nela podem ser montadas estruturas para a
disposição de materiais, locais para hidratação ou troca de equipamentos de proteção
respiratória, visando facilitar a operação por meio da redução das distâncias a serem
percorridas pelos bombeiros envolvidos na operação.

Com base nos parâmetros apresentados, recomenda-se que o


comandante e os militares que o estão apoiando desenhem um croqui simples da
operação. Tanto o croqui como o plano de ação servirão como instrumentos de
acompanhamento e controle da efetividade das ações. Ele também auxiliará bastante
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 478

no compartilhamento de informações bem como para uma possível transferência de


comando.

3.5.2 Localização do foco (L – Locate the fire)

A localização e extensão do foco do incêndio dentro da edificação devem


ser rigorosamente verificadas e repassadas ao COBOM/SOU/SOF, bem como a todas
as guarnições envolvidas na ocorrência.

Todos os bombeiros devem se esforçar ao máximo para a fiel localização


do foco, levantamento das suas condições e da sua extensão, pois é o que balizará
as ações de combate. Posto isso, durante o reconhecimento 360º no
dimensionamento da cena, podem ser utilizados registros de câmeras térmicas e,
dependendo da proporção do incêndio, imagens aéreas realizadas por aeronaves
remotamente pilotadas (drones).

As características da fumaça do incêndio também são indicadores que


auxiliam muito no processo de localização do foco. Os pontos onde a fumaça sai com
maior velocidade e com coloração mais escura são as saídas que estão,
provavelmente, mais próximas do foco do incêndio.

3.5.3 Identificar e controlar o fluxo de fumaça (I - Identify Flow Path)

Nessa ação é importante identificar a existência de fumaça acumulada em


cômodos ou tetos falsos, assim como o comportamento do seu fluxo no interior da
edificação, incluindo a avaliação das aberturas que estão agindo como entradas de ar
ou como saídas de fumaça, observando seus indicadores de densidade, coloração,
volume e velocidade.

Se houver fluxo de fumaça visível, pode ser propício o fechamento de


portas e janelas da edificação, considerando as técnicas de ventilação tática e
antiventilação já abordadas. Tais ações devem ser realizadas para garantir o controle
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 479

precoce do fluxo de fumaça, protegendo possíveis ocupantes da edificação e evitando


o aumento da proporção do incêndio.

Cabe salientar que, no momento do fechamento de portas e janelas, os


bombeiros devem estar atentos para a existência de vítimas que poderiam ser
prontamente retiradas por estes acessos. Esta é também uma oportunidade para os
militares identificarem áreas disponíveis para técnicas de busca de alto risco, como o
VEIS10.

Todas as ações de ventilação tática ou antiventilação devem ser realizadas de


maneira planejada e coordenada, pois, se realizada de maneira inapropriada,
pode acarretar no aumento do fluxo de ar para o interior da edificação,
implicando rápida elevação da temperatura e das proporções do incêndio.

3.5.4 Resfriar o interior estando em uma posição segura (C – Cool)

De posse das informações obtidas no dimensionamento da cena, enquanto


localizam o foco do incêndio, identificam e controlam o fluxo da fumaça, os bombeiros
podem também verificar se existem áreas com presença de temperaturas muito
elevadas no interior da estrutura.

Quando essas condições estiverem presentes, o Comandante da


Operação irá determinar o lugar mais seguro e que apresente o caminho mais direto
para aplicação de água no ponto superaquecido ou diretamente sobre o foco, se
possível. O objetivo principal dessa ação, quando for razoavelmente viável, é reduzir
o risco térmico que essa região do incêndio pode oferecer aos bombeiros e a
potenciais ocupantes.

Pesquisas realizadas pelo NIST e pela UL demonstram o impacto


extremamente positivo de aplicações de jatos compactos direcionados ao teto do
cômodo sinistrado por alguns segundos (Ataque Transicional). A redução dramática
da temperatura na camada de fumaça aumenta a condição de sobrevida das vítimas

10 Vent, Enter, Isolate, Search. Tratada no capítulo de Salvamento em incêndio.


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 480

e possibilita condições mais seguras para a abordagem dos ambientes pelas equipes
de bombeiro (Zvotek, Stakes, and Willi, 2018 apud WARD, 2020).

Todavia, não é uma regra geral que todo incêndio deve ser atacado por
fora da edificação antes da entrada das equipes. Isso significa que o Comandante da
Operação deve tomar a decisão de forma racional e pensada, chegando à conclusão
de qual será a maneira mais eficiente de aplicação da água, no momento e na melhor
definição do modo de ataque, como será visto mais adiante.

Nesse sentido, vale destacar que o ataque tridimensional realizado no


interior da edificação, principalmente durante o processo de progressão, atinge,
também, o objetivo de resfriar o ambiente a partir de uma posição mais segura
(WARD, 2020).

3.5.5 Extinguir o incêndio (E – Extinguish)

Respeitando sempre os princípios táticos na resposta do incidente, essas


serão as ações adotadas assim que as ameaças promovidas pelas altas temperaturas
estiverem controladas, pois o combate deve visar à extinção completa do foco do
incêndio da forma mais direta possível.

Isso significa que o incêndio pode ser inicialmente resfriado pelo exterior,
com a utilização do ataque transicional, fazendo com que haja a redução rápida da
temperatura interna, seguido do avanço no terreno pelas linhas de mangueira,
utilizando as técnicas de jatos adequadas para progressão.

Já nos casos em que não seja possível aplicar o ataque transicional


(principalmente quando o foco não é visualizado e/ou acessado por fora da edificação)
a progressão no ambiente associada a técnicas como pulsos e pacotes d’água pode
ser uma alternativa empregada. Tais técnicas foram descritas no capítulo específico
sobre esse assunto neste Manual.
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 481

3.5.6 Salvamento (R – Rescue)

Reforçam-se aqui todas as considerações já tratadas sobre salvamento


neste Manual.

A primeira equipe em cena deverá revisar rapidamente as prioridades


táticas do incidente e definir se as ações adotadas serão as de salvamento ou voltadas
para o combate do incêndio em si. Contudo, o Comandante da Operação deverá
avaliar a possibilidade de salvamento durante toda a ocorrência.

De uma maneira geral, todos os bombeiros devem estar preparados para


realizar a retirada de vítimas visíveis a todo o momento durante a operação, utilizando-
se as técnicas propostas no capítulo próprio.

Como a preservação à vida é a maior de todas as prioridades táticas em


um incêndio, as ações de salvamento e evacuação são sempre prioritárias durante a
resposta, devendo o Comandante da Operação definir, dentro das possibilidades de
efetivo e logística, a melhor maneira de retirar os ocupantes da edificação.

3.5.7 Salvatagem (S – Salvage)

Atendendo aos objetivos táticos propostos anteriormente, todos os


bombeiros devem realizar ações que possam mitigar ou eliminar os danos ao
patrimônio durante a resposta ao incêndio.

4 DESMOBILIZAÇÃO E PROCEDIMENTOS PÓS-SINISTRO

Ao término da operação, a desmobilização dos recursos deve obedecer a


critérios específicos e ser realizada de forma planejada, devendo o Comandante da
Operação zelar pelos seguintes pontos:

a) realização de reunião de retorno e avaliação da operação (debriefing)


com as equipes envolvidas;
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 482

b) conferência das condições das viaturas;


c) exposição (em lona ou similar) para conferência de propriedade,
quantidade e aspecto dos equipamentos e materiais utilizados;
d) avaliação das condições psicológicas e físicas dos militares envolvidos;
e) preservação e isolamento do local após a saída do socorro;
f) outros que julgar necessário.

4.1 Procedimentos pós-sinistro

Sempre que houver vítimas ou quando houver suspeita de incêndio


criminoso, a Perícia Criminal da Polícia Civil e a Polícia Militar deverão ser acionadas.

Para a preservação de local provável de crime, o Comandante da Operação


e os demais militares deverão atentar para as orientações previstas na Instrução
Técnica Operacional nº 10 – Preservação de local de crime (CBMMG, 2007).

Havendo risco de colapso estrutural, tema abordado em capítulo específico


do presente Manual, a Defesa Civil deverá ser acionada e o local devidamente isolado
até a sua chegada.

Quando for constatado que as condições dos sistemas preventivos da


edificação não estão adequadas, deve ser acionada a guarnição de prevenção do
Corpo de Bombeiros, e o REDS11 deve ser encaminhado à Companhia de Prevenção
e Vistoria (Cia PV), Pelotão de Prevenção e Vistoria (PPV) ou Grupamento de
Prevenção e Vistoria (GPV). Se for necessário o apoio de outro órgão aqui não
indicado, o Comandante da Operação possui discricionariedade para acioná-lo.

Devido às peculiaridades de cada incêndio, é importante que as guarnições


forneçam aos proprietários, responsáveis pelo uso ou ocupantes da edificação
informações sobre os riscos que porventura permaneçam presentes. Orientações
sobre as condições de risco estrutural, perigos advindos da inalação de fumaça e
asbestos, bem como a importância de ventilar todo o ambiente antes de retornarem,

11Registro de Eventos de Defesa Social: plataforma web utilizada pelo CBMMG para registro das
ocorrências.
CAPÍTULO 13 – TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO 483

são bons exemplos. É importante também orientá-los sobre como conseguir a cópia
do REDS, o endereço e identificação da Unidade BM mais próxima, entre outras
informações que forem julgadas necessárias.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 484

REFERÊNCIAS

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MA: Jones & Bartlett Learning. 2020.

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______. Manual básico de combate a incêndio: Tática de combate a incêndio (2ª


ed., Vol. I). Brasília: CBMDF, 2013.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS. Instrução Técnica


Operacional 01 - Padronização Do Serviço Operacional (2ª Ed.). Belo Horizonte:
CBMMG, 2015.

______. Instrução Técnica 02: Terminologia de proteção contra incêndio e pânico


(2ª ed.). Belo Horizonte: CBMMG, 2017.

______. Instrução Técnica Operacional 10 – Preservação de locais de crime (1ª


Ed). Belo Horizonte: CBMMG, 2007.

______. Resolução nº 810. Dispõe sobre o Treinamento Profissional Básico no


Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), revoga a Resolução nº 255,
de 02 de julho de 2007, e dá outras providências. Belo Horizonte: CBMMG, 2018.

GRIMWOOD, P. Euro Firefighter (1ª ed.). Huddesrfield - West Yorkshire: Jeremy


Mills Publishing ltd. 2008.

GSD ENGENHARIA. O incêndio em São Paulo e a importância da


compartimentação nas edificações, 2019. Disponivel em:
<http://www.gsdengenharia.com.br/o-incendio-em-sao-paulo-e-importancia-da-
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JR., A. W., MCSWEENEY, B., NIGRO, D. A., & SUDNICK, J. Probationary


Firefighters Manual. New York: FDNY. 2019.

KLAENE, B. J., & SANDERS, R. E. Structural firefighting: Strategy and Tactics. (2ª
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NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 80 A: Recommended


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______. NFPA 1500, Standard on Fire Department Occupational Safety, Health,


and Wellness Program. NFPA. Quincy - MA, p. 134. 2018.

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NAKAGAWA, M. 5W2H - Plano de ação para empreendedores. Acesso em 2 de


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PortalSebrae/artigos/5w2h-tire-suas-duvidas-e-coloque-produtividade-no-seu-dia-a-
dia. 2020.

OLIVEIRA, M. de. Estratégias, Táticas e Técnicas de Combate a Incêndio


Estrutural: Comando e controle em operações de incêndio. Florianópolis: Editograf.
2005.

______. Gerenciamento de Desastres - Sistema de Comando em Operações –


Florianópolis: Ministério da Integração Nacional, Secretaria Nacional de Defesa Civil,
Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Universitário de Estudos e
Pesquisas sobre Desastres, 2010. 82 p. 2010.

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WARD, M. J. Fire Officer: Principles and Practice (4ª ed.). Sudbury, US: Jones and
Bartlett Publishers, Inc. 2020.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 486
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 487

Página deixada intencionalmente em branco


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 488

CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E


PÂNICO
Autora – 1º Ten Ágatha

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 490

2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ATIVA .............................................................. 491

2.1 Sistema de detecção e alarme de incêndio .............................................. 491

2.2 Extintor de incêndio ................................................................................... 494

2.2.1 Extintor de água .......................................................................................... 496

2.2.2 Extintor de espuma mecânica ................................................................... 497

2.2.3 Extintor de CO2 ........................................................................................... 498

2.2.4 Extintor de Pó BC (PQS) ............................................................................ 498

2.2.5 Extintor de Pó ABC ..................................................................................... 499

2.2.6 Extintor de PQE .......................................................................................... 500

2.2.7 Extintor de classe K.................................................................................... 500

2.3 Hidrantes e Mangotinhos ........................................................................... 501

2.3.1 Hidrante de recalque ................................................................................... 503

2.3.2 Reserva técnica de incêndio ...................................................................... 504

2.3.3 Hidrante de coluna seca ............................................................................. 504

2.4 Chuveiros automáticos .............................................................................. 506

2.4.1 Recalque ...................................................................................................... 508

2.5 Sistema fixo de gases ................................................................................ 509


CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 489

2.6 Brigada de incêndio.................................................................................... 510

3 MEDIDAS DE PROTEÇÃO PASSIVA ......................................................... 511

3.1 Compartimentação horizontal e vertical ................................................... 511

3.1.1 Porta corta-fogo .......................................................................................... 511

3.2 Saídas de emergência ................................................................................ 512

3.2.1 Escadas de emergência ............................................................................. 513

3.2.2 Antecâmara de segurança ......................................................................... 514

3.2.3 Elevador de emergência............................................................................. 515

3.2.4 Área de refúgio ........................................................................................... 517

3.3 Sinalização de emergência ........................................................................ 518

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 520
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 490

1 INTRODUÇÃO

As medidas de segurança contra incêndio e pânico constituem o conjunto


de ações e recursos internos e externos à edificação ou área de risco e são destinadas
a detecção, controle do crescimento, contenção ou extinção de incêndios bem como
possibilitam a remoção segura das pessoas do local sinistrado (CBMMG, 2017;
CBPMESP, 2019).

São classificadas em:

a) de proteção ativa: medidas de acionamento imediato frente aos


estímulos provocados pelo princípio de incêndio. Abrangem a
detecção, alarme e extinção do fogo (de forma manual ou automática).
Ex.: sistemas de detecção de incêndio, alarme de incêndio, chuveiros
automáticos, hidrantes, mangotinhos, extintores de incêndio, sistemas
fixos de espuma, brigada de incêndio (CBMDF, 2013; CBMMG, 2017;
CBPMESP, 2019);

b) de proteção passiva: medidas incorporadas ao sistema construtivo da


edificação, sendo funcionais durante seu uso normal e que reagem de
forma passiva evitando as condições propícias ao desenvolvimento e
propagação do incêndio. Abrangem o controle dos materiais, meios de
escape, compartimentação e proteção da estrutura. Ex.: paredes e
portas resistentes ao fogo, compartimentação vertical e horizontal,
afastamento entre edificações, segurança estrutural, saídas e
sinalização de emergência, hidrantes urbanos, controle de materiais de
acabamento (CBMDF, 2013; CBMMG, 2017; CBPMESP, 2019).

As exigências quanto à instalação das medidas de segurança contra


incêndio e pânico nas edificações variam de acordo com a ocupação, área total, altura,
risco e população (CBMMG, 2017). As informações relativas às medidas de
segurança instaladas nas edificações são encontradas no Sistema de Informações do
Serviço de Segurança Contra Incêndio e Pânico (INFOSCIP) do CBMMG.
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 491

Na entrada principal das edificações poderá ser encontrada uma placa


onde estarão listados os sistemas de proteção contra incêndio existentes, conforme
figura 14.1 (CBMMG, 2017):

Figura 14.1 – Modelo de sinalização tipo M1

Fonte: CBMMG, 2017

Este apêndice constitui-se numa abordagem básica das medidas de


segurança contra incêndio e pânico. Portanto, não serão mencionadas todas as
previstas na legislação do CBMMG.

2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ATIVA

As medidas de proteção ativa complementam as medidas de proteção


passiva. Em situações normais de funcionamento da edificação, elas não exercem
nenhuma outra função. Para funcionarem em situações de emergência, devem ser
acionadas, manual ou automaticamente.

2.1 Sistema de detecção e alarme de incêndio

O sistema de detecção e alarme de incêndio integra um conjunto de


elementos interligados, organizados de maneira estratégica no ambiente, com o
objetivo de fornecer informações de princípios de incêndio através de manifestações
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 492

sonoras e visuais. É composto por detectores, acionadores manuais, avisadores


visuais e a central de alarme (CBMDF, 2013):

a) detectores de incêndio: dispositivos destinados a detectar um princípio


de incêndio quando sensibilizados por fenômenos externos. Podem ser
classificados em pontuais, lineares ou por amostragem de ar
(CBPMESP, 2006):

− detectores pontuais: são os sensibilizados por determinados


fenômenos físicos e químicos no exato local de instalação, como por
exemplo, os detectores de fumaça (figura 14.2), detectores de
temperatura e detectores de chama. Os detectores de fumaça, sendo
os mais utilizados entre os detectores pontuais existentes, estarão
instalados no teto ou, em casos particulares, nas paredes laterais do
ambiente (CBMDF, 2013),

Figura 14.2 – Detector de fumaça

Fonte: Autora

− detectores lineares: possuem um transmissor que projeta um feixe de


luz até um receptor para mandar um sinal para uma central de alarme
e detecção (CBMDF, 2013),
− detectores por amostragem de ar: possuem como método de
percepção a análise de amostras de ar aspirado do ambiente protegido
(CBMDF, 2013).
b) acionador manual: ferramenta que transmite a informação de um
princípio de incêndio quando acionado manualmente (figura14.3)
(CBPMESP, 2006). Também chamado de botoeira de alarme, é
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 493

instalado em locais com maior circulação de pessoas, sendo que a


distância máxima a ser percorrida, de qualquer ponto da área protegida
até o acionador manual mais próximo não deve ultrapassar 30m
(CBMMG, 2017);

Figura 14.3 - Acionador manual

Fonte: Abrafire, 2020

c) alarme de incêndio: dispositivo que, por meio de um sinal sonoro,


objetiva alertar as pessoas sobre a existência de um incêndio. Pode ser
acionado de forma automática ou manual, sendo que seu desligamento
é apenas manual (CBMMG, 2017);

d) avisadores audiovisuais: uma vez que um princípio de incêndio já foi


detectado, esse dispositivo tem o propósito de informar o sinistro aos
usuários da edificação para que possam evacuar o local (CBMDF,
2013) (figura 14.4);

Figura 14.4 - Avisador audiovisual

Fonte: Intelbrás, 2020


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 494

e) central de alarme: o equipamento processa todos os sinais oriundos


dos sistemas de detecção e alarme, convertendo-os em indicações
adequadas, seja acionando uma equipe de intervenção ou
determinando o alarme para a edificação. Também gerencia todo o
sistema e possui as informações necessárias para a análise do
ambiente sinistrado. Na central de detecção terá um painel que indicará
a localização bem como a identificação dos acionadores manuais ou
detectores instalados na edificação (figura 14.5). Pode estar localizada
na sala de controle, sala de segurança ou bombeiros, portaria principal
ou entrada de edifícios e estará monitorada, local ou remotamente, 24h
por dia (CBMDF, 2013; CBMMG, 2017).

Figura 14.5 - Painel da central de alarme

Fonte: Hidromon Engenharia, 2020

2.2 Extintor de incêndio

Extintor de incêndio é todo aparelho de acionamento manual, constituído


de recipiente e acessórios, contendo agente extintor destinado a combater princípios
de incêndio. Pode ser dividido em dois grupos (CBMMG, 2017):

a) extintor portátil: pode ser transportado manualmente, considerando que


sua massa total não pode ultrapassar 20 kg;

b) extintor sobre rodas: montado sobre rodas sendo que sua massa total
não pode ultrapassar 250 kg.
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 495

Esse tipo de sistema preventivo estará instalado em todas as edificações e


ocupações existentes, incluindo as empresas que são dispensadas de licenciamento
junto ao Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, com exceção das residências
unifamiliares (CBMMG, 2018).

Conforme o risco associado, os extintores de incêndio estarão instalados


em locais de fácil acesso, preferencialmente nos caminhos normais de passagem,
incluindo saídas das áreas, sendo vedada a sua instalação em escadas. Haverá no
mínimo um extintor de incêndio não distante mais de 5 m da porta de acesso da
entrada principal da edificação, da entrada do pavimento ou da área de risco (ABNT
NBR 12693, 2013).

No interior dos ambientes, serão encontrados em suportes ou abrigos,


afixados em colunas, paredes ou divisórias - estando a alça de suporte de manuseio
a, no máximo, 1,60m do solo - ou sobre o piso acabado em suportes apropriados
(CBMMG, 2017).

Os extintores portáteis instalados em abrigos embutidos na parede ou


divisória serão visualizados através de uma superfície transparente. É vedado o
trancamento dos abrigos de extintores, salvo nos locais sujeitos a vandalismo, onde
estarão fechados à chave ou similar, sendo possível o acesso rápido ao equipamento
em caso de emergência (CBMMG, 2017).

Os extintores sobre rodas são complementares aos extintores portáteis


previstos na edificação. Serão instalados nos locais de alto risco, em que se faz
necessária alta vazão e maior quantidade de agente extintor, maiores tempo de
descarga e alcance do jato, como postos de combustíveis, helipontos, subestações
elétricas, locais de manipulação e/ou armazenamento de explosivos, inflamáveis ou
combustíveis, por exemplo (ABNT NBR 12693, 2013).

Os extintores de incêndio se diferenciam e são nomeados conforme o


agente extintor que possuem (CBMES, 2014). São constituídos conforme apresentado
na figura 14.6.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 496

Figura 14.6 – Partes do extintor

Fonte: Autor

Para o combate, deve-se realizar a escolha do extintor baseado na classe


do material que queima. De posse do aparelho, deve-se retirar o lacre de segurança
e realizar um teste para verificar se o funcionamento está adequado, antes de
direcioná-lo ao foco. Cada extintor possui uma forma de utilização específica.
Portanto, deve ser operado da maneira correta. Após o uso ou depois de constatada
falha, deve-se deixá-lo deitado para evitar nova tentativa de uso (CBMES, 2014).

2.2.1 Extintor de água

Adequado para a extinção de princípios de incêndio de classe A, agindo


por meio de resfriamento (ABNT NBR 12693, 2013). Para o combate, deve-se
direcionar o jato do extintor para a base do foco e realizar movimentos em leque ou
espiral. Para se obter uma máxima dispersão da água, pode-se colocar o dedo na
frente do requinte para aspergir o jato. O gatilho deve ser acionado de forma
incessante (CBMES, 2014). O extintor de água está representado na figura 14.7.
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 497

Figura 14.7 – Extintor de água

Fonte: BUCKA, 2019

2.2.2 Extintor de espuma mecânica

Adequado para a extinção de princípios de incêndio de classes A e B,


agindo por meio de abafamento e resfriamento (figura 14.8). Para o combate em
materiais de classe A, são operados da mesma maneira que os extintores de água.
Para o combate em materiais de classe B, deve-se direcionar o jato para um anteparo
com o objetivo de fazer com que a espuma escorra pela superfície em combustão. Se
o líquido estiver derramado, deve-se fazer um aglomerado de espuma antes da poça
e posteriormente forçar seu rolamento sobre o líquido com a aplicação de mais
espuma (CBMES, 2014).

Figura 14.8 – Extintor de espuma mecânica

Fonte: BUCKA, 2019


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 498

2.2.3 Extintor de CO2

Agindo por meio de abafamento, é adequado para a extinção de princípios


de incêndio de classes B e C, e não recomendado para princípios de incêndio de
classe A. Para o combate, deve-se formar uma nuvem de gás sobre o combustível em
chamas. Para isso, o gatilho deve ser acionado de forma constante ou de forma
sucessiva rápida. A mangueira deve ser segurada pelo punho e nunca pelo difusor,
pois como o extintor funciona em alta pressão, no momento de liberação do gás ele
se resfria violentamente, podendo ocorrer queimadura por baixa temperatura
(CBMES, 2014) (figura 14.9).

Deve-se evitar descarregar o extintor de CO2 em ambientes com pouca


ventilação devido ao risco de asfixia. Além disso, deve-se ter atenção aos riscos
presentes no ambiente devido à possibilidade da descarga do gás gerar uma faísca
oriunda da eletricidade estática produzida no atrito do CO2 com o difusor.

Figura 14.9 – Extintor de CO2

Fonte: AEROEXTINTORES, 2019

2.2.4 Extintor de Pó BC (PQS)

Adequado para a extinção de princípios de incêndio de classes B e C,


agindo por meio da quebra da reação em cadeia e abafamento. Para o combate,
devem ser aplicados jatos curtos de pó em cima do foco, de modo que se crie uma
película de pó sobre ele. Os jatos seguintes devem ser lançados após esta película
ter assentado sobre o foco (CBMES, 2014).
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 499

O extintor de PQS assemelha-se muito com o extintor de água, podendo


ser confundido no momento de utilização (figura 14.10). Uma das formas de
diferenciação é através do barulho produzido ao se bater no corpo dos referidos
extintores. Enquanto o de pó vai produzir um som mais “seco”, o de água produz um
som estridente e com um leve eco. Além disso, o diâmetro da saída da mangueira no
extintor de pó é mais aberto do que no extintor de água (CBMES, 2014).

Figura 14.10 – Extintor de pó BC

Fonte: LD Extintores, 2019

2.2.5 Extintor de Pó ABC

Adequado para a extinção de princípios de incêndio de classes A, B e C,


agindo por meio da quebra da reação em cadeia, e abafamento (para a classe A).
Para o combate, são operados da mesma maneira que os extintores de pó BC (figura
14.11).

Figura 14.11 – Extintor de pó ABC

Fonte: DAGAD, 2019


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 500

2.2.6 Extintor de PQE

Adequado para combater princípios de incêndio de classe D, agindo por


meio de abafamento. Destaca-se que, para cada tipo de metal, deve-se utilizar o pó
adequado. Para o combate, são operados da mesma maneira que os extintores de pó
BC (figura 14.12).

Figura 14.12 – Extintor de PQE

Fonte: BUCKA, 2019

2.2.7 Extintor de classe K

Adequado para combater princípios de incêndio de classe K, agindo por


meio de abafamento. Para o combate, são operados da mesma maneira que os
extintores de pó BC (figura 14.13).

Figura 14.13 – Extintor classe K

Fonte: BUCKA, 2019


CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 501

Um resumo do emprego dos extintores está disposto no quadro 14.1.

Quadro 14.1 – Resumo de utilização extintores de incêndio

Agente Extintor
Classes de
combustíveis Espuma
Água CO2 Pó BC Pó ABC PQE K
mecânica

A Excelente Bom - - Muito - -


bom

B - Excelente Bom Excelente Excelente - -

C - - Excelente Bom Bom - -

D - - - - - Muito -
bom¹

K - - - Muito Muito - Excelente


bom bom
¹ Deve-se verificar a compatibilidade do agente extintor e o metal.
Fonte: Autora

2.3 Hidrantes e Mangotinhos

Mangotinhos são pontos de tomada de água nos quais há uma simples


saída contendo válvula de abertura rápida, adaptador (se necessário), mangueira
semirrígida de 25mm ou 32mm, com comprimento máximo de 45m, esguicho
regulável e demais acessórios (CBMMG, 2017). Nas edificações em que for instalado
o sistema de mangotinho, dentro ou fora do abrigo de mangueira, haverá um ponto de
tomada de água de engate rápido para mangueira de incêndio de diâmetro de 1½” (38
mm) (CBMMG, 2019).

Hidrantes são pontos de tomada de água nos quais há uma ou duas saídas,
contendo válvulas angulares e seus respectivos adaptadores, tampões, mangueiras
de incêndio e demais acessórios (CBMMG, 2017).

Sistema de hidrante ou de mangotinho é o sistema de combate a incêndio


composto por reserva de incêndio, bombas de incêndio (quando necessário), rede de
tubulação, hidrantes ou mangotinhos e outros acessórios (CBMMG, 2019).

Os pontos de tomada de água para hidrantes e mangotinhos estarão


posicionados a não mais de 10 m nas proximidades das portas externas, escadas
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 502

e/ou acesso principal; em posições centrais na área a ser protegida; fora de escadas
e antecâmaras e a uma altura entre 1 m a 1,5 m do piso (CBMMG, 2019) (figura 14.14).

Figura 14.14 – Sistema de mangotinho com ponto de tomada de água

Fonte: CBMMG, 2005

Os hidrantes podem ser do tipo coluna (emergente) ou de piso


(subterrâneo) - ligados à rede pública de abastecimento de água - sendo que para o
primeiro, serão preferencialmente instalados nas esquinas das vias públicas e no meio
das grandes quadras e deverão estar pintados na cor vermelha (CBMMG, 2017a,
2005b). Podem também ser de parede - instalado em rede particular, embutido na
parede, podendo estar no interior de um abrigo de mangueira (CBMMG, 2017) (figura
14.15).

Figura 14.15 - Hidrante de parede com e sem abrigo

Fonte: Autora
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 503

2.3.1 Hidrante de recalque

De uso exclusivo do Corpo de Bombeiros Militar, é o hidrante destinado a


recalcar água na tubulação do sistema de combate a incêndio de uma edificação.
Pode ser utilizado também para abastecer as viaturas em caso de ausência de
hidrantes públicos nas proximidades do local sinistrado.

O hidrante destinado a esse fim deve ser localizado (CBMMG, 2019):

a) em passeios públicos, preferencialmente defronte ao acesso principal


da edificação, enterrado em uma caixa de alvenaria com uma tampa
articulada pintada na cor vermelha, com a inscrição “INCÊNDIO”,
conforme figura 14.16;

b) na fachada principal da edificação, ou no muro da divisa com a rua,


com a introdução voltada para a rua e para baixo em um ângulo de 45°,
identificado e pintado na cor vermelha;

c) a uma distância máxima de 10m até o local de estacionamento das


viaturas do Corpo de Bombeiros, quando constituído de um hidrante de
coluna externo.

Figura 14.16 - Hidrante de recalque

Fonte: Autora
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 504

2.3.2 Reserva técnica de incêndio

É a quantidade mínima de água destinada ao primeiro combate durante um


determinado tempo. Pode ser encontrada em reservatórios de tipos variados: elevado,
ao nível do solo, semienterrado ou subterrâneo, sendo que, nesses três últimos, o
abastecimento do sistema de hidrantes ou mangotinhos será realizado por bomba fixa
(CBMMG, 2019).

O tubo de descida do reservatório elevado possuirá uma válvula de


retenção com passagem livre no sentido reservatório-sistema.

Para retirar água do reservatório de uma edificação, em caso de


emergência e considerando a inexistência e/ou falha do hidrante público no local da
ocorrência, deve-se utilizar o hidrante de recalque ou o hidrante de parede do primeiro
pavimento. A quantidade de água retirada deve ser registrada em Relatório de
Ocorrência para que a companhia de abastecimento de água realize o ressarcimento
mediante solicitação do proprietário/responsável pelo uso.

De acordo com a edificação e área de risco em que estiver instalada, para


o sistema de mangotinhos, a reserva técnica de incêndio terá entre 6 m 3 (6.000 L) e
35 m3 (35.000 L) de água. Já para o sistema de hidrantes, a quantidade mínima de
água será de 8 m3 (8.000 L), podendo chegar a 140 m3 (CBMMG, 2005).

2.3.3 Hidrante de coluna seca

Hidrante de coluna seca é o sistema de tubulação destinado a conduzir


água quando abastecido e pressurizado por veículo próprio ou pela rede pública de
hidrantes (CBMMG, 2017) (figura 14.17).

Será admitido esse tipo de sistema nas edificações que apresentarem


impossibilidade técnica para instalação do sistema convencional, desde que esteja
situada em municípios com a presença de unidade do Corpo de Bombeiros Militar com
viatura de combate a incêndio. Haverá a previsão de mangueiras, esguichos, abrigos,
sistema de recalque e demais acessórios da mesma maneira que o sistema
convencional (CBMMG, 2017).
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 505

Figura 14.17 – Esquema do hidrante de coluna seca

Fonte: CBMMG, 2016

Como o sistema não possui reservatório de água haverá obrigatoriamente


no topo da tubulação um dreno para a retirada de ar do sistema (CBMMG, 2017)
(figura 14.18).

Figura 14.18 - Dreno do hidrante de coluna seca

Fonte: Autora

O hidrante de recalque do hidrante de coluna seca é idêntico ao hidrante


de recalque do sistema convencional. Haverá sinalização complementar (figura 14.19)
informando que se trata de coluna seca nos abrigos de hidrante e, quando houver, na
placa M1 (CBMMG, 2017).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 506

Figura 14.19 - Sinalização hidrante de coluna seca

Fonte: Autora

O sistema de hidrante de coluna seca deverá ser testado para verificar a


quantidade de água necessária para alagar a tubulação, bem como a pressão ideal a
ser colocada no corpo de bomba que garanta a pressão necessária na ponta do
esguicho no andar mais desfavorável.

2.4 Chuveiros automáticos

Sistema de proteção contra incêndio por chuveiros automáticos é o


conjunto integrado de tubulações e acessórios que permitem o processamento de
água sobre um foco de incêndio de forma a extingui-lo ou controlá-lo em seu estágio
inicial após ativação de dispositivos sensíveis à elevação de temperatura (CBMMG,
2005).

O sistema possui os seguintes componentes:

a) chuveiro automático: também chamado de sprinkler, é todo dispositivo


que é dotado de sistema sensível à elevação de temperatura e que tem
o objetivo de projetar água, em forma de chuva, em um foco inicial de
incêndio (CBMMG, 2017);

b) chuveiro aberto: dispositivo que não possui elemento acionador


termossensível. Pode ser acionado de forma remota (automática ou
manualmente) (CBMDF, 2013; ABNT NBR 10897, 2014);
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 507

c) coluna principal de alimentação do sistema (riser): tubulação não


subterrânea, instalada na vertical ou horizontal entre a fonte de
abastecimento de água e as tubulações que alimentam os ramais,
contando com uma válvula de governo e alarme (ABNT NBR 10897,
2014);

d) ramal: tubulação onde são fixados os chuveiros automáticos (ABNT


NBR 10897, 2014);

e) válvula de governo e alarme: conjunto composto por válvulas de


controle de fluxo de água, sistema de alarme de fluxo e outros
acessórios, instalada em cada coluna de alimentação de um sistema
de chuveiros automáticos (ABNT NBR 10897, 2014). A instalação desta
válvula de governo poderá ser dispensada em alguns casos, sendo
substituída por uma válvula de retenção, instalada na expedição da
bomba, e chave de fluxo para acionamento do alarme (CBMMG, 2005).

Esse sistema de proteção realiza, portanto, de forma automática, três


funções básicas (CBPMESP, 2006):

a) detecção do foco de incêndio;

b) ativação do alarme sonoro e identificação do setor atingido;

c) controle e/ou extinção do fogo.

Os chuveiros poderão estar instalados de forma visível, no plano inferior do


teto ou na parede, ou embutidos, dentro de um invólucro, ou cobertos por uma placa
ou acima do plano inferior do teto (ABNT NBR 10897, 2014).

Os sistemas de chuveiros automáticos podem ser de quatro diferentes tipos


(CBMMG, 2017):

a) sistema de tubo molhado: muito utilizado, possui água de forma


permanente em suas tubulações;

b) sistema de tubo seco: a rede de tubulação permanece constantemente


seca, sendo preenchida com ar comprimido ou nitrogênio. Possui uma
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 508

válvula na entrada do sistema que, quando o ar comprimido é liberado,


permite a entrada de água na tubulação;

c) sistema de ação prévia: pouco utilizado, possui um sistema de


detecção que permanece ligado a uma válvula na entrada no sistema;

d) sistema dilúvio: possui chuveiros do tipo aberto e detectores ligados a


uma válvula no início do sistema.

O desligamento do sistema de sprinkler é manual. Portanto, após o


combate ou controle do sinistro, ou se decidido realizar o combate utilizando outro
método de ataque, deve-se realizar o desligamento do sistema. Para isto, o fluxo de
água deve ser interrompido, acionando o registro de fluxo na válvula de governo e
alarme e a bomba de pressurização deve ser desligada na casa de máquinas.

2.4.1 Recalque

O hidrante de recalque, ou tomada de recalque (figura 14.20), do sistema


de chuveiros automáticos possuirá uma ou duas entradas de água de 2,5” (63 mm)
de diâmetro, providas de adaptadores de engate rápido (storz) (CBMDF, 2013).

A tomada de recalque poderá se encontrar (ABNT NBR 10897, 2014):

a) na fachada principal ou muro de divisa com a rua;

b) junto à via de acesso de veículos ou via de circulação interna;

c) em passeio público, enterrado em uma caixa de alvenaria, com uma


tampa articulada pintada na cor vermelha, com a inscrição “INCÊNDIO
SPK”.

O hidrante de recalque para sistemas de chuveiros automáticos possui


válvula de retenção. Dessa maneira não é possível utilizá-lo para retirar água do
sistema e abastecer a viatura de combate a incêndio em caso de necessidade.
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 509

Figura 14.20 – Tomada de recalque no passeio público

Fonte: Autora

2.5 Sistema fixo de gases

Em locais que a utilização da água, ou outro produto como agente extintor,


não for aconselhada, seja por causar danos adicionais aos objetos ou equipamentos
da edificação ou pelos riscos adicionais provenientes da utilização dos agentes
extintores convencionais, poderá ser implementado o Sistema Fixo de Gases para
Combate a Incêndio (CBMMG, 2005).

O sistema é composto por um conjunto de cilindros interligados em uma


rede de tubulação de aço com bicos difusores distribuídos em uma área a ser
protegida. Nesses cilindros são armazenados os gases para a extinção do fogo,
denominados gases limpos (CBMDF, 2013).

Gases limpos são agentes extintores na forma de gás, cujo efeito não
degrada a natureza e não afeta a camada de ozônio. São inodoros, incolores, maus
condutores de eletricidade e não corrosivos. O CO2 não é considerado um gás limpo
por sua ação asfixiante na concentração de extinção (CBPMESP, 2019).

O sistema funciona através da ativação dos detectores que, quando


sensibilizados, desencadeiam todo o processo de descarregamento do agente extintor
no ambiente. Essa descarga pode ser por:
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 510

a) inundação total: o agente extintor é aplicado em todo o ambiente em


que ocorre o incêndio;

b) aplicação local: o agente extintor é aplicado diretamente sobre o


material em chamas. Pode ser de comando manual ou automático
(CBMMG, 2005).

O sistema fixo de gases poderá estar instalado em locais de abrigo de


objetos de valor inestimável, centrais de processamento de dados, máquinas
automatizadas em linhas de produção, centrais de telecomunicações,
transformadores, equipamentos de subestações elétricas, laboratórios de
armazenamento de produtos patológicos, arquivos convencionais de documentos
importantes, dentre outros.

2.6 Brigada de incêndio

É o grupo de pessoas treinadas e capacitadas para atuar na prevenção,


abandono da edificação, combate a um princípio de incêndio e prestar os primeiros
socorros, dentro de uma área preestabelecida. É exigida em edificações, eventos
temporários e áreas de risco (CBMMG, 2019).

As brigadas de incêndio, quando da ocorrência de sinistros, serão de


extrema importância, pois poderão auxiliar as guarnições do Corpo de Bombeiros
Militar repassando informações sobre a existência e localização dos meios
preventivos da edificação, saídas de emergência e rotas de fuga, local exato do
sinistro e os riscos existentes presentes e informações relevantes para definição da
estratégia de combate, como a presença de pessoas idosas, acamadas e/ou pessoas
com deficiência, por exemplo (CBPMESP, 2006).

Além disso, como possibilitam um aumento no efetivo das guarnições


empregadas no atendimento das ocorrências, a brigada poderá auxiliar também na
evacuação do ambiente e desobstrução dos acessos para as viaturas e ambulâncias
e demais ações necessárias (CBPMESP, 2006).
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 511

3 MEDIDAS DE PROTEÇÃO PASSIVA

As medidas de proteção passiva não requerem nenhum tipo de


acionamento para funcionarem em situações de emergência. Nessas circunstâncias,
elas se comportam de maneira especial, agindo no retardo ao crescimento do incêndio
e possibilitando a evacuação do local de forma segura.

3.1 Compartimentação horizontal e vertical

As compartimentações horizontal e vertical são constituídas pelos


“elementos de construção resistentes ao fogo, destinados a evitar ou minimizar a
propagação do fogo, calor e gases, interna ou externamente ao edifício, no mesmo
pavimento ou para pavimentos elevados consecutivos” (CBMMG, 2017, p.10).

A compartimentação horizontal é constituída por elementos construtivos:


paredes de compartimentação, portas corta-fogo, vedadores corta-fogo, registros
corta-fogo (dampers), selos corta-fogo, afastamento horizontal entre aberturas
(CBMMG, 2005).

A compartimentação vertical é constituída pelos elementos construtivos:


entrepisos corta-fogo, enclausuramento de escadas por meio de paredes corta-fogo,
enclausuramento de elevadores, monta-carga e poços para outras finalidades por
meio de porta para-chama, selos corta-fogo, registros corta-fogo (dampers),
vedadores corta-fogo, elementos construtivos corta-fogo/para-chama de separação
vertical entre pavimentos consecutivos, selagem perimetral corta-fogo (CBMMG,
2005).

3.1.1 Porta corta-fogo

É o dispositivo construtivo que possui um tempo mínimo de resistência ao


fogo, retardando a propagação de um incêndio de um ambiente para o outro. Sendo
obrigatório mantê-las fechadas, as portas corta-fogo possuem tempo de resistência
mínimo de 60 minutos. (ABNT NBR 11742, 2018).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 512

Uma porta corta-fogo e sua devida sinalização está ilustrada na figura


14.21.

Figura 14.21 - Porta corta-fogo

Fonte: Autora

3.2 Saídas de emergência

Saídas de emergência são todos os caminhos no interior das edificações,


sinalizados e protegidos, que possibilitam aos ocupantes deslocarem com segurança
a partir de qualquer ponto da edificação, em caso de incêndio e pânico, até a via
pública ou espaço aberto protegido com comunicação com o logradouro (CBMMG,
2017; CBPMESP, 2011).

As saídas de emergência devem ser utilizadas, sempre que possível, pelas


equipes do Corpo de Bombeiros Militar que necessitarem adentrar o interior das
edificações para realizar ações de salvamento e combate a incêndio (CBPMESP).

As portas das saídas de emergência do pavimento de descarga poderão


estar trancadas devido à necessidade de garantir segurança aos usuários da
edificação contra invasões. Nessas situações, a abertura pelo lado interno não
necessitará de chave; pelo lado externo, a abertura será feita apenas com o uso de
chave, sendo dispensado o uso de maçanetas ou congêneres. Em caso de
emergência, as chaves dessas portas estarão disponíveis para as guarnições do
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 513

Corpo de Bombeiros Militar, na entrada principal da edificação ou com integrante da


brigada de incêndio, quando houver.

3.2.1 Escadas de emergência

Parte integrante de uma determinada rota de saída, uma escada de


emergência pode ser classificada como (ABNT NBR 9077, 2001):

a) à prova de fumaça pressurizada (PFP): escada cuja estanqueidade à


fumaça é obtida através de pressurização;

b) enclausurada à prova de fumaça (PF): escada que é envolvida por


paredes corta-fogo, que possuem uma resistência ao fogo de no
mínimo 4 horas, e dotada de portas corta-fogo com o objetivo de evitar
fogo e fumaça em casos de incêndio;

c) enclausurada protegida (EP): escada que é dotada de portas com


resistência ao fogo de 60 minutos, sendo sua caixa isolada por paredes
com resistência ao fogo de no mínimo 2 horas;

d) não enclausurada (NE): escada que se comunica diretamente com os


outros ambientes da edificação, não sendo dotada de portas corta-fogo;

e) aberta externa (AE): escada cuja proteção esteja fora do corpo principal
da edificação e que será precedida de porta corta-fogo com resistência
mínima ao fogo de 60 minutos. O tempo de duração da resistência ao
fogo da parede da face da edificação em que se situa a escada aberta
externa será de 120 minutos. Poderá substituir os demais tipos de
escadas citados anteriormente, sendo admitida sua instalação apenas
em edificações com altura até 30 m.

O funcionamento automático das escadas à prova de fumaça pressurizada


se dá através de um sistema automatizado de detecção de fumaça. Todavia, caso
haja algum problema na automatização, os acionadores manuais que podem ser
encontrados na sala de controle central, no compartimento do ventilador de
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 514

pressurização e na portaria ou guarita do edifício, podem ser utilizados para acionar o


sistema de pressurização (ABNT NBR 14880, 2014).

O acesso para a escada pressurizada e sua devida sinalização está


ilustrada na figura 14.22.

Figura 14.22 - Escada pressurizada

Fonte: Autora

3.2.2 Antecâmara de segurança

É o espaço ventilado que antecede a caixa de escadas enclausuradas e,


quando houver, o elevador de emergência. Terão comprimento e pé-direito com, no
mínimo, 1,80 m e 2,50 m, respectivamente (CBMMG, 2017).

As antecâmaras serão dotadas de portas corta-fogo, na entrada e na


comunicação com a caixa de escada, com resistência ao fogo de 60 minutos. Além
disso, as paredes que a constituem terão resistência ao fogo de, no mínimo, 120
minutos (CBMMG, 2017).

A ventilação das antecâmaras acontecerá por meio de dutos de entrada e


saída de ar. As aberturas de entrada de ar, do respectivo duto, no interior da
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 515

antecâmara, estarão a, no máximo, 15 cm do piso e do teto, sendo a distância vertical


mínima entre elas, medida eixo a eixo, de 2 m (CBMMG, 2017). A figura 14.23 ilustra
uma antecâmara com seus elementos.

Figura 14.23 - Antecâmara

Fonte: Autora

3.2.3 Elevador de emergência

Também chamado de elevador de segurança, é o elevador que possui


enclausuramento e proteção estrutural especial, além de ser alimentado por circuito
próprio, possibilitando seu funcionamento de forma ininterrupta durante um incêndio.
Permite, em situações de emergência, ser utilizado e operado pela brigada de
incêndio da edificação ou pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBPMESP, 2019) (figura
14.24).

Figura 14.24 - Elevador de emergência

Fonte: Autora
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 516

Estarão instalados, obrigatoriamente (CBMMG, 2017):

a) nas ocupações institucionais e de serviços de saúde com altura


superior a 12m: asilos, orfanatos, abrigos geriátricos, hospitais
psiquiátricos, reformatórios, locais para tratamento de dependentes
químicos e assemelhados, hospitais, casa de saúde, prontos-socorros,
clínicas com internação, ambulatórios e postos de atendimento de
urgência, postos de saúde e puericultura e assemelhados com
internação. As cabinas terão dimensões apropriadas para o transporte
de maca;

b) nas ocupações residenciais, com altura superior a 80m:

− de habitação multifamiliar: edifícios de apartamentos em geral,


− de habitação coletiva: residências geriátricas, pensionatos, internatos,
alojamentos, mosteiros, conventos,

c) nas demais ocupações, com altura superior a 60m.

A caixa do elevador de emergência será enclausurada por paredes com


resistência de 4 horas contra fogo. A porta da cabina terá abertura para antecâmara
ventilada, varanda, hall enclausurado e pressurizado ou patamar de escada
pressurizada (CBMMG, 2017).

O circuito de alimentação de energia elétrica (figura 14.25) terá chave


independente e possuirá chave reversível no piso da descarga que permita o
ligamento em gerador externo, no caso de falta de energia elétrica da rede pública. O
elevador de emergência estará ligado a um grupo motogerador de emergência
(CBMMG, 2017).

Figura 14.25 - Circuito de alimentação

Fonte: Autora
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 517

3.2.4 Área de refúgio

É uma área, no interior de uma edificação, onde é possível permanecer em


segurança por um período determinado, em uma situação de emergência. Será
separada das demais áreas da edificação por paredes e portas corta-fogo e dará
acesso direto a pelo menos uma escada/rampa de emergência ou saída para área
externa (CBMMG, 2017).

Figura 14.26 - Identificação da área de refúgio

Fonte: Autora

As áreas de refúgio estarão presentes, obrigatoriamente, em todos os


pavimentos das ocupações, com altura superior a 12m, que sejam:

a) pré-escola e escola para portadores de deficiência: creches, escolas


maternais, jardins-de-infância, escolas para excepcionais, deficientes
visuais e auditivos e assemelhados;

b) hospitais e locais para pessoas que necessitam de cuidados especiais


por limitações físicas ou mentais: asilos, orfanatos, abrigos geriátricos,
hospitais psiquiátricos, reformatórios, locais para tratamento de
dependentes químicos e assemelhados, hospitais, casa de saúde,
prontos-socorros, clínicas com internação, ambulatórios e postos de
atendimento de urgência, postos de saúde e puericultura e
assemelhados com internação (CBMMG, 2017).
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 518

3.3 Sinalização de emergência

A sinalização de emergência compreende os símbolos e mensagens


destinados a alertar sobre riscos existentes, orientar as ações de combate, facilitar a
localização dos equipamentos e rotas de saída para abandono seguro da edificação
em caso de sinistro (CBMMG, 2017). Divide-se em:

a) sinalização básica - conjunto mínimo que uma edificação deve


apresentar, possuindo quatro funções (CBMMG, 2017):

− proibição: para ações que podem resultar em um início de incêndio ou


seu agravamento,
− alerta: para áreas ou materiais com risco de incêndio, explosão, choque
elétrico e contaminação,
− orientação e salvamento: para as rotas de saída e orientações para seu
acesso e uso,
− equipamentos: para os equipamentos de combate a incêndio e alarme.
b) sinalização complementar - complementam a sinalização básica
através de faixas de cor, símbolos e mensagens escritas, nas seguintes
situações (CBMMG, 2017):
− rotas de saída: indica o trajeto completo das rotas de fuga até uma
saída de emergência,
− obstáculos: indica obstáculos presentes nas rotas de saída,
− mensagens escritas: complementam a sinalização básica,
− demarcações de áreas: define um layout no piso para garantir acesso
às rotas de saída e aos equipamentos de combate a incêndio,
− identificação dos sistemas hidráulicos fixos de combate a incêndio:
através de pintura em cores diferenciadas das tubulações e acessórios
de combate a incêndio quando aparentes.

As sinalizações básicas de emergência destinadas à orientação e


salvamento, alarme de incêndio e equipamentos de combate a incêndio bem como as
sinalizações complementares de indicação continuada das rotas de saída e de
indicação de obstáculos possuirão efeito fotoluminescente (CBMMG, 2017) e estão
ilustradas na figura 14.27.
CAPÍTULO 14 – NOÇÕES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO 519

Figura 14.27 – Sinalizações de emergência

Fonte: Autor
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 520

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 9077: Saídas


de emergência em edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2001. 40p.

______. NBR 10897: Proteção contra incêndio por chuveiro automático. Rio de
Janeiro: ABNT, 2014. 130p.

______. NBR 11742: Porta corta-fogo para saída de emergência. Rio de Janeiro:
ABNT, 2018. 29p.

______. NBR 12693: Sistemas de proteção por extintores de incêndio. Rio de


Janeiro: ABNT, 2013. 22p.

______. NBR 13714: Sistemas de hidrantes e de mangotinhos para combate a


incêndio. Rio de Janeiro: ABNT, 2000. 25p.

______. NBR 14880: Saídas de emergência em edifícios-escada de segurança-


controle de fumaça por pressurização. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. 22p.

CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO. Coletânea de


Manuais Técnicos de Bombeiros: Segurança contra incêndio nas edificações e
áreas de risco. 1. ed. V. 48, 2006.

______. Instrução Técnica N. 02: Conceitos básicos de segurança contra incêndio.


1. ed. São Paulo: CBPMESP, 2011. 34 p. Disponível em:
<http://www.corpodebombeiros.sp.gov.br/dsci_publicacoes2/_lib/file/doc/IT_02_2011
.pdf >. Acesso em: 09 jun. 2019.

______. Instrução Técnica N. 03: Terminologia de segurança contra incêndio. 1.


ed. São Paulo: CBPMESP, 2019. 32 p. Disponível em:
<http://www.ccb.policiamilitar.sp.gov.br/dsci_publicacoes2/_lib/file/doc/IT-03-
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______. Instrução Técnica N. 26: Sistema fixo de gases para combate a incêndio.
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CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
523
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 524

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CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
525
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE


DANOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR
INCÊNDIO
Autor – Maj Moisés

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 526

2 EFEITO DO INCÊNDIO SOBRE A ESTRUTURA DE CONCRETO ARMADO . 526

3 CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PELO CORPO DE BOMBEIROS PARA


AVALIAÇÃO DE DANOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO
ATINGIDAS POR INCÊNDIOS........................................................................... 532

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 538

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 539
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 526

1 INTRODUÇÃO

Em situações reais de incêndio, a intensidade do fogo irá depender,


entre outros fatores, da carga incêndio, das dimensões e forma do ambiente e da
taxa de ventilação, fazendo com que os incêndios sejam fenômenos não uniformes.
Desse modo, segundo Lima (2005), ao longo da estrutura de concreto podem
ocorrer situações em que somente algumas regiões serão afetadas pelo fogo e o
processo de degradação do concreto não ocorrerá de forma homogênea.

Nessas condições, além de realizar o combate ao incêndio, minimizar os


riscos de eventual propagação das chamas para construções e áreas adjacentes e
reduzir os danos nas edificações sinistradas, é recomendável que o Comandante
das Operações realize um exame para determinar as condições de segurança da
edificação, haja vista que, segundo Costa e Silva (2004), o colapso estrutural de
edifícios de concreto provocados pela ação do incêndio não é incomum, existindo
casos reais de desabamentos fatais.

Nesse contexto, este capítulo pretende apresentar a influência das


elevadas temperaturas nas estruturas de concreto armado e propor critérios que
possam ser utilizados pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais para avaliar
manifestações patológicas decorrentes de incêndios em estruturas de concreto
armado.

2 EFEITO DO INCÊNDIO SOBRE A ESTRUTURA DE CONCRETO ARMADO

Admite-se em geral que o concreto apresenta bom desempenho quando


submetido ao fogo, por não ser combustível, não emitir gases tóxicos, ser capaz de
assegurar a integridade estrutural por um período de tempo relativamente longo,
oferecer resistência satisfatória à passagem das chamas e à transferência do calor.
Contudo, também é sabido que as elevadas temperaturas afetam suas
propriedades mecânicas, causam perda de rigidez estrutural e podem provocar o
colapso da estrutura (NEVILLE, 1997; COSTA; SILVA, 2002; GEORGALI;
TSAKIRIDIS, 2005;MEHTA; MONTEIRO, 2008).
CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
527
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

Com o aquecimento, o concreto constituído por agregados silicosos e


calcários sofre mudanças em sua coloração, o que permite deduzir a máxima
temperatura atingida durante o incêndio e estimar a perda de resistência sofrida
(CÁNOVAS, 1988). Essas alterações são mais acentuadas para os agregados ricos
em sílica e, dessa forma, concretos constituídos por outros tipos de agregados
podem não apresentar alterações colorimétricas, o que não indica que o concreto
não fora afetado (LIMA, 2005).

Através da figura 15.1 é possível verificar a influência da temperatura


sobre a resistência à compressão do concreto constituído por agregados silicosos.
Até 200°C, a cor do concreto permanece cinza, não ocorrendo reduções
significativas de resistência. Entre 300 a 600°C, o cinza dá lugar a um rosa ou
vermelho, ocorrendo uma redução de 50% a 90% da resistência inicial. Segundo
Ingham (2009), o patamar de 300ºC é normalmente considerado como sendo a
temperatura crítica, acima da qual considera-se que o concreto foi muito danificado.
De 600°C a 900°C, o concreto volta a apresentar a tonalidade cinzenta com pontos
avermelhados. Ocorre perda significativa de resistência, restando apenas 10% da
resistência inicial, quando se atinge os 900°C. No intervalo de 900°C a 1000°C,
surge um amarelo alaranjado, ocorrendo à sinterização1 do concreto. A partir dessa
faixa de temperatura, o amarelo torna-se mais claro, não havendo resistência
residual (CÁNOVAS,1988; NEVILLE,1997).

Figura 15.1 – Alteração na resistência e coloração no concreto.

Fonte: Cánovas, 1988, p. 181.

1 Sinterização: Processo em que duas ou mais partículas sólidas se aglutinam pelo efeito do
aquecimento a uma temperatura inferior à de fusão, mas suficientemente alta para possibilitar a
difusão dos átomos das duas redes cristalinas.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 528

Ressalta-se que, embora a mudança de coloração seja permanente,


caso o concreto seja resfriado com água, seu aspecto cromático pode ser alterado,
devido ao surgimento de limo (CÁNOVAS, 1988).

As alterações das propriedades mecânicas do aço2 da armadura passiva


utilizado no concreto armado em situação de incêndio podem ser verificadas
através da figura 15.2. Conforme Ingham (2009), a recuperação da resistência após
o resfriamento é geralmente completa para temperaturas até 450°C, para o aço
trabalhado a frio, e 600°C para o aço laminado a quente. Acima dessas
temperaturas, haverá uma perda de elasticidade, após o resfriamento.

Figura 15.2 - Fator de redução das propriedades mecânicas do aço em função da elevação da
temperatura.

(a) (b)
Onde:
⚫ Em (a), ks,θ é o fator de redução da resistência do aço na temperatura θ. A curva cheia
refere-se usualmente a armaduras tracionadas de vigas, lajes ou tirantes e a curva tracejada
refere-se usualmente a armaduras comprimidas de pilares, vigas ou lajes.
⚫ Em (b), ksE,θ é o fator de redução do módulo de elasticidade do aço na temperatura θ.
Fonte: ABNT: NBR 15200:2012, p9.

Além dos efeitos isolados que o fogo provoca no aço e no concreto,


existem outros efeitos sobre o concreto armado que merecem ser destacados. Com
a elevação da temperatura, os coeficientes de dilatação térmica de ambos os
-5
materiais, que são praticamente iguais em situação normal: 1,2.10 m/mºC para o

-5
aço e 1,0.10 m/mºC para o concreto, se distanciam, podendo o do aço superar em

2 Os aços são sempre caracterizados por siglas indicativas de suas principais propriedades. No
Brasil, a indicação é feita pelas letras CA (concreto armado) seguidas de um número que indica a
tensão de escoamento em Kgf/mm2 (PETRUCCI, 1973).
CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
529
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

30 vezes o coeficiente do concreto (CÁNOVAS,1988). Em uma linguagem mais


objetiva, as barras de aço dilatam mais do que o concreto, flambam, podem causar
perda de aderência e desprendimento da camada de cobrimento.

Outro aspecto considerado é o fato de que condições térmicas extremas,


frequentes nos casos de incêndio, podem provocar desprendimentos, violentos ou
não, de partes de elementos estruturais submetidos a um rápido e elevado
acréscimo de temperatura, fenômeno usualmente conhecido por spalling (LIMA,
2005).

Em relação à influência do incêndio sobre os elementos estruturais,


devido à forma didática como Piancastelli (1997) aborda o assunto, tal discussão
será apresentada de forma adaptada a seguir.

As lajes são os elementos estruturais mais afetados pelos incêndios em


virtude da pequena espessura, menores cobrimentos e por terem barras de aço
com diâmetro pequeno. Assim, o decréscimo de resistência do material associado
às perdas do cobrimento e de aderência entre o aço e o concreto provocam
flechas3 excessivas com presença de fissuras.

Em relação às vigas, podem ocorrer fissuras provocadas pela dilatação e


posterior contração da peça, pela ruptura de um dos seus tramos ou ainda devido
à dilatação ou colapso dos pilares.

As estruturas formadas por vigas hiperestáticas4 apresentam melhor


comportamento do que aquelas compostas por vigas isostáticas5, pois, quando
aquelas estruturas são submetidas a tensões acima de seus limites,
frequentemente elas possuem a capacidade de redistribuir partes daqueles
esforços para áreas menos solicitadas.

Com relação aos pilares, além dos danos sofridos pela maior dilatação
das armaduras de aço, e da redução de resistência do aço e do concreto, este

3Quando uma barra de eixo reto é submetida a flexão, seu eixo depois da aplicação dos esforços
passa a ser uma curva. O deslocamento vertical entre o eixo reto até o ponto mais baixo da curva é
denominado flecha.
4 Vigas hiperestáticas são aquelas que não podem ter seus esforços determinados apenas com
condições de equilíbrio.
5 Vigas Isostáticas são aquelas que podem ter seus esforços determinados apenas por condições

de equilíbrio.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 530

elemento pode receber esforços adicionais, oriundos da dilatação das vigas, que
podem provocar o seu colapso. É comum a presença de fissuras, perda de
cobrimento e esmagamento do concreto e a flambagem6 das ferragens.

Conforme Costa e Silva (2004), o colapso estrutural de edifícios altos de


concreto provocado pela ação do incêndio não é incomum. Os mesmos autores
apresentam exemplos de edifícios em concreto armado que sofreram colapso
estrutural progressivo parcial ou total em virtude das elevadas temperaturas
oriundas do incêndio. Alguns desses eventos, inclusive fatais, são descritos
sucintamente abaixo, de forma a ressaltar a relevância do tema em estudo.

Em 1987, um incêndio destruiu parte de um dos prédios da Companhia


Energética de São Paulo (CESP) e provocou a morte de um funcionário.
Bombeiros, ao vistoriarem um dos blocos, quase se tornaram vítimas devido a um
desabamento de parte da estrutura do bloco atingido (O ESTADO DE S. PAULO,
2001). A figura 15.3 retrata a imagem do referido sinistro.

Figura 15.3 – Incêndio no edifício da CESP em São Paulo (1987)

Fonte: Costa e Silva, 2004, p. 3.

Outro caso foi o incêndio ocorrido em 2000, em Alexandria, no Egito, no


qual 13 pessoas morreram, entre elas, 5 bombeiros que estavam na equipe de
resgate, e 26 pessoas ficaram feridas depois que uma fábrica de roupas pegou
fogo e desabou. Após 7 horas para controlar o incêndio, o edifício de 6 andares
entrou em colapso sobre operários e bombeiros que realizavam o rescaldo
(SOUSA, 2009). A figura 15.4 ilustra os escombros que restaram da edificação.

6 Curvatura.
CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
531
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

Figura 15.4 – Desabamento da fábrica de roupas em Alexandria - Egito (2000)

Fonte: Costa e Silva, 2004, p. 3.

Por fim, outro exemplo de colapso de uma estrutura de concreto armado


atingido por incêndio ocorreu na cidade de São Paulo, no 1º dia do mês de maio de
2018, provocando o desabamento total do edifício Wilton Paes de Almeida. O
incêndio teve início por volta de 01h30min, e em pouco tempo, devido às
características construtivas do prédio, se alastrou rapidamente para os outros
andares, conforme se verifica na figura 15.5, tomando conta de toda a estrutura, do
térreo à cobertura. Por volta das 02h50min, apenas 80 minutos após o início do
incêndio, toda a edificação, ainda em chamas, desmoronou, causando a morte de
07 pessoas e muitos danos às construções vizinhas (INSTITUTO BRASILEIRO DO
CONCRETO, 2018).

Figura 15.5 – Imagens do incêndio do Ed. Wilton Paes de Almeida.

Fonte: Instituto Brasileiro do Concreto, 2018, p.5.


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 532

3 CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PELO CORPO DE BOMBEIROS PARA


AVALIAÇÃO DE DANOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO
ATINGIDAS POR INCÊNDIOS

Segundo Almeida e Birindelli (1977) é extremamente difícil avaliar os


danos de uma estrutura atingida por incêndio em uma inspeção inicial, devido a
possibilidade de existência de defeitos na estrutura, perceptíveis apenas na fase de
reparo ou despercebidos no ato de realização da vistoria inicial. Entretanto, existem
algumas alterações que ocorrem no concreto em função das altas temperaturas
que indicam sinais de enfraquecimento e possível indício de colapso, assim como
há, todavia, sinais menos elucidativos que possibilitam formar um conjunto de
dados para avaliar a estabilidade da estrutura de concreto armado (CORPO DE
BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006).

Para a avaliação dos danos na estrutura, preliminarmente, devem ser


levantados alguns aspectos importantes sobre a severidade do incêndio.
Inicialmente deve-se considerar a duração do incêndio, a extensão das áreas
atingidas pelas altas temperaturas e a carga incêndio existentes. Por meio desta
análise é possível estimar a proporção do fenômeno e a energia calorífica liberada
pela combustão completa de todos os materiais combustíveis. Posteriormente,
através da observação dos danos em alguns materiais presentes no ambiente,
pode-se estimar o patamar de temperatura atingido pelo incêndio. A Tabela 15.1
apresenta alguns efeitos provocados pela elevação da temperatura em materiais
comumente presentes em edificações.

Tabela 15.1- Efeitos da temperatura em alguns materiais


Temperatura
Material Condições
(ºC)
PVC Degradação 100
Polietileno Funde 120
Poliuretano Funde 60
Chumbo Funde 327
Amolece 400
Alumínio
Funde 660
Prata Funde 960
Cobre Funde 1083
Bronze Funde 900
Continua
CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
533
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

Conclusão
Temperatura
Material Condições
(ºC)
Zinco Funde 419
Amolece 500-600
Vidro
Funde 1100-1400
Deteriora 100
Pintura
Destruição 250
Madeira Queima 240
Fonte: Adaptado de Martin et al., 1996, p.42-43; M. Correia, António; Rodrigues, 2005, p. 56-61.

Depois de terem sido obtidos dados sobre o nível de severidade do


incêndio, pode-se fazer a avaliação dos danos ocorridos na edificação. Assim,
conforme Cánovas (1988), o método mais simples para se estimar a resistência da
estrutura atingida pelo incêndio consiste em analisar a resistência residual dos
elementos estruturais. Este procedimento permite identificar os elementos com
danos toleráveis e aqueles que requerem sofrer um reforço estrutural. Desta forma,
conforme o Comité Euro-Internacional du Béton (C.E.B.)7 apud Cánovas (1988), a
relação entre a resistência de um elemento de concreto danificado pelo fogo e a
resistência deste elemento em situação normal pode ser estimada através da
Tabela 15.2.

Tabela 15.2 - Estimativa quantitativa da relação entre a resistência de um


elemento de concreto danificado pelo fogo e a resistência deste elemento em
situação normal

Elemento de Concreto Armado


Construção Nível de dano
A B C D E
colapso
Nova 0,95 0,80 0,65 0,40
parcial
colapso
Antiga 0,90 0,75 0,60 0,30
parcial
Fonte: Adaptado de C.E.B apud Cánovas 1988, p. 15.

7
C.E.B. Assessment of concrete structures and design procedures for up-grading (Re-design).Task
group 12, Comité Euro-Internacional du Béton, 1983.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 534

A explicação adotada por Cánovas (1988) sobre os níveis de danos


atingidos pelos elementos estruturais relacionados aos critérios apresentados pela
Tabela 15.2 será apresentada a seguir.

O nível “A” indica que os elementos de concreto não apresentam danos


significativos provocados pelo incêndio. Podem, entretanto, existir alguns
desprendimentos de argamassas, revestimentos e ainda pequenas fissuras. Para
fins de exemplo, as figuras 15.6 e 15.7 retratam o presente patamar de dano.

Figura 15.6 – Desplacamento e fissuras Figura 15.7 – Nível de dano “A”


em pilar de concreto armado

Fonte: Seito et al., 2008, p. 137. Fonte: Cánovas, 1988, p. 376.

O nível “B” indica perdas significativas das argamassas de revestimentos


e a existência de pequenas fissuras no concreto. As superfícies do concreto
evidenciam uma coloração variável de rosácea a pré-rosácea. Através das figuras
15.8 e 15.9 é possível verificar os danos apresentados.
CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
535
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

Figura 15.8 – Destacamento de parte da


superfície de um pilar de concreto com coloração Figura 15.9 – Nível de dano “B”
rosácea após ação do incêndio.

Fonte: Battista et al., 2001, p. 56. Fonte: Cánovas, 1988, p. 76.

O nível “C” indica perda total das argamassas ou revestimentos,


existindo ainda fissuras consideráveis no concreto que ainda permanece aderido às
armaduras. Não existe mais de uma barra que apresente sintomas de flambagem.
As Figuras 15.10 e 15.11 ilustram as perdas sofridas pelo elemento estrutural.

Figura 15.10 – Destacamento, ruptura e perda Figura 15.11 – Nível de dano “C”
de seção transversal de um pilar de concreto
após ação do incêndio

Fonte: Battista et al., 2001, p. 56. Fonte: Cánovas, 1988, p. 376.


MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 536

No nível “D”, há danos graves. Todas as ferragens ficam praticamente


expostas. O número de barras flambadas é superior a um. Os pilares mostram
sinais de deformação e podem aparecer trincas de alguns milímetros de largura. As
figuras 15.12 e 15.13 retratam bem este processo de flambagem sofrido pelas
armaduras de um pilar de concreto armado.

Figura 15.12 – Spalling em um pilar de Figura 15.13 – Nível de dano “D”


concreto armado

Fonte: Kodur e Phan, 2006, p. 585. Fonte: Cánovas, 1988, p. 76.

Por último, existe o nível “E” em que há colapso parcial dos pilares. A
figura 15.14 exemplifica o presente dano ao retratar a ruptura de um pilar de
concreto armado causada pela intensa ação do incêndio em uma estrutura
hiperestática.

Ainda segundo Cánovas (1988), a mesma descrição realizada para


pilares também pode ser adotada para vigas e lajes, ressaltando que, para níveis
superiores ao “C”, podem ocorrer trincas de vários milímetros de largura e
deformações consideráveis. A superfície exposta das ferragens pode atingir cerca
de 10%, enquanto para o nível “D” pode chegar a 50%.
CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
537
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

Figura 15.14 – Ruptura de pilar de concreto armado com seção circular causada pela intensa
ação do incêndio.

Fonte: Battista et al., 2001, p. 55.

Neste contexto, Filho (2001) ressalta que o fator condicionante para a


condenação de lajes e vigas é a deformação acentuada destes elementos. Ressalta-
se que, além de quantificar os danos nos elementos estruturais, também é de grande
importância a avaliação dos mesmos no sistema estrutural para se ter uma melhor
análise da situação. Sendo assim, conforme Martin et al. (1996), é conveniente
verificar se a eliminação de um elemento estrutural pode provocar o colapso da
edificação.

Por fim, Cánovas (1988) afirma que toda vez que for constatado valores
menores que 0,5, e/ou com nível de danos superior a “C”, será necessária uma ação
emergencial para reparar ou reforçar a estrutura. Desta forma, durante o combate ao
incêndio, caso o Comandante das Operações do Corpo de Bombeiros Militar constate
o nível de dano “C” em determinado elemento estrutural, deverão ser retiradas todas
as pessoas que estejam trabalhando na edificação e solicitada imediatamente a
intervenção de um especialista para melhor avaliação dos danos e adoção de
medidas emergenciais.
MABOM – COMBATE A INCÊNDIO URBANO 538

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para estabelecer as condições de segurança em estruturas de concreto


armado atingidas por um incêndio, além de compreender as fases de desenvolvimento
do incêndio compartimentado, é imprescindível a identificação dos danos capazes de
comprometer a estabilidade da edificação. Por intermédio dos critérios de avaliação
ora propostos, o Comandante das Operações pode reconhecer melhor a situação no
local da ocorrência, realizar uma avaliação mais precisa dos riscos indicativos de
possível colapso estrutural, e assim, evitar perdas de vidas.

Vale ressaltar que os critérios de avaliação de estruturas apresentados


contribuem para uma melhor prestação de serviço dos bombeiros militares na
atividade operacional, todavia, constituem informações que necessitam da associação
de conhecimentos prévios de outras disciplinas na área de engenharia para que
apresentem uma melhor confiabilidade.
CAPÍTULO 15 – CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS EM
539
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ATINGIDAS POR INCÊNDIO

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